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  • MTST vai ocupar a Câmara de São Paulo

    MTST vai ocupar a Câmara de São Paulo

    O MTST (Movimento Trabalhadores Sem Teto) se propõe a mais uma ocupação de peso em São Paulo, mas desta vez sem lonas, buscando uma construção coletiva para a câmara municipal da maior cidade do país. A chapa, formada por três mulheres negras do movimento, é um dos maiores desafios lançados depois de o coordenador nacional do movimento, Guilherme Boulos, ter saído pelo PSOL para a presidência, em 2018.

    Débora Pereira, Jussara Basso e Tuca (Valdirene Cardoso) formarão a chapa que vai ser lançada pelo PSOL. O anúncio de que pretendem concorrer aconteceu no Teatro Oficina, região central de São Paulo, no dia 11 de dezembro de 2019, e contou com a presença de Guilherme Boulos e Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL, entre outros.

    As três candidatas coordenam ocupações em diferentes regiões da cidade e, com isso, buscam trazer experiências de cada um desses espaços das “periferias de São Paulo que são, quase, municípios diferentes” e que, distantes e diversos, compõem a cidade. Cada uma trilhou um caminho diferente, mas chegaram até o MTST buscando encontrar sua casa. Ao que parece encontraram mais do que isso, como espaço para falar e serem ouvidas “nesse movimento que empodera mulheres”.

    Na cidade que tem hoje uma câmara municipal com 9 vereadoras entre 55 cadeiras, a chapa coletiva tem conceito similar à chapa coletiva estadual na Assembleia Legislativa de São Paulo, (Alesp), a Bancada Ativista, formada hoje por vinte uma pessoas. A novidade da chapa proposta pelo MTST é que Débora, Jussara e Tuca são do movimento e buscam trazer “aquilo que a gente aprendeu dentro do MTST, todas as nossas lutas, é o que vamos procurar garantir para nosso povo. Não só o povo do MTST, como todo o povo comum, que luta. Todo o povo periférico, trabalhador”.

    A câmara tem sido, desde o começo dos mandatos atuais, em 2016, um espaço de forte apoio para o prefeito Bruno Covas (PSDB), que no final de 2018 conseguiu aprovar a reforma da previdência no município e tem visto diversos projetos seus aprovados  Dos 55 vereadores apenas nove são do PT e dois do PSOL.

     

    Quem são

    MTST vai ocupar a Câmara de São Paulo
    Débora Pereira durante ato no Teatro Oficina
    Foto de Lucas Martins / Jornalistas Livres

    DÉBORA

    “Meu primeiro contato com MTST foi em 2007. Em uma ocupação perto da casa dos meus pais, em uma região construída com mutirão. Meu pai foi ver como se organizava e depois de conhecer fiquei um tempo, mas depois me afastei. Já em 2012 eu resolvi entrar no movimento para fazer minha luta por moradia, na ocupação Novo Pinheirinho do Embu, que levou o nome por conta do massacre que aconteceu no despejo violento do Pinheirinho original, em São José dos Campos. Eu fui somente como acampada, na época eu trabalhava no E.C. Banespa como cozinheira e à noite eu fazia minha faculdade. Nessa ocupação, eu queria ser coordenadora, mas as condições não permitiram, porque tinha meu filho e as questões da faculdade. E algo me encantou muito nessa ocupação: eram as mulheres que tocavam, mulheres que cumpriam o papel da coordenação, mulheres que faziam assembleia. Eu fui com objetivo da moradia, mas fazíamos lutas diversas: lutávamos por vaga na creche para crianças da região, por melhoria de transporte e por melhoria de saúde. Isso me instigou, chamou minha atenção. Em todas as lutas que a gente foi, nessa ocupação, a gente saiu com alguma conquista, resultado. Isso me encantou no MTST. Eu queria muito, muito mesmo, entender direito o movimento. Em 2013 terminei minha faculdade e a gente foi ajudar uma galera em outra ocupação, na região do Campo Limpo, a ocupação Dona Deda. E decidi que queria ser coordenadora, nesse movimento que empodera mulheres. Antes de conhecer o MTST eu não falava, era travada. A gente vive numa sociedade que fala ‘lugar de voz, lugar de liderança, não é de mulher’ e nas rodas de conversa nas ocupações sempre o movimento empoderava isso. Hoje eu organizo a ocupação Marielle Vive, na zona norte. Essa ocupação é um grande orgulho, foi o povo que escolheu esse nome, já que a ocupação aconteceu pouco tempo depois da morte da Marielle e todo mundo estava muito revoltado. Escolhemos o nome porque Marielle seria o exemplo da luta para a gente. Uma mulher, mulher negra, que veio da periferia e lutava pela periferia. Que denunciava o genocídio, o massacre do povo negro. O povo todo clamou para que o nome fosse Marielle Vive, pra que a gente não deixasse cair no esquecimento a luta dela e que a ocupação fosse uma semente de Marielle.”

