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  • Por que precisamos tanto de Ibis Pereira e Denice Santiago?

    Por que precisamos tanto de Ibis Pereira e Denice Santiago?

    Independente do que aconteça em dezembro, as eleições municipais deste ano já estão marcadas pela tentativa dos partidos de esquerda em produzir seus próprios quadros militares. Têm destaque aqui as candidaturas de Denice Santiago, ex-major da PM e candidata à prefeitura de Salvador pelo PT, e Ibis Pereira, ex-coronel da PM e candidato à vice-prefeito na chapa do PSOL, no Rio de Janeiro.

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

    As candidaturas de Denice e Ibis são alvo de críticas dentro da própria esquerda. Alguns acusam o PT baiano e o PSOL fluminense de estarem colaborando para a “militarização da política”.

    Ibis Pereira, ex-coronel da PM do Rio, candidato a vice-prefeito pelo PSOL – Reprodução Instagram

    Bom, um rápido passeio pela história no Brasil mostra que o engajamento dos militares na política não é nenhuma novidade entre nós. A própria República nasceu com uma quartelada e se consolidou com uma ditadura militar. Outras duas ditaduras ainda sangrariam a sociedade brasileira, uma civil, com Getúlio Vargas, e outra genuinamente militar, entre 1964 e 1985. Nas duas ocasiões, homens fardados estiveram em posição de poder, interferindo diretamente nos destinos da nação.

    Existiram também os militares de esquerda, movidos por ideias progressistas. Luís Carlos Prestes, o “cavaleiro da Esperança” eternizado nas páginas de Jorge Amado, e Henrique Lott, o Marechal da Legalidade, estão entre eles.

    Nos últimos anos, o perfil do engajamento político dos militares mudou bastante. Não é mais o Exército a única fonte institucional do ativismo político dos militares, mas também as PMs.

    O resultado das eleições de 2018 são taxativos: o número de agentes da segurança pública eleitos para o Congresso Nacional saltou de 14 para 73, um crescimento de mais de 500%. A força desses parlamentares é tão grande que eles conseguiram formar uma “frente ampla da segurança pública”, que defende o endurecimento do poder punitivo do Estado e o afrouxamento do controle legal sobre a atuação dos policiais.

    Pesquisas de opinião mostram que a violência urbana é vista como o principal problema do país pela sociedade civil. As esquerdas, limitando-se às agendas da desmilitarização das PMs e da descriminalização das drogas, nunca participaram efetivamente desta discussão. A avaliação é de que as polícias militares são o principal problema da segurança pública brasileira, como se o fato de homens armados sitiarem territórios não fosse problema social dos mais graves.

    Os dados eleitorais mostram que a população não concorda com essa avaliação.

    São muitos os relatos de famílias pobres que foram expulsas de suas casas por traficantes varejistas, que tiveram filhas assediadas. Trabalhadores e trabalhadoras convivem com assaltos diários, com constantes ofensivas contra o pouco patrimônio que possuem.

    Tudo isso acaba fomentando no imaginário coletivo a ideia de que a violência policial é um problema menor, ao mesmo tempo em que os políticos de esquerda estariam “defendendo bandido”.

    Quando o PT e o PSOL trazem para o primeiro plano de seus projetos eleitorais em duas importantes capitais quadros egressos das PMs, o objetivo é exatamente mostrar que a esquerda tem, sim, um plano para a segurança pública, que não passa pela rejeição à polícia e tampouco pela leniência com criminosos.

    Não há projeto de segurança pública viável e digno de confiança que se sustente na rejeição à polícia, que não reconheça a importância do uso legítimo da força pelo Estado.

    Ibis Pereira entrou para a reserva da PM em 2016 – Reprodução Socialista Morena

    Tanto Denice como Ibis têm em sua ficha funcional histórico de bons serviços prestados à população, na forma de uma polícia educativa, cidadã e respeitadora dos direitos humanos. Denice se destacou comandando a “Guarda Maria da Penha”, que protegia mulheres vitimas de agressão doméstica. Ibis é conhecido no Rio de Janeiro por sua atuação em projetos sociais de educação popular.

