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  • Caça às Bruxas

    Caça às Bruxas

    Por Nivia Machado, para os Jornalistas Livres

    As fogueiras da Inquisição ainda estão acesas

    Doces ou travessuras? Incontáveis crianças e adultos vão celebrar o Halloween, ou Dia das Bruxas, em diversas partes do planeta, no dia 31 de outubro. Por trás de uma data tradicional e cultural, que acontece principalmente em países de língua inglesa, a história vivida pelas mulheres que ganharam o título de bruxas na Idade Média foi marcada por todo o tipo de violência, incluindo a tortura, a exclusão social e a morte nas fogueiras da Inquisição. O artigo publicado na Revista Espaço Acadêmico, em outubro de 2005, da militante feminista e doutora em Ciências Jurídicas pela Universidade de Osnabrück, na Alemanha, Rosângela Angelin, relata que mais de 9 milhões de pessoas foram acusadas, julgadas e mortas em uma campanha assumida, tanto pela Igreja Católica, como a Protestante e até pelo próprio Estado. Dessa porção, 80% eram mulheres.

     

    Imagem: Garroting and burning witches or heretics. Por Freeparking (Fotos históricas, flickr)
    Com o nome de Caça às Bruxas, o genocídio de mulheres teve início em 1450 e fim somente por volta de 1750 e se deu por meio da perseguição de parteiras, enfermeiras e assistentes. Elas também conheciam e entendiam sobre o emprego de plantas medicinais para curar enfermidades nas comunidades onde moravam e, conseqüentemente, eram portadoras de um elevado poder, uma ameaça para a sociedade patriarcal, e por isso foram consideradas o primeiro movimento feminista da humanidade, segundo Rosâgela.

    Um Congresso Medieval

    De acordo com a doutora em Filosofia, Márcia Tuburi, a Caça às Bruxas tomou novos formatos. A relação entre o período medieval e o atual pode ser constatada pelas atuais decisões tomadas no Congresso Federal ao passar pela Comissão de Constituição e Justiça e aprovar, no dia 21 de outubro, o Projeto de Lei PL 5069/13.

    “ A gente pensa no Brasil contemporâneo, na criação de políticas que promovem um retrocesso nos direitos humanos”. Márcia Tuburi, sobre o Projeto de Lei 5069

    Tal projeto propõe impedir o acesso das mulheres à anticoncepção de emergência, ao atendimento da saúde reprodutiva, aos serviços já escassos de interrupção da gravidez nos casos previstos por lei.

    O PL tenta ainda impedir que as mulheres tenham acesso à informação sobre o aborto e que o tema seja discutido na sociedade. Propõe também, a prisão de profissionais de saúde que realizem o abortamento em qualquer circunstância e que novamente se exija de mulheres que engravidem após estupro, o exame de corpo de delito e o Boletim de Ocorrência policial. “De fato ainda existe uma perpetuação da demonização das mulheres e isso está relacionada ao machismo que vai do simbólico ao físico. No Brasil, a criação de políticas que promovem o retrocesso nos direitos reprodutivos têm as mesmas razões do período medieval

    A misoginia, promovida pelas religiões e defendida por um Estado que deveria ser laico, leva mulheres para a atual fogueira da inquisição” afirma. Não tem como obter um dado exato, mas o Centro Feminista de Estudo e Assessoria, Cfemea, aponta que cerca de 1 milhão de brasileiras submetem-se a abortos em clínicas clandestinas todos os anos, o que aumenta o risco de lesões na alma, no corpo e o pior: o óbito.

    A violência persiste de todas as formas

    Para a Mestre em Psicologia Social, Karina Mendicino, outro fato que reforça a demonização das mulheres e perpetua a ideia entre o bem e o mal são os contos de fadas.

    “Nos disseram que somos menos aptas para grandes decisões e para ocupar cargos de poder porque somos instáveis, porque existimos para parir, porque nosso emocional é naturalmente mais abalável. Nada disso é verdade!” Karina Mendicino.

