Jornalistas Livres

Tag: repressão

  • Os camisas negras de Bolsonaro

    Os camisas negras de Bolsonaro

    Mais de 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens foram submetidos ao assassinato e à tortura de forma programada pelos nazistas com o objetivo de exterminar judeus e outras minorias. Nos primórdios da Itália fascista, os camisas negras – milícias paramilitares de Mussolini – espancavam grevistas, intelectuais, integrantes das ligas camponesas, homossexuais, judeus. Quando a ditadura fascista se estabeleceu, dez anos antes da nazista, Mussolini impôs seu partido como único, instaurou a censura e criou um tribunal para julgar crimes de segurança nacional; sua polícia secreta torturou e matou milhares de pessoas. Em 1938, Mussolini deportou 7 mil judeus para os campos de concentração nazista. Sua aliança com Hitler na 2ª Guerra matou mais de 400 mil italianos.

    Perdoem-me relembrar fatos tão conhecidos, ao alcance de qualquer estudante, mas parece necessário falar do óbvio quando ser antifascista se tornou sinônimo de terrorista para Jair Bolsonaro. Os direitos universais à vida, à liberdade, à democracia, à integridade física, à livre expressão, conceitos antifascistas por definição, pareciam consenso entre nós, mas isso se rompeu com a eleição de Bolsonaro. O desprezo por esses valores agora se explicita em manifestações, abraçadas pelo presidente, que vão de faixas pelo AI-5 – o nosso ato fascista – ao cortejo funesto das tochas e seus símbolos totalitários, aqueles que aprendemos com a história a repudiar. Jornalistas espancados pelos atuais “camisas negras” estão entre as cenas dessa trajetória.

    A patética lista que circulou depois que o deputado estadual Douglas Garcia(PSL-SP) pediu que seus seguidores no Twitter denunciassem antifascistas mostra que o risco é mais do que simbólico. Depois do selo para proteger racistas criado pela Fundação Palmares, e das barbaridades ditas pelo seu presidente em um momento em que o mundo se manifesta contra o racismo, e que lhe valeram uma investigação da PGR, essa talvez seja a maior inversão de valores promovida pelos bolsonaristas até aqui.

    A ameaça contida na fala presidencial e na iniciativa do deputado, que supera a lista macartista pois não persegue apenas os comunistas, tem o objetivo óbvio de assustar os manifestantes contra o governo e de açular as milícias contra supostos militantes antifas, dos quais foram divulgados nome, foto, endereço e local de trabalho.

    É a junção dos “camisas negras” com a Polícia Militar, que já se mostrou favorável aos bolsonaristas contra os manifestantes pela democracia no domingo passado em São Paulo e no Rio de Janeiro. E que vem praticando o genocídio contra negros impunemente no país desde sua criação, na ditadura militar, muitas vezes com a cumplicidade da Justiça, igualmente racista.

    Como disse Mirtes Renata, a mãe de Miguel, o menino negro de 5 anos que foi abandonado no elevador pela patroa branca de sua mãe, mulher de um prefeito, liberada depois de pagar fiança de R$ 20 mil reais, “se fosse eu, a essa hora já estava lá no Bom Pastor [Colônia penal feminina em Pernambuco] apanhando das presas por ter sido irresponsável com uma criança”. Irresponsável. Note a generosidade de Mirtes com quem facilitou a queda de seu filho do 9º andar.

    Neste próximo domingo, os antifas vão pras ruas. Espero não ouvir à noite, na TV, que a culpa da violência, que está prestes a acontecer novamente, é dos que resistem como podem ao autoritarismo violento. Quem quer armar seus militantes, e politizar forças de segurança pública, está no Palácio do Planalto. É ele quem precisa desembarcar. De preferência de uma forma mais pacífica do que planejam os fascistas para mantê-lo no poder.

    Por: Marina Amaral, codiretora da Agência Pública

  • Coronel da PM causou tumulto para provocar a repressão ao ato pela Democracia

    Coronel da PM causou tumulto para provocar a repressão ao ato pela Democracia

     

     

    O coronel Américo Massaki Higuti, oficial da reserva da Polícia Militar, foi o causador de uma briga que serviu de pretexto para a brutal repressão contra os manifestantes antifascistas que foram no domingo (1/6) à avenida Paulista  para defender a Democracia.

