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  • RESISTÊNCIA AO GOLPE

    RESISTÊNCIA AO GOLPE

    Artigo de Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia*

    Resistência, temos aí aquele tipo de palavrinha bonita, que não tem como ter conotação negativa. A resistência é sempre bem-vinda, cercada de certo romantismo. É na resistência que nascem os heróis. “Estar na resistência” é sempre visto como algo positivo, seja a “resistência” comandada pela princesa Leia, a resistência francesa de De Gaulle, ou a resistência de Mandela e Malcom X.

    É sobre a tal resistência que escrevo, com interesse específico na resistência à brasileira em tempos de golpe. Temos aqui aquele tipo de assunto meio casca de banana, que faz muita gente boa escorregar.

    Os intelectuais progressistas costumam cometer dois erros graves sempre que falam sobre “resistência”. Os erros apontam para duas interpretações opostas do fenômeno que possuem a mesma origem: a colonização intelectual, o que na prática nada mais é do que a tentativa de interpretar a realidade brasileira com ideias que foram produzidas em função de outras realidades.

    Em síntese os erros são:

    1) Diante da ausência de resistência direta, alguns endossam a velha tese da apatia popular. O povo brasileiro seria passivo, indolente, preguiçoso e pouco dado ao ativismo político. Temos aqui um caso patológico de colonização intelectual, pois o modelo de “resistência” é dado pela história das sociedades europeias, pela organização da sociedade civil em partidos políticos, sindicatos, pela ação direta do “povo” nas ruas, pressionando o poder público.

    Como o povo não atende ao chamado, a tese da apatia popular surge quase como a consequência lógica de uma expectativa frustrada. Ah, as expectativas, sempre inimigas da análise.

    2) Do outro lado, estão aqueles que negando a tese da apatia popular acabam idealizando as ruas, estando sempre à espera da ‘acontecença’ da revolução. Qualquer movimentação popular nas ruas se torna a antecipação do futuro revolucionário, ainda que seja carnaval ou jogo do Flamengo. Também aqui há colonização intelectual, mas pelo caminho inverso: como o modelo de resistência popular ainda é o europeu, a tentativa, por vezes desesperada, é aplicá-lo ao Brasil, forçando a realidade a se enquadrar na categoria que já está dada.

    Pra escapar dos dois escorregões, meu objetivo aqui é pensar a resistência nos termos que me parecem adequados à experiência brasileira e pra isso lanço mão de uma categoria fundamental: “imaginário”.

    Vários estudiosos da sociedade já utilizaram o conceito imaginário nas suas reflexões. Entre todos esses usos, a definição proposta pelo filósofo grego Cornelius Castoriadis (1922-1997) é que mais me inspira no esforço de interpretar o Brasil contemporâneo. É claro que Castoriadis não estava estudando a realidade brasileira e por isso a reflexão que ele propõe serve como inspiração e não como um modelo rígido a ser aplicado no Brasil.

    Em resumo, Castoriadis define o imaginário como uma forma de pensar distribuída socialmente e formada por ideias que “já estão aí há muito tempo”. Essas ideias, por diversos motivos, “funcionaram e funcionam na sociedade”, ganharam adesão popular e passaram a configurar o pensamento das pessoas.

    Ao menos na minha avaliação, a resistência à brasileira nestes tempos de golpe está no plano do imaginário e vem se mostrando a única força capaz de retardar o desmonte do Estado brasileiro. Não é porque o povo não está nas ruas, participando dos atos que organizamos com todo amor e carinho, que ele está apático.

    E não, não adianta dizer que MTST, MST, CUT, UNE que estavam nas ruas defendendo Dilma e que estão nas ruas defendendo Lula, dão conta daquilo que é o “povo brasileiro”. São movimentos sociais organizados importantes, fundamentais para o nosso experimento democrático, mas possuem capacidade de mobilização bastante reduzida. Isso não é culpa dos dirigentes desses movimentos.

    Vivemos hoje, no Brasil e no mundo, tempos de desmobilização. As agendas coletivas não mobilizam mais. As pessoas olham umas para as outras e enxergam mais diferenças que semelhanças. Mas isso é assunto para outra reflexão.

    Retomando o fio…

    Fato, fato mesmo é que o “o povo brasileiro”, o povão mesmo, ainda não foi às ruas tomar partido nos conflitos que desde 2013 desestabilizam a cena política nacional. Nem os movimentos “coxinhas”, impulsionados pela mídia hegemônica e por movimentos sociais como o MBL, e nem os atos convocados pelos movimentos sociais tradicionais de esquerda foram capazes de mobilizar o “povão”, aquela camada da sociedade que vive com salário mínimo. Até aqui, nas ruas, o conflito foi travado entre frações da classe média.

