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Tag: Rico Dalasam

  • SPFW Proporciona uma imagem que fala de todos nós

    SPFW Proporciona uma imagem que fala de todos nós

    Neste último domingo, 28 de Abril, último dia do evento de moda São Paulo Fashion Week , o modelo Tales Cotta, 26 anos de idade, teve um mal súbito enquanto desfilava para a marca Ocksa. Horas depois, mesmo com a confirmação do seu falecimento, a organização, as marcas e demais envolvidos decidiram pela continuidade do cronograma de desfiles, observando-se um minuto de silêncio na abertura de cada um.

    A marca Cavalera encerrou o evento com um desfile que trouxe modelos trans e não binários. Estava escalada ainda uma performance do rapper Rico Dalasam. De posse do microfone, Rico fez um protesto contra a continuidade do evento a despeito da morte de Tales Cotta.

    Sem entrar no mérito do protesto de Rico Dalasam, da história pessoal dos indivíduos ali presentes ou mesmo da decisão de continuar o evento, as imagens que circularam nas redes sociais trazem um peso amargo e muito simbólico dos tempos que vivemos. É do peso dessas imagens que trata o video-ensaio que aqui publicamos.

     

  • Quem consegue estudar na USP?

    Quem consegue estudar na USP?

    A luta por uma USP aberta para o povo não é nova, mas apenas agora, a universidade mais importante do país se move da posição de lanterna para tentar deixar para trás o histórico de elitismo com racismo. Mesmo com a recente adoção de cotas, entrar na USP é uma dificuldade para os estudantes pobres, que são historicamente em sua maioria, negros.

    Além de ter que superar um sistema de educação pública falho e deficiente (em boa parte por conta da falta de investimento proposital do governador tucano de Geraldo Alckmin), alunos competidores que vem de verdadeiros centros de “treinamento militarizado” que são os cursinhos e um vestibular opressor, as dificuldades para muitos estudantes começam antes mesmo das inscrições para fazer a prova da Fuvest, o vestibular para a USP. Estamos falando do preço desestimulador da inscrição. Se o estudante pobre, aquele que estuda em sua maioria em escolas estaduais e que geralmente mora nos extremos das cidades não desembolsar R$170,00, esqueça! Neste ano ele não fará a prova da FUVEST. Não podemos esquecer de um dos maiores sistemas  de vestibular do mundo, o ENEM, outro que cobra o também salgado preço de R$82,00.

    Com esse valores que só pensam na alimentação do capital, a maioria dos estudantes brasileiros são desestimulados e não conseguem disputar uma vaga na Universidade de São Paulo. Ainda que exista a possibilidade de isenção de taxa ou desconto, o processo ainda é tão burocrático e desestimulador quanto pagar os R$ 170,00. Para conseguir a isenção, é necessário que os candidatos comprovem renda máxima familiar de R$ 1.405,50 mensais por pessoa. Já o desconto de 50% é liberado para pessoas com renda individual de até R$ 1.873,99 e renda familiar de R$ 1.406 a R$ 2.811 ou que provem que estão desempregados. Mas, não é só declarar essa ou aquela renda e ser beneficiado. O imbróglio é bem maior do que isso. No site da FUVEST a orientação é clara:

    “O primeiro passo para realizar o pedido, é acessar a área de Usuários no site da Fuvest, e se cadastrar utilizando o número de Cadastro de Pessoa Física (CPF). (…)Até o dia 7 de agosto, o candidato deverá escolher quais das duas modalidades de solicitação suas condições pessoais se enquadram (isenção ou redução da taxa de inscrição). Depois, é preciso preencher o formulário pelo site, imprimi-lo e assiná-lo; e adicionar as cópias simples dos documentos pessoais e dos comprovantes da situação socioeconômica. Todos esses papéis deverão ser encaminhados em correspondencia registrada, postada nos correios até 8 de agosto, em envelope endereçado a:

    Redução/isenção Fuvest 2018
    Fuvest – Fundação Universitária para o Vestibular
    Rua Alvarenga, 1945/1951
    05509-004 – Butantã – São Paulo, SP.

    Até dia 18 de agosto, a Fuvest disponibilizará em seu site, na área “Usuários”, a consulta individual do resultado da solicitação.

    Importante: Os contemplados com isenção ou redução na taxa de inscrição NÃO são automaticamente inscritos no vestibular Fuvest 2018. É preciso, posteriormente, fazer a inscrição no período de 21 de agosto a 11 de setembro, no site que será indicado pela Fuvest.”

