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  • Corrupção dentro da PF leva à prisão de delegado e prefeito de Florianópolis

    Corrupção dentro da PF leva à prisão de delegado e prefeito de Florianópolis

    VAZAMENTOS NA PF FAVORECIAM INVESTIGADOS EM OPERAÇÃO ALCATRAZ

    Sete dirigentes da PF, PRF, governo do Estado de Santa Catarina e prefeitura de Florianópolis foram presos, acusados de participar de rede de corrupção em órgãos de inteligência e investigação da polícia. As informações alertando sobre diligências da Operação Alcatraz eram vendidas aos investigados como suborno em troca de pagamento em dinheiro, apadrinhamento e favores políticos, como blindagem nas investigações e empregos em cargos públicos.

    O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, foi apontado como articulador dessa rede de contra informação em conluio com o delegado da PF, Fernando Amaro de Moraes Caieron, agentes policiais e dirigentes públicos, que só foi desbaratada por delação de um preso da Operação Alcatraz, ocorrida há 20 dias. Ao todo 30 mandados foram cumpridos hoje, 23 de busca e apreensão e sete de prisão temporária, expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre (RS). O prefeito de Florianópolis Gean Loureiro e o policial rodoviário federal Marcelo Roberto Paiva Winter, diretor de comunicação do sindicato da categoria, foram soltos no início da noite, enquanto outros cinco detidos permanecem presos.

     

     

     

    Polícia Federal entra em ação depois de ser delatado escândalo dentro de sua própria corporação

    O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (eleito pelo MDB/SC), foi preso na manhã desta terça-feira (18), em Florianópolis pela Polícia Federal em sua casa, no bairro Jurerê, e afastado do cargo por 30 dias por ordem do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Ele está indiciado na Operação “Chabu”, desencadeada para desarticular uma organização que violava sigilo de operações policiais em Santa Catarina, incluindo as Operações Eclipse, Alcatraz e Ave de Rapina, todas ligadas à fraude de licitações e crimes fiscais. Entre os sete mandados de prisão temporária expedidos como parte da Operação Chabu está também o do delegado Fernando Caieron, da Polícia Federal em Florianópolis, preso em Porto Alegre, e o empresário da área de tecnologia José Augusto Alves, que atuaria como uma espécie de contrabandista de informações sigilosas obtidas junto à PF.

    Foram presos temporariamente ainda o diretor de Comunicação do Sindicato dos Policiais Rodoviários de Santa Catarina (SINPRF-SC), Marcelo Roberto Paiva Winter, o colega Luciano da Cunha Teixeira, ex-secretário da Casa Civil no governo de Eduardo Moreira, Luciano Veloso Lima e Hélio Sant’Anna Silva Júnior, delegado aposentado da Polícia Federal. A prisão temporária tem duração de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. Ao todo 30 mandados são cumpridos, 23 de busca e apreensão e sete de prisão temporária, expedidos pelo TRF4, em Porto Alegre (RS), na capital e municípios de Balneário Camboriú, Camboriú e Itajaí.

    Os mandados de prisão alegam prática de associação criminosa, corrupção passiva, violação de sigilo funcional, tráfico de influência, corrupção ativa, além da tentativa de interferir em investigação penal envolvendo organização criminosa, segundo a PF. Mantida em segredo de justiça, sem maiores explicações, a operação tem como relator o desembargador federal Leandro Paulsen.
     
    Junto com os demais presos, o prefeito e o delegado estão implicados na participação de um grande esquema de venda de informações sigilosas envolvendo policiais, dirigentes de órgãos públicos e políticos de partidos governistas que apoiam Bolsonaro em Santa Catarina. As informações dizem respeito principalmente à Operação Alcatraz, que investiga fraude em licitações e contratação de empresas laranja para desviar verbas públicas. Além do celular, os computadores do prefeito foram apreendidos em casa e no seu gabinete, na rua Tenente Silveira, assim como o computador do secretário da Casa Civil, Constâncio Maciel.
    Conforme os vereadores Lino Peres (PT) e Afrânio Boppré (PSol), que tiveram mais tarde acesso a informações do processo, o prefeito é apontado como articulador de uma rede investigada pela Operação Eclipse, que usava alta tecnologia em serviço de inteligência para encobrir desvio de verbas públicas. Ele teria autorizado a instalação de uma “sala segura”, na Prefeitura, blindada contra vazamentos, vigilância e interceptações telefônicas. Nessa sala secreta, esse grupo de hackers e agiotas de contra informação faria sem riscos o assédio aos políticos e empresários investigados, alertando-os sobre diligências dos órgãos da PF. Segundo Boppré, por meio de uma “maleta israelense”, adquirida no Paraguai, o grupo conseguia interceptar telefonemas a 300 metros de distância.

