Jornalistas Livres

Tag: Policia Civil

  • Delegado ameaça machões com cadeia

    Delegado ameaça machões com cadeia

     

    O vídeo acima é uma contribuição do delegado Douglas Antônio Ramos Magela ao projeto Paracatu Lar Familiar, desenvolvido desde setembro do ano passado pelo Ministério Público Estadual, por meio da 4ª Promotoria de Justiça de Paracatu, no Noroeste de Minas. O projeto nasceu após a cidade virar notícia nacional em maio do ano passado, quando um homem matou uma ex-namorada e disparou sua arma contra fiéis que estavam no interior de uma igreja. Resultado: outras três pessoas morreram, entre elas duas mulheres.

    Depois deste e outros episódios, o Ministério Publico chegou à conclusão de que em alguns casos a punição não é o suficiente, pois o agressor, após pagar a pena volta a cometer o mesmo crime. Diante disso, a promotora de Justiça Maria Constância convidou um grupo de advogadas para realizar um projeto, com apoio de várias entidades, criando, então, o Paracatu Lar Familiar, que atua na conscientização das pessoas quanto à violência doméstica.

    Pelo visto, o projeto vem dando certo. Segundo o delegado Douglas informou à reportagem dos Jornalistas Livres, “os índices de violência contra a mulher aqui nunca estiveram tão baixos na cidade. Queremos mostrar com vídeo que nós, homens, estamos ao lado das mulheres ajudando neste projeto a conscientizar as pessoas contra a violência doméstica, a violência contra a mulher”. Além do delegado, que gravou o vídeo acima,  várias entidades e autoridades da cidade têm aderido ao projeto, que tem sido levado também a várias escolas para conscientizar as crianças quanto à questão da violência contra a mulher. Estão ainda na pauta do Ministério Público local a implementação da Patrulha Maria da Penha, como programa de Policiamento de Prevenção Orientado à Violência Doméstica (Provid) e a aplicação do Formulário Nacional de Avaliação de Risco do Conselho Nacional de Justiça.

     

  • Prefeitura de SP aproveita-se da pandemia para “limpar” a Cracolândia

    Prefeitura de SP aproveita-se da pandemia para “limpar” a Cracolândia

    Por Laura Capriglione e Katia Passos

     

    A Prefeitura de São Paulo, sob o comando de Bruno Covas, desfechou hoje mais uma ação com o propósito de “limpar” a região conhecida como Cracolândia da presença miserável dos usuários de crack. Assim, cerca de 160 seres humanos paupérrimos, muitos idosos, vários não-dependentes químicos, foram tangidos como animais para dentro de três ônibus e despachados para a baixada do Glicério, na várzea do rio Tamanduateí. Outras 50 pessoas preferiram ir a pé, seguindo para o mesmo endereço dos primeiros: Rua Prefeito Passos, 25, em um dos bairros mais degradados da cidade, região de cortiços, alta concentração de moradores de rua, de imigrantes e refugiados. O Glicério fica a dois quilômetros de distância da atual Cracolândia.

     

    Acabar com o constrangedor desfile dos usuários de drogas envoltos em cobertores imundos, sempre em busca das pedras de crack, tem sido uma obsessão de vários prefeitos e governadores do PSDB em São Paulo. O atual governador João Doria Jr, ainda na condição de prefeito da cidade, protagonizou em 2017 cena desastrada que por pouco não se transformou em tragédia. Deu-se que, para posar de destemido adversário do crack, Doria ordenou a derrubada de casas na região. Quase matou por soterramento três pessoas que moravam em uma delas e que ficaram feridas. Covas aproveita-se do fato de todos estarem focados na pandemia de Covid-19 para tentar mais uma vez.

    Chama-se “gentrificação” o processo de transformação de centros urbanos através da mudança dos grupos sociais ali existentes. A idéia é expulsar a população de baixa renda e substituí-la por moradores de camadas mais ricas. É isso o que está em curso no centro de São Paulo: Gen-tri-fi-ca-ção.

    Único lugar a prover meios de higiene, alimentação e descanso para moradores em situação de rua, o Atende-2 foi fechado hoje
    Único lugar a prover meios de higiene, alimentação e descanso para moradores em situação de rua, o Atende-2 foi fechado hoje – Foto de Lina Marinelli

    Para acabar de uma vez com a Cracolândia, a idéia dos “geniais” urbanistas que trabalham para a Prefeitura foi simples: retiraram de lá o único equipamento ainda existente para acolhimento, higiene, alimentação e encaminhamento médico para dependentes químicos vivendo em situação de rua no centro da cidade. Era chamado de Atende-2, e ficava na rua Helvétia, epicentro dos usuários de crack.

