Jornalistas Livres

Autor: Flavia Gianini

  • Tema da Parada LGBT é causa trans e vira palco de protesto contra Temer

    Tema da Parada LGBT é causa trans e vira palco de protesto contra Temer

    Por Leo Moreira Sá, especial para os Jornalistas Livres

    Após 20 anos de sua criação, em 1997, a 20°Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, dá visibilidade a comunidade trans com o tema: “Lei de Identidade de Gênero. Todas as pessoas juntas contra a transfobia.” O segundo maior evento da maior cidade da América Latina – depois da Fórmula1-, nunca havia referendado a última letra da sigla LGBT, mesmo ela representando uma das populações que mais sofrem com crimes de ódio em nosso país. A RedeTrans Brasil notificou 53 assassinatos, 20 tentativas de homicídio, 4 suicídios, e 23 casos de violação de Direitos Humanos contra travestis, mulheres transexuais e homens trans apenas nos cinco primeiros meses deste ano. O marco histórico no ativismo LGBT é fruto das conquistas do movimento social de um dos segmentos de maior vulnerabilidade do Brasil.

    “Foi um afunilamento decorrente da luta histórica das travestis e mulheres transexuais, e também dos homens trans que já militam há mais de 15 anos, e que recentemente se organizaram politicamente através do ABRAT (Associação Brasileira de Homens Trans) e depois o IBRAT (Instituto Brasileiro de Transmasculinidade )”, pontua Heitor Marconato, 30 anos, ativista do IBRAT.

    Em 2014, a ativista transfeminista Daniela Andrade criou uma petição online que foi assinada por mais de 7 mil pessoas e, assim, conseguiu influenciar o resultado final da votação do tema da parada, que incorporou a transfobia (discriminação por identidade de gênero) no tema recorrente da homofobia (discriminação por orientação sexual) ficando: “Todos juntos contra a homolesbitransfobia”. O tema defendido pela petição de Daniela já era a Lei de Identidade de Gênero João W Nery que tramita na justiça desde 2013, e que permite a mudança do nome e do gênero nos documentos de forma definitiva.

    Pela primeira vez, em 2014, a APOLGBT (Associação da Parada do orgulho LGBT) disponibilizou um carro para travestis e transexuais, mas o veículo não saindo porque teve problemas mecânicos. Em 2015, o tema foi: “Eu nasci assim. Eu cresci assim. Vou ser sempre assim, Respeitem-me” que tentava dar uma resposta ao projeto de “cura gay” defendida por fundamentalistas religiosos, mas que por outro lado, excluía radicalmente travestis e transexuais, que lutam para ter sua identidade de gênero reconhecida e seu corpo respeitado e diferente daquele com o qual nasceu.

    A travesti Bruna Valin da RedeTrans Brasil esteve na reunião que definiu o tema. “Eu participei na reunião da construção do tema e defendi junto com Adriana Silva -travesti que faz parte da APOLGBT- e os homens trans presentes, a importância de se ter visibilidade positiva para as leis específicas em prol da nossa população. Depois disso, todas as reuniões foram abertas e tiveram representação de alguém de identidade trans.”

    O movimento social de travestis, mulheres transexuais e homens trans se fez representar também por falas de lideranças na abertura do evento, mas infelizmente não estava presente de forma massiva na parada. Causou estranheza o “Carro da Visibilidade Trans” estar ocupado, em sua grande maioria, por pessoas cisgêneras e gays. Sobre isso, a mulher transexual, professora de filosofia e pré-candidata a vereadora pelo Psol, Luiza Coppieters, se posicionou:

    “Essa parada não mudou muito apesar do tema, mas este posicionamento é um marco, apesar de termos algumas questões pra se discutir como a representatividade dos homens trans, e da pluralidade. É preciso investigar as causas da não-participação da nossa comunidade, do esvaziamento e, principalmente, do acesso das travestis, mulheres transexuais e homens trans aos carros.”

    Luiza considera que é um momento difícil mas que o movimento deve superar, sem “rachas internos” e que os que “estão no poder hoje, na liderança do movimento lgbt, especialmente os homens gays, tem que se posicionar ao lado das travestis, mulheres transexuais e homens trans, respeitando-@s como protagonistas na reivindicações de direitos”, afirma.

    “Por isso precisamos ocupar os espaços de decisão. A gente tem uma série de demandas e bandeiras em comum. A gente tem que sair às ruas, se organizar, construir um discurso, e ter a força pra lutar contra esse governo conservador que está tomando conta de todas as instituições políticas. A gente tem que ficar junto e batalhar pra ser a resistência à esse governo golpista.” concluiu Luiza.