    Após diligências iniciadas em agosto de 2018, dentro da Operação Eclipse, a Polícia Federal apurou que o grupo suspeito construiu uma rede composta por um núcleo político, empresários, e servidores da própria PF e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) lotados em órgãos de inteligência e investigação. Seu objetivo seria atrapalhar ou embaçar o trabalho policial em andamento e proteger os investigados dentro da Operação Alcatraz e de várias outras, em troca de subornos financeiros ou de favores políticos, como empregos em cargos públicos. O próprio prefeito apadrinhava alguns membros desse grupo, segundo os vereadores. Ele pleiteou emprego para a esposa do policial rodoviário federal envolvido, Marcelo Roberto Paiva Winter, em cargo no governo estadual. A filha do empresário José Augusto Alves, o “José Mentira”, apontado como pivô da articulação criminosa, tem cargo de confiança no gabinete do prefeito.

    De acordo com o mandado, as diligências apontam prática de crimes de associação criminosa, corrupção passiva, violação de sigilo funcional, tráfico de influência, corrupção ativa, além da tentativa de interferir em investigação penal envolvendo organização criminosa, segundo nota da PF. “Durante as investigações foram apuradas práticas ilícitas, dentre as quais envolve o vazamento de informações a respeito de operações policiais a serem deflagradas até o contrabando de equipamentos de contra inteligência para montar ‘salas seguras’ à prova de monitoramento em órgãos públicos e empresas”, diz ainda a nota PF. Os agentes realizaram uma busca no Grupo Nexxera por mais de três horas, quando apreenderam documentos na empresa especializada em elaborar plataformas integradas de serviços de automação bancária, gestão de cobranças e soluções de tecnologia. O objetivo foi confirmar a suspeita de associação criminosa e corrupção passiva por parte de agentes públicos e empresas.

    O significado de “Chabu”, que nomeia a operação, é provocar falha no sistema, usado para descrever, por exemplo, falha em fogos de artifício. Segundo a PF, o termo era empregado por alguns dos investigados para alertar sobre a existência de operações policiais antes de ocorrerem. A operação é mantida em segredo de justiça, sem maiores explicações, sob a relatoria do desembargador federal Leandro Paulsen. É o desembargador quem vai decidir se o prefeito será substituído por seu vice João Batista Nunes.

     

    Operação Chabu
    Prefeito Gean Loureiro e secretário ex-secretário estadual da Casa Civil, Luciano Veloso Lima agiriam juntos. Foto: James Tavares/Secom

    PLANOS DE REELEIÇÃO AMEAÇADOS

    Eleito pelo MDB/SC, com pretensões à reeleição em 2020, Gean Loureiro, 47 anos, formado em Direito, se desfiliou do partido em 28 de maio por insatisfações com a cúpula. Ainda está sendo cogitada sua filiação para partidos da base governista federal, como PSD e PRB. Ele prestou depoimento à PF, e teve sua prisão relaxada no início da noite de hoje (18/6), mas permanece suspenso do cargo durante os próximos 30 dias, e proibido de retornar à prefeitura ou de conversar com qualquer envolvido na operação.

    Às 21h30, o prefeito deu entrevista coletiva no escritório do seu advogado Dido Ptsica, quando se disse vítima da pior injustiça da sua vida e afirmou não ter qualquer envolvimento com os suspeitos, assim como negou que a sala segura à prova de monitoramento, onde seria vazadas as informações tenha sido instalada no seu gabinete.

    O policial rodoviário federal Marcelo Roberto Paiva Winter, diretor de comunicação do sindicato da categoria (SINPRF-SC), preso igualmente de forma temporária, também foi liberado na noite de hoje. Os demais cinco detidos continuam presos.

    ALCATRAZ: NEGÓCIOS COM EMPRESAS LARANJA LESAM COFRES PÚBLICOS EM R$ 130 MILHÕES

    Ontem a juíza Janaína Cassol Machado, que está a frente do processo criminal da Operação Alcatraz pela Justiça Federal em Santa Catarina, autorizou a prorrogação por 15 dias do prazo para a conclusão do inquérito da Operação. A Alcatraz envolve desvio de recursos, fraudes em licitações e crimes tributários praticados por órgãos de Santa Catarina e de Florianópolis, como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Secretaria de Estado da Administração e outras empresas terceirizadas. O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Júlio Garcia (PSD) também é citado muitas vezes no pedido de prisão de 11 acusados, detidos no dia 31 de maio deste ano, quatro deles em Florianópolis; quatro em São José; um em Antônio Carlos; um em Ituporanga e um em Vinhedo (SP).