    Crueldade das crueldades, fecharam o Atende-2, que atendia 185 pessoas, e fizeram isso em plena pandemia de Covid-19. Nem uma pia restou para lavar as mãos naquele pedaço. Segundo a Prefeitura, o mesmo serviço que era feito pelo Atende-2 será oferecido na Baixada do Glicério, agora rebatizado de Siat 2 (Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica).

    Resta saber se o tráfico de drogas, que acontece hoje nas barbas das polícias Civil e Militar, da Guarda Civil Metropolitana e do Corpo de Bombeiros, todos com bases no território da Cracolândia, topará também migrar seu negócio milionário para o Glicério. Se não topar, se continuar havendo oferta de drogas baratas nas ruas da Cracolândia, o fluxo de usuários certamente voltará para lá –agora, sem banho, sem lugar para dormir, sem pia, sem médicos. E isso em plena pandemia, quando se sabe que se trata de população que já é ultra-vulnerável: 9,5% têm tuberculose, 6,3% têm HIV e quase 10%, sífilis. Será morticínio certo.

    Se o tráfico topar mudar o rolê para o Glicério, haverá alguma chance de que se torne realidade o sonho tucano de restaurar um pouco que seja do brilho quatrocentão do antigo bairro dos Campos Elíseos, onde viveu boa parte da elite paulistana até meados no século passado, e que é o território onde hoje se situa a Cracolândia.

    Nesse caso, o bairro tentará esquecer seus dias de miséria e dará lugar a novíssimas torres de prédios, que farão a festa das empreiteiras, incorporadoras e bancos. Doria e Covas poderão usar a imagem daquelas ruas (antes, com o comércio de drogas a céu aberto, e depois, “limpinhas”) em suas propagandas eleitorais, que os apresentará como “vencedores”.

    A venda e o consumo de crack, entretanto, continuarão com antes. Só terão mudado de endereço. Em vez do Centro, a várzea invisível. Mais do que Doria e Covas gostariam de admitir, o futuro do território onde está a Cracolândia depende muito mais do tráfico de drogas do que do poder público. E é o tráfico o próximo a jogar os dados…

    EM TEMPO:

    Quando essa reportagem estava concluída, a juíza Celina Kiyomi Toyoshima decidiu liminarmente impedir o fechamento da unidade Atende-2, situada na rua Helvétia. Ela determinou o restabelecimento das atividades na unidade fechada. A Prefeitura ainda pode pedir a revisão dessa decisão.

    Aqui a decisão da juíza:

    “Tendo em vista que o estabelecimento em questão é o único ponto de atendimento na região central da cidade, que concentra uma grande parte de pessoas vulneráveis, e tendo em vista o perigo da demora, já que a medida está prevista para a data de hoje, defiro por ora a liminar, para que não sejam tomadas quaisquer medidas visando o fechamento da unidade ATENDE, localizado na Rua Helvétia, nº 57.
    Caso já tenha se iniciado o fechamento, as atividades deverão ser, por ora, reestabelecidas.
    Oficie-se.
    Após a vinda da contestação, a medida poderá ser revista.”

     

    Leia também:

    Governo ameaça fechar o ATENDE 2, último equipamento público na Cracolândia

    O amor em tempos de crack

    Como a linda Adélia Batista Xavier, morta na Cracolândia, de vítima transformou-se em bandida

     

  • A Polícia precisa ser controlada pela sociedade, ou vira Milícia!

    A Polícia precisa ser controlada pela sociedade, ou vira Milícia!

    Ouvidor da Polícia, Benedito Mariano

    O ouvidor da Polícia de São Paulo, sociólogo Benedito Domingos Mariano, tornou-se “persona non grata” dos deputados integrantes da chamada Bancada da Bala na Assembleia Legislativa de São Paulo. Não houve um único dia nesta semana em que um desses deputados não proferisse discurso violento contra Mariano, chamado sempre de “Inimigo da Polícia”. Para culminar a ofensiva, nesta sexta (12/4), o Diário Oficial publicou projeto de lei do deputado estadual Frederico D’Ávila, do PSL, o partido de Jair Bolsonaro, que pretende simplesmente extinguir a Ouvidoria da Polícia e, portanto, o posto de Mariano.

    O que deixou os deputados major Mecca, coronel Nishikawa, coronel Telhada, Conte Lopes e Frederico D’Ávila especialmente furiosos foi o fato de Benedito Mariano ter divulgado uma estatística assustadora: em março de 2019, a polícia militar matou 46% mais pessoas do que em 2018! Se, em 2018 foram 52 mortes causadas por PMs, em 2019 esse número saltou para 76!

     

     

    Foram 76 pessoas mortas depois de SUPOSTAMENTE

    terem atacado ou atirado em policiais.

     

     

    A palavra supostamente foi grafada em letras maiúsculas porque o mais provável é que a maioria dessas mortes nunca seja devidamente investigada.

