Por Clara Luiza Domingos, especial para Jornalistas Livres
Carolus Wimmer, presidente do Comité de Solidariedad Internacional y Lucha por La Paz na Venezuela (COSI Venezuela) e secretário de relações internacionais do Partido Comunista da Venezuela participou do Boletim Semanal Venezuela, que foi ao ar na última quinta-feira (11.06), no Facebook e Youtube do Jornalistas Livres, para denunciar as ofensivas imperialistas dos Estados Unidos contra o país da revolução bolivariana. O exemplo venezuelano no combate ao coronavirus foi um dos temas do Boletim desta semana, além de como os EUA têm insistindo em sua agressão em plena crise sanitária mundial.
Semanalmente o Jornalistas Livres coloca no ar o Boletim Venezuela, para tratar dos assuntos mais importantes envolvendo a Venezuela, com o objetivo de informar o público fatos e análises que, muitas vezes, não chegam pela mídia hegemônica, dando voz a lideranças que possam expor os problemas vividos diariamente pelos venezuelanos e os conflitos internacionais.
Wimmer iniciou sua fala destacando que a crise sanitária do coronavírus é mais uma das crises do capitalismo e ressaltou a diferença de resultados no combate a pandemia entre países que não são regidos pelo sistema econômico capitalista. “Atualmente, a Venezuela tem 2700 infectados e 23 falecidos, em comparação com outros países da América Latina, é relativamente pouco e esperamos que siga assim”.
De acordo com Carolus, governo de Nicolás Maduro tomou as medidas sugeridas pela OMS a tempo, reconhecendo a pandemia rapidamente. Maduro rapidamente decretou o isolamento por três meses, fechou as fronteiras internacionais, interrompeu o tráfico nacional entre um estado e outro e já realizou 36 mil testes por milhão de habitantes, que em números gerais representa mais de 1 milhão de testes realizados no país.
Carolus também destacou que a parceria com o governo cubano na construção de um sistema de saúde gratuito, selada há 10 anos, durante o governo de Hugo Chavez, construiu uma estrutura física e profissional que permite atender a todo o povo venezuelano gratuitamente durante a crise sanitária.
“Há um reconhecimento do risco para a saúde, uma responsabilidade do governo Venezuela em atender de uma forma direta os infectados, e também tomar medidas preventivas, isso em um momento quando a Venezuela vive a agressão direta do imperialismo dos estados unidos e de seus aliados europeus. Isso é um crime contra os venezuelanos. Isso já não tem nada a ver com as diferenças políticas e ideológicas. É um direito de cada povo receber nesse momento da pandemia os produtos necessários a nível de medicina e a nível da vida”, afirma Carolus, lembrando que o bloqueio econômico durante a pandemia foi criticado inclusive pela subsecretária geral das Nações Unidas (ONU) para Assuntos Políticos e de Construção da Paz, Rosemary DiCarlo.
Cooperação Internacional
Apesar de países como os Estados Unidos, Inglaterra e França insistirem em não cumprirem as ordens da ONU em defesa dos direitos humanos, o presidente do COSI Venezuela destaca em sua fala a contrapartida de cooperação internacional de países como Rússia, Irã, China e outros países. “Há dois dias chegou o sexto avião da China cheio de produtos com medicamentos e materiais para hospitais”, conta Wimmer.
Os Estados Unidos têm apertado o bloqueio econômico, imposto desde 2013, ameaçando sanções a embarcações ligadas ao comércio do petróleo na Venezuela, dessa forma, atacando o coração da economia venezuelana.
“Os EUA têm interesse nos recursos naturais da Venezuela, no petróleo, no gás, nos recursos minerais, na biodiversidade, na reserva de água doce, porque o capitalismo está em crise, querem se salvar roubando os recursos de outros países, especialmente dos países da América do Sul e da África.”, ressalta Carolus.
“Venezuela pode comprar as coisas, não precisamos de presentes, mas com esse bloqueio naval e o sistema jurídico mundial é um juiz, os EUA castigam empresas de outros países que fazem negócios com Venezuela”, denuncia a liderança do COSI Venezula.
Wimmer explica no vídeo que não basta ter petróleo no território, é necessária tecnologia moderna, maquinaria e produtos químicos para fazer com que o óleo mineral natural chega às bombas como combustível. “Normalmente, qualquer país importa produtos, isso é como funciona a economia do petróleo, mas ao ter o bloqueio total dos EUA, não podemos importar nada. Naturalmente, temos o colapso das refinarias”, explica.
Para ajudar na crise vivida pela Venezuela, no início do mês de Junho, o Irã enviou cinco petroleiros iranianos carregados de combustíveis para satisfazer a demanda interna da Venezuela. Um total de 1,53 milhão de barris de gasolina e outros hidrocarbonetos. Todos os petroleiros foram escoltados pela Marinha e Força Aérea da Venezuela após entrarem nas águas territoriais venezuelanas, já que os EUA ameaçaram usar força para impedir a chegada dos navios aos portos da Venezuela.
Carolus alerta para essa tentativa de impedir a entrada de petroleiros nos portos venezuelanos gera um risco de conflito bélico a nível mundial, já que China, Irã e Rússia também estão envolvidos e posicionam ao lado da Venezuela.
