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  • O desgoverno Dória e o sofrimento do povo paulistano

    O desgoverno Dória e o sofrimento do povo paulistano

    O Governo Dória fez um desmonte – leia-se extermínio – na Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial do Município de São Paulo (SMPIR).

    Pior ainda: acabou com uma Secretaria que atendia o povo negro sem discutir com as pessoas interessadas e a sociedade civil, mostrando total desprezo à causa das negras e negros, maioria da população.

    No inicio de sua gestão, usou instalação de telas para esconder moradores de rua e tirou o leite das crianças carentes.

    Cada dia que passa ele apaga mais ciclofaixas, sem esquecer que o senhor prefeito adora um cinza – pois apagou grafites históricos da cidade.

    E o que falar da crueldade em tentar empurrar goela abaixo a ideia de dar resto de comida (farinata) para estudantes e famílias humildes?

    Existe um desmonte do Sistema Único de Saúde (SUS) e o caso mais grave recentemente é a febre amarela. Incrível que diante da epidemia mais séria da historia do país, o prefeito não vem a publico falar o que realmente acontece e qual a causa do problema, já propondo solução. Então, a omissão só gera cada dia mais um pânico na cidade. Uma vergonha!

    Vale lembrar também os cortes e congelamentos de serviços públicos, inclusive da Cultura. A Secretaria da Cultura agoniza em São Paulo, respira por aparelhos nesta administração, que vem prejudicando diversos programas como: o Fomento à Periferia, Prêmio Zé Renato, Fomento ao Circo, Fomento ao Teatro, Fomento à Dança, Programa VAI, artistas em gerais e quem deseja contribuir pela cultura da cidade.

    Sobre privatização, cabe a pergunta ao prefeito: por que esta ânsia em privatizar a cidade inteira de forma estranha e ainda não bem explicada?

    João Dória congelou de um lado, porém aumentou as arrecadações. O prefeito mais brincou de reality show nas redes sociais e viajou pelo Brasil e mundo do que zelou pela cidade. E por falar em zeladoria, da tal Cidade Linda só sobra hoje sujeira e buracos nas ruas.

    Em relação às doações dos amigos empresários, hoje tem menos de 10% do prometido. Porém, a prefeitura sempre fala que está dentro do combinado. Ou seja, onde estão os valores reais? Se tem quase 20 vezes menos que o prometido, ou está guardado ou não existe.

    E ainda se gasta mal o que tem aumentando os gastos. Ou seja, mentiu que iria ter muito dinheiro, o que não se confirmou. E ainda gasta mal o que tem.

    Lembrando que sua “gestão” teve problemas internos, o que acarretou em trocas e problemas com as Prefeituras Regionais. E agora João Dória deseja mexer na aposentaria dos servidores municipais.

    Por isso, o dia 19 é de suma importância. Não apenas pelos servidores, e sim contra um governo que a cada dia torna São Paulo em um lugar pior para se morar e viver.

    Não contente, o João “trabalhador” pensa em outras possibilidades políticas. Cabe à população mostrar ao “Prefeito Cosplay” o que os munícipes estão dizendo: Não! Chega! Basta!

    Confira abaixo uma entrevista com Sérgio Antiqueira, presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep):

    Quem é o Sergio? E qual entidade representa?

