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  • Estúpido homem branco

    Estúpido homem branco

    Por: Roberto Ponciano*

     

     

    Wilhelm Reich é, sem sombra de dúvida, um dos comunistas mais malditos na história. Com sua teoria do orgasmo, conseguiu ser odiado pelos nazistas, pela sociedade de psicanálise, pelo Partido Comunista Alemão e pelo Comintern, e quando se julgava tranquilo, já no período final da vida, cantou loas à “democracia estadunidense”, com certeza seu maior engano, e foi preso e assassinado com algum tipo de veneno numa injeção. Ele pintou com maestria o nazismo, a “praga psíquica” que assolava a Alemanha, em seu livro ‘Psicologia de massas do fascismo’, e mostrava que o nazismo não era um fenômeno puramente econômico, mas tinha suas raízes na miséria moral, no recalque, na violência, no ressentimento. O nazista é, por definição, o homem ressentido.

    O homem branco estúpido, com seu terror homossexual (medo psiquiátrico das próprias pulsões sexuais), seu ressentimento pela própria estupidez e deslocamento na sociedade, seu naufrágio num mundo de empregos precários, em que ele cada vez e menos faz parte de uma classe média brasileira que nunca foi uma classe média clássica, e cada vez e mais faz parte de um lumpesinato de serviços precários; mas que quer salvar-se desta deriva ao criar uma imagem narcisista no espelho de ser o descendente do colonizador branco.

    Estes milhões de lumpesinato pobre ou remediado, sem nenhuma perspectiva de futuro e nenhum projeto ideológico social, esta massa difusa e caótica, foi o público que o nazismo bolsonarista achou para crescer como cogumelo na chuva.

    Junta-se a isto igrejas da terceira onda neopentecostal, da teologia da prosperidade, que cada vez são menos igrejas e cada vez mais são partidos políticos ultrafascistas (de submissão das mulheres, homofóbicos, de pregação do medo ao comunismo imaginário). Estas entidades se organizam como verdadeiras células, bairro a bairro, rua a rua, e o que elas menos fazem é pregar a transcendência. Além da magia simpática mais primitiva, prometendo curas impossíveis, através de indulgências, o que elas fazem é criar uma ideologia na qual Deus é Mamon, é o capital, e numa estranha jogada de consórcio de Deus, onde pessoas compram a ajuda divina visando a ter sucesso pessoal e financeiro.

    Esta mistura bizarra é o combustível e o exército que anima o bolsonarismo, o nazismo brasileiro. E não nos iludamos, vai sobreviver a Bolsonaro. E vai sobreviver por um fato. Eles são ideológicos. O fascismo saiu do armário e assumiu todas as suas posições: a misoginia (pregada inclusive por “mulheres antifeministas” – o que corrobora o fato que além de Marx é necessário ler Freud e Reich para entender o nazismo), a homofobia, o ódio à esquerda, a mitologia louca de um nacionalismo sem projeto, que não vai além de vestir verde e amarelo e clamar contra o comunismo, ao mesmo tempo que se entrega todo patrimônio nacional. O fantasma do comunista andante imaginário os anima e os une, da mesma forma que na Alemanha Hitler criou o mito do comunismo andante.

    Por sua vez a esquerda não tem combatido o nazismo por três razões:

    Não nomeia o bolsonarismo como nazismo ou fascismo e é tímida em combater, por exemplo, pastores que transformam suas igrejas em partidos fascistas, porque, como esquerda eleitoral e com projeto alicerçado sempre no coeficiente eleitoral, tem medo de “magoar” eleitores que seguem pastores de política assumidamente fascistas, como Malafaia e Feliciano;

    De outro lado, como uma esquerda com um projeto puramente eleitoral, a resposta à radicalização da direita é tentar disputar votos sem “se mostrar ideológica”, mesmo frente a setores da direita cada vez mais radicalizados e definidos, porque organizados ideologicamente. Portanto, a esquerda não trava combate ideológico com estes setores;

    Como o projeto passou a ser puramente eleitoral, as máquinas partidárias da esquerda não se organizam mais territorialmente e não formam militantes. Pelo contrário, formam e conformam máquinas eleitorais que são preparadas para disputar eleições de 2 em 2 anos.

    Assim, a direita fica cada vez mais ideológica e organizada enquanto a esquerda brasileira é cada vez mais pulverizada, “horizontal”, desorganizada e doente do chamado cretinismo parlamentar. Vive quase que inteiramente para eleição, sendo sua base no movimento social apenas uma base de apoio para os movimentos eleitorais. Isso explica a falta de reação ao golpe contra Dilma e as dificuldades para organizar grandes ações de rua contra Temer e agora contra Bolsonaro.

