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Tag: PIB

  • O pibinho e o vírus da incompetência

    O pibinho e o vírus da incompetência

    Por Orlando Silva(*)

    Bolsonaro assumiu a presidência da República em meio a uma onda de euforia dos agentes econômicos. Pudera, sua candidatura foi o desaguadouro do apoio da banca financista e do grande empresariado nacional e internacional, ávidos pela imposição de uma nova ordem econômica, política e jurídica que enterrasse as conquistas e garantias expressas na Constituição de 1988.

    Para a turma do bilhão, a vantagem adicional no apoio a Bolsonaro foi que, como a campanha eleitoral passou ao largo do debate programático, o candidato da extrema-direita não precisou firmar compromisso ou negar medidas que viria a tomar no governo. Representou, por assim dizer, um livro aberto para que o ultraliberalismo selvagem pudesse escrever suas páginas, sem quaisquer pruridos que mitigassem os reflexos antissociais de sua agenda. A hora e a vez do mercado puro sangue dar as cartas na economia.

    Desde logo, os economistas ventríloquos de banqueiros se apressaram a cravar crescimento de 2,5% em 2019. Talvez mais, caso se privatizasse até o Palácio do Planalto, como disse Paulo Guedes, e todo o cardápio de reformas usurpadoras de direitos do povo fosse aprovado. Quem não se lembra das previsões edulcoradas – ou mentiras deslavadas – com a aprovação da Reforma da Previdência?

    Pois bem, a dura realidade começa a se impor. Os números divulgados pelo IBGE sobre o PIB de 2019 – 1,1%, abaixo até mesmo do 1,3% de Michel Temer, em 2017 e 2018 – falam por si e jogam água no chope de quem comemorava uma “retomada vigorosa” da atividade econômica. Mesmo no último trimestre, quando há a alavancagem natural das festas de fim de ano, o avanço foi pífio: 0,5% frente ao anterior.

    O miserê do pibinho foi tal que atingiu até a Agropecuária, com avanço módico de 1,3%, ladeada pelo setor de Serviços (1,3%) e pela semi-estagnada Indústria, que se arrastou a 0,5%. Registre-se que estamos tratando de crescimento medíocre e sobre uma base bastante depreciada, uma vez que o histórico recente do país é de um biênio de recessão (2015/2016) e outro de estagnação (2017/2018).

    Outro dado que chama atenção no quadro desolador é que, no que diz respeito ao setor externo, as Exportações de Bens e Serviços sofreram queda de 2,5%, ao passo que as Importações de Bens e Serviços se ampliaram em 1,1%. Se a tendência se projetar para 2020, estaremos diante de uma situação tétrica, pois o dólar atingiu estratosféricos R$ 4,65, após altas sucessivas.

    Os ilusionistas do Planalto iniciaram o ano projetando novamente crescimento superior a 2%, no que receberam o apoio cúmplice dos analistas da banca, viciados nas jogatinas da Bolsa e alheios à economia da vida real. Não se sabe com base em que são feitas tais projeções, já que um dos esportes preferidos dessa turma é revisar, para baixo, a estimativa de crescimento a cada boletim Focus.

    Como pode voltar a crescer um país que virou pária internacional e que tem um presidente sem nenhuma credibilidade? Como voltar a crescer se o governo dobra a aposta numa receita recessiva insana? Quem fala não sou eu, deputado de oposição. Os números estão aí. O Brasil sofreu uma debandada de 44,7 bilhões de dólares em 2019 – os tais “investidores”, presume-se -, o pior resultado em 38 anos! Por outro lado, a taxa de investimento segue ao rés do chão, na base de 15,4% do PIB.

    Bolsonaro e Paulo Guedes venderam ao povo que as reformas ultraliberais gerariam crescimento econômico e empregos. Nem um nem outro. O resultado é o desastre de 2019, que se projeta também para 2020, com os efeitos conhecidos de desemprego, subemprego, degradação do tecido social e ruína das contas públicas. Como bem afirmou Daniel Pereira de Andrade, professor de Sociologia da FGV, “para os neoliberais, se a economia não funciona como o previsto, não é porque seus modelos lógico-dedutivos não são capazes de explicar a realidade, mas, inversamente, é porque a realidade política e social está atrapalhando o funcionando idealmente previsto do mercado”.

    Sem ter o que mostrar, Bolsonaro agora ocupa o centro do picadeiro para distribuir bananas e culpar o Corona vírus pelo baixo crescimento que já se antevê para este ano. Não! A verdadeira ameaça que paira sobre nossa economia é o vírus da incompetência, cujos sintomas estão evidentes no pibinho de 2019.