    O povão, povão mesmo, até fez-se presente na cena dos conflitos, nas ruas, vendendo cerveja, bandeiras vermelhas e bandeiras do Brasil, dependendo da ocasião. De bobo, o povão não tem nada. E vejam que não se trata aqui de apatia. Essas pessoas estão ocupadas sobrevivendo, plantando no almoço pra colher na janta. Elas já apanham da polícia todos os dias. A galera não tá a fim de levar bala de borracha no lombo e gás de pimenta na cara.

    Mas isso não significa que o povão não esteja participando do jogo, pois o jogo não é jogado apenas nas ruas, na ação política direta. O jogo é jogado também no imaginário, e aqui o campo progressista está vencendo, vencendo de lavada, e não é uma vitória pouco importante. Dois fatores apontam para essa vitória.

    Fator 1 – A sobrevivência política de Lula.

    Lula é alvo da maior perseguição midiática da história do Brasil. Os ataques da mídia hegemônica às lideranças populares não é nenhuma novidade. Se nos debruçarmos sobre o Brasil moderno, de 1930 pra cá, veremos a artilharia da mídia hegemônica mirando em Getúlio, Jango, Arraes, Brizola, Dilma e no jovem Lula. Quem não lembra daquele fatídico debate manipulado pela Globo em 1989?

    Mas o que está acontecendo com Lula desde 2013 é de uma intensidade singular. Os operadores da grande mídia foram para o tudo ou nada e tomaram a destruição da figura pública de Lula como grande objetivo. Mas Lula não morreu e todas as pesquisas mostram que sua popularidade cresce a cada dia. Hoje, Lula partiria pra corrida eleitoral com 30% das intenções de voto, assim, sem campanha. É muita coisa.

    É que a manipulação midiática tem limites, meus amigos. Ao se tornar o alvo predileto do golpe de Estado levado a cabo pela aliança entre a mídia hegemônica e o judiciário, Lula tornou-se também o principal antagonista do golpe. E como o golpe é neoliberal, tendo como objetivo o desmonte do Estado, Lula encarnou a imagem do Estado provedor de direitos, que é o valor mais importante no imaginário político brasileiro.

    Desde os anos 1930 que o Estado brasileiro tem essa função: prover direitos sociais aos mais pobres, ainda que de forma autoritária, ainda que às custas dos direitos civis e dos direitos políticos. Intuitivamente, a população mais vulnerável entendeu que Michel Temer representa a desregulamentação, o ataque ao Estado e que Lula personifica a função social do Estado.

    Juntemos isto à memória recente de que na “Era Lula” a vida estava melhor e entenderemos a sobrevivência política de Lula, mesmo que muitos de seus potenciais eleitores não estejam plenamente convencidos de sua inocência. Tem muita gente que vota em Lula mesmo achando que ele seja corrupto.

    Fator 2 – A derrota do projeto da Reforma da Previdência.

    A Reforma da Previdência é projeto natimorto pela mesma razão que explica a sobrevivência de Lula. Os parlamentares estão com medo de colocar sua assinatura em um projeto que violenta aquele que é o princípio basilar do imaginário político brasileiro: a definição do Estado como agente provedor de direitos sociais.

    O povão pode até não tá montando as charmosas barricada nas ruas que tanto embalam os devaneios revolucionários da esquerda brasileira, mas ainda tem título de eleitor, ainda vota e, ao que parece, o golpe não ousou (ou não foi capaz) de alterar o calendário eleitoral.

    O que tentei fazer neste texto foi dizer algo simples, talvez até mesmo óbvio: a resistência popular já está acontecendo, mas não na receita das sociedades europeias. A resistência está acontecendo no plano do imaginário, nesse “já está aí há muito tempo”. A resistência é conservadora, no sentido mais básico do termo.

    É claro que o imaginário se transforma historicamente, não é fácil e não é rápido, mas se transforma. É isso que a mídia hegemônica, representando os interesses do neoliberalismo nacional e internacional, está tentando fazer.

    Cada vez que Gerson Camarotti tenta convencer os garçons brasileiros que a reforma trabalhista irá lhes permitir fazer “trabalho intermitente” em mais de um restaurante, é o imaginário quem está sendo atacado.

    Sempre que Fátima Bernardes traz no seu programa uma empreendedora negra que se “libertou da opressão do patrão” abrindo seu próprio negócio, é a imagem da cidadania se definindo pelo trabalho formal que está sendo atacada.

    Cada vez que, no Fantástico, Lima Duarte e Fernanda Montenegro são representados como símbolos da saúde laboral na terceira idade é a imagem da previdência social pública que está sendo atacada.

    Sim, meus amigos, o imaginário também se transforma e as forças motoras do golpe estão apostando todas as suas fichas nisso. Porém, as pesquisas sobre opinião pública sugerem que esse esforço não está sendo eficaz. É que tá tendo resistência. O povo brasileiro já está resistindo ao golpe, do seu jeito, nas suas possibilidades. Se a resistência está aquém da expectativa é porque problema está nas expectativas.