Contudo, a chegada dos petroleiros no país da revolução bolivariana está sendo fundamental para resolver muitos problemas cotidianos que tem surgido depois das sanções impostas pelos EUA, como a fome, já que a gasolina é fundamental para a produção agrícola.
“Somos muito otimistas, mas também muito vigilantes, o povo venezuelanos e a classe trabalhadora precisa ser vigilante, porque há fatores negativos do Estado como corrupção, burocracia e ineficiência, temos inimigos externos e internos, onde está a contra-revolução, operada pela oposição venezuelana”, destaca Wimmer.
Assista na íntegra o Boletim Semanal Venezuela, que foi ao ar na última quinta-feira (11/06), conduzido pelas jornalistas Clara Luiza Domingos e Martha Raquel:
O governo de Vladimir Putin considera os eventos que levaram à deposição do presidente Evo Morales como um “Golpe de Estado de Manual”. Mas Moscou trabalhará com a presidenta interina Jeanine Añez até a realização de novas eleições.
A informação foi dada pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Federação Russa Sergey Ryabkov na cúpula dos BRICS que acontece em Brasília.
O próprio diplomata russo reconheceu que não houve quórum na reunião do parlamento boliviano em que Añez se declarou “presidente interina”.
“Mas é claro que ela será percebida como líder da Bolívia até a eleição do novo presidente”, disse Ryabkov, em nome de Putin, apesar de haver milhões de trabalhadores indígenas em pé de guerra contra o golpe, neste momento em La Paz e El Alto.
Para quem se supreende com o posicionamento da delegação russa na cúpula dos BRICS, é preciso lembrar que o supremo mandatário russo, Putin, um egresso das fileiras do antigo Partido Comunista e ex-chefão da KGB, o temido serviço secreto, é o atual responsável pela aplicação dos preceitos neoliberais na antiga União Soviética. Destruição de direitos trabalhistas, de garantias para a população mais pobre, fazem parte do modo de governar de Putin.
Assim sendo, é à população pobre do continente latino-americano, às massas rebeladas do Chile, Equador, Argentina, Brasil e Bolívia, que caberá a defesa da soberania e da liberdade. Como sempre, aliás.
Prefeito Gean Loureiro continua afastado da Prefeitura de Florianópolis
O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (ex-MDB), continua afastado do cargo desde a segunda-feira pela manhã (17/6), quando foi preso e teve seu celular e computadores apreendidos pela Operação Chabu, desencadeada pela Polícia Federal em Santa Catarina. Gean foi preso junto com mais sete agentes policiais, incluindo o delegado federal Fernando Caieron, dirigentes públicos e empresários da área de tecnologia acusados de compor uma rede criminosa de tráfico de informações sigilosas a políticos e empresários investigados por corrupção. Foi solto ao final do mesmo dia, mas o delegado continua preso, junto com mais cinco agentes. O caso ganhou ainda mais repercussão nesta semana, depois que a PF “plantou” em veículos de direita ligações improváveis entre a espionagem denunciada pela Operação Chabu e os vazamentos do Morogate.
Na quarta-feira (19/6), os advogados do prefeito tentaram suspender o seu afastamento no TRF4, mas não obtiveram êxito. Por enquanto, quem administra a capital é o vice-prefeito José Batista Nunes (PSDB). Em live veiculada nesta sexta-feira, 21, na página do Facebook do vereador Afrânio Boppré, ele e o vereador Lino Peres afirmam que a oposição está muito apreensiva porque Gean Loureiro tem frequentado a Câmara de Vereadores e o seu gabinete, de onde entra e sai levando pastas e documentos. Querem saber, por exemplo, por que o prefeito, sendo apontado como o articulador da “Orcrim”, foi solto no mesmo dia da prisão e continua livre para passear no seu gabinete e recolher provas.
Os quatro vereadores da oposição, Afrânio Boppré (PSoL), Marquito (PSoL), Lino Peres (PT) e Vanderlei Farias, o Lela (PDT), já emitiram duas notas conjuntas reivindicando informações da Polícia Federal para se posicionarem com mais clareza sobre o ocorrido. “Decidimos evitar julgamentos ou absolvições enquanto não tivermos informações em profundidade”, explica Lino. Querem saber que informações há nos equipamentos e celulares apreendidos e o possível envolvimento de outros funcionários públicos municipais nessa rede de tráfico de informações. “Se Gean diz que é vítima de uma armação, queremos saber quem é esse agente oculto que tem tanto poder e influência na vida da cidade”, afirma Boppré.