    (*) Orlando Silva é deputado federal pelo PCdoB-SP

  • Voltar ao mundo? Argentina entre o FMI e o abismo

    Voltar ao mundo? Argentina entre o FMI e o abismo

    por Coletivo Passarinho

    O eixo discursivo central da campanha eleitoral de Mauricio Macri para a presidência foi “voltar ao mundo”. Era hora de superar o atraso e o isolamento da era Kirchner, aproveitar o grande potencial humano e produtivo da Argentina e produzir reformas capazes de reinserir o país na economia mundial. Nas falas televisivas dos apoiadores do então candidato dizia-se com frequência que a Argentina precisava voltar a ser um país normal. E um país normal, para a elite argentina, bem como para parte significativa de sua classe média, é um país em que se pode comprar e vender dólares sem restrições.

    Vencidas as eleições, o novo mandatário tratou de colocar em prática seu choque “modernizador”: abriu o país às importações, liberou o controle cambiário sobre o valor do dólar, derrogou tributos sobre a exportação do trigo, milho e soja e reduziu impostos sobre automóveis, motos e embarcações de luxo, quase sempre importados. Aproveitou a boa recepção à sua vitória nas economias do centro do capitalismo, que viram aí uma oportunidade de iniciar a virada no tabuleiro, com auspícios de uma derrocada em série dos governos populares da região, para alçar voos maiores. Em dezembro do ano passado, Buenos Aires sediou a 11ª Reunião Ministerial da Organização Mundial de Comércio (OMC). No final deste ano, presidirá a Cúpula do G20, a reunião das vinte economias mais ricas do planeta, que terá o tema “construindo consenso para um desenvolvimento equitativo e sustentável”.

    Por debaixo desse véu modernizador, o mundo volta à Argentina sob outra forma, arcaica. No dia 8 de maio, diante da desvalorização galopante do peso argentino, da ineficácia da alta dos juros e da venda sucessiva de reservas para conter a subida do dólar, em pronunciamento oficial, o presidente declarou que decidiu iniciar diálogo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para “fortalecer este programa de crescimento e desenvolvimento”. A euforia dá lugar ao pesadelo, como no filme de terror Escape From Tomorow, em que um pai leva a família de viagem para a Disney sem revelar que foi demitido.

    O outro lado do conto de fadas é um país empobrecido (ao menos para suas vastas maiorias) e que, desde que Macri assumiu, somente agudizou seus problemas estruturais. O setor exportador de soja e minérios aumentou consideravelmente a sua rentabilidade. O setor financeiro obteve ganhos fabulosos com o empréstimo de dinheiro ao Estado a juros exorbitantes. A bicicleta financeira consistente na compra e venda sucessiva das Letras do Banco Central (Lebac) já no ano passado atingia 26% de juros (El país, 23/06/2017). Para o setor produtivo industrial quase nada chegou neste contexto de plena abertura aos investidores. Já para a massa trabalhadora restou o aumento do desemprego, a desindustrialização, a redução do valor real dos salários e o aumento brutal das tarifas de serviços públicos.

    Em termos macroeconômicos os desequilíbrios somente se acentuaram: a abertura econômica gerou mais dependência. O governo impulsionou forte processo de endividamento externo dando um passo atrás no caminho de redução da dívida ocorrido durante o período kirchnerista. O déficit de conta corrente alcançou 5% do PIB, superando os 2,8% de 2015 e os registros da década de 1990. A avalanche importadora, em um cenário de abertura comercial, provocou a elevação do déficit de comércio exterior para o nível mais elevado dos últimos 40 anos. Ao contrário dos tão sonhados investimentos produtivos incrementou-se a fuga de capitais, e ainda se tentou amenizar o déficit pelo aumento da dívida externa.

    O macrismo e seu leque de aliados chamaram as reformas implementadas até agora de “gradualistas”. Avançaram com a reforma previdenciária, com uma reforma tributária com caráter regressivo e têm na agenda uma reforma trabalhista de propósito flexibilizador e precarizador. O remédio do ajuste, no entanto, nunca é suficiente. A morte iminente do paciente, em vez de colocar em questão o próprio tratamento, para os financistas de plantão é sempre uma oportunidade para legitimar um aumento da dose. Por isso, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil sob a presidência de FHC, ao falar da crise argentina diz que “hoje as opções são fazer mais rápido este ajuste, que sempre esteve entre os objetivos do governo, ou ter problemas muito mais sérios” (Ámbito Financiero, 14/05/2015). O retorno ao FMI serve, portanto, para pôr fim ao “gradualismo” e substituí-lo pelo choque descarado, legitimando um incremento da austeridade.