    Jussara Basso durante ato no Teatro Oficina
    Foto de Lucas Martins / Jornalistas Livres

    JUSSARA

    “Entrei no movimento buscando minha moradia, em 2012, na ocupação Novo Pinheirinho de Embu das Artes. E identifiquei com as propostas políticas do MTST e estou até hoje. Acho que o que me seduziu a permanecer foi essa construção coletiva, essa ideia de você fazer parte de algo muito maior do que você mesmo.”

    Tuca durante ato no Teatro Oficina
    Foto de Lucas Martins / Jornalistas Livres

    TUCA

    “Tenho 46 anos. Nasci em São Paulo. Sou de uma família de sete irmãos, comigo. Filhos de pais mineiros. Conheci o MTST em 2014 quando se instalou aqui em Itaquera a [ocupação] Copa do Povo. Em 2014 tivemos a conquista do terreno e lutamos ate hoje para a conquista da obra. Em 2 de junho de 2015 foi fundada a ocupação Dandara dos Palmares, no Jd Alto Alegre. Nisso fui até lá com companheiros e passamos a tocar aquela ocupação. Que já tem o empreendimento pronto, para ser entregue no próximo ano. Para 216 famílias.”

    O que é a mandata do MTST?

    Tuca: “Tudo aquilo que a gente aprendeu dentro do MTST, todas as nossas lutas, é o que vamos procurara garantir para nosso povo. Não só o povo do MTST, como todo o povo comum, que luta. Todo o povo periférico, trabalhador. É o que a gente pretende buscar, fazer a mudança, dentro da câmara. Ocupando a câmara enquanto mulheres. MTST ocupando. Mostrar o valor que nós mulheres temos, nós do MTST, nós que lutamos. Até onde podemos chegar e revolucionar em cima disso tudo. É um mandato coletivo de mulheres, pra isso mesmo. A câmara não foi feita para as pessoas ficarem lá. Se aposentarem lá dentro, ocupando a bancada, sem ao menos darem os nossos direitos. Chegou a hora de a gente chegar lá e fazer essa mudança, com o mandato coletivo de mulheres. Estamos lá para ocupar, não para ocupar por um espaço de tempo indeterminado, mas sim pra fazer a mudança e renovação.”

    Jussara: “A principal ideia, principal bandeira, é a representatividade. A gente tem apenas nove mulheres vereadoras hoje na câmara. Nenhuma delas é negra. A principal experiência que surge de tudo isso é que nós três atuamos na construção coletiva. Na desconstrução dessa cultura de colocar a mulher em segundo plano na sociedade. A experiência de luta do MTST traz esse sentido do coletivo, da construção da unidade. Da solidariedade. O dialogar com a quebrada e saber o que rola e quais são as mazelas. Aquilo que dói na pele de quem mora do lado de cá. Isso é uma característica muito nova e principal. E retomar o trabalho de base, que foi abandonado por uma parte da esquerda, que é você estar nas bases, estar com as bases e, a partir disso, construir propostas de políticas que atendam reinvindicações que estão esquecidas. Você anda na quebrada e vê a falta de segurança e aqueles que deveriam garanti-la são os primeiros a oprimir, violentar e assassinar jovens. Você anda na quebrada e vê a falta de saneamento básico, de iluminação, de lazer, de cultura. Vê que a saúde pública está cada vez mais sucateada. Vê que as pessoas estão se virando como podem pra gerar renda para suas casas e que não existe uma política que realmente incentive isso. Tem muita coisa para fazer. Muita coisa. E ouvir as pessoas vai trazer elementos para a construção de políticas públicas muito efetivas e potentes. Eu acredito que, sinceramente, ocupar a câmara vem no sentido de ocupar a política com consciência. Consciência social – é isso que significa. Imagino que seja muito necessário que, no debate eleitoral de 2020, a gente traga muita qualidade a discussão sobre esse avanço neoliberal, que vem retirando direitos. E esse avanço de uma direita radical que persegue o pobre, o preto, o favelado, a mulher, o homossexual. A gente precisa ser a resistência dentro dos espaços institucionais. É um grande desafio, sem dúvida, mas acho que tudo que a gente construiu até aqui, enquanto MTST, vai ser uma ferramenta importante pra dentro da instituição.”