PF APELA PARA O PAVÃO DE PERNA CURTA
Moro conduz PF ao grotesco
Nesta quinta-feira, 20/6, a revista Isto É publicou reportagem de capa na edição do fim de semana, intitulada “Cerco aos hackers” , afirmando que a PF está investigando as “possíveis ligações” entre a Operação Chabu, a Vaza Jato e a atuação de agentes cibernéticos em Santa Catarina, no Brasil, Dubai e Emirados Árabes. Segundo “investigações preliminares”, a PF teria encontrado conexões entre o jornalista investigativo Glenn Greenwald, do The Intercept, Edward Snowden, refugiado na Rússia, com os irmãos bilionários russos Nikolai e Pavel Durov. Os Durov são proprietários do programa de conversação em chat, o Telegram, de onde vazaram os diálogos entre o ministro da Justiça Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, revelados por Greenwald e sua equipe no escândalo conhecido também como Brasilgate. Finalmente, a PF teria encontrado ligações com Evgeniy Mikhailovich Bogachev, conhecido como Slavic, que criou o vírus Cryptolocker e o código Zeus. Slavic é procurado pelo FBI sob a acusação de cometer crimes cibernéticos, afirma a reportagem, sempre baseada no narrativa surgida no domingo passado, no perfil anônimo do Twitter, o “Pavão Misterioso”, já denunciado por vários sites de aferição como fake news grosseira, a exemplo do Estadão.
Conforme o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, entrevistado pelo IstoÉ, o órgão “acredita ter se aproximado dos hackers que invadiram a privacidade dos procuradores”. A relação conspiratória, clara tentativa de criminalizar os jornalistas do The Intercept e levar os denunciadores da tribuna para o banco dos réus, foi levianamente lançada em veículos brasileiros de direita desde o início da semana. Estão aí todas as tintas de mais uma farsa do ex-juiz que fraudou a justiça com seus processos persecutórios e seletivos, baseados numa relação de influência ilícita sobre os procuradores da Lava Jato e na manipulação dos autos de acusação para condenar em tempo record o ex-presidente Lula à prisão. Emparedado pelas revelações do site The Intercept, trazidas a conta-gotas, como uma morte lenta, Sérgio Moro precisa com urgência de qualquer subterfúgio pra sair da berlinda e partir para a ofensiva.
O único indício apontado pela revista de que a relação apontada por um perfil anônimo no twitter pode merecer a credibilidade dos seus leitores é o fato de a PF dar importância a ela. “Embora parecesse inverossímil num primeiro momento, por conter erros de grafia e tradução, ISTOÉ confirmou que a PF segue sim o rastro da pista, considerada importante pelos agentes hoje à frente do caso.” Os métodos caluniosos e fantasiosos são os já conhecidos na herança lavajatista. Enquanto a PF sege as pistas do “Pavão Misterioso”, em Santa Catarina, ninguém entende os rastros da polícia, que parece encobrir na Operação Chabu a sua própria corrupção interna.
VAZAMENTOS NA PF FAVORECIAM INVESTIGADOS EM OPERAÇÃO ALCATRAZ
Sete dirigentes da PF, PRF, governo do Estado de Santa Catarina e prefeitura de Florianópolis foram presos, acusados de participar de rede de corrupção em órgãos de inteligência e investigação da polícia. As informações alertando sobre diligências da Operação Alcatraz eram vendidas aos investigados como suborno em troca de pagamento em dinheiro, apadrinhamento e favores políticos, como blindagem nas investigações e empregos em cargos públicos.
O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, foi apontado como articulador dessa rede de contra informação em conluio com o delegado da PF, Fernando Amaro de Moraes Caieron, agentes policiais e dirigentes públicos, que só foi desbaratada por delação de um preso da Operação Alcatraz, ocorrida há 20 dias. Ao todo 30 mandados foram cumpridos hoje, 23 de busca e apreensão e sete de prisão temporária, expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre (RS). O prefeito de Florianópolis Gean Loureiro e o policial rodoviário federal Marcelo Roberto Paiva Winter, diretor de comunicação do sindicato da categoria, foram soltos no início da noite, enquanto outros cinco detidos permanecem presos.
Polícia Federal entra em ação depois de ser delatado escândalo dentro de sua própria corporação
O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (eleito pelo MDB/SC), foi preso na manhã desta terça-feira (18), em Florianópolis pela Polícia Federal em sua casa, no bairro Jurerê, e afastado do cargo por 30 dias por ordem do Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Ele está indiciado na Operação “Chabu”, desencadeada para desarticular uma organização que violava sigilo de operações policiais em Santa Catarina, incluindo as Operações Eclipse, Alcatraz e Ave de Rapina, todas ligadas à fraude de licitações e crimes fiscais. Entre os sete mandados de prisão temporária expedidos como parte da Operação Chabu está também o do delegado Fernando Caieron, da Polícia Federal em Florianópolis, preso em Porto Alegre, e o empresário da área de tecnologia José Augusto Alves, que atuaria como uma espécie de contrabandista de informações sigilosas obtidas junto à PF.
Foram presos temporariamente ainda o diretor de Comunicação do Sindicato dos Policiais Rodoviários de Santa Catarina (SINPRF-SC), Marcelo Roberto Paiva Winter, o colega Luciano da Cunha Teixeira, ex-secretário da Casa Civil no governo de Eduardo Moreira, Luciano Veloso Lima e Hélio Sant’Anna Silva Júnior, delegado aposentado da Polícia Federal. A prisão temporária tem duração de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. Ao todo 30 mandados são cumpridos, 23 de busca e apreensão e sete de prisão temporária, expedidos pelo TRF4, em Porto Alegre (RS), na capital e municípios de Balneário Camboriú, Camboriú e Itajaí.
