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Categoria: Ecologia

  • UM MÊS DO CRIME DA VALE

    UM MÊS DO CRIME DA VALE

    Fotos de Isis Medeiros

     

     

     

     

     

     

  • NA ‘ZONA QUENTE’ DO CRIME DA VALE

    NA ‘ZONA QUENTE’ DO CRIME DA VALE

    No alto a Serra dos três Irmãos, onde a Vale vem extraindo minério de ferro há anos, provocando o rompimento da barragem de rejeitos
    Área da Pousada Nova Estância, que foi totalmente soterrada pela lama, matando funcionários e turistas
    O pontilhão da estrada de ferro da Vale não resistiu à força da lama que desceu com o rompimento da barragem
    No alto a Serra dos Três Irmãos, onde a Vale explora o minério de ferro. Abaixo mostra resquícios de mata atlântica que, felizmente, escapou da lama
    Área da chamada Zona Quente do lamaçal, onde os bombeiros ainda trabalham na tentativa de localizar e resgatar mais corpos

  • Sobrevivente desconfiou de vistorias de técnicos

    Sobrevivente desconfiou de vistorias de técnicos

    Em entrevista à TV Sete, de Brumadinho, Maria Aparecida diz que desconfiava da estranha movimentação de técnicos fazendo vistorias em torno da barragem da Mina do Feijão, da Vale, na vila de Córrego do Feijão, município de Brumadinho, na Grande Belo Horizonte. Ela mora a poucos quilômetros da empresa e trabalhava num sítio vizinho da Pousada Nova Estância, a menos de dois quilômetros da portaria da Vale. A pousada foi totalmente encoberta pela lama com cerca de 12 pessoas dentro.

    Uma troca de e-mails entre profissionais da Vale, da Tüv Süd e da Tec Wise, outra empresa contratada, revelou que a mineradora soube de problemas em sensores de Brumadinho dois dias antes do rompimento da barragem, conforme informa neste domingo, 10, o G1. As mensagens foram identificadas pela Polícia Federal, que colheu depoimentos de dois engenheiros da consultora alemã que eram responsáveis pelos laudos. Presos em 29 de janeiro, André Yassuda e Makoto Mamba deixaram o presídio nessa quinta-feira,7.

    Nesta entrevista, Maria Aparecida conta também os momentos aterrorizantes que passou e o esforço que fez para se salvar junto com a filha de nove anos. Segundo ela, esta foi uma tragédia era anunciada. Confira:

     

     

    https://www.facebook.com/tevesete/videos/631204060665400/?t=52

  • BOMBEIROS VERSUS A VALE

    BOMBEIROS VERSUS A VALE

    Por Nairo Alméri, jornalista, que tem casa em Córrego do Feijão, Brumadinho, onde encontra-se desde o dia do crime da Vale

     

    CÓRREGO DO FEIJÃO, Brumadinho (MG), 2/2/2019 – A noite traz o silêncio da dor, do luto. Tem sido assim, desde o 25 de janeiro, quando se romperam as duas barragens de rejeito de minério de ferro da Mina Córrego do Feijão, da VALE S/A, com rastro de enorme tragédia humana. Contudo, mesmo no castigo da noite, seguem as atividades no Centro de Comando das Operações das missões aéreas de resgate do Corpo de Bombeiros e no Centro Comunitario, que absorveu as ações de apoio em geral à comunidade. Nos locais (casas, igreja e o grupo escolar) improvisados  para alojar os bombeiros, o silêncio da caserna é britânico.

    Estou no Centro Comunitário, onde, permanentemente, é servida alimentação. São 20h de sexta-feira, 2. As tendas que abrigam do sol, da chuva e do sereno já não ficam tão lotadas, como nas  primeiras noites. Os colegas jornalistas de Minas e de fora retornaram para Belo Horizonte ou para os lugares próximos onde conseguiram hospedagem.

    De repente, dois oficiais do Corpo de Bombeiros de MG chegam e fixam, pelo lado de fora de uma janela, um mapa. As pessoas logo se aproximam. Parece que esperavam por alguém da corporação, que simboliza para todos alguma esperança. Há uma relação mútua de sinceridade entre moradores e esses incansáveis cumpridores de missões tão nobres. 