    Denice e Ibis foram policiais. Mas não eram policiais que executavam e torturavam, simplesmente porque não precisa ser assim. É possível ser diferente, porque dentro das corporações há bons servidores, lideranças que podem ser disputadas e servir como gatilho para um debate institucional que mostre aos próprios policiais que, do jeito que vai, não está bom pra ninguém. A polícia mata e também morre.

    Do outro lado, a esquerda tem a chance de amadurecer projetos para a segurança pública que consigam conquistar a confiança da população, que em geral só quer viver uma vida tranquila, usufruindo da pouca propriedade que tem. Quando é pouca, propriedade é ainda mais valiosa.

    Não, definitivamente, a polícia não tem que acabar. As polícias são fundamentais para o contrato social civilizado, são a garantia de que eu, pessoa privada, não preciso usar a força pra proteger minha vida e a minha família. A polícia precisa mesmo é mudar e o fato de termos Denice e Ibis mostra que isso é possível.

    Provavelmente, nenhum dos dois será eleito. Ao que tudo indica, as esquerdas brasileiras sofrerão mais uma dolorosa derrota. Mas se as candidaturas de Denice e Ibis forem capazes de despertar novas lideranças progressistas, sem o vícios da militância caricata e capazes de se reconectar com os sentimentos do nosso povo, já teremos lampejo de esperança.

  • Manaus já enterra vítimas do covid-19 em valas comuns

    Manaus já enterra vítimas do covid-19 em valas comuns

    Depois de instalar frigoríficos em cemitérios para armazenar caixões, a Prefeitura de Manaus começou ontem a enterrar os corpos de vítimas do novo coronavírus em valas comuns, ou “trincheiras”, no cemitério público Nossa Senhora Aparecida, no bairro Tarumã, Zona Oeste da capital do Amazonas. Hoje, a cidade registra 156 mortes por Covid-19, enquanto no estado, o número de casos confirmados chegou a 2.160, com 182 mortes.

    https://www.facebook.com/aloisio.morais.7/videos/pcb.3480850081930449/3480849038597220/?type=3&__tn__=HH-R&eid=ARBfPc5_cgZuls7Bf_EzfDhlM8ndbSNZQ7SmiGU621SqYZqervzstSdbeH5AOLAg8sPENjmGvzIetgCV

    Devido ao grande aumento de sepultamentos realizados no cemitério, a Secretaria Municipal de Limpeza Urbana adotou o sistema de trincheiras para realizar o enterro das vítimas de Covid-19. “A metodologia, já utilizada em outros países, preserva a identidade dos corpos e os laços familiares, com o distanciamento entre os caixões e com a identificação das sepulturas. A medida foi necessária para atender a demanda de sepultamentos na capital”, informou a secretaria por meio de nota.

    https://www.facebook.com/aloisio.morais.7/videos/pcb.3480850081930449/3480849111930546/?type=3&__tn__=HH-R&eid=ARBpoPp6HvX0Ogbz_Zbh0d1zQgdzYIJ_KhXnUzHTiAHFRNWPwVZAqDC4uz5T_xE_I23NAoDhKkVAfSIr

     

  • Prefeitura de SP aproveita-se da pandemia para “limpar” a Cracolândia

    Prefeitura de SP aproveita-se da pandemia para “limpar” a Cracolândia

    Por Laura Capriglione e Katia Passos

     

    A Prefeitura de São Paulo, sob o comando de Bruno Covas, desfechou hoje mais uma ação com o propósito de “limpar” a região conhecida como Cracolândia da presença miserável dos usuários de crack. Assim, cerca de 160 seres humanos paupérrimos, muitos idosos, vários não-dependentes químicos, foram tangidos como animais para dentro de três ônibus e despachados para a baixada do Glicério, na várzea do rio Tamanduateí. Outras 50 pessoas preferiram ir a pé, seguindo para o mesmo endereço dos primeiros: Rua Prefeito Passos, 25, em um dos bairros mais degradados da cidade, região de cortiços, alta concentração de moradores de rua, de imigrantes e refugiados. O Glicério fica a dois quilômetros de distância da atual Cracolândia.