Os mandados de prisão alegam prática de associação criminosa, corrupção passiva, violação de sigilo funcional, tráfico de influência, corrupção ativa, além da tentativa de interferir em investigação penal envolvendo organização criminosa, segundo a PF. Mantida em segredo de justiça, sem maiores explicações, a operação tem como relator o desembargador federal Leandro Paulsen.
Junto com os demais presos, o prefeito e o delegado estão implicados na participação de um grande esquema de venda de informações sigilosas envolvendo policiais, dirigentes de órgãos públicos e políticos de partidos governistas que apoiam Bolsonaro em Santa Catarina. As informações dizem respeito principalmente à Operação Alcatraz, que investiga fraude em licitações e contratação de empresas laranja para desviar verbas públicas. Além do celular, os computadores do prefeito foram apreendidos em casa e no seu gabinete, na rua Tenente Silveira, assim como o computador do secretário da Casa Civil, Constâncio Maciel.
Conforme os vereadores Lino Peres (PT) e Afrânio Boppré (PSol), que tiveram mais tarde acesso a informações do processo, o prefeito é apontado como articulador de uma rede investigada pela Operação Eclipse, que usava alta tecnologia em serviço de inteligência para encobrir desvio de verbas públicas. Ele teria autorizado a instalação de uma “sala segura”, na Prefeitura, blindada contra vazamentos, vigilância e interceptações telefônicas. Nessa sala secreta, esse grupo de hackers e agiotas de contra informação faria sem riscos o assédio aos políticos e empresários investigados, alertando-os sobre diligências dos órgãos da PF. Segundo Boppré, por meio de uma “maleta israelense”, adquirida no Paraguai, o grupo conseguia interceptar telefonemas a 300 metros de distância.
Após diligências iniciadas em agosto de 2018, dentro da Operação Eclipse, a Polícia Federal apurou que o grupo suspeito construiu uma rede composta por um núcleo político, empresários, e servidores da própria PF e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) lotados em órgãos de inteligência e investigação. Seu objetivo seria atrapalhar ou embaçar o trabalho policial em andamento e proteger os investigados dentro da Operação Alcatraz e de várias outras, em troca de subornos financeiros ou de favores políticos, como empregos em cargos públicos. O próprio prefeito apadrinhava alguns membros desse grupo, segundo os vereadores. Ele pleiteou emprego para a esposa do policial rodoviário federal envolvido, Marcelo Roberto Paiva Winter, em cargo no governo estadual. A filha do empresário José Augusto Alves, o “José Mentira”, apontado como pivô da articulação criminosa, tem cargo de confiança no gabinete do prefeito.
De acordo com o mandado, as diligências apontam prática de crimes de associação criminosa, corrupção passiva, violação de sigilo funcional, tráfico de influência, corrupção ativa, além da tentativa de interferir em investigação penal envolvendo organização criminosa, segundo nota da PF. “Durante as investigações foram apuradas práticas ilícitas, dentre as quais envolve o vazamento de informações a respeito de operações policiais a serem deflagradas até o contrabando de equipamentos de contra inteligência para montar ‘salas seguras’ à prova de monitoramento em órgãos públicos e empresas”, diz ainda a nota PF. Os agentes realizaram uma busca no Grupo Nexxera por mais de três horas, quando apreenderam documentos na empresa especializada em elaborar plataformas integradas de serviços de automação bancária, gestão de cobranças e soluções de tecnologia. O objetivo foi confirmar a suspeita de associação criminosa e corrupção passiva por parte de agentes públicos e empresas.
O significado de “Chabu”, que nomeia a operação, é provocar falha no sistema, usado para descrever, por exemplo, falha em fogos de artifício. Segundo a PF, o termo era empregado por alguns dos investigados para alertar sobre a existência de operações policiais antes de ocorrerem. A operação é mantida em segredo de justiça, sem maiores explicações, sob a relatoria do desembargador federal Leandro Paulsen. É o desembargador quem vai decidir se o prefeito será substituído por seu vice João Batista Nunes.
Prefeito Gean Loureiro e secretário ex-secretário estadual da Casa Civil, Luciano Veloso Lima agiriam juntos. Foto: James Tavares/Secom
PLANOS DE REELEIÇÃO AMEAÇADOS
Eleito pelo MDB/SC, com pretensões à reeleição em 2020, Gean Loureiro, 47 anos, formado em Direito, se desfiliou do partido em 28 de maio por insatisfações com a cúpula. Ainda está sendo cogitada sua filiação para partidos da base governista federal, como PSD e PRB. Ele prestou depoimento à PF, e teve sua prisão relaxada no início da noite de hoje (18/6), mas permanece suspenso do cargo durante os próximos 30 dias, e proibido de retornar à prefeitura ou de conversar com qualquer envolvido na operação.
Às 21h30, o prefeito deu entrevista coletiva no escritório do seu advogado Dido Ptsica, quando se disse vítima da pior injustiça da sua vida e afirmou não ter qualquer envolvimento com os suspeitos, assim como negou que a sala segura à prova de monitoramento, onde seria vazadas as informações tenha sido instalada no seu gabinete.