    O oficial superior, major Ivan Neto, carregando sotaque que identifica ter vindo de longe, cumprimenta a todos e apresenta o tenente Link. Este já familiarizado nestes oito dias de resgates de vítimas vivas e, agora, de corpos dos que não tiveram mesma sorte nessa catástrofe. O major explica que o tenente-coronel Passos, agora o comandante-geral das operações de resgate, esteve ali na noite anterior, ficou voltar nesta, mas teve de cumprir outra tarefa e, então, coube a ele comparecer.

    De forma pausada, como requer o momento, numa fala muito clara e objetiva, ele explica o mapa, concluído há pouco. Os pontos (números) aplicados sobre as áreas devastadas simbolizam os locais de onde foram retirados corpos inteiros e segmentos. Explica todas as formas de caracterização dos locais (escombros próximos, restos de mobiliário, veículos, utensílios etc.) que possam facilitar nos procedimentos subsequentes de identificação fora da “zona quente” até os procedimentos do  Instituto Médico Legal (IML) de identificação da vítima.

    “A gente olha de cima, é uma imensidão de lama. O bombeiro lá embaixo (dentro da área destruída, numa extensão de sete quilômetros, em curvas, e até 1km de largura) é um pontinho. A gente precisa cada vez mais de referenciais. Está hoje mais difícil (encontrar corpos, com o solo mais seco e ficando compactado). Antes (com lama mais molhada e água), encontrava na superfície. (Antes) Encontrava oito, dez corpos por dia. Hoje, encontra um”, lamenta o oficial dos bombeiros. Mas reafirma aos familiares e amigos das vítimas compromisso e esperança: “A gente tem fé e esperança de encontrar todos e entregar aos familiares para …” O militar, acostumado a agir em tragédias, faz pausa, dá espaço à emoção e não completa a frase. Todos compreenderam. Recuperada a voz, completou sua mensagem com paralelo aos resultados dos resgates em outra tragédia, também em mina da Samarco (da VALE e da BHP Billiton) em Mariana, distante cerca de 90 km, no distrito de Bento Rodrigues, outro rompimento de barragens. No outro município, entre os que morreram, um corpo não foi até hoje encontrado. “O que a gente quer é dar o direito a vocês de enterrar seus entes queridos”.

    Com poucas interrupções, falou por quase 40 minutos.

    “O Corpo de Bombeiros chegou para salvar vítimas. Só que não tem sido possível. A gente lamenta”, disse o oficial. Ele é lotado na Sétima Companhia Independente do Corpo de Bombeiros, em Pouso Alegre, no Sul de Minas, a quase 400 km daqui. “Eu me apresentei como voluntário. Disse: eu quero ir para Brumadinho”.

     

    HÁ PERIGO

     

    Falando comigo e o repórter da TV Record SP, Rodrigo Vianna, o oficial disse que ainda “há perigo de descer mais rejeito minério de uma das represas que se romperam. “Há minério remanescente da barragem B1”, afirmou. Ele não soube precisar o volume existente. Mostrou um vídeo (no celular) feito por ele em um dos sobrevoos. Pelas imagens, percebe-se, claramente, que ainda desce rejeito da barragem, não em volume e velocidade assustadores.

     

    A OPERAÇÃO

    O major Ivan dá detalhes das buscas: os bombeiros começam as missões por terra às 4h; às 6h, chegam os helicópteros à “base” (campo de futebol) e aguardam as ordens de voos; as buscas são encerradas, às vezes, por volta das 20h.

     

    A AÇÃO DAS EQUIPES

    Na “zona quente”, atuam 15 esquipes, formadas por oito a dez militares (bombeiros de MG, ES, RJ, BA, GO, SP, DF e SC). No momento em que um corpo e fragmentos são localizados, é comunicado (via rádio) ao comando de tráfego aéreo, transmitindo as coordenadas geográficas, marcação do ponto – cada um tem oito coordenadas. Cada aeronave se desloca com três bombeiros. Os corpos são, então, levados para a lateral da igreja (o interior é QG do Centro de Operações – planejamento, controle do tráfego aéreo das 20 a 25 aeronaves dos Bombeiros, PMs e Civis de todos estados presentes, PRF, PF, IEF-MG etc) e entregues à perícia da Polícia Civil/IML com todas as identificações do local e proximidades.