    Por outro lado, a consciência do significado do pedido de resgate na Argentina não é pequena. O FMI apoiou o programa econômico ortodoxo e regressivo da última ditadura militar. Foi protagonista direto dos planos massivos de privatização e desregulação da era Menem, na década de 1990, apoiando o programa de convertibilidade que estabeleceu a paridade entre o dólar e o peso. Programa este que culminou com a crise econômica e social sem precedentes de dezembro de 2001. No início de 2002, 25% dos argentinos estavam desempregados e o índice de pobreza chegava a quase 60%.

    Agora, o FMI vem ao resgate de um governo neoliberal cujos altos postos são formados, sobretudo, por CEOs: ex-diretores executivos de grandes empresas, muitos deles oriundos do setor financeiro e bancário. A chamada “porta giratória” entre setor privado e setor público é, na atual gestão, mais vigente do que nunca. Os dirigentes, formados em sua maioria em universidades norte-americanas ou em universidades particulares de elite na Argentina, tem pouca conexão com seu próprio país. Mais do que isso: tem pouco do seu patrimônio pessoal nessas terras. O ministro da fazenda, Nicolas Dujovne, possui 88,25% dos seus bens declarados no exterior. O presidente do Banco Central, Federico Sturzenegger, 70,04% (La Nación, 22/08/2017). São eles, junto com o presidente Maurício Macri, envolvido no escândalo das offshores descobertas no caso Panamá Papers, que querem convencer a população de que um novo empréstimo com o fundo dará proteção ao país.

    No entanto, um recente informe do Centro de Estudios de Opinión Pública (CEOP) aponta que 77% dos argentinos são contra o pedido de empréstimo ao FMI. Ao contrário do que gostariam alguns ideólogos do mercado e do governo, a população não esquece que o desastre de 2001 veio depois de anos de ingerência direta e de aplicação das políticas do FMI. Não por acaso, os colunistas econômicos do establishment não deixam de apontar para os riscos de uma nova explosão “populista”. E para mostrar que Macri não está sozinho neste processo de aprofundamento da inserção subordinada da Argentina na economia-mundo, Trump, Merkel y Rajoy não tardaram em deixar claro o apoio às medidas do governo.

    O próprio Ministro da Fazenda argentino já admitiu que o país terá mais inflação e menos crescimento (La Nación, 14/05/2018). A última terça-feira (15) foi considerada o dia D, pois venciam 30 bilhões de dólares em Letras do Banco Central (Lebacs). O perigo imediato de forte desvalorização cambiária decorrente da não renovação das Lebacs e consequente corrida ao dólar pode ser controlado. O Banco Central Argentino, além de ofertar 5 bilhões de dólares pelo segundo dia consecutivo, emitiu dívida com a oferta de novos títulos do tesouro. Ainda que o governo tenha conseguido controlar o cenário, o problema de fundo permanece. “As Lebac são uma bola de neve que se chuta para frente” (Izquierda Diario, 15/05/2018). Cedo ou tarde, o caminho do endividamento, fracassa.

    Após reunião ministerial na segunda-feira (16), o chefe de gabinete, Marcos Peña, esclareceu a nova linha política: chegar a um grande acordo nacional com o objetivo de reduzir o déficit fiscal, sendo que o marco para tal acordo é o orçamento de 2019. Disse, ainda, que o caminho é o correto, mas é preciso acelerá-lo (La Nación, 15/05/2018).
    O caminho já é conhecido e os resultados também: ajuste sobre o povo, aumento das desigualdades, desmonte do Estado e mais recessão. Economiza-se para diminuir o déficit e “honrar” os compromissos com o setor financeiro. A ação indutora do Estado como impulsor da atividade econômica vai às favas. A economia encolhe e a arrecadação tributária diminui. Resultado final: todo ajuste é insuficiente, demandando ainda mais ajuste. E o país navega na catástrofe social, que é narrada pelos cínicos de plantão como um mal necessário.

    Resta saber por quanto tempo a narrativa vendida pela imprensa que apoia o governo vai sustentar o discurso que é desmentido no cotidiano da população argentina. Nesta quarta, pelo menos duas mobilizações contra o FMI estão convocadas, uma no Obelisco e, outra, no Ministério de Economia. Amanhã, várias organizações convocam uma manifestação na Praça de Maio. A pressão ao governo argentino aumenta e vem de todos os lados.

  • Brasil vive recuperação mais lenta de sua história

    Brasil vive recuperação mais lenta de sua história

    Selecionamos algumas passagens da entrevista.

    1 A economia estacionou no fundo do poço

    O PIB caiu muito nos últimos dois anos, houve um forte aumento do desemprego, fatos que as pessoas conhecem e, mais do que conhecem, estão vivendo. Em 2017 a economia teve uma estabilização e um crescimento de 1%, ou seja, a economia ficou praticamente parada, estacionou no fundo do poço (…) A recuperação da economia a partir de 2017 é, de fato, a recuperação mais lenta da história econômica do Brasil. Isso significa que há a necessidade de uma política emergencial porque a economia não vai andar por suas próprias pernas.