    Lilith Cristina, candidata a vaga na USP

    Então perceba que além de diversos “papéis” que devem comprovar se o candidato não pode mesmo pagar os R$ 170,00, se aprovado para isenção ou desconto, o estudante ainda não está inscrito para fazer a prova. São inúmeras barreiras que já fazem uma pré-seleção minuciosa de quem entra e de quem não entra na maior universidade do país. Tudo isso, dá corpo para a característica elitista da USP, uma das razões, para só em 2017, passar a ter cotas para negros.

    Lilith Cristina, integrante da ColetivA Ocupação, grupo de estudantes que se conheceram durante as ocupações secundaristas de 2015 e que hoje, além de estarem prestes a entrar na universidade, fazem intervenções artísticas e culturais por SP, declara: “sou negra, agora eu só estudo, não trabalho, mas posso pagar a taxa, tenho a ajuda de meus pais, mas e o restante? as pretas e pretos que trabalham e estudam? esses vão juntar essa grana absurda, vão pagar a taxa e se passarem, provavelmente não conseguirão se manter no campus. É tudo muito caro. Transporte, alimentação, material é tudo muito inacessível para quem não tem uma família que possa apoiar financeiramente. Isso é um absurdo.”

    SOS Isenção

    Artur Santoro, um dos organizadores da festa e membro do coletivo “Por Que a USP Não Tem Cotas?”

    Para  ajudar os candidatos que não conseguiram isenção e não tem como pagar a taxa de inscrição o coletivo “Por que a USP não tem cotas?” vai organizar uma festa beneficente que vai reverter os ganhos para o pagamento da taxa de quem precisar. Com Rico Dalasam e MC Dellacroix a festa busca conseguir ajuda de que não está tão próximo ao movimento. O evento vai acontecer nesta sexta feira (01/09) das 23:00h com previsão de termino as 05:00h do sábado, no FLASH CLUB (R. Rego Freitas nº 56).

    Artur Santoro, estudantes de Ciências Sociais, um dos organizadores da iniciativa, conta:

    “a festa é como uma continuação da nossa luta por cotas. Conseguimos conquistar uma política de cotas na USP, que ainda não é a ideal, visto que não contempla as reivindicações do movimento indígena, mas já é um enorme avanço. O coletivo ‘Por que a USP não tem cotas?’ usa a estratégia das festas beneficentes, porque a gente acha que é uma boa forma arrecadar fundos para quem não têm condições de estar na USP. Isso é um instrumento de nossa luta, ajuda a colaborar com a juventude negra periférica. Lutamos para tornar a USP cada vez mais preta e indígena.”

    Histórico

    A USP foi a última universidade pública de São Paulo a adotar o sistema de cotas. A Unesp adota o sistema desde o vestibular de 2014, a Unicamp aprovou em maio deste ano a adoção do sistema já para 2018 e a USP aprovou no ultimo junho. As universidades federais já adotam a política de cotas desde 2012 quando entrou em vigor a  Lei nº 12.711/2012.

     

    Para pressionar o conselho universitário a adotar a política de reservas de vagas alguns alunos da USP criaram no ano passado o coletivo “Por que a USP não tem cotas?”  que passou desde 2016 a organizar atos que mobilizassem a opinião pública, cidadãos e os alunos da universidade para engrossar a revindicação. O movimento realizou também duas festas para a luta por cotas. Uma em 2016 e outra em junho deste ano realizadas pela luta por cotas e também contou com músicos de grande nome para garantir o apoio. Um mês depois da festa o conselho universitário aprovou a adoção de cotas em 2018.

  • Artistas fazem ‘Virada Penal’ contra a redução da maioridade nesse fim de semana em SP

    Artistas fazem ‘Virada Penal’ contra a redução da maioridade nesse fim de semana em SP

    Centenas de pessoas e movimentos estão se reunindo quase que diariamente — inclusive neste momento — por uma causa urgente: organizar, em menos de três meses, uma grande mobilização social contrária à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da redução da maioridade penal, antes da sua votação em plenário na Câmara dos Deputados.

    Enquanto os trabalhos contra a redução ganham dimensões nacionais, o silêncio da imprensa tradicional diante dos movimentos passa uma falsa sensação de consenso. O próximo sábado (9) já está se configurando como um grande dia de ações e mobilizações por todo Brasil — parte da grade de programação será disponibilizada nesse evento, onde tudo está sendo organizado de forma colaborativa.

