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Tag: primavera das mulheres

  • Quem mandou ameaçar a democracia?

    Quem mandou ameaçar a democracia?

    por Ricardo Targino (Mídia NINJA) para os Jornalistas Livres


    O tiro do bandido saiu pela culatra. Nas redes sociais, o #ForaCunha ecoa muito mais forte que o #ForaDilma, colocando pra escanteio os maus perdedores que vem sabotando o país movidos pelo recalque de sua derrota eleitoral.

    Foto: Mídia NINJA

    Enquanto o ódioativismo da direita raivosa se restringe à internet, sem lastro real, pelos Brasis afora e sobre os territórios onde vive o povo que mais precisa, a mobilização contra o golpismo se levanta agora fortalecido por um empoderamento imparável de novos coletivos e atores sociais que emergem na cena política nacional.

    Um verdadeiro “junho das escolas” sacode o país a partir das ocupações de SP, as mulheres não sairam mais das ruas no enfrentamento do obscurantismo, em sua luta por mais direitos e pela soberania sobre seus próprios corpos. Nas redes sociais, a cada novo crime do racismo institucional que promove um genocídio da juventude negra no país, uma avalanche de indignação e inconformismo aponta no sentido da luta pela reforma urgente na segurança pública e pela desmilitarização das polícias.

    Mais do que nunca, os times estão se redefinindo aceleradamente no campo de jogo político. O cenário vai ficando mais claro colocando em xeque as conveniências que não tem mais lugar e apontando o esgotamento da conciliação que preponderou até aqui. O Brasil precisa urgentemente derrotar Cunha e tudo o que ele representa, modificar sua política econômica e retomar o caminho das mudanças estruturais redutoras de desigualdades.

    Para isto, a #Cultura terá papel fundamental e não por acaso na próxima semana começa o #Emergencias no Rio de Janeiro, reunindo o ativismo global, os movimentos sociais, artistas, midiativistas e produtores do imaginário coletivo emergente no século XXI.

    Nenhuma mudança material será efetiva se não constrói suas bases simbólicas sobre a vida imaterial. O fim da miséria é só o começo de uma longa jornada que terá ainda muitas batalhas para que um dia nós possamos ser nós mesmos e assumir em nossas mãos a aventura épica que é a grande vocação do Brasil. É aqui, do remix de todas as humanidades que somos que nascerá uma humanidade nova capaz de salvar o planeta e vencer a crise civilizarória que abala o mundo inteiro neste começo de século.

    Nada nem ninguém pode interromper o caminho da futura civilização que nascerá de nossa incomparável diversidade. É preciso mesmo que tremam todas as velhas estruturas! É preciso que caia tudo o que está podre, adubando o chão onde germinará novamente a esperança que nos levará além. Uma verdadeira mudança está só começando e todos estamos sentimos as dores do parto…

    O amor vencerá de novo!

  • Imparável Primavera

    Imparável Primavera

    Elas voltaram. Tal como prometeram, as #MulheresContraCunha paralisaram novamente o centro do Rio, colorindo as ruas e fazendo florir a Cinelândia nesta quarta, 25. A #PrimaveraDasMulheres é imparável, ocupa redes e ruas, redefinindo o imaginário e pautando o debate público.

    por Ricardo Targino (Mídia NINJA), para os Jornalistas Livres

    É verdade que há um mundo em desmoronamento, mas é verdade também que o amor já prepara a reconstrução que virá. As mulheres não darão nenhum passo atrás em seu empoderamento.

    Foto: Mídia NINJA

    Chegou a hora de vencermos juntos os velhos fundamentalismos, todos os preconceitos que nos aprisionam e libertar nossa máxima criatividade utópica. Mais que nunca, o mundo precisa de nós. Crise é oportunidade de superação e a garra das mulheres mobilizadas é uma prova disto!

    É da crise civilizatória deste início de século que nascerá uma nova humanidade. As mulheres já iniciaram este trabalho de parto.

    #AgoraÉQueSãoElas

    Confira o ensaio realizado pela Mídia NINJA

    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA
    Foto: Mídia NINJA
  • #AgoraÉqueSãoElas!

    #AgoraÉqueSãoElas!