     

    Acabar com o constrangedor desfile dos usuários de drogas envoltos em cobertores imundos, sempre em busca das pedras de crack, tem sido uma obsessão de vários prefeitos e governadores do PSDB em São Paulo. O atual governador João Doria Jr, ainda na condição de prefeito da cidade, protagonizou em 2017 cena desastrada que por pouco não se transformou em tragédia. Deu-se que, para posar de destemido adversário do crack, Doria ordenou a derrubada de casas na região. Quase matou por soterramento três pessoas que moravam em uma delas e que ficaram feridas. Covas aproveita-se do fato de todos estarem focados na pandemia de Covid-19 para tentar mais uma vez.

    Chama-se “gentrificação” o processo de transformação de centros urbanos através da mudança dos grupos sociais ali existentes. A idéia é expulsar a população de baixa renda e substituí-la por moradores de camadas mais ricas. É isso o que está em curso no centro de São Paulo: Gen-tri-fi-ca-ção.

    Único lugar a prover meios de higiene, alimentação e descanso para moradores em situação de rua, o Atende-2 foi fechado hoje
    Único lugar a prover meios de higiene, alimentação e descanso para moradores em situação de rua, o Atende-2 foi fechado hoje – Foto de Lina Marinelli

    Para acabar de uma vez com a Cracolândia, a idéia dos “geniais” urbanistas que trabalham para a Prefeitura foi simples: retiraram de lá o único equipamento ainda existente para acolhimento, higiene, alimentação e encaminhamento médico para dependentes químicos vivendo em situação de rua no centro da cidade. Era chamado de Atende-2, e ficava na rua Helvétia, epicentro dos usuários de crack.

    Crueldade das crueldades, fecharam o Atende-2, que atendia 185 pessoas, e fizeram isso em plena pandemia de Covid-19. Nem uma pia restou para lavar as mãos naquele pedaço. Segundo a Prefeitura, o mesmo serviço que era feito pelo Atende-2 será oferecido na Baixada do Glicério, agora rebatizado de Siat 2 (Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica).

    Resta saber se o tráfico de drogas, que acontece hoje nas barbas das polícias Civil e Militar, da Guarda Civil Metropolitana e do Corpo de Bombeiros, todos com bases no território da Cracolândia, topará também migrar seu negócio milionário para o Glicério. Se não topar, se continuar havendo oferta de drogas baratas nas ruas da Cracolândia, o fluxo de usuários certamente voltará para lá –agora, sem banho, sem lugar para dormir, sem pia, sem médicos. E isso em plena pandemia, quando se sabe que se trata de população que já é ultra-vulnerável: 9,5% têm tuberculose, 6,3% têm HIV e quase 10%, sífilis. Será morticínio certo.

    Se o tráfico topar mudar o rolê para o Glicério, haverá alguma chance de que se torne realidade o sonho tucano de restaurar um pouco que seja do brilho quatrocentão do antigo bairro dos Campos Elíseos, onde viveu boa parte da elite paulistana até meados no século passado, e que é o território onde hoje se situa a Cracolândia.

    Nesse caso, o bairro tentará esquecer seus dias de miséria e dará lugar a novíssimas torres de prédios, que farão a festa das empreiteiras, incorporadoras e bancos. Doria e Covas poderão usar a imagem daquelas ruas (antes, com o comércio de drogas a céu aberto, e depois, “limpinhas”) em suas propagandas eleitorais, que os apresentará como “vencedores”.

    A venda e o consumo de crack, entretanto, continuarão com antes. Só terão mudado de endereço. Em vez do Centro, a várzea invisível. Mais do que Doria e Covas gostariam de admitir, o futuro do território onde está a Cracolândia depende muito mais do tráfico de drogas do que do poder público. E é o tráfico o próximo a jogar os dados…

    EM TEMPO:

    Quando essa reportagem estava concluída, a juíza Celina Kiyomi Toyoshima decidiu liminarmente impedir o fechamento da unidade Atende-2, situada na rua Helvétia. Ela determinou o restabelecimento das atividades na unidade fechada. A Prefeitura ainda pode pedir a revisão dessa decisão.

