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    Povos indígenas do Xingu estão em situação crítica

    Por: Gislayne Figueiredo e Rosa Lúcia Rocha – Consulta Popular – MT

    Desde a chegada dos primeiros homens brancos no Brasil, o povo indígena vem sofrendo com a violência, o genocídio, os ataques à suas formas de vida e de cultura, tudo isso para se apropriar de suas terras e disponibilizá-las para aqueles que a utilizam segundo a lógica do lucro.

    A mesma lógica utilizada – de apropriação da terra mediante o genocídio e etnocídio de povos inteiros – continua sendo utilizada como forma de expansão das fronteiras agrícolas e sob o discurso do desenvolvimento nacional: citamos algumas dessas violências cometidas em período não tão distante, entre as décadas de 1940 a 1960, que foram ricamente documentadas em 1967 pelo próprio Estado brasileiro por meio do chamado “Relatório Figueiredo”, um documento de mais de 7 mil páginas que está disponível na página do Ministério Público Federal e que merece ser conhecido por todos os brasileiros. No documento produzido pelo então procurador Jader de Figueiredo estão descritas inúmeras atrocidades praticadas por latifundiários brasileiros e funcionários do Serviço de Proteção ao Índio contra índios brasileiros naquele período, como assassinatos individuais e coletivos, torturas, prostituição de índias, trabalho escravo, usurpação do trabalho, apropriação e desvio de recursos oriundos do patrimônio indígena, venda de artesanato indígena, venda de produtos de atividades extrativas e de colheita, arrendamento de terras, venda de gado, venda de madeiras, exploração de minérios, doação criminosa de terras, omissões dolosas, dentre outras.

    Essas violências continuam até hoje e centenas de povos indígenas que procuram viver em harmonia com a mãe-terra, respeitando-a e preservando-a, têm seus territórios constantemente invadidos por garimpeiros, madeireiros, fazendeiros e pelo agronegócio que, de forma predatória, queimam e arrasam as florestas, as águas e os animais.

    Os povos indígenas foram sendo cada vez mais expropriados e confinados em pequenos espaços de terra, os chamados Territórios Indígenas que, em geral, são cercados de fazendas por todos os lados e, muitas vezes, não possuem terras suficientes para garantir a sobrevivência com dignidade desses povos.

    A história mostra que uma das estratégias mais utilizadas para matar os indígenas com o fim de tomar as suas terras é a contaminação de grupos com doenças vindas dos brancos, como a varíola, tuberculose e a epidemia de gripe e sarampo que dizimou diversas etnias no século XX.

    O Estado brasileiro de hoje, sob o comando de Bolsonaro, impõe um governo de direita (tendendo para a extrema direita) que é declaradamente a serviço dos maiores inimigos dos povos indígenas, ou seja, grandes produtores do agronegócio, latifundiários, madeireiros e mineradoras. Assume uma postura ativa de incentivo e apoio àqueles que invadem e cometem violências contra os indígenas, não apenas se omitindo quanto ao seu papel de fiscalizador, mas propondo ações que violam cotidianamente os direitos constitucionais dessa população, reforçando práticas e discursos genocidas. 

    De modo muito conveniente aos interesses desses grupos que dão sustentação ao governo Bolsonaro, o vírus Covid-19 chegou rapidamente aos povos indígenas, tal como pavio de pólvora, com evidentes indícios de negligência para com essa população, sabidamente mais vulnerável a doenças infecciosas.

    Diante da pandemia que avança sobre seus territórios, muitos povos indígenas têm se organizado para sobreviver e resistir como podem para impedir a infecção pelo coronavírus, criando barreiras sanitárias nas aldeias, evitando ir às cidades e contando com a solidariedade dos amigos da causa indígena para acessarem produtos de higiene e ferramentas para a pesca, haja visto que o Estado não tem garantido as condições mínimas para a sobrevivência, para evitar o contágio e cuidar daqueles indígenas que foram contaminados.

    No estado de Mato Grosso, de acordo com a contabilização feita pela Associação de Povos Indígenas do Brasil, em 11/09 já eram mais de 1600 indígenas contaminados e 73 mortos.