O policial rodoviário federal Marcelo Roberto Paiva Winter, diretor de comunicação do sindicato da categoria (SINPRF-SC), preso igualmente de forma temporária, também foi liberado na noite de hoje. Os demais cinco detidos continuam presos.
ALCATRAZ: NEGÓCIOS COM EMPRESAS LARANJA LESAM COFRES PÚBLICOS EM R$ 130 MILHÕES
Ontem a juíza Janaína Cassol Machado, que está a frente do processo criminal da Operação Alcatraz pela Justiça Federal em Santa Catarina, autorizou a prorrogação por 15 dias do prazo para a conclusão do inquérito da Operação. A Alcatraz envolve desvio de recursos, fraudes em licitações e crimes tributários praticados por órgãos de Santa Catarina e de Florianópolis, como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Secretaria de Estado da Administração e outras empresas terceirizadas. O presidente da Assembléia Legislativa, deputado Júlio Garcia (PSD) também é citado muitas vezes no pedido de prisão de 11 acusados, detidos no dia 31 de maio deste ano, quatro deles em Florianópolis; quatro em São José; um em Antônio Carlos; um em Ituporanga e um em Vinhedo (SP).
Os indiciados permanecem presos e fazendo delações entre empresários e agentes públicos investigados por suspeita de envolvimento em esquema de fraude em licitações e contratos. Um dos presos é Nelson Castello Branco Nappi, considerado o cabeça do esquema que fraudava licitações. Os danos aos cofres públicos se aproximam de R$ 30 milhões, segundo estimativas da PF e de mais de R$ 100 milhões em sonegação de impostos, segunda avaliação da Receita Federal.
Segundo apurou a operação, de 2012 a 2015 a MAAB, empresa do ramo publicitário, emitiu notas frias em nome de empresas de fachada na área de segurança do grupo Ondrepsb e a Orcali, que por sua vez repassariam os valores para agentes públicos do Estado. Já há presos preventivamente na ação. Janaína é a mesma que autorizou a prisão do reitor Luiz Carlos Cancellier. O delegado Igor Gervini pediu a extensão da investigação para que os agentes tenham até o final de junho para concluir o inquérito.
Atualização:
Na quarta-feira (19/6), os advogados do prefeito tentaram suspender o seu afastamento no TRF4, mas não obtiveram êxito. Os quatro vereadores da oposição, Afrânio Boppré (PSoL), Marquito (PSoL), Lino Peres (PT) e Vanderlei Farias, o Lela (PDT), já emitiram duas notas conjuntas reivindicando informações da Polícia Federal para se posicionarem com mais clareza sobre o assunto, e evitar julgamentos ou absolvições sem profundidade. Por enquanto quem administra a capital é o vice-prefeito José Batista Nunes (PSDB).
Em live veiculada nesta sexta-feira, 21, na página do Facebook de Boppré, ele e o vereador Lino Peres afirmam que a oposição está muito apreensiva porque Gean Loureiro tem frequentado a Câmara de Vereadores e o seu gabinete, de onde entra e sai levando pastas e documentos. Querem saber que informações há nos equipamentos e celulares apreendidos e o possível envolvimento de outros funcionários públicos municipais nessa rede de tráfico de informações. “Se Gean diz que é vítima de uma armação, queremos saber quem é esse agente oculto que tem tanto poder e influência na vida da cidade”, afirma Boppré. Por que o prefeito, sendo apontado como o articulador da “Orcrim”, foi solto no mesmo dia da prisão e continua livre para passear no seu gabinete e recolher provas?
Nesta quinta-feira, 20/6, a revista Isto É publicou reportagem de capa na edição do fim de semana, intitulada “Cerco aos hackers” , afirmando que a PF está investigando as “possíveis ligações” entre a Operação Chabu, a Vaza Jato e a atuação de agentes cibernéticos em Santa Catarina, no Brasil, Dubai e Emirados Árabes. Segundo “investigações preliminares”, a PF teria encontrado conexões entre o jornalista investigativo Glenn Greenwald, do The Intercept, Edward Snowden, refugiado na Rússia, com os irmãos bilionários Nikolai e Pavel Durov. Os Durov são proprietários do programa de conversação em chat, o Telegram, de onde vazaram os diálogos entre o ministro da Justiça Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, revelados por Greenwald e sua equipe no escândalo conhecido também como Brasilgate. Finalmente, a PF teria encontrado ligações com Evgeniy Mikhailovich Bogachev, conhecido como Slavic, procurado pelo FBI sob a acusação de cometer crimes cibernéticos, que criou o vírus Cryptolocker e o código Zeus.
Conforme o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o órgão “acredita ter se aproximado dos hackers que invadiram a privacidade dos procuradores”. A relação conspiratória, clara tentativa de criminalizar os jornalistas do The Intercept e levar os denunciadores da tribuna para o banco dos réus, foi levianamente lançada em veículos brasileiros de direita desde o início da semana. Estão aí todas as tintas de mais uma farsa do ex-juiz que fraudou a justiça com seus processos persecutórios e seletivos, baseados numa relação de influência ilícita sobre os procuradores da Lava Jato e na manipulação dos autos de acusação para condenar em tempo record o ex-presidente Lula à prisão. Emparedado pelas revelações do site The Intercept, trazidas a conta-gotas, como uma morte lenta, Sérgio Moro precisa com urgência de qualquer subterfúgio pra sair da berlinda e partir para a ofensiva.