    Aqui a decisão da juíza:

    “Tendo em vista que o estabelecimento em questão é o único ponto de atendimento na região central da cidade, que concentra uma grande parte de pessoas vulneráveis, e tendo em vista o perigo da demora, já que a medida está prevista para a data de hoje, defiro por ora a liminar, para que não sejam tomadas quaisquer medidas visando o fechamento da unidade ATENDE, localizado na Rua Helvétia, nº 57.
    Caso já tenha se iniciado o fechamento, as atividades deverão ser, por ora, reestabelecidas.
    Oficie-se.
    Após a vinda da contestação, a medida poderá ser revista.”

     

    Leia também:

    Governo ameaça fechar o ATENDE 2, último equipamento público na Cracolândia

    O amor em tempos de crack

    Como a linda Adélia Batista Xavier, morta na Cracolândia, de vítima transformou-se em bandida

     

  • Ativista morre durante resgate de famílias soterradas

    Ativista morre durante resgate de famílias soterradas

    As águas de março que são cantadas em prosa e verso e romantizam um período do Brasil onde as chuvas caem com mais força e continuamente. A baixada santista sofreu no início do mês com as águas não romantizadas que derrubaram casas e no último domingo, 8 de março foi confirmada a notícia de que Rafael Rodrigues, ativista, mestre capoeirista, produtor cultural e humanista estava entre as vítimas dos desmoronamentos que atingiram o Guarujá (litoral de São Paulo), e  hoje, se encontra no Orun.

    Mas antes de falar do Rafa o que mais choca é o descaso, e a apatia de quem deveria estar ali segurando a mão de Rafael. Sim, o governo deve sim por em sua conta as vidas que se foram e as famílias que perderam suas casas.

    Cadê o poder público? 

    O Prof. Anderson de Almeida Costa é formado em Administração de Empresas pela Universidade Santa Cecília dos Bandeirantes; Pós graduado em Marketing de Serviços, na UNAERP; fez Matemática, na mesma instituição. É professor da rede estadual do Estado de São Paulo há 24 anos; ex-Professor da FABE, em Bertioga/SP e professor do Cursinho Pré Vestibular Afrosan (Associação dos Afrodescendentes da Baixada Santista – Santos), falou ao Empoderado

    “A pergunta que não quer calar é: a Prefeitura, mesmo sabendo que no verão há incidências de chuvas, acarretando escorregamento ou deslizamento de terras nas encostas dos Morros de Santos e região, não investiu recursos, muito menos estudos para ajudar a evitar esta catástrofe. Fica claro e evidente que o descuido foi de tal maneira que, segundo o conceito acima, digo, sobre Ética, as Prefeituras de Santos, Guarujá, São Vicente e, principalmente o Governo do Estado de São Paulo, foram no mínimo, “omissos e irresponsáveis” por não planejarem o “evitável”.

    O pior de tudo, tentam calar a voz dos mais desvalidos com a “fortuna” de R$ 250,00 cedida pelo Governo do Estado de São Paulo e R$ 250,00 cedido pelas Prefeituras para auxílio moradia aos diretamente afetados. Além desta vultuosa quantia, o governo do Estado da mais Rica Unidade Federal, concedeu o benefício aos desabrigados de fazer as refeições no Bom Prato. Isto é, terão direito ao café da manhã e almoço durante 15 (quinze dias). Como se tudo resolvesse em 15 (quinze) dias.

    Estes auxílios caracterizam e evidenciam como o Sistema é Falido e, de que forma somos assistidos. Quanto aos valores, creio que soam como um “cala boca.” Ora senhores, com esta fortuna, os moradores irão para uma outra região que também é área de risco. Onde estão as Políticas Públicas (Municipal/Estadual) de Moradia e Habitação? Será que não temos técnicos, geógrafos, geólogos, engenheiros nas prefeituras para evitar, ou, diminuir catástrofes como estas? Por que os R$ 50 milhões não vieram antes, se já existiam? Desta, para o próximo verão, os que não foram atingidos por este flagelo, podem perder o pouco que construíram.”

    O descaso não tem limites e ataca em todos locais. Entramos em contato com o prefeito de São Vicente devido aos problemas da Ponte dos Barreiros, – ela está perto de cair devido a má administração. O Empoderado entrou em contato com o atual gestor da cidade, Pedro Gouvêa (MDB), através de sua assessoria/secretaria e ele não respondeu (Prefeito). Faz mais de 2 meses.