    O fato de o tema da 20° Parada do Orgulho LGBT dar visibilidade a comunidade trans agregou, apesar das dificuldades da APOLGBT em democratizar os espaços físicos para a população que se quis referendar, um valor inestimável no debate do tema da transexualidade, que ainda é desconhecido do grande público. As saídas de metrô da Avenida Paulista estavam entupidas e pessoas não paravam de chegar de todas as regiões, inclusive as periféricas de São Paulo, provando que o povo compareceu em peso na festa e se fantasiando conforme o entendimento individual de cada um com relação ao tema da transexualidade.

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    Este ano, a grande festa também proporcionou um enorme protesto político. A multidão presente expressou seu descontentamento com o governo Temer e seu golpe institucional. Nos primeiros dias de seu governo ilegítimo, Temer tomou decisões que afetam diretamente as populações socialmente vulneráveis, como a extinção do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos, reduzido a uma secretaria subordinada à pasta da Justiça. Em seguida, fundamentalistas religiosos protocolaram um PDC (Pedido de Decreto Legislativo ) com o objetivo de anular o decreto que a presidenta Dilma assinou antes de ser afastada, reconhecendo a população de travestis e transexuais com o estabelecimento do nome social em todas as autarquias federais do país.

    “Graças ao nome social, na minha universidade eu sou respeitado. Já no meu trabalho no Centro Cultural foi muito difícil, porque o meu nome só foi colocado no meu crachá depois de sete meses. Agora eles vem dizendo que não vão permitir que a gente use o nome social. Isso é um retrocesso que nós não podemos deixar acontecer. Nome social é um Direito”, desabafou o trans homem carioca Bernardo de Assis.

    Homens trans, principalmente ativistas do IBRAT, se reuniram no chão atrás do “Carro da visibilidade trans”, que cedeu apenas 6 pulseiras de acesso para esse segmento. Foi aberto uma faixa em protesto ao governo Temer onde se via um mapa do Brasil LGBT e uma bandeira trans sendo cortada por uma tesoura escrita “golpe”. Depois disso os homens trans se dispersaram.

    O segmento de homens trans, dentro da comunidade de travestis e transexuais, é o mais invisível, com muitas dificuldades para lutar em espaços públicos. Depois da criação do IBRAT, em 2013, com núcleos em todos as cinco regiões do país, essa realidade vem aos poucos sendo mudada. Com o primeiro Encontro Nacional de Homens Trans, em 2015, onde o IBRAT conseguiu a marca histórica de 116 homens trans reunidos, houve uma aceleração nas articulações nacionais. Já haviam alguns protagonismo importantes de alguns militantes desde a década passada, mas o ativismo organizado das Transmasculinidades é relativamente jovem.

    Censura no Facebook

    Uma foto postada na página dos Jornalistas Livres, do homem trans Heitor Marconato, que não se submeteu a nenhuma cirurgia e estava sem camisa mostrando os seios, provocou a indignação e repulsa de usuários transfóbicos, que não só postaram comentários de ódio como denunciaram o post. O Facebook excluiu a foto numa censura fora de propósito, porque outras fotos de pessoas cisgêneras nuas não provocaram nenhuma reação.

    Heitor tem barba e bigode e ressignificou o seu corpo culturalmente designado como de “mulher”, para transmasculino. A denúncia de internautas transfóbicos seguido da censura do Facebook, se baseia na noção binarista que nos obriga a ter a identidade corpórea que a cultura designou para o sexo que nascemos. As pessoas não conseguem conviver com a ruptura que o corpo de uma travesti, mulher transexual ou homem trans traz em sua nova equalização, principalmente se ela mistura os elementos contrários . Sobre essa questão, a mulher transexual, atriz e jornalista livre Wallace Ruy declarou:

    “Viver a transgeneridade pode resultar numa vivência de isolamentos, mas é importante que nos mostremos, pois estamos viv@s e carregamos a herança de histórias em nosso próprio corpo, -abjeto, marginal, vulgo(ar)-; reinventando novas e outras maneiras do ser humano, não nos negando grandes oportunidades e possibilidades, pois a criatividade humana é inesgotável. Ser quem se é, é um ato de coragem e sabedoria, e o mundo carece de observar, testemunhar e ouvir. A revolução pela liberdade é urgente, é para já, é A-G-O-R-A.”