    Débora: “O que as pessoas podem esperar é que haverá vereadoras que, de fato, vão representar os seus interesses. A gente sabe que a luta não vai ser fácil, mas estando lá dentro vamos dar voz ao povo da periferia, vamos pontuar as dificuldades e trazer melhorias para a periferia, porque na maioria das vezes grande partes dos políticos que estão lá, não estão para representar o interesse da maioria do povo da periferia. Estão lá para representar interesses individuais ou de uma minoria. Se a gente chegar lá, com certeza, na câmara vai ter voz da periferia. Vai ter voz dos sem teto. Vai ter voz das mulheres. Vai ter voz do povo negro.”

    Projetos

    Débora: “Existem questões que são diferentes e outras que são iguais. As questões da violência policial contra a periferia e de falta de creche são iguais. Mas, conversando entre nós três, percebemos que outras questões manifestam-se de forma diferente. Por exemplo. Na zona leste e norte temos um problema sobre algumas escolas que estão sendo fechadas por conta do argumento de não ter demanda e a gente que mora na região sabe que tem muita demanda. Muitas pessoas que tinham escola do lado de sua casa estão tendo que procurar escola em lugares mais distantes, por conta do fechamento. Outra coisa que é muito forte na zona norte é a questão da saúde, da falta de médicos ou cada dia um médico diferente, além de remédios faltando, da falta de saúde voltada para mulher ou conseguir consultas especializadas. A infraestrutura também é outra falta grave. Na sul, a Ju pode comentar melhor, a questão muito forte na luta da mobilidade e o trânsito para chegar ao centro. Não é que na Norte não exista essa luta, mas sem tanta força. E na Leste, pelo que já escutei da Tu, tem muito da questão da saúde e fechamento de escola. O legal de serem três regiões diferentes é que as lutas que têm em comum a gente pode pegar as experiências de uma região para a gente tentar aprender e nos fortalecer. Ver que a gente vive numa mesma cidade, com regiões diferentes e vários problemas diferentes.”

    Tuca: “O contraponto agora é o olhar da periferia, trazendo as pautas da periferia pra cidade. Como a da saúde, educação, transporte e segurança. Esse é nosso ponto de vista, trazer as pautas periféricas enquanto MTST.”

