Jornalistas Livres

Categoria: Agroecologia

  • “Nosso Natal não é de luzes, não tem cor. Será cinza, em meio às cinzas”

    “Nosso Natal não é de luzes, não tem cor. Será cinza, em meio às cinzas”

    Centenas de casas foram destruídas por incêndio, no mesmo local onde um policial foi morto. Moradores culpam a PM, enquanto corporação atribui o incêndio ao “crime organizado”

    Esse clássico do RAP nacional retrata a situação de milhares de pessoas que moram em periferias, nas favelas, que lutam por moradia em um país marcado pela desigualdade e onde há tanta gente sem casa e tanta casa sem gente. Se assemelha a muitos relatos e depoimentos que colhemos neste sábado (8), na Vila Corbélia, Cidade Industrial de Curitiba (CIC), em meio aos escombros do que já foram moradias populares do complexo de quatro ocupações na região. Comunidades que entre a madrugada de quinta-feira (6) e a madrugada do sábado (8) passaram momentos de tensão e terror.Um barraco equilibrados em barranco, com cômodos mal acabados, porém, um lar, um bem, um refúgio. Essa é uma descrição de uma moradia exposta na música “Homem na Estrada”, uma das maiores composições do grupo Racionais MCs. A letra segue com a chegada da noite e um clima estranho no ar, onde sem desconfiar de nada, o trabalhador vai dormir tranquilamente. De repente ele desperta, pressentindo o mal, com cachorros latindo, ele acorda ouvindo barulhos de carros, passos no quintal.

    Em uma dessas ocupações, a 29 de Março, um incêndio na noite de sexta-feira (7)  destruiu centenas de lares. Segundo o relato dos moradores da comunidade, o incêndio criminoso foi provocado por PMs em represália a morte do policial Erick Nório, assassinado na madrugada de sexta-feira (7) ao ser atraído para uma emboscada na entrada de uma das ocupações ao atender uma ocorrência de “perturbação de sossego”.

    Antes do incêndio, segundo integrantes do Movimento Popular de Moradia (MPM), policiais militares estiveram durante a madrugada e ao longo do dia realizando abordagens na comunidade, entrando em casas sem mandado, revirando barracos em ações truculentas. Conforme os moradores, houve um cerco à comunidade durante toda a sexta-feira e até mesmo relatos sobre uma execução sumária.

    Foto: Gibran Mendes

     

    “Foi uma barbaridade o que aconteceu aqui, passei dia e noite trabalhando, pois trabalho como cuidadora e fiz plantão na madrugada. Quando foi meio dia meu filho me ligou gritando, desesperado, dizendo que a polícia estava destruindo tudo. Chegamos em casa tava tudo quebrado, parede, porta, tudo no chão”, diz uma moradora que terá o nome preservado. Ela reside na ocupação Nova Primavera, que fica ao lado da ocupação 29 de Março. Sua casa não esteve entre as atingidas pelo incêndio.

    Há cinco anos na ocupação, a trabalhadora diz que nunca viveu momentos de tanto terror. “Dá muito medo, meu filho nem está aqui hoje [sábado]. Deixei ele desde ontem no meu trabalho. Meu patrão falou: trás eles aqui, deixa ele aqui. Muita gente apanhou, pessoas gritando por socorro, um cenário de desespero e eles [policiais] falando: sua casa foi arrebentada, mas nós perdemos um dos nossos”, disse a moradora, destacando que “sente pela família do policial assassinado, mas que inocentes não podem pagar por um crime que não cometeram”.

    “QUE FOSSEM ATRÁS DO CULPADO, NÃO DA GENTE QUE NÃO TEM NADA A VER. NOS CHAMARAM DE VAGABUNDAS, DERAM TAPA NA CARA. QUERENDO QUE A GENTE FALASSE QUEM MATOU O POLICIAL. A GENTE MORA AQUI, SÃO QUATRO OCUPAÇÕES, NÃO CONHECEMOS TODO MUNDO QUE MORA AQUI”, ACRESCENTA.

    O trabalhador Juarez Francisco Ferreira não teve tanta “sorte”. O senhor que completou 60 anos no último dia 3 ficou somente com a roupa do corpo. “Vieram me acordar quando o fogo já chegando na minha casa. Não teve tempo de nada, de pegar nada. A vizinha veio me acordar, só vi aquele clarão de luz do fogo por cima das casas. Nessa hora não tem como juntar nada, só sair vazado. Se não fosse a mulher vir me chamar eu tinha ido também”, disse o homem em meio a escombros que anteriormente era seu refúgio. “Ganho pouco, mas ainda aguento trabalhar, agora é reconstruir né”, lamenta.

    O montador de estande Sergio Leandro, que mora há quatro anos na ocupação Nova Primavera, ajudava os vizinhos que perderam tudo. Seu barraco fica há poucos metros dos demais que foram consumidos pelas chamas. “Minha casa fica duas casas pra baixo. Na hora só vimos o clarão e como estava um vento forte, foi tudo consumido muito rápido”. Esperançoso, ele já fala do recomeço à comunidade. “Se a gente começou do zero na terra não é porque está cheio de cinza que a gente não pode se reconstruir de novo. Limpar e lutar de novo, nem que seja de novo embaixo da lona como muitos aqui começaram”.

    Sergio, que está na fila da Companhia de Habitação de Curitiba (Cohab), comenta que sobre a situação das pessoas que estão nas ocupações. “Todo mundo que está aqui é porque precisa, não consegue pagar aluguel”.

    O trabalhador aproveitou para fazer uma cobrança e uma crítica à Prefeitura de Curitiba:

    “A PREFEITURA PODERIA SE ESFORÇAR PARA REGULARIZAR ISSO AQUI. SE GASTA MILHÕES NO NATAL DE LUZ, TODO COLORIDO NO CENTRO DA CIDADE. MAS NOSSO NATAL NÃO TEM COR, SERÁ CINZA, EM MEIO AS CINZAS”.