  • Dilma assina decreto em defesa do nome social de travestis e transexuais

    Dilma assina decreto em defesa do nome social de travestis e transexuais

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    por Leo Moreira Sá especial para os Jornalistas Livres

    A presidenta Dilma Rousseff assinou, nesta quinta-feira (28), no Palácio do Planalto, decreto que permite o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais. Essa conquista é fruto da militância organizada de militantes travestis, mulheres transexuais  e homens trans, que desde a I°Conferência Nacional LGBT realizada em junho de 2008, em Brasília, colocou como prioritária a luta pelo reconhecimento e respeito ao nome social.

    “Pela primeira vez na história Brasil um chefe de estado assina um decreto presidencial que reconhece a população de travestis, mulheres transexuais e homens trans no Brasil”, declarou Tathiane Araújo, da RedeTrans Brasil, que estava presente na Conferência Conjunta de Direitos Humanos em Brasília, onde Dilma assinou o documento. Ela e outras lideranças do movimento trans, pressionaram para que o documento fosse assinado pela presidenta.

    No ato da assinatura estavam presentes a Ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino Gomes e
    o secretário de Direitos Humanos do Ministério das Mulheres, Rogério Sottili. Estavam presentes também os criadores do Projeto de Identidade de gênero João W Nery, Jean Wyllys (Psol-RJ) e Erika Kokay (PT-DF). Este decreto é um avanço em relação a proposta de transitoriedade do nome social, pois permite a mudança definitiva do nome e do gênero nos documentos oficiais e também obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) e os planos de saúde a custear tratamentos hormonais integrais e cirurgias de resignação sexual a tod@s os interessad@s maiores de 18 anos, aos quais não será exigido nenhum tipo de diagnóstico, tratamento ou autorização judicial.

    Gênero é uma construção social binária e heteronormativa, que ao longo dos séculos foi se cristalizando nos conceitos de “homem” e “mulher” da forma como conhecemos hoje. Na nossa cultura, todas as pessoas que nascem com vagina são definidas como “mulheres” e as que nascem com pênis são definidos como “homens”. Qualquer dissidência à esta ‘verdade’ instituída é encarada como patológica e criminosa. Todas as pessoas que não se identificam com o gênero atribuído ao nascimento são pessoas trans que tem o direito à cidadania como qualquer outra, mas sofrem agressões cotidianas por transfobia, e muitas vezes são são assassinadas. Diante de tanta violência e vulnerabilidade social, a comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans tem se articulado politicamente há mais de duas décadas. Uma das principais reinvindicações é o respeito ao nome social, que é aquele escolhido pela própria pessoa, e que representa sua verdadeira identidade de gênero.

    “O  nome social é uma solução transitória, paliativa e incompleta, contudo indispensável até que uma lei de identidade de gênero seja aprovada no pais” desabafou a professora Sayonara Nogueira, secretária de Comunicação da Rede Trans Brasil.

    Dilma realiza um ato magnânimo ao assinar uma lei que reconhece federativamente a existência da comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans, e promove o respeito à identidade de gênero. Na prática, explica Rogério Sottili, “as pessoas vão poder usufruir de toda a máquina governamental, inclusive nas políticas públicas de inclusão social, sendo tratadas pela identidade de gênero que as representam.”

    O decreto passa a valer após a publicação no Diário Oficial, mas ainda terá um prazo de seis meses para que a mudança seja implementada em formulários, e de até um ano para o todo o sistema. A identidade de gênero é definida como a vivência interna e individual do gênero tal como cada pessoa o sente, que pode corresponder ou não com o sexo atribuído após o nascimento.

  • Acompanhe ‪#‎AOVIVO‬ o encontro de Lula com as Centrais Sindicais

    Acompanhe ‪#‎AOVIVO‬ o encontro de Lula com as Centrais Sindicais

    18h45 – “Se enganam aqueles que pensam que só posso ajudar a Dilma se eu for ministro. Quero dizer uma coisa, companheiros: me convoquem!”, finaliza assim o seu discurso, o ex-presidente Lula.

    18h43 – “A partir da semana que vem vou falar com os parlamentares. É importante trabalhar para uma conciliação com o Congresso. Nos deem seis meses que nós vamos fazer esse país melhorar”.

    18h41 – “A impressão que tive na Av. Paulista era que vocês estavam me dando posse. Foi a posse mais bonita que um ministro já teve. Nunca uma posse de ministro no Brasil teve tanta gente. Voltei todo orgulhoso para casa”.