    Jussara: “Existe uma diversidade nas periferias de São Paulo que são, quase, municípios diferentes. Não dá pra você pautar a periferia de São Paulo, sem singularidade. É muito diferente. As pautas de reivindicações basicamente são as mesmas. Mas as pautas prioritárias dessas regiões diferem. Se pegamos o extremo sul, já mais pro Jd Ângela, é muito forte o debate sobre a mobilidade urbana, lá tem um afunilamento do trânsito local, na estrada do M’Boi Mirim que liga, inclusive, as cidades da região metropolitana (Embu, Embu-Guaçu, Itapecerica da Serra) ao município de São Paulo e a região central. Por outro lado, é uma região extremamente populosa, com a necessidade de transporte público muito grande o que causa problemas gravíssimos. São debates muito antigos, como a duplicação da M’Boi e as remoções necessárias para essa duplicação, já que famílias inteiras vão perder suas casas e precisam ser indenizadas. Outro debate antigo, como o Metrô JD Angela, e as remoções necessárias para a ampliação necessária da linha Lilás do Metrô. E se você for para a zona leste o debate é muito grande sobre os fechamentos dos cursos noturnos das escolas. Houve uma mobilização muito grande dos estudantes, nesse sentido. Lá também é crescente a discussão sobre saúde pública, sendo uma região superpopulosa. Já na região norte você tem outras caraterísticas de debate, que também traz as suas prioridades mais locais. As companheiras vão poder trazer elementos que eu não tenho acúmulo suficiente. Mas você percebe que existe essa diversidade e mesmo aqui na sul, onde moro, você tem três extremos (Grajaú, Jd Angela e Macedônia, que está no limite da cidade, o que traz mais carências porque o poder público não alcança os limites municipais). A cidade de São Paulo tem uma diversidade de debates e necessidades muito grande e de prioridades. A gente precisa trazer essa pluralidade para dentro do institucional. Os vereadores, os políticos de carreira, essas pessoas que estão sentadas há décadas na cadeira do poder público, elegem a sua região, seu curral eleitoral, e ali eles fazem políticas de acordo com seu eleitorado, mas sem atender toda a população local. E só se pautam no período eleitoral, depois esquecem. Outra questão é o orçamento que vem das emendas parlamentares e muitas vezes é destinada para um grupo específico e não atende a população. Precisamos, realmente, democratizar a política. Para além da candidatura do companheiro Guilherme Boulos, ano passado, essa nova candidatura, esse novo período eleitoral traz pra nós a possibilidade de trazer pra pessoas, claramente, o que é o cargo, quais são as competências do cargo.”

    Como vai ser a pauta da moradia e a relação com o MTST?

    Tuca: “Isso vai depender de nós mesmos, MTST, enquanto ocupação lá dentro da câmara. Tudo vai depender de nós. A influência vai ser muito forte e positiva. Vai fortalecer mais ainda os movimentos sociais, não só o MTST. Estaremos lá por todos.”

    Débora: “No nosso programa político uma das pautas principais vai ser a questão da moradia. A gente está vivendo uma situação em que não existem mais políticas habitacionais. O foco na nossa mandata vai ser a questão de moradia”

    Jussara: “O município lançou agora uma proposta de COHAB faixa 1, que vai seguir os mesmos métodos do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), no sentido de produzir habitação no município. Uma grande questão é pautar as leis de zoneamento, como temos áreas municipais que podem se tornar ZEIS [Zonas Especiais de Interesse Social], que podem atender a moradia popular. Existem famílias cadastradas há mais de trinta anos e nunca foram atendidas. Você precisa produzir habitação de acordo com o déficit. Também a questão do número de imóveis na cidade que permanecem vazios e precisam ser discutidos – de que forma a gente consegue estabelecer políticas públicas de combate à especulação imobiliária para que tenha casa para quem precisa de casa? A população de baixa renda precisa acessar os espaços centrais da cidade. Entrar na discussão do direito à cidade é de extrema importância. O exemplo do que aconteceu em Paraisópolis, aquilo que aconteceu com aqueles jovens, está ligado a essa ausência de acesso. Um transporte caro que as pessoas não conseguem acessar a cultura, o lazer, que estão mais presentes na região central. Assim procuram da forma que podem morar, se divertir, estudar, trabalhar. Essa mandata não pode e não vai ser um mecanismo exclusivo do MTST, mas sim um mecanismo de discussão de todas as políticas necessárias para atender todas as pessoas que precisam de políticas sociais. É de fundamental importância que a gente tenha interlocução com diversos movimentos, com diversos personagens que atuam no sentido de trazer mais direitos para as pessoas.”

    As futuras candidatas durante ato no Teatro Oficina
    Foto de Lucas Martins / Jornalistas Livres
  • Jovens são atraídos para emboscada e acabam mortos