    A demanda pela redução da maioridade penal está baseada no sentimento de medo. Mas pesquisas demonstram que encarcerar adolescentes em conflito com a lei como se fossem adultos, não diminui em nada a violência. Ao contrário: quanto mais pessoas são presas no sistema carcerário brasileiro, menos chances de conviverem como sujeitos de direitos na sociedade.

    É um erro também argumentar que crimes hediondos são praticados por adolescentes. Segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), menos de 1% dos homicídios foram cometidos por jovens com menos de 18 anos. A rede Jornalistas Livres acredita que a luta para enfrentar a violência depende de garantir o acesso a direitos fundamentais como educação, saúde, alimentação, moradia e vida digna, previstos na Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

    Artistas contra a redução

    Para se ter uma ideia do alcance dessas mobilizações, em São Paulo o cartunista Laerte disponibilizou para a campanha o uso irrestrito de quatro de suas tiras feitas sobre a redução da maioridade, que serão impressas em formato de lambe-lambe e coladas pela cidade. A ideia é que o próprio artista participe das intervenções.

    O mote também será o tema da penúltima etapa do ZAP! Slam — uma competição de spoken word (poesia falada), comum nos EUA e Europa –, organizado pelo Núcleo Bartolomeu de Depoimentos com apoio da Escola SP de Teatro, que disponibilizará a sua sede para o encontro, na Praça Roosevelt, às 16h.

    A algumas estações de metrô de distância, outra aguardada programação acontecerá na Ocupação Mauá, símbolo da luta por moradia na Capital e do importante papel que esses movimentos têm na questão da redução da maioridade penal. Confirmados já estão os shows do rapper vanguardista Rico Dalasam e do DJ WC Beats, com suas batidas de MPC cheias de flow. Vale ficar atento à programação, pois novas atrações devem colar no local.

    No B_arco Centro Cultural, em Pinheiros, ocorrerá uma grande projeção do filme De Menor, de Caru Alves de Souza — filha da cineasta Tata Amaral. O longa-metragem — premiado como o melhor de 2013, no Festival do Rio — retrata a experiência de uma jovem advogada defensora pública de adolescentes em conflito com a lei ao se deparar com o seu próprio irmão caçula apontado como réu na Vara da Infância e Juventude de Santos. Após a exibição ocorrerá uma roda de debates.

    Também vindo da zona oeste, o pessoal do coletivo casadalapa e mais alguns artistas parceiros se reunirão no Vale do Anhangabaú e pintarão uma grande bandeira, de 12 m x 12 m, de repúdio à medida. Depois de finalizada, ela será pendurada em várias pontes da cidade, ação que será registrada em vídeo.

    Fotos de João Claudio de Sena também farão parte das intervenções do sábado em SP.
    Já na Serralheria Espaço Cultural ocorrerá um show do cantor e compositor Siba. Paralelamente, será inaugurada a nova fachada do local, assinada pelo grafiteiro Lobot, também com temática da redução.

    E não vai parar por aí. “Até agora, por cima, já é possível citar o apoio e adesão ao movimento de picos como o Movimento dos Artistas de Rua, Laboratório Experimental, Condomínio Cultural, FLM (Frente de Luta por Moradia), Cooperativa Paulista de Teatro, toda uma rede de saraus como Sarau do Binho, Sarau Suburbano, Sarau do Burro, Liga do Funk, Nação Hip Hop, coletivos como o Poetas Ambulantes, Alvorada Vermelha, Frente 3 de Fevereiro, Contra Filé, Coletivo Nova Pasta, além da UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), UNE (União Nacional dos Estudantes), UEE (União Estadual dos Estudantes), UJS (União da Juventude Socialista), JPT (Juventude do Partido dos Trabalhadores), Casa Fora do Eixo, Matilha Cultural, Instituto Choque Cultural, A Batata Precisa de Você, Casa Amarela, LucasBambozzi, Rochelle Costi, Organismo Parque Augusta, entre muitos outros que ainda estão definindo como será a sua participação. Quem se identificar já pode usar ahashtag #viradapenal”, explica Sato, da Casadalapa e Jornalistas Livres, um dos articuladores dos trabalhos. “O sábado será um início vigoroso e forte de uma campanha que ainda vai se fortalecer muito e, quem sabe, se tornar grandiosa a ponto de mudar os rumos da discussão!”, conclui.