    Sérgio Antiqueira – Meu nome é Sérgio Antiqueira, Presidente do Sindsep (Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo). Sou diretor de escola na Prefeitura de São Paulo, lotado em Centro de Educação Infantil (CEI). Entrei na Prefeitura em 1998 pelo concurso quando o cargo era de Diretor de Equipamento Social e as Creches pertenciam à Assistência Social.
    O Dória gosta de servidor publico?
    Sérgio Antiqueira – O Prefeito João Doria demonstrou já no seu primeiro ano de mandato, não ter interesse em investir nos serviços públicos que a população tanto precisa. Quis desmontar as farmácias nas UBSs, reduziu remédios, fechou unidades e reduziu horários de atendimento. Parou a construção de Hospitais e CEUs. Reduziu o transporte escolar e a merenda e queria colocar ração para a população de rua e para as crianças. Quer fechar bibliotecas, acabou com equipamentos culturais e quer vender o Centro Cultural Vergueiro. Desmontou os programas de assistência social. Quer vender os cemitérios. Não fez uma chamada de AGPPs, pessoal administrativo com quadro extremamente defasado e sem os quais os serviços na prefeitura ficam absolutamente precários. E pretende extinguir o quadro de Agentes de Apoio (nível operacional) hoje já amplamente terceirizado. Cortou mais de 3 bilhões em saúde e educação até metade do ano, afirmando que havia um déficit na Prefeitura, mas desmentido pela imprensa que revelou que Doria mantinha em caixa 11 bilhões para investir nos serviços que São Paulo tanto precisa. Iniciou o ano eleitoral com mais de 6,5 bilhões em caixa. Essa falta de compromisso com os serviços, além do reajuste de 0,01%, já seria o suficiente para demonstrar o desapreço com os trabalhadores que fazem os serviços funcionarem, às duras penas, sem condições de trabalho, com pessoal insuficiente. Mas para fechar 2017, Doria enviou em 18 de dezembro um projeto de lei que pretende aumentar os descontos previdenciários de 11% hoje e que poderiam chegar próximos a 19% para algumas categorias, e taxando até aposentados com salários baixos que hoje são isentos. E mesmo assim, esse projeto se aprovado irá quebrar a previdência dos servidores atuais.
    O que é o Sampaprev?
    Sérgio Antiqueira – Sampaprev seria um órgão gestor de previdência complementar para futuros servidores que ganham acima do teto do INSS (R$ 5.645,80). A proposta apresentada por Haddad foi retirada da Câmara após pressão dos servidores e das entidades, mas reapresentada no final do seu mandato (dez/2016), descumprindo o negociado. O PL 621/2016 de Haddad foi totalmente reformulado por Doria, deixando de ser o PL do Sampaprev, que já era ruim, para se tornar o que chamamos de PL do Extermínio, pois quebrará definitivamente nosso Iprem e servirá como mais desculpas para acabar com o funcionalismo municipal. Nesse novo projeto de Doria que corta salário de servidores, a previdência complementar também é imposta aos futuros servidores, reduzindo ainda mais o caixa do Iprem. A diferença é que a contribuição máxima do governo foi reduzida de 8,5% para 7,5% e a Prefeitura não é obrigada a constituir o Sampaprev podendo a previdência complementar ser gerida por órgãos de outros entes, como o SPPREV do governo Alckmin.
    O Iprem ja emprestou dinheiro para servidor, por que hoje esta quebrado? Como chegou a isso?
    Sérgio Antiqueira – Até 2005 o Iprem servia para gestar apenas pensões por falecimento de servidores. Contribuíamos 3% e o governo 2%. As aposentadorias eram pagas integralmente pelo tesouro municipal. Como o Iprem era superavitário, os governos como os de Maluf e Pitta, usavam o dinheiro do Iprem como empréstimos para o caixa da Prefeitura que aplicava no mercado financeiro. Com a reforma previdenciária de 2003 aplicada em 2005, passamos a contribuir 11%, o que diziam que tornaria o Iprem sustentável. O Governo Serra além de não colocar nenhum aporte inicial para o Caixa não pagou o que devia ao Iprem, dizendo que a dívida seria abatida pelos aportes futuros, ou seja, aquilo que a Prefeitura tem a obrigação de complementar às contribuições dos servidores e da prefeitura, para garantir o pagamento das aposentadorias e pensões, direito dos servidores que construíram e mantiveram os serviços públicos por uma vida toda.
    O governo justifica que deve mexer na previdência por qual motivo?
    Sérgio Antiqueira – O governo chama o dinheiro que complementa para garantir as aposentadorias e pensões de déficit. Sua justificativa é que em 2025 o gasto com pessoal chegaria a 60%. As projeções utilizadas pelo governo são uma farsa. De 2005 a 2017, diferentemente do que o governo quis que todos acreditassem, a proporção de gasto com pessoal foi reduzida. Gastava-se 38% da Receita Corrente Líquida em 2005, em 2017 a Prefeitura gastou apenas 35%. Pela Lei de Responsabilidade Fiscal o Executivo pode gastar até 54%. Estamos muito longe dos limites previstos, e São Paulo não tem problemas financeiros. O governo fez uma projeção até 2025 como se o gasto com servidores ativos e aposentados fossem crescer entre 10% e 11% ao ano, sendo que de 2016 para 2017 cresceu apenas 3,6% (crescimento vegetativo da folha). Enquanto isso projetou crescimento da receita de 5% ao ano até 2025, sendo que só no último ano, em relação a 2016, a Receita Corrente Líquida da cidade cresceu 10%. Ou seja, não é o gasto com ativos e aposentados o problema. 
    Houveram reuniões com o governo? E o que saíram dessas reuniões?
    Sérgio Antiqueira – O governo Doria fez reuniões com as entidades sindicais ao longo de 2017 para discutir a previdência. Mas apenas mostrou projeções catastróficas e um estudo atuarial para os próximos 75 anos, questionado na própria Câmara. A proposta limitava-se à previdência complementar (antiga proposta de SAMPAPREV). E mesmo quando questionado, o governo nunca confirmou se faria aumento de alíquotas, alíquota complementar ou segregação de massas e nem apresentou os temas para debate. Disse ainda que apresentaria o projeto quando o encaminhasse à Câmara. Nada disso foi feito. Quando perguntado pelo Sindsep se haveria disposição de apresentar os números de gastos com Organizações Sociais (para onde vão grande parte dos recursos que serviriam à reposição de pessoal e de contribuições), o governo se negou explicitamente.
    O que é o PL do Extermínio? Quem é prejudicado por esse projeto?

