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  • Com Bolsonaro, Brasil se torna o paraíso do Coronavírus

    Com Bolsonaro, Brasil se torna o paraíso do Coronavírus

    Por Dacio Malta*

    O auxiliar de coveiro e ministro da Covid, Eduardo Pazuello, general paraquedista que usou o dispositivo para pousar no cargo que ocupa, não entende nada de Saúde. Sua especialidade no Exército é logística de munição – uma função pomposa mas totalmente inútil para um país que não está em guerra.

    Para auxiliá-lo no ministério, Pazuello convocou mais de uma dezena de coronéis e oficiais de menor patente para preencher cargos que deveriam ser de médicos, cientistas, sanitaristas e infectologistas. Mas ele achou mais fácil trabalhar com os seus “cães de guerra”, como já declarou.

    Nos finais de semana, o auxiliar de coveiro veste um jeans e uma camiseta e, ao lado do chefão, participa das manifestações antidemocráticas junto à boiada, defendendo o fechamento do Congresso e do STF, e pedindo a implantação do AI-5 e uma intervenção militar com Bolsonaro no poder.

    Pazuello não é o que existe de pior neste governo.

    Não porque seja um estranho no ninho onde pousou, mas porque é mesmo difícil dizer o que existe de pior em uma administração que ignora a ciência, combate à imprensa, despreza as pessoas, protege os fascistas, blinda os filhos milicianos, se cerca de desqualificados, não tem programa para nenhuma área. E, quando se reúne, como no dia 22 de abril, é para filmar uma conversa de botequim e selecionar os melhores momentos para inflamar seus adeptos com uma propaganda barata e sem o menor pudor.

    Mas o general da Covid – que será julgado e, certamente, condenado pela História – decidiu agora convocar um civil, tão despreparado para a função como os militares que o cercam.

    Carlos Wizard, do cursinho de inglês para um dos cargos mais importantes do Ministério da Saúde. E daí?
    Carlos Wizard, do cursinho de inglês. E daí?

    Um tal Carlos Wizard, de sobrenome conhecido para quem faz esses cursinhos de inglês, é o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos em Saúde (SCTIE), um dos cargos mais importantes do ministério, e que estava sendo ocupado pelo professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Antonio Carlos Campos de Carvalho, um dos poucos nomes indicados pelo ex-ministro Nelson Teich.

    Sua secretaria terá a incumbência de formular políticas nacionais de ciência e inovação em saúde, assistência farmacêutica, além do fomento à pesquisa, desenvolvimento e educação.

    Sua experiência é zero. Mas como diz o capitão: “E daí?”

    Wizard era proprietário do curso de inglês que leva seu nome, vendeu-o para um grupo estrangeiro, e hoje dedica-se às marcas Mundo Verde e Pizza Hut.

    Paralelamente às questões sanitárias, vai importar o Taco Bell “um fast-food com muitos fãs no Brasil”.

    Wizard é filho de família humilde – pai caminhoneiro e mãe costureira – que frequentavam a igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Por conta dos contatos que teve com missionários norte-americanos, aprendeu inglês.

    Aos 17 anos viajou para os EUA levando 100 dólares no bolso e, sabe-se lá como, tornou-se “bilionário”, como ele se declara em perfil no Wikipedia.

    No Instagram, o espertalhão gosta de postar fotos com Bolsonaro, com a terceira primeira dama Michelle, com Eduardo Bananinha e a ministra da goiabeira.

    Antes da posse, prometeu entupir a população de cloroquina.

    Se uma pessoa apresentar algum sintoma da Covid, basta se dirigir a um hospital para começar o tratamento preventivo. E a droga será ministrada ainda a todos os que o cercam, como esposa, filhos, empregados, vizinhos e afins.

    Para a próximo mês, Wizard fez uma promessa mais diabólica: ele quer recontar o número de mortos pelo coronavírus – já que os dados divulgados até agora são “fantasiosos ou manipulados”.

    A Bela Megale, de ‘O Globo’, ele sentenciou:

    – Tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesses de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocaram todo mundo como Covid. Estamos revendo esses óbitos.

    Para o coveiro da nação e morador do Alvorada, seu novo contratado está se saindo melhor que a encomenda.

    *Dacio Malta trabalhou nos três principais jornais do Rio – O Globo, Jornal do Brasil e O Dia – e na revista Veja.

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  • Diário do Bolso: o Messias da cloroquina  e o Trump

    Diário do Bolso: o Messias da cloroquina e o Trump

     

    Pô, Diário, esse negócio de cloroquina é o seguinte: o Trump falou que era bom, tem apoiador meu que produz a bagaça e eu tinha que arranjar uma cura milagrosa, porque afinal de contas eu sou o Messias, pô!

     

    Juntei as três coisas e eu apostei firme. Disse que isso aí ia curar aquilo lá e virei garoto-propaganda da cloroquina. O Bolsoquina! Até mandei o exército fazer um monte dessa droga de droga.

     

    Eu achava que ia ficar com fama de milagroso e o exército podia posar de bonzinho na história toda.

