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Tag: Racismo

  • Uberlândia, pela vida, grita FORA BOLSONARO

    Uberlândia, pela vida, grita FORA BOLSONARO

    Na manhã dessa quarta-feira 17 de junho, ativistas da cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, romperam o isolamento social por uma causa maior: protestar contra o genocídio promovido pelo governo Bolsonaro. O local escolhido foi a Praça Tubal Vilela, rebatizada pelos movimentos como Ismene Mendes, em homenagem a uma lutadora dos direitos humanos em contraposição a um político que matou por ciúmes a própria esposa grávida.

    Fotos e vídeo: Isley Borges
    Fotos e vídeo: Isley Borges
    Fotos e vídeo: Isley Borges

    Dezenas de “corpos” de vítimas do racismo, da fome e da Covid-19 foram dispostos na praça como denúncia do fascismo e da necropolítica definidoras do atual governo Federal. Às frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, juntaram-se diversos movimentos de luta contra a pandemia e também as políticas de morte como o machismo, a LGBTfobia, a violência policial e todos os preconceitos baseados em ódio irracional.

    Os grupos também fizeram um apelo urgente ao prefeito Odelmo Leão, apoiador de primeira hora da extrema-direita, pela volta do fechamento dos serviços não-essenciais para impedir a atual velocidade de transmissão do novo coronavírus.

    Os ativistas também publicaram uma nota explicativa. Leia abaixo:

    FORA BOLSONARO E SEU GOVERNO

    CIVIS, COLETIVOS, MOVIMENTOS POPULARES, PARTIDOS, FRENTES BRASIL POPULAR E POVO SEM MEDO PROTESTAM PELO FORA BOLSONARO E SEU GOVERNO, CONTRA AS POLÍTICAS DE MORTE DIANTE DA PANDEMIA.

    Vivemos em um país governo por neofascistas, irresponsáveis e incompetentes, assistimos todos os dias os investimentos se esvaindo, o desemprego, a miséria e a fome crescem assustadoramente e o nosso futuro ficando cada dia mais incerto. Bolsonaro e seu governo ataca os estudantes, artistas, professores, funcionários públicos e todos que lutam por um país mais justo e democrático, vêem os brasileiros como seus inimigos, e coloca todos os trabalhadores e trabalhadoras como um problema a ser enfrentado e não como a solução para os problemas por eles criados por esse Governo.

    O ano de 2020 está sendo marcado uma pandemia da COVID-19 e isso nos coloca em uma situação de risco à saúde e de retração da atividade econômica e não vemos nenhuma ação desenvolvida pelo Governo Bolsonaro e seus apoiadores em Minas Geias e Uberlândia em defesa da vida e das pessoas. Sem uma política de enfrentamento aos problemas gerados pela pandemia, sem a capacidade de construir uma política de saúde, onde nem mesmo a manutenção de um Ministro da Saúde esse governo foi capaz, os trabalhadores e trabalhadoras brasileiros foram deixados à própria sorte.

     

    Enquanto o Governo Central se preocupa em beneficiar as grandes indústrias, os grandes empresários usam a atenção da mídia para a doença para conseguir passar uma “boiada” de leis contrárias a defesa da Amazônia, aos direitos trabalhistas e as políticas públicas de educação.

     

    Somente agora, após a morte de milhares de brasileiros e brasileiras, e uma escalada autoritária e frenética contra a democracia e ataque aos demais Poderes do Estado vemos alguma reação contrária a este Governo genocida. A nossa democracia está severamente ameaçada, as vidas dos brasileiros e brasileiras está por um fio. Enquanto alguns estão morrendo de fome, outros morrem doentes. Há um descaso completo com nossa soberania e com os interesses do Brasil.