    (*) Com ilustração de Paulo Stocker
  • O fascismo dos nossos tempos

    O fascismo dos nossos tempos

    No segundo turno da última eleição presidencial, na fila de espera para votação, num bairro ocupado pela alta burguesia da cidade de São Paulo, ouvi rapazes galhofeiros afirmarem que, se Dilma Rousseff fosse reeleita, grupos organizados através das redes sociais a arrancariam à força do poder! Um ano e meio depois, sem precisar fazer uso da agressão física, mas não sem deixar de exibir a prepotência que lhes é peculiar, esses grupos contribuíram para a deposição da presidenta.

    Poucos dias antes da votação, a revista “Veja”, publicada, excepcionalmente, numa sexta-feira, estampava na sua capa as imagens de Dilma e de Lula ao lado de uma manchete grafada em letras vermelhas: “Eles sabiam de tudo”. Tratava-se da acusação feita pelo doleiro Alberto Youssef para os promotores da Lava Jato. Colocava-se em prática a divulgação das delações premiadas para a grande imprensa, uma estratégia que o juiz Sérgio Moro, em seu artigo “Considerações sobre a operação Mani Pulite”, afirma ter sido fundamental nessa ação judiciária italiana de combate à corrupção.

    Não me parece necessário repassar todos os fatos da recente história da política brasileira, porém, está claro que vários grupos organizados através das redes sociais, alguns deles, coordenados por jornalistas que atuam na grande imprensa, ganharam força com a divulgação dessas delações, a maior parte delas, fruto de vazamentos pontuais. Entre as estratégias para aumentar a popularidade, esses grupos insistiram, e ainda insistem, em apresentar Lula e o PT como únicos responsáveis, não só pela corrupção e pela crise econômica, mas por todo mal que possa existir nesse país.

    Em resposta a essa campanha que uniu parte do judiciário, a grande imprensa, a burguesia e os partidos políticos conservadores, foram às ruas os movimentos sociais, as centrais sindicais, os artistas, os intelectuais e os estudantes, num primeiro momento, para lutar pela democracia; num segundo momento, para lutar pelos direitos trabalhistas ameaçados por aqueles que assumiram o governo federal após a deposição da presidenta.

    Uma radical polarização das convicções passou a acirrar os ânimos dos brasileiros de todas as classes e idades. As redes sociais, ferramenta de comunicação e de circulação de opiniões que não existia na Itália no período da operação, funcionou como um eficiente meio de divulgação e de promoção das prisões coercitivas e das delações da Lava Jato. Em muitos casos e de variadas maneiras, essa polarização provocou manifestações de intolerância e de ódio, seja pelas próprias redes sociais, seja nos encontros de grupos que sustentam posições contrárias.

    Coincidentemente ou não, alguns dos elementos utilizados na fermentação desse ódio social fizeram parte da estruturação do ódio fomentado pelo fascismo hitlerista. Antes de tudo, salta aos olhos a incorporação da estratégia de apresentar uma única causa para todos os males sociais. Num livro escrito antes da sua ascensão ao poder, Hitler argumenta que a capacidade de assimilação de ideias e a inteligência das grandes massas são muito limitadas, desse modo, toda propaganda deve focar num único ponto, até que cada indivíduo incorpore e acredite na mensagem que lhe é apresentada.

    Para o historiador Alcir Lenharo, a eficiência da propaganda nazista provém do fato de ela ter conseguido convencer a população de que os judeus eram os responsáveis pelo estado caótico do país. Essa propaganda forjou um espírito nacionalista que transpassou o horizonte das classes sociais. A Alemanha como um todo enfrentou uma grave crise econômica após a primeira guerra. No entanto, a situação dos trabalhadores cujos salários mal lhes permitiam alimentar suas famílias era muito diferente da situação dos grandes empresários que apoiaram Hitler desde o primeiro momento.

    Palavras de ordem, memes e posts

    Em cartazes colados nos muros e nas repartições públicas, estratégia chamada de “Die Parole der Woche” (A palavra de ordem da semana), uma propaganda semelhante aos atuais “posts” veiculados nas redes sociais (uma imagem, uma frase, um inimigo), os nazistas tentavam fixar mensagens de ódio nas mentes de todos. Essas mensagens deveriam reforçar o maniqueísmo que Hitler imagina marcar a forma comum do povo pensar e se posicionar. Era importante que, ao incorporarem essas palavras de ordem, as pessoas tivessem a impressão de estar defendendo suas próprias opiniões.