    2 Uma situação sem horizontes

    Isso se dá por várias razões, entre elas, porque é muito difícil crescer com um governo sem legitimidade, que foi fruto de rupturas institucionais e que não conseguiu se firmar.

    Por outro lado, as muitas denúncias de corrupção afetaram e afetam o clima econômico. O fato de haver uma eleição tão indefinida pela frente também dificulta o processo.

    Outro aspecto importante é que a recessão não significou só uma perda de produto, de emprego etc., mas traduz o fato de que as famílias e as empresas se endividaram bastante, ou seja, os agentes privados estão muito endividados.

    Portanto, diante do quadro político, dos agentes econômicos endividados e do governo fazendo uma política equivocada, fazendo muita ideologia, dizendo que precisa ter menos Estado na economia, estamos indo para uma situação sem horizontes.

    3 Obstáculos ao crescimento mais significativo

    A minha visão não é otimista. Há algum crescimento, mas um crescimento um pouco maior dependerá, sobretudo, do crescimento de consumo das famílias. Mas este é um ano difícil, e os bancos estão reticentes em emprestar. Assim, a “bala de prata” do crescimento este ano é o consumo das famílias, que depende, sobretudo, da recuperação do emprego, que recupera mas recupera mal, porque a qualidade do emprego, por conta da reforma trabalhista, está muito pior. Eu vejo vários obstáculos para que haja um crescimento econômico mais significativo e mesmo o setor externo contribuirá muito menos este ano.

    4 Investimento Público

    Continuo achando que o Estado tem um papel crucial no desenvolvimento do Brasil. Numa economia que é periférica, que tem uma moeda fraca, que sofre de insuficiente desenvolvimento tecnológico, que tem problemas sérios de desigualdade, o Estado tem um papel essencial (…) Na metade dos anos 70, o público controlava quase metade da taxa de investimento do país. Depois de 12 anos de governo do PT, não se chegou a 20% da taxa de investimento.

    5 Distribuição de Renda e o Salário Mínimo

    Existem dois instrumentos importantes para melhorar a distribuição de renda no país: um deles é o salário-mínimo e o outro é a tributação. Existe uma relação entre o salário-mínimo e o salário médio. Os países que têm melhor distribuição de renda, sobretudo os países da Europa, têm uma relação entre salário-mínimo e salário médio mais alta.

    Agora, isso só não é suficiente e já foi feito em grande parte nos governos Lula e Dilma. Quando começou o governo Lula, a relação entre salário-mínimo e salário médio era 25%. Ao final do governo Dilma, em 2014, essa relação foi para quase 40%, ou seja, o leque salarial encurtou por causa do crescimento do salário-mínimo. Mas não se faz distribuição de renda só por esse mecanismo.

    6 Tributação e Gasto Público

    É preciso melhorar a tributação e melhorar o gasto. Então, a proposta vai nesta direção: precisa tributar mais a renda e o capital e menos a produção e o consumo. Precisa mudar o gasto também, eliminar gastos que são regressivos [que privilegiam quem tem mais] e não distribuem renda. Então, não se trata de deixar de apostar no salário-mínimo, mas é necessário apostar mais na tributação e no gasto progressivos.

    7 Funcionalismo e Previdência Pública

    (…) existe uma expansão do gasto com o funcionalismo público que precisa ser corrigida. A previdência pública também tem uma série de privilégios em relação à previdência privada, e é preciso introduzir correções nesses processos, porque isso concentra renda.

    8 Previdência Social

    Uma questão central no gasto social é a da Previdência. A questão da Previdência é importante, mas não é emergencial. De todo modo, ela precisa ser feita por uma razão básica: a população brasileira está envelhecendo e vamos gastar cada vez mais com aposentadorias. Se não fizermos a reforma, as pessoas continuarão a se aposentar com a mesma idade que se aposentam hoje e a razão pessoas ativas/aposentadas vai crescer excessivamente, tornando muito alta a conta da Previdência. Logo, é preciso resolver esse problema, que é um problema importante, mas é preciso dizer que não há uma única forma de fazê-lo, mas várias. Portanto, a questão requer muito debate e a construção de consensos.

    9 Corrupção e Lava Jato

    Se você me perguntar se eu acho que existe corrupção, vou dizer que sim, mas acredito que as pessoas usam isso como instrumento de luta político-partidária. A corrupção é, sobretudo, algo que responde ao sistema político que aí está: a forma como o sistema é estruturado, as campanhas eleitorais, que são caras, os partidos de aluguel, isto é, existe um conjunto de aspectos no sistema político brasileiro que induz a fazer caixa dois e essas coisas todas. Estou dizendo que o sujeito que pratica a corrupção deve ser penalizado e quando for o caso, preso, mas quando se prende um, vai aparecer outro para fazer a mesma coisa, porque o sistema induz a isso.