    Embora na reserva, o coronel Américo Higuti compareceu à avenida Paulista trajando uma farda do COE, Comando de Operações Especiais, tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo. Acontece que o uso de uniforme é privativo dos militares em serviço ativo. Os militares da reserva e os reformados podem usar seus uniformes por ocasião de cerimônias sociais, militares e cívicas, categorias em que a manifestação de domingo na avenida Paulista definitivamente não se encaixa.

    O coronel Américo Higuti é um ativo apoiador de Jair Bolsonaro. Ele mantém três perfis no facebook, em que posta fotos ao lado de celebridades de extrema direita, como o príncipe destronado Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Carla Zambelli e o próprio presidente.

     

    Xingamentos na travessia

     

    No domingo, ele participaria do ato em apoio a Bolsonaro e contra o STF (Supremo Tribunal Federal), que acontecia a um quarteirão de onde se reuniam os Torcedores pela Democracia –corinthianos, palmeirenses, sãopaulinos e santistas contra o fascismo.

    Um cordão de isolamento formado por uma fileira de policiais militares separava um grupo do outro. Apesar das provocações fascistas dirigidas ao grupo dos torcedores, a situação estava sob controle. Cada grupos gritava suas palavras de ordem e agitava suas bandeiras.

    Foi então que o coronel Américo Higuti, o sargento PM Valdani, também fardado irregularmente, já que é da reserva, e um manifestante bolsonarista embrulhado na bandeira brasileira decidiram atravessar a pé a manifestação dos torcedores pela Democracia e contra o Fascismo. O grupo estava sendo escoltado por um soldado fardado da PM.

     

    Ao se aproximarem, em atitude claramente provocativa, os homens foram advertidos. “Não entrem aí, vocês estão querendo briga? Não vão!” Mas foi inútil. Torcedores presentes na manifestação relataram aos Jornalistas Livres que o grupo bolsonarista do coronel Américo Higuti entrou, xingando, na concentração pela Democracia: “ladrões”, “vândalos” e “maconheiros” foram algumas das ofensas.

     

    O coronel Américo Higuti, ao sair do outro lado da manifestação, alegou ter sido espancado, esfaqueado e “vítima de uma emboscada”.

     

    O sargento Valdani, também da reserva, alegou ter sido violentamente agredido pelos Torcedores.

     

    Foi a senha para começar a repressão.

     

    Os PMs que atuavam na segurança dos atos entraram em alvoroço e começou a confusão. Arremessaram bombas contra os torcedores enquanto o coronel Américo Higuti conversava com um soldado, parecendo dar-lhe ordens.

     

    Quando a avenida Paulista já havia se transformado em uma praça de guerra, o coronel Américo Higuti ainda foi visto tomando água, ladeado por PMs, no posto móvel da polícia, em frente ao parque Trianon e ao Masp.

     

    Depois do ato, o coronel foi ao 78º Distrito Policial, denunciando ter sido agredido, esfaqueado, “vítima de uma emboscada” e “impedido de se manifestar livremente”. Mas as imagens mostram que, ao contrário, foi ele que armou contra os manifestantes. Quanto à facada, será mesmo que ocorreu? Um homem esfaqueado não estaria tranquilamente assistindo à repressão que desencadeou e, depois, tomando um copo de água com os soldados do posto móvel da PM. Nem muito menos dando entrevista na porta da delegacia para sites fascistas. 

     

    O sargento Valdani também conversou com blogs da extrema direita tão logo terminou de prestar queixa no 78º DP. Estava firme e forte. Estranhamente, logo depois, foi internado, alegando fortes dores causadas pelas supostas agressões dos torcedores.

     

     

    Jornalistas Livres encaminharam às 10h43 à assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo as seguintes questões. Recebemos a nota em resposta às 16h46.

     

    PERGUNTAS:

     

    Prezados senhores,

     

    (…) Gostaríamos de obter as seguintes informações:

     

    1. Qual o estado de saúde presente do coronel Américo Massaki Higuti? E do sargento Valdani?

     

    1. Por que o coronel Américo Massaki Higuti e o sargento Valdani compareceram à avenida Paulista trajando uniformes do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar? PMs da reserva podem usar fardamento em atos políticos?

     

    1. Por que um policial militar da ativa escoltou os manifestantes pró-bolsonaro em sua passagem por dentro do grupo contra Bolsonaro, colocando em risco a segurança dos escoltados?