    Os indiciados permanecem presos e fazendo delações entre empresários e agentes públicos investigados por suspeita de envolvimento em esquema de fraude em licitações e contratos. Um dos presos é Nelson Castello Branco Nappi, considerado o cabeça do esquema que fraudava licitações. Os danos aos cofres públicos se aproximam de R$ 30 milhões, segundo estimativas da PF e de mais de R$ 100 milhões em sonegação de impostos, segunda avaliação da Receita Federal.

    Segundo apurou a operação, de 2012 a 2015 a MAAB, empresa do ramo publicitário, emitiu notas frias em nome de empresas de fachada na área de segurança do grupo Ondrepsb e a Orcali, que por sua vez repassariam os valores para agentes públicos do Estado. Já há presos preventivamente na ação. Janaína é a mesma que autorizou a prisão do reitor Luiz Carlos Cancellier. O delegado Igor Gervini pediu a extensão da investigação para que os agentes tenham até o final de junho para concluir o inquérito.

    Atualização:

    Na quarta-feira (19/6), os advogados do prefeito tentaram suspender o seu afastamento no TRF4, mas não obtiveram êxito. Os quatro vereadores da oposição, Afrânio Boppré (PSoL), Marquito (PSoL), Lino Peres (PT) e Vanderlei Farias, o Lela (PDT), já emitiram duas notas conjuntas reivindicando informações da Polícia Federal para se posicionarem com mais clareza sobre o assunto, e evitar julgamentos ou absolvições sem profundidade. Por enquanto quem administra a capital é o vice-prefeito José Batista Nunes (PSDB).
    Em live veiculada nesta sexta-feira, 21, na página do Facebook de Boppré, ele e o vereador Lino Peres afirmam que a oposição está muito apreensiva porque Gean Loureiro tem frequentado a Câmara de Vereadores e o seu gabinete, de onde entra e sai levando pastas e documentos. Querem saber que informações há nos equipamentos e celulares apreendidos e o possível envolvimento de outros funcionários públicos municipais nessa rede de tráfico de informações. “Se Gean diz que é vítima de uma armação, queremos saber quem é esse agente oculto que tem tanto poder e influência na vida da cidade”, afirma Boppré. Por que o prefeito, sendo apontado como o articulador da “Orcrim”, foi solto no mesmo dia da prisão e continua livre para passear no seu gabinete e recolher provas?
    Nesta quinta-feira, 20/6, a revista Isto É publicou reportagem de capa na edição do fim de semana, intitulada “Cerco aos hackers” , afirmando que a PF está investigando as “possíveis ligações” entre a Operação Chabu, a Vaza Jato e a atuação de agentes cibernéticos em Santa Catarina, no Brasil, Dubai e Emirados Árabes. Segundo “investigações preliminares”, a PF teria encontrado conexões entre o jornalista investigativo Glenn Greenwald, do The Intercept, Edward Snowden, refugiado na Rússia, com os irmãos bilionários Nikolai e Pavel Durov. Os Durov são proprietários do programa de conversação em chat, o Telegram, de onde vazaram os diálogos entre o ministro da Justiça Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, revelados por Greenwald e sua equipe no escândalo conhecido também como Brasilgate. Finalmente, a PF teria encontrado ligações com Evgeniy Mikhailovich Bogachev, conhecido como Slavic, procurado pelo FBI sob a acusação de cometer crimes cibernéticos, que criou o vírus Cryptolocker e o código Zeus.
    Conforme o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o órgão “acredita ter se aproximado dos hackers que invadiram a privacidade dos procuradores”. A relação conspiratória, clara tentativa de criminalizar os jornalistas do The Intercept e levar os denunciadores da tribuna para o banco dos réus, foi levianamente lançada em veículos brasileiros de direita desde o início da semana. Estão aí todas as tintas de mais uma farsa do ex-juiz que fraudou a justiça com seus processos persecutórios e seletivos, baseados numa relação de influência ilícita sobre os procuradores da Lava Jato e na manipulação dos autos de acusação para condenar em tempo record o ex-presidente Lula à prisão. Emparedado pelas revelações do site The Intercept, trazidas a conta-gotas, como uma morte lenta, Sérgio Moro precisa com urgência de qualquer subterfúgio pra sair da berlinda e partir para a ofensiva.
    O único indício apontado pela revista de que a relação apontada por um perfil anônimo no twitter de forma grotesca pode merecer a credibilidade dos seus leitores é o fato de a PF dar importância a ela (SIC). “Embora parecesse inverossímil num primeiro momento, por conter erros de grafia e tradução, ISTOÉ confirmou que a PF segue sim o rastro da pista, considerada importante pelos agentes hoje à frente do caso.” Os métodos caluniosos e fantasiosos são os já conhecidos da sua lavra. Enquanto a PF sege as pistas do “Pavão Misterioso”, em Santa Catarina, ninguém entende os rastros da polícia, que parece encobrir na Operação Chabu a sua própria corrupção interna.