    “Parecem algo inofensivo, mas apresentam um inigualável poder de perpetuação de ideias, pois agem desde a infância, na formação das nossas representações sociais e exploram bastante a imagem negativa da mulher bruxa e o que vemos é que essa ideia da bruxa malvada, um ser macabro, feio e perigoso existe até hoje” conta.

    Atuando como psicoterapeuta, na Clínica Psicossocial para Mulheres, Karina percebe que a inferiorização da mulher, considerada violência psicológica, mina a autoestima delas e consequentemente, interfere em todas as áreas da vida. Em 2014, a Central de Atendimento à Mulher realizou 485.105 atendimentos, uma média de 40.425 atendimentos ao mês e 1.348 ao dia. No ano foram feitas 52.957 denúncias de violência contra a mulher, sendo que 16.846 foram relatos de violência psicológica, correspondendo a 31,8% das denúncias.

    Segundo Márcia Tiburi é visto que no período muito antigo, como foi a Idade Média, e o atual, a sociedade ainda encontra dificuldades de entender que a violência sempre combina com simbólico e o físico. “Na violência psicológica, a necessidade de dizer que elas estão erradas, que são fracas, incapazes e inferiores resulta na opressão, submissão e na naturalização da violência”, conta.

     

    Imagem: Burning at the stake. An illustration from an mid 19th century book. Por Robert Benner

    Com isso, ainda é comum ver mulheres ganharem menos que os homens exercendo o mesmo ofício, é comum que elas aceitem e também pratiquem funções ditas femininas, como o cuidado com a casa, sendo estas funções pouco reconhecidas do ponto de vista financeiro e social. É o caso das doulas, verdadeiros anjos da guarda para as gestantes, que têm como missão acompanha-las até entrarem em trabalho de parto. Exercícios, massagem e a mão amiga proporcionam apoio e segurança às mulheres que vão dar a luz. Porém, a remuneração dessas mulheres ainda é inferior aos outros profissionais e o trabalho não é reconhecido pelos que atuam na área da saúde.

    Segundo o Grupo de Doulas do Brasil, existem doulas voluntárias, que trabalham sem remuneração, e particulares, que cobram de R$200 a R$1000 reais pelo pacote de atendimento do parto, visitas prévias e visitas pós. No entanto, os trabalhos não aparecem com tanta frequência e no Brasil ainda não é possível se viver do ofício. As doulas atuantes em geral são também fisioterapeutas, psicólogas, educadoras físicas, terapeutas corporais, professoras de yoga, entre outras.

    Para Márcia, o caso das doulas é mais um exemplo de mulheres que vivem em desigualdades salariais e de reconhecimentos. Além disso, essa antiga função tem despertado a ira de profissionais da obstetrícia. Segundo o Ministério da Saúde, os Conselhos de Medicina não apoiam a existência das casas de partos ou dos partos domiciliares, alegando risco à saúde das mães e dos bebês. “A mulher sempre foi tratada como um instrumento na relação de poder, há um cálculo sobre a vida delas que apaga seus direitos em relação ao corpo. Elas têm dificuldades de escolher se querem ter filhos, de que forma querem que isso aconteça e não têm o direito de escolher se não querem ou não podem ter filhos”.

     

    Fotografia Heresy, por Daniel Cely

    Rosângela Angelin aponta ainda, no artigo, que o feminismo deve buscar o resgate e a verdadeira imagem das bruxas em nossa história, analisando não somente os aspectos religiosos, mas também políticos e sociais que envolveram a “caça às bruxas” na Idade Média. No olhar feminista, as bruxas, por meio dos conhecimentos medicinais e a atuação em suas comunidades, exerciam um contra-poder, afrontando o patriarcado e, principalmente, o poder da Igreja.

    Em verdade, as mulheres medievais e as atuais nada mais são do que vítimas do patriarcado.