    Pela interpretação de Gilbert Badia, germanista que viveu na Alemanha nos anos em que Hitler esteve no poder, a principal característica do fascismo, tanto o alemão quanto o japonês e o italiano, bem como de muitos regimes totalitários, foi sustentar medidas políticas e econômicas eminentemente conservadoras. Na experiência nazista, essas medidas implicaram no aumento da desigualdade econômica atrelada à maior exploração da força de trabalho.

    No final dos anos trinta, aos grandes empresários alemães, como Gustav Krupp, então presidente da Associação da Indústria Alemã, interessava não pagar a conta da crise econômica e deter o crescimento político do partido comunista. Com o término da segunda guerra, Gustav e seu filho Alfried foram condenados no processo de Nuremberg por imporem, em suas indústrias, o trabalho escravo a centenas de crianças encarceradas nos campos de concentração.

    Questionado no processo sobre seu apoio a um governo que praticou tantos horrores, Alfried Krupp respondeu: “Afirmo que ignorava a matança aos judeus; de todo modo, quando se compra um bom cavalo não se deve olhar os pequenos defeitos”.

    Quero crer que a humanidade não toleraria um novo Holocausto, no Brasil ou em qualquer outro lugar. Ainda assim, é preocupante o uso de estratégias propagandísticas que estimulam o ódio social. Não há nenhuma dúvida de que o combate à corrupção é absolutamente necessário! Talvez, a médio ou a longo prazo, esse processo consiga promover mudanças relevantes na administração pública. Todavia, superado esse momento de teatralização da política, é preciso que os trabalhadores retomem o discurso em defesa dos seus direitos e participem, realmente, da política.

     

    *Paulo Henrique Fernandes Silveira, 48 anos, é professor e pesquisador na Faculdade de Educação da USP. Coordena o Grupo de Estudos sobre Educação, Filosofia, Engajamento e Emancipação.

  • “Porque no Carnaval eles não fizeram greve?”

    “Porque no Carnaval eles não fizeram greve?”

    Manhã de quarta-feira, Belo Horizonte, 09h44, e o rosto trabalhador que diz essa frase ao vento, sem destinatário, mas de certo modo endereçada à mim, já está na metade de sua jornada. Tanto hoje como no carnaval, ele teve que madrugar para servir de cobrador no trajeto que vai do bairro Xangrilá à estação Pampulha. Dormiu pouco, mas menos do que muitos outros cujas linhas iniciam mais cedo, essa tem seu primeiro horário pouco antes das 06h da manhã.

    No carnaval, nosso sujeito passível de análise também despertou no mesmo horário, e enquanto todos iam para as festas, ele nos arrancava os R$2,85 como quem tira doce de criança. Prazer sórdido? Não, falta de diálogo. Agora, este mesmo sujeito, que está na base de nossa sociedade trabalhadora, serve aos interesses de quem quer que ele se aposente mais tarde, e tenha apenas seis meses de expectativa de vida após pendurar o uniforme.

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    “Se a gente não lutar, a aposentadoria vai acabar!”

    Essa é a frase mais falada do ato que começou na Praça da Estação e foi até a Praça da Assembleia em Belo Horizonte. Porém, o trocador não grita, nem ele e nem muitos outros trabalhadores. Nos quatro cantos do país, os movimentos sociais, estudantes, professores, sindicatos e trabalhadores a repetem como um mantra que escancara uma verdade: a de que o governo Temer não terá piedade nem de nós, que protestamos, quiçá dos trabalhadores que estão na base da sociedade.

    Nosso carnaval, símbolo deste povo que resiste, do corpo que performa desejo negado, foi a maior demonstração de que a política se faz nas ruas, com a ocupação do espaço público. Como diz Cristal Lopes, musa do carnabelô: “a política tem que aprender muito com o carnaval”.

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Fomos de Fora Temer em Fora Temer, negando o assédio estrutural que insiste em violar os corpos das nossas mulheres, dizendo sim ao funk e à voz da periferia, fazendo poética e festa com nossas próprias mãos e provando o que já foi dito pelo companheiro carnavalesco José Guilherme: “nosso carnaval foi conquistado.”

    Dentre os reajustes propostos para a previdência, está o caso do nosso amigo de todos os dias, o trocador. Hoje, 4 milhões de idosos de baixa renda, com mais de 65 anos, recebem um salário mínimo. Se a reforma passar a idade mínima será de 70 anos. Nós, mulheres, que trabalhávamos até 55 anos, iremos até os 65, junto com os homens, que iam somente até os 60. Isso sem contar os 25 anos obrigatórios de contribuição, um aumento de 10 anos da exploração de nossos corpos trabalhadores, que não tem nem o direito de festejar o carnaval.

    Diante desse cenário, me vem à cabeça a palavra de ordem dos nossos companheiros argentinos, que traduzida, fica mais ou menos assim:

    “Vamos à luta companheiros, vamos em frente, que isso nos pede toda gente.”

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres
  • Um carnaval conquistado!