    18h35 – Lula: “Tentar tirar a Dilma agora é golpe. Não tem outra palavra, é golpe. E não podemos permitir isso. Vou deixar eles com mais raiva. Vou andar por esse país e nem que seja a última coisa que eu vou fazer na vida, eu vou ajudar a Dilma a melhorar a vida do povo brasileiro”.

    18h31 – “Nós temos obrigação com a democracia nesse país. Se enganam aqueles que pensam que sou contra o combate à corrupção nesse país. Se fosse, não teria dado todas as condições à PF, MP”.

    18h27 – “Esse ódio que foi criado nesse país, nós sabemos quem criou. Nós temos divergências ideológicas com eles, mas não temos ódio deles não. “Nós não queremos um país dividido”.

    18h25 – “Eles acham que a pobre gosta de ir à feira na xêpa. Eles precisam saber que pobre também gosta de filé”.

    18h21 – “Ninguém perdeu mais eleições do que eu. Eles perderam a quarta eleição e vão perder esse ano novamente com o Fernando Haddad, em São Paulo. Democracia é assim. A gente perde e a gente ganha. O que não se pode aceitar é o ódio”.

    18h15 – “Este ato é um ato de solidariedade a todas as pessoas que querem ligar a TV e ver algo que preste na televisão. Eles têm que aprender que a mentira tem perna curta. Eles têm que aprender que nós ganhamos as eleições com o voto do povo brasileiro. Não tentem dar o golpe na Dilma, porque nós não vamos aceitar”.  Plenária ecoa o grito de “Não vai ter golpe!”

    18h10 – Lula: “Dilma já tinha me chamado em agosto do ano passado, mas eu não aceitei. Ao eleger a companheira Dilma, eu achava que já tinha cumprido minha tarefa de vida. Eu pensei que eles iam deixar a Dilma governar. Mas, eles não deixaram”.

    18h03 – Lula: “Nunca na história desse país, os sindicalistas colaboraram tanto com um governo”.

    18h – Lula: “Não é fácil para os conservadores deste país, não precisa ser nem um operário ou uma mulher, basta que não seja como eles para terem dificuldade de aceitar”.

    17h55 – Lula relembra a trajetória de Vargas e JK. “Para evitar que Juscelino voltasse, deram o Golpe em 64”.

    17h41 – Lula discursa: “Estamos vivendo o mais longo período de democracia contínua nesse país. Nada é mais importante do que vivermos em uma democracia. Cada um tendo liberdade ir e vir, cada um respeitando o direito de outro”.

    17h35 – Vagner, presidente nacional da CUT: “Os mesmos que querem o golpe, são aqueles que querem acabar com a carteira assinada, com a CLT. Estamos aqui para defender o Lula e a Dilma, mas sobretudo estamos aqui para defender os interesses dos trabalhadores. Por que o golpe vai contra os interesses do trabalhador “

    17h20 – Após apresentação de vídeo com apoio de artistas e líderes sindicais de todo o mundo, tem início a Plenária Nacional das Centrais Sindicais em Defesa da Democracia, com a presença do ex-presidente Lula. A composição da mesa respeitou a paridade de gênero.

    17h – Lula chega para a reunião com sindicalistas de todo o país durante a Plenária Nacional das Centrais Sindicais, que acontece na Casa de Portugal, em São Paulo.

  • Cresce o protagonismo de travestis e transexuais no ativismo LGBT

    Cresce o protagonismo de travestis e transexuais no ativismo LGBT

     

     

    A III Conferência Municipal LGBT de São Paulo( CMLGBT-SP), que foi realizada nos dias 04 e 05 de março, foi marcada por um fato inédito na história do movimento LGBT brasileiro: os novos atores e atrizes travestis, mulheres transexuais e homens trans participando de forma maciça da cena política. “Isso está incomodando, principalmente a comunidade gay, porque eram sempre os gays que falavam por todas as letrinhas. Agora a nossa comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans está se levantando com voz própria”, declarou Lam Matos do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat).

    Desde o seu surgimento, no final da década de 70, como o “movimento homossexual”, a militância LGBT sempre foi marcada pela presença hegemônica de ativistas homossexuais masculinos. Já nos anos 80, as mulheres lésbicas se reuniam de forma independente, sendo incorporadas pelo nascente movimento feminista brasileiro. Foi apenas em 1993 que travestis e mulheres transexuais começaram a se articular politicamente, tendo em vista a luta contra a epidemia de Aids que sempre fez muitas vítimas na comunidade trans, fragilizada pela extrema vulnerabilidade social.