    Um apelo por solidariedade aos povos do Xingu

    Do Baixo Xingu, pelo whatsapp, chega um apelo por solidariedade pela voz de um jovem indígena, dirigido aos movimentos sociais do campo popular de Mato Grosso:

    “Companheiro, estou sem acesso a internet, a gente está isolado. Devido a pandemia, nós mudamos do polo central onde estávamos residindo até o ocorrido, nós perdemos uma família devido às complicações da Covid 19. Na nossa cultura, quando acontece alguma coisa, a gente busca outros lugares para estar com a família. E aí, a nossa família está construindo uma comunidade lá, um lugar pra gente, então não estamos tendo acesso à internet, por enquanto. Mas buscando apoio para em breve ter uma instalação lá pra gente, porque a gente precisa para dar continuidade ao nosso trabalho. Estamos agora bem próximos de um outro povo indígena, eu agora estou tendo bastante contato com eles e pretendo colocar eles em contato com vocês, acho importante a gente socializar, para que o povo branco possa entender como estamos organizados. Então, a gente tem bastante demanda aqui no nosso povo, aqui do Xingu e acredito que tem outros povos indígenas que também têm demandas devido a pandemia… Porque  mudou totalmente nossos hábitos. Tem chegado apoio, não muito, algumas coisinhas. O que o pessoal mais oferece é cesta básica, só que a gente precisa mais do que a cesta básica, como ferramentas, sabão, isqueiro, sabonete, produtos de higiene, faca, facão, lima, essas coisas. Já faz aproximadamente seis meses que a gente está parado aqui… A gente não consegue ter acesso fora da  TIX (Terra Indígena Xingu). Daí eu gostaria de ver se vocês conseguem mobilizar aí alguns parceiros, pegar carona, para que possam nos ajudar, mobilizar, articular para adquirir essas coisas e mandar pra gente também. A gente ficaria muito feliz com isso, as comunidades, que realmente estão precisando. Eu não procurei você antes porque eu também sei que vocês tem a demanda de vocês aí… Mas é que eu vejo aqui, as comunidades super precisam dessas coisas. E não é só cestas básicas. A gente tem alimento da gente aqui também, que a gente consome. Não quer dizer que a gente não precisa também das cestas. Mas não tanto quanto os materiais que as comunidades estão precisando para trabalhar e para dar continuidade no trabalho de roçada. Daí já passa um tempo, aí posteriormente ver o tempo da queimada pras roças, e depois vem o período do plantio das roças… Então a gente vai precisar de bastante material. Eu aguardo posicionamento seu, uma resposta sua para ver o que que você me fala, tá bom? Um abraço até mais.”

    Diante da resposta positiva, o reforço:

    “Obrigadão aí pela força companheiro, pela parceria também e pela compreensão também. A gente está há seis meses sem sair. Como você sabe o Xingu é muito extenso, são 16 povos. Tem chegado apoio, mas não atende todo mundo, não consegue atender todo mundo, então por isso eu estou falando com vocês. Eu conversei aqui com uns povos parentes, que tem mais ou menos duas ou três aldeias, e tem o meu povo também, né?  Então como a gente está em várias aldeias, então o que que foi a metodologia que eu montei lá. Eu achei que daria para gente dividir os trabalhos com outros parceiros. Então, aqui, a gente conversando, o pessoal aqui e o cacique lá de outra aldeia que fica na região onde a gente mora, a gente decidiu buscar algum tipo de apoio para 10 aldeias que são Parureda, Caiçara, Tuba-tuba, Maidicá, Camaçari, Aiporé, Paranaíta, Castanhal, Três Patos e Ciato. Dessas aldeias, a gente já fez um pequeno levantamento também, a maior população aqui é o povo Yudjá, dá um total de 150 famílias nas 10 aldeias. Então as ferramentas para trabalho, produto de higiene que não falei, o sabão, sabonete, bombril de lavar panela também, creme dental, escova de dentes, essas coisas também são bem vindo. Botinas, chinelos havaianas. Que a gente precisa além das cestas, né? Assim, que nem eu falei, a gente tem a comida nossa que é farinha, bijú, caça… A gente precisa também de óleo de comida, sal, açúcar também que a gente consome hoje, né? Não muito, mas a gente consome para adoçar algumas coisas. Então, por isso a cesta também é fundamental pra gente, é importante também, porque tem algumas coisas também que a gente usa também no nosso dia a dia. Então é isso!”