    A Lava Jato poderia ter sido algo educativo, mas ela criou um viés grande, foi seletiva do ponto de vista político e perdeu apoio numa parte expressiva da população. No fundo ela produziu resultados ruins.

    Notas

    1 Para ver a entrevista completa: http://www.ihu.unisinos.br/577886-os-desafios-da-economia-brasileira-entrevista-especial-com-ricardo-carneiro

    2 Ricardo Carneiro é mestre e doutor em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Ele esteve presente no Instituto Humanitas Unisinos – IHU na última segunda-feira, 9-4-2018, onde ministrou a palestra Novos desenvolvimentismos no Brasil. Tendências e desafios para a economia brasileira. A íntegra da conferência pode ser vista aqui: https://youtu.be/lA8ZDitBLCY

  • IPCA: preços não sinalizam crescimento econômico

    IPCA: preços não sinalizam crescimento econômico

    A informação de que o IPCA de maio foi de 0,31% acendeu uma ponta esperança de termos, de fato, estancado a queda da atividade econômica e entrado em recuperação. Isso por que ainda não há sinais evidentes da volta do crescimento no emprego, no comércio varejista ou na indústria. O crescimento do PIB no primeiro trimestre de 2017 ainda precisa ser referendado por outros indicadores.

    O IBGE divulgou hoje (09/06) a subida de 0,31% nos preços para os consumidores, medidas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, poderia ser uma boa notícia: um sinal de que a recuperação econômica está mesmo acontecendo, pois até os preços, quem em abril subiram 0,17%, resolveram reagir.

    No entanto, ao analisar os aumentos individualmente, concluímos que a energia elétrica foi responsável por praticamente a totalidade desse índice de inflação. Como tinha ocorrido um desconto na energia elétrica em abril, que não se repetiu em maio, seu retorno ao “preço normal” foi responsável por 0,29% desse índice de 0,31%, incluídos todos os itens da cesta de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE. Em outras palavras, sem as tarifas de eletricidade, a inflação de maio teria sido 0,02%, quase zero.

    Os alimentos, os artigos de residência e os transportes apresentaram deflação, os preços caíram em maio. O preço da educação e da comunicação ficaram quase estáveis, aumentos de 0,08% e 0,09%.

    O índice acumulado em 12 meses, de junho de 2016 a maio de 2017, acumulou alta de 3,60%. Bem abaixo da meta de inflação de 4,5%. Nos 12 meses terminados no mês passado, o IPCA tinha subido 4,08%

    Não há, assim, pelo lado dos preços, sinal de que estamos em rota de aquecimento da atividade econômica.

    Veja o comportamento dos preços do grupo dos alimentação.

    Preços que caíram:

     

    Item

    Variação (%)

    Variação Acumulada
    (%)

    Abril

    Maio

    Ano

    12 meses

    Frutas

    -0,79

    -6,55

    -7,94

    -7,61

    Óleo de soja

    -4,17

    -6,30

    -3,54

    -2,51

    Cenoura

    -0,71

    -5,86

    20,53

    -33,04

    Feijão-fradinho

    -0,82

    -4,45

    -7,44

    29,55

    Feijão-preto

    -8,29

    -3,66

    -29,84

    5,16

    Tomate

    29,02

    -3,14

    30,23

    6,67

    Açaí

    2,45

    -3,04

    22,85

    -11,99

    Hortaliças

    0,79

    -2,51

    8,92

    -11,44

    Pescado

    1,10

    -2,31

    5,01

    10,15

    Açúcar refinado

    0,00

    -2,18

    -4,17

    1,08

    Arroz

    -1,69

    -1,98

    -5,41

    5,59

    Açúcar cristal

    -2,73

    -1,79

    -7,17

    3,20

    Frango inteiro

    -0,64

    -1,32

    -6,49

    -0,71

    Farinha de mandioca

    0,37

    -1,31

    7,68

    18,25

    Leite em pó

    -0,84

    -0,78

    -2,57

    18,15

    Iogurte

    -0,22

    -0,73

    0,94

    7,32

    Chocolate e achocolatado em pó

    0,88

    -0,68

    2,50

    8,11

    Pão francês

    0,36

    -0,67

    0,69

    2,09

    Margarina

    -0,32

    -0,63

    3,54

    4,39

     

    Preços que subiram:

     

    Item

    Variação (%)

    Variação Acumulada
    (%)