    Veja que absurdo: 3 em cada 100 mortes em supostos confrontos com PMs são investigadas pela Corregedoria da Polícia. A esmagadora maioria (97%) dos inquéritos, porém, corre dentro dos Batalhões em que os PMs envolvidos com mortes trabalham. Ou seja, são os amigos e companheiros mais próximos que investigarão se a conduta policial foi correta ou não. Isso, obviamente, facilita a impunidade.

    Benedito Mariano defende que todos os casos deveriam ser investigados pela Corregedoria, já que ela dispõe de técnica, procedimentos e recursos necessários para isso.

    Os deputados da Bancada da Bala não podem nem ouvir falar em punição a PMs violentos. Ao contrário, defendem que os policiais tenham uma espécie de “Licença para Matar”.

    Esses deputados, defensores da tese segundo a qual “Bandido Bom é Bandido Morto”, ganharam poderosos aliados com a eleição de Bolsonaro e Doria, que em campanha disse que o policial deve “atirar para matar” e que os policiais que matarem devem ter, pagos pelo estado, “os melhores advogados” disponíveis.

    Criada em 1995 pelo governador Mario Covas (PSDB), a Ouvidoria da Polícia de São Paulo é o único órgão de que a sociedade dispõe para controlar a atividade policial. É com a Ouvidoria que a população pode contar para obter informações sobre a ação da polícia, conseguir encaminhamento para denúncias contra maus policiais, cobrar providências. Independente da hierarquia da Secretaria de Segurança Pública, da PM e da Polícia Civil, a Ouvidoria é a representante da sociedade diante da instituição policial.

    Defender a Ouvidoria e o Ouvidor Benedito Mariano é defender o direito de a Sociedade saber o que se passa dentro dos quartéis e delegacias. É defender um mínimo de transparência em uma instituição tão poderosa quanto a Polícia.

    O Rio de Janeiro, Marielle e Anderson, além de tantas vítimas anônimas, sofreram e sofrem os efeitos trágicos de policiais atuando descontroladamente e sem prestar contas de seus atos à Sociedade. Vira milícia. Daí, tudo pode. Inclusive, virar bandido!

  • Debate “As mulheres nas instituições de segurança e o seu atendimento”, veja como foi

    Debate “As mulheres nas instituições de segurança e o seu atendimento”, veja como foi

    Por Bárbara Louzada

     

    Na última terça feira, 5 de fevereiro, aconteceu, na sede do PSOL em São Paulo, um debate organizado pelo “Santa Cecília Sem Medo” com participação do Movimento Policiais Antifascismo, que contou com a presença de integrantes da Policia Civil e ex-integrantes da Policia Militar, sobre o tema “As mulheres nas instituições de segurança e o seu atendimento”. Como integrantes da mesa estavam Gisele, advogada e ex-policial militar, e Lola, policial civil. A roda se deu com grande participação do público, que contava com militantes, simpatizantes e outros policiais. Nas falas, uma policial civil preferiu não dizer o nome.

    A conversa se desenrolou em várias frentes, fazendo também uma análise da conjuntura atual, com temas levantados com inquietações dos ouvintes.

    Confira abaixo algumas falas dos principais temas debatidos:

    ENTRADA DE MULHERES NAS FORÇAS POLICIAS

    Gisele: “Por que que a mulher, a ideia do gênero feminino, é mal vista? Porque eles ainda vinculam a atividade policial, a uma coisa necessariamente violenta, agressiva e letal. E aí você tem dois erros: achar que a polícia tem que ter necessariamente esse viés e segundo achar que a mulher não é capaz de precisar ser firme, agressiva ou qualquer coisa. E você ainda coloca o homem dentro do problema do machismo, que é você falar que por ser homem você é obrigado a ser violento, truculento e não pode chorar também.”

    MACHISMO NA POLÍCIA

    Integrante da polícia civil: “Mulher não é chamada pra operação. Você só é considerada uma “puta polícia” se você matou alguém. Piadas constantes. Tem a história dos fetiches, dentro e fora.”

    Gisele: “Na PM, as mulheres precisam marchar de saia, tem padrão pra cor de esmalte, cor de batom, cor de cabelo… Existe uma norma de padrão a ser seguido.”

    Lola: “Tem piada, assédio, “brincadeirinha”. é difícil. A polícia civil é centenária, e em 113 anos nós estamos na segunda delegada geral adjunta. Ou seja, depois de mais de 100 anos, nós só tivemos duas mulheres no segundo cargo mais alto.”

    ASSÉDIO DENTRO DA POLÍCIA

    Lola: “Teoricamente é pôr no papel. Na prática,22 é só em situações muito graves. Porquê da mesma maneira que em qualquer lugar da sociedade, se eu disser que alguém pôs a mão no meu ombro de maneira inadequada, me segurou pela cintura, ou alguma coisa assim, vão dizer que foi só uma brincadeira e que eu sou exagerada. Não é diferente lá dentro.”