    Mulheres Contra Cunha — Contra a PL5069 | Rio de Janeiro (RJ) 28/10. Foto: Mídia NINJA
  • Tire o Cunha do Corpo das Mulheres do Brasil

    Tire o Cunha do Corpo das Mulheres do Brasil

    por Ricardo Targino, da Mídia NINJA

    Milhares de mulheres ocuparam o centro do Rio de Janeiro contra Eduardo Cunha e todos os retrocessos que ele representa. Diante do cenário de crise institucional e política em que está submergido o país vem prosperando o atraso, neste que é o pior Congresso já eleito em nossa história.

    As mulheres tomaram a rua para dizer que não aceitaremos nenhum passo atrás. Elas são mães de família, estudantes, artistas, trabalhadoras, putas, vadias e lindas. Milhares de brasileiras que não fingem ser santas e ousam desafiar o conservadorismo que paira sobre a vida institucional do país para afirmar o direito a decidir sobre o próprio corpo. Mulheres que decretam guerra diária ao machismo. Mulheres que sabem que a mudança começa em nós e nossas casas. Mulheres que não se calaram e insistem no caminho de mais conquistas.

    Mais do que nunca, a humanidade busca saídas criativas para a crise civilizatória que ameaça a vida no planeta neste começo de século. Mais do que nunca o Brasil pode colaborar com o mundo. Somos o remix de todas as humanidades que há e podemos desenvolver aqui as tecnologias sociais da civilização futuro. Para isto, mais do nunca, quanto mais democracia melhor.

    A criatividade feminina coloriu as ruas em defesa da vida das mulheres, contra a violência de gênero, o racismo, o machismo e a homofobia. A pílula fica, o Cunha sai. Foi este o recado que se ouviu no Rio. Diante da ruína do patriarcado, do desmoronamento deste ordenamento econômico, do colapso ambiental que ameaça a própria vida, na urgência de uma verdadeira reforma política que seja capaz de ampliar a participação cidadã e agregar qualidade à democracia, as mulheres se dispõem a ajudar o Brasil a reencontrar o rumo. É delas o século XXI!

    #ForaCunha
    #MachismoMata
    #LegalizeODireitoDeDecidir
    #NenhumDireitoAMenosNoBrasil

  • ‘Mulheres contra Cunha’ param o Rio de Janeiro em protesto

    ‘Mulheres contra Cunha’ param o Rio de Janeiro em protesto

    Por Mídia NINJA

    Milhares de mulheres marcharam pelas ruas do Rio de Janeiro nesta quarta-feira (28/10) contra o ataque do Deputado Eduardo Cunha a seus direitos conquistados. Estão desde as 14h concentradas em frente à ALERJ, onde tramita a “CPI do aborto”, destinada a estabelecer punições mais rígidas para mulheres e profissionais de saúde que realizarem aborto.

    Segundo a Organização Mundial de Saúde, a cada 2 dias uma brasileira morre por causa do aborto clandestino.

    Às 17h o cortejo partiu em direção à Cinelândia, passando pelo escritório do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Ele declarou, assim que assumiu o cargo, que as leis sobre a legalização do aborto só passariam “sobre seu cadaver”, ignorando assim o cadáver de milhares de mulheres que morrem em decorrência de procedimentos clandestinos.

    Foto: Mídia NINJA

    A marcha chegou, neste momento, à Cinelândia, e se tornou um grande palco de intervenções artisticas para ajudar a conscientizar sobre o retrocesso que seria a entrada em vigor do PL 5069.

    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA
  • A ignorância dos reacionários da internet que falam em “doutrinação feminista” no Enem

    A ignorância dos reacionários da internet que falam em “doutrinação feminista” no Enem

    Por Pedro Zambarda de Araújo, colaboração para os Jornalistas Livres

    Neste último final de semana ocorreu a prova do Enem para estudantes do ensino médio e interessados em ingressar em faculdades e universidades brasileiras. Além das pessoas que foram barradas por perder a hora e viraram pautas sensacionalistas, as redes sociais foram tomadas por uma onda de conservadorismo após a execução do exame.

    A avaliação incluiu uma pergunta sobre o livro “O Segundo Sexo”, da filósofa francesa Simone de Beauvoir, utilizando um dos trechos mais famosos da obra que é uma das referências no estudo do feminismo.