    As mulheres demonstraram nos últimos dias um protagonismo inquestionável na luta contra os ataques de Eduardo Cunha. O vigor deste movimento animou a iniciativa #AgoraÉqueSãoElas. Por isso, o espaço desta coluna será hoje ocupado por quatro militantes sem-teto, de diferentes Estados do país. Com a palavra Sylvia Malatesta, Natalia Szermeta, Ana Paula Perles e Claudia Favaro, militantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e da Frente Povo Sem Medo.

    “Desta vez, o grito feminino que saltou da goela de milhares de mulheres brasileiras ecoou nas grandes avenidas do país como um som de liberdade, de ruptura e de força. Ocupamos as ruas com nossos corpos vestidos ou despidos, com nossa fina voz e com nosso ventre!

    A tirania, que se sustenta nos resquícios arcaicos do período imperial, tremeu! A velha frase “A libertação da mulher é condição fundamental para a libertação da humanidade!” deixou de ser ‘delírio feminista’ e passou a estar na pauta do dia!

    Simone de Beauvoir (1908–1986) foi a bruxa da vez, levando a santa Inquisição a se manifestar direto do plenário na Câmara de Campinas: Campos Filho, vereador campinense, verbalizou que “é uma iniciativa demoníaca (do MEC). Por que eles estão querendo empurrar goela abaixo das pessoas quando se coloca uma situação como dessas na prova do Enem”.

    Por ironia, o sujeito faz parte de um partido cuja sigla é DEM. E, pasmem, a moção que pede a anulação da questão do Enem que cita a filósofa Simone de Beauvoir, foi aprovada e encaminhada para o MEC!

    Na mesma semana, belas manifestações tomaram as ruas do país em reação às absurdas movimentações que estão ocorrendo no Congresso Nacional. Eduardo Cunha não tem freio, ele é incansável. Quando o tema em questão é revanche, vingança ou abuso de poder, ele está lá, pronto a desafiar os direitos sociais e civis.

    As manifestações são também um grito de que é inaceitável a passividade, quando virou rotina a manifestação de pensamentos retrógrados, desrespeitosos e criminosos contra as mulheres. Não ficaremos caladas assistindo a uma sociedade que caminha a passos largos para a naturalização do horror, da pedofilia e do sexismo!

    Estamos nas ruas em defesa das milhares de meninas assediadas, das presidiárias que dão vida a seres humanos de cócoras no cárcere, das mulheres mutiladas, assassinadas, das que se suicidaram e das que ainda suspiram!

    Os ataques são uma verdadeira artilharia de retrocessos: o PL 5069/2013, que proíbe a venda da pílula contraceptiva do dia seguinte e obriga passar no IML antes de ser atendida, criminalizando movimentos e organizações feministas ao proibir qualquer divulgação de informações sobre o aborto; o PL 478/2007 — Estatuto do Nascituro, que dá status de sujeito de direitos ao nascituro, impedindo qualquer caso de aborto e cria pensão obrigatória a ser paga pelo estuprador ou pelo Estado; a PEC 99/2013 que dá o direito a Associações Religiosas de propor ação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos; o PL 7382/2010 que penaliza pessoas que discriminam heterossexuais; o PL 6583/2013, que dispõe sobre o Estatuto da família, desconsiderando as relações homoafetivas e assim descobrindo-as de direitos.

    Uma sociedade mais humana não existirá se o Estado for tirano, se as leis forem injustas, se a Constituição não garantir os direitos fundamentais, se Eduardo Cunha e sua corja não forem varridos da história!

    Resistiremos bravamente ao nosso assassinato, não aceitaremos as nocivas medidas contra a humanidade, não ficaremos recolhidas em nossos lares. A cada direito atacado, ocuparemos as ruas. O corpo é nosso, a decisão á nossa e o Estado é laico.

    Dia 8/11 daremos continuidade nesta luta em todo o país . Queremos que Eduardo Cunha seja preso, que nossos direitos sejam preservados, que nossas filhas não sejam assediadas, que os criminosos não fiquem impunes. Que todas as famílias sejam reconhecidas e tenham proteção do Estado, que todas as religiões se manifestem com a mesma liberdade, que mulheres e homens tenham o mesmo salário ocupando a mesma função. Queremos igualdade e liberdade. Lema tão antigo e, ao mesmo tempo, tão atual.

    Não sairemos das ruas!