    Gisele: “Tem muito caso de mulher que já foi assedia por Coronel, por exemplo. É muito difícil. Só se ela tem uma relação muito boa com a chefia dela, ela consegue ser ‘protegida’ de alguma maneira. As vezes eles até recomendam não ir pro papel e desloca pra um outro lugar, pra tentar proteger… Porque até mesmo os homens, que se sentem mal, se revoltam com essa situação, sabem que é bem difícil ir pra frente. Só casos muito graves.”

    ATENDIMENTO OCORRÊNCIA DE MULHERES

    Gisele: “Chamamos na polícia de ‘ocorrência de desinteligência”, pode ser qualquer briga, brigada de vizinho, mas 80% são problemas de marido e mulher, e é o tipo de ocorrência que dificilmente policial quer pegar. Principalmente aquele policial matador, que quer pegar tráfico. Ele não quer pegar ‘problema de família’. Eles tem um estereótipo de que chegando na ocorrência, ou é tiroteio e eles não estão preparados, porque acontece de chamar ocorrência de desinteligência e chegar lá e ser tiroteio entre vizinhos, ou chega lá e eles reportam que levam horas no atendimento da ocorrência, leva pra delegacia, porem depois de duas semanas, a mulher voltou pro marido. Então, no meu ver, o que falta trabalhar com os policiais, é o porquê que aquela mulher de periferia volta pra casa? Será que ela tem opção de não voltar? Quantos filhos ela tem? Quantos lugares ela tem de possibilidade para ir? Às vezes, com medida cautelar e tudo contra o marido… Será que ela tem muita opção de estar em outro lugar?”

    DDM’s (Delegacia de Defesa da Mulher)

    Integrante da Policia Civil: “Os policiais não querem ir para as DDMs. Normalmente quem vai, é ‘chutado’ pra lá. Uma delegacia da mulher não é assim: ‘ah eu quero ir pra lá’. Não existe um banco de talentos na polícia. Então gente que de repente poderia estar fazendo um trabalho legal, está escondida num canto. E pra você conseguir ir pra um lugar que você tem facilidade, você tem que fazer politicagem, ficar pedindo permuta… E a nós, toda hora que troca os dirigentes, também troca também os nossos chefes. No meio do ano entrou o Marcio França, então trocaram todos os delegados gerais, ai eles trocaram os delegados diretores, os titulares, trocou todo mundo. Tem muito pouco dialogo pra você escolher onde você quer trabalhar. Você é colocado ali. Sobre o atendimento a vítima, quando chega na delegacia, não tem o menor cuidado e preparo pra lidar com as situações. Se você começa a fazer diferente, talvez você contamine os outros. Ou vire piada, ou um incomodo, que são mais comuns. Estamos com menos policiais, em todos os lugares. Não tem gente pra colocar em DDM’s 24 horas. Vão deslocar pessoas que não querem estar ali, sem preparo e vai ser um péssimo atendimento.”

    MANIFESTAÇÕES

    Gisele: “Quem faz as manifestações de rua é o CHOQUE. O CHOQUE é doutrinado pra ser assim. Precisa a consciência de que a polícia é usada muito como manobra política, como cão de guarda do Estado, e o policial precisa levantar a bandeira de que ele é trabalhador e sai dos mesmos estratos sociais de grande parte da população. E de que hoje em dia, 80% do trabalho da polícia militar, você não precisa de força bruta.”

    Lola: ‘Quando você está em confronto, você percebe o policial que tem pensamento diferente, porque ele vai cumprir a obrigação dele. Ele vai fazer a segurança, ele vai fazer a contenção. E ele não vai passar disso. Ele vai estar ali, vai cumprir a ordem do que ele tem que fazer, mas ele não vai extrapolar o que ele tem que fazer. E aí você percebe qual é o policial que pensa diferente. Na atitude.”

    Gisele: “Você tem ali as normas que punem os policiais por não estarem dentro dos parâmetros. Eu sinceramente não sei por que meios isso (falta de identificação dos policias) corre.”

    BOLSONARO E A SEGURANÇA PÚBLICA

    Lola: “Já me perguntaram se eu acho que o Bolsonaro vai resolver o problema de segurança pública. Eu digo que não, porque se não ele teria resolvido o problema no Rio de Janeiro, onde ele foi deputado por quase 30 anos. Me perguntam se o fato dele ser um militar não tem a ver, eu digo que não porque exército é uma coisa e segurança pública é outra. Então assim, não tem argumentos ao presidente que digam que ele vá melhorar a segurança, há não ser que ele componha alguma coisa no plano de governo dele. Que não teve até hoje. “

     

    As falas das palestrantes não representam um posicionamento oficial das organizações.