    O exame não utilizou apenas Simone como referência e também apresentou questões abordando o pensamento do educador de esquerda, Paulo Freire, o filósofo marxista Slavoj Žižek, entre outras perguntas com viés mais progressista.

    A inclusão dos autores foi suficiente para provocar uma convulsão dos reacionários na internet.

    No segundo dia de avaliação, veio o tema da redação: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. E a internet veio abaixo, com as feministas defendendo a ousadia da prova em finalmente avaliar questões de desigualdade de gênero.

    O primeiro site reacionário a vomitar besteiras foi o Spotniks. Seguindo a linha deles na imitação do liberalismo norte-americano de uma maneira mambembe, publicaram um texto em primeira pessoa de um estudante que está se transferindo de faculdade e precisava fazer o exame. “Quem lê a prova sai com a impressão de que a crise de 2008 segue um assunto mais relevante para a maioria dos estudantes do que a realidade atual do país”, diz o autor Felippe Hermes, que ignora a situação delicada da Europa e acha que tudo na esquerda se refere a Karl Marx.

    Para quem não lembra, o mesmo Spotniks que resolveu criticar a presença de Simone Beauvoir no começo do Enem é aquele site que defendeu que as mulheres usem armas de fogo para se defender de violência sexual. Seus autores estão mais preocupados em defender uma pauta pró-armas do que realmente em diminuir a desigualdade de gêneros.

    Os autores do site também desconhecem a própria esquerda que descrevem. Nem Simone ou seu marido Jean-Paul Sartre são herdeiros do marxismo. Na faculdade, ela estudou o racionalista alemão Gottfried Wilhelm Leibniz, herdeiro de Descartes, e também pesquisou o idealismo francês. Simone de Beauvoir só se tornou de esquerda na militância política, porque fez parte da resistência francesa contra o nazismo, que era composta por socialistas.

    Pensadores mais influenciados diretamente por Karl Marx vieram da tradição da crítica econômica e da dialética, temas que são caros para Sartre e Simone, mas jamais foram foco de seus estudos.

    É sim verdade que Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre apoiaram Che Guevara, Fidel Castro, Mao Tse-Tung e até a União Soviética, porque eles eram um casal de filósofos existencialistas alinhados com a esquerda da Segunda Guerra Mundial. Na época, esse pensamento era engajado e buscava se firmar por governos autoritários.

    No entanto, essa mesma Simone foi a que combateu o governo francês corrupto de Vichy, que se rendeu a Hitler, e apoiou Sartre na luta pela independência da Argélia, entre outros diversos países. A crítica dos reacionários ao Enem chega a ser infantil de tão pobre, por desconhecimento puro de história mundial.

    No entanto, a ignorância é um celeiro de oportunistas. Os religiosos e ultraconservadores políticos Marco Feliciano e Jair Bolsonaro já declararam que o Enem é “doutrinação ideológica do governo Dilma Rousseff”. Gritando que pensadores de esquerda apoiaram regimes autoritários, a nossa direita reacionária apela para a ignorância dos estudantes e quer mesmo que a escola funcione como uma censura ao gênero feminino e às minorias dos negros, da comunidade LGBT e de outros segmentos.

    A presidente da República se manifestou favorável às novas questões do Enem no fim do domingo (25). “A sociedade brasileira precisa combater a violência contra mulher”, disse Dilma através de sua assessoria de comunicação.

    Enquanto isso, nossos reacionários permanecem mergulhados numa grave ignorância intelectual, fruto de um antipetismo midiático e da falta de visão social. A gritaria contra o feminismo e contra o marxismo revela o machismo e a falta de leitura deles.

    Como disse uma amiga minha, no Facebook: “O lema ‘machistas não passarão’ está sendo literalmente aplicado agora. Quero ver eles escreverem na prova que feminismo é ‘falta de rola’ e que mulher deve ser estuprada. Merecem ser ridicularizados”.

