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Tag: Prefeitura de Belo Horizonte

  • Sem-casa acampam na Prefeitura de Belo Horizonte diante da ameaça de retirada

    Sem-casa acampam na Prefeitura de Belo Horizonte diante da ameaça de retirada

    Diante da ameaça de serem retirados do local em plena pandemia, dezenas de moradores da Ocupação Professor Fábio Alves, no bairro Barreiro, em Belo Horizonte, decidiram acampar na porta da prefeitura, no centro da cidade, em busca de negociação com o prefeito Alexandre Kalil (PSD).

    Eles reivindicam que seja realizado o cadastro das mais de 700 famílias da Ocupação para que permaneçam na ocupação ou para que se busque uma alternativa a um possível despejo no futuro.


    Como até o final da tarde de hoje não havia qualquer sinalização da prefeitura, os sem-casa decidiram ficar acampados na entrada do prédio, na Avenida Afonso Pena, mantendo suas barracas armadas, e chegaram a usar um fogão para preparar a refeição da noite.

    O terreno da Ocupação Professor Fábio Alves fica na divisa com os bairros Novo Tirol e Marilândia. Seus 72 mil m² estavam abandonados há mais de 30 anos. Há dois anos, 700 famílias ocuparam a área, que hoje já conta com cerca de 500 construções em alvenaria. O terreno integrava o distrito industrial do bairro Jatobá e foi doado a empresários para a implantação de empresas, mas eles acabaram repassando a particulares de forma irregular, conforme denunciam as lideranças dos sem-casa.

  • Denuncia racismo e é demitida da prefeitura

    Denuncia racismo e é demitida da prefeitura

     

     

    A corda acabou arrebentando para o lado mais fraco nestes tempos de retrocesso e absurdos. No caso, o lado mais fraco é a jornalista Etiene Pereira Martins, ex-gerente de Prevenção à Violência da Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção  da Prefeitura de Belo Horizonte. No dia 31 de julho ela denunciou em redes sociais ter ouvido de um guarda municipal a frase “Preto bom é preto morto” e publicou mensagem em que sua chefe afirma: “Lugar de negra é limpando chão”.
    “Pois é, depois de tudo quem o Prefeito Alexandre Kalil exonera? Eu, a mulher negra que não abaixa a cabeça e consciente dos seus direitos e de sua competência afronta o racismo”, afirmou hoje, 18, Etiene, na sua página no Facebook, após tomar conhecimento da publicação de sua exoneração no diário oficial do município.
    “E quem ele mantém em seu quadro trabalhando armado? O guarda Luzardo Damasceno, que diz pra quem quiser ouvir que ‘preto bom é preto morto’” completou a jornalista. “Quem o Prefeito mantém recebendo 10 mil reais por mês como cargo de sua inteira confiança? A diretora Márcia, racista que escreve e-mail dizendo que mulher preta tem mesmo é que limpar chão. E o que tem de novo nisso? Nada. São quinhentos anos contando uma história repetida. E na Prefeitura de Belo Horizonte o racismo é institucional e oficial assinado pelo Alexandre Kalil”, prosseguiu Etiene.
    “E o que tem de bom nisso? Passei por tudo isso sem me curvar, sem me vender e sem me submeter. É muito bom andar de cabeça erguida e honrar todas que vieram antes de mim. Vergonha na cara é pra quem tem! As acusações são graves, especialmente em se tratando de dois servidores públicos, um dos quais trabalha armado, e a outra dirige o programa municipal de Prevenção Social ao Crime e à Violência”, observou a jornalista.
    “Injúria racial e racismo são crimes inafiançáveis e imprescritíveis. Servidores públicos que os praticarem estão sujeitos à perda do cargo ou função pública, segundo Artigo 16 da Lei 7.716/89”, lembrou Etiene ao encerrar o texto em sua pagina no Facebook.
    Na época em que Etiene Martins fez a denúncia, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais manifestou sua solidariedade à jornalista e seu repúdio às manifestações de racismo que ela denunciou, esperando que as autoridades municipais apurassem rapidamente os fatos e punissem exemplarmente os criminosos, mas, infelizmente, deu no que deu, a demissão da profissional.