    Buscamos mais relatos, mas o temor imperava. Aqueles que prestavam depoimentos, pediam para resguardar a identidade. Entre esses depoimentos informações que policiais teriam impedido bombeiros de chegar até o local do incêndio antes que ele se alastrasse para todos os barracos da ocupação 29 de Março. “O pessoal que mora ali na entrada falou que os bombeiros estavam na trincheira e não podiam subir pra cá. Se não foi eles [policiais] que meteram fogo, porque não deixaram os bombeiros chegar aqui? Que morador aqui que iria meter fogo na própria casa por causa de um bandido?”, questionou um pai ao lado de seus dois filhos. A família teve a casa destruída pelo fogo.

    “NA MADRUGADA DA FAVELA NÃO EXISTEM LEIS,
    TALVEZ A LEI DO SILÊNCIO, A LEI DO CÃO TALVEZ…”
    * HOMEM NA ESTRADA

    Foto: Gibran Mendes
    Foto: Gibran Mendes
    Foto: Gibran Mendes

    Versão da PM

    A informação de que o incêndio foi provocado por próprios moradores da comunidade foi divulgada em coletiva de imprensa da PM, que atribuiu o ocorrido ao “crime organizado que atua no complexo das ocupações”. Conforme a versão da corporação, o incêndio foi para retaliar moradores que ajudaram nas investigações sobre a morte do policial Erick Nório. “Seria uma retaliação do tráfico ou do crime organizado contra a ação policial que estava sendo feita. Toda a ação desenvolvida pelas forças de segurança foram pautadas dentro da legalidade”, afirmou o tenente-coronel Nivaldo Marcelos da Silva.

    Durante todo o sábado (8), o Corpo de Bombeiros, a Defesa Civil e Assistência Social do município ainda faziam o rescaldo do local e coletam informações. Autoridades políticas, como o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, deputado Tadeu Veneri (PT), os vereadores Goura (PDT) e Professora Josete (PT), além de defensores públicos e integrantes de movimentos sociais ligados aos direitos humanos, estiveram no local.

    Personalidades nacionais, como o líder do MTST e ex-candidato a presidente pelo PSOL Guilherme Boulos também se pronunciaram. “É preciso investigar imediatamente o incêndio criminoso, após ação policial, na comunidade 29 de março em Curitiba. Toda solidariedade aos moradores”, postou Boulos em suas redes sociais.

    A senadora e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, prestou sua solidariedade ao policial morto e cobrou uma investigação rigorosa. “Infelizmente as famílias de trabalhadores, que perderam o pouco que tinham no incêndio ainda por esclarecer, tiveram direitos violados e se viram criminalizadas pela operação policial. (…) é preciso que as autoridades políticas do Estado e o comando da PM esclareçam o crime que vitimou um profissional da segurança pública e a morte até então confirmada de um morador da ocupação, além do incêndio que vitimou as centenas de famílias, evitando, com isso, que situações semelhantes venham a se repetir”, afirmou em nota.

    A ONG Instituto Democracia Popular também acompanha de perto a situação. A praça da Ocupação Dona Cida, ao lado, está funcionando como ponto de coleta de doações e distribuição de comida para as famílias. Diversos moradores que não foram atingidos pelo incêndio carregavam doações para compartilhar com quem perdeu tudo e outros carregavam restos de cobre para vender como sucata e comprar alimentos.

  • Festival Estadual da Reforma Agrária será marco de resistência em Minas Gerais

    Festival Estadual da Reforma Agrária será marco de resistência em Minas Gerais

    Da Página do MST

    Além das tradicionais delícias da Cozinha da Terra e dos frutos da luta pela terra, o Festival trará a tenda da saúde, dezenas de apresentações musicais e poéticas. Para isso, os artistas convidados estão se auto organizando em apresentações coletivas.

    Desta vez, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra ocupa o Parque Municipal de Belo Horizonte e comemora 30 anos de atuação no estado, com o lema “Semeando e alimentando a resistência”. O Festival tem objetivo de mostrar que com a produção de alimentos saudáveis e a cultura organizada é possível combater o ódio promovido pela política neofascista.

    A importância de debater a agroecologia no campo e na cidade e continuar fornecendo produtos de boa qualidade e preço justo é uma das razões que move o MST a mais uma vez abrir o espaço de troca de saberes na capital mineira. No ano passado, o MST realizou o Circuito Mineiro de Arte e Cultura da Reforma Agrária, o I Festival Estadual, e em 2016, Belo Horizonte recebeu o Festival Nacional.

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    Arte de resistência

    Da parceria frutífera do Movimento com artistas populares de Minas Gerais, nasce uma programação repleta de surpresas e cumplicidade, com nomes diversificados, que vão do rap ao samba e a tradicional viola, desenhando a reforma agrária em verso e melodia.

    Quilombo resiste

    Um dos destaques entre os produtos é o café Guaií. Produzido no Sul de Minas, no acampamento Quilombo Campo Grande, o café agroecológico está ameaçado de despejo, desde que um juiz substituto da vara agrária retomou uma liminar que estava para há anos e decidiu expulsar 450 famílias da terra. O acampamento possui 20 anos de história, produz 510 toneladas de café por ano e tem a perspectiva de dobrar a produção nos próximos anos.

    Com o despejo, as famílias perderão suas casas já construídas em alvenaria, as benfeitorias realizadas no local e milhares de hectares de produção de milho, mandioca, amendoim, frutíferas e hortaliças. O despejo também é uma ameaça para a cidade de Campo do Meio, que terá a economia em crise, com 20% da população sem trabalho e renda.

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    Armazém do Campo

    Em no dia 30 de novembro comemora-se também um ano da inauguração do Armazém do Campo, a rede dos produtos da terra na capital mineira. Com bastante diversidade, o Armazém tem produtos de todas as regionais do MST de Minas Gerais, e recebe produtos de outros estados, como o arroz orgânico, do sul e o chocolate orgânico, que vem da Bahia.