    Ou seja, Pedro Gouveia, não achou importante responder para a população sobre o absurdo caso da Ponte que tem menos de 50 anos e está caindo. Uma arquitetura que faz corar um estagiário de engenharia, pois até estaca de madeira tem. Será que o poder público está esperando a ponte cair para responder para a população?

    Principal acesso da população mais carente de São Vicente para o centro está a um passo de cair
    Principal acesso da população mais carente de São Vicente para o centro está a um passo de cair

    Quem foi o Rafael Rodrigues?

    Enquanto se vê neste artigo o descaso do poder público, existe um ativista que literalmente deu a vida ao próximo. Bruna De Oliveira, sua irmã fala sobre o irmão:“Meu irmão desde pequeno quis ajudar o próximo início sua vida na capoeira, assim tendo mais forças pra lutar, sofreu 2 acidentes com amigos de capoeira presente, quando resolveu trabalhar (ainda sendo menor de idade) com crianças carentes assim montando o projeto roda de capoeira onde mais pra frente veio a ser o Afroketu, onde começaram as lutas diárias e constantes.

    Rafael com as sobrinhas Catarina (vermelho/direita), Iasmin (vestido colorido/esquerda) e sua amiga!

    Ele é afro religioso, filho do maravilhoso rei Xangô, onde pra ele lutas sempre eram diárias, mesmo assim jamais desistiu. Fez aliança com militantes de outras religiões, sofreu várias perseguições… Ou seja, (Rafael) lutou, gritou, sofreu tanto!”

    Bruna fez uma tatuagem para que o mundo leia quem foi seu herói!

    Rafael falando sobre africanidade na Associação Cultural de Capoeira Roda Grande: Núcleo Monitora Eli, no dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra (2019).

    Familia Afroketu e para saber mais clique aqui!

    “Antes de conhecer o Rafael conheci o Afroketu, conheci a dança afro, a capoeira e o maculelê que ele ensinava para seus alunos. Conheci primeiro seu trabalho, seus alunos para depois conhecer o mestre que punha em destaques crianças e adolescentes pretos e periféricos.

    Sempre com orgulho de pertencer so candomblé, Rafael não escondia sua religião e ensinava a todos como ela deve ser respeitada. E se não a respeitasse ele sabia como se defender do racismo religioso.

    Sentirei muita falta dele, mas sei que ele cumpriu seu ori. E para nós que ficamos aqui resta continuar seu trabalho. Pondo sempre em destaque as crianças e adolescentes pretos e periféricos. Assim como esse grande mestre fez.” – Andreia Kelly (Professora e ativista da Educafro, da Baixada Santista)

    “Fim dos anos 2000 andavam pela terra Santamarense jovens que se inquietavam com a violência policial e a falta de acesso para Comunidade Negra. O resultado dessa inquietação juvenil fez surgir uma inspiradora reunião de mentes que fervilham a participação popular e o enfrentamento a burocracia racista e machista.

    Longe de ser um movimento, essa força da natureza política de adolescentes fez despontar nomes como o de Rafael Rodrigues. Copeirista e Candombecista Raiz, mestre da Cultura Popular Negra, pesquisador e arqueólogo autodidata, os adjetivos e competências são pouco para descrever a complexa e comprometida atitude habilidosa com a qual se apresentava esse militante negro. A sua morte prematura pode ser relacionada a um homicídio provocado pela falta de política pública de organização da defesa civil e da omissão para melhora de moradias subnormais do Morro do Macaco Molhado em Guarujá, na chuvarada mais intensa ocorrida no litoral paulista no início de março de 2020.

    Em 10 de março de 1928, após  chuva intensa o Monte Serrat desbarrancou e cerca de 2 milhões de metros cúbicos de terra caíram sobre a Santa Casa de Misericórdia de Santos, hospital fundado em 1543. A tragédia deixou pelo menos 81 mortos, segundo os dados oficiais. A chuva e os deslizamentos que atingiram a Baixada Santista na madrugada de terça 3/3/2020 são recorrentes na região, que, mesmo assim, permitiu invasões ao longo do tempo em áreas de risco. 