     

    1. Torcedores que entrevistamos dizem que a “provocação” do coronel Higuti foi o que deu pretexto para a repressão que se iniciou a partir daí. Gostaríamos que a PM descreva o fato que deflagrou a repressão.

     

    RESPOSTAS:

    Nota da Secretaria de Segurança Pública a respeito dos questionamentos feitos pelos Jornalistas Livres
    Nota da Secretaria de Segurança Pública a respeito dos questionamentos feitos pelos Jornalistas Livres

     

    Prezados senhores,

     

    (…) Gostaríamos de obter as seguintes informações:

     

    1. Qual o estado de saúde presente do coronel Américo Massaki Higuti? E do sargento Valdani?

     

    1. Por que o coronel Américo Massaki Higuti e o sargento Valdani compareceram à avenida Paulista trajando uniformes do Comando de Operações Especiais da Polícia Militar? PMs da reserva podem usar fardamento em atos políticos?

     

    1. Por que um policial militar da ativa escoltou os manifestantes pró-bolsonaro em sua passagem por dentro do grupo contra Bolsonaro, colocando em risco a segurança dos escoltados?

     

    1. Torcedores que entrevistamos dizem que a “provocação” do coronel Higuti foi o que deu pretexto para a repressão que se iniciou a partir daí. Gostaríamos que a PM descreva o fato que deflagrou a repressão.

     

    Leia mais sobre Manifestação dos Torcedores Antifascistas em:

     

    Torcedores antifascistas: Heróis da Resistência, Povo em Luta, nossos Panteras Negras

    Torcidas do Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo se unem contra o fascismo

     

     

  • URGENTE: MPF no PA requisita inquérito que acusa brigadistas por incêndio em Alter do Chão

    URGENTE: MPF no PA requisita inquérito que acusa brigadistas por incêndio em Alter do Chão

    Os quatro brigadistas tiveram suas cabeças raspadas, e estão sendo tratados pela polícia civil e  pela justiça do Pará como condenados, apesar de estarem em prisão preventiva, numa investigação controversa e cheias de inconsistências. Os jovens também têm sido expostos na mídia tradicional que, como de praxe, não fez seu trabalho de apuração jornalística.

    Mas uma pequena luz se acende para um caso que, ao que tudo indica, se trata de mais uma armação político-judicial-policial para atacar ONGs, movimentos sociais e ambientalistas, prática que vem crescendo com o bolsonarismo.

    O Ministério Público do Pará enviou ofício, no final da tarde de hoje (27), à Polícia Civil do Pará, requisitando acesso integral ao inquérito que acusa brigadistas por incêndios florestais em área de proteção ambiental em Alter do Chão. Segundo o MPF-PA, a Polícia Federal vinha desde setembro investigando os incêndios ocorridos na região e, até o momento, não encontrou indícios do envolvimento de brigadistas ou de ONGs.

    Veja nota do MPF-PA:

    O Ministério Público Federal (MPF) em Santarém (PA) enviou ofício à Polícia Civil do Pará requisitando acesso integral ao inquérito que acusa brigadistas por incêndios florestais em área de proteção ambiental em Alter do Chão.
    Desde setembro, já estava em andamento na Polícia Federal um inquérito com o mesmo tema.  Na investigação federal, nenhum elemento apontava para a participação de brigadistas ou organizações da sociedade civil.
    Ao contrário, a linha das investigações federais, que vem sendo seguida desde 2015, aponta para o assédio de grileiros, ocupação desordenada e para a especulação imobiliária como causas da degradação ambiental em Alter.
    Por se tratar de um dos balneários mais famosos do país, a região é objeto de cobiça das indústrias turística e imobiliária e sofre pressão de invasores de terras públicas.
    Ministério Público Federal no Pará
    Assessoria de Comunicação
  • Professora é presa em Instituto Federal por não aceitar ação truculenta da polícia contra alunos

    Professora é presa em Instituto Federal por não aceitar ação truculenta da polícia contra alunos

    Que tempos!

    Quando uma professora é presa por defender alunos, durante uma aula, contra a ação arbitrária e truculenta de policiais, é porque há algo de muito errado em nossa sociedade e nas forças de segurança do país.