O único indício apontado pela revista de que a relação apontada por um perfil anônimo no twitter de forma grotesca pode merecer a credibilidade dos seus leitores é o fato de a PF dar importância a ela (SIC). “Embora parecesse inverossímil num primeiro momento, por conter erros de grafia e tradução, ISTOÉ confirmou que a PF segue sim o rastro da pista, considerada importante pelos agentes hoje à frente do caso.” Os métodos caluniosos e fantasiosos são os já conhecidos da sua lavra. Enquanto a PF sege as pistas do “Pavão Misterioso”, em Santa Catarina, ninguém entende os rastros da polícia, que parece encobrir na Operação Chabu a sua própria corrupção interna.
PRISÃO DE GEAN LOUREIRO: OPOSIÇÃO SE MANIFESTA (NOTA)
Florianópolis amanheceu com a notícia de que o Prefeito Gean Loureiro (sem partido) foi preso por fazer parte de uma suposta organização criminosa articulada para atrapalhar e impedir investigações da Polícia Federal.
Os vereadores signatários desta nota assumem o dever legal de se manifestarem publicamente nos termos do art. 37 da Constituição Federal. Somos sabedores que o método Gean de fazer política é questionável. Sem juízo definitivo, sua prisão indica que temos à frente da administração municipal um agente político que construiu sua trajetória por meios duvidosos e com provável quebra de princípio basilar da ética e da honestidade, agindo de modo incompatível com a dignidade e o decoro dos cargos.
Sua desvinculação recente das fileiras partidárias do MDB foi anunciada como decisão positiva para se afastar dos escândalos promovidos pelo seu partido. Para nós, essa decisão sempre representou mais uma estratégia eleitoral do que uma decisão sincera e de combate aos mal feitos de seu renegado partido.
Exerceremos nossa função parlamentar de fiscalização e estaremos atentos e vigilantes no nosso dever legal. Não tomaremos decisões por impulsos e nem por motivações midiáticas.
Certos que preparados estamos para qualquer desafio, buscaremos estar sintonizados com o sentimento de justiça, representando os interesses do povo florianopolitano.”
Afrânio Boppré – Vereador PSOL
Lino Peres – Vereador PT
Marquito – Vereador PSOL
Vanderlei Farias – Vereador PDT
NOTA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES DE FLORIANÓPOLIS SOBRE A PRISÃO DO PREFEITO GEAN LOUREIRO
O Partido dos Trabalhadores de Florianópolis mantém sistemática oposição ao governo de Gean Loureiro, uma vez que a política implementada pelo prefeito é diametralmente oposta à visão de mundo defendida por nosso Partido, tanto que nossa bancada atua como oposição ao paço municipal, com responsabilidade e de forma sempre propositiva, fato é que nosso projeto de cidade não cabe neste projeto implementado por Gean.
Contudo, mantemos a responsabilidade e coerência na defesa intransigente do estado democrático de direito, rechaçando práticas que ferem o princípio da presunção de inocência, do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal, para dizer o mínimo.
As prisões pirotécnicas como método tem sido a arma do estado policialesco que tanto combatemos nesses últimos tempos de nítido obscurantismo.
Que as investigações apurem adequadamente as respectivas responsabilidades cíveis, criminais e administrativas, mas sempre sob o holofote das regras do jogo democrático e das garantias e direitos individuais.
Vários são os exemplos de excessos cometidos pelas autoridades investigativas do Estado pelo País afora, sendo que em Santa Catarina, por exemplo, passamos pelo fatídico episódio que vitimou o Reitor Cancelier, cujo inquérito recém finalizado conclui sua total inocência.
Independente de apoiar ou não determinada figura pública e sua política, o foco deste tipo de ação policialesca espetacularizada precisa ser necessariamente pensada a partir do cabimento da prisão, seja ela flagrante, preventiva ou temporária, e o consequente risco que um Chefe do Executivo tem de fuga ou destruição de provas do eventual ilícito. Nesse caso, faz-se necessária uma rápida manifestação da Justiça Federal a respeito. A cidade, tanto quanto os indiciados e presos, merecem saber quais os motivos das suas prisões.
Florianópolis 18 de Junho de 2019
Executiva Municipal do Partido dos Trabalhadores de Florianópolis
Os EUA estão preparando perto da fronteira da Venezuela uma provocação “em grande escala”, afirmou nesta sexta-feira (22/02) o Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
“A evolução dos eventos na Venezuela se aproximou de um patamar crítico, todos o entendem. Para o dia 23 de fevereiro está agendada uma provocação perigosa em grande escala: a passagem da fronteira da Venezuela, estimulada e liderada por Washington, do chamado comboio de ajuda humanitária, que pode levar ao confronto entre apoiadores e opositores das autoridades atuais e à criação de um pretexto conveniente para uma ação militar de afastamento do poder do presidente legítimo do país”, disse a porta-voz do ministério, Maria Zakharova.