    É óbvio que este artigo não tem como objetivo dizer que não devemos dar importância às eleições, não é um artigo de um esquerdista lunático que vive repetindo nas redes sociais “vamos para as ruas”, mas faz algumas constatações óbvias:

    A. A direita nazifascista organizou-se e veio para ficar. É ideológica, ainda que sua ideologia seja caótica e confusa, mas suas máquinas de fake news e suas organizações financiadas por empresários (Mises, MBL, etc), tem formado militantes orgânicos que retroalimentam suas fileiras, fora as organizações paramilitares milicianas ligadas ao bolsonarismo e as células de algumas igrejas que hoje são organizações políticas fascistas.

    B. A resposta da esquerda foi fazer “autocrítica” eleitoral e das alianças. Mas não basta para enfrentar esta onda. É necessário repensarmos a organização territorial e a formação de militância, inclusive de vanguarda política, com formação política pesada financiada pelos partidos, assim como a profissionalização da nossa rede da web (que está na pré-história da web), com pesado investimento nestas duas vertentes, para podermos voltar a disputar corações e mentes, de igual para igual com a direita.

    A precarização do trabalho cria um exército de lumpesinato desesperado facilmente capturável pelo discurso atávico e de medo do Bolsonaro, ou de salvação mágica de igrejas que hoje são suas aliadas. E nós não estamos oferecendo nenhuma alternativa a isto. Ou voltamos a fazer a disputa ideológica cotidiana, rua a rua, bairro a bairro, ou não construiremos jamais os sujeitos coletivos capazes de derrotar o nazismo, a hegemonia da direita (fascista ou não) e nos dar a possibilidade de conseguir uma hegemonia junto ao povo para voltar ao poder.

     

    *Roberto Ponciano é professor, filósofo, escritor e comunista.

  • Poesia contra a barbárie na obra de Lorca e Neruda

    Poesia contra a barbárie na obra de Lorca e Neruda

     

    O que existe em comum entre Federico Garcia Lorca e Pablo Neruda além de estarem entre os poetas mais amados da língua hispânica? A luta contra o fascismo e a morte trágica: Lorca, uma das primeiras vítimas franquismo espanhol, executado por suas idéias e orientação sexual, e Neruda morto no hospital 11 dias depois do golpe contra Allende, no Chile, sob fortes suspeitas de ter sido assassinado com uma injeção letal. Muito dessas histórias, resultado de longa pesquisa do mestre em Filosofia e Letras Neolatinas, Roberto Ponciano, pode ser lido agora no Brasil com o lançamento do livro Neruda e Lorca, dois poetas rojos.

    Comunista e apaixonado por literatura, Ponciano, dono de uma alma ´roja´ latino-americana, destrincha as mútuas influências na arte, na coragem e na militância pelas causas populares de Lorca e Neruda. Já disponível na Editora Martins Fontes e nas livrarias Travessa, Saraiva, Cultura e na Amazon, pela internet por apenas R$ 39, Neruda e Lorca, dois poetas rojos faz o leitor mergulhar num mundo de reflexão e magia, mais do que necessárias, nos tempos sombrios de ascensão das ideias nazi-fascistas, da intolerância e da homofobia. Num tempo em que a arte e cultura, em quase todas as suas nuances, têm sido demonizadas.

    Para Ponciano, “urge ler, reler e debater a obra Lorca, expressão da um dos momentos mais gloriosos da literatura hispânica –a geração de 27– e de Neruda, Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Esse novo livro  é o resultado, mais que oportuno, do meu mestrado em Letras Neolatinas, concluído em 2015, na UFRJ, quando me dediquei à pesquisa sobre a confluência entre os dois poetas”.

    Apesar de já estar disponível via internet, Ponciano vai realizar no dia 15 de março, quando acontece o SAMBA PELA DEMOCRACIA, no Baródromo (Lapa), o lançamento oficial de Neruda e Lorca, dois poetas rojos com toda a cultura, resistência e militância que a obra merece.

    Ponciano é ex-presidente do Sindicato dos Servidores da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, além de professor, tradutor e filósofo. Outros livros do autor são: Feitiços-contos eróticos (2003), Notas Políticas (2008), Cosmópolis (2012), sobre a utopia comunista e Marxismo e Filosofia Contemporânea (2016).

    O livro está disponível em https://www.martinsfontespaulista.com.br/dois-poetas-rojos-neruda-e-lorca-635795.aspx/p

    E logo estará disponível na Saraiva, Cultura, Travessa e Amazon.

    Veja abaixo o convite para o evento oficial de lançamento:

    Samba pela Democracia!
    Venha festejar a democracia e dizer não ao avanço do fascismo!
    O evento é aberto a tod@s democratas antifascistas.
    Compartilhe, divulgue!
    Lançamento do livro Neruda e Lorca, dois poetas rojos, de Roberto Ponciano.
    Venda do livro e tarde de autógrafos.
    Shows de Dorina e conjunto Zambelê.
    Couvert artístico de 10 reais.
    A casa servirá uma feijoada (não incluída no couvert, paga à parte) e diversas outras opções.
    Quem comprou o livro na pré-venda, receberá, in loco, no dia. https://www.facebook.com/events/614657439298586/?notif_t=plan_user_joined&notif_id=1580074384314271