    Minas Gerais foi o segundo estado a abrir o Armazém do Campo, que começou em São Paulo e já chegou ao Rio de Janeiro. A loja também levará produtos especiais para o Festival.

    Serviço

    II Festival Estadual de Arte e Cultura da Reforma Agrária

    Data: 14 a 16/12
    Hora: de 8h às 22h
    Local: Parque Municipal Américo Renné Giannetti
    Entrada Gratuita

  • Cinema no Sertão dos Gerais – O CineBaru

    Cinema no Sertão dos Gerais – O CineBaru

    Por Guidyon Augusto, para os Jornalistas Livres

     

    O Projeto que é produzido pelo Coletivo Ecos do Caminho, juntamente com parceiros regionais, propõe uma ampla programação de curtas, oficinas e atividades abertas ao público em geral. Na 2ª edição, o projeto lança um manifesto amplo, assim como três estruturas de programação audiovisual: Mostra Competitiva Regional (para curtas-metragens dos estados de Minas Gerais, Bahia, Goiás e do Distrito Federal), Mostra Sertão (longas escolhidos e convidados pela curadoria), Mostra Sertãozin (programação infantil para as crianças das escolas da região).

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    “Cinema e Ser-tão. Sonhar e ser no sertão. Descobrir(-se) (n)as histórias contadas, aprendendo com os mais velhos, com as crianças, com as tradições.

    A busca pela inteireza da sabedoria da terra, a troca de afetos e a ancestralidade, através do singelo olhar das guardiãs e guardiões sertanejos.

    Potencializar a beleza das vivências e, por meio do cinema e do diverso, expressar gratidão aos parentes geraizeiros.”

     

    (trecho extraído do Manifesto CineBaru 2018)

     

    Tal como na primeira edição, em 2017, o festival integrará uma programação de oficinas, vivências, música e atividades voltadas ao público infantil, totalmente abertas para a comunidade.

    O projeto pauta um olhar para o chamado “território baiangoneiro” (da tríplice fronteira entre os Estados de MG, BA, GO, integrando juntamente o DF), assim como para os territórios que integram o  Mosaico Sertão Vereas – Peruaçu.  A Mostra se propõe a construir um espaço de atividades amplamente alinhado aos contextos socioculturais do Território com o qual se conecta, tendo em mente o incentivo de propostas oriundas do entorno da Vila de Sagarana, dialogando intimamente com as raízes e anseios de participações regionais.

     

    Clement Villien

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Os chamados para inscrição dos curtas e propostas de vivências autogestionadas estão abertos!

    Você pode conferir o Chamado de Curtas acessando o link: https://goo.gl/LffLFz

    As inscrições de propostas de vivências/oficinas possuem um Edital específico que pode ser conferido no link: https://goo.gl/KgRCK3

    O CineBaru não conta ainda com incentivo de editais públicos nem patrocínio privado. A produção lançou uma campanha de financiamento coletivo .

    Para ler o Manifesto completo, é só clicar AQUI.

     

    Todas as novidades estão no facebook, no instagram e no blog, onde você pode conferir como foi a primeira edição do Projeto.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  • “A exploração de animais não-humanos é uma parte essencial na expansão e no sustento do colonialismo”

    “A exploração de animais não-humanos é uma parte essencial na expansão e no sustento do colonialismo”

    Conheça a editora do blog Papacapim, Sandra Guimarães, que escreve sobre a culinária vegetal. Para ela os valores do Veganismo são os mesmos pelos quais os militantes da esquerda lutam: justiça, solidariedade e igualdade. E é impossível separar a exploração de animais não-humanos dos interesses essenciais do colonialismo e do capitalismo.

    No próximo dia 16/08, às 10h o Jornalistas Livres estarão com Sandra, que hoje mora na Palestina, para um bate-papo ao vivo. Fique de olho das nossas redes para saber mais.

    Abaixo, uma entrevista publicada pelo SUl 21 em abril deste ano:

    ‘Todas as opressões estão conectadas. Veganismo é uma extensão lógica da luta anti-opressão’

    Marco Weissheimer

    Existe uma hierarquia da opressão? Deve existir uma hierarquia entre as diferentes lutas contra diferentes formas de opressão? Essas questões entraram na vida de Sandra Guimarães desde cedo. Nascida em uma família vinda do Sertão nordestino, ela nasceu e cresceu em Natal, Rio Grande do Norte. O seu pai entrou no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) quando ela tinha 12 anos de idade e a reforma agrária passou a fazer parte de seu cotidiano. Estudar no exterior era o seu maior sonho e, desde os 14 anos, passou a economizar dinheiro para realizá-lo. Aos 20 anos, foi estudar em Paris onde morou por seis anos, formando-se em Linguística. Em 2007, decidiu fazer um trabalho voluntário de duas semanas na Palestina. Acabou ficando cinco anos lá trabalhando como voluntária no campo de refugiados de Aida, em Belém. Ao longo dessa trajetória, Sandra tornou-se chef vegana, escritora, ativista e guia política na Palestina.

    Editora do blog Papacapim, Sandra Guimarães vem levando, desde 2014, grupos de brasileiros para tours político-ativista-veganos na Palestina. Para ela, o veganismo não é uma escolha alimentar, mas sim política. “Embora a opressão tenha várias faces”, assinala, “cada uma com as suas particularidades, todas elas tem uma coisa em comum: a exploração, discriminação e violência contra o ser mais vulnerável pelo ser que tem mais poder”. Em entrevista concedida por e-mail ao Sul21, Sandra Guimarães fala sobre essas escolhas, suas raízes e implicações políticas, e sobre o trabalho que vem realizando na Palestina. Os valores principais do veganismo, defende, são os mesmos pelos quais a esquerda luta: justiça, solidariedade e igualdade. “Se dizer vegana e de direita me parece uma contradição”, afirma

    Sul21Como se deu para ti essa confluência entre uma escolha alimentar e uma escolha política e de modo de vida?