    Um carnaval conquistado!

    Em menos de dez anos, Belo Horizonte deixa de ser uma cidade-refúgio para aqueles que queriam saber de silêncio e ficar longe da folia, para se tornar a “cidade que possui um dos carnavais mais procurados do país”. Há sete anos, a cidade promove um dos melhores carnavais de luta do Brasil, um festejo que tem carnavalizado a política e politizado as ruas.

    Praia da Estação – protesto de ocupação do espaço público. Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Nossos blocos não têm tempo de vida para ter tradição, mas podemos afirmar, com a maior convicção, que muitos deles já conquistaram eternamente os corações da cidade

    Dentre as cerca de quatrocentas agremiações carnavalescas em funcionamento, se destacam algumas que nasceram até 2010 e que estão entre as responsáveis pela folia de hoje:

    • Grêmio Recreativo Escola de Samba Cidade Jardim, de 1961, Banda Mole, de 1975, Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam, de 1998, Santo Bando, de 2003.
    • Blocos do Peixoto e Unidos do Samba Queixinho, de 2009, Tetê, a Santa, Filhos de Tcha Tcha e Praia da Estação de 2010.

    Belo Horizonte é uma cidade jovem

    Quase nenhuma agremiação possui quadra, barracão ou até uma pequena sede para encontros ou para guardar instrumentos. O belo, vigoroso e contagiante carnaval de BH têm sido feito na “Tora e às Próprias Custas Ltda.” Com 119 anos de idade, a história da cidade e do carnaval confluem em resistência, luta e ocupação do espaço público. Um exemplo disso é a Unidos do Samba Queixinho,  uma das poucas experiências de colocar em prática a ideia de “carnaval o ano inteiro”.

    São raras as agremiações carnavalescas tradicionais na cidade

    Belo Horizonte tem pouco mais de cem anos, mas já tivemos um dos melhores desfiles de Escolas de Samba do Brasil. Se o carnaval da cidade não tivesse sido interrompido pelo prefeito Pimenta da Veiga em 1989 e ficado moribundo por duas décadas, talvez o nosso desfile de Escolas de Samba estivesse entre as principais tradições populares da nossa cidade.  Hoje já não temos mais, na avenida, a Escola de Samba Inconfidência Mineira, de 1950.

    Sambistas que tiveram o carnaval sequestrado de suas vidas, resistem!

    Graças à resistência e à dedicação dos sambistas sexagenários e de amigos do samba, foi constituída em 01 de junho 2011 a Associação Velha Guarda da Faculdade do Samba, idealizada pelo Mestre Conga e Marcos Valério Maia.

    Carnaval Lixo Zero As baianas da Escola de Samba Cidade Jardim, com um toque do artista plástico e carnavalesco Leo Pilo. Os turbantes são feitos com saco de cebola, os colares de vasilhas de iogurte e as pulseiras de papelão e outros materiais reciclados. Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres
    Carnaval Lixo Zero – As baianas da Escola de Samba Cidade Jardim, com um toque do artista plástico e carnavalesco Leo Piló. Os turbantes são feitos com saco de cebola, os colares de vasilhas de iogurte e as pulseiras de papelão e outros materiais reciclados. Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres

    Até pouco tempo, carnaval era coisa de polícia…

    Um grande atentado ao samba, ao carnaval e à cultura ocorreu em 2008: a desapropriação, com tropa de choque, camburão e caminhão para transportar as fantasias e os instrumentos apreendidos da Escola de Samba Cidade Jardim, a mais antiga agremiação carnavalesca em funcionamento de BH e, na época, a única que possuía sede (Quadra/Barracão).

    Os grandes atentados contra a cultura e o carnaval de BH duraram até o ano de 2010, quando a resistência e a luta por um carnaval na cidade passou a contar com novos, numerosos e valorosos atores. Um deles, a Praia da Estação, passa a ser o Marco Zero da folia e de muitas lutas, entre elas, a do direito ao carnaval a cidade.

    BH começa a deixar de ser uma cidade deserta no período de carnaval e cada vez mais se transforma em um dos melhores carnavais do Brasil

    Somente os dois últimos anos passou a ser comum cruzarmos com pessoas fantasiadas ou grupos de foliões transitando pelo centro da cidade. BH começa a se colorir. Entretanto, até 2016 a cidade não é decorada para o carnaval e permanece muito pobre em alegorias. São raros os sinais dos festejos de momo na grande maioria dos bairros, das vilas e favelas. Até 2013 as Escolas de Samba e os Blocos Caricatos iam para a avenida sem saber se no ano seguinte haveria desfile.