  • Menino negro é encontrado morto sob tortura em São Paulo. Investigação aponta Sargento da PM

    Menino negro é encontrado morto sob tortura em São Paulo. Investigação aponta Sargento da PM

    Por Karina Iliescu

    Guilherme Silva Guedes, estudante, sumiu na madrugada desse sábado, 14. Depois foi encontrado no IML com sinais de tortura e tiros na cabeça e nas mãos. De acordo com seus familiares, ele foi morto por um Policial Militar que trabalhava como vigilante em um galpão na Zona Sul de São Paulo.

    Dois policiais militares já foram apontados como suspeitos pela Policia Civil de São Paulo e segundo reportagem da UOL, Adriano Fernandes de Campos, 41, do Baep (Batalhão de Ações Especiais) de São Bernardo do Campo foi o autor do assassinato junto com outro soldado da PM. A investigação está em andamento pelo DHPP. O sargento ainda não foi encontrado.

    Guilherme foi levado, segundo vídeo da câmera de segurança, por dois homens armados. Ele estava em frente da casa de sua avó e alguns minutos antes teria acontecido um assalto em um galpão próximo ao local do desaparecimento. A suspeita é que esses policiais que trabalhavam como vigilantes, teria confundido o Guilherme e levado-o. Segundo informações que chegaram para a família, o mesmo carro que levou o Guilherme teria entrado neste galpão e duas viaturas esperavam na porta com as luzes apagadas.

    Aconteceu uma manifestação na segunda-feira, quando a família soube que o menino estava morto. PM, Força Tática e o batalhão do Choque reprimiram com bomba e tiros de borracha. O protesto foi nas proximidades da avenida Cupecê, Zona Sul, realizado por moradores e amigos. O protesto começou onde ele foi visto pela última vez. A Tropa de Choque reprimiu os manifestantes e a revolta popular provocou o incêndio de quatro ônibus.

    Ontem, 16, houve mais uma manifestação pela memória de Guilherme e por justiça. A PM e a Tropa de Choque reprimiu os manifestantes e alguns foram detidos.

     

     

    Fotos de Marcelo Rocha do protesto que aconteceu na tarde do dia 16 no Jardim Miriam.

    Veja o vídeo da revolta popular do dia 15 de junho.

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/594448301194963/

     

  • E SE GEORGE FLOYD FOSSE BRASILEIRO?

    E SE GEORGE FLOYD FOSSE BRASILEIRO?

     

    ARTIGO

    Abner F. Sótenos, doutorando da University California San Diego, e Daniel Pinha, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

     