     

    NO MAPA

    “No mapa, cada ponto azul é uma pessoa. A gente não consegue falar que pessoa está no ponto e, às vezes, nem qual o número total de pessoas ali (é que, as buscas retornam e podem identificar mais pessoas no mesmo ponto)”, detalhou o major Ivan. Esclareceu que nem sem sempre encontram documentos ou algum papéis como informa das áreas de trabalho. “Pode haver erros (nas informações anexada nas frentes de buscas). Mas o IML tem outras formas de saber quem é a pessoa”, completou.

    CONTAGEM
    Há descompasso entre a estatística final apresentada em Brumadinho, no centro conjunto de coordenação para todas ações nessa tragédia, e os resultados das operações de resgates. “O boletim sai às 18h, mas as operações acabam às 20h”, justificou o major Ivan. Por isso, ocorrem diferenças de números, de até nove ou dez corpos resgatados.
    Até o balanço oficial do sábado, as estatísticas apresentavam 226 @desaparecidos e 121 corpos resgatados (99 identificados).
    CONTINGENTE

    Nas operações estão 251 pessoas de resgate, e, de acordo com o major Ivan, chegariam mais militares: São Paulo (45), Bahia (28), Brasília (22) e da Força Nacional (56). Eles contam com apoio de 20 cães farejadores de diversos de diversos estados.

    FALTA INFRAESTRUTURA

    O major relatou que há espaços para presença maior de bombeiros militares. “Nós temos feito tudo que a gente poderia. Por que não tem mais gente? Tem condições de colocar (mais gente na “zona quente”). Só que a gente não tem mais logística (de acomodação no Córrego do Córrego do Feijão”, esclareceu.

     

    APELO

    Ao final da sua explanação, ouvida atentamente e poucas vezes interrompida (e sem exaltação contra a VALE, pouco comum), o major Ivan, como tem sido a atitude de todos os militares dos Corpos de Bombeiros atuando aqui nestes oito dias, surpreende: “Fiquem à vontade, gente! Vamos lá, mais alguma pergunta que possa ajudar e colaborar?”. Depois de responder às perguntas, o oficial fez um apelo: “A gente pede a vocês que não entrem na área quente”. Esclareceu que até militares têm se acidentado nas áreas dos resgates.

  • Festival Estadual da Reforma Agrária será marco de resistência em Minas Gerais

    Festival Estadual da Reforma Agrária será marco de resistência em Minas Gerais

    Da Página do MST

    Além das tradicionais delícias da Cozinha da Terra e dos frutos da luta pela terra, o Festival trará a tenda da saúde, dezenas de apresentações musicais e poéticas. Para isso, os artistas convidados estão se auto organizando em apresentações coletivas.

    Desta vez, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ocupa o Parque Municipal de Belo Horizonte e comemora 30 anos de atuação no estado, com o lema “Semeando e alimentando a resistência”. O Festival tem objetivo de mostrar que com a produção de alimentos saudáveis e a cultura organizada é possível combater o ódio promovido pela política neofascista.

    A importância de debater a agroecologia no campo e na cidade e continuar fornecendo produtos de boa qualidade e preço justo é uma das razões que move o MST a mais uma vez abrir o espaço de troca de saberes na capital mineira. No ano passado, o MST realizou o Circuito Mineiro de Arte e Cultura da Reforma Agrária, o I Festival Estadual, e em 2016, Belo Horizonte recebeu o Festival Nacional.

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    Arte de resistência

    Da parceria frutífera do Movimento com artistas populares de Minas Gerais, nasce uma programação repleta de surpresas e cumplicidade, com nomes diversificados, que vão do rap ao samba e a tradicional viola, desenhando a reforma agrária em verso e melodia.

    Quilombo resiste

    Um dos destaques entre os produtos é o café Guaií. Produzido no Sul de Minas, no acampamento Quilombo Campo Grande, o café agroecológico está ameaçado de despejo, desde que um juiz substituto da vara agrária retomou uma liminar que estava para há anos e decidiu expulsar 450 famílias da terra. O acampamento possui 20 anos de história, produz 510 toneladas de café por ano e tem a perspectiva de dobrar a produção nos próximos anos.

    Com o despejo, as famílias perderão suas casas já construídas em alvenaria, as benfeitorias realizadas no local e milhares de hectares de produção de milho, mandioca, amendoim, frutíferas e hortaliças. O despejo também é uma ameaça para a cidade de Campo do Meio, que terá a economia em crise, com 20% da população sem trabalho e renda.