    Sandra Guimarães: Primeiro de tudo acho importante esclarecer que o veganismo não é uma escolha alimentar. Na verdade o regime da vegana é “vegetariano”, ou seja, somente alimentos de origem vegetal (quem não se alimenta do corpo de animais não-humanos, mas consume seus derivados segue o regime “ovo-lacto-vegetariano”). Então a pessoa vegana tem um regime vegetariano, mas também boicota a exploração e a violência contra animais em todos os aspectos da vida. Logo, o veganismo vai muito além do prato.

    Tendo esclarecido o primeiro ponto, passemos ao segundo. Tem essa ideia de que a pessoa vegana optou por seguir uma ideologia, o veganismo, enquanto a pessoa que come animais e seus derivados, não. A verdade é que quando eu escolho comer plantas e você escolhe comer animais, nós duas estamos seguindo uma ideologia, mas a segunda é invisível porque é a ideologia dominante.  Essa ideologia se chama “carnismo” e nos ensina, desde que nascemos, que comer animais e seus derivados é normal, natural e necessário (os três N do carnismo, descritos por Melanie Joy). Mas não todos os animais! Em algumas partes do mundo cachorros e insetos são considerados alimento, enquanto no Brasil são considerados, respectivamente, como companheiros ou praga. O carnismo traça essa linha arbitrária que vai decidir quais animais são comida e quais não são. A pessoa onívora gosta de acreditar que “come de tudo”, mas esse “tudo” representa simplesmente o que a sociedade onde ela vive decidiu que era comida.

    “Quando eu escolho comer plantas e você escolhe comer animais, nós duas estamos seguindo uma ideologia”. (Arquivo pessoal)

    Quando o veganismo entrou na minha vida eu já questionava muita coisa e estava envolvida em algumas formas de ativismo. Eu nasci em uma família economicamente desfavorecida, vinda do Sertão nordestino. Meu pai entrou pro MST quando eu tinha uns 12 anos e reforma agrária passou a fazer parte dos assuntos que discutíamos em casa. Meus pais tinham sido agricultores sem-terra boa parte da vida, assim como meus avós paternos e maternos. Embora minha família não fosse politizada, eu cresci com essa consciência de classe, esse entendimento da injustiça no campo e de que as pessoas mais vulneráveis eram exploradas e discriminadas. E além de ser mulher, sou lésbica e comecei a sentir essa discriminação dupla, causada pelo machismo e pela lesbofobia, muito jovem. Eu só me tornei ativista aos vinte e poucos anos, mas cresci vendo injustiça ao meu redor, sendo vítima de muitas delas e a vontade de mudar isso sempre esteve presente.

    O veganismo veio então como a ferramenta que faltava pra eu entender que embora a opressão tenha várias faces, cada uma com as suas particularidades, todas elas tem uma coisa em comum: a exploração, discriminação e violência do ser mais vulnerável pelo ser que tem mais poder. Então essa confluência de causas que você falou vem daí. Do entendimento que todas as opressões estão conectadas. Do entendimento que justiça é algo indivisível. Se a justiça é dada a um grupo enquanto o outro é privado dela, isso é uma situação de injustiça.

    Sul21O que significa exatamente dizer que não é possível, coerentemente, ser um vegano de direita e/ou capitalista e/ou colonialista?

    Sandra Guimarães: A maneira mais frequente de descrever o veganismo é “um modo de vida que busca excluir na medida do possível e praticável toda e qualquer exploração e crueldade contra animais pra alimentação, vestuário e qualquer outro propósito”. O inglês Donald Watson, que criou a palavra “vegan” e fundou a primeira sociedade vegana, em 1944, é o autor dessa definição. Não é a minha maneira preferida de descrever o veganismo porque ela pode levar à uma interpretação focada exclusivamente no consumo individual. Eu prefiro outra definição, a que entende o veganismo como uma postura política que rejeita a objetificação e mercantilização de animais e se compromete com a luta por abolição da exploração animal. Embora o objetivo do veganismo seja a libertação de animais não-humanos, eu vejo esse movimento como uma extensão lógica da luta anti-opressão de um modo geral.

    Muro construído por Israel para separar comunidades palestinas em Jerusalem Oriental, cortando uma das estradas principais da Palestina. (Arquivo pessoal)

    Os valores principais do veganismo e da esquerda, como corrente política, são os mesmos: justiça, solidariedade e igualdade. Já o carnismo, a ideologia contrária ao veganismo, representa a ordem, onde os mais fortes, nesse caso os humanos, exploram os mais fracos, os não-humanos. Se dizer vegana e de direita me parece uma contradição porque não vejo como você pode defender a ordem, que é um dos valores principais da direita política, e ao mesmo tempo lutar por justiça e igualdade, valores que são impedidos de serem realizados enquanto essa ordem, que é necessariamente injusta, existir. Não estou afirmando que todas as pessoas que consomem animais são necessariamente de direita, mas se você é de esquerda, está engajada na luta por justiça e igualdade, mas ignora a conexão entre a opressão humana e animal, então sua análise está incompleta.

    A exploração de animais não-humanos foi e ainda é uma parte essencial na expansão e no sustento do colonialismo.

    Por isso também não vejo como seria possível defender o capitalismo e o colonialismo e se manter coerente com a ética vegana. A exploração de animais não-humanos foi e ainda é uma parte essencial na expansão e no sustento do colonialismo. Animais foram uma das primeiras formas de acumulação de capital e na fase mais moderna do capitalismo a exploração animal atingiu dimensões gigantescas e vimos o nascimento de fazendas de criação intensiva, onde animais são confinados aos milhares, abatedouros-fábricas com linhas de produção e capacidade de matar um número absurdo de animais por hora. Por isso é uma contradição se dizer vegana, ou seja, se posicionar como alguém que luta contra a exploração animal, e ao mesmo tempo defender o capitalismo e o colonialismo, sistemas que apoiam e se beneficiam imensamente da exploração animal. Algumas pessoas argumentam que seria possível ver nascer um capitalismo mais “compassivo” e sem exploração animal, talvez até sem racismo e sem a opressão das mulheres, mas isso é uma abstração que ignora que o capitalismo existente é fruto desses processos históricos reais.

