Jornalistas Livres

Categoria: Ciência

  • Kassab, as franquias e o golpe na internet brasileira

    Kassab, as franquias e o golpe na internet brasileira

    por Hemanuel Veras, especial para os Jornalistas Livres

    Na última quinta-feira (12), o Ministro de Ciências, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, afirmou em entrevista ao site Poder 360 que o governo federal participa de negociações junto a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e empresas operadoras de internet para mudar a forma com que a banda larga fixa é oferecida no Brasil, tornando possível a oferta com pacotes de franquias.

    A declaração foi alvo de duras críticas de associações de defesa do consumidor e muitas respostas negativas nas redes sociais, fazendo com que o MCTIC recuasse no dia seguinte, esclarecendo que não haverão mudanças no modelo atual, e que o presidente da Anatel afirmasse que a declaração do ministro foi um equívoco. Mesmo com esse recuo, essa declaração do ministro expõe uma relação próxima entre o Governo Federal e as grandes empresas de telecomunicação do Brasil.  

     

    Qual a diferença entre os modelos?

     

    A discussão sobre o modelo de franquias na internet fixa não é inédita. Em 2016, as grandes empresas declararam que iriam passar a oferecer o modelo de franquias, no qual o consumidor compra um pacote com limite de dados e tem o acesso interrompido caso ultrapasse esse limite, a exemplo do que já acontece no acesso á internet via telefonia móvel.

    A justificativa para o uso de franquias na internet móvel é técnica, uma vez que as antenas possuem menor capacidade de dados e as pessoas se locomovem enquanto utilizam a internet pelo telefone celular. Na internet fixa não existem essas mesmas dificuldades, apenas a possibilidade das empresas lucrarem mais em cima de um modelo que lhe força a pagar toda vez que ultrapassar o limite do pacote.  

    A comercialização desses pacotes de franquias também vai contra o Marco Civil da Internet, Lei nº 12.965/2014, que em seu artigo 7 garante que a internet é essencial para democracia e proíbe a desconexão dos indivíduos, salvo em caso de não pagamento pelo serviço. No caso das franquias, se o consumidor ultrapassar a quantidade de dados prevista ele já estará impossibilitado de acessar a rede.

     

    O que pode mudar com o uso dessas franquias?

     

    O uso das franquias para internet fixa pode mudar a forma com que o brasileiro consome informações na internet e engessar processos em andamento de acesso à informação, educação e cultura. Segundo pesquisas do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação (Cetic.br), 51% dos domicílios brasileiros tem acesso a internet e 68% deles utilizam banda larga fixa, enquanto apenas 22% acessam a internet via conexão móvel. Desses domicílios com acesso a internet, 79% utilizam wifi e 16% compartilham wifi com vizinhos.

    O consumo por pacotes de franquias pode prejudicar o acesso à educação via internet, como cursos de Educação a Distância (EAD) ou mesmo a realização de pesquisas escolares. Segundo o Cetic.br, 43% dos usuários de internet no Brasil já realizaram pesquisas acadêmicas na internet, 37% já utilizou a rede para estudar por conta própria e 9% realizam cursos a distância. Em áreas longe dos grandes centros urbanos, os cursos a distância são uma possibilidade de dar continuidade aos estudos e ter acessos a novas formações.

    O consumo cultural também pode passar por grandes restrições, uma vez que o acesso a vídeos, música e jogos eletrônicos por streaming também serão prejudicados, pois demandam grande quantidade de dados. Nesse cenário os consumidores deveriam escolher com cuidado qual conteúdo iriam consumir e definir prioridades, como no caso de acesso a serviços públicos que exigem solicitações ou pedidos realizados pela internet.

    O uso das franquias também pode prejudicar a liberdade do usuário em escolher quais conteúdos quer acessar à medida que as empresas operadoras ofereçam zero rating – acesso gratuito a apenas determinados sites ou conteúdos após o fim da franquia, junto com os pacotes. Nesse cenário desanimador, grande parte dos consumidores ficaria com acesso restrito a apenas alguns sites e plataformas digitais. Ter acesso a um serviço gratuito quando você não tem mais dinheiro parece animador, mas não é necessário se continuarmos com o modelo atual de banda larga fixa, que possibilita total liberdade no acesso a rede.

     

    O que podemos fazer para evitar essa mudança?

     

    Uma forma de pressionar o governo a respeito desse tema é acessar a plataforma Diálogos da Anatel – http://www.anatel.gov.br/dialogo/groups/all, fazer o registro no site e deixar lá sua opinião a respeito do assunto. Essa consulta pública vai até abril e a opinião majoritária das pessoas irá fazer diferença no estudo técnico que a agência deve produzir a respeito do impacto que esse novo modelo teria no Brasil.

    Outra forma de pressionar o Governo Federal e as empresas contra essa decisão é apoiar e acompanhar a atuação de organizações que militam a favor do direito das liberdades na internet, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a Coalizão Direitos na Rede, que milita por essa e outras pautas para manter a internet no Brasil livre e plural. A participação de todos é importante, assim como também é essencial vigiarmos os passos do Governo Federal e das grandes empresas de telecomunicação, para que eles não realizem um golpe na internet que construímos juntos no Brasil.