Segundo ela, os EUA estão transferindo forças especiais e equipamento militar para perto da Venezuela. “Washington está realizando preparos para uma provocação, fazendo-o conforme todas as regras da arte militar […] Foi registrada a transferência de forças especiais norte-americanas e equipamento militar para mais perto do território venezuelano”, apontou.
Além disso, Zakharova apontou que os EUA e a OTAN estão estudando a questão de entrega de armamento à oposição venezuelana.
“Existem dados de que empresas dos EUA e seus aliados da OTAN estão estudando a questão da aquisição, em um dos países da Europa Oriental, de um grande lote de armamentos e munições para sua entrega posterior às forças opositoras da Venezuela”, comunicou a representante oficial.
Segundo ela, trata-se de exemplares e análogos de metralhadores pesadas, lança-granadas acoplados e automáticos, lançadores de mísseis antiaéreos portáteis e munições para armamento ligeiro e artilharia.
Zakharova afirmou que as provocações dos EUA na Venezuela, caso sejam realizadas, aumentarão drasticamente o nível de tensão e o ambiente de confrontação no mundo.
“Caso os planos dos organizadores da provocação sejam realizados, isso significaria que a política externa agressiva dos EUA passaria para um novo nível, para o caminho do aventureirismo militar. Mas esse é um caminho para baixo. Ocorrerá um agravamento drástico da tensão, um salto no ambiente de confrontação no mundo”, disse.
Na primeira fotos vemos as mulheres depois de 1979, momento no qual o grupo Terrorista Talibã já havia tomado o poder, enquanto na segunda vemos a situação feminina antes do Talibã, no governo democrático
Maryia é uma jovem afegã que trabalha na secretaria especial da presidência de seu país, mais precisamente na pasta sobre a Rússia. É formada em direito e ciências políticas, representou o Afeganistão diversas vezes em eventos internacionais, como o World Festival of Youth and Students (2017), na Rússia. É fluente em russo, inglês, e sua língua natal, árabe. Representa seu país na plataforma Future Team, criada pelo governo russo. Ela escreveu esse relato como parte do grupo Born as Many, Grown as One. Como trabalha para o governo preferiu ocultar seu sobrenome, por uma questão de sobrevivência. A tradução do relato foi realizada por Laís Vitória Cunha de Aguiar, repórter dos Jornalistas Livres. Leia o relato, na íntegra, abaixo.
Meu nome é Mariya do Afeganistão e eu vivo em Kabul.
Eu era uma garota pequena quando a guerra começou no Afeganistão, assim que o governo entrou em colapso e o presidente da República Democrática do Afeganistão, Dr. Najibullah, foi morto pelo Taliban. Assim a guerra continuou até que a NATO (North Atlantic Treaty Organization) intervisse. Mas a guerra continuou da mesma forma, e prossegue até hoje.
Meu pai estava trabalhando para o governo Democrático como presidente do Partido Democrático na minha província, Parwan, por isso ele não pôde voltar para o Afeganistão, pois era possível que ele fosse morto como comunista ou apoiador do regime. Nós vivemos como refugiados em Moscou por dois anos, e depois fomos para o Tajakistão, onde eu, minha irmã e irmão terminamos o Ensino Médio em uma escola russa em Dushanbe. Após muito tempo vivendo fora de meu país, meu pai decidiu voltar a nossa terra natal, em 2008 e nós voltamos para Kabul.
Hamid Karzi era o presidente da República Islâmica do Afeganistão e tudo havia mudado com esse regime: pessoas, ideologias e o país. Tudo mudou negativamente. Nós começamos a viver e estudar em Kabul e no início foi muito difícil para uma garota que cresceu fora do país. Tudo era muito assustador, especialmente o comportamento das pessoas. Quando eu saía para compras, escola ou para ir ao escritório, me tratavam mal e especialmente outras mulheres. Vi homens que não respeitavam mulheres ou garotas vivendo normalmente, indo ao escritório ou estudar na universidade.
Então eu comecei indo a escola e assistindo 12 aulas de formação para que pudesse ter o certificado da escola afegã, e entrar na universidade com documentos afegãos.
Infelizmente não consegui passar pelos testes governamentais para estudar Direito e Ciência Política na Universidade de Kabul, que era a graduação que eu mais queria, para me tornar uma advogada ou pelo menos, algo para conseguir trabalhar no governo.
Quando não consegui passar no mais complicado teste, percebi que era impossível alcançar meu desejo. Muitos jovens que desejam realizar a graduação em um país estrangeiro, têm facilidades para realizá-lo, graças aos governos desses países, que às vezes disponibilizam facilidades, mas o governo afegão fez o sistema educacional muito complicado, e muitos estudantes são reprovados ou não sabem para qual faculdade serão selecionados, o que mata a fé dos estudantes esforçados de se tornarem, no future, alguém que gostariam de ser.
Depois fui para uma universidade privada começar a graduação em Direito e Ciência Política. Não era melhor que a Universidade de Kabul, mas eu precisava completar minha educação.