    Jovens são atraídos para emboscada e acabam mortos

    A Policia Militar do Estado de São Paulo é a dona das cápsulas de munição “ponto 40” encontradas perto dos corpos dos cinco jovens que estavam desaparecidos há 16 na Zona Leste de São Paulo. O rastreamento foi feito pela Corregedoria da PM e registros da Polícia indicaram ainda que policiais militares consultaram os dados de dois dos cinco jovens poucos dias antes do desaparecimento, em 21 de outubro. De acordo com o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, o CONDEPE, a família de um dos rapazes quer entrar no Programa de Proteção à Testemunha após relatar ter sido ameaçada por policiais. Os meninos sumiram quando iam para uma festa em Ribeirão Pires que teria sido chamada por algumas garotas no Facebook, mas os perfis delas na rede social desapareceram. O vice-presidente do CONDEPE, Luiz Carlos dos Santos, suspeita que o convite para a festa fazia parte de um plano para uma emboscada. Os corpos foram encontrados na madrugada de segunda-feira em Mogi das Cruzes com indícios de execução. O Secretário Estadual da Segurança Pública, Mágino Alves, admitiu que há suspeita de participação de policiais no caso.

  • Moradores encontram corpos dos 5 jovens desaparecidos

    Moradores encontram corpos dos 5 jovens desaparecidos

    A Polícia Militar localizou em Mogi das Cruzes os corpos dos 05 jovens desaparecidos há 17 dias na Zona Leste de São Paulo. Jonathan Moreira, 18, César Augusto Gomes, 19, Caique Henrique Machado, 18, Jones Ferreira Januário, 30, e Robson Donato de Paula, 16, saíram de casa no dia 21 de outubro para uma festa em Ribeirão Pires, no ABC Paulista, e sumiram.

    Pouco antes de desaparecerem, um dos meninos avisou uma amiga pelo Whatsapp que os 5 estavam sendo abordados pela Polícia Militar. No áudio ele diz: “acabei de tomar um enquadro, os policia ta me esculachando (sic)”. Sem apoio da polícia, as famílias saíram em busca dos garotos utilizando, inclusive, cavalos para entrar nas matas próximas de onde foi encontrado o carro onde eles estavam. Na última sexta-feira, 04, o Secretário de Segurança Pública se comprometeu com as mães a auxiliar nas buscas utilizando o helicóptero Águia e o Comando de Operações Especiais (COE).

    Na tarde de ontem, 06, moradores de Mogi das Cruzes sentiram um cheiro forte e notaram a presença de urubus em uma ribanceira. Ali estavam os corpos dos 5 jovens cobertos com uma fina camada de terra e cal. Um dos jovens foi encontrado amarrado e outro decapitado. A Polícia reconheceu os corpos como sendo dos jovens por causa da ruptura na coluna de um deles, que era paraplégico, e por uma prótese da tíbia, que a mãe de outro jovem já havia informado à Polícia.
    Os familiares chegaram no final da manhã ao IML para fazer o reconhecimento dos corpos. O ouvidor das polícias, Julio César Fernandes Neves, declarou que os jovens foram vítimas de execução, uma vez que haviam muitos ferimentos a bala. Ele afirmou também que as balas encontradas são de pistola ponto 40, de uso exclusivo da Polícia Militar, e calibre 12.

  • É pau, é pedra, mas é o começo de um novo caminho para os sem-teto da Vila Antonieta

    É pau, é pedra, mas é o começo de um novo caminho para os sem-teto da Vila Antonieta

    Ainda no levante de luta das ocupações realizadas na madrugada desta segunda (31), os integrantes do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), junto com a Frente de Luta por Moradia (FLM), ocupam e resistem num grande terreno abandonado há pelo menos 15 anos, localizado na Vila Antonieta, Zona leste de SP.

    Ali, vimos um panorama diferente das outras ocupações que aconteceram na cidade. O local já estava sendo habitado por cerca de dez usuários de crack que moram em barracas improvisadas, feitas de saco plástico e materiais recolhidos no lixo. Mas, esses dependentes químicos também querem uma nova vida. Eles serão incorporados pela ocupação.

    Meses antes dos movimentos decidirem que o terreno da Rua Refinaria Presidente Bernardes seria ocupado, dezenas de conversas foram realizadas com os usuários que habitam o local. Muitos deles, pediam socorro. Outros diziam que o maior sonho de suas vidas, sem dúvida, seria conseguir abandonar “a pedra”. E realmente, essa era uma grande pedra no meio do caminho da vida deles.

    Com diálogo, acolhimento e, sobretudo, com respeito a história de cada um, as lideranças do movimento, foram aos poucos sendo compreendidas e aceitas. Dali, foi um passo para que os casos mais graves concordassem em serem levados à uma igreja do bairro e à casa de vizinhos do terreno, e lá passassem a receber alimentos, banho, conversas e voltassem a sentir o valor da dignidade.