  • Sofia Feldman recebe bolo da Prefeitura de BH

    Sofia Feldman recebe bolo da Prefeitura de BH

    Pelo visto, a solução financeira do Hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte, ainda está distante. Ontem, depois de propor uma reunião com o Conselho Curador da maternidade, representes da prefeitura não compareceram ao encontro e nem deram notícia. Se fossem até aquela unidade encontrariam dezenas de funcionários protestando contra uma possível intervenção da prefeitura na direção do hospital em troca de verba para sua manutenção.

    O Sofia Feldman é uma fundação financiada pelo SUS e pelo Estado de Minas que funciona no bairro Tupi, Zona Norte da capital, há mais de 30 anos, após ser idealizado pelo fotógrafo José Moreira Sobrinho. Atualmente vem atuado como uma referência para partos naturais e humanizados em todo o Brasil e América Latina. Para se ter ideia, neste momento duas equipes de funcionários da maternidade encontram-se no Japão e em Israel para levar as técnicas de parto desenvolvidas em Belo Horizonte. E é comum o hospital receber grávidas de vários e distantes estados, como Rondônia, que fazem opção e questão e dar à luz beneficiando-se das técnicas desenvolvidas no Sofia Feldman.

    E justamente por isso a maternidade gera ‘ciúmes’, principalmente no setor privado, onde há uma verdadeira farra em torno dos partos por ce$ariana$, que fazem a festa para os bolsos de médicos e hospitais. Isso explica também por que o Sofia Feldman é discriminado na distribuição de verbas públicas. Embora seja responsável por 40% dos partos (1.050 em média por mês) da rede pública de Belo Horizonte, o hospital recebe apenas 22% do bolo de recursos distribuído pelo SUS para sete maternidades da capital. Curiosamente, a Maternidade Odete Valadares, que cuida em média de 300 partos por mês, é a que mais recebe recursos. Curiosamente, também, tem maternidade que recebe R$ 18 mil por parto, enquanto ao Sofia são destinados apenas R$ 5 mil, quando necessitaria de pelo menos R$ 6.500 por parto, tendo o menor custo-benefício para o SUS.

    Desta forma, estrangulado, o Hospital Sofia Feldman vem administrando, hoje, uma dívida de R$ 90 milhões e pede socorro. A maternidade não conseguiu pagar o 13º salário  de seus funcionários e só agora conseguiu pagar os salários de janeiro. Diante da crise, a Prefeitura de Belo Horizonte ensaiou uma ajuda que, na visão dos funcionários da maternidade, trata-se de verdadeiro cavalo de Troia, uma intervenção que deturparia o modelo do hospital. Hoje a prefeitura não coloca nenhum recurso prório lá, apenas repassa recursos federais e do Estado de Minas. Cogitou bancar os custos do hospital mas, em contrapartida, o diretor geral e o diretor financeiro seriam indicados por ela e ficariam subordinados ao Executivo municipal, o que é rechaçado pelos funcionários e todas as pessoas ligadas à instituição, como é o caso do Conselho Curador.

    Mas, como a direção do Sofia Feldman está aberta ao diálogo para solucionar a crise financeira, ontem à tarde receberia representantes da área da saúde da prefeitura para prosseguir nas conversas. Mas os tais representantes da prefeitura acabaram dando o bolo nos integrantes do Conselho Curador, que decidiu partir para a elaboração de um documento formalizando uma proposta de como poderia ser amarrada uma parceria e aguardar um retorno. “Queremos isonomia quanto ao financiamento”, adiantou João Batista Lima, presidente do Conselho Curador.

    “Como o hospital é uma fundação particular, então a prefeitura tem de explicar como faria a parceria”, afirmou o advogado Obregon Gonçalves, integrante do Conselho Curador. “O importante é que o modelo de referência e excelência do Sofia seja respeitado”, acrescentou.

    “E lembramos que não abrimos mão do modelo de humanização do parto”, acentuou Bruno Pedralva, presidente do Conselho Municipal de Saúde. “E a proposta da prefeitura tem de ser aprovada também pelo Conselho”, lembrou.

    O fato é que por trás de toda a crise vivida pelo Hospital Sofia Feldman há um bando de urubus querendo ver a maternidade sucateada para impor seus interesses, o que, aliás, vem ocorrendo em inúmeras instituições de saúde do país, principalmente aquelas que são modelo até mesmo para a iniciativa privada. Por isso, no interior e fora do Sofia não falta quem olhe com preocupação para as movimentações do secretário Municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto. Desde outubro, por exemplo, a prefeitura não tem repassado à maternidade os recursos do SUS e do Estado, o que seria uma forma de estrangular o Sofia Feldman.