    Mas olha, não sou a porta-voz do movimento vegano e as opiniões que expresso aqui são só minhas. Como já falei, vejo o veganismo como parte essencial de uma luta anti-opressão mais abrangente, mas muitas pessoas vivem o seu veganismo de acordo com uma interpretação bem diferente. O veganismo que mais cresce é um veganismo que se distanciou do movimento radical inserido na luta por justiça social que ele foi durante a maior parte da História e passou a se interessar mais pelo indivíduo vegano. É um veganismo que não só é desconectado de outras lutas, mas cuja razão da sua popularidade é exatamente se definir como apolítico. O veganismo passa a ser vivido como uma prática individualista e consumista, motivada por ideais de compaixão, saúde e sustentabilidade, certo, mas que não deixa de ser uma prática consumista cujo potencial revolucionário foi suprimido. Essa despolitização do veganismo acabou deixando o espaço livre pra cooptação do movimento pelo capitalismo, tratando-o como um nicho de mercado, enquanto continua lucrando com a exploração e assassinato de mais de 70 bilhões de animais terrestres por ano, além de destruir a Terra e perpetuar violências contra humanos.

    Mas a comunidade vegana é diversa e muitas de nós seguem essa linha revolucionária e entendem o veganismo como um movimento radical, anti-capitalista e anti-colonialista, que luta pela abolição animal, mas que também se posiciona do lado de todas as pessoas oprimidas no mundo.

    Sul21Em que medida, na sua opinião, a esquerda (considerando aqui uma visão de esquerda em geral, de pessoas que se reivindicam de esquerda, não necessariamente integrantes de partidos) vem tratando temas como o dos direito animais e a dimensão política da alimentação?

    Sandra Guimarães: Me parece que a dissonância cognitiva da esquerda em geral com relação ao veganismo é bem grande. Pessoas de esquerda vão lutar contra o agronegócio, contra a violência no campo, contra o desmatamento das florestas, contra o extermínio das populações indígenas, contra o latifúndio, contra as desigualdades sociais e, ao mesmo tempo, falham em ver a conexão que aquele bife ou pedaço de queijo que ela come todos os dias tem com isso tudo. Sinto que essas pessoas veem a luta pela abolição da exploração animal como algo sem sentido ou até ofensivo diante de tanta opressão humana.

    Como disse Angela Davis “a falta de engajamento crítico com a comida que comemos demonstra a que ponto a mercantilização se tornou a principal maneira pela qual percebemos o mundo.”

    Mas não dá pra falar de direitos das populações indígenas e ignorar que a pecuária é responsável por 91% do desmatamento no Brasil, seja pra criar pastos ou cultivar soja pra alimentar animais destinados ao consumo humano. Não dá pra falar de soberania alimentar e ignorar que a pecuária ocupa 75% das terras aráveis do mundo, seja pra pasto ou pra produção de ração, mas produz apenas 12% das calorias consumidas globalmente. Que quase 80% da soja processada no Brasil vira ração e quase metade da soja não processada é exportada pra alimentar os animais criados pra consumo no exterior. Não dá pra falar de aquecimento global e ignorar que a pecuária sozinha é responsável por 14% da produção de gases de efeito estufa, mais do que todo o setor de transporte reunido. Falar da exploração da classe trabalhadora e ignorar que o trabalho nos frigoríficos é um dos mais insalubres que existe, com exposição a gases tóxicos, manuseio de instrumentos cortantes, repetição de gestos que levam a doenças crônicas, estresse e acidentes causados pela pressão pra produzir sempre mais e mais rápido. É um trabalho tão ruim e perigoso que só quem não tem nenhuma outra opção aceita fazê-lo, o que muitas vezes significa populações vulneráveis como imigrantes e refugiados sem documentação.

    Eu fico muito decepcionada em ver o pessoal da esquerda ter uma atitude tão incoerente quando o assunto é veganismo. Vão denunciar o latifúndio, mas quando a vegana entra na conversa passam a defender a pecuária. A análise crítica para antes de chegar no conteúdo do prato. Como disse Angela Davis “a falta de engajamento crítico com a comida que comemos demonstra a que ponto a mercantilização se tornou a principal maneira pela qual percebemos o mundo.” É difícil entender como pessoas na esquerda podem falar longamente sobre o valor de troca do objeto real, mas não conseguem usar a mesma lente pra analisar o bacon ali no prato, pra enxergar o que está por trás daquele peito de frango, as relações que esses objetos incorporam e as implicações da sua produção.

    Sandra Guimarães, Sameh Arekat e Ahmad Safi, na universidade palestina Al Quds. Eles são os fundadores da Palestinian Animal League. (Arquivo pessoal)

    Talvez algumas pessoas na esquerda associem o movimento vegano a uma escolha consumista e inacessível pra classe economicamente desfavorecida. Reconheço que nós, veganas, somos em boa parte responsáveis por isso. A mídia social ajudou a divulgar o veganismo, como aconteceu com muitos movimentos progressistas, mas ao mesmo tempo basta dar uma olhada no Instagram de veganas populares pra ver que o veganismo exibido ali é despolitizado, elitista e na maior parte do tempo consumista. Isso acaba alienando muita gente. Aquela história de que se não for acessível aos mais pobres, não é revolucionário. A verdade é que comida vegana pode ser a mais barata de todas, encontrada nas feiras (não em lojas de produtos especializados). É macaxeira, é tapioca, é feijão com arroz. Como diz um amigo meu: “Comida vegana é a comida do proletariado.”