     

    Mas aí as pesquisas avançaram e desmentiram o milagre, o Trump deu pra trás, um monte de gente começou a morrer (o que as pessoas não fazem pra me prejudicar…), e o pessoal percebeu que a cloroquina não tirava ninguém da cova. Pelo contrário.

     

    Só que eu já tinha dado a minha palavra e o exército estava produzindo o negócio à toda, torrando dinheiro público.

     

    O que eu ia fazer? Voltar atrás? Dessa vez não dava. E olha que eu volto mais atrás que caranguejo.

     

    Decidi que essa porcaria ia ser usada e ponto final. Se salvar unzinho só, a gente vai lá, filma e põe no programa eleitoral de 2022. A minha turma e os meus robôs espalham pra meio mundo pelo zap-zap e pronto: vai fazer mais sucesso que a mamadeira de piroca. Aposto que os bispos até vão dizer nos cultos: “Messias é o messias!”

     

    O Mandetta e o Teich, que não quiseram cloroquinar comigo, mandei pro olho da rua.

     

    Mas, como eu não sou bobo, já fiz uma Medida Provisória garantindo que “possíveis equívocos” cometidos por agentes públicos durante o combate à Covid-19 não podem ser punidos. Assim, eu e os médicos que usarem a cloroquina vamos ser que nem o 007: “com licença para matar”, kkk!

     

    Só preciso achar um ministro da Saúde que assine o novo protocolo. Pelo jeito vai ser o general Pazuello mesmo. Ele não é médico e não vai manchar o currículo dele se morrer um montão de gente.

     

    Eu acima de tudo! Cloroquina em cima de todos!

     

    Por José Roberto Torero, autor de livros, como “O Chalaça”, e vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S.Paulo entre 1998 e 2012.

    @diariodobolso

     

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  • Bolsonaro deve deixar Saúde com Pazuello, que confunde homens com cavalos

    Bolsonaro deve deixar Saúde com Pazuello, que confunde homens com cavalos

    Por Dacio Malta*

    O general Eduardo Pazuello chegou ao ministério da Saúde usando o instrumento que melhor sabe manejar: um paraquedas.

    O médico bolsonarista Nelson Teich assumiu sua pasta tonto e, 28 dias depois, estava atordoado.

    Sem força e sem equipe, aceitou o general para ocupar a secretaria geral e, em menos de uma semana, foi engolido por mais 30 militares gulosos que ocuparam todas as chefias do ministério.

    O presidente começou a fritar Teich na terceira semana, torcendo para que ele pedisse o boné.

    Se tivéssemos um governo minimamente competente e previsível, o substituto seria nomeado na mesma tarde.

    Mas o que fazer?

    Educação e Saúde são os dois ministérios mais cobiçados pelos políticos, quanto mais em meio a uma negociação como a que existe no momento,  com o bloco mais fisiológico da Câmara – o chamado Centrão.

    Mas nem eles querem o rabo de foguete.

    Recusaram o convite e sugeriram que o general cumpra um mandato tampão, até que acabe a crise da pandemia.

    Já os generais do Planalto, torcem para que a pasta seja entregue a um civil, pois não desejam ver os milhares de mortos, que ainda vem por aí, caírem no colo de um militar. Certamente mais de 90% dos médicos votaram em Bolsonaro e, pelo menos até a “gripezinha”, esse índice não havia diminuído.

    Mas quem tem um currículo a preservar não vai jogá-lo no lixo só para agradar um capitão maluco, despreparado, tosco, ignorante, mal educado e criador de caso – que nem o Exército quis preservar em suas fileiras.

    Currrículo de Pazuello, no site do ministério: nada a ver com a Saúde
    Pazuello no site do ministério: nada a ver com Saúde

    Em meio à tragédia sanitária, econômica e política que nos aflige, Bolsonaro deve acabar optando mesmo por Pazuello, o paraquedista que tem gravado em sua ficha funcional o fato de ter colocado um soldado, no lugar de um cavalo, para puxar uma carroça – forma de punir um indisciplinado.

    Pazuello, como militar obediente, será agora o cavalo que puxará a carroça do capitão.

    O general, caso efetivado, chegará fraco, pois ficará claro que, depois de várias sondagens, o presidente não encontrou um nome que aceitasse o desafio. Por isso sua nomeação.

    A Wikipédia ensina que ordem unida “é uma formação habitual dos componentes de uma tropa”, que aceitam os comandos “dados pelo oficial, graduado ou o mais antigo presente à frente do grupo, em tom firme, enérgico e que inspire respeito à figura da autoridade presente”.

    Em termos práticos, a ordem unida serve para mostrar quem manda.

    É também a forma mais eficaz de ensinar os subordinados a respeitarem seus superiores.

    Na ordem unida não existe discussão.

    Aos poucos, o capitão vai disseminando o que aprendeu em seus primeiro dias de AMAN, a Academia Militar das Agulhas Negras.

    E Pazuello, que chegou como número 2, assim continuará.

    O ministro de verdade será Jair Bolsonaro.

    O aspecto positivo é que, nessa condição, o presidente não poderá mais recusar a função que vem desempenhando, com enorme afinco, desde meados de março: o de coveiro da nação.

     

    *Dacio Malta trabalhou nos três principais jornais do Rio – O Globo, Jornal do Brasil e O Dia – e