    Camila Marques foi presa por desacato, após policiais interromperem sua aula para conduzir alguns alunos para serem interrogados na delegacia. Camila tentou defender os alunos, e também foi encaminhada para a delegacia.

    Veja o depoimento de Camila.

    “É uma atuação do Estado extremamente violenta e coercitiva contra a classe trabalhadora…”

  • A militarização das escolas públicas no DF e o ataque generalizado da extrema direita ao pensamento crítico.

    A militarização das escolas públicas no DF e o ataque generalizado da extrema direita ao pensamento crítico.

    Uniformes militares, cabelos curtos para meninos, meninas de coque, hasteamento da bandeira e execução do hino nacional, aulas de educação moral e cívica sob a orientação de policiais e bombeiros responsáveis pelo comando disciplinar das escolas. Esse é o projeto piloto que está sendo implementado em quatro escolas públicas do DF desde as volta às aulas, no dia 11 de fevereiro.

    “Vocês vão aprender alguns aspectos da doutrina militar, a prestar continência, a marchar”, adiantou o major Edney Freire, responsável pela administração e disciplina do colégio Centro Educacional (CED) 7, em Ceilândia (que agora passará a se chamar Colégio da Polícia Militar de Ceilândia).

    Ao contrário do que vem sendo dito pela Secretaria de Estado de Educação  do DF (SEEDF), e divulgado amplamente pela mídia (Rede Globo), a Gestão Compartilhada (nome dado à militarização das escolas) não está sendo um processo democrático e, segundo relatos de professores e do Sindicato dos Professores (SINPRO), está em curso um golpe contra professores, estudantes e as comunidades escolares. As assembléias que votaram pela militarização (em 3 das 4 escolas a “comunidade escolar” votou “sim” para a militarização”, mas o SIMPRO alega que tais votações não foram legítimas.

    Segundo o regimento que trata dos critérios para a realização e convocação de assembleias extraordinárias,  qualquer convocação precisaria garantir no mínimo 15 dias de ampla divulgação. Somente por esse critério as assembleias já estariam completamente deslegitimadas. A ampla divulgação não foi realizada, as assembléias foram “convocadas” com cinco dias de antecedência e em período de férias escolares, quando muitas famílias, professores e alunos não se encontram na cidade.

    Alunos de escola pública no primeiro dia de aula no DF
    Policiais recebem alunos no primeiro dia de aula no DF

    A iniciativa golpista dos setores que apoiam a intervenção militar nas escolas do DF teria se dado diante da firme oposição do corpo de professores que compõem essas escolas. “Precisaram descumprir as normas do regimento de convocação das assembléias pois, diante de um debate amplo com a comunidade escolar, a falácia da Gestão Compartilhada cairia por terra, não só nas quatro escolas escolhidas inicialmente, mas também nas outras 187 escolas do DF, como prevê o governo bolsonarista de Ibaneis”, dizem os professores.

    Assembléia controlada pela PM

    O golpe das assembleias, nas férias escolares, teve seu primeiro capítulo no CED 308 do Recanto das Emas, quarta escola vítima da militarização. No dia 30/1, o diretor Márcio Jesus Faria, teria convocado uma “assembleia” apenas com uma parte da comunidade escolar, selecionada a dedo as pessoas favoráveis à militarização, e chamou a Rede Globo para cobrir a votação e pegar depoimentos. As pessoas favoráveis a militarização chegaram, no dia da voltação, carregando faixas de apoio à polícia militar, o que é, segundo relatos de professores, incomum. A Polícia Militar também foi chamada, para dar “segurança” para as pessoas que iriam votar. e para tentar inibir qualquer oposição à assembléia. Os professores do CED 308 contrários à militarização não foram convocados, tampouco o sindicato da categoria, o SINPRO.