    #AgoraÉQueSãoElas!#ForaCunha.”

     

    Foto: Mídia NINJA
  • ‘Contratempo’: Em Minas, discurso contra Cunha se volta contra a Polícia Militar

    ‘Contratempo’: Em Minas, discurso contra Cunha se volta contra a Polícia Militar

    Em ato #Mulheres contra Cunha, polícia prende casal em BH; após ameaça com chegada da Tropa de Choque, manifestantes encerram movimento

    Por Aline Frazão, para os Jornalistas Livres

    Enquanto movimentos feministas e de direitos humanos lutam pela descriminalização do aborto (no Brasil as ricas abortam, as pobres morrem), o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, quer tirar um direito duramente conquistado. Desde 1940, a lei prevê que as mulheres podem realizar aborto nos casos de estupro e se for comprovado que o bebê é acéfalo.

    Esse senhor quer incluir um ARTIGO no Decreto Lei do Código Penal. O texto do ARTIGO, o 127 A, diz que “anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto, induzir ou instigar gestante a usar sustância ou objeto abortivo, instruir ou orientar gestante sobre como praticar aborto, ou prestar-lhe qualquer auxílio para que o pratique, ainda que sob o pretexto de redução de danos”, a pena é detenção, de quatro a oito anos. Se o agente for funcionário da saúde pública, ou exercer a função de médico, farmacêutico ou enfermeiro, a pena é prisão, de cinco a dez anos. Reparou na maldade? Preste atenção ao “ainda que sob o pretexto de redução de danos”.

    As mulheres não querem parir filhos de seus estupradores.

    Fotos: Olívia Porto Pimentel / Nicole Marinho

    Esse recado ficou explícito nas manifestações que ocorreram nesta semana. Para protestar contra esse retrocesso, ativistas criaram o movimento

    #MulheresContraCunha, que ocorreu no Rio de Janeiro e em São Paulo, e no último sábado em BH. Apesar de não ter recebido tanta força quanto nas duas maiores metrópoles do país, onde foram organizados atos com milhares de pessoas, as mineiras insistiram em também tomar as ruas e protestar por seus direitos. Começando um pouco tímido na Praça da Liberdade, na frente do Palácio do Governador do Estado, aglomerou-se cerca de 500 pessoas que partiram em marcha para o epicentro da cidade, a Praça Sete de Setembro.

    Elas caminharam pela avenida João Pinheiro. Alcançaram a Avenida Afonso Pena, e em frente à prefeitura entoaram um canto já conhecido na Capital mineira: “ei Lacerda, seu governo é uma merda! Dança lacerda, dança até o chão, chegaram as mulheres pra fazer revolução”.

    Foto: Caio Santos

    A manifestação ocupava todas as pistas. No entanto, o trânsito estava tranquilo e a ideia era andar até a Praça da Estação. Porém antes de chegar à Praça Sete, a PM pediu aos manifestantes para liberar uma faixa. Liberaram. Logo em seguida eles quiseram a liberação da segunda faixa. Nessa hora se formou uma confusão. Policiais correram atrás de um rapaz e o deteve. Sua namorada questionou a prisão, e acabou sendo detida também. De forma violenta. Cinco policiais a seguravam pelos braços e pernas.

    Vários manifestantes tentaram proteger o casal, outros já saíram correndo, assustados. O que era uma bela manifestação até então, se tornou cena de ditadura militar, ainda comum no Brasil. Um novo grito de ordem começou a ser bradado: “que coincidência, sem a polícia, não tem violência”.

    O casal foi levado. Os gritos contra Cunha e seu projeto bizarro, como “Legaliza! O corpo é nosso! é nossa escolha! é pela vida das mulheres”, tiveram de se voltar contra a PM: “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar”.

    Foto: Olívia Porto Pimentel

    Depois disso, os manifestantes continuaram na Afonso Pena, por pouco tempo, resolvendo o que fazer com a questão dos companheiros detidos. Enquanto isso, a PM cercava o grupo que sobrou e mandou um aviso: “a tropa de Choque estava a caminho”. Ficou decidido que seria criada uma comissão, composta por representantes dos movimentos e por advogados, para liberar os presos.