    Embora já houvesse o protagonismo individual de homens trans desde 2004, a criação da Associação Brasileira de Homens Trans (ABHT), em 2012, e do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT), em 2013, deu o impulso final a uma crescente articulação política de pessoas transmasculinas.

    A III Conferência Municipal LGBT foi organizada pelo Conselho Municipal LGBT, um órgão “de caráter consultivo, deliberativo e propositivo” formado por 10 representantes da sociedade civil LGBT e 10 representantes do poder público, em parceria com a Coordenação Municipal de políticas LGBT. Foi realizada no Hotel Dan, no centro de São Paulo, e contou, em sua abertura no dia 04 de março, com a presença de Rogério Sotilli, secretário de Direitos Humanos da Presidência da República e de Eduardo Suplicy, secretário de Direitos humanos e Cidadania de São Paulo.

    JL - Chapa Renovar a esperança

    A Conferência aconteceu efetivamente no dia 05, com a parte da manhã destinada ao credenciamento dos delegados com direito a voz e voto que iriam participar do evento. Depois do almoço, oferecido apenas aos credenciados no próprio hotel, foi colocado à apreciação o regimento interno da Conferência para os delegados. O artigo 25, que tratava das regras da eleição dos representantes da sociedade civil que devem participar da Conferência Estadual LGBT, foi o ponto de maior disputa política.

    As regras básicas para a formação das chapas eram que elas deveriam ter no mínimo 20 e, no máximo 100 integrantes, e que cumprissem os pré-requisitos de representatividade da comunidade LGBT, obedecendo os seguintes critérios: 60% de pessoas do gênero feminino, 35% de pretos e pardos, e ter pelo menos um morador/a das cinco regiões de São Paulo.

    Thomas Fernando, do Ibrat, apresentou uma proposta alternativa ao sistema de chapas propondo que a disputa fosse individual que, segundo ele, garantiria maior paridade entre os representantes de cada segmento envolvido. Dessa forma, seria possível a eleição de pelo menos oito homens trans em vez de apenas um, ” levando em consideração que o número de homens trans que as chapas incluem é sempre para manter a cota.

    Thomas criticou o governo por ao tornar pública as regras da composição das chapas apenas dois dias antes da conferência. “Como é que a gente vai compor as chapas dois dias antes, agregando tantos diferenciais: raça, idade, segment. Como é que a gente vai montar uma chapa com gente que a gente não conhece?”, desabafou a lideranca do Ibrat. Por votação por contraste, manteve-se o texto original das regras das chapas e foram formadas duas chapas.

    A chapa “Bonde do rabo solto” teve 44 votos e foi defendida pelo advogado Dimitri, que declarou em seu discurso que o nome, “embora pareça jocoso, significa que temos a liberdade de falar em nome dos nossos interesses e não dos interesses da administração pública”, afirmou.

    “Renovar a esperança” foi a chapa ganhadora com 118 votos, e que tinha em sua composição o maior número de travestis, mulheres transexuais e homens trans. A maior parte dos votos foram da comunidade trans que compareceu em peso à Conferência, em especial as alunas do programa Transcidadania que oferece, além das aulas tradicionais, o curso de Direitos Humanos e Cidadania. A chapa foi defendida pela bolsista do transcidadania, a travesti Aline Marques, num discurso inflamado que levantou a platéia aos gritos: “Viva as travestis, viva as travestis”.

    “A gente quer a realidade, a gente quer que todas essas políticas saia do papel de uma vez por todas e venha até nós. Eu trabalhei 21 anos numa esquina e nenhuma dessas polítcas nunca me atingiu, a não ser o que está acontecendo agora.” concluiu Aline.

    O coordenador municipal de políticas LGBT da cidade de são Paulo, Alessandro Melquior, pontuou em uma entrevista exclusiva para os Jornalistas Livres, que depois do lançamento do programa Transcidadania em 29 de janeiro de 2015, tem surgido uma nova articulação política mais empoderada da comunidade trans com o surgimento de três novas organizações na cidade de São Paulo: o Fórum Municipal de Travestis e Transexuais (FMTT) , o Grupo de resistência de travestis e transexuais ativistas (GRETA) e o Centro de Apoio e Inclusão de travestis e transexuais (CAIS).

    “Não só a política LGBT, mas a política trans de uma maneira geral tem conquistado uma visibilidade enorme em São Paulo e isso, obviamente, tem gerado impacto positive. As trans se sentem mais valorizadas, se sentem mais emponderadas para ocupar um espaço”, diz Alessandro.