Eu estudei nessa faculdade, porém ainda encontrei muitas dificuldades, como má qualidade do ensino, má organização das aulas, administração da universidade ou atenção apenas ao dinheiro.
Por eu falar em alto e bom tom sobre a qualidade do ensino, os administradores da universidade pegaram meus documentos e me expulsaram. Dói muito pensar nisso e foi terrível porque eu era a liderança de todos os estudantes que queriam lutar por seus direitos. Meus amigos ficaram ao meu lado e não permitiram que a administração da universidade me expulsasse definitivamente.
Depois de enfrentar todos esses problemas, finalmente terminei a graduação e estava me preparando para conquistar um trabalho no Ministério de Relações Exteriores.
Primeiramente comecei um trabalho como uma estagiária, aprendi a trabalhar no escritório, mas infelizmente isso continuou por dois anos: fiquei sem salário por dois anos. O chefe não me ajudou em nenhum momento para conseguir trabalhar oficialmente no Ministério das Relações Exteriores. Trabalhar lá inicialmente foi interessante, pensei que lá estavam as pessoas mais bem educadas, com muitos valores e experiências no trabalho diplomático.
Pensei que por estarem exercendo uma tarefa for a do país, saberiam respeitar mulheres e seus direitos.
Mas muitos desses diplomatas eram homem que chegaram ao poder de uma forma muito fácil, como sendo parentes ou amigos de alguém que era chefe em algum departamento do ministério. Esse tipo de conexão no Ministério de Relações Exteriores fez com que eu perdesse a esperança, porque não conhecia ninguém e sabia que merecia trabalhar ali, já que sei russo, inglês, estudei Direito e Ciências Políticas.
Apesar da minha falta de esperança, continuei a trabalhar, e então comecei a ouvir algumas falas sobre como algumas mulheres e garotas fariam sexo com os chefes dos departamentos, para se tornarem oficiais do Ministério de Relações Exteriores, futuras diplomatas.
Algumas mulheres fizeram e provavelmente continuam a fazer porque ali, essa é a única maneira de trabalhar fora do país e conseguir salários mais altos, altas posições, alcançar poder e se tornar conhecida no Ministério de Relações Exteriores.
Fiquei chocada quando soube que muitos homens do ministério usavam as mulheres para seu benefício sexual: abusam e forçam garotas que querem ser bem sucedidas a fazerem sexo com eles. Se você quer sucesso, dinheiro, e trabalho fora do país essa é a única forma de alcançá-lo, a não ser que você tenha algum parente ou amigo bem posicionado na instituição A realidade é um risco muito grande para mulheres afegãs, especialmente para mulheres muçulmanas, mas mesmo assim elas se submetem a isso.
Quando comecei a testemunhar esse dilema, cheguei a conclusão de que o governo criado pelos EUA e pela NATO trouxeram a maior instabilidade econômica, corrupção, produção de drogas, a pior segurança possível em uma guerra sem fim, e sendo assim nunca iremos nos desenvolver ou encontrar um caminho próprio.
Homens matam jovem de 19 anos a pedrada após ter sido considerada culpada por adultério. (Foto por: RFE/RL’s Radio Free Afghanistan)
As mulheres são orgulho mundial, heroínas que defenderam nossa pátria no período de guerra com o Reino Unido, e até hoje, essas mulheres são as heroínas que trabalham quando seus maridos morrem na guerra, que protegem e criam seus filhos sozinhas, com pouquíssimo ou nenhum dinheiro. Eu vejo como o governo e como os homens dessa sociedade as humilham e insistem em fazer com que as mulheres façam o que não querem.
As mulheres eram obrigadas a se manter totalmente cobertas durante o regime do Talibã. Em 23 de fevereiro de 2007, quando a foto foi tirada, o conflito ainda perseverava. (Foto por Ahmad Masood/Reuters)
Deixei o Ministério de Relações Exteriores e fui encontrar trabalho na Representação Especial do Presidente, porque eles precisavam de alguém que soubesse russo, então consegui o trabalho, sem ser amiga ou parente de alguém.
Sou a única mulher no escritório e me sinto confortável aqui, tenho colegas legais, todos estudaram na Federação Russa e me respeitam. O escritório é parte da Administração Presidencial. O que acontece em outras partes da Administração e como as mulheres são tratadas, eu não sei. Mas tenho certeza que não deve ser muito diferente, há corrupção em todas as instâncias administrativas de meu país e mulheres podem enfrentar sérias dificuldades como as que narrei.
Agora eu vivo em um país como o Afeganistão, onde um dia, foi parecido com um paraíso da Ásia Central, por causa da sua natureza, cultura, segurança e economia baseada na agricultura.
Foto de 1972, antes que o presidente fosse morto e o Talibã tomasse o poder. (Foto por: Amnesty.org)
Mas oportunidades são pequenas. Éramos uma nação feliz. Meus avós eram felizes por serem afegãos, mas agora, minha pátria mudou e eu não estou orgulhosa. Sou simplesmente uma garota afegã tentando sobreviver em um país atroz.
Não estou feliz com as mulheres sendo forçadas a seguirem um caminho que não merecem. Nunca terei orgulho disso. Sou uma garota afegã.