     

     

     

     

     

    Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam, Formada por mais de quatro mil foliões antimanicomiais, há 20 anos, faz seu desfile-manifestação por uma sociedade sem manicômios, no 18deMAIO, dia da luta antimanicomial. Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres
    Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam, formada por  milhares de foliões antimanicomiais, há 20 anos, faz seu desfile-manifestação por uma sociedade sem manicômios, no 18deMAIO, dia da luta antimanicomial. Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Esse outro carnaval é muito recente 

    Somente nos quatro últimos anos, o carnaval belorizontino começou a se consolidar. A cobertura de 2010 do jornal Estado de Minas, edição de sábado de carnaval, pela última vez, traz na capa uma atração de fora da cidade: o “Galo da Madrugada” de Recife. As matérias sobre o carnaval em Minas só cobriram as cidades do interior. Nesse tempo o poder público mais envolvido com carnaval era a polícia. A partir de 2011, a festa em BH passa a ser o destaque das capas dos jornais e com boas coberturas. As rádios e TVs passam a dedicar cada vez mais espaço em suas programações ao carnaval da cidade.

    Pernambuco: um carnaval centenário e sem interrupção 

    Recife e Olinda tinham mais de quatrocentos anos de história, nos anos 70, quando começaram a surgir os novos blocos de rua (entre eles: Segura a Coisa, de 1975, Eu acho é Pouco, de 1976 e Galo da Madrugada, de 1978). Uma década depois, Recife e Olinda se tornaram carnavais de massa: em um único dia, em 2016, o Galo da Madrugada arrastou um número de foliões comparável a todo o carnaval de Belo Horizonte, incluindo as atividades pré e pós-carnavalescas. É importante situar que as duas cidades já tinham agremiações carnavalescas tradicionais, tais como Vassourinhas, de 1912, Flor de Lira, de 1920, Batutas de São José, de 1932, Pitombeira dos Quatro Cantos, de 1947, Elefante de Olinda, de 1952, entre outras, além de inúmeras manifestações carnavalescas populares e dos diversos bailes nos clubes de Recife.

    Para onde vai o carnaval de BH?  Ele é o palco do espontâneo e da irreverencia, mas não só…

    A partir de 2009, a palavra de ordem era ”carnavalizar a cidade” e a cidade, de fato, se carnavalizou. Como não temos uma tradição a seguir, podemos agora construir os rumos do carnaval que queremos. Vamos manter o nosso carnaval politizado ou reduzi-lo a um mero entretenimento? Construir um carnaval espalhado pela cidade (periferia, vilas e favelas) e região metropolitana ou concentrado no centro? Um carnaval “lixo zero” ou mais uma atividade que polui e suja a cidade? Ele vai contribuir com a qualificação e profissionalização dos músicos ou será um carnaval que pouco lhes oferece? Um carnaval rico em decoração, cores e alegorias ou uma festa sem cor, árida e com pouca identidade? Se o carnaval crescer muito, qual carnaval de massas ele vai ser?

    Folia Criativa: um carnaval superavitário!

    Há cinco anos, BH não recebia os volumosos recursos financeiros vindos do carnaval. Só com os moradores de BH que, cada vez mais, escolhem ficar aqui no carnaval, já se produz uma receita, para o comércio e para os cofres da cidade, bem superior ao que é investido na festa. E ainda há receitas vindos dos turistas e de patrocinadores. É possível investir em ações que promovam artisticamente o carnaval e que enriqueçam a cultura carnavalesca da cidade. São significativos os recursos advindos do Carnaval. Além disso, BH é uma das poucas capitais em que o governo estadual ainda não contribui com apoio financeiro à festa.

    Uma atenção especial deve ser dada àqueles que resistiram por mais de duas décadas de profunda marginalização:

    Os Blocos Caricatos são uma manifestação carnavalesca que só existe em BH e em São João Del Rey. As Escolas de Samba que no passado formavam um dos maiores desfiles do Brasil, precisam voltar a funcionar o ano todo, voltar a ter mais de mil componentes, mais de 150 ritmistas na bateria, ter fantasias e carros alegóricos com a beleza e a grandiosidade do atual carnaval de BH. Das capitais brasileiras que têm desfile de Escola de Samba, somos uma das poucas que não têm sambódromo. E, para agravar, as Escolas não têm quadra para realizar ensaios ou eventos.

    Preparação do Carnaval Lixo Zero. Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres

    Tirando leite de pedra para transformar em confete e serpentina

    Atualmente, as Escolas de Samba de Belo Horizonte recebem uma das mais baixas subvenções financeiras do Brasil. O valor é menor do que o preço de um único destaque de escola de samba de São Paulo ou Rio de Janeiro, menor do que o custo de um carro alegórico de Vitória-ES ou cerca da metade do que as Escolas de Samba de Nova Lima ou Sabará recebem da prefeitura. O valor da subvenção em BH é menos da metade do que as Escolas de Samba Canto da Alvorada, de 1979, e Acadêmicos de Venda Nova, de 2004, agremiações campeãs e vice campeãs nos últimos carnavais, gastam em seus desfiles.