     Sérgio Antiqueira – Além de aumentar para até 19% as alíquotas atuais e taxar aposentados isentos, o PL permite que a Prefeitura reduza a sua contribuição patronal atual de 22% hoje para 14%. Ou seja, os servidores passariam a assumir os encargos do governo com seu próprio salário. É confisco, corte de salário. O caixa do Iprem vem diminuindo porque o governo não faz concursos para suprir as vagas que vão surgindo. De 2009 a 2017 a Prefeitura que tinha 132 mil servidores na ativa passou a ter 122 mil, portanto, 10 mil servidores a menos. Esses dados são do próprio governo. Com esse repasse de obrigações do governo para os servidores (aumentado a contribuição do servidor e reduzindo da prefeitura), não haverá aumento de caixa. E se isso não bastasse, o novo projeto de Doria pretende segregar massas. Ou seja, os atuais servidores ativos, aposentados e pensionistas vão ficar segregados em um caixa à parte dentro do Iprem (FINAN) em que não receberá nunca mais a contribuição dos futuros servidores que ingressarem por concurso. Esses futuros servidores ficarão em outro fundo chamado FUNPREV. É o dinheiro deles que servirá à capitalização por instituições financeiras.Com o aumento de aposentados e redução de ativos sem reposição da contribuição de novos servidores o FINAN cada vez exigirá um volume maior de aporte da Prefeitura e servirá de desculpas para congelamentos salariais como já aconteceu em vários entes federativos. Nesses casos, além de não poder reajustar mais, fica proibido o concurso, ou o pedido de novos adicionais como quinquênio e sexta-parte, e ficam impedidos os servidores de progredirem, promoverem ou evoluírem na carreira. É o fim do funcionalismo municipal na cidade.

    Por que é importante o Ato do dia 19 de fevereiro no centro de São Paulo? Que horas e onde vai ser? 

    Sérgio Antiqueira – O Sindsep já realizou um ato na Câmara, articulando a unidade com inúmeras entidades, no dia 1º de fevereiro. Serviu de alerta aos vereadores, mas dia 19 será ainda mais importante. É dia de demonstrarmos a Doria que não aceitamos confisco de nossos salários e que vamos lutar para defender nossos direitos e nosso futuro. Estamos chamando para o ato/assembleia às 13 horas na Praça do Patriarca, na esquina com a Rua São Bento e Quitando, em frente ao Sindsep. Temos que manifestar contra Doria, demonstrando nossa indignação para construir um calendário unificado com todo o funcionalismo municipal para a construção de uma greve, se necessário. Temos a palavra de ordem: Se botar para votar, São Paulo vai parar! 

    Por que foi escolhida essa data, do dia 19?

    Sérgio Antiqueira – Dia 19 foi escolhido pela categoria em assembleia desde 17 de janeiro. Essa é a data proposta pela CUT e pelas centrais sindicais como um Dia Nacional de Luta, Mobilizações e Paralisações contra a reforma da Previdência proposta por Temer. Estamos sendo atacados tanto pelo governo municipal, quanto pelo Federal. Doria quer que paguemos mais e Temer que trabalhemos mais, até morrer. Ambos se demonstraram parceiros no ataque aos direitos e ao funcionalismo. Por isso às 17 horas também haverá ato na Avenida Paulista.  
    Por que o governo Doria deseja a todo custo passar este projeto de lei?
    Sérgio Antiqueira – As maiores interessadas nesse projeto são as instituições financeiras. Não é a toa que, segundo o governo, a FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) “doou” estudos sobre a previdência dos servidores. São os nossos dados nas mãos de banqueiros. A página inicial do site da entidade tem uma enorme propaganda em defesa da reforma da previdência de Temer. Se a reforma de Temer passasse, os bancos teriam a garantia de manutenção dos recursos da união para pagamento de juros e títulos da dívida pública que consome metade do orçamento arrecadado por impostos.  Por outro lado, a reforma iria fazer com que os mais pobres morressem sem se aposentar (muitas regiões do país e da cidade a expectativa de vida é inferior aos 65 anos), e os com alguma renda melhor procurariam os bancos para comprar planos de previdência (direitos se tornam mercadorias). Da mesma forma, as instituições financeiras estão de olho no dinheiro dos servidores de São Paulo. Pelo Projeto de Dória, além do dinheiro da previdência complementar (gerida pelo Sampaprev ou por outro órgão), toda a contribuição dos futuros servidores sobre os vencimentos e subsídios abaixo do teto do INSS, podem ser aplicados no mercado financeiro, garantindo o lucro de bancos. Em 2017, o Itaú fechou o ano com 24 bilhões de lucro líquido. E ainda ganhou de Temer um perdão de mais 25 bilhões de Reais em dívida com a Receita Federal. Para o Santander, o perdão da dívida foi de 338 milhões. Itaú e Santander devem juntos para a Prefeitura de São Paulo mais de 6 bilhões de Reais, o que equivale a mais do que 11% da receita da cidade. Mas Dória prefere repassar a conta aos servidores.