    Maria Nayara, 25 anos, uma das usuárias que foi acolhida temporariamente na casa de uma vizinha ao terreno, diz que está achando tudo isso maravilhoso. “É uma obra boa, é uma moradia. Eu entrei no crack porque quis, mas eu soube me equilibrar, tanto que estou aqui para mudar de vida, já dei o primeiro passo e não desejo isso só para mim, como para todos.” declarou ela, quando conversávamos sobre o que representava aquela ação da FLM para sua vida.

    Veja Nayara no vídeo live, trecho de 5min:

    Enquanto conversávamos com Sr. Miltinho, dentro de seu barraco improvisado, as “paredes” e o “teto” pareciam “ter vida”: éramos vigiados por baratas, besouros, ratos e insetos de várias espécies. Imaginem as piores condições possíveis. Era isso.

     

    Miltinho tem 64 anos, vive no terreno há quinze, trabalhou a vida toda como lixeiro, mas é viciado em crack. Ele já tem uma história de resistência no local. Diversas vezes, a PM invadiu o terreno, o reprimiu, mas ele resistiu e nunca fui embora. Assim como Nayara, ele acredita que a luta fará com que sua vida melhore. “É o sonho de uma casa! Não tenho vergonha de falar que eu choro, peço a Deus para sair disso. Eu creio que minha vida vai mudar em tudo.”

     

    Ali temos muitas outras histórias fortes, de luta. A D. Feliciana, integrante da Frente de Luta por Moradia, uma verdadeira representante do Brasil profundo, com seus 78 anos e seus 8 filhos criados, um deles preso no CDP de Osvaldo Cruz, nos disse com firmeza que acha injusto o povo pobre não ter casa. “Os políticos brasileiros só pensam neles. A gente paga aluguel caro. Quando pagamos uma coisa, faltam outras dez.” finalizou

    Dona Feliciana, foto Paulo Ermantino.

    Veja a entrevista com Dona. Feliciana:

    Marcelo, 32 anos, é piauiense, tem 15 irmãos, a maioria já mora em SP. Todos eles têm um desejo em comum: ter um lar próprio. Junto com outros integrantes do movimento, ajudou a bandeira da FLM a ser erguida no local. Ele trabalha como ajudante geral numa gessaria e atende a elite paulistana, realidade muito distante da sua. Ele acorda todos os dias às 4 da madrugada e atravessa a cidade para trabalhar, sofre para pagar um valor de aluguel que não faz nenhuma diferença no bolso dos ricos. Ele mora num barraco, ali mesmo na Vila Antonieta. Veja o Vídeo:

     

    E um dos momentos mais emocionantes de uma ocupação é sem dúvida, quando a flâmula do movimento é fincada no terreno. A bandeira “demarca” o local como sendo de propriedade dos ocupantes. Ali, vimos crianças, idosos e gente que representa o verdadeiro povo brasileiro ajudando a erguer um sonho. O olho do povo brilhava, o coração agora estava aquecido mesmo na madrugada fria da segunda-feira. Fazia 15 graus, mas a sensação era de 10. O mato alto, o lixo do terreno, o breu, nada atrapalhava aquelas guerreiras e guerreiros. Sim, a maioria eram mulheres que são mães, pais, tias, madrinhas, avós e todo mundo tinha um sorriso no rosto.

    Garrafas de café, pães, água e comidas caseiras faziam parte do colaborativismo. Uma cobertura de lona foi erguida para que crianças e idosos pudessem se proteger da baixa temperatura. Ali, eles descansaram em colchonetes, para aguardar o amanhecer e iniciarem a limpeza e organização geral do local.

    Todas essas histórias podem estar muito longe de você, podem parecer tristes, mas são exemplos de luta e de uma força que nos pareceu muito natural. Nem eles sabem explicar de onde vem tanta garra. Eles têm um poder de estimular a luta entre eles e entre todos que estejam próximos e pronto.

    Veja mais sobre a outras ocupações na nossa página do youtube, na Playlist OcupaSemTeto_2016 .