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  • Ciro Gomes revogará desmonte promovido por Temer

    Ciro Gomes revogará desmonte promovido por Temer

    Ciro Gomes revogará, se eleito, a mudança na partilha do pré-sal. Vai, também, declarar as terras que estrangeiros venham a comprar no Brasil como prioritárias para a reforma agrária. E conclamou Lula, Marina e outros pré-candidatos à presidência em 2018 a se comprometerem a fazer o mesmo. Afirma ele que essa atitude, no mínimo, gerará incerteza política nos compradores que se aliarem ao desmonte do Estado brasileiro promovido pelo, em suas palavras, “canalha que nos governa”.

    Ciro, anunciado como pré-candidato pelo PDT à Presidência da República, falou a sindicalistas e conselheiros da Confederação Nacional dos Trabalhadores Universitários (CNTU), na sexta 18/08, em São Paulo. Ele aproveitou para compartilhar sua avaliação do momento político e econômico brasileiro: “não há defeito genético no Brasil” e isso foi demonstrado pela taxa de crescimento que atingimos entre 1030 e 1980, e ainda não equiparada por nenhuma outra nação, assegura.

    “São três as razões que proíbem o Brasil de crescer”, enumera ele. A taxa de juros altíssima, em um momento de forte recessão brasileira e taxas nulas ou negativas ao redor do mundo, desestimula o investimento e agrava as finanças públicas. A taxa de juros pode ter algum efeito sobre a inflação quando há sobredemanda e assim mesmo com muitas restrições, pois há peculiaridades importantes no mercado de crédito a juros brasileiro, como “a montanha de crédito dirigido”, que fazem a taxa de juros não ter o mesmo efeito que em outros países e só contribuir para um custo impagável, R$ 400 bilhões esse ano, da dívida pública, reitera ele.

    O segundo motivo, alinhavado por ele, é o colapso das finanças públicas que nos impinge à menor taxa de investimento público desde a segunda Grande Guerra. Além do baixo investimento público, Ciro pergunta se algum empresário “investe para aumentar a capacidade ociosa.” Temos no Brasil hoje, informa ele, 30% de capacidade ociosa nas empresas.

    Por fim, sustenta que os golpistas nos impuseram um “paradigma econômico mofado”, o neoliberalismo, para conduzir a política econômica. Ciro afirma reconhecer a importância da iniciativa privada. Declara, entretanto, que não há experiência histórica de desenvolvimento provocado exclusivamente pelo espontaneísmo do mercado.

    No quadro político ele destaca que a figura “escabrosa” de Romero Jucá esteve na liderança do governo de Fernando Henrique Cardoso, dos governos petistas e, agora, está na liderança do governo golpista de Temer. “O Brasil não cabe na disputa entre coxinhas e mortadelas”, declara ele. “Da divisão, quem leva é a quadrilha do PMDB”, conclui.

    “Há uma repulsa contra nossa representação [legislativa] que nós mesmos construímos”, e emenda que “nossa história brasileira não é uma história democrática, ao contrário, nossa história é violenta, autoritária e com pouca vocação para a democracia.”

    “A reforma política em curso é uma aberração.” As mudanças impedirão o voto identitário. “Temos que radicalizar o barateamento das campanhas” e aperfeiçoar o controle social sobre a promiscuidade entre poder econômico e poder político, opina ele.

    Ciro conclui que para o empresário tomado individualmente o salário pode representar um custo. No entanto, a massa de salários é a responsável pela escala que tornará competitivo o empresário e viabilizará o escoamento de sua produção. “Não será pela vileza com o salário que vamos prosperar”, conclui o pré-candidato à Presidência da República em 2018.

  • Sarney: “eles não aceitam nem parlamentarismo com ela”

    Sarney: “eles não aceitam nem parlamentarismo com ela”

    Corremos grande risco de nos enganar quando tentamos aprofundar uma análise antes que o calor dos acontecimentos se dissipe. No entanto, é preciso correr esse risco se queremos escolher de qual lado ficar, se queremos influir no desenrolar da história.

    O que conseguimos enxergar, hoje, nessa disputa pelo poder no Brasil? Vamos tentar montar um quadro com as declarações feitas sobre a presidenta Dilma nas gravações vazadas e ações que ela tomou nesses 17 meses de seu segundo mandato, especialmente no campo econômico.

    Dilma teve altos índices de popularidade, em seu primeiro mandato, até as manifestações de junho de 2013. Esses eventos, ainda que não consigamos entendê-los completamente, foram muito bem organizados para terem sido espontâneos. Sua aprovação desaba, mas mesmo assim vence as eleições em 2014, já tendo a oposição da elite política e econômica, bem como de ampla parcela da classe média.