  • Com a Cyrella, a mais atrevida tacada de Doria, por Luis Nassif

    Com a Cyrella, a mais atrevida tacada de Doria, por Luis Nassif

    Do: GGN – Luis Nassif OnLine

    João Doria Jr é um bem sucedido homem de negócios. Por tal, não se entenda o empreendedor convencional, ou o gestor. Toda a carreira empresarial de Doria foi feita no campo dos patrocínios, permutas e lobbies, colocando empresários em contato com autoridades através dos múltiplos fóruns da LIDE. A missão da LIDE é montar eventos que permitam a empresários e autoridades estreitar relacionamentos.

    As autoridades vão porque querem um público de empresários e CEOS. E estes vão porque querem contato direto com as autoridades. Simples assim. 

    Terreno do Parque Augusta. Foto divulgação – Prefeitura de São Paulo

    Em cima dessa fórmula, Doria montou inúmeros filhotes da LIDE, tanto setoriais – LIDE do agronegócios, da exportação etc – quanto regional, com filiais inclusive na América Latina.

    Agora, está completando a inovação tornando a Prefeitura uma filial da LIDE. E aí entra em um terreno pantanoso, principalmente se os Ministérios Públicos fizerem a ligação entre os eventos da LIDE e as ações de Doria na prefeitura.

    É como se ele acenasse para os membros da LIDE: o coroamento do investimento de vocês é que, a partir de agora, não será mais necessário investir em relacionamento: vocês serão as autoridades.

    É o que aconteceu com essa nomeação escandalosa de Claudio Carvalho de Lima, vice-presidente executivo da Cyrella para a Secretaria das Subprefeituras.

    A Prefeitura é a agência reguladora do setor de construções e incorporações de edifícios de São Paulo. Tudo passa pela Prefeitura, do início ao fim da obra, o relacionamento com a Prefeitura é essencial para uma grande incorporadora, do alvará ao HABITE-SE, da mão de trânsito à permissão de estacionamento e Zona Azul, do ISS na construção, zona de alta arbitragem à altura de prédio.

    Cabe à Prefeitura defender a lógica do zoneamento, para impedir abusos e distorções.

    Calçada em frete ao Parque Augusta. Foto: Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com

    A Cyrella é a maior empresa do setor.  E as subprefeituras são a principal moeda de troca com vereadores. Agora entrega-se essa moeda de troca a um executivo da Cyrella, que tem enormes interesses que dependem da Câmara Municipal, a começar pelo caso do Parque Augusta. Mesmos os piores prefeitos que passaram pela cidade não ousaram uma esbórnia tão ampla, assim, entre interesses públicos e privados.

    É uma audácia sem desconfiômetro, típico da ambição sem limites de Doria, para suas investidas políticos-financeiras.

    Através da Câmara, e usando as Subprefeituras como moeda de troca, será possível alterar zoneamentos fixados pelo Plano Diretor, permitindo às incorporadoras a jogada óbvia: comprar terrenos em Zona 1, vedadas a construção de edifícios e, em seguida, alterar as condições da região.

    Matéria original em: https://jornalggn.com.br/noticia/com-a-cyrella-a-mais-atrevida-tacada-de-doria-por-luis-nassif

     

    Nota dos Jornalistas Livres: O Plano Diretor de uma cidade é um documento que estabelece os princípios, diretrizes e objetivos que nortearão todas as decisões de políticas de desenvolvimento urbanas. É nele que são definidas as ações e permissões que levam, por exemplo, a um maior convívio ou exclusão sociais. Onde haverá praças e onde se construirão os shoppings. Vias expressas, ciclovia e corredores de ônibus. Teoricamente, o Plano Diretor para São Paulo até 2029 visava se contrapor à especulação imobiliária desenfreada, como exposto pelo vereador Nabil Bonduki (PT) em entrevista ao Candeia Jornalismo (https://candeiablog.wordpress.com/) e publicada no Outras Palavras em outubro de 2014 (https://outraspalavras.net/blog/2014/10/16/nabil-bonduki-um-plano-diretor-contra-a-especulacao-imobiliaria/).

    Em maio de 2015, os Jornalistas Livres acompanhamos uma aula pública sobre parques e direito à cidade com o professor Antônio Carlos Sarti, da EACH-USP Leste, e a exibição/debate do documentário Sem Pena, de Eugênio Puppo (http://www.sempena.com.br/) , dentro das atividades da #ViradaPenal ( Veja em https://medium.com/@jornalistaslivres/controlar-vigiar-e-punir-no-parque-augusta-6c42aa1f1bd2).

    Parque Augusta – Foto: Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá – www.mediaquatro.com

    Vale lembrar que o prefeito João Doria assinou em agosto desse ano um acordo para a cessão de um terreno da Prefeitura próximo à Marginal Pinheiros em troca do “direito” de destinar a área do Parque Augusta, de propriedade formal das incorporadoras Cyrela e Setin, ao uso social. Como aponta reportagem do NexoJornal: “Doria é amigo de Elie Horn, dono da incorporadora Cyrela, que doou R$ 100 mil à campanha vitoriosa do prefeito. Em junho, um dos executivos da empresa se desligou da companhia e passou a capitanear a recém-criada Secretaria de Investimento Social” (veja em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/08/04/Doria-anuncia-acordo-pelo-Parque-Augusta.-O-que-SP-cede-e-o-que-ganha). Os valores nominais de ambos os terrenos ainda não foram divulgados.