    PRISÃO DE GEAN LOUREIRO: OPOSIÇÃO SE MANIFESTA (NOTA)

    Florianópolis amanheceu com a notícia de que o Prefeito Gean Loureiro (sem partido) foi preso por fazer parte de uma suposta organização criminosa articulada para atrapalhar e impedir investigações da Polícia Federal.

    Os vereadores signatários desta nota assumem o dever legal de se manifestarem publicamente nos termos do art. 37 da Constituição Federal. Somos sabedores que o método Gean de fazer política é questionável. Sem juízo definitivo, sua prisão indica que temos à frente da administração municipal um agente político que construiu sua trajetória por meios duvidosos e com provável quebra de princípio basilar da ética e da honestidade, agindo de modo incompatível com a dignidade e o decoro dos cargos.

    Sua desvinculação recente das fileiras partidárias do MDB foi anunciada como decisão positiva para se afastar dos escândalos promovidos pelo seu partido. Para nós, essa decisão sempre representou mais uma estratégia eleitoral do que uma decisão sincera e de combate aos mal feitos de seu renegado partido.

    Exerceremos nossa função parlamentar de fiscalização e estaremos atentos e vigilantes no nosso dever legal. Não tomaremos decisões por impulsos e nem por motivações midiáticas.

    Certos que preparados estamos para qualquer desafio, buscaremos estar sintonizados com o sentimento de justiça, representando os interesses do povo florianopolitano.”

     

    Afrânio Boppré – Vereador PSOL
    Lino Peres – Vereador PT
    Marquito – Vereador PSOL
    Vanderlei Farias – Vereador PDT

     

    NOTA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES DE FLORIANÓPOLIS SOBRE A PRISÃO DO PREFEITO GEAN LOUREIRO

    O Partido dos Trabalhadores de Florianópolis mantém sistemática oposição ao governo de Gean Loureiro, uma vez que a política implementada pelo prefeito é diametralmente oposta à visão de mundo defendida por nosso Partido, tanto que nossa bancada atua como oposição ao paço municipal, com responsabilidade e de forma sempre propositiva, fato é que nosso projeto de cidade não cabe neste projeto implementado por Gean.

    Contudo, mantemos a responsabilidade e coerência na defesa intransigente do estado democrático de direito, rechaçando práticas que ferem o princípio da presunção de inocência, do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, para dizer o mínimo.

    As prisões pirotécnicas como método tem sido a arma do estado policialesco que tanto combatemos nesses últimos tempos de nítido obscurantismo.

    Que as investigações apurem adequadamente as respectivas responsabilidades cíveis, criminais e administrativas, mas sempre sob o holofote das regras do jogo democrático e das garantias e direitos individuais.

    Vários são os exemplos de excessos cometidos pelas autoridades investigativas do Estado pelo País afora, sendo que em Santa Catarina, por exemplo, passamos pelo fatídico episódio que vitimou o Reitor Cancelier, cujo inquérito recém finalizado conclui sua total inocência.

    Independente de apoiar ou não determinada figura pública e sua política, o foco deste tipo de ação policialesca espetacularizada precisa ser necessariamente pensada a partir do cabimento da prisão, seja ela flagrante, preventiva ou temporária, e o consequente risco que um Chefe do Executivo tem de fuga ou destruição de provas do eventual ilícito. Nesse caso, faz-se necessária uma rápida manifestação da Justiça Federal a respeito. A cidade, tanto quanto os indiciados e presos, merecem saber quais os motivos das suas prisões.

    Florianópolis 18 de Junho de 2019
    Executiva Municipal do Partido dos Trabalhadores de Florianópolis

     

    https://www.facebook.com/afranioboppre50/videos/438509180323097/?t=1

  • Irmã de haitiano linchado em SC chega hoje ao Brasil para buscar filho

    Irmã de haitiano linchado em SC chega hoje ao Brasil para buscar filho

    Tingue foi linchado por uma horda de racistas. Foto: arquivo pessoal

    Neste domingo faz uma semana que o corpo do imigrante haitiano Kerby Tingue está no Instituto Médico Legal, para onde foi levado pela Polícia Rodoviária Federal e registrado enganosamente como  vítima de acidente de trânsito. O estudante e trabalhador foi assassinado na madrugada de segunda, após ser espancado e empurrado para a BR 101 por uma horda de racistas na saída da boate Forma Eventos, no município de São José, vizinho de Florianópolis. Segundo testemunho de um amigo haitiano da vítima, um grupo de cinco homens o viu urinando do lado de fora da casa e começou a esmurrá-lo e a chutá-lo. Logo muitas outras pessoas enfurecidas se juntaram ao linchamento de Kerby, que terminou sua vida no Brasil atropelado por um caminhão. A testemunha conta que sofreu várias ameaças de morte no local e os grupos de apoio estudam pedir proteção federal. As redes de solidariedade se mobilizam para apoiar a irmã, que chega hoje do Haiti para buscar o filho que estava sob a guarda do jovem no Brasil. Marie vai reconhecer o corpo no IML e pretende levar o corpo para ser enterrado no Haiti, mas a família não tem recursos para o traslado.