    Entendemos a designação de Joaquim Levy e a linha neoliberal adotada em 2015, ajuste das contas públicas e reajustes abruptos de preços públicos no meio de uma recessão, como uma tentativa de conciliação, como um gesto de Dilma para conquistar apoio ao seu governo, após uma eleição que evidenciou a divisão entre dois projetos de país. Um projeto centrado na questão social, na diminuição de desigualdade com forte intervenção do Estado, por um lado, e um projeto privatizante com redução do Estado e de direitos sociais, por outro.

    A recessão, com aumento do desemprego, e a alta inflação foram resultantes das políticas adotadas por Levy e avalizadas por Dilma. Embora passível de discussão, a recessão e a inflação foram, no mínimo, agravadas pela busca de austeridade em meio a enorme incerteza política e debilidade econômica. De todo modo, a linha de política econômica adotada faz brotar críticas daqueles que votaram em Dilma. Seu nível de apoio político atingiu níveis assustadoramente baixos. A presidenta ficou quase só.

    No entanto, não sabíamos, imaginávamos, mas não tínhamos certeza, das movimentações subterrâneas que agora são trazidas à luz pelas gravações que têm sido divulgadas. As medidas contrárias aos direitos sociais adotadas pelo governo interino e as revelações gravadas culpando Dilma por não interceder nas investigações de corrupção dão as cores do golpe em curso.
    Ressaltemos que nunca houve tanta liberdade para que a Polícia Federal, o Ministério Publico e o Judiciário investigassem – o governo Dilma é o primeiro a abrir tamanho espaço.

    Vamos lembrar que o delator Delcídio afirmou que quem detinha o poder em Furnas era Eduardo Cunha e que Dilma o desalojou. Delcídio afirma ser essa a razão da vingança do ex-presidente da Câmara. As gravações mostram, ainda, o presidente do Senado, Renan Calheiros, revelando com grande ênfase a ira dos ministros do Supremo Tribunal Federal com a presidenta.

    A crença na independência do Judiciário, cantada em verso e prosa, fica absolutamente abalada e carente de explicações, quando o ex-presidente Sarney promete a Sérgio Machado que, sem advogado, não o deixará cair nas mãos de Sérgio Moro. As cartas da operação Lava-Jato são dadas pelos mais corruptos políticos?

    As gravações “acusam” Dilma, sobretudo, de ter “deixado” as investigações da Lava-Jato se aprofundarem demais. Sarney e Machado, na gravação divulgada em 25/05, concordam que Dilma não se “solidarizou” nem com Lula. As revelações da investigação atingiram fortemente o Partido dos Trabalhadores e a base de sustentação do governo e trouxeram à luz esquemas de corrupção que, de fato, viscejaram nos governos petistas. A grande imprensa e a oposição foram extremamente eficientes em criar a impressão de que havia corruptos apenas no Partido dos Trabalhadores. Aproveitaram-se da imagem já arranhada do partido por conta do mensalão.

    Vamos montar o mosaico?

    Dilma foi reeleita. A campanha sistemática dos meios de comunicação tradicionais mobilizou grande parte da classe média e elites econômica e política na oposição a ela. Ela tentou um programa econômico conciliador, mas perdeu apoio de quem a elegeu, sem conseguir novos apoios. Nenhuma medida que enviou ao Congresso, para fazer frente à crise econômica, foi aprovada. Sem holofotes, políticos e empresários investigados ou temerosos com as investigações tramaram sua queda. Contavam com a ira do Judiciário contra ela. “Não tem nenhuma saída para ela”, profetizou Sarney para o delator Sérgio Machado.

    Não contavam, no entanto que, mesmo com críticas profundas ao Partido dos Trabalhadores, diversos setores perceberíamos o golpe. Percebemos a seletividade e a morosidade suspeitas do Judiciário, percebemos o rancor que Dilma gerou nos políticos por não impedir as investigações, percebemos o enfurecimento da elite econômica e da classe média por garantir direitos sociais aos mais pobres, percebemos quantos investigados compõem o governo interino, percebemos que a democracia está suspensa. Percebemos, com os primeiros atos do governo interino, que conquistas importantes na renda dos mais pobres, na habitação, na cultura, na saúde, na educação, estão sendo destruidas.

    Percebemos o golpe e decidimos enfrentá-lo. Não tem mesmo saída para ela?