    Abril

    Maio

    Ano

    12 meses

    Cebola

    6,03

    7,67

    7,27

    -48,12

    Batata-inglesa

    20,81

    4,28

    15,03

    -45,91

    Alho

    4,83

    3,44

    4,34

    -5,31

    Feijão-carioca

    -1,64

    3,29

    -28,90

    -22,03

    Chocolate em barra e bombom

    -2,92

    2,75

    -2,24

    6,57

    Leite longa vida

    1,25

    1,87

    6,87

    4,24

    Pão de forma

    1,26

    1,44

    6,04

    6,82

    Café moído

    2,65

    1,00

    9,06

    22,34

    Pão doce

    0,15

    0,90

    1,69

    4,37

    Queijo

    0,97

    0,83

    1,88

    10,25

    Ovos

    4,03

    0,73

    11,67

    13,09

    Frango em pedaços

    1,30

    0,57

    -0,51

    0,86

    Refrigerante fora

    0,33

    0,52

    0,83

    5,97

    Para ver a publicação do IBGE: http://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/10182-ipca-fica-em-0-31-em-maio.html

  • A inflação de janeiro foi baixa. Vamos comemorar?

    A inflação de janeiro foi baixa. Vamos comemorar?

    Há um mês “celebramos” a queda da taxa de juros. A chamada taxa Selic caiu de 13,75% ao ano para 13%. Um corte ousadíssimo, dado o conservadorismo dessa diretoria do Banco Central. Naquele momento, dissemos que o corte não era um bom sinal, mas mostra de uma economia em forte desaquecimento.

    Agora, somos informados, pelo IBGE, que a inflação de janeiro, medida pelo IPCA, ficou em 0,38%. Muito abaixo do que esperavam os sábios do mercado financeiro. O gráfico mostra a queda da inflação calculada em períodos de 12 meses. Devemos comemorar?

    Perdão, sem querer ser um estraga prazeres, pediria que olhássemos o quadro completo: Como anda o desemprego? Como andam as vendas no varejo e o setor de serviços? Como andam os indicadores de pobreza?

    Temos 12 milhões e 300 mil desempregados no país, é o que nos informou o IBGE. No gráfico abaixo é possível notar a aceleração do desemprego após 2014. Durante o ano passado 3,3 milhões de pessoas passaram a fazer parte desse enorme grupo de desempregados. Essas pessoas, certamente, não vão comemorar a inflação baixa de janeiro. Elas devem, sim, estar se perguntando se a inflação caiu por conta do emprego que elas perderam. Elas tem razão de questionar, uma vez que, de fato, as políticas que pretendem baixar a inflação atingem em cheio o emprego. Ou você acha que juros altos e cortes de investimentos e gastos do governo beneficiam o emprego?

    Será que encontraremos boas novas no comércio ou no setor de serviços? A pesquisa do IBGE nos mostra que as vendas do Comércio Varejista Ampliado caíram 8,7% em 2016. As vendas de veículos caíram 14% e as de material de construção caíram 10,7%. As vendas do comércio sem veículos e material de construção caiu 6,2% em 2016, Como mostra o gráfico abaixo.

    O setor de serviços engloba transportes, comunicação, alojamento e turismo, entre outros. A queda nesse setor foi de 5% em 2016. O destaque de queda (10,4 %) foi no transporte terrestre. Aqui, é importante ressaltar, está o transporte de cargas, como matérias-primas e produtos acabados para a indústria. Menos transporte para a indústria implica menor produção industrial. As dificuldades da indústria também se refletem nos preços: não dá para aumentar preços, se nem vender direito a indústria está conseguindo. Comemorar inflação baixa, às custas de queda na produção industrial, é absolutamente descabido.

    Aqui é fácil perceber que aqueles que continuam empregados estão receosos de trocar de carro ou construir/reformar suas casas. Um governo que, no meio de uma brutal recessão, só fala em cortes de investimentos e gastos consegue dar confiança para que os trabalhadores consumam, especialmente, bens duráveis como automóveis?

    E a questão da pobreza? Bem, nessa semana fomos surpreendidos por um estudo do Banco Mundial que afirma que, somente nesse ano de 2017, a recessão deve derrubar 3,6 milhões de brasileiros para baixo da linha da pobreza. Cerca de 1 milhão desses “novos pobres” passarão a depender do benefício do Bolsa Família, que já ajuda 14 milhões de pessoas, sublinha o estudo. O pior é que, quando imaginamos que esse quadro é passageiro, nos lembramos que o orçamento do governo está “encarcerado” até 2036.

    Mal comparando, podemos imaginar nosso carro num atoleiro, com lama por todos os lados. De repente, o alegre motorista exclama: “Senhores, nosso limpador de para-brisas está funcionando perfeitamente. Estamos no caminho certo. Isso não é maravilhoso?”