    Imigrante haitiano foi espancado e morto por frequentadores da boate que o viram urinar do lado de fora. Foto: Divulgação

    Parlamentares e entidades apoiadoras de imigrantes e refugiados em Florianópolis (SC) realizam uma reunião de emergência na segunda-feira (10), às 15 horas, na Casa da Memória, para oferecer apoio à família da vítima e exigir da polícia civil a investigação e punição dos assassinos do imigrante haitiano Kerby Tingue, 32 anos. Vão também tratar com a irmã da vitima, Marie Tingue, que chega neste domingo do Haiti, sobre o traslado do corpo para o país de origem, conforme a médica Thaís Lippel, do Grupo de Trabalho do Imigrante da Assembleia Legislativa de Santa Catarina . Marie Tingue vem a Florianópolis para buscar seu filho, de 11 anos, que estava sob os cuidados do irmão assassinado. A criança está provisoriamente sob a guarda do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente.

    A Diretoria Estadual de Investigações Criminais de Santa Catarina confirmou na sexta-feira ao anoitecer, através das filmagens da rodovia, que se tratou mesmo de um homicídio e não de um atropelamento acidental. Um inquérito policial aberto na sexta-feira (7/6) tem 30 dias para chegar a uma solução. Mas isso só ocorreu após a Polícia Civil ser informada pelos Jornalistas Livres sobre as denúncias do assassinato do imigrante que circulava nos grupos das redes de apoio.

    Delegado Galeno promete: “Identificar os autores e a motivação do crime agora é questão de tempo”

    Mais do que refutar a versão do acidente, as imagens mostram claramente que Kerby foi vítima de um linchamento assistido por mais de uma dezena de pessoas.  Neste final de semana, o delegado responsável pelo inquérito, Manoel Galeno, está realizando diligências nos arredores da boate para encontrar testemunhas entre os frequentadores e vizinhos. A polícia civil de São José já havia rondado a área, sem sucesso, na sexta-feira à noite. “O principal, que eram as provas do homicídio, já foi feito. Agora é só questão de tempo para chegar aos culpados”, promete Galeno.

    O Boletim de Ocorrência registrado pela PRF no dia do crime culpa Kerby pela própria sorte ao agir “em desobediência à lei do trânsito e avançar a pista de rolamento”. Esse documento mostra também que no registro policial houve sonegação de informações sobre o espancamento e o empurrão criminoso para a rodovia pelas pessoas que assistiram à violência. O próprio caminhoneiro, que esperou a polícia chegar e tratou de se defender de qualquer culpa, pode ter ignorado a movimentação dos agressores ou ter sido enganado pelo testemunho da multidão aglomerada em volta. As entidades também avaliam a cumplicidade ou negligência da própria PRF ao prestar ocorrência no local e inocentar os envolvidos.

    FAMÍLIA NÃO TEM RECURSOS PARA O TRASLADO

    Marie Tingue chegou a Florianópolis às 9 horas de hoje e em seguida se reuniu com a comunidade haitiana para tomar pé da situação. Amanhã ela se reúne com entidades solidárias e vai ao IML identificar o corpo

     

     

     

    Além de resgatar o filho que estava sob a guarda do irmão assassinado, Marie Tingue chegou a Florianópolis hoje às 9 horas para tratar do traslado do corpo em nome da família.  Em seguida ela se reuniu com a comunidade haitiana. A operação de traslado tende a ser um grave problema porque a família não tem condições financeiras de arcar com os custos, explica Jeruse Romão, socióloga e integrante do gabinete do vereador Lino Peres, que está convocando a reunião com as entidades solidárias para agilizar as providências junto aos órgãos responsáveis.  “A família está muito chocada, muito triste e muito abalada com a hipótese de não poder se despedir do jovem na sua terra natal, onde ele tem um filho”, relata a socióloga negra, que na quinta-feira recebeu a denúncia de uma testemunha e a fez circular nas redes de apoio. Segundo ela, na segunda-feira, Marie vai ao IML reconhecer o corpo e buscar o laudo do óbito. “E daí este corpo abatido talvez nos conte mais detalhes sobre o horror vivido por esse jovem”.