     

    Ditadura militar no MEC

    Para levar a frente a militarização de escolas públicas, duas medidas foram essenciais: a criação da Secretaria Nacional pela Militarização das Escolas e a Militarização do Ministério do MEC (Ministério da Educação), por meio da nomeação de militares para a pasta. Veja a lista abaixo:

    • General Francisco Mamede de Brito Filho – chefe de gabinete do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).
    • Coronel Robson Santos da Silva – assessor especial do ministro da Educação.
    • Tenente-coronel Marcos Heleno Guerson de Oliveira Junior – diretor de política regulatória da Seres (Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior.
    • Coronel-aviador Ricardo Wagner Roquetti – Secretaria-executiva do MEC.
    • Miranda Freire de Melo – Oficial da reserva não remunerada da Marinha Eduardo  – Secretário-executivo adjunto.
    • Luiz Tadeu Vilela Blumm – Coronel da reserva remunerada dos bombeiros – Diretor de gestão de fundos e benefícios do FNDE, Coordenador do financiamento estudantil oferecido pelo Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica).
    • Coronel da reserva Sebastião Vitalino da Silva– Coordenação-geral de materiais didáticos da SEB (Secretaria de Educação Básica). (Expectativa)

    General Oswaldo de Jesus Ferreira – Presidência da Ebserh, responsável pelo gerenciamento dos hospitais universitários federais de todo o país.

    A intervenção militar nas escolas faz parte de uma estratégia maior – liderada pelo governo Bolsonaro -de ataque à educação pública, como já foi anunciado pelo governo federal, a ideia é acabar com a alfabetização escolar, implementar a educação à distância e privatizar universidades públicas.

    Deputado Distrital da REDE elaborou um Projeto de Decreto que tentará impedir a militarização das escolas do DF

    Para impedir a continuidade do projeto  que militariza 4 escolas do DF, o Deputado Distrital Leandro Grass (REDE-DF), elaborou um Projeto de Decreto que foi levado, na tarde desta terça-feira (12), à CCJ (Comissão de Constituição e justiça) e CESC (Comissão de Educação Saúde e Cultura) da CLDF (Câmara Legislativa do DF). O projeto de Grass foi recusado pela Câmara Legislativa. Alguns professores manifestaram indignação e foram retirados da Câmara. 

    E segue o ataque da extrema direita ao pensamento crítico!

    Saiba mais no site do SIMPRO-DF: www.sinprodf.org.br

  • Macri enfrenta a pior crise política desde que assumiu a presidência da Argentina

    Macri enfrenta a pior crise política desde que assumiu a presidência da Argentina

    Por Coletivo Passarinho para os Jornalistas Livres
    Fotos do coletivo M.A.F.I.A

    Na tarde de ontem (14/12), dezenas de milhares de trabalhadores, estudantes e aposentados reuniram-se nas proximidades do Congresso Argentino, em Buenos Aires, para repudiar a reforma previdenciária que estava para ser votada. Estiveram presentes os movimentos sociais, territoriais e estudantis, as principais centrais sindicais da Argentina (Confederção Geral do Trabalho – CGT e Central dos Trabalhadores da Argentina – CTA), o sindicato representativo dos servidores públicos (ATE), o sindicato dos docentes (SUTEBA), as associações de aposentados, as diversas organizações kircheneristas (entre elas o Movimento Evita), os partidos de esquerda (PTA, PO e MST), as organizações de Direitos Humanos e muitos cidadãos que se solidarizaram com a manifestação e foram para a rua.

    O Congresso e suas imediações estavam cercados por grades, colunas de mais de mil policiais que usavam balas de borracha, gás lacrimogênio e caminhões com jatos d´agua para reprimir os manifestantes. A operação foi integrada pelas polícias federal, da cidade de Buenos Aires e de segurança aeroportuária. A dimensão da operação foi considerada inédita desde a transição democrática do país.

    A escalada da repressão policial na Argentina ascendeu consideravelmente no último semestre, com dois assassinatos de Estado no sul do país (de Santiago Maldonado e Rafael Nahuel), ambos casos relacionados ao avanço consentido pelo governo sobre terras reinvindicadas pelo povo originário Mapuche. As manifestações convocadas contra tais assassinatos também foram duramente reprimidas. Nesta semana, a situação de exceção chegou ao seu ápice com a repressão da manifestação pacífica organizada dentro da Semana de Ação Global Fora OMC, na última terça-feira.

    Na tarde de ontem, até mesmo alguns deputados da oposição foram atacados pela força repressora. A deputada da Frente para a Vitória, Mayra Mendoza, foi agredida com gás de pimenta enquanto tentava atravessar o cerco policial para ingressar no Congresso. A quantidade gás utilizada foi tão grande que o ar nas imediações do Congresso se tornou inrrespirável: era comum ver mulheres, trabalhadores e idosos caídos no chão com dificuldades para respirar. Todos se protegiam como podiam, especialmente com as camisetas sobre o nariz e a boca. Mesmo assim, o povo se manteve aí por horas, debaixo de um sol que fazia 36°C e de nuvens de gás lacrimogêneo.