    Foto: Caio Santos

    A deputada federal pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil), Jô Moraes, acompanhava o ato e fez alguns telefonemas. Em conversa com um tenente da PM ela afirmou: “ a mulher foi presa por cinco policiais. Como é que precisa de cinco policias pra prender uma mulher? Eles saíram correndo atrás dela. Eu estou chocada. Eu espero que o senhor me assegure que não haja nenhum problema na delegacia. O batalhão não veio e realmente, era pouca gente pra tanto espetáculo”, concluiu, agradecendo.
    Os manifestantes tiveram de liberar toda a avenida, sob a ameaça de uma ação truculenta da polícia. O movimento se dispersou, enquanto alguns foram até a Central de Flagrantes mais próxima, com a comissão.

    Foto: Olívia Porto Pimentel

    O casal preso foi liberado durante a madrugada de sábado. Eles devem responder por processo. A comissão formada por integrantes dos movimentos que tomaram a frente do ato vai acompanhar o caso.

    A polícia reconheceu que foi necessário usar da força para dominar a jovem detida. A força de cinco homens contra uma mulher.

    Foto: Caio Santos
  • Igreja Católica quer criminalizar luta das mulheres por causa de pichações na Catedral!

    Igreja Católica quer criminalizar luta das mulheres por causa de pichações na Catedral!

    Por Laura Capriglione, especial para os Jornalistas Livres

    Os padres católicos Luiz Eduardo Baronto, cura da Catedral da Sé, e Helmo César Faccioli, auxiliar do cura, foram hoje (31/10) até o 8º Distrito Policial, no Brás, onde denunciaram por vandalismo todas as entidades que promoveram o ato público contra o PL 5069/2013, de autoria do deputado evangélico Eduardo Cunha, realizado no dia 30.

    Portas e paredes de pedra da catedral foram pichadas durante o ato com frases como

    “Tire seus rosários de meus ovários!”

    “Útero Livre!”

    “Fora Cunha!”

    “Se o papa fosse mulher o aborto seria legal!”

    Em nota, os padres que administram a catedral lamentaram e repudiaram o que chamaram de atos de vandalismo contra a igreja, dizendo que ela é um “monumento arquitetônico-artístico de referência para a cidade de São Paulo”.

    Entre as entidades citadas no boletim de ocorrência, estão a Marcha Mundial das Mulheres, a Liga Brasileira de Lésbicas, a Frente Contra o Assédio e o coletivo As Mina é Zica, que soltaram um manifesto de repúdio ao PL 5059 em que se lê:

    “Novamente os rosários e as bíblias teimam em catequizar nossos ventres laicos”.

    A Igreja Católica anima um dos movimentos anti-legalização do aborto mais sinistros do Brasil, o chamado “Pró-Vida”, que tem como lema a frase “Coração Imaculado de Maria! Livrai-nos da Maldição do Aborto!”

    Como se vê, quando se trata de punir as mulheres que lutam pela liberdade e contra o jugo patriarcal, a Igreja Católica anda de mãos dadas com o retrocesso apelidado Eduardo Cunha.

  • ‘A violência contra a mulher não é um mundo que a gente quer’

    ‘A violência contra a mulher não é um mundo que a gente quer’

    Por Tati Pansanato, especial para os Jornalistas Livres


    Milhares de mulheres se mobilizaram e se manifestaram na sexta e no sábado (30 e 31/10) contra o PL 5069/2013, projeto de lei que…

    • Quer restringir o direito da vítima de violência sexual de fazer a profilaxia da gravidez sem a apresentação de um boletim de ocorrência e de um exame de corpo de delito;

    • Quer criminalizar os profissionais de saúde que a façam;

    • Quer punir com cadeia a circulação de informações que orientem ou instruam a gestante sobre como praticar o aborto.

    Do alto de sua falta de compaixão, o projeto de lei quer exigir que o atendimento à mulher estuprada seja precedido pela denúncia em uma delegacia e pela feitura de um exame de corpo de delito.

    Imagine…

    Foto: Mídia NINJA

    O sêmen do criminoso ainda dentro do corpo da vítima e ela (em choque) sendo obrigada a reviver a agressão diante de um escrivão de polícia, em uma delegacia que em sua maioria está despreparada para acolher casos assim.

    Boçais.