    Na sexta-feira, assim que a reportagem dos Jornalistas Livres recebeu a denúncia da professora de Língua Portuguesa para estrangeiros, Elsa Nuñez, integrante do Grupo de Apoio aos Imigrantes e Refugiados de Florianópolis, procurou a polícia civil de Biguaçu e São José para elucidar o assassinato. Graças às informações das redes solidárias repassadas pela reportagem, a polícia confirmou que o cadáver despejado há cinco dias no IML como se fosse um indigente, sem qualquer comunicação oficial à família da vítima, aos amigos ou às entidades apoiadoras, era o do imigrante negro assassinado pelos frequentadores da casa de shows Forma Eventos.  A princípio, a Polícia Civil acreditava que tudo não passava de boato ou de uma fake news recorrente há mais de um ano.

    TESTEMUNHA RECEBEU VÁRIAS AMEAÇAS DE MORTE

    Amigo de Kerby afirma que foi intimidado por agressores para não delatar o espancamento no próprio local do crime. Entidades avaliam possibilidade de pedir segurança da Polícia Federal para proteção da testemunha.

    Haitiano estava feliz no Brasil onde trabalhava e estudava inglês há dois anos. (Foto: Arquivo pessoal)

    O haitiano que acompanhava Kerby na noite de domingo, testemunhou que ele foi espancado primeiramente por um grupo de cinco homens e na sequência várias outras pessoas se juntaram ao linchamento, incluindo mulheres. Conta que Kerby apanhou muito e também ele, inclusive, ficou bastante machucado. Quando viu que a situação fugia de controle e que não daria conta de defender o amigo, saiu para buscar socorro. Quando voltou encontrou o amigo já estendido e morto. Segundo as pessoas no local relataram para ele, o conterrâneo morreu ao tentar fugir do espancamento correndo para a rodovia. E foi essa a versão produzida pelos algozes e cúmplices do assassinato difundida entre os grupos de apoio no Brasil, os amigos e a família no Haiti.

    Ao constatar nas imagens liberadas pelo DEIC, na sexta-feira, que Kerby foi empurrado para as rodas do caminhão pela multidão ensandecida, a testemunha entrou em choque emocional e precisou de ajuda médica. Ele está recebendo ajuda psicológica desde sábado.  “Conhecer a verdade sobre a forma cruel como o jovem foi assassinado abateu muito a família”, relata Jeruse. No próprio local do crime, o amigo afirma que recebeu várias ameaças de morte dos agressores para não delatar o espancamento. As entidades avaliam inclusive a possibilidade de pedir segurança da Polícia Federal para a proteção da testemunha.

     

    HAITIANOS E AFRICANOS DESCOBREM DOR DO RACISMO NO BRASIL

    Imigrante ganês usou metáfora física para explicar a dor moral que o racismo provoca em estrangeiro negro que se arrisca a tentar a vida no Brasil: “é como extrair um dente sem anestesia”. Historiadora considera fato a emergência de uma onda neonazista no Sul do Brasil. 

     

    Pai de um menino que está no Haiti, Kerby estudava inglês no Curso de Extensão do Instituto Estadual de Educação e trabalhava como mecânico na empresa Autoviação Catarinense, em Florianópolis, desde o dia 31 de janeiro de 2018. Dhiego Nazario, que estava empregado com Kerby há dois anos na mesma empresa, considerava-o um “super profissional” e surpreendeu-se ao saber  do assassinato através do site dos JL. Segundo Dhiego, na empresa todos os colegas achavam que o haitiano havia sofrido um acidente. “Jamais cogitamos essa hipótese”. Ex-estudante de língua inglesa da UFSC e do IFSC São José, jogava basquete na Liga Desportiva NBA antes de vir ao Brasil e falava cinco línguas, de acordo com o seu perfil nas redes sociais.

    Espancado por frequentadores da boate, Kerby é empurrado para marginal da BR sob tráfego intenso. Foto: divulgação

    Em solidariedade ao haitiano, o vice-presidente da Associação de Senegaleses em Florianópolis, Cheik Bamba Diop, afirmou que o povo africano seria feliz no Brasil se não fosse a discriminação. “Na verdade, a justiça não ajuda, não dá valor aos imigrantes, nem a Polícia Federal. Muitos imigrantes que moram aqui são obrigados a ir para Itajaí renovar o protocolo de entrada.” Para Cheik, a maioria dos caribenhos e africanos não têm maldade e frequentam lugares perigosos para os negros por falta de esclarecimento.