    Por isso, o Rafael do Afroketu, grupo que preserva e difunde a Cultura de Tradições e Salvaguarda da Ancestralidade Negra, morreu por omissão dos poderes constituídos em tomar precauções e agir de modo técnico para resgatar pessoas em Favelas que estejam desbarrancando. 

    Obrigado por sua luz Rafael Rodrigues, e prometo ser mais um disponível e em pé para que seu legado permaneça por anos, com ações e resultados afirmativos. Homenagem a toda gente de Guarujá e Baixada Santista.”

    Renato Azevedo, militante da causa Negra, combatente contra o Racismo

    Eu vou tentar ser um pouquinho do que o mestre sempre me falava: “Sol minha presidenta. Seja firme. Seja forte e eu estarei sempre aqui quando precisar. Não desanime que a nossa causa é de todos e juntos somos fortes (Rafael Rodrigues)”. Por Sol Praia, da AFROPAZ (Bertioga) 

    Felipe Ferreira, dos Instituto Novos Sonhos falou sobre o amigo: “foi um aliado, parceiro e combatente. Alguém que deveria escrever um livro para ter deixado todo seu conhecimento ancestral, para a humanidade. (Felipe) como já chorei pelo Rafael esta semana, como já xinguei o poder público. Foi uma pena, foi lamentável.”

    “(Rafael de Oliveira Rodrigues ) é um cara  humilde e honesto com único objetivo: ajudar o próximo não  importando quem fosse. Ele era um verdadeiro pai, irmão, amigo pra tudo.

    Foi um cara que tudo que ele aprendia ele fazia questão de ensinar ao próximo. Tem uma frase que ele sempre falava: “conhecimento e pra se passa não leva para um caixão”.E assim ele ensinou a todos que tiveram o prazer de conhecê-lo.

    O que tenho que falar dele é que foi um guerreiro e lutador pelos seus sonhos. A felicidade dele era o grupo que ele lutou para estar de pé: Afroketu. A capoeira era o amor da vida dele.”Daniel de Moura (Biel) era afilhado e aluno do Contramestre Rafael.

    Afrojetu faz uma homenagem ao mestre!

    Foram as águas de março que levaram Rafael, mas a luta continua porque sabemos que toda vez que chover na baixada é o Rafa que chora pelo abandono ao povo que ele sempre lutou. Contudo essas serão lágrimas que só serão cicatrizadas quando cada um fizer um pouco mais por este país e como ele disse em sua última publicação em sua mídia social:“deixarem de politicagem”.

     “É madeira de vento, tombo da ribanceira

    É o mistério profundo, é o queira ou não queira

    É o vento vetando, é o fim da ladeira

    É a viga, é o vão, festa da ciumeira

    É a chuva chovendo, é conversa ribeira

    Das águas de março, é o fim da canseira

    É o pé, é o chão, é a marcha estradeira

    Passarinho na mão, pedra de a tiradeira”

    Nota: matéria originalmente escrita no Jornal Empoderado:

    https://www.facebook.com/jornalempoderado/ 

    INSTAGRAM: jornalempoderado

    Twitter: @Jornalempodera2

  • Após movimento negro provocar debates públicos, Salvador já tem oito pré-candidatos negros à Prefeitura

    Após movimento negro provocar debates públicos, Salvador já tem oito pré-candidatos negros à Prefeitura

    Matéria do editor-chefe do Mídia 4P, Yuri Silva, originalmente publicada pelo portal

     

    A disputa pelo comando do Palácio Thomé de Souza, sede da Prefeitura de Salvador, acontecerá apenas em outubro de 2020, daqui um ano e dois meses, mas pelo menos oito pré-candidatos negros já se lançaram como alternativas para ocupar o cargo mais importante da capital baiana.

    A ebulição de pré-candidaturas de lideranças do movimento negro acontece no bojo de mobilizações e debates públicos promovidos na capital baiana, como o lançamento de campanhas públicas para incentivar o lançamento de postulações ao Executivo e ao Legislativo municipal.

    As mobilizações são uma resposta ao fato de que a cidade, que possui 85% de população negra e é a mais negra fora do Continente Africano, nunca conseguiu eleger pelo voto popular um prefeito negro.