     

  • EM BEAGÁ O CONCRETO VIRA MAR

    EM BEAGÁ O CONCRETO VIRA MAR

    O termômetro marca 34 graus na praça Diogo de Vasconcelos, coração da Savassi, região nobre da capital mineira. Foi lá o novo endereço do evento Praia da Estação, que recebeu este nome por acontecer tradicionalmente na Praça da Estação, localizada no hipercentro de Belo Horizonte.

    A migração acontece em busca de água, já que em novembro de 2015 faz dois anos que a Praça da Estação está seca, desde que a Prefeitura de Belo Horizonte começou uma obra de manutenção nas fontes. Cansados de esperar, os organizadores do movimento da Praia, que tem na sua raiz a crítica a atual administração municipal, se mobilizaram para encontrar balneários em outros pontos da cidade.

    1-k7ls5QdX8F_AI5_vhipySAOcupar espaços públicos, por incrível que pareça, não é tarefa fácil. Na praça da Estação, em 2009, o então prefeito e ainda hoje em exercício Márcio Lacerda publicou um decreto que proibia a ocorrência de eventos no local. A reação veio em 2010, quando um grupo de pessoas começou a usar o espaço

    no verão fazendo dali a orla belo-horizontina. E a praia ficou, até que se desligaram as fontes. Ocupar a Savassi em um evento popular foi bem mais polêmico.

    Ao contrário das edições anteriores nas quais a fonte da praça da Estação sempre esteve ligada para composição do ambiente, alegria geral e aquela amenizada no calor, neste sábado na Savassi a prefeitura mandou desligar os equipamentos às 15 horas e só teve água de fonte às 17 horas. Mas teve a do caminhão-pipa que os banhistas contrataram. Porque sem água é que a praia não ia ficar.

    1-uL99kf86ionEbfsD-TN3DQA PBH por sua vez se apressou e já na última semana anunciou o reestabelecimento das fontes no endereço central, o que não convenceu os banhistas belo-horizontinos. “Vinha muita gente pra cá e isso seria complicado, porque na cabeça deles esse espaço é privado…não é das pessoas da cidade. Esse evento aqui devia ter umas mil pessoas confirmadas. De repente a fonte da praça da Estação voltou a funcionar milagrosamente. Aí não deu, né? O evento hoje bombou meio que por causa disso também, porque é um absurdo a fonte estragar em 2013, e assim que a gente marca a praia na Savassi…um dia antes o negócio volta a funcionar?”, questiona o economista Rodrigo Castriota. Deitado nos gramados da praça Diogo de Vasconcelos, Rodrigo, que também é regente de diversos blocos carnavalescos de Beagá, passa o dinheiro da vaquinha para o caminhão pipa a um amigo. São 15 horas e as fontes atrás dele e de outras 150 pessoas aproximadamente (de acordo com a Polícia Militar) acabam de ser desligadas. Os Jornalistas Livres MG tentaram contato com a assessoria de comunicação da prefeitura para saber o motivo da interrupção no funcionamento das fontes, mas ninguém atendeu. Até o fim do dia, este número iria aumentar muito. E a quantidade de água na praia também.

    SE BEAGÁ NÃO TEM BAR…

    Praia que é praia tem vendedor ambulante. Em Beagá eles também aproveitam a descontração dos banhistas para aumentar os lucros: caipirinha, caipisaquê e catuçaí (uma mistura de catuaba com açaí) desfilam em copos com muito gelo, desafiando o calor inclemente da tarde na Savassi. Belo Horizonte é conhecida como a capital dos bares e não é de hoje que se aproveita turisticamente da fama. A própria prefeitura decidiu por este mote para atual campanha, recém-lançada, com o slogan “Já que Minas não tem mãe vamos para o bar”. Foi com essa frase que a página oficial da administração municipal no Facebook fez um post na última sexta-feira (2/10), o que foi considerado oportunista em razão da praia agendada e recebeu crítica de banhistas. “Independente desse clichê: se BH não tem mar… a gente deve se abrir para outras formas de diversão e ocupar a cidade. Lazer nos espaços públicos é uma dessas formas”, afirma a professora Luciana Gehard.