    Quando a rua soube que a sessão havia sido suspensa, a alegria tomou conta das pessoas. Era o momento de cantar e fazer soar o bumbo, característica tradicional das manifestações na Argentina. Vitórias, ainda que passageiras, têm que ser comemoradas. Mas a comemoração durou quase nada: a polícia avançou sobre a praça quando já não havia nenhum conflito e foi jogando bombas e atirando com balas de borracha sobre o povo, em um trajeto de aproximadamente 500 metro, entre a Praça do Congresso e a Avenida 9 de Julho.

    O ato já havia terminado, mas se iniciava um novo operativo policial, o que, absurdamente, tem se tornado corriqueiro na Argentina: a caça a manifestantes individuais e também a jornalistas quando já estão a caminho de casa ou dirigindo-se a outros destinos. À noite, as organizações de direitos humanos, especialmente a CORREPI (Coordenação contra a Repressão Policial e Institucional), estiveram de plantão, buscando localizar os aproximadamente 30 detidos, garantindo assessoria legal e realizando vigílias pela liberação dos presos.
    A marcha de ontem e os acontecimentos no plenário da Câmara de Deputados produziram fissuras no bloco governista, integrado pelo partido do presidente Maurício Macri (PRO), Coalizão Cívica (CC) e União Cívica Radical (UCR). A oposição ao governo recusou-se a sentar-se no plenário, o que fez com que a sessão não tivesse o quórum necessário para a votação. A suspensão da sessão deu-se por iniciativa da deputada Elisa Carrió, que lidera a Coalizão Cívica. Ela não somente requereu a paralisação dos trabalhos legislativos como criticou duramente a Ministra de Segurança do governo, Patricia Bullrich. Disse que não eram necessários tantos policiais e que a ministra tinha que parar.

    Os principais meio de comunicação, alinhados com o chefe de gabinete, Marcos Pena, davam sua versão sobre os fatos. Um grupo de pessoas violentas e desrespeitosas estaria ameaçando as instituições democráticas e o processo legislativo. Já o governo havia agido de forma correta para garantir a paz social. O imaginário do piqueteiro, baderneiro, que tanto assusta os setores médios e altos argentinos, é difundido à exaustão, construindo um ambiente de deslegitimação da mobilização popular.

    O Presidente avaliou a possibilidade de aprovar a reforma, ainda ontem, por meio de um Decreto Nacional de Urgência (DNU), o equivalente às Medidas Provisórias no Brasil. Na coletiva de imprensa da CGT, o secretário-geral Héctor Daer foi claro: “se o governo aprova a reforma por DNU, a CGT vai para a greve geral”. Carrió, do bloco governista, também discordou das intenções de Macri em um posto no Twitter: “um DNU violaria gravemente a Constituição Nacional e nós juramos respeitar a Constituição Nacional”.

    Na tarde desta sexta (15/12), o Presidente Macri reúne-se com governadores provinciais para buscar uma solução para o impasse. Os governadores peronistas romperam o pacto com o governo que implicava em repasses de parte dos valores economizados com a redução das aposentadorias para as províncias, uma vez que não foram capazes de impor aos deputados dos partido que votassem as medidas claramente impopulares. Ao que tudo indica, o intenção do governo é retomar a sessão legislativa na segunda-feira.

    Os Argentinos têm uma longa tradição de se mobilizar no calor de dezembro. No emblemático dezembro de 2001, quando os pobres da região metropolitana de Buenos Aires se uniram em mobilizações massivas à classe média que havia tido seus depósitos bancários retidos, a crise política foi tão grave que o país teve cinco presidentes diferentes em duas semanas. Desde então, os dezembros são comumente conflitivos, com mobilizações contra os cortes de luz, contra a carestia e por bônus salariais e assistenciais de natal. Este ano ao que parece não será diferente, a manifestação de ontem acendeu a chama de um mal estar profundo. Dezenas de milhares gritaram: “Com os velhos não!”. Basta saber se as ruas terão força suficiente para mudar o tabuleiro político do país, uma vez que Macri consolidou sua força nas eleições legislativas de outubro.