    Apenas o jurista Edvaldo Brito, hoje vereador da cidade, foi prefeito de Salvador, mas biônico (ou seja, indicado pelo então governador Roberto Santos, durante a ditadura militar) e por um período de apenas oito meses.

    Além do movimento ‘Eu Quero Ela – Salvador Cidade Negra’, que acabou ganhando o protagonismo das ações, também promoveram debates as articulações de movimentos ‘Agora é ela, Bicão na Diagonal’, que se reúne em torno do Fórum Marielles, e ‘Plataforma Salvador Negra 2020’.

    Após as movimentações, que incluíram um seminário com possíveis postulantes, pré-candidatos dos principais partidos da base do governo Rui Costa (PT) lançaram pré-candidaturas. Só no PT, três nomes estão colocados na disputa oficialmente. A socióloga e militante do movimento de mulheres negras Vilma Reis, o vereador Moisés Rocha e o deputado federal Valmir Assunção são postulantes ao cargo de prefeito.

    Além deles, também colocaram seus nomes o presidente e fundador do bloco afro Ilê Aiyê Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê (PDT), o vereador de Salvador e presidente municipal do PSB Silvio Humberto, a deputada estadual Olívia Santana (PCdoB), e dois quadros do PSOL (o deputado estadual Hilton Coelho e o sindicalista Raimundo Calixto).

    O vereador Edvaldo Brito (PSD) também pode ser candidato, de acordo com comentários de bastidores, mas a reportagem do Mídia 4P não conseguiu confirmar com ele nem com sua assessoria se a informação procede. Caso haja a confirmação, o número de pré-candidatos negros sobe para nove.

    Também está fora da conta das pré-candidaturas negras o deputado federal Pastor Sargento Isidório (Avante), que, apesar de ser da base do governo Rui Costa, não tem identificação com o movimento negro.

    Se seu nome fosse contado e o de Edvaldo Brito for confirmado, o número de pré-candidatos considerados negros chegaria a 10, um recorde histórico. Nunca antes Salvador teve tantas pré-candidaturas com essa característica.

    Direita

    No campo da direita, a questão racial é considerada “superada”. Na base do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), a questão é vista como algo a ser desconsiderado na eleição do próximo ano, segundo fontes ouvidas pela reportagem do Midia 4P. Principais quadros negros do grupo, a ex-deputada federal Tia Eron e o deputado federal Márcio Marinho, ambos do PRB da Igreja Universal, estão fora da disputa.

    O assunto foi superado, para a base ‘netista’, com a eleição de Célia Sacramento (à época no PV, hoje na Rede Sustentabilidade) na posição de vice-prefeita em 2012 – o que depois terminou em brigas públicas, acusação de corrupção e um rompimento político traumático.

    Tia Eron e Márcio Marinho, dupla do PRB da Igreja Universal / Foto: O Globo

    Dentro do próprio PRB, na melhor das hipóteses, pode sobrar para Marcio Marinho, que é presidente estadual do partido, ocupar o posto de vice na chapa encabeçada pelo deputado federal João Roma, que é branco.

    A candidatura, contudo, teria a função apenas de ‘cumprir tabela’ no xadrez eleitoral, diante da extinção das coligações – isso se a postulação existir de fato.

    Marinho inclusive já foi candidato a vice na chapa de ACM Neto em 2008, quando foram derrotados pelo prefeito João Henrique, que se reelegeu.

     

    2012 foi melhor ano para negros na disputa pelo Executivo, até então

    Foi justamente em 2012, ano em que Célia Sacramento foi eleita vice-prefeita de Salvador, o melhor desempenho de lideranças negras nas eleições municipais da capital baiana para o Executivo.

    Naquela época, além da própria Célia, praticamente todos os candidatos a vice-prefeito/a foram negros ou negras. Foi o caso da própria Olívia Santana, que na época concorreu como vice na chapa do candidato do PT Nelson Pelegrino, sendo derrotados no segundo turno para ACM Neto.

    Márcio Marinho também foi candidato à época, pelo PRB. O candidato Mário Kertész (à época no PDMB) também teve um negro, Nestor Neto, como candidato a vice em sua chapa. Além da candidatura negra do PSOL à Prefeitura, com a figura de Hamiton Assis.