    O PL é de autoria do (sempre ele!) deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que o apresentou em 2013, quando ainda não era presidente da Câmara. Voltou à cena agora que Cunha precisa tirar do foco as denúncias de corrupção contra ele, envolvendo milhões de dólares em contas no exterior. Para tanto, Cunha recebeu parecer favorável do relator deputado Evandro Gussi (PV-SP), que aproveitou a oportunidade para piorar o que já era ruim.

    Para quem nutre preconceitos contra os evangélicos, considerando que só entre os neopentecostais –como Eduardo Cunha– encontram-se os inimigos das causas das mulheres, aí vai uma informação importante. Evandro Gussi é um fanático fundamentalista católico, membro da Canção Nova e de uma sinistra organização anti-mulheres, chamada Pró-Vida, que tem como lema “Coração Imaculado de Maria! Livrai-nos da Maldição do Aborto!”

    Marcha Mulheres Contra Cunha em São Paulo. Foto: Mídia NINJA

    Bom, mas vamos à linda resistência feminista contra esses maníacos inquisidores modernos…

    Pelas redes sociais, marcou-se o ponto de encontro: praça dos Ciclistas, ali na esquina das avenidas Paulista e Consolação –impossível não sentir os ecos das jornadas de luta contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô de 2013.

    Foto: Lina Marinelli / Jornalistas Livres

    Mulheres pintadas, mulheres de sutiã, mulheres sem, mulheres cis, mulheres trans, mulheres negras, brancas e indígenas. Feministas históricas ao lado de meninas secundaristas. Mulheres valentes. Mulheres gordas. Mulheres magras. Peitudas e sem peito. Mulheres Frida, Simone (de Beauvoir, viu?), Nina e Olga. Mulheres livres, andando ao lado de homens libertários e também inimigos das fogueiras e dos instrumentos de tortura.

    Em todas as vozes, o grito:

    “Vai cair, vai cair… O Cunha vai cair!”

    Foto: Mídia NINJA

    Milhões de mulheres já decidiram fazer um aborto ou conhecem alguém que já o fez. Isso sempre ficou em segredo, no silêncio doído e solitário das escolhas difíceis, clandestinas e estigmatizadas. Algo mudou.

    Uma das redes de solidariedade mais impressionantes dos últimos dias é a que se formou em torno da hashtag #PrimeiroAssédio, com as mulheres rompendo as convenções opressoras ditadas pela vergonha e pela humilhação. “Deixa estar… Melhor esquecer… Bola pra frente… Como você vai provar?” –que vítima nunca escutou esse tipo de conselho? Mas eis que, de repente, tudo aquilo que se tentou enterrar no passado aflorou como em uma erupção.

    Foto: Mídia NINJA

    E nós começamos a falar! E dessa fala veio a solidariedade, a compaixão, a sensibilização, uma se identificando com as outras… Com todas.

    Juntas somos fortes.

    Surpresa! Nem Cunha e nem o católico Gussi esperavam por isso…

    Motivado, o formigueiro feminino e feminista se conectou e, em poucos dias, organizou um ato #MulheresContraCunha, tag que rapidamente ganhou milhares de adeptos nas redes sociais.

    Foto: Lina Marinelli / Jornalistas Livres
    Ato Mulheres Contra Cunha em Belo Horizonte. Foto: Caio Santos / Jornalistas Livres

    Priscila, 28 anos, técnica arqueológica que é contra esse projeto de lei, conta que esteve ali pelo direito ao corpo, pela legalização do aborto e pela descriminalização da pílula. Ela diz que tem uma amiga que, aos 12 anos de idade, foi estuprada “violentamente” pelo padrasto e engravidou. A menina teve que passar duas vezes por atendimento médico-cirúrgico pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e até os dias de hoje sofre com o trauma. Uma história. Tantas histórias.

    O ato seguiu pela avenida Brigadeiro Luís Antonio até a Catedral da Sé, no centro da capital. Sob as estátuas de santos, debaixo da cruz, defronte às imensas portas fechadas da igreja, fechadas para nós, milhares de mulheres carregando faixas, cartazes, bateria, gritos, ovários e garra avisávamos:

    “Não vamos desistir até o Cunha cair!”

    “Tirem seus rosários dos meus ovários!”

    “Amanhã vai ser maior”

    Assim seja.

    Foto: Lina Marinelli / Jornalistas Livres