    Comemorar a inflação baixa de janeiro é a mesma coisa. A economia brasileira está num atoleiro. Há dois anos que afundamos na lama. As políticas econômicas adotadas ajudam a afundar mais e mais. O desemprego, a queda de um enorme contingente de pessoas abaixo da linha da pobreza, a queda das vendas no varejo, a queda nos serviços e a enorme queda no PIB devem ser esquecidos. Celebremos a “vitória” diante do monstro inflacionário e bom Carnaval para todos nós!

    Notas

    1 Para ver o relatório do IBGE sobre o desemprego: http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=3367&busca=1&t=pnad-continua-taxa-desocupacao-foi-12-0-quarto-trimestre-2016-media-ano

    2 Para ver o relatório do IBGE sobre a queda das vendas no varejo:

    http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=3375&busca=1&t=dezembro-2016-vendas-varejo-recuam-2-1-fecham-ano-6

    3 Para ver o relatório do IBGE sobre a queda nas atividades do setor de serviço:

    http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=3376&busca=1&t=dezembro-setor-servicos-cresce-0-6-fecha-ano-5

    4 Para ver a matéria sobre o estudo do Banco Mundial:

    http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-02/banco-mundial-crise-pode-levar-36-milhoes-de-brasileiros-de-volta-pobreza

    Para ver o relatório sobre a inflação de janeiro de 2017:

    http://saladeimprensa.ibge.gov.br/noticias.html?view=noticia&id=1&idnoticia=3372&busca=1&t=ipca-fica-0-38-janeiro

  • O PIB de 2015 foi bom pra você?

    O PIB de 2015 foi bom pra você?

    Ano encardido esse 2015, não foi? Bem, vamos ver como foi para Olegária, a empresária, para Adenor, o trabalhador, e para Glenda, do Ministério da Fazenda. Avaliar o modo como a economia se comportou no ano anterior, para os diferentes atores e setores, pode nos ajudar a entender o momento econômico presente e a criar cenários prováveis para o futuro.

    Nossos personagens acabaram de saber que a economia brasileira encolheu 3,8% em 2015, ou seja, produzimos 3,8% menos bens e serviços do que em 2014. Olegária, a empresária, vendeu menos e engavetou seus projetos de crescimento: “investimento só para repor alguma coisa essencial quebrada”, determinou ela. Adenor, o trabalhador, manteve seu emprego, mas passou o ano angustiado de olho no aumento da taxa de desemprego. E Glenda, da Fazenda, viu entrar cada vez menos tributos no caixa do governo para tocar a máquina do governo e seus programas sociais e de investimento.

    Todos os dias essas pessoas, e todos nós, tomamos decisões econômicas, de consumo ou de investimento. Glenda, da Fazenda, seu chefe e seus colegas têm mais um papel que é tomar decisões de política econômica e de investimento que também vão influenciar todo o processo.

    As expectativas que temos do desenrolar da economia e as medições que vamos fazendo ao longo do ano vão influindo nas nossas decisões. O Produto Interno Bruto (PIB) é uma dessas medidas e, embora não seja a única, é uma das mais importantes.

    O PIB, calculado no Brasil pelo IBGE, tenta estimar a soma de tudo o que é produzido no país durante um ano. É parte da contabilidade social que “congrega instrumentos de mensuração capazes de aferir o movimento da economia de um país numa determinado período de tempo: quanto se produziu, quanto se consumiu, quanto se investiu, quanto se vendeu para o exterior, quanto se comprou do exterior.”1 Medidas de distribuição de renda e de desenvolvimento humano, por exemplo, também fazem parte desse conjunto chamado contabilidade social.

    O PIB de 2015

    Nossos personagens se assustaram com os números finais mostrados no gráfico abaixo: o PIB e o PIB per capita, que é o PIB dividido pela população do país, ou o PIB por pessoa.

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    Ilustração de Joana Brasileiro com dados do IBGE

    Somando-se o valor corrente de tudo que foi produzido no Brasil em 2015 chegamos a R$ 5,9 trilhões. Se dividirmos esse valor pela população brasileira, chegamos a R$ 28.876 que foi o PIB per capita em 2015 e que caiu 4,6%. Pelo gráfico é possível observar que depois de 4 anos de crescimento, de 2010 a 2013, ficamos praticamente no zero em 2014 e tivemos uma contração forte em 2015.

    Adenor, o trabalhador, não esteve muito preocupado nos últimos anos. Olhando o período mais longo, percebia que crescemos na maioria dos anos desde 2000 e esse crescimento é real, ou seja, não é contaminado pela inflação, é crescimento de produção. Mesmo com a crise mundial iniciada em 2008 e da nossa queda de 2015, tivemos crescimento próximo a 44%, em termos reais, de 2003 até 2015. E o emprego, principal medida para Adenor, esteve nos índices mais baixos em décadas. Mas, “o ano passado 2015 foi osso”, reclama.