     

    AGENDA DE ENTREVISTAS

    Diante da ebulição de pré-candidaturas negras, o portal Mídia 4P está fazendo uma série de entrevistas com os postulantes negros ao Palácio Thomé de Souza. Até agora, já foram entrevistados Vovô do Ilê (leia aqui), Vilma Reis (leia aqui), Moisés Rocha (leia aqui) e Silvio Humberto (leia aqui).

    Ainda faltam dar entrevista os deputados estaduais Hilton Coelho e Olívia Santana, o deputado federal Valmir Assunção, o sindicalista Raimundo Calixto e o vereador e ex-prefeito de Salvador Edvaldo Brito.

    Hilton Coelho marcou para falar com a reportagem nesta quinta-feira, dia 22. Os demais ainda não confirmaram suas agendas para a entrevista.

  • Prefeito Ney Santos tenta barrar festa beneficente em Embu das Artes

    Prefeito Ney Santos tenta barrar festa beneficente em Embu das Artes

    Na sexta-feira (05/07), a prefeitura de Embu das Artes tentou impedir uma festa julina popular que tinha como objetivo arrecadar recursos para uma doação. Já esperando que a prefeitura poderia cercear o evento, os organizadores preparam um ofício antecipadamente para realizar a festa numa escola estadual, como uma forma de “plano B”. A quadra da escola acabou recebendo o evento, que contou com centenas de pessoas.

    A Guarda Civil Municipal (GCM) compareceu às 18h, antes do início da festa e impediu que iniciasse, exigindo que as barracas fossem desmontadas. A vereadora Rosângela Santos (PT), uma das apoiadoras do evento, interveio e pediu que a prefeitura aguardasse até às 12h de sábado. Durante esse meio tempo, a equipe da vereadora entrou com pedido de liminar para realizar o evento, mas o pedido foi indeferido.

    Para os moradores o impedimento ocorreu por motivações políticas, uma vez que a vereadora que apoiou o evento é uma das principais opositoras de Ney Santos (PRB). “A GCM e a prefeitura nunca barram os baile funks, mas querem barrar nossa festa?” questionou um dos moradores.

    O intuito da festa era arrecadar recursos para a família de Gilson, um morador que por motivos de saúde agora necessita de cuidados especiais. Os moradores já haviam se reunido para realizar reformas na casa de Gilson e arrecadaram dinheiro para a compra de uma maca. Os vendedores das barracas iriam contribuir com a doação de cestas básicas com parte do dinheiro arrecadado.

    É o caso do morador Marcos, atualmente desempregado, e estava organizando a barraca de bebidas e desabafou na manhã do sábado (quando a festa ainda estava com a situação indefinida): “Não tá acontecendo [a festa] porque Ney Santos só pensa nele. Se fosse uma festa no nome dele, estaria acontecendo, mas como não é no nome dele resolveu barrar”. 

    Marcos também comentou do prejuízo que ele e os outros vendedores iriam tomar com a paralisação da festa: “O prejuízo é total, porque a mercadoria está comprada… Se não vender é prejuízo”.

    Felizmente para os moradores, a festa foi transferida para uma escola estadual no bairro, graças a um ofício que foi preparado antecipadamente e recebido pelo conselho escolar, tal ofício foi pensado para o caso de possível represália da prefeitura. No entanto, alguns abusos ainda ocorreram, como o fato da GCM ter ido pedir esclarecimentos à escola, prática incomum, uma vez que a segurança das escolas estaduais é realizado pela PM. Outra irregularidade ocorreu quando dois funcionários a serviço da prefeitura se penduraram no muro da escola estadual para arrancar o cartaz informativo do evento.

    Apesar das dificuldades, a festa foi um sucesso e mais de mil pessoas prestigiaram o evento no sábado e domingo. Contudo, durante o evento os responsáveis não deixaram barato para o prefeito, disparando críticas e indiretas “tentaram nos barrar, mas não conseguiram” e os vendedores ainda estavam um pouco frustrados com o prejuízo da sexta-feira.

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    Durante a festa o público curte com o “Robôtron”, uma das atrações do evento.

    • David Felipe da Silva. Graduando de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). É Coordenador Geral da União Estudantil de Embu das Artes e também coordena o Cursinho Popular João Batista de Freitas.