    Ele avaliou também, que, apesar de todas as dificuldades estruturais, a III Conferência Municipal LGBT de São Paulo teve o mérito de ter sido a maior de toda a história de conferências desse ciclo no Brasil, com a participação de mais 450 pessoas LGBT e observadores. Além disso, ele acredita que o grande diferencial foi a mudança nos atores que sempre tiveram seu lugar de fala na militância lgbt.

    “Esses novos atores que estão surgindo no movimento de travestis, principalmente as novas atrizes, estão querendo espaço e estão conquistando. Acho que o resultado da conferência é isso. Um número gigantesco de travestis e mulheres transexuais que saíram delegadas dessa conferência. Mostrando que tem muita gente nova querendo o microfone, e conseguindo. As pessoas vão ter que conviver com essa realidade”, resume Alessandro Melquior.

    Com relação aos futuros desafios, Alessandro declarou que quer que as conquistas que há existem e que vão aparecer até o final desse ano passem a ser políticas de Estado, e não fiquem suscetíveis a governos. “Que os Centro de Cidadania LGBT e o programa Transcidadania possam ser leis. Assim, o próximo governo, seja ele qual for, não coloque em risco o que se conquistou. O que conseguimos na cidade de São Paulo não é patrimônio de São Paulo, é patrimônio do Brasil. “

  • “É um espetáculo”, afirma o criminalista Tales Castelo Branco

    “É um espetáculo”, afirma o criminalista Tales Castelo Branco

    “Essa ação é drástica e suja a constituição brasileira, o código de processo penal e, principalmente, a cultura jurídica do país, afirma o advogado criminalista, ex-presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo e conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Tales Castelo Branco.

    Para Castelo Branco, autor de livros que são referências em Direito Criminal: “Da prisão em flagrante” e “Teoria e prática dos recursos criminais”, a condução coercitiva do ex-presidente Lula para depor na Polícia Federal, nesta sexta-feira, 4, em são Paulo, foi um dispositivo totalmente desnecessário. “Sem julgamento político algum, a impressão é que houve a intenção de jogar para a plateia, satisfazer a opinião popular”, resumiu o advogado.

    A condução coercitiva é um instrumento a ser aplicado apenas nos casos em que o investigado não tem ocupação lícita ou endereço fixo para ser intimado, não demonstra disponibilidade de ir voluntariamente, ou as provas podem perecer. “Entretanto, o ex-presidente Lula sempre demostrou que iria prestar depoimentos quantas vezes fossem necessárias, como já fez outras vezes”, opina Castelo Branco.

    Lula foi obrigado a prestar depoimento por mandado de condução coercitiva e começou a ser ouvido por volta das 8h no Aeroporto de Congonhas. O interrogatório terminou pouco antes das 12h. A nova fase da Operação Lava Jato contou com buscas na casa do ex-presidente, em São Bernardo do Campo e em outros locais ligados a Lula, sua família em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia. O Instituto Lula e seu presidente, Paulo Okamoto, também foram alvo da ação da PF.

    “É preciso tomar cuidado em momentos de crise para que autoridades policiais e judiciais não se excedam em busca de notoriedade, em busca de eco na mídia e luz dos holofotes, em busca de promoção. A vaidade não pode tomar o lugar do direito”, alerta o advogado.

  • VERDADES FICTÍCIAS

    VERDADES FICTÍCIAS

    Os poucos órgãos de imprensa
    Se reúnem formando um cartel
    Para compartilhar o que pensam
    Nos jornais televisivos e de papel
    E assim quem procura se informar
    Não importa aonde vá buscar
    Encontrará as mesmas notícias
    Manipuladas por profissionais
    Que por interesses pessoais
    Criam verdades fictícias.

    Pinçam declarações
    Tirando-as do contexto
    Para utilizá-las nas edições
    Dos bombásticos textos
    Que destroem reputações
    Transformando em vilões
    Pessoas que não devem nada
    E quando são desmascarados
    Assumem os erros praticados
    Através de pequenas erratas.

    As difamações ganham as manchetes
    Mas as erratas não recebem destaque
    Os danos causados não se revertem
    E a mentira põe em dúvida a verdade
    E assim somos transformados
    Em seres teleguiados
    Pela Mídia fascista
    Que mantém de plantão
    Os criminosos que são
    Confundidos com jornalistas.

    Foto: Mídia NINJA