    Essa é a história que motivou os movimentos sociais do campo popular de Mato Grosso  – MST, Consulta Popular e Levante Popular da Juventude, em parceria com a Associação dos Docentes  da Universidade Federal de Mato Grosso (ADUFMAT) lançarem uma campanha conclamando toda a sociedade para doar ferramentas para trabalho na roça, pesca e materiais de higiene e limpeza para atender as necessidade de 10 aldeias da região do baixo Xingu. 

    Nesse momento, onde a existência concreta desses povos está mais uma vez ameaçada, é importante nos atentarmos para a importância de fortalecermos a luta pela defesa de suas formas de vida, pela preservação de suas múltiplas e diversas culturas e de seus territórios. Não obstante, para além de apoiarmos a luta, é preciso que nossa relação com os povos originários seja de aprendizagem, que a gente possa aprender com a riqueza de suas culturas e com sua relação de respeito para com a natureza e com outros seres humanos.

    As organizações conclamam toda a sociedade a se juntar a essa causa e contribuir com a preservação das comunidades indígenas do baixo Xingu, em Mato Grosso, doando produtos de limpeza, material de trabalho na roça e para pesca (vide lista abaixo). 

    As doações podem ser entregues na sede da ADUFMAT, em Cuiabá, ou por meio de depósito na conta abaixo. Mais informações no face da AAMOBEP – https://www.facebook.com/aamobep/  – pelo email aamobep@gmail.com  ou pelo telefone (65)981094569.

    Nome: AAMOBEP (Ass. Amigas/os do Centro de Formação e Pesquisa Olga Benário Prestes) 

    CNPJ: 18.208.193/0001-36

    Banco: BANCO DO BRASIL

    Agência: 3325

    Operação: 1

    Conta: 100.113-2

    LISTA DOS MATERIAIS SOLICITADOS:

  • Morre Tepori Kamaiurá, grande matriarca do Xingu

    Morre Tepori Kamaiurá, grande matriarca do Xingu

    por Nina Kahn

     

     

     

    Uma triste notícia para os povos do Alto Xingu. Tepori foi uma importante mulher de seu tempo.

    Faleceu Tepori Kamaiurá, uma grande mulher do Alto Xingu. Ela estava com 99 anos.

    Acervo Projeto Xingu/EPM-UNIFESP – Tepori em 1966, por Roberto Baruzzi©

    Tepori viveu para prover, educar, aninhar, preparar e conviver com importantes e inigualáveis lideranças do que veio a se constituir como Parque Indígena do Xingu (MT). Era irmã do cacique Takumã e do pajé Sapaim, foi esposa de Paru Yawalapiti e, entre seus muitos filhos, estão o cacique Aritana e o precocemente falecido Pirakumã, cuja foto contendo a agressiva presença da polícia na Esplanada dos Ministérios em Brasília durante a Mobilização Nacional Indígena em 2013, foi bastante divulgada.

     

    Era adolescente quando os irmãos Villas-Boas se apresentaram na região que ainda não era Parque do Xingu, que foi criado em 1961. Dois personagens foram estratégicos para a integração geopolítica dessa Terra Indígena concebida pelos Villas-Boas. Ao norte, Raoni Metuktire e ao sul, Paru Yawalapiti, os engenhosos agentes da diplomacia que se impôs para que a integridade cultural dos povos que hoje se convenciona chamar de “xinguanos” permanecesse.

    Tepori era sóbria e discreta. Falava baixo, nunca ficava parada e dava a impressão de não se importar com assuntos que não estivessem relacionados à casa, à alimentação, ao conforto dos muitos filhos e netos.(Certamente com os bisnetos e tataranetos!) Parecia indiferente à presença de pessoas em sua casa, principalmente os brancos. Sem alarde, enviava uma criança para entregar ao visitante um belo naco de beiju recém assado, ou uma generosa cuia de mingau do sumo cozido da mandioca que estava há horas fervendo no quintal. Dela não se percebia qualquer olhar esperando agradecimento, mas achava normal ganhar de presente, na hora adequada, tecidos e miçangas. Se gostasse, guardava tudo nos recônditos de sua casa; se não gostasse, deixava de lado, como que franqueando a posse para quem quisesse. Tepori não fazia média. Entendia português, mas não fazia questão de conversar com quem não falasse sua língua. Enérgica, quando desprevenida dirigíamos-lhe o olhar, era puro afeto.