    Precisamos avançar para que BH desenvolva uma profunda cultura carnavalesca

    Em lugares que possuem carnaval há muito tempo, a questão do local adequado para ensaios e outras atividades já está resolvida. Quando isso não é oferecido, os ensaios ocorrem com insegurança e em menor quantidade, comprometendo a qualidade musical e o brilho do carnaval. Outro fator que complica muito o Carnaval belorizontino é que esse, aqui, acontece no período de chuva, ao contrário do que ocorre em Recife, Olinda e todo nordeste. Em BH. Uma das maiores trombas d’água dos últimos anos ocorreu na segunda-feira de carnaval de 2015.

    O principal passo já foi dado: a cultura carnavalesca começou a se enraizar na cidade e a cada ano contagia mais

    Algumas das ações ainda precisam ser realizadas: oferecer espaços adequados para realização de ensaios e atividades das agremiações carnavalescas quatro messes antes do carnaval, a partir de novembro; criar mecanismos que proporcionem que os desfiles de Escolas de Samba de BH esteja no mesmo nível do carnaval de BH; desenvolver iniciativas que favoreçam o enriquecimento musical e a valorização dos músicos e iniciar o processo de decoração da cidade.

    Praia da Estação – protesto de ocupação do espaço público. Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    José Guilherme Castro, belorizontino, produtor cultural, diretor da Associação Cultural José Martí, folião dos carnavais de Olinda e Recife de 1972 a 1982 e do carnaval de BH desde 2008. Foi secretário geral e diretor de Carnaval da Escola de Samba Cidade Jardim. Participa do processo de construção coletiva do desfile manifestação da Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam. No carnaval de 2016, representou as Escolas de Samba junto à sociedade e órgãos públicos. No festival Nacional de Arte e Cultura da  Reforma Agrária, realizado pelo MST, foi homenageado com o Estandarte: BH, Um Dos Melhores Carnavais de Luta do Brasil.

  • Arte e educação de mãos dadas em BH rumo ao #OcupaTudo

    Arte e educação de mãos dadas em BH rumo ao #OcupaTudo

    Foto-reportagem de Maxwell Vilela, para os Jornalistas Livres

    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Os secundaristas de BH não ficam atrás na onda de ocupações do país. Os artistas Flávio Renegado e Pedro Morais estiveram visitando escolas para um bate papo com os alunos, falaram sobre o poder das ocupações e a necessidade e importância delas para o momento político, bem como o impacto delas na opinião publica.

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    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Eles também falaram da atenção das mídias para o assunto, e os próprios jovens se manifestaram com cartazes dizendo da invisibilização da pauta na imprensa tradicional.

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    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Sobre o que está acontecendo no país com a PEC 241, os aulões seguem por todo o país, e na visita os artistas passaram nas escolas Santos Dumont, Jucelino Kubitschek, e Maria Carolina Campos situadas na região de Venda Nova em Belo Horizonte para, entre abraços e apresentações, dar força para os alunos, a maioria entre 14 e 18 anos.

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    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    Para eles, os alunos deram um show de responsabilidade e representatividade com agendas organizadas por mulheres, trans, lesbicas e homossexuais.

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    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres

    As ocupações por si só já são uma aula de empoderamento.

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    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Flávio Renegado explica a visita falando sobre a potência da luta conjunta dos secundaristas com a classe artística. “O sentimento de democracia e liberdade é que nos movimenta e movimenta esse juventude. Isso tem que ser cuidado e incentivado. Seguiremos lutando!”

    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres
    Foto: Maxwell Vilela / Jornalistas Livres
  • Cultura Sem Terra conquista o interior mineiro

    Cultura Sem Terra conquista o interior mineiro

    Campo do Meio, uma cidadezinha de 12 mil habitantes no cantinho do sul de minas, se encantou com a arte dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, durante o 1º Festival de Cultura Campesina. Realizado nos dias 22 e 23\10, o evento levou para a Praça da Matriz da pacata cidade a diversidade de linguagens, expressões e cores que compõem a Reforma Agrária Popular. Por lá passaram cerca de 2 mil pessoas durante os shows, teatros, mostra fotográfica, debates, feira de alimentos saudáveis, entre outras atividades.

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    Foto: Geanini Hackbardt/MST

    “Traduzimos para os trabalhadores da cidade todos os elementos que compõem nosso projeto. Desde a luta pela terra, pela educação do campo e por dignidade, até a produção musical, poética, de alimentos saudáveis. Um canto por terra, arte e pão, entoado por cerca de 120 militantes que se envolveram na construção desses dois dias de festa”, avaliou Bruno Diogo, da Direção Estadual do Setor de Produção. A Feira da Reforma Agrária e a Culinária da Terra entregaram mais de uma tonelada de alimentos direto das mãos do produtor para o mercado local.