    E os produtos frutos da exploração animal são artificialmente baratos. Um relatório feito pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável e pela Agência Alemã para a Cooperação Internacional mostrou que pra cada R$1 milhão de receita gerado pela pecuária, R$ 22 milhões se perdem em capital natural e outros danos ambientais. E o prejuízo ambiental não para por aí. As operações de abate e processamento de animais custam 371% a mais, em danos ambientais do que a receita que geram. Já imaginou quanto custariam os pedaços de animais vendidos em açougues se refletissem com o custo real de produção? Não precisamos imaginar porque já tem vários grupos pagando caro pela carne que você compra barata: biomas desaparecendo, populações indígenas perdendo suas terras e sofrendo uma verdadeira limpeza étnica, ativistas que militam contra os crimes do agronegócio sendo assassinadas… Aí a esquerda vai por um lado defender a floresta, defender as populações indígenas e por outro lado patrocinar, ao comer carne, os crimes que denuncia. Percebe a incoerência?

    “Nem todas as pessoas que participaram do tour eram veganas, mas a condição era de que, naquelas duas semanas, elas se alimentassem só com alimentos de origem vegetal”. (Arquivo pessoal)

    Sul21Como nasceu essa ideia do tour político-vegano na Palestina e qual o objetivo desta iniciativa? 

    Sandra Guimarães: Eu fui pra a Palestina, pela primeira vez, em 2007, pra um trabalho de voluntariado de duas semanas. Eu estava morando em Paris, onde estudei durante seis anos. Fui a Palestina pra ficar duas semanas e acabei ficando cinco anos. Depois de viver cinco anos na Palestina, sempre trabalhando como voluntária no campo de refugiados de Aida, em Belém, eu me senti na responsabilidade de compartilhar o que eu tinha aprendido com a minha comunidade, no caso as pessoas do Brasil. Há grupos de brasileiros que vêm para a Terra Santa, mas só visitam Israel. Nos cinco anos em que vivi na Palestina, cruzei com muitos ativistas da Europa, dos Estados Unidos e do Canadá, mas não encontrei quase ninguém do Brasil. Então, senti essa responsabilidade de compartilhar a causa palestina e o que estava acontecendo lá com as pessoas do Brasil.

    Em 2013, fui morar na Bélgica, em Bruxelas, e um ano depois decidi fazer o primeiro tour na Palestina, sempre com esse objetivo de compartilhar a Palestina que eu conheci com pessoas do Brasil. É um tour político, ativista e vegano. A ideia, desde o início, era mostrar toda a opressão da qual o povo palestino é vítima. Não fazia sentido pra mim, como ativista pela abolição da exploração animal, falar da opressão humana durante o dia e, à noite, sentar em um restaurante e ver as pessoas comendo um animal, reproduzindo uma opressão contra os animais não humanos. Pra mim, só fazia sentido se fosse desse jeito, com uma maneira interseccional de ver as lutas e as opressões. Era uma extensão lógica da minha visão política e da minha ética.

    Nem todas as pessoas que participaram do tour eram veganas, mas a condição era de que, naquelas duas semanas, elas se alimentassem só com alimentos de origem vegetal. As pessoas vieram de várias cidades do Brasil – às vezes, brasileiros morando na Europa -, sendo responsáveis por suas passagens de avião. O tour só começa quando todos se encontram em Jerusalém em um dia e hora determinados. O primeiro durou duas semanas, mas os últimos foram de onze dias. De Jerusalém, nos deslocamos pra Belém, que é a base do tour. O grupo fica hospedado na casa de uma família do campo de refugiados de Aida, com quem eu trabalhei em um projeto de empoderamento de mulheres palestinas que têm filhos com deficiência ou que estão sozinhas cuidando da família (Noor Women’s Empowerment Group). É um projeto pra criar uma fonte de renda para essas mulheres. Uma das atividades pra criar essa renda é fazer hospedagem na casa das poucas famílias que têm um quarto livre.

    O primeiro objetivo de tour é educar as pessoas e mostrar o que é a realidade do povo palestino pra que entendam o que significa as palavras ocupação e colonização

    Desde o início quis que os participantes do tour ficassem hospedados na casa de uma família palestina em um campo de refugiados, pra que pudessem ter a experiência do que é viver em um campo de refugiados e que o dinheiro, ao invés de ir para um hotel, fosse pra família. Então, as pessoas ficam hospedadas na casa de uma família no campo de refugiados de Aida e a cada dia visitamos uma cidade diferente. Pra mim era muito importante também que o grupo de brasileiros que participasse do tour ouvisse a história e a narrativa sobre a situação na Palestina diretamente da boca das palestinas. Não fazia sentido que escutassem isso da boca de uma brasileira. Em cada cidade que a gente vai, eu contrato uma pessoa de lá que faz trabalho de guia político. No primeiro dia, a gente faz um tour pelo distrito de Belém. Depois, vamos a Hebron, onde há uma pessoa nos esperando. Em Jerusalém, fazemos o tour político com uma organização de lá e assim por diante.

    Então, o primeiro objetivo de tour é educar as pessoas e mostrar o que é a realidade do povo palestino pra que entendam o que significa as palavras ocupação e colonização. Por mais que a gente leia mídias alternativas, o que ficamos sabendo é apenas uma fração do que vai se descobrir conhecendo diretamente essa realidade. Esse é o objetivo número um do tour. O segundo objetivo é mostrar solidariedade ao povo palestino, conhecer as iniciativas neste sentido, participar de ações, apoiar a economia local que está sendo muito estrangulada por conta da ocupação. Até o começo da segunda intifada, havia muitos turistas. Hoje é quase nada.