    A historiadora Marlene de Fáveri, autora de livros sobre o nazismo em Santa Catarina, considera fato a emergência de uma onda neonazista no Sul do Brasil. Os imigrantes africanos e caribenhos descobrem o sentido do racismo no Brasil. Em depoimento a Bruna Kadletz, coordenadora dos Círculos de Hospitalidade na grande Florianópolis, um imigrante ganês usou uma metáfora física para explicar a dor moral que o racismo provoca num estrangeiro negro que se arrisca a tentar a vida no Brasil: “é como extrair um dente sem anestesia”.

     

  • Exclusivo: Frequentadores de boate matam haitiano e ocultam crime da polícia

    Exclusivo: Frequentadores de boate matam haitiano e ocultam crime da polícia

    Trabalhador haitiano foi espancado e morto por frequentadores da boate porque urinava do lado de fora. Foto: divulgação

    O imigrante haitiano Kerby Tingue, 32 anos, foi espancado brutalmente por cinco frequentadores que saiam da casa de shows Forma Eventos, por volta de 2h30 da madrugada de domingo para segunda (3/6), em São José, município vizinho de Florianópolis (SC). A agressão, envolvendo possivelmente seguranças da casa noturna, teria ocorrido porque ele estava urinando ao lado de fora da boate, segundo moradores e testemunhas. Depois de espancado, o trabalhador e estudante foi comprovadamente empurrado para cima de um caminhão que passava pela Br-101, em frente à boate. Kerby morreu na hora, abatido no asfalto. O caminhoneiro chamou a Polícia Rodoviária Federal, que registrou a morte no Boletim de Ocorrência como atropelamento por imprudência da própria vítima. Seu corpo foi levado como se fosse o de um indigente ao Instituto Médico Legal, onde permaneceu por cinco dias, sem que a Delegacia de Polícia Civil tomasse ciência do crime. O inquérito policial só foi aberto hoje, no final da tarde, após os delegados de Biguaçu e de São José serem informados pelos Jornalistas Livres da notícia que já corria entre os imigrantes haitianos e confirmarem o crime através das imagens das câmeras de videomonitoramento da rodovia. “Foi homicídio mesmo”, reconheceu o delegado responsável, Manoel Galeno, que tem 30 dias para concluir o inquérito.

    Kerby Tingue, assassinado porque urinava na rua, era considerado feliz e “irreprovável” pelos amigos

    No segunda mesmo, já começaram a circular nas redes sociais e chats privados de grupos de solidariedade as informações sobre o atroz assassinato de Kerby, que cuidava de um sobrinho de 11 anos e morava no bairro Monte Cristo. Ex-estudante da UFSC, ele trabalhava na empresa Auto Viação Catarinense como mecânico desde o dia 31 de janeiro deste ano, estudava inglês no Curso de Extensão do Instituto Estadual de Educação e jogava basquete na Liga Desportiva NBA antes de vir ao Brasil. A família e os parentes no Haiti já sabiam do ocorrido e lamentavam a morte em suas páginas no Facebook, ressaltando que o rapaz estava muito feliz no Brasil com a conquista de um emprego. A irmã do jovem, Marie Tingue, chega a Florianópolis no domingo para buscar o filho que estava sob a guarda dele. “Frè pam mwen pap janm bliyew afè pam, ti mal ou kiten ak dlo nan je”, escreveu Guyto Viellot, em crioulo, que significa “Meu irmão jamais será repreensível, pessimista, fatigado”.

    Entidades apoiadoras de imigrantes e refugiados e a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa estão sendo chamadas para uma reunião de emergência na segunda-feira (10), às 15 horas, na Casa da Memória, convocada pelo gabinete do vereador Lino Peres. A família não tem dinheiro para o traslado do corpo e está muito abalada, segundo a socióloga Jeruse Romão, que está em contato com a irmã. Deve ocorrer um ato no início da semana em protesto aos episódios de violência, racismo e xenofobia contra imigrantes e refugiados africanos e nordestinos, que têm sido recorrentes em Florianópolis e região, segundo Elsa Nuñez, professora voluntária de Língua Portuguesa para esse público e integrante do Grupo de Trabalho do Imigrante da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina.

    No dia 30 de março, Kerby publicou uma foto na sua página do Facebook com o slogan “Eu amo a minha vida”.

    Ex-estudante da UFSC, o mecânico falava inglês, francês, crioulo, português e espanhol

    Imediatamente após assumir o inquérito, o delegado de São José, Manoel Galeno, afirmou que ainda não pode esclarecer os fatos, nem fornecer informações sobre quem são os autores do espancamento e do homicídio, nem concluir quem ocultou o crime ou se os seguranças estavam entre os espancadores e assassinos. “Como a polícia só tomou conhecimento do assassinato agora (através dos Jornalistas Livres), nós ainda estamos apurando e investigando tudo isso”.