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    Armazém do Campo

    Em no dia 30 de novembro comemora-se também um ano da inauguração do Armazém do Campo, a rede dos produtos da terra na capital mineira. Com bastante diversidade, o Armazém tem produtos de todas as regionais do MST de Minas Gerais, e recebe produtos de outros estados, como o arroz orgânico, do sul e o chocolate orgânico, que vem da Bahia.

    Minas Gerais foi o segundo estado a abrir o Armazém do Campo, que começou em São Paulo e já chegou ao Rio de Janeiro. A loja também levará produtos especiais para o Festival.

    Serviço

    II Festival Estadual de Arte e Cultura da Reforma Agrária

    Data: 14 a 16/12
    Hora: de 8h às 22h
    Local: Parque Municipal Américo Renné Giannetti
    Entrada Gratuita

  • ÁGUA NÃO É MERCADORIA

    ÁGUA NÃO É MERCADORIA

    É urgente a adesão da sociedade civil na luta contra a Medida Provisória 844/18, também conhecida como MP da Sede e da Conta Alta, que foi aprovada na Comissão Mista do Senado sem análise prévia por parte das entidades ligadas à pauta da água e do saneamento, sem debate com a comunidade e até mesmo com os Estados, e que se aprovada representará um retrocesso incalculável que afetará a vida de todos os brasileiros.

    Entidades como a Associação Brasileira das Empresas de Saneamento (Aesbe), Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), Associação Brasileira de Agências de Regulação (Abar), Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e Federação Nacional dos Urbanitários (FNU) rechaçam a medida provisória que trata a água e nossos mananciais, bens estratégicos para qualquer nação do mundo, como mercadoria.

    Por essa medida provisória, as empresas privadas poderão assumir o abastecimento de água e o esgotamento sanitário de alguns municípios, sobretudo os maiores e mais rentáveis, que podem deixar de contar com as empresas estaduais de saneamento. A aprovação desta MP representa o fim do subsídio cruzado praticado pelas estatais de saneamento que, por meio desta alternativa, conseguem manter o abastecimento de água em municípios onde a arrecadação com a conta de água não é suficiente para pagar os custos operacionais de captação, tratamento e distribuição de água de qualidade à população. Sem o subsídio cruzado, a conta de água vai aumentar exatamente para os municípios mais pobres. É o fim da tarifa social para as pessoas de baixa renda.

    Vale lembrar que o presidente ilegítimo Michel Temer editou esta medida provisória exatamente no dia em que a seleção brasileira de futebol foi eliminada da última Copa do Mundo, ou seja, quando as atenções da população não estavam voltadas para as pautas que eram tratadas na política nacional. Uma manobra ardilosa e irresponsável, por se tratar de um tema essencial que envolve a salvaguarda dos nossos mananciais, a capacidade de investimento em saneamento por parte dos municípios e, consequentemente, uma questão também de saúde pública, dada a importância da universalização do acesso da população aos serviços de água e esgoto.

    A pressão de lobistas e das grandes empresas neste momento é muito grande. São empresários que estão ligados a financiamentos de campanhas de muitos deputados e senadores que, diga-se de passagem, em muitos casos pertencem a famílias que são donas dessas empresas. Todo esse interesse na privatização tem a chancela das empresas da área da construção civil, por exemplo, que já atuam em grandes obras do Governo Federal, bem como da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), órgão maior que articula o movimento pró-privatização.

    É importante destacar que a MP da Sede e da Conta Alta perde a validade no próximo dia 19 de novembro, ou seja, aqueles que apoiam esta medida provisória que abre caminho para a privatização do setor de saneamento farão de tudo para conseguir aprovação na Câmara Federal a qualquer momento, já nos próximos dias. Esta iniciativa, ao lado de outros disparates como o Projeto de Lei do Escola Sem Partido, a Reforma da Previdência e a Lei Antiterrorismo, evidenciam que será preciso resistir bravamente. São medidas que, por si só, representam um retrocesso ante conquistas da sociedade ao longo dos últimos tempos, conquistas que são postas em xeque por parte de uma onda neoliberal, entreguista e criminosa dos homens de Temer junto com os de Bolsonaro e seu guru Paulo Guedes, que colocam interesses privados acima dos interesses do povo.

    Lutar pela água é, também, evitar a violação à vida. Pelo direito de termos água fornecida de forma justa e acessível por uma companhia pública, sustentável e de boa gestão. Pela salvaguarda de nossos mananciais. Pelo Brasil. Resistiremos.