    Sandra Guimarães participará de conferência internacional na Palestina. (Divulgação)

    O último objetivo é encorajar as pessoas a terem um ativismo de solidariedade á luta palestina quando elas voltam para o Brasil, seja da maneira mais simples, mostrando fotos da viagem e contando o que viram e ouviram, ou indo mais longe e organizando alguma atividade de solidariedade com o povo palestino. Desde 2014, foram sete tours, o último agora em 2018. Considero que meus objetivos foram atingidos, principalmente no que diz respeito ao envolvimento das pessoas quando elas voltam para o Brasil. Teve gente fazendo conferências sobre a Palestina em universidades, outros promovendo festival de filmes palestinos e festival de culinária palestina. Duas meninas que participaram do tour e estão atualmente em Portugal estudando (uma em Coimbra e outra em Lisboa), organizaram a semana do apartheid israelense. Muitas das pessoas que participaram dos tours não eram envolvidas com nenhum tipo de ativismo. Outras eram ativistas só no campo dos direitos dos animais e hoje são ativistas também dos direitos humanos. Isso me enche de orgulho.

    Acho que, como ativista estrangeira na Palestina, sou muito mais útil fazendo isso, trazendo pessoas do Brasil, mostrando a realidade da ocupação pra que elas possam ajudar a sensibilizar um público mais amplo, do que fiz durante os cinco anos que trabalhei como voluntária. Também era um trabalho incrível, mas acho que qualquer estrangeira poderia ter feito isso. Sinto que a minha responsabilidade maior é dentro da minha comunidade.

    Sul21Você se considera uma ativista dos direitos humanos e dos direitos animais. Como esses dois planos se articulam, na tua opinião?

    Sandra Guimarães: Pra mim, essa é luta só, uma luta contra a opressão. Atualmente sou voluntária de uma organização chamada Palestinian Animal League (PAL/Liga Palestina dos Animais), que é a primeira organização palestina a tratar dos direitos animais. É uma organização interseccional. O foco não é somente o animal não humano. As pessoas que participam da PAL também atuam na defesa dos direitos humanos e dos direitos da terra. Eu me encontrei muito com essa organização, pois ela representa a maneira como vejo essas conexões. A PAL vai promover, de 3 a 6 de maio, a primeira conferência internacional na Palestina sobre direitos animais, intitulada “Defendendo a Palestina –Libertação humana, animal e da terra”. Eu vou dar uma palestra nesta conferência, onde várias pessoas, algumas estrangeiras, mas a maioria da Palestina, falarão sobre essa conexão entre libertação humana, libertação animal e libertação da terra e sobre como não pode existir uma coisa sem a outra. O mecanismo que oprime esses diferentes grupos é o mesmo.

    “Propaganda vegana” do Exército israelense. (Reprodução/Papacapim)

    Alguém pode objetar: como assim, pensar em direito dos animais em um contexto onde os direitos humanos são violados todos os dias, como ocorre na Palestina? Acho muito interessante a resposta de Ahmad Safi, um dos fundadores da PAL, pra essa pergunta. Ele diz: eu não posso ficar sentado em casa esperando o fim da ocupação israelense pra começar a lutar pela sociedade em que quero viver. Isso tem a ver com a hierarquia da opressão. A militância da esquerda, de um modo geral, trabalha com essa hierarquia. Segundo ela, primeiro a gente liberta os humanos, depois os animais e depois a terra. Até dentro da libertação dos humanos essa hierarquia aparece. Já ouvi muitas pessoas dizendo na Palestina: primeiro vamos acabar com a ocupação israelense, aí a gente vai lutar pelos direitos das mulheres depois a gente luta pelos direitos da população LGBT. O problema é que, quando você estabelece essa hierarquia e luta pela libertação de um grupo específico, passa a reproduzir a opressão contra os outros grupos que não estão ali contemplados. Esse é o sentido da resposta de Ahmad: eu luto pela sociedade em que quero viver, com direitos pra todas as pessoas, pros animais e com respeito à terra.

    A minha conferência será sobre o “vegan-washing” israelense, uma estratégia de usar o veganismo como uma cortina ou um mecanismo pra “lavar”, de alguma maneira, os crimes cometidos por Israel. Eles promovem Tel Aviv como a capital vegana do mundo e o exército israelense como o mais vegano do mundo, onde os soldados que se declaram veganos têm direitos a botas de couro sintético, boinas de lã sintética e a refeições veganas. Não é questionado o fato de que esses mesmos soldados vão cometer crimes contra humanos. Essa é uma arma de propaganda bastante usada por Israel. O governo está pagando viagens para blogueiras veganas do mundo inteiro irem pra Israel e descobrirem a capital vegana do mundo, distraindo a atenção em relação à ocupação e colonização que está acontecendo na Palestina. Escrevi um artigo no meu blog onde aprofundo essa questão.

    Link original: https://www.sul21.com.br/ultimas-noticias/geral/2018/04/todas-as-opressoes-estao-conectadas-veganismo-e-uma-extensao-logica-da-luta-anti-opressao/

  • Coluna Tereza de Benguela, do Centro Oeste e Região Amazônica, chega a Brasília

    Coluna Tereza de Benguela, do Centro Oeste e Região Amazônica, chega a Brasília

    #MarchaParaBrasília

    #MST

    #LulaLivre

    #EleiçãoSemLulaÉFraude

    Mais de cinco mil trabalhadores rurais sem terra e outros milhares de militantes, ativistas e trabalhadores de diversas áreas estão a caminho de Brasília para apoiarem e testemunharem o registro da candidatura à Presidência da República do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva no Tribunal Superior Eleitoral. Nunca na história desse país houve uma movimentação desse nível para o registro de uma candidatura. As manifestações, no entanto, são indispensáveis nesse momento em que a democracia está sob ataque, em que um golpe jurídico/midiático/parlamentar retirou ilegalmente do governo uma presidenta sobre quem não pesam sequer suspeitas de crimes e no qual o candidato melhor posicionado nas pesquisas de intenção de voto se encontra preso, também ilegalmente, por uma condenação injusta sem crime ou provas. As fotos a seguir, de Francisco Alves, mostram a chegada a Brasília da coluna Tereza de Benguela, que seguiu à pé e de ônibus de várias cidades das regiões Amazônica e Centro-Oeste.