    George Floyd foi morto no último 25 de maio após detenção policial na cidade americana de Minneapolis no estado de Minnesota. Floyd era um homem negro de 46 anos, asfixiado por quase oito minutos após ter sido algemado e imobilizado pela polícia local. Um dos policiais, que é branco, ajoelhou sobre o pescoço de Floyd e, com as mãos nos bolsos, posava para as câmaras de celular que filmavam Floyd agonizando e implorando pela mãe e por ar. As últimas palavras de Floyd foram: “Eu não consigo respirar!”. Esta frase estampou cartazes e se tornou um dos lemas dos protestos antirracistas que varrem o país até hoje. Ao público brasileiro que acompanha este caso, surge a incômoda pergunta: se caso semelhante ocorresse no Brasil, como seria a repercussão e mobilização social?
    O caso Floyd nos abre a possibilidade de pensar que o lema “Vida Negras Importam” não seja exclusivo dos negros. Nas ruas norte-americanas se observa a formação de uma frente multiétnica. Mais do que isso. Há o reconhecimento do privilégio branco a serviço da luta antirracista: mulheres brancas formaram cinturões humanos para proteger negros da ação policial nas manifestações. Importante lembrar, neste sentido, o papel dos movimentos sociais e black scholars na educação da população, na contínua mobilização de brancos e negros, após a frustração do resultado eleitoral de 2016. Este processo de formação fez com que a população não entendesse as lutas antirracistas atuais como separatistas ou supremacistas.
    No Brasil, não identificamos ainda uma associação direta entre racismo e privilégio, ou seja, não há o reconhecimento de que brancos se beneficiam do racismo estrutural. Isso dificulta a formação de uma frente racial por aqui e o racismo é entendido como problema dos negros e marca de seu vitimismo. Negros são atingidos pelo racismo, mas não os causadores do racismo e não devem ser os únicos responsáveis por seu combate.
    Racismo à brasileira
    O racismo brasileiro é entendido geralmente como uma ação de indivíduos isolados considerados às vezes ignorantes, às vezes perversos, mas quase nunca inseridos numa lógica social. A violência do Estado contra pessoas negras e indígenas mobiliza muito pouco a opinião pública brasileira. Muitas vezes tais violências não são percebidas como racismo, ainda que sejam praticadas sistematicamente contra grupos específicos, negros e indígenas. O exemplo disso é a letalidade policial. A polícia mata quase que exclusivamente a população preta – negros e pardos. De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), no primeiro semestre 2019, cerca de 80 % das vítimas policiais no Rio de Janeiro eram pretas. Dados mais recentes, apontam que, entre janeiro e abril de 2020, houve aumento significativo no Brasil de assassinatos cometidos por policiais civis e militares. Somente em abril, em pleno período de quarentena, houve estados em que a letalidade policial aumentou mais de 53% quando comparado ao ano anterior. Ao mesmo tempo, estudos apontam que jovens negros são os alvos preferencias dos homicídios cometidos no país.
    O racismo no caso brasileiro deve ser visto como ele funciona, operado pelas instituições públicas e privadas. Muitos casos ganharam dimensão nacional, mas não dispararam grandes mobilizações de rua, somente alguns atos na localidade em que a pessoa foi assassinada. Os assassinatos praticados entre 2019 e 2020 superam em muito os ocorridos nos Estados Unidos. Os exemplos se multiplicam, neste sentido.
    O caso do músico Evaldo Rosa, assassinado no Rio de Janeiro com 80 tiros disparados pelas forças interventoras do Exército brasileiro na cidade. Já a menina Ágatha Félix, de 8 anos, também assassinada por forças policiais em 2019 na cidade do Rio de Janeiro. As investigações apontaram que Ágatha foi assassinada pela Polícia Militar, que atirou a esmo num motociclista desarmado; a bala atingiu a menina dentro do transporte onde ela estava junto com a mãe. O assassinato do adolescente João Pedro, morto pela PM em casa, em meio à pandemia, embora tenha causado muita revolta não parou o país. Agora, no último dia 24 de abril, o jovem David Nascimento dos Santos, de 23 anos, foi sequestrado pela PM paulista e encontrado morto tempos depois. David, que morava numa favela em Jaguaré, Zona Oeste de São Paulo, esperava seu lanche chegar depois de um pedido feito pelo aplicativo iFood. As imagens captadas por uma câmera da rua revelaram o sequestro. As circunstâncias da morte do jovem negro Pedro Henrique Gonzaga, em fevereiro de 2019, são ainda mais tragicamente próximas as de George Floyd: asfixiado até a morte por um golpe de “mata-leão”, realizado por um segurança da rede de supermercados Extra, no Rio de Janeiro, na presença da mãe e sob lentes filmadoras.
    No Brasil, assassinar negros e negras virou algo cotidiano e naturalizado. O caso Floyd parece ter mobilizado mais a imprensa brasileira do que casos ocorridos aqui. A distância parece trazer uma espécie de conforto e a segurança de que a cobertura não incitará maiores riscos sociais ou uma espécie de chamado às ruas. Grosso modo, a imprensa tem apoiado não só a causa, mas as manifestações. O caso Floyd trouxe à tona a necessidade de negros conduzirem o debate sobre racismo na TV. Exemplo emblemático neste sentido foi a postura do canal de TV por assinatura Globo News que, após receber uma série de críticas nas redes sociais, trocou uma bancada de comentaristas formada por jornalistas brancos, por outra formada por negros, para tratar do caso. Ou seja, a própria forma de contar se tornou um fato digno de nota, mostrando o quanto a perspectiva anterior revelava o ponto de vista branco pretensamente universal.
    De orientação liberal, a abordagem da grande imprensa evita relacionar racismo estrutural e capitalismo. Reformas liberais, como a previdenciária, trabalhista e a PEC do Teto dos Gastos, amplamente endossadas pela grande imprensa, atacaram diretamente direitos dos trabalhadores. Sobretudo os negros, submetidos às condições de maior vulnerabilidade social. Exemplo disto ocorre no contexto da pandemia de Covid-19, em que negros ocupam as ruas a trabalho, fazendo entregas, transportando pessoas, vendendo máscaras, dentre outras atividades que põem suas vidas em risco.
    A morte trágica do menino Miguel evidenciou estas condições vulneráveis do trabalho negro em meio à pandemia: sua mãe, dona Mirtes, trabalhadora doméstica, não teve a “escolha” de aderir à campanha do “Fique em casa”. E se dona Mirtes descuidasse do filho da patroa branca, quais não teriam sido as consequências para ela?
    Floyd em meio ao racismo-neofascista
    A luta antirracista no Brasil é histórica, mas encontra no contexto atual obstáculos ainda maiores. O processo de “fascistização de setores sociais” torna as circunstâncias de reprodução do racismo ainda mais perversas. Em primeiro lugar, discursos em defesa da ação violenta da polícia são amplamente aceitos e aplaudidos por parcelas significativas da sociedade que, nas últimas eleições de 2018, elegeram não apenas um presidente com histórico de declarações racistas, mas também governadores e parlamentares que se vangloriavam de discursos em defesa do “homem de bem” branco. Será que, por exemplo, o discurso em defesa do porte de armas imagina que negros possam utilizá-las para defesa de incursões policiais em suas residências?
    Em segundo lugar, há o que podemos chamar de “negacionismo do racismo”. Não se trata apenas de disseminar o falso discurso de igualdade e democracia racial, tentando impor o esquecimento do trauma da escravidão. Mas agora esta modalidade negacionista é mais contundente. Ataca símbolos das lutas do movimento negro, aponta dimensões positivas da escravidão, reduz o problema estrutural do racismo ao chamado “mimimi”. O atual presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo, é o caso mais exemplar em relação a isso. Ele é pago pelo Estado, com recursos de homens e mulheres negras, para negar a existência do racismo, invertendo inteiramente o propósito de seu cargo.
    Por fim, se George Floyd fosse brasileiro, o raciocínio racista-neofascista traria para primeiro plano a cínica afirmação feita em tantos casos: “Mas também, alguma coisa ele deve ter feito para merecer aquilo”. Uma afirmação, por vezes silenciosa, por vezes explícita, que revela o extravasamento do racismo praticado aqui. Aliás, nunca foi tão questionável a afirmação de que por aqui o racismo é velado, silencioso. Aqui se pratica política de morte, posta à prova de maneira contundente contra o corpo negro, acertado pela bala ou pelo joelho de um policial. Depois, atingido pela narrativa que banaliza e justifica sua morte, normaliza a violência, relativiza a brutalidade dos assassinos.
    Se George Floyd fosse brasileiro, seu corpo negro seria alvo da política de morte praticada aqui e a barbárie racista-neofascista trataria de liquidar não só seu corpo, mas sua memória. Por aqui, mais do que nunca, está muito difícil respirar… Por isso, no Brasil de hoje, uma premissa é inescapável: qualquer iniciativa de luta democrática e antifascista só será efetiva se for antirracista.
  • Enquanto houver RACISMO, não haverá DEMOCRACIA

    Enquanto houver RACISMO, não haverá DEMOCRACIA

    Cidadãos e organizações da sociedade civil, população negra organizada, mulheres negras, pessoas faveladas, periféricas, LGBTQIA+, quilombolas, religiões de matriz africana e pretos e pretas com distintas confissões de fé, povos do campo, das águas e da floresta, trabalhadores explorados, informais e desempregados, em Coalizão Negra por Direitos, lançaram um manifesto e abaixo-assinado para EXIGIR  a erradicação do Racismo como prática genocida contra a população negra.
    Confira a íntegra do manifesto em www.comracismonaohademocracia.org.br 

    Enquanto houver RACISMO, não haverá DEMOCRACIA

    “Convidamos você a praticar seu antirracismo! Una-se à nós neste manifesto, às nossas iniciativas históricas e permanentes de resistências e às propostas que defendemos como forma de construir democracia, organizada nestas propostas.

    Nós, população negra organizada, mulheres negras, pessoas faveladas, periféricas, LGBTQIA+, que professam religiões de matriz africana, quilombolas, pretos e pretas com distintas confissões de fé, povos do campo, das águas e da floresta, trabalhadores explorados, informais e desempregados, em Coalizão Negra por Direitos, viemos a público exigir a erradicação do racismo como prática genocida contra a população negra.

    O Brasil é um país em dívida com a população negra – dívidas históricas e atuais. Portanto, qualquer projeto ou articulação por democracia no país exige o firme e real compromisso de enfrentamento ao racismo. Convocamos os setores democráticos da sociedade brasileira, as instituições e pessoas que hoje demonstram comoção com as mazelas do racismo e se afirmam antirracistas: sejam coerentes. Pratiquem o que discursam. Unam-se a nós neste manifesto, às nossas iniciativas históricas e permanentes de resistências e às propostas que defendemos como forma de construir a democracia, organizada em nosso programa.

    Esta convocação é ainda mais urgente em meio à pandemia da Covid-19, quando sabemos que a população negra é o segmento que mais adoece e morre, que amplia as filas de desempregados e que sente na pele o desmantelamento das políticas públicas sociais. Em meio à pandemia de Covid-19, o debate racial não pode mais ser ignorado.

    Neste momento, em que diferentes setores se unem em defesa da democracia, contra o fascismo e o autoritarismo e pelo fim do governo Bolsonaro, é de suma importância considerar o racismo como assunto central.

    “Estamos vindo a público para denunciar as péssimas condições de vida da comunidade negra.” Este trecho, retirado do manifesto de fundação do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, de julho de 1978, é a prova de que jamais fomos ouvidos e de que sempre estivemos por nossa própria conta.

    Essa é uma luta que não começa aqui, mas que se materializou no pensamento e na ação de homens e mulheres que, em todos os momentos históricos em que a brutalidade foi imposta ao povo negro, levantaram suas vozes e disseram: NÃO!

    Não há democracia, cidadania e justiça social sem compromisso público de reconhecimento do movimento negro como sujeito político que congrega a defesa da cidadania negra no país. Não há democracia sem enfrentar o racismo, a violência policial e o sistema judiciário que encarcera desproporcionalmente a população negra. Não há cidadania sem garantir redistribuição de renda, trabalho, saúde, terra, moradia, educação, cultura, mobilidade, lazer e participação da população negra em espaços decisórios de poder. Não há democracia sem garantias constitucionais de titulação dos territórios quilombolas, sem respeito ao modo de vida das comunidades tradicionais. Não há democracia com contaminação e degradação dos recursos naturais necessários para a reprodução física e cultural. Não há democracia sem o respeito à liberdade religiosa. Não há justiça social sem que as necessidades e os interesses de 55,7% da população brasileira sejam plenamente atendidos.

    O racismo deve ser rechaçado em todo o mundo. O brutal assassinato de George Floyd demonstra isso, com as revoltas, manifestações e insurreições nas ruas e a exigência de justiça racial. No Brasil, nos solidarizamos com essa luta e com esses protestos e reivindicamos justiça para todos os nossos jovens e para a população negra. E, entre muitos que não podemos esquecer, João Pedro presente!

    Em nosso passado, formamos quilombos, forjamos revoltas, lutamos por liberdade, construímos a cultura e a história deste país. Hoje, lutamos por uma verdadeira democracia, exercício de poder da maioria, e conclamamos aqueles e aquelas que se indignam com as injustiças de nosso país.

    Porque a prática é o critério da verdade.”

  • Neonazistas invadem reunião de mulheres sobre racismo

    Neonazistas invadem reunião de mulheres sobre racismo

    Publicado em 12 de junho 2020

    Uma reunião virtual que discutia estratégias de combate ao racismo com mais de 70 convidados, a maioria mulheres, foi interrompida por imagens de cabeças sendo cortadas, um homem se masturbando, pedidos de morte a mulheres e a figura de uma suástica na quarta-feira (10/06), em Florianópolis.

    Os relatos de duas das organizadoras, ouvidas pela BBC News Brasil, seguem um padrão semelhante ao de pelo menos seis outros ataques registrados em debates virtuais feitos por meio de aplicativos nos últimos dois meses. O encontro havia sido organizado pelo Icom (Instituto Comunitário Grande Florianópolis) com o tema “Que tipo de práticas antirracistas podem ser adotadas pela sociedade civil organizada?”.

    A maioria dos convidados havia se inscrito previamente por meio de um formulário disponibilizado pelo instituto. “Mas, uma hora antes, divulgamos o link direto para o evento em nossas redes sociais para aqueles que quisessem participar de última hora”, explica Mariana de Assis, uma das organizadoras. “Eles entraram depois de uma hora de webnário, quando tínhamos mais de 70 pessoas participando. Toda a nossa equipe é formada por mulheres, 95% das presentes também eram mulheres. De repente, entra uma música dizendo que mulher tem que morrer, depois outra janela mostrando pornografia, outro comentando, fazendo ataques. Foram dois minutos de ataques até que a equipe conseguiu tirá-los”, explicou Assis.

    O instituto, uma organização sem fins lucrativos criada há 15 anos na capital catarinense, registrou um boletim de ocorrência após o episódio, ao qual a BBC News Brasil teve acesso. À reportagem, a diretora da polícia civil na Grande Florianópolis, delegada Eliane Chaves, disse que vai instaurar um inquérito para apurar as denúncias. O vídeo da reunião foi gravado e será uma das fontes para a investigação.

    Ataques semelhantes

    Homem se masturba durante reunião de zoomFOTO: REPRODUÇÃO
    Homem se masturbou durante ataque a reunião virtual na plataforma Zoom, na última quarta-feira

    O episódio em Florianópolis segue padrão semelhante ao de outros ataques registrados nas últimas semanas em diferentes estados. No início de abril, uma vídeochamada organizada pela SBI Imuno e pela Agência Bori pelo aplicativo Zoom discutia a pandemia do novo coronavírus com 60 participantes quando foi interrompida por imagens de Hitler.

    Em maio, um debate sobre divulgação científica organizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência foi interrompido por ofensas racistas e saudações nazistas. Na última semana, pelo menos quatro ataques semelhantes foram registrados. Na segunda-feira, um debate universitário sobre negritude com professores da Universidade Federal da Bahia também foi interrompido por imagens de conotação racista. Segundo uma das organizadoras, a reunião foi suspensa após inúmeras tentativas de retirar os estranhos do ambiente, que festejaram a decisão aos gritos de “mito, mito” – em referência ao presidente Jair Bolsonaro.

    Já na terça-feira, um ataque durante o webinário Atlântico Negro, organizado por professores da Unicamp, também foi “invadida de forma massiva por vozes e imagens que impediram o direito de fala da professora da Unicamp, dra. Lucilene Reginaldo, bem como de todos que acompanhavam a atividade, numa clara agressão à missão que a sociedade entregou à universidade de produzir conhecimento e difundi-lo de forma livre e democrática”, segundo nota emitida pela universidade.

    “Esse gesto violento e autoritário procura também, por meio da intimidação, calar os avanços que a sociedade realizou nas últimas décadas no reconhecimento da injustiça representada pela escravidão. Procura, na mesma lógica racista que sustentou a escravidão, ocultar a competência intelectual dos negros, impedir sua manifestação pública e seu direito elementar de ter protagonismo na construção do conhecimento a respeito de sua própria história”, prossegue a nota.

    No mesmo dia, um evento organizado pelo centro acadêmico da faculdade de direito da UFRJ foi “alvo de uma invasão promovida por um grupo neonazista durante o evento do Conhecendo o CACO na plataforma Zoom”. “Diante de imagens nazistas, vídeos de pornografia e fotos de pessoas mutiladas exibidas em nossa reunião com calouros e calouras, vimos necessidade em levar a ocorrência às autoridades competentes”, diz o centro, em nota.

    Porta fechada

    VideoconferênciaGETTY IMAGES
    Especialista defende que acesso a reuniões por videoconferência seja restrito, para evitar ataques como os que foram registrados nas últimas semanas

    Para Renato Opice Blum, especialista em crimes digitais e um dos advogados da plataforma Zoom no Brasil, os ataques poderiam ser tipificados como uma série de crimes, incluindo ameaça, calúnia, injúria e difamação, além de injúria qualificada e racismo. “A figura da suástica é inclusive citada na descrição do crime de racismo”, diz.

    Professor de proteção de dados e direito digital do Insper, Blum afirma que a plataforma Zoom “não tem responsabilidade” sobre este tipo de ataque. “Não são problemas que decorrem da ferramenta, mas da situação comportamental”, diz. “As plataformas, não só o Zoom, são muito seguras. Inseguro é o ser humano.”

    “Recomenda-se que, quando uma reunião for realizada, não se divulgue o link nas redes sociais e que a reunião fique restrita. O administrador tem que autorizar ingressar na videoconferência”, afirmou a delegada-chefe da polícia da Grande Florianópolis.

    O advogado sugere que o acesso às reuniões seja restrito. “Normalmente, essas invasões acontecem porque as pessoas divulgam o canal de acesso, o link. É como deixar as portas de casa abertas”, diz. Mas ele completa: “Mas não é porque você deixou a porta de casa aberta que você é responsável por um eventual ataque à sua casa.”A recomendação, segundo o advogado, é registrar a queixa em qualquer delegacia. “Não precisa ser uma delegacia especializada em crimes digitais.”

    Mariana Assis, uma das organizadoras do evento em Florianópolis, conta que precisou abandonar a reunião. “Eu estou traumatizada. Fiquei com muito medo e caí no choro. Ainda faltavam 40 minutos e eu, enquanto mulher preta, não tive mais condições de continuar, não, não tive força para me posicionar nas minhas mídias sociais e não sei como vou conseguir lidar com isso daqui para frente. Nem sozinha eu estou conseguindo ficar em casa”, diz.

    A professora Lia Vainer Schucman, do Departamento de Psicologia da UFSC, foi quem continuou a condução do debate. “Na hora, eu fiquei super assustada, não sabia que havia essa prática de invasões e demorei para entender. Uma coordenadora disse que havíamos sido invadidos e, na hora, um dos homens desenhou uma suástica”, contou Schucman, que é judia, à reportagem. “Os mediadores conseguiram tirá-los. Eu já fui muito atacada e hoje lido bem. Parei, respirei e propus uma análise sobre o que tinha acontecido. Falei sobre como esse tipo de ataque é comum quando as vozes negras questionam a hegemonia branca”, disse.

    “Apesar de tudo isso, nós temos uma rede forte e isso me dá esperanças. Muita gente veio se solidarizar. Para além disso, espero do fundo do meu coração que a justiça seja feita e que os responsáveis sejam presos”, diz Assis.

  • Cuiabá nas ruas contra do racismo, o fascismo e o genocídio

    Cuiabá nas ruas contra do racismo, o fascismo e o genocídio

    Da: MediaQuatro especial para os Jornalistas Livres

    Desde de 2019, com as manifestações contra os cortes na educação e a deforma da previdência, Cuiabá não juntava tanta gente nas ruas. E talvez nunca tenha havido tamanho contingente policial, incluindo helicóptero, para o improvável caso de “vandalismo”. Mas era mesmo de se esperar. Afinal, o racismo estrutural brasileiro em uma das capitais mais conservadoras do país exige que se trate os pretos e pretas sempre como potenciais criminosos. BASTA! O país não pode mais conviver e não conseguirá sequer viver como nação integral enquanto houver preconceitos que se refletem em práticas cotidianas e políticas públicas que oprimem e excluem a maior parte da população.

    Texto e fotos: www.mediaquatro.com
    Texto e fotos: www.mediaquatro.com

    Chegamos a um ponto no Brasil que não é mais suficiente não ser racista. É preciso lutar contra o racismo, nas ruas, nas redes, nos campos e nas casas. E a luta antirracista é central na derrubada do governo Bolsonaro e suas políticas genocidas na economia, na segurança pública e na saúde. Foi por isso que, apesar da necessidade de se intensificar o isolamento social, fomos à Praça Alencastro e marchamos pelas avenidas Getúlio Vargas, Marechal Deodoro, Isaac Póvoas e BR 364 para retornarmos à Praça da República sem qualquer incidente.

    Texto e fotos: www.mediaquatro.com

    Assim como em outras cidades e estados por todo o Brasil, em Cuiabá e Mato Grosso os negros e negras são maioria e são exatamente os corpos pretos os mais encarcerados, os pior pagos, os que vivem nos lugares mais distantes, os que mais precisam trabalhar fora de casa durante a pandemia (e muitas vezes sem sequer os equipamentos de proteção adequados) e os que mais são atingidos pela Covid-19. Isso não é uma coincidência. É resultado de quase 400 anos de escravidão formal, que em Mato Grosso também vitimou indígenas em larga escala, e de uma abolição inconclusa que indenizou os “proprietários” de pessoas mas nunca pagou a dívida histórica com quem sente na pele seus efeitos até hoje.

    Texto e fotos: www.mediaquatro.com

    É fato que o assassinato do estadunidense negro George Floyd foi o estopim dos protestos antirracistas em todo mundo e também no Brasil, onde houve atos em pelo menos 20 cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. Mas por aqui, as mortes do menino Miguel, do adolescente João Pedro e dos jovens em Paraisópolis, só pra citar alguns casos mais representativos nos últimos seis meses, demonstram cotidianamente o que significa ser alvo do preconceito, da polícia e das políticas.

    Texto e fotos: www.mediaquatro.com

    Desse modo, derrubar o governo o quanto antes o governo do fascista que ocupa a presidência é indispensável para conseguirmos combater a epidemia de forma minimamente eficiente. E tirar apenas o presidente não é suficiente, porque seu vice e ministério são igualmente racistas, como está provado em entrevistas antes mesmo das eleições, em pronunciamentos em eventos e na fatídica reunião ministerial.

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    Enquanto não derrubarmos as políticas estúpidas da “guerra às drogas”, do encarceramento em massa, da concentração de renda, do agronegócio acima da agricultura familiar, não há presente para o país. E enquanto não investirmos em políticas públicas de igualdade racial e de gênero, de proteção às minorias e à diversidade, e de promoção dos direitos humanos a TODOS e TODAS, incluindo a punição de policiais assassinos, milicianos e racistas, não haverá futuro também.