    Quais setores puxaram a queda de 2015?

    A tabela abaixo mostra a agonia de Olegária, a empresária. Ela tem um pequena indústria de peças para automóveis. Ela reparou que a indústria de extração mineral conseguiu crescer 4,9%, impulsionada pelo aumento da extração de petróleo e gás natural quanto pelo crescimento da extração de minérios ferrosos.

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    Ilustração de Joana Brasileiro com dados do IBGE

    Mas seu setor foi o destaque, pelo lado negativo: a indústria de transformação fechou o ano com queda de 9,7%. Houve redução no volume da indústria automotiva (incluindo peças e acessórios) e da fabricação de máquinas e equipamentos, aparelhos eletroeletrônicos e equipamentos de informática, alimentos e bebidas, artigos têxteis e do vestuário, além de produtos de metal. O comércio (-8,9%) e construção (-7,6%) também não têm motivos para comemorar.

     

    O que teria provocado as quedas na indústria, no comércio e na construção?

    Vamos tentar uma explicação verificando o que aconteceu com o consumo das famílias, com o consumo do governo e com o investimento (que está sob a sigla FBCF – formação bruta de capital fixo). O que você vê no gráfico abaixo (as barras marrons são de 2014 e as azuis de 2015)?

    grafico_03
    Ilustração de Joana Brasileiro com dados do IBGE

    Bem, o destaque vai para a queda na formação bruta de capital fixo, ou queda no investimento privado e estatal, superior a 14%. Três causas são evidentes: a incerteza reduz o investimento privado, as investigações na Petrobras, maior empresa do país, inibem fortemente seus investimentos e o ajuste fiscal pretendido pelo governo federal implica investimento público bastante menor. A decisão de não investir causa redução de atividade em todos os setores da economia, especialmente, na construção que, como vimos, registrou (-7,6%). Olegária, a empresária, certamente tomou a decisão de adiar investimentos no bojo das expectativas de queda das vendas e incerteza econômica e política. Ela aplicou seus recursos em títulos do governo e, está esperando até hoje para decidir o que fará. Ela não ficou triste com os juros que tem recebido. “Os títulos do governo são uma maravilha: têm liquidez diária, posso vender a qualquer momento, são seguros, não há no horizonte nenhum indício de que o governo vá dar um calote, e, por fim, pagam os melhores juros do mundo”, exalta Olegária, a empresária, que teve prejuízo na empresa e lucro na aplicação financeira.

    Adenor, o trablhador, prestou mais atenção no consumo das famílias, (-4,0%), e no consumo do governo, (-1,0). Adenor explica que o tombo do comércio (-8,9%) tem relação com sua decisão de restringir as compras. “Se eu não sei se vou estar empregado no mês que vem, preciso me prevenir”, afirmou. Mas ele e os consumidores em geral não estão sozinhos: o quadro, predominante no ano passado, parece ter sido provocado pela conjunção das decisões: (i) das famílias de reduzir o consumo, assustadas pela deterioração do emprego e da renda, (ii) das empresas de não investir e (iii) do governo de fazer o ajuste fiscal, diminuindo seu consumo e seu investimento.

    Como foi o comércio com os outros países?

    Adenor, o trabalhador também reclamou que todos os importados encareceram demais. Não era para menos, a desvalorização do real frente ao dólar foi de 42%. Pela tabela abaixo, vemos que ainda conseguimos aumentar as exportações (6,1%), mesmo com um quadro débil na economia mundial, mas freamos bruscamente as compras do exterior (-14,3%), tanto para consumo quanto para investimento.

    Ano duro para todos, especialmente para aqueles que não conseguiram emprego. 2016 ainda não deu nenhum sinal de que vai ser muito diferente, mas ainda é cedo. De repente, Olegária, a empresária, conclui que vai perder espaço se a indústria automobilística começar a voltar e ela não estiver preparada com maquinário mais moderno. Adenor, o trabalhador, pode ver que os preços estão baixos em vários mercados e resolve arriscar uma compra. E Glenda, da Fazenda, seu chefe e seus colegas, a seu turno, podem concluir que é preciso adiar o ajuste, que é preciso investir para a máquina voltar a girar e, só assim, recuperar a arrecadação do governo.

    Puxando para o lado oposto à retomada do crescimento está o nó político, que Olegária, a empresária, Adenor, o trabalhador, e Glenda, da Fazenda, sabem que ainda está por desatar. Para piorar, eles ainda ouvem, todos os dias, na televisão que o Brasil acabou.

     

    Se você quiser mais informações, veja os dados do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais – IBGE em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/defaultcnt.shtm