     

     

    🚩 NÓS, QUE AMAMOS A REVOLUÇÃO, RESISTIREMOS EM MARCHA! ✊🏿

    Retomando a frase “marchar novamente é preciso”, o MST revive momentos históricos. Entendendo as eleições como um momento tático de tensionar o debate político, a #MarchaLulaLivre chega ao Distrito Federal com quatro grandes temas: o trabalho de base, o povo como sujeito que constrói a sua história e eleva a sua consciência, o poder popular, e os nossos direitos à terra, moradia e trabalho.

    ▶ Leia a matéria completa aqui: https://bit.ly/2BacPDJ

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  • A Comunidade Jongo Dito pede ajuda para o replantio nas áreas afetadas pelo incêndio

    A Comunidade Jongo Dito pede ajuda para o replantio nas áreas afetadas pelo incêndio

     

    Agricultura quilombola desenvolvida na Casa de Cultura Fazenda Roseira que foi destruída pelo incêndio
    Foto: Fabiana Ribeiro

    … “Mato seco pegou fogo
    Mamoeiro ficou de pé, mamoeiro ficou de pé
    Se é fogo morro acima
    Ou tu fica ou dá no pé, se é mamoeiro fica em pé
    Se é água morro abaixo
    Ou tu fica ou dá no pé, se é mamoeiro fica em pé ”…

    (Ponto de jongo da Comunidade Dito Ribeiro, Campinas)

     

     

     

    Resistir, persistir, prosseguir e unir para que todos e todas façam aquilo que uma única pessoa não consegue fazer sozinha, assim é a Comunidade Jongo Dito Ribeiro, guardiões do legado do Jongo do Sudeste  que é patrimônio imaterial da cidade de Campinas (SP).

    A Comunidade Jongo Dito Ribeiro está fazendo uma campanha para a doação de mudas de diversas espécies, e promoverá nos dias 1  e 2 de setembro um mutirão  para replantio nas áreas que foram destruídas pelo incêndio no mês de junho,  no  local  ocupado pela Casa de Cultura Fazenda Roseira.

    A Casa de Cultura Fazenda Roseira é gestada pela comunidade e abriga  inúmeras ações culturais e educativas promovidas pela comunidade. As ações que tem como eixos a cultura, a história, a mitologia e o meio ambiente em uma perspectiva afro-brasileira, no local funciona também o Centro de Referência dos Jongueiros e Jongueiras do Sudeste.

    Esse rico patrimônio foi ameaçado no final de junho (26) por um incêndio que consumiu parte da APP (Área de Preservação Permanente), quase toda da plantação da comunidade e por pouco não atingiu um dos casarões do complexo da Casa de Cultura Fazenda Roseira. A comunidade desenvolve a agricultura quilombola no local, que é uma prática baseada nos saberes e  fazeres da cultura de matriz africana, respeitando o tempo de produção de cada cultivo,  não se utiliza  nenhum tipo de agrotóxico para controle da vegetação espontânea e nem para o controle de pragas.

    O prejuízo causado pelo incêndio foi grande,  a plantação de legumes, de feijão, a horta  e as árvores frutíferas foram destruídas em quase sua totalidade, restando algumas bananeiras e um mamoeiro. Apesar de controlado, o incêndio iniciado no entorno da Casa de Cultura demonstrou a vulnerabilidade do local , segundo Bianca Lúcia Lopes, coordenadora geral da casa. “ Não temos cerca, não temos segurança . Se fosse durante a noite, o fogo teria atingido a casa” declarou. O alambrado que cercava a Casa de Cultura Fazenda Roseira  foi roubado meses atrás.

    Para a ação restauro do plantio, a Comunidade Jongo Dito Ribeiro precisa e conta com voluntários para a doação de mudas (preferencialmente) ou sementes  de diversas espécies de hortaliças,  ervas, legumes e frutas ( lista completa no final da matéria). A colaboração também pode ser realizada por meio da doação de mudas de primaveras que serão utilizadas para o cercamento da área pertencente a Casa de Cultura Fazenda Roseira. Os voluntários também poderão ajudar na atividade de plantio das áreas, ou com doação de gansos para servirem  de alerta a invasores e auxiliarem na segurança do espaço ocupado pela casa de Cultura Roseira.

    Os gansos são aves consideradas territorialistas, característica que faz com que o animal não responda com tanta facilidade a estímulos que podem torná-lo dócil. Dessa forma, são altamente utilizados para fazer a segurança de locais diversos.

    O quê doar?

    100 –  Mudas de Primavera – Urgente/ para o cercamento

    Mudas de Hortaliças – Replantio 

    100 –  Alface

    100 –  Rúcula

    100 –  Chicória

    100 –  Couve

    100 –  Agrião

    100 –  Cebolinha

    50 –  Salsinha

    50 –  Salsão

    50 –  Coentro

    50 –  Mostarda

     

    Ervas – Replantio

    50 –  Alecrim

    50 –  Orégano

    50 –  Arruda

    50 –  Manjerona

    50 –  Manjericão

    50 –  Alfazema

    50 –  Hortelã

    50 –  Colônia

    50 –  Poejo

    50 –  Cidreira

    50 –  Erva Doce

    50 –  Cana Do Brejo

    50 –  Quebra Pedra

     

    Legumes e Frutas – Replantio

    50 –  Tomate

    50 –  Chuchu

    100 –  Bulbos Inhame

    100 –  Bulbos Cará

    100 –  Manivas de Mandioca

    30 – Abacaxi

    30-  Limão

    30 – Laranja

    30 – Jabuticaba

    100 –  Mudas de Banana

    30 –  Acerola

     

    10 –  Gansos para Preservação da área

     

    Como doar?

    As doações poderão ser levadas  diretamente na  Casa de Cultura Fazenda Roseira ( Rua Domingos Haddad, s/nº – Residencial Parque da Fazenda – Campinas SP – de terça à sexta-feira das 10 às 17h ), mais informações e contato pelos telefones (19) Alessandra Ribeiro 19 99134 3922, Maira 19 99409 5247, ou ainda  pelos e-mails : alejongo@gmail.com ou mai17.silva@gmail.com.