    Toda a programação configurou um grande ato político, como jamais ocorreu ali, algo perceptível nas expressões de surpresa e exclamações dos moradores. Um ato de celebração, que evidenciou o resultado da resistência dos trabalhadores por 18 anos acampados na Usina Ariadnópolis, assentados na área de Primeiro do Sul e Santo Dias. “Comemoramos as conquistas geradas pela ousadia dos Trabalhadores Rurais Sem Terra nessa região de Minas Gerais, uma região historicamente dominada pelo latifúndio, que mais recentemente tem sido dominada pelas empresas do agronegócio”, explicou Silvio Netto, da Direção do MST.

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    Foto: Geanini Hackbardt/MST

    Este foi só o primeiro

    O movimento pretende realizar eventos semelhantes em pelo menos seis regiões, das nove em que está presente em Minas Gerais. “Nossa intenção é realizar muitos outros momentos como este. Estamos mostrando que o MST não só faz produzir as terras que o latifúndio abandonou. O MST também tem o dever de ocupar as cidades, mostrar que sem a reforma agrária, sem a agricultura camponesa, sem a cultura popular, não é possível que o povo tenha dignidade. Teremos muitos outros festivais nas praças, na roça, em Campo do Meio, em Alfenas, em Belo Horizonte”, projetou o dirigente.

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    Foto: Geanini Hackbardt/MST

    O Teatro conta a história

    Diversas apresentações cênicas foram marcantes na programação, como o Grupo Máscaras, o Circo Amarelou e os Sapucaiaços, que fazem um bem bolado unido música e bom humor.

    Durante a aula inaugural da Escola Estadual Eduardo Galeano, o Grupo Máscaras divertiu os estudantes com a peça A Cor Flicts, baseada no livro de Ziraldo. O diretor do grupo, Alberto Emiliano (conhecido como Preto) foi
    homenageado como um guardião da cultura caipira do sul de minas. “Ele criou o Máscaras e trouxe até nós. O teatro não é novidade na vida do povo sem terra do sul de minas, Preto, foi o grande responsável por essa popularização, por isso a justa homenagem”, explica Silvio Netto.

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    Foto: Geanini Hackbardt/MST

    Já as místicas realizadas pelos militantes do movimento contaram a história do Quilombo Campo Grande. Este processo de resistência negra dominou uma extensão territorial maior que Palmares, abrangendo regiões do Alto São

    Francisco, Alto Paranaíba, Triângulo Mineiro, Centro e Sudoeste de Minas. O quilombo, coordenado por um agricultor chamado de Pai Ambrósio, chegou a ter 15 mil habitantes em 25 vilas confederadas, nas quais além de
    negros, se refugiavam índios e brancos pobres.
    “A nossa regional foi nomeada como Quilombo Campo Grande como forma de  reescrever esta  história apagada dos livros. A cultura também tem esse papel, de trazer ao povo a memória de luta que o capital esconde. Foram muitos os ataques da coroa àquelas comunidades e o povo enfrentou com muita garra, assim como os Sem Terra fazem em  Ariadnópolis”, compara Maysa Mathias, militante do MST, negra e organizadora do festival.

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    Foto: Geanini Hackbardt/MST

     

    Para Hadd Dalton, do Grupo Sapucaiaços, arte, vida e política não se dissociam. “Não tem como relacionar o teatro, a arte, com a vida/luta dos movimentos sociais sem pensar na frase do Bertolt Brecht, onde ele fala: todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver; e o que é viver, senão lutar.” Segundo o contador, esses espaços são de grande aprendizado. “Foi nos movimentos sociais, na luta e nas rodas, que encontrei as melhores histórias e causos, cantei as melhores bandeiras, e aprendi com ambos, que participação social é a arte de viver e que partindo da cultura eu faria política.”

    Esperança sem fim

    Apesar da festividade, o conflito de terras mais antigo de Minas Gerais – Ariadnópolis – ainda não foi solucionado. O Governo do Estado deu prosseguimento no processo de desapropriação das terras da Antiga Usina, no entanto, ele está parado, aguardando decisão do judiciário. “O festival também vem no sentido de demarcar que nos despejar é despejar toda essa cultura”, assinalou Silvio Netto.

    “Saímos da sede em um acordo, na esperança de que a justiça tivesse uma solução definitiva, mas essa demora é uma tortura para todos nós. Por quantos anos mais teremos que esperar e aguentar as provocações e ameaças dos jagunços, faltando apenas uma decisão de um juiz”, cobrou Fátima Meira, da Direção Regional. O Quilombo Campo Grande resiste, como seus antepassados o fizeram, mas para fazer justiça a essa história, as terras precisam tomar o caminho que lhes é devido, a desapropriação.

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    Foto: Maria Aparecida/ MST