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    Desde que a notícia que ia acontecer a Praia na Savassi ganhou a mídia, a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL BH) se reuniu com representantes da segurança pública municipal e da regional centro-sul para discutir os impactos no comércio e nos equipamentos públicos. Um deles é o restaurante Status Cultura e Gastronomia, que fica localizado a cinquenta metros das fontes da praça Diogo de Vasconcelos. Para o gerente do estabelecimento, Charles Santana, a Status não foi afetada de nenhuma forma. No entanto, ele se mostra preocupado com a demanda por infraestrutura. “A casa tem 41 anos e sua clientela consolidada, portanto nossa única apreensão é com os banheiros químicos e com o policiamento. Não temos como atender a esse número de pessoas no que diz respeito a banheiros”, afirma Santana.

    1-THDoohtWbKUz28xZkxaoZgNão só de banhistas é formado o público que aproveita a tarde nas mesas do quarteirão fechado da rua Pernambuco. E, como talvez fosse previsto, tem gente que não gosta do aumento populacional democrático como é de caráter das praias, e da daqui também. “Pelo o que conversei com algumas pessoas isso (praia da estação) incomoda a alguns. Na minha opinião, é até um movimento interessante, principalmente por ser na Savassi e por diversificar as tribos que passam por aqui”, comenta o engenheiro civil Pedro Rosa.

    Faltam oito minutos pras 17 horas e os esguichos das fontes dão indícios de que a água vai voltar, pra alegria da galera que agora já está em um número bem maior do que há duas horas. Assim como nas areias das praias mais badaladas do Rio, não se vê mais nenhum pedaço de grama ou concreto livre para estirar uma canga. Em poucos instantes o que era uma suspeita se concretiza e a água dá o ar da graça, levando os banhistas à euforia.

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    A PRAÇA É NOSSA

    O movimento Praia da Estação cresceu organicamente e hoje existe e leva jovens, famílias, pessoas de todas as classes sociais, cores e ideologias aos espaços públicos de Belo Horizonte para curtir tardes ensolaradas ocupando uma Beagá de sol e ar livre.

    “O evento foi crescendo e cada vez mais pessoas foram aderindo. Depois de algum tempo que aquele espaço vem sendo ocupado, a gente vê que essa Praia da Estação já é algo autônomo, que não depende mais de alguém puxar. Tanto é que o evento é criado no Facebook aleatoriamente. Alguém cria, as pessoas vão curtindo e assim acontece”, diz Castriota.

    TEM ONDA EM BEAGÁ, MULEKE

    Às 17 horas — como se fosse combinado com a prefeitura — o caminhão-pipa que estava estacionado na avenida Getúlio Vargas lança seu primeiro jato d’água nos veranistas desta primavera quente que agora já ocupam o outro lado da praça da Savassi. A mangueira que sai do tanque e é manuseada pelo próprio motorista vira objeto de disputa da garotada que quer descobrir a sensação de molhar centenas de pessoas em plena praça pública. São dez mil litros cúbicos comprados com dinheiro da vaquinha feita quando as fontes foram desligadas.

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    Agora embalados pela percussão dos músicos da Roda de Tibau, da Juventude Bronzeada e do Então Brilha os banhistas entoam hinos do carnaval e a praia vira bloco. “Na hora que a gente paga caminhão-pipa pra vir até aqui e fazer a festa acontecer a gente tá mostrando pra uma administração conservadora e opressora, como é o caso da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, que a gente está querendo ocupar a cidade de uma maneira mais livre. Coloca aí também a questão de classe nessa hora, porque o religamento das fontes da praça da Estação não é somente para a festa voltar a acontecer, já que tem morador de rua que faz uso delas pra se banhar e se refrescar durante o verão extremamente quente. Essa questão do caminhão-pipa por conta de vivermos uma crise hídrica não significa um desperdício de água, porque esse está mais concentrado no setor industrial e comercial. Já nós que temos o abastecimento doméstico e de diversão isso é uma parcela insignificante no sentido do volume de água”, diz a banhista e engenheira ativista Sara Cura.

    Faltam cinco minutos pras 18 horas e o caminhão-pipa vai embora devolvendo um pouco de calmaria para o mar das quatro fontes da praça Diogo de Vasconcelos que continuam ligadas. Mesmo sem os jatos do caminhão a festa e o batuque continuam. Do canteiro central da avenida Getúlio Vargas um grupo de seis policiais militares observa os banhistas. De acordo com eles até aquele momento não houve nenhuma ocorrência ou anormalidade. São 18h26 e o samba e a praia ocupam a nobre zona sul de Beagá.

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