  • ADunicamp debate retrocessos da nova lei de C&T pública

    ADunicamp debate retrocessos da nova lei de C&T pública

    Os impactos da Lei Nº 13.243, de janeiro de 2016, não são restritos às relações que visam fomentar a inovação no país. Os efeitos extrapolam esse viés e interferem em questões essenciais da pesquisa voltada ao interesse público e social. O assunto é tema do evento que vai ser realizado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), no dia 16 de agosto. De acordo com a organização, a finalidade é a de ampliar os espaços de discussão em torno dessa legislação, uma vez que o assunto é de extrema importância e não foi debatido com a comunidade científica e sociedade em geral.

    O evento Ciência e Tecnologia Pública: Retrocessos impostos pelo Marco (i)Legal da CT&I tem como debatedores o pesquisador Rogério Bezerra da Silva, o professor César Minto e o jornalista Richard Jakubaszko. Silva é doutor em Política Científica e Tecnológica pela Unicamp e membro do GAPI (Grupo de Análise de Políticas de Inovação, do Instituto de Geociências da mesma universidade). Minto é professor da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo) e presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP). Jakubaszko é jornalista com forte atuação no segmento da agricultura. Este segmento é um dos exemplos que evidencia o problema que resulta da desvalorização da pesquisa pública.

    A realização do evento é uma iniciativa da ADunicamp (Associação dos Docentes da Unicamp), APqC (Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo), SINPAF – seção sindical Campinas e Jaguariúna (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário) e GAPI, com apoio do ANDES – regional SP (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), Adusp, ADunesp (Associação dos Docentes da Unesp), STU (Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp), Sintunesp (Sindicato dos Trabalhadores da Unesp) e Netes (Núcleo Educacional de Tecnologia Social e Economia Solidária, da Unifesp).

    As entidades estão mobilizadas em torno do Movimento pela Ciência e Tecnologia Pública, que surgiu no final do ano passado, em oposição à aprovação do Projeto de Lei 77/15 (que acabou se concretizando na Lei 13.243/16, conhecida como Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação). Diversas iniciativas foram realizadas como uma carta enviada à Presidência da República, em dezembro de 2015, solicitando a não aprovação do PL 77/15, lançamento do Manifesto do Movimento pela Ciência e Tecnologia Pública e da Carta de Campinas “Em defesa da Ciência e Tecnologia Pública no Brasil”, além de eventos, como o realizado em junho passado, que reuniu os professores Renato Dagnino e Epitácio Macário e o jornalista Luis Nassif em torno do debate “Ciência e Tecnologia Pública: caminho para uma sociedade igualitária”.

    Ciência e Tecnologia Pública: Retrocessos impostos pelo Marco (i)Legal da CT&I
    Programação – 16/08/16
    18h30 – Café e recepção
    19h – Mesa redonda: Rogério Bezerra da Silva
    César Minto
    Richard Jakubaszko
    20h – Debate

    Local: auditório da ADunicamp (rua Érico Veríssimo, 1479 – Cidade Universitária – campus Unicamp / Campinas)
    Inscrições pelo formulário on line ou na hora do evento
    Transmissão ao vivo pelo coletivo Socializando Saberes
    (socializandosaberes.net.br e www.ctpublica.wordpress.com)

  • O projeto Andar de Miguel Nicodelis, andou literalmente

    O projeto Andar de Miguel Nicodelis, andou literalmente

    Por Fernando Sato para os Jornalistas Livres

     

    Miguel Nicolelis fala um pouco sobre esse momento:

    “Reta final do projeto que começou apenas como um sonho em 2009 e que realizou uma idéia que começou a ser trabalhada em 1999 com a invenção das interfaces cérebro-máquina!


    Dessa vez ninguém vai poder dizer que o trabalho não tem DNA brazuca: laboratórios em São Paulo e Natal, equipe de reabilitação toda brasileira, oito heróis brasileiros foram os pacientes de estudos, descoberta feita em solo brasileiro, sob a luz do Cruzeiro do Sul!


    Ns primeiro trabalho, cientistas relatam que todos os 8 pacientes paraplégicos, originariamente diagnosticados mais de uma década atrás com paralisia completa das pernas, recuperaram parcialmente movimentos voluntários dos membros inferiores, sensação tátil abaixo da lesão e melhora de funçōes viscerais.


    Como resultado, depois de 12 meses de treinamento, 50% dos pacientes tiveram que ser reclassificados de paraplégicos completos para portadores de paralisia PARCIAL! Com 28 meses de treinamento, TODOS os pacientes foram reclassificados como portadores de paralisia parcial!


    Pela primeira vez na história, pacientes diagnosticados com lesão medular completa apresentam recuperação de movimentos das pernas, sensibilidade tátil e funçōes viscerais!


    Até hoje a recuperação clínica, mesmo parcial, em pacientes que sofreram lesōes medulares há vários anos era considerada impossível! Nosso trabalho muda radicalmente esse conceito e mostra que pacientes podem sonhar com recuperação parcial!”

    Em tempos de olimpíadas, ouro é pouco!

    Um pouco mais sobre o projeto Andar de Novo.
    http://aasdap.org.br/projetos/projeto-andar-de-novo/