    A narrativa repassada à polícia foi fornecida aos Jornalistas Livres por integrantes das redes de entidades solidárias e por moradores da região. “Eu soube que ele foi espancado por seguranças da boate porque estava urinando num local inadequado, cambaleou e morreu depois de ser atropelado”, informa um estudante de jornalismo, morador do bairro, que preferiu não se identificar. Já o delegado Galeno constatou pelas imagens que o haitiano “foi empurrado para cima do caminhão que passava” pela marginal da Br, na direção Sul, o que, segundo ele, comprova o homicídio.

    A boate Forma, que fica de frente para a BR 101, é famosa pelos incidentes, brigas e situações de violência, segundo o estudante de Jornalismo. “Já houve morte lá antes e nada acontece”. Conforme Elsa Nuñez, do Grupo de Apoio aos Imigrantes e Refugiados de Florianópolis (GAIRF), o motorista do caminhão parou ao colidir no jovem e foi ele quem chamou a PRF. “Tudo ainda precisa ser investigado pela polícia”, reitera o delegado.

     

    PRIMEIRO B.O. CULPA VÍTIMA POR DESOBEDECER NORMAS DE TRÂNSITO

    Boletim de Ocorrência inicial culpa a vítima por ter avançado sobre a rodovia, desrespeitando as regras de trânsito

     

    Enquanto nas redes sociais o assassinato de Kerby corria de boca em boca, a Polícia Civil ignorava o crime. Esse descompasso aconteceu porque inicialmente a informação era que o crime havia ocorrido em Biguaçu. Procurado pelos Jornalistas Livres, o delegado do município, Carlos Diego, chegou a afirmar que se tratava de um boato antigo, recorrente há mais de dois anos. O delegado só descartou a hipótese de Fake News quando informado pelos JL de que o corpo do imigrante fora levado para o Instituto Médico Legal, segundo uma testemunha. A polícia então verificou que de fato havia um corpo não reivindicado no IML com essa procedência. A autoridade solicitou as imagens das câmeras da rodovia e confirmou que o haitiano havia sido mesmo assassinado em frente à Forma Eventos, no Bairro Serrarias, no município de São José, e não de Biguaçu.

    Às 20h20, o delegado da Polícia Civil, Manoel Galeno, repassou o Boletim de Ocorrência do dia do crime, aberto pela Polícia Rodoviária Federal como acidente de trânsito, ocorrido por vota das 4h30. Registra também que o trabalhador foi atendido pela equipe de resgate da Arteris Litoral Sul, cujo médico responsável constatou o óbito no local. O documento confirma que o motorista do caminhão, Ronie Mário Petry, parou e aguardou a chegada da polícia.

    A narrativa do B.O. culpa a vítima por ter avançado sobre a faixa de rolamento no km 199,1 da Br-101, “em desobediência às normas do trânsito”. Até o artigo da lei que proíbe o pedestre de avançar sobre a pista é citado para aferir a inocência do caminhoneiro, que prestou exames de alcoolemia, mas não viu que o haitiano fora empurrado para a pista, como mostram as câmeras. Depois de verificar que o crime havia sido ocultado durante cinco dias da polícia, o delegado afirmou que está a poucos passos da elucidação. “O principal já temos, que são as imagens das câmeras. Para chegarmos aos culpados é uma questão de horas”.

    Também integrante do GAIRF e do GTI da Alesc, a antropóloga da UFSC, Janaína Santos, associa o ocorrido aos frequentes episódios de racismo e xenofobia que atingem os imigrantes africanos. “Mais um absurdo caso de violência e assassinato contra um jovem haitiano, que foi espancado por cinco pessoas e empurrado para ser atropelado. O racismo estrutural e abjeto segue fazendo ainda mais vítimas…”, afirma ela, que fez sua tese de doutorado sobre imigrantes.

     

    Saída da Forma eventos, onde Kerby foi espancado e empurrado para o atropelamento.
    Fotos: divulgação

     

    Grupo de Trabalho dos Imigrantes da ALESC

    Chamamos para reunião na segunda-feira, às 15 horas reunião do GTI na Casa da Memória, rua Padre Miguelinho, 58, centro, próximo da Câmara de Convidamos todxs para uma reunião, às 15 horas, na Casa da Memória, com Marie Tingue, a irmã de Kerby, que chegará no domingo do Haiti.

    Já vamos apresentar as dificuldades, necessidades com sugestões de encaminhamento para este caso de violência contra o imigrante haitiano que foi espancado pelo agressores e empurrado para a Br 101, onde foi atropelado e veio a falecer.