    Tepori durante exames em pesquisa ação do Projeto Xingu.

    A dignidade, o orgulho e a generosidade de toda sua descendência são a marca da mulher Tepori. Os homens Paru, Sapaim, Takumã, Aritana, Pirakumã, Kotok, e tantos outros de sua família, refletem essa grande mulher que soube forjá-los conforme seu tempo e seu olhar.

     

     

     

    imagens por Helio Carlos Mello© – acervo Projeto Xingu/EPM-UNIFESP

  • Facebook censura tradições milenares

    Facebook censura tradições milenares

     

    Por Chico Sant’Anna, jornalista em Brasília e responsável pelo blog Chico Sant’Anna e a Infocom

    A nota Flechas Cibernéticas, veiculada em edição de dezembro do Brasília Capital, foi ilustrada por mim na versão digital da coluna Brasília com uma foto do conceituado fotógrafo Orlando Brito, retratando o Huka-Huka, durante os festejos do Quarup, na região do Xingu.

    Milenarmente, é por meio do Huka-Huka – que se assemelha à luta greco-romana – que a virilidade dos jovens guerreiros é testada. Eles trajam apenas, uma tanga – não muito diferente das usadas pelos lutadores do sumô japonês. Compartilhada na rede social, os algoritmos utilizados pelo Facebook bloquearam a veiculação da nota por considerar que ela ”viola os padrões de nudez e atividade sexual”.

    Um pedido de reexame foi formulado e o Facebook destacou um membro de sua equipe para a tarefa. Mesmo com a análise personalizada, foi mantida a censura das imagens dos indígenas: pois, na visão do perito “não segue os padrões de nudez e atividade sexual e ninguém mais pode ver esta publicação”, sentenciou o censor.

    É curiosa a eficiência do Facebook, que é capaz de censurar em frações de segundos a imagem de um índio com tanga, mas não consegue identificar os emissores de fake news, que no Brasil, Estados Unidos e outros países se multiplicam em períodos eleitorais.

    Esse episódio, mais do que demonstrar ignorância por parte das máquinas e dos homens do Facebook, demonstra o perigo em que a sociedade se depara quanto à garantia do livre fluxo de informações e imagens.

    Hoje é a silhueta de um índio que é censurada por uma empresa, cujos propósitos políticos e econômicos quase ninguém sabe. E amanhã? O que os algoritmos ou quem estiver por de trás deles irão bloquear? A liberdade de expressão está consignada na maioria das constituições das nações e também na Carta dos Direitos Humanos da ONU que acaba de completar 70 anos. Quando é que impérios econômicos, como esse do senhor Mark Zuckberg, serão mais transparentes e mais respeitosos com os direitos de cada um de seus usuários?

     

    https://chicosantannaeainfocom.blogspot.com/2018/12/facebook-censura-tradicoes-milenares.html?fbclid=IwAR1oBdfJQUVAWVFKq4hYMQtOAnD-Xqb70p6Stoq60BLm9_0eaSlY_1VOOnk

     

  • [URGENTE] Fake News de Bolsonaro apresentada ontem no Jornal Nacional causa revolta no povo Xingu.

    [URGENTE] Fake News de Bolsonaro apresentada ontem no Jornal Nacional causa revolta no povo Xingu.

    O candidato Jair Bolsonaro apareceu ontem no Jornal Nacional ao lado de uma indígena, que declarou apoio a candidatura do capitão da reserva sem ter consultado a tribo, com o claro intuito de amenizar as violentas declarações contra os povos originários do Brasil, feitas por Bolsonaro ao longo da campanha e de toda sua trajetória política. A declaração de Ysani Kalapalo caiu como uma bomba no território Xingu, onde vive o povo Kalapalo. Indignado, o Cacique Tafukumã, gravou um vídeo em repúdio à Ysani, que segundo o Cacique “esqueceu do povo Kalapalo”. “Todos os povos indígenas estão contra Bolsonaro”, afirmou o Tufukumã. Em outro trecho da entrevista o Cacique desautoriza Ysani a falar em nome do povo que abandonou e a acusa de manchar a imagem dos indígenas: “Mentirosa, Ysani, você é mentirosa por estar fazendo isso. Está sujando o nome Xingu”.

    Assista: