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  • #JusticeForFloyd em Portugal: atos antirracistas tomaram conta do país neste último sábado.

    #JusticeForFloyd em Portugal: atos antirracistas tomaram conta do país neste último sábado.

    por Isabela Moura e Luiza Abi Saab, Jornalistas Livres em Portugal

     

     

    Os atos antirracistas #JusticeForFloyd tomaram conta de Portugal neste último sábado, 06 de junho de 2020. As principais cidades de Portugal foram ocupadas por milhares de manifestantes em atos antirracistas que pediam justiça para George Floyd. Os atos aconteceram principalmente nas cidades de Lisboa, Coimbra, Porto e Braga.

     

    Em LISBOA, a manifestação  levou milhares de pessoas em marcha até à Praça do Comércio – importante espaço de reivindicação política da capital portuguesa. O encontro em Lisboa foi articulado entre diversas organizações, estavam previstos três atos em dias diferentes, mas as iniciativas foram unificadas em apenas um ato.

    O contexto português e a questão da colonização foram abordagens presentes nos cartazes e nas vozes que se fizeram ouvir. José Falcão, da SOS Racismo, afirma que é necessário mudar o currículo escolar para que se possa saber de fato o que foi o passado português. “A história deste país é só a história do colonialismo, não é das vítimas do colonialismo, não é das pessoas que lá estavam a quem não pedimos autorização par ir. Onde ficamos durante 500 anos a escravizar as pessoas e essa história nunca é contada”, justifica o integrante de umas das associações que organizou a manifestação de sábado.

    Mayara Reis, escritora de 25 anos e uma das vozes intervenientes menciona também a importância da educação nesse combate:  “É preciso falar sobre isso nos manuais de história, falar sobre o Tratado de Tordesilhas, porque Portugal não é inocente”.  “Não foi nossa escolha, foi escolhido por nós. O futuro que eu estou a ter agora vem disso”, refere a escritora sobre as decisões históricas que marcaram o passado colonial de países  como  a terra de onde veio – a Guiné-Bissau.

     

    Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

     

    Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

     

    Em Lisboa, 06/06/2020. Foto de Geraldo Monteiro.

     

     

     

    No PORTO o ato aconteceu na Avenida dos Aliados. Em referência ao norte americano George Floyd, assassinado pela polícia dos Estados Unidos, vários manifestantes trouxeram consigo os dizeres “I Can’t Breathe”, em português, “Não Consigo Respirar”. As reivindicações ecoavam pela avenida com o grito “Nem mais uma morte”, denunciando também os casos de racismo em Portugal.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

    Porto, 06/06/2020. Foto de Pedro Kirilos.

     

     

     

    Em COIMBRA a manifestação aconteceu na Praça da República, próxima à Universidade de Coimbra e foi organizada por estudantes da cidade. Centenas de pessoas se reuniram no local, seguindo as regras de segurança da Direção Geral de Saúde de Portugal (DGS).
    O ato contou com depoimentos, gritos por reivindicações da luta antirracista e uma performance que representava Jesus negro interpretando trecho do texto “A Renúncia Impossível”, de Agostinho Neto.

     

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Daniel Soglia.

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Raoni Arraes.

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Daniel Soglia.

     

    Coimbra, 06/06/2020. Foto de Raoni Arraes.

     

     

     

    Em BRAGA, a manifestação “Vidas Negras Importam” uniu cerca de 300 pessoas que prestaram sua solidariedade aos atos por George Floyd que acontecem há 10 dias nos Estados Unidos. Os presentes também denunciaram a violência policial contra negros, lembrando os casos de vítimas como Cláudia Simões e Alcindo Monteiro.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

    Braga, 06/06/2020. Foto de Rafa Lomba.

     

     

     

     

  • Por dentro da rebelião popular no Chile

    Por dentro da rebelião popular no Chile

    Notícias do Chile
    Por Ota C Rojas

    Como muitos já estão acompanhando, há uma verdadeira rebelião popular em curso no Chile. O país que era o exemplo sul-americano de estabilidade e modernidade explodiu.

    Quero contar um pouco de como estão as coisas por aqui desde o início da rebelião.

    Na semana passada o governo anunciou um aumento da passagem dos ônibus e metrôs de Santiago. O aumento anunciado foi de 30 pesos, mais ou menos 4 centavos de dólar. Um valor irrisório, se não fosse só a ponta do iceberg. No entanto, o buraco é mais embaixo, como dizemos no Brasil.

    O Chile foi um dos berços ou laboratórios do que se conhece como neoliberalismo. Aqui, desde a ditadura de Pinochet, todo o plano econômico dos neoliberais da Escola de Chicago foi implementado desde fins da década de 1970. A maioria dos serviços públicos foi privatizada. As universidades públicas são todas pagas. No Brasil, temos a ideia de que algo público é gratuito, mas isso não é assim em vários países. No Chile, uma mensalidade em uma universidade pública pode custar mais do que em uma universidade privada. Como os salários das famílias são muito baixos (mais de 50% da população vive com menos de salário mínimo), as famílias não têm dinheiro para pagar as mensalidades. Isso gerou, há anos, um enorme problema de endividamento dos estudantes e de suas famílias. Aqui, um estudante que termina seu curso universitário e pode passar 10 ou 15 anos pagando os empréstimos que tomou.

    A saúde pública também é paga. Não existe um SUS. Os hospitais públicos são caóticos, todos os anos morrem milhares de pessoas nas filas de espera. Quem tem dinheiro para pagar um plano de saúde privado acaba comprometendo grande parte de sua renda nisso, já que os planos não cobrem todos os gastos de atendimento hospitalar, internações, cirurgias, etc. Se uma pessoa fica doente e se salva, seguramente sairá com uma enorme dívida que terá que pagar pelos próximos anos.

    Os direitos trabalhistas foram destruídos pela ditadura. A jornada de trabalho é de 45 horas, as férias são de 15 dias, os trabalhadores têm meia hora de almoço. A maioria dos sindicatos não têm nenhum poder de negociação, já que dentro de uma mesma empresa é permitida a existência de muitos sindicatos do mesmo setor (dentro de uma mina, por exemplo, podem existir 20 ou 30 sindicatos). O resultado disso é que os patrões fazem o que querem. A possibilidade de reação dos trabalhadores é pequena. E quando há sindicatos fortes, estão na mão de burocratas que defendem mais os patrões do que os trabalhadores.

    Uma das heranças mais nefastas da ditadura é o sistema de aposentadorias. Todo o sistema é privado. A aposentadoria dos trabalhadores é administrada pelas AFPs, Administradoras dos Fundos de Pensão. São empresas privadas que utilizam a enorme quantidade de recursos que é descontada todos os meses dos salários dos trabalhadores para lucrar. O dinheiro das aposentadorias é utilizado para financiar os negócios dos próprios empresários, comprar ações de empresas, etc. Os próprios donos das AFPs, que também são donos de muitas outras empresas, bancos, seguradoras, etc., utilizam esse dinheiro para financiar, com baixíssimas taxas de juros, seus outros negócios. É uma mina de ouro. Esse é o modelo de capitalização individual que Bolsonaro e Guedes quiseram implementar já com essa Reforma da Previdência no Brasil. Ainda não conseguiram, mas o projeto virá logo mais. Trata-se de destruir o sistema público (INSS) para que as empresas privadas administrem o dinheiro acumulado pelos trabalhadores. A lógica das AFPs é nefasta. Essa enorme soma de recursos é investida no mercado. Se há ganhos, isso fica pros acionistas das AFPs, se há perdas, esse dinheiro é retirado da aposentadoria dos trabalhadores. E o pior, a maioria dos trabalhadores se aposenta com menos de 30% do que recebia antes. Isso explica em grande parte o enorme aumento do número de suicídios de idosos na última década.

    Nos últimos anos milhões de chilenos saíram às ruas de forma pacífica contra as AFPs e defendendo a volta de um sistema público de aposentadorias (como o nosso INSS). A resposta dos governos (de “esquerda” e de direita) foi fazer promessas e não mudar nenhuma vírgula. Agora, pior, o governo de Piñera (atual presidente) mandou ao Congresso uma reforma que entrega ainda mais dinheiro para as empresas.

    Nas principais empresas do país, a exploração é brutal. O Chile é o maior produtor de cobre do mundo. Os mineiros, com um longo histórico de lutas, e suas famílias, sofrem diariamente as consequências mais nefastas da mineração – as doenças pulmonares (como a silicose), doenças musculares, psicológicas, etc. Muitos mineiros trabalham longe de suas casas, em turnos de 10/10 (10 dias de trabalho, 10 de descanso), o que os leva a ter uma dinâmica familiar muito difícil e penosa.

    A situação do principal povo originário, os mapuches, é dramática. Há séculos esse povo vem resistindo às ofensivas dos empresários e do Estado para tomar suas terras, que se concentram principalmente na região sul (a mais fértil) do país. Há séculos há uma verdadeira guerra contra os mapuches.

    Dito tudo isso, agora podemos voltar ao aumento da passagem.

    Na semana passada, então, o governo decidiu aumentar o preço da passagem. Um trabalhador ou uma trabalhadora que toma dois metrôs por dia pode chegar a gastar em um mês, 1/6 do salário mínimo.

    O aumento, claro, não foi bem recebido. Nos dias seguintes ao anúncio, muitos estudantes secundaristas começaram a convocar “pulas-catracas” nos metrôs. O movimento se massificou. O governo respondeu dizendo que não ia diminuir o preço da passagem e colocou a polícia nas estações de metrô. Daí pra frente a coisa foi piorando. Muitos vídeos mostram a polícia jogando bombas de gás lacrimogênio dentro das estações, crianças vomitando, mães chorando, policiais empurrando estudantes pelas escadas. Obviamente o efeito dessas ações foi o aumento das manifestações.

    Na sexta-feira (18) o governo militarizou completamente as estações, diante das convocatórias massivas dos estudantes. No horário de pico de saída dos trabalhadores, 18h-19h, o governo resolveu fechar as estações para evitar os pulas-catracas. Essa decisão fez com que milhares de trabalhadores não pudessem voltar às suas casas e tivessem que caminhar. Isso gerou manifestações espontâneas em várias partes da cidade. Na sexta a noite, os conflitos mais violentos começaram.

    Em todos os bairros começaram os protestos e confrontos com a polícia. De noite, a coisa já tinha se generalizado. Em todas os bairros da capital já havia protestos. As famílias se somaram à juventude. A polícia reprimiu e reprimiu. A revolta tomou um caráter mais violento. Nessa noite, 16 estações de metrô e um enorme edifício da empresa de energia Enel (localizado na principal avenida de Santiago) foram queimados, houve saques em alguns supermercados e barricadas por toda a cidade. A polícia já não conseguia mais controlar as manifestações.

    Na noite de sexta-feira, diante de uma enorme rebelião popular, o governo anuncia o Estado de Emergência na cidade, restringindo os direitos a manifestação e reuniões e passando o controle da cidade às mãos de um general. As Forças Armadas são autorizadas a ocupar a cidade. Mais de 300 pessoas são presas.

    A intervenção das Forças Armadas jogou ainda mais lenha na fogueira. Aqui há uma enorme raiva de amplos setores sociais contra as Forças Armadas pelo papel que tiveram na ditadura – os milhares de torturados, assassinados e desaparecidos. A maioria dos militares envolvidos nesses casos nunca foi punida.

    A noite de sexta-feira foi de conflitos e barricadas. Não sabíamos como iria amanhecer o dia seguinte. A presença das Forças Armadas seguramente intimidaria os manifestantes, pensava o governo. Nada mais equivocado.

    No sábado a cidade amanheceu com panelaços e conflitos em praticamente todos os setores populares e alguns bairros de classe-média. Os conflitos agora não eram só com os policiais, mas com as próprias Forças Armadas. Ontem (sábado), os protestos se expandiram para todo o país, de norte a sul, de Arica a Magallanes. O governo decretou estado de Emergência em Valparaíso (cidade portuária com longa trajetória de lutas) e Concepción (uma das principais cidades do sul). Em Santiago, muitos supermercados de grandes empresas (Wallmart, por exemplo) foram saqueados ou queimados. Em um dos incêndios, três pessoas morreram queimadas. Muitas farmácias e grandes lojas foram saqueadas. Sobre os saques, há cenas muito interessantes.

    Muitos deles foram protagonizados por famílias e pela população em geral. Em um vídeo que circula pela internet é possível ver um jovem lúmpen que sai carregando uma enorme televisão. Os trabalhadores que organizavam a barricada, ao ver o jovem saindo com a televisão, tomam-na de suas mãos e a atiram na fogueira da barricada. O televisor começa a arder em chamas. Os alimentos saqueados, em vários lugares, foram repartidos pelos trabalhadores presentes nas barricadas.

    O processo é totalmente espontâneo e sem direção. Os partidos tradicionais não conseguem controlá-lo. O governo está perdido. Ontem, teve que retroceder e declarou a revogação do aumento da passagem. Ao mesmo tempo, o general encarregado de Santiago, anunciou um toque de recolher a partir das 22h. Nada poderia enfurecer ainda mais a população, que saiu às ruas massivamente após o toque de recolher e passou a noite nas barricadas enfrentando-se com a polícia e o exército. Os protestos ganharam muito apoio popular, apesar da campanha dos grandes meios de comunicação para criminalizar os “vândalos” que estavam queimando os metrôs e saqueando os supermercados. Entre os trabalhadores se armou também um grande debate sobre as táticas que devem ser utilizadas no movimento, já que a destruição do transporte público ou outros espaços públicos seguramente acabará significando uma perda para a própria população. Mas a raiva foi incontrolável.

    Os vídeos da brutalidade policial e do exército circulam sem parar. Ontem, a cidade de Valparaíso, uma das mais combativas do país, foi completamente ocupada por tropas do exército. Os conflitos se estenderam por toda a noite de ontem. Muitos panelaços foram realizados de norte a sul do país.

    Hoje o dia amanheceu relativamente tranquilo. Alguns ônibus circulavam por Santiago. O aeroporto, no entanto, não funcionou. Muitos voos foram cancelados, o que está gerando um colapso. Logo no início da manhã começaram as concentrações nas praças e outros lugares públicos. Na emblemática Plaza Itália, o conflito com o exército e a polícia não pararam um minuto. Mais incêndios, mais saques, muitas barricadas. O governo novamente anunciou o toque de recolher para as 19h (há duas horas).

    Um novo fenômeno começou a aparecer. Grupos armados de traficantes ou relacionados com a própria polícia começam a assustar as populações mais combativas, atacar feiras e outros pequenos negócios. Há notícias de corte de água em vários lugares de Santiago. Os vídeos da brutalidade das Forças Armadas não param de circular. Se ainda não há nenhum assassinado pelas forças militares ou paramilitares, essa é uma possibilidade grande nas próximas horas ou dias.

    A fúria popular é enorme e não parece que diminuirá tão cedo. O governo não tem outra resposta além da repressão. Já são 9 mil militares distribuídos pelas cidades ocupadas.

    Enquanto escrevo essas linhas, escuto gritos, tiros e bombas ao lado de fora do lugar onde estou.

    Bem vindos ao Chile, um oásis de modernidade e estabilidade da América Latina.

  • Marielle: símbolo internacional da luta por justiça social e pela democracia

    Marielle: símbolo internacional da luta por justiça social e pela democracia

     

    Em Lisboa, onde aconteceu o maior ato, lideranças políticas lembraram que esta execução é consequência do golpe de Estado em curso no Brasil, desde a derrocada da presidenta Dilma, enfatizando o fato de ter sido um crime político, relacionando sua morte à intervenção militar, além de lembrar do assassinato do estudante Edson Luiz, que completa 50 anos no dia 28 de março.

    A manifestação contou com a presença da Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, além das deputadas do Partido Socialista, Isabel Moreira; do Bloco de Esquerda, Joana Mortágua; e do Partido Comunista Português, Rita Rato. Entre os organizadores estava o Coletivo Andorinha, formado por brasileiras e brasileiros residentes em Lisboa desde 2016, em defesa da democracia no Brasil.

    Acreditaram que calariam a mulher negra, de comunidade, lésbica, de esquerda. Acharam que amedrontariam a militância, com o aparato repressivo de Estado. Erraram: Marielle se tornou símbolo internacional da luta por justiça social e pela democracia.

    Fotos e vídeos, Bruno Falci; edição, Maíra Santafé; texto Bruno Falci e Maíra Santafé

     

  • Contra a Reforma da Previdência, manifestantes ocupam as ruas de Campinas

    Por Victória Cócolo, fotos Ana Carolina Haddad

    Ana Carolina Haddad/Jornalistas Livres
    Manifestantes protestam contra a Reforma da Previdência em Campinas.  (Foto: Ana Carolina Haddad / Jornalistas Livres)

    Contra a reforma da previdência, manifestantes vão  às ruas de  Campinas (SP), nesta segunda-feira (19), dia de paralisação nacional. O ato, convocado por movimentos sociais e sindicais teve início no Largo do Rosário e percorreu toda a região central, até a Prefeitura, onde os participantes se dispersaram, por volta das 20h.

    Durante o percurso, a população campineira disse não a Reforma da Previdência, além de pedir por greve geral e criticar duramente o governo municipal de Jonas Donizette (PSB). Houve também, gritos de ordem pela saída de Michel Temer, e contra a intervenção militar no Rio de Janeiro.

    Os manifestantes foram informados, logo após o início da passeata, sobre a suspensão da tramitação de todas as propostas de emenda à constituição (PEC), entre elas a da Reforma da Previdência, mas decidiram continuar o ato.

    O evento levou um público diverso às ruas, dentre jovens, adultos e idosos. Entre as participações mais marcantes, os moradores da Ocupação Nelson Mandela, lembraram de pautas relacionadas ao direito à moradia.

    Segundo a CUT, compareceram aproximadamente 1 mil manifestantes no ato.

    Veja mais fotos da manifestação:

    (Foto: Victória Cócolo/Jornalistas Livres)
    (Foto: Ana Carolina Haddad / Jornalistas Livres)
    (Foto: Ana Carolina Haddad / Jornalistas Livres)
    (Foto: Ana Carolina Haddad / Jornalistas Livres)
    (Foto: Ana Carolina Haddad / Jornalistas Livres)
  • Crivella em 7 ataques à cultura e aos LGBTs do Rio

    Crivella em 7 ataques à cultura e aos LGBTs do Rio

    Márcio Anastacio para os Jornalistas Livres

    O primeiro ano de gestão do prefeito Marcelo Crivella (PRB), não tem sido fácil para a Cultura e nem para os LGBTs do Rio de Janeiro. A sociedade tem acompanhado a um verdadeiro desmonte destas duas áreas. Nos últimos meses, informações veiculadas pela imprensa deram o alerta aos cariocas e os Jornalistas Livres coloca sete delas em debate. Relembre:

    Inviabilizou a parada LGBT
    Com alegação de falta de recursos, a Prefeitura do Rio cortou a verba para a parada LGBT de Copacabana, um dos cinco maiores eventos da cidade, e inviabilizou a sua realização. Organizadores seguem tentando conseguir outras formas para garantir a realização da parada ainda este ano.

    Cortou a verba do Carnaval
    Após não ir na abertura do Carnaval na Sapucaí, Crivella manda tirar 1 milhão de cada escola de samba do grupo especial. A atitude inviabilizaria a realização do maior espetáculo da terra e atingiria às agremiações culturais em seu funcionamento. O desfile deste ano está garantido graças aos repasses do Governo Federal.

    Esvaziamento da CEDS
    Em sua gestão, o prefeito Marcelo Crivella impõe um esvaziamento da Coordenadoria Especial para Diversidade Sexual. Com uma estrutura mínima, a equipe de gestores da pasta trabalha com poucos recursos e verba quase inexistente.

    Cancelou ensaios técnicos
    Como uma das consequências da retirada de mais de R$ 13 Milhões que eram destinados para as escolas de samba, Crivella inviabilizou os ensaios técnicos das agremiações. O evento conhecido como “desfile do povo” deixa de acontecer esse ano após décadas de realização.

    Menos blocos de rua
    De forma extraoficial, já foi informado aos organizadores de blocos de rua do Rio, que o número de autorizados para desfilar será reduzido. Eles seguem em negociação com a Riotur e acreditam que o posicionamento do prefeito tem a ver as suas convicções religiosas.

    Veto ao Queermuseu
    “Só se for no fundo do mar”, foi essa a frase falada pelo prefeito Marcelo Crivella para dizer não à vinda da exposição “Queermuseu – Cartografias da diferença da Arte Brasileira”, que foi acusa de apologia a pedofilia por grupos conservadores e defendida por cerca de 70 diretores de centros culturais do Brasil em carta aberta.

    Inviabilizou a Parada LGBT de Madureira
    A segunda maior mobilização do movimento LGBT do Rio, a Parada de Madureira, iria ser realizada ainda este mês e foi adiada por falta de apoio da Prefeitura do Rio para a sua realização. Os organizadores publicaram esclarecimento oficial nas redes cobrando apoio da gestão municipal

  • Um carnaval conquistado!

    Um carnaval conquistado!

    Em menos de dez anos, Belo Horizonte deixa de ser uma cidade-refúgio para aqueles que queriam saber de silêncio e ficar longe da folia, para se tornar a “cidade que possui um dos carnavais mais procurados do país”. Há sete anos, a cidade promove um dos melhores carnavais de luta do Brasil, um festejo que tem carnavalizado a política e politizado as ruas.

    Praia da Estação – protesto de ocupação do espaço público. Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Nossos blocos não têm tempo de vida para ter tradição, mas podemos afirmar, com a maior convicção, que muitos deles já conquistaram eternamente os corações da cidade

    Dentre as cerca de quatrocentas agremiações carnavalescas em funcionamento, se destacam algumas que nasceram até 2010 e que estão entre as responsáveis pela folia de hoje:

    • Grêmio Recreativo Escola de Samba Cidade Jardim, de 1961, Banda Mole, de 1975, Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam, de 1998, Santo Bando, de 2003.
    • Blocos do Peixoto e Unidos do Samba Queixinho, de 2009, Tetê, a Santa, Filhos de Tcha Tcha e Praia da Estação de 2010.

    Belo Horizonte é uma cidade jovem

    Quase nenhuma agremiação possui quadra, barracão ou até uma pequena sede para encontros ou para guardar instrumentos. O belo, vigoroso e contagiante carnaval de BH têm sido feito na “Tora e às Próprias Custas Ltda.” Com 119 anos de idade, a história da cidade e do carnaval confluem em resistência, luta e ocupação do espaço público. Um exemplo disso é a Unidos do Samba Queixinho,  uma das poucas experiências de colocar em prática a ideia de “carnaval o ano inteiro”.

    São raras as agremiações carnavalescas tradicionais na cidade

    Belo Horizonte tem pouco mais de cem anos, mas já tivemos um dos melhores desfiles de Escolas de Samba do Brasil. Se o carnaval da cidade não tivesse sido interrompido pelo prefeito Pimenta da Veiga em 1989 e ficado moribundo por duas décadas, talvez o nosso desfile de Escolas de Samba estivesse entre as principais tradições populares da nossa cidade.  Hoje já não temos mais, na avenida, a Escola de Samba Inconfidência Mineira, de 1950.

    Sambistas que tiveram o carnaval sequestrado de suas vidas, resistem!

    Graças à resistência e à dedicação dos sambistas sexagenários e de amigos do samba, foi constituída em 01 de junho 2011 a Associação Velha Guarda da Faculdade do Samba, idealizada pelo Mestre Conga e Marcos Valério Maia.

    Carnaval Lixo Zero As baianas da Escola de Samba Cidade Jardim, com um toque do artista plástico e carnavalesco Leo Pilo. Os turbantes são feitos com saco de cebola, os colares de vasilhas de iogurte e as pulseiras de papelão e outros materiais reciclados. Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres
    Carnaval Lixo Zero – As baianas da Escola de Samba Cidade Jardim, com um toque do artista plástico e carnavalesco Leo Piló. Os turbantes são feitos com saco de cebola, os colares de vasilhas de iogurte e as pulseiras de papelão e outros materiais reciclados. Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres

    Até pouco tempo, carnaval era coisa de polícia…

    Um grande atentado ao samba, ao carnaval e à cultura ocorreu em 2008: a desapropriação, com tropa de choque, camburão e caminhão para transportar as fantasias e os instrumentos apreendidos da Escola de Samba Cidade Jardim, a mais antiga agremiação carnavalesca em funcionamento de BH e, na época, a única que possuía sede (Quadra/Barracão).

    Os grandes atentados contra a cultura e o carnaval de BH duraram até o ano de 2010, quando a resistência e a luta por um carnaval na cidade passou a contar com novos, numerosos e valorosos atores. Um deles, a Praia da Estação, passa a ser o Marco Zero da folia e de muitas lutas, entre elas, a do direito ao carnaval a cidade.

    BH começa a deixar de ser uma cidade deserta no período de carnaval e cada vez mais se transforma em um dos melhores carnavais do Brasil

    Somente os dois últimos anos passou a ser comum cruzarmos com pessoas fantasiadas ou grupos de foliões transitando pelo centro da cidade. BH começa a se colorir. Entretanto, até 2016 a cidade não é decorada para o carnaval e permanece muito pobre em alegorias. São raros os sinais dos festejos de momo na grande maioria dos bairros, das vilas e favelas. Até 2013 as Escolas de Samba e os Blocos Caricatos iam para a avenida sem saber se no ano seguinte haveria desfile.

     

     

     

     

     

    Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam, Formada por mais de quatro mil foliões antimanicomiais, há 20 anos, faz seu desfile-manifestação por uma sociedade sem manicômios, no 18deMAIO, dia da luta antimanicomial. Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres
    Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam, formada por  milhares de foliões antimanicomiais, há 20 anos, faz seu desfile-manifestação por uma sociedade sem manicômios, no 18deMAIO, dia da luta antimanicomial. Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Esse outro carnaval é muito recente 

    Somente nos quatro últimos anos, o carnaval belorizontino começou a se consolidar. A cobertura de 2010 do jornal Estado de Minas, edição de sábado de carnaval, pela última vez, traz na capa uma atração de fora da cidade: o “Galo da Madrugada” de Recife. As matérias sobre o carnaval em Minas só cobriram as cidades do interior. Nesse tempo o poder público mais envolvido com carnaval era a polícia. A partir de 2011, a festa em BH passa a ser o destaque das capas dos jornais e com boas coberturas. As rádios e TVs passam a dedicar cada vez mais espaço em suas programações ao carnaval da cidade.

    Pernambuco: um carnaval centenário e sem interrupção 

    Recife e Olinda tinham mais de quatrocentos anos de história, nos anos 70, quando começaram a surgir os novos blocos de rua (entre eles: Segura a Coisa, de 1975, Eu acho é Pouco, de 1976 e Galo da Madrugada, de 1978). Uma década depois, Recife e Olinda se tornaram carnavais de massa: em um único dia, em 2016, o Galo da Madrugada arrastou um número de foliões comparável a todo o carnaval de Belo Horizonte, incluindo as atividades pré e pós-carnavalescas. É importante situar que as duas cidades já tinham agremiações carnavalescas tradicionais, tais como Vassourinhas, de 1912, Flor de Lira, de 1920, Batutas de São José, de 1932, Pitombeira dos Quatro Cantos, de 1947, Elefante de Olinda, de 1952, entre outras, além de inúmeras manifestações carnavalescas populares e dos diversos bailes nos clubes de Recife.

    Para onde vai o carnaval de BH?  Ele é o palco do espontâneo e da irreverencia, mas não só…

    A partir de 2009, a palavra de ordem era ”carnavalizar a cidade” e a cidade, de fato, se carnavalizou. Como não temos uma tradição a seguir, podemos agora construir os rumos do carnaval que queremos. Vamos manter o nosso carnaval politizado ou reduzi-lo a um mero entretenimento? Construir um carnaval espalhado pela cidade (periferia, vilas e favelas) e região metropolitana ou concentrado no centro? Um carnaval “lixo zero” ou mais uma atividade que polui e suja a cidade? Ele vai contribuir com a qualificação e profissionalização dos músicos ou será um carnaval que pouco lhes oferece? Um carnaval rico em decoração, cores e alegorias ou uma festa sem cor, árida e com pouca identidade? Se o carnaval crescer muito, qual carnaval de massas ele vai ser?

    Folia Criativa: um carnaval superavitário!

    Há cinco anos, BH não recebia os volumosos recursos financeiros vindos do carnaval. Só com os moradores de BH que, cada vez mais, escolhem ficar aqui no carnaval, já se produz uma receita, para o comércio e para os cofres da cidade, bem superior ao que é investido na festa. E ainda há receitas vindos dos turistas e de patrocinadores. É possível investir em ações que promovam artisticamente o carnaval e que enriqueçam a cultura carnavalesca da cidade. São significativos os recursos advindos do Carnaval. Além disso, BH é uma das poucas capitais em que o governo estadual ainda não contribui com apoio financeiro à festa.

    Uma atenção especial deve ser dada àqueles que resistiram por mais de duas décadas de profunda marginalização:

    Os Blocos Caricatos são uma manifestação carnavalesca que só existe em BH e em São João Del Rey. As Escolas de Samba que no passado formavam um dos maiores desfiles do Brasil, precisam voltar a funcionar o ano todo, voltar a ter mais de mil componentes, mais de 150 ritmistas na bateria, ter fantasias e carros alegóricos com a beleza e a grandiosidade do atual carnaval de BH. Das capitais brasileiras que têm desfile de Escola de Samba, somos uma das poucas que não têm sambódromo. E, para agravar, as Escolas não têm quadra para realizar ensaios ou eventos.

    Preparação do Carnaval Lixo Zero. Foto: Agatha Azevedo/ Jornalistas Livres

    Tirando leite de pedra para transformar em confete e serpentina

    Atualmente, as Escolas de Samba de Belo Horizonte recebem uma das mais baixas subvenções financeiras do Brasil. O valor é menor do que o preço de um único destaque de escola de samba de São Paulo ou Rio de Janeiro, menor do que o custo de um carro alegórico de Vitória-ES ou cerca da metade do que as Escolas de Samba de Nova Lima ou Sabará recebem da prefeitura. O valor da subvenção em BH é menos da metade do que as Escolas de Samba Canto da Alvorada, de 1979, e Acadêmicos de Venda Nova, de 2004, agremiações campeãs e vice campeãs nos últimos carnavais, gastam em seus desfiles.

    Precisamos avançar para que BH desenvolva uma profunda cultura carnavalesca

    Em lugares que possuem carnaval há muito tempo, a questão do local adequado para ensaios e outras atividades já está resolvida. Quando isso não é oferecido, os ensaios ocorrem com insegurança e em menor quantidade, comprometendo a qualidade musical e o brilho do carnaval. Outro fator que complica muito o Carnaval belorizontino é que esse, aqui, acontece no período de chuva, ao contrário do que ocorre em Recife, Olinda e todo nordeste. Em BH. Uma das maiores trombas d’água dos últimos anos ocorreu na segunda-feira de carnaval de 2015.

    O principal passo já foi dado: a cultura carnavalesca começou a se enraizar na cidade e a cada ano contagia mais

    Algumas das ações ainda precisam ser realizadas: oferecer espaços adequados para realização de ensaios e atividades das agremiações carnavalescas quatro messes antes do carnaval, a partir de novembro; criar mecanismos que proporcionem que os desfiles de Escolas de Samba de BH esteja no mesmo nível do carnaval de BH; desenvolver iniciativas que favoreçam o enriquecimento musical e a valorização dos músicos e iniciar o processo de decoração da cidade.

    Praia da Estação – protesto de ocupação do espaço público. Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    José Guilherme Castro, belorizontino, produtor cultural, diretor da Associação Cultural José Martí, folião dos carnavais de Olinda e Recife de 1972 a 1982 e do carnaval de BH desde 2008. Foi secretário geral e diretor de Carnaval da Escola de Samba Cidade Jardim. Participa do processo de construção coletiva do desfile manifestação da Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tam Tam. No carnaval de 2016, representou as Escolas de Samba junto à sociedade e órgãos públicos. No festival Nacional de Arte e Cultura da  Reforma Agrária, realizado pelo MST, foi homenageado com o Estandarte: BH, Um Dos Melhores Carnavais de Luta do Brasil.