  • Dória lança campanha publicitária que culpa o usuário, e não a miséria, pelo problema da Cracolândia

    Dória lança campanha publicitária que culpa o usuário, e não a miséria, pelo problema da Cracolândia

    Por Flávia Martinelli, dos Jornalistas Livres

    Após tratar a dependência química como caso de polícia e violar direitos humanos internacionais básicos no desmantelamento do programa De Braços Abertos – política pública construída no diálogo entre Estado, entidades e profissionais especializados em atenção integral à saúde e promoção de cidadania – o prefeito João Dória Júnior segue em seu arbitrário projeto imobiliário-higienista na Cracolândia, no valioso centro de São Paulo.

    Dessa vez, a estratégia foi descontextualizar a realidade dos usuários de crack em campanha publicitária; uma das especialidades do político que é dono de uma agência e editora de revistas voltadas para empresários e público de classe A. O prefeito Júnior destinou R$ 3 milhões e 900 mil dos cofres públicos para anúncios em pontos de ônibus, TV, cinemas e redes sociais nos quais coloca toda a culpa do problema do crack nas costas dos usuário. O programa Braços Abertos custava, em sua totalidade, R$ 9 milhões POR ANO.

    Astuto, o lançamento oficial da campanha, será nesta segunda-feira (26/06), Dia Mundial de Combate às Drogas. Mas o marketing já começou neste domingo (25) com o lançamento de um vídeo que Dória postou em seu facebook. “Quero compartilhar em primeira mão com vocês esse lindo comercial da prefeitura de SP para a campanha de sensibilização da sociedade para o problema do crack”, disse Júnior. De acordo com o prefeito, basta dizer “não” à droga para ser vacinado à “dependência química terrível, uma verdadeira doença crônica, difícil de tratar”. Posto dessa maneira, culpabilizando o usuário e isentando-se da responsabilidade do Estado em buscar saídas para a miséria e programas de recuperação, ficou fácil pra Prefeitura, né? Mas há muitas camadas de significado na propaganda do prefeito.

     

     

     

     

     

    No vídeo, logo somos informados que a dramatização é baseada em histórias reais. Então, abre-se uma porta. Musiquinha indie-rock dramática, em inglês, ao fundo. Sobe o som. Um jovem homem branco, então, percorre uma galeria onde estão expostas diversas fotos. Um bebê sorri numa das imagens, uma criança loirinha faz pose em outra, tem cena de formatura e até viagem para o exterior. Logo percebe-se que o rapaz que visita a exposição é o mesmo que está nas fotos. Casamento, nascimento de filho, ar de vencedor…

     

    Até que um espelho mostra que a imagem refletida não é mais a do rapaz sorridente das fotografias. O personagem agora está visivelmente envelhecido. Dentes amarelos, barba e roupas desgrenhadas como se estigmatiza descrever um morador da Cracolândia. O letreiro sobe em maiúsculas: “O CRACK DESTRÓI UMA VIDA INTEIRA. QUANDO VOCÊ VÊ, JÁ NÃO SE VÊ”. O homem chora. O logotipo da Prefeitura de São Paulo acompanha o texto “CRACK. A MELHOR SAÍDA É NUNCA ENTRAR”. Fim.

    De imediato, a propaganda faz a separação entre o antes e o depois do crack na vida do personagem. Quando era um feliz “cidadão de bem”, ele não usava a droga. Depois de usar, virou um morador da Cracolândia. Pressuposto errado. A campanha de terror de Dória, que mostra um caminho sem volta, é mais uma estratégia que só distrai o verdadeiro problema: a miséria.

    Crack é uma droga que tem o mesmíssimo princípio ativo da cocaína. E, como no uso dela, há inúmeros usuários que compram as pedras na sexta-feira para usar no fim de semana. Quem são esses consumidores? São cidadãos que vivem suas vidas sem parar nas ruas da Cracolândia em situação deplorável, sem família, sem emprego e sem dinheiro. A lógica de quem vai parar lá, por sinal, é inversa. É a miséria que faz alguém chegar à Cracolândia e não necessariamente o crack. E a exclusão social é o principal problema de quem só encontra nas ruas alguma inclusão.

    Na Cracolândia está gente sofrida no último grau da dor. São em sua maioria negros destruídos pela sociedade racista, são ex-presidiários abandonados pelas famílias e sem chance de emprego, são prostitutas aniquiladas física e mentalmente, são travestis dizimados pela violência simbólica e material do machismo, são gênios e loucos incompreendidos e raramente aceitos. “Para acabar com a Cracolândia”, sempre repete o médico Drauzio Varella,”é preciso acabar com a miséria”. E isso a propaganda de Dória não promete nem menciona.