  • Isso não é um convite

    Isso não é um convite

     

    Centenas de mulheres enfrentaram o frio de Curitiba e tiraram as camisas, casacos e cachecóis para lutar por respeito


    Em Curitiba, no último sábado (4), centenas de mulheres foram às ruas para protestar por seus direitos e ecoar suas vozes que, mesmo muitas vezes silenciadas, continuam pedindo justiça. A concentração teve início às 10h30 na Praça 19 de Dezembro — intitulada também como Praça da Mulher Nua — e percorreu as principais ruas do centro da cidade.

    Foto: Amanda Souza

    Em frente à Catedral Basílica de Curitiba, cantavam: “se o Papa fosse mulher o aborto seria legal, seria legal e seguro, se o Papa fosse mulher”, questionando a “laicidade dos ventres” e reivindicando o direito de decisão sobre seus próprios corpos.


    No Brasil, o aborto é o quinto maior causador de mortes maternas. A estimativa é que entre 7,5 milhões e 9,3 milhões de brasileiras tenham interrompido a gravidez entre 2004 e 2013.

    Foto: Gabriel Dietrich

    O ato ainda deu voz a luta contra a LGBTfobia e contra o racismo. Segundo dados divulgados pela Associação Internacional de Gays e Lésbicas em 2014, o Brasil é o líder do ranking em mortes decorrentes da LGBTfobia, com 325 assassinatos registrados entre 2008 e 2011.

    O ato teve fim na Boca Maldita, espaço localizado entre a Praça Osório e Rua das Flores, essencialmente uma confraria de homens, os “Cavaleiros da Boca Maldita”, que se reuniam para discutir as manchetes dos jornais — “y otras cositas más” — em uma espécie de tribuna livre dos pensamentos e opiniões. E foi lá que um beijo gay ao lado do pastor que, aos berros, jurava que todos ali seriam convertidos — mesmo que não quisessem -, selou a Marcha das Vadias de 2015. A marcha teve fim, a luta não.

    “Eu não posso salvar todas..”

    A cada hora o Sistema Único de Saúde (SUS) recebe em suas unidades de atendimento uma média de duas mulheres com sinais de violência sexual, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 2013. Uma outra pesquisa, realizada em 56 países e publicada pela revista The Lancet, mostrou que 1 em cada 14 mulheres já sofreu, ao menos uma vez na vida, abuso sexual por alguém que não era seu parceiro. Mas, quando se analisa a porcentagem de mulheres no mundo que já sofreu violência, não apenas a sexual, o número chega a 70%, segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU).

    Fotos: Rafael de Andrade

    Contudo, a própria The Lancet reconhece que o número de registros de abuso e o próprio atendimento às vítimas são prejudicados pelo medo que assombra as mulheres. O medo de não receber apoio, de que não acreditem nelas, o medo de sofrer represálias. “A violência contra as mulheres não está confinada a uma cultura, uma região ou um país específicos, nem a grupos de mulheres em particular dentro de uma sociedade. As raízes da violência contra as mulheres decorrem da discriminação persistente contra as mulheres”, afirma a ONU.

    Um estudo divulgado em 2013 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que, entre 2009 e 2011, quase 17 mil mulheres foram assassinadas no Brasil por conflito de gênero, chamado de feminicídio — casos nos quais a vítima morre apenas por ser mulher. Uma segunda pesquisa, realizada também pelo Ipea, mas divulgada em 2014, mostra que 26% dos brasileiros, mesmo concordando com as punições aplicadas aos agressores, acredita que as mulheres são culpadas pelas agressões sofridas por causa de suas roupas e de seu comportamento.

    Foto: Amanda Souza

    O Paraná, por sua vez, foi considerado o terceiro estado com o maior número de casos de violência contra a mulher. Os dados fazem parte do Mapa da Violência produzido pelo Instituto Sangari, divulgado em 2012, e mostram ainda que o estado possui cinco municípios com mais de 26 mil habitantes entre os 50 com mais casos de assassinatos de mulheres, sendo que Piraquara, região metropolitana da capital paranaense, ocupa o segundo lugar.