    Outro ponto escondido é o papel do Estado. O filme não menciona nenhuma palavra, música, imagem ou mesmo um pincelar simbólico sobre o papel da Secretaria da Saúde diante da dependência química. Nada nem de longe faz referência às políticas públicas para lidar com o problema. Tampouco se aborda a multiplicidade de fatores que pode levar alguém à Cracolândia, como a falta de moradia, emprego e estrutura familiar ou a disponibilidade de uma droga barata que foi disseminada nas comunidades mais vulneráveis da cidade e até mesmo o fato de a maioria da população nas ruas ser alcoólatra.

    No comercial “lindo” do prefeito Dória tudo se resume a dizer “não” à oferta de crack. Bastaria isso para aquele jovem homem branco, pai de família, viajado e de infância feliz ter sua vida de classe média preservada. Pressuposto totalmente errado. O problema de quem chega à Cracolândia não é a droga. É a miséria.

    Espelhamento é estratégia antiga da publicidade. Quem se vê projetado nos anúncios logo se identifica. Os profissionais da propaganda feita pela agência Cazamba sabem disso, tanto que a empresa, que se define especialista em tecnologia de marketing, promete a marcas o engajamento de seus consumidores de uma forma “mais dinâmica e personalizada para alcançar e interagir com a audiência desejada, da maneira desejada.” Não foi necessário nem fazer metáfora para explicitar o público-alvo de Dória no vídeo batizado de “Espelhos”. Incutir o terror na população de classe média diante do crack é estratégia perfeita para fugir de problema muito maiores que são gerados pela exclusão social.

    A empresa que fez o vídeo afirma que “é o anunciante quem determina como veicular a peça e quais interações ela terá com o usuário.” Esse, no caso, não é o morador da Cracolândia que Dória trata com batalhão de polícia, demolição de moradia, internação compulsória e fim de acesso a emprego e perspectiva de vida que tinha no acolhimento do antigo programa Braços Abertos. A estratégia de marketing do prefeito é dizer que o usuário é cego, culpado por ter destruído sua vida inteira.

    Fica o subtexto de que o Estado, ao virar as costas para o problema de moradia na cidade, por exemplo, não tem nada a ver com a Cracolândia. O sistema carcerário brasileiro que devolve à sociedade presos sem acesso a emprego também não tem nada a ver isso. Os marginalizados todos são só um detalhe que os publicitários e o governo não lembraram. E, assim, só resta mesmo expulsar, até da rua, o dependente químico culpado por suas mazelas e interná-lo na marra numa clínica que recebe subsídio da prefeitura. E que fica bem longe do centro da cidade.

  • A vida é um emaranhado de nós

    A vida é um emaranhado de nós

    Por Maria Carolina Trevisan
    Fotos: Sato do Brasil

    Em uma ação desastrosa da Prefeitura de São Paulo, três pessoas ficaram feridas pela derrubada de uma parede na rua Dino Bueno, 138, na região da Luz. Ao demolir um construção, descobriu-se que havia pessoas morando no local. O secretário Marcos Penido, de Infraestrutura Urbana e Obras, disse que todos foram informados da operação, que fitas foram passadas no entorno do terreno para impedir a entrada mas afirmou não ter entrado no imóvel. Classificou aqueles que se abrigavam no local como “invasores”. “Não vimos uma entrada clandestina onde estavam essas pessoas”, afirmou Penido. O secretário disse que cuidados adicionais precisam ser tomados mas não admitiu o erro, culpando os ocupantes por estarem lá no momento em que a retroescavadeira derrubou a parede. Pessoas moram naquele local. E o imóvel estava abandonado, ou seja, sem função social, como disse o próprio secretário Penido.

    As ruas da região da Luz e dos Campos Elíseos, no centro de São Paulo, abrigam historicamente pessoas em situação de rua e miséria. Muitas delas são dependentes de drogas. Desde os anos 1990, os poderes públicos tentam intervir na área com o objetivo de retirar essa população do local. As tentativas que partiram da segurança pública sempre trataram com repressão as pessoas que vivem ali, em ações como a Operação Limpeza (2005), a Operação Dignidade (2007) e a Operação Sufoco (2012). No último domingo, 21, sob parceria do prefeito da capital, João Dória Jr, e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ambos do PSDB, uma megaoperação policial prendeu 38 supostos traficantes de drogas e deixou a esmo centenas de dependentes de crack e moradores das ruas da região, além de vulnerabilizar ainda mais a situação dos comerciantes da área. Segundo a prefeitura, 12 pessoas aceitaram a internação. Mas os abrigos – que não foram avisados da operação – ficaram superlotados. “Não há possibilidade da cracolândia voltar”, afirmou Dória Jr, após a intervenção de mais de 900 policiais militares e civis.

    Mas o que faz com que a cracolândia exista é uma conjunção de fatores complexos, em que se sobrepõem problemas de segurança pública, saúde pública, assistência social e, sobretudo, uma persistente carência de humanidade de quem olha (e deve gerir com políticas públicas) a região. Na história, as ações estritamente policiais serviram apenas para a “consolidação de uma territorialidade itinerante”, que ficou rotulada pejorativamente de “cracolândia”, como mostra o relatório de avaliação do programa De Braços Abertos, implantado na gestão de Fernando Haddad (PT) e que tem visibilidade no mundo todo como um caso de sucesso. Pela primeira vez, políticas públicas almejaram promover melhorias nas condições de vida e de saúde das centenas de pessoas, promovendo projetos de redução de danos e acolhimento da população dependente de drogas.

    O prefeito atual, no entanto, acabou com o programa De Braços Abertos. Substituiu por uma iniciativa chamada ‘Redenção’, que ainda não está pronta para funcionar. A prefeitura informou, em comunicado em janeiro deste ano, que o novo programa incorporaria o De Braços Abertos e o Recomeço, do governo paulista. Porém, as propostas são antagônicas por natureza: enquanto o De Braços Abertos propunha a acolhida dos usuários, independentemente do uso ou não de drogas, o Redenção sugere testes de urina para verificar abstinência. Mas como obrigar um dependente de drogas a não usar entorpecentes para conseguir acessar a política pública? Para o secretário de saúde do Estado de São Paulo, David Uip, a busca pelo programa ocorreria a princípio de forma inercial, em decorrência da intervenção policial. “Quando uma operação dessas tira o fluxo fácil da droga o usuário procura o atendimento espontaneamente”, afirmou. O secretário disse ainda que os que não forem por vontade própria serão convencidos por agentes do programa.

     

     

    “Operações como essa prendem muita gente e apreendem quantidades de drogas que parecem expressivas, mas a um custo enorme de violência contra as pessoas que vivem ali”, afirma o coordenador científico da Plataforma Brasileira de Políticas de Drogas, Mauricio Fiore, pesquisador e diretor administrativo do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo também se posicionou. Por meio de nota, afirmou: “novamente e quantas vezes forem necessárias, evidenciamos e nos posicionamos incisivamente contra as ações e planos acerca de políticas sobre álcool e outras drogas adotadas pelos governos do Estado e Município de São Paulo caracterizadas pelo silenciamento e segregação. Trata-se de um ataque à dignidade humana e à população. O interesse público é ignorado e violentado. A que e a quem serve a lógica higienista e proibicionista?”.

    A escolha por enfrentar o problema das drogas por meio do combate policial e militar não combina com o grau de vulnerabilidade das pessoas que precisam da atenção do Estado. O uso da força policial se justifica apenas com o objetivo de encarcerar e matar pessoas – geralmente pobres e negras. Não tem resultados positivos na venda de drogas. E as pessoas que são dependentes químicos e estão em situação de alta vulnerabilidade social não podem se sentir abandonadas pelo poder público. Segundo a Constituição brasileira, é papel do Estado tratar dessa situação pela ótica dos direitos humanos e não apenas da segurança pública.

    As iniciativas de sucesso para tratar a questão no mundo revelam que o mais importante é reconhecer no dependente de crack uma pessoa, com uma história de vida, um passado, uma família. “As evidências claramente mostram que programas como o De Braços Abertos tiveram sucesso porque se conectaram com pessoas que precisavam deles”, explica Liz Evans, uma das maiores autoridades do mundo em uso de drogas em ambientes supervisionados. Ela coordena dois dos mais importantes programas de redução de danos dos Estados Unidos, em Nova York e Washington. “Tentar corrigir o problema com o deslocamento das pessoas que viviam na cracolândia não melhora a segurança no bairro ou na comunidade ao redor. Moveu-se a situação de lugar e se causou mais confusão. Eles tiraram as pessoas dali. Mas elas não desapareceram. Agora estão vagando mais desesperadas e sem um lugar para voltar, sem apoio. A vida deles não melhorou. Continuam com as mesmas questões e necessidades de antes de serem forçados a mudar. Pior: hoje sua sobrevivência será ainda mais difícil”, alerta. Liz avisa que a única forma de curar o quadro de vulnerabilidade compilado na cracolândia – e agora dispersado, mas persistente – é a via da reflexão, criatividade, liderança, força e amor.

    Ao final da operação desta terça-feira, 23, um morador da cracolândia mandou um recado ao prefeito João Dória Jr: “Tem que tratar dependente químico é com amor, não é com guerra, não.”

    Segundos depois da declaração do morador, a PM começou a dispersar as pessoas com bombas de gás lacrimogêneo.

  • A Prefeitura de São Paulo, gestão Fernando Haddad (PT), quem diria, pisou nos Direitos das Crianças e Adolescentes.

    A Prefeitura de São Paulo, gestão Fernando Haddad (PT), quem diria, pisou nos Direitos das Crianças e Adolescentes.

    Responsável pela organização da eleição dos conselheiros tutelares da cidade de São Paulo, que ocorreu neste domingo (15/11), a Secretaria Municipal de Direitos Humanos deu mostras de irresponsabilidade e descaso com os direitos das crianças e adolescentes. Uma nova eleição terá de ser realizada em fevereiro de 2016.

    Foi um vexame. Para quem não sabe, os conselheiros tutelares são peças fundamentais para garantir os direitos básicos de meninos e meninas. Uma criança está sendo obrigada a trabalhar? Não vai à escola? É espancada pelos pais? É abusada sexualmente? Está doente e não recebe cuidados adequados? É o conselheiro tutelar quem recebe as denúncias, quem se dirige à família e aos órgãos públicos. É quem conversa, negocia e checa se há condições de melhorar a vida daquela criança que sofre. É quem encaminha os casos sem solução para a Justiça…

    Dá para dizer, assim, que os conselheiros são a linha de frente dos defensores das crianças e adolescentes.

    É por isso que o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que esses caras, tão importantes para a garantia dos direitos humanos básicos dos meninos e meninas da cidade, têm de ser eleitos pela comunidade.

    Têm de ser pessoas que gozem da confiança das vizinhanças em que vão atuar.

    Neste ano, na cidade de São Paulo, havia 1.562 candidaturas, dentre os quais seriam eleitos 260 conselheiros para atuarem em 52 conselhos.

    Seriam… Se não fosse a bagunça que a Prefeitura fez.

    Não foram colocadas urnas eletrônicas nos colégios eleitorais. As urnas nem sequer chegaram à maioria dos locais de votação. O resultado é que tudo precisou ser improvisado. Caixas de sapato, de frutas, de feira viraram urnas. Sem lacres… O horário de votação, que deveria ser das 8h às 17h, não foi respeitado. Houve urnas que abriram às 12h, outras que fecharam às 14h.

    E por que aconteceu isso?

    Quer a real? O governo Haddad e o secretário municipal dos Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, resolveram economizar na eleição.

    Por considerarem altos os R$ 4.000.000 gastos nas últimas eleições de conselho tutelar, optaram por chamar uma empresa, a G&P para organizar o pleito com a Prodam, a empresa de processamento de dados da Prefeitura. Parecia um grande negócio. No total, seriam gastos R$ 2.400.000, uma economia de 40%.

    Deu tudo errado.

    Contra a desorganização e o caos, os movimentos sociais em defesa dos direitos das crianças e os candidatos a conselheiros tutelares realizaram uma manifestação na porta da Secretaria Municipal de Direitos Humanos. Homens da Guarda Civil Metropolitana foram colocados na porta, para impedir o acesso dos mais exaltados. Foi mal.

    O jeito foi considerar inválidas as urnas. Uma nova eleição deve acontecer na terceira semana de fevereiro de 2016.

    Com isso, a posse dos novos conselheiros, que deveria acontecer em 10 de janeiro de 2016, será adiada por quase dois meses… Serão dois meses com conselheiros tutelares sem legitimidade, porque seus mandatos já terão expirado.

    Segundo Carmen Silva Ferreira, dirigente da Frente de Luta pela Moradia, é inadmissível que tenha ocorrido essa confusão toda. “Quando vemos os direitos das crianças e adolescentes sendo atacados pelas forças políticas que querem reduzir a maioridade penal; quando vemos que muitos meninos e meninas ficarão sem acesso à educação, por causa do fechamento de escolas pretendido pela administração Alckmin, aí é que a atuação do conselheiro tutelar seria mais importante. Isso não poderia ter acontecido.”

  • O lado vermelho da rua na quebrada

    O lado vermelho da rua na quebrada

    “Não sou jornalista, sou poeta, e a fotografia me cabe como ofício.”

    O fotógrafo Helio Carlos Mello foi até o bairro Jardim Munhoz Júnior, em Osasco na noite desta quinta-feira(20) acompanhar o ato em homenagem aos 18 mortos na região. Confira seu emocionante relato:


    Linha sempre divide terrenos, propriedades ou posses, morte e vida, começo e fim, tempo e espaço. Aqui são cidades e um povo que habita um solo de medo e ameaça. Aqui o crime é de Estado.

    Chego à quebrada da periferia da metrópole. Aqui é chacina, é vingança. É Abuse o nome da vítima mais prezada, assassinada no desprezo. Sua mãe é Zilda, sua pele é negra e seus são olhos profundamente vivos em luto, em dor. Na verdade há um abuso da democracia do medo e a poesia da frase fé na vida.

    Meu espanto é ver gente tão simples em procissão de crença na justiça e resignação. A oração é em línguas, pois há o azul do babalorixá , o vermelho do padre católico e o cinza do pastor evangélico, tudo misturado no meio da rua de trânsito caótico no Jardim Munhoz Jr e suas várias faces do extermínio. Lentamente a comunidade vence o medo e se reúne na rua. Vejo que toda a cobertura da chacina foi parcial, “a quebrada só pede paz e mesmo assim é um sonho”, diz a faixa na porta do boteco dos mortos de cada dia. Um morador me lamenta que o mais triste foi ver o amigo caído no fundo da vala que havia ao fundo do bar em reforma, cliente trabalhador.

    À frente no asfalto, como leite escrito no preto há a palavra pare no leito da rua. Hora de parar e pensar o país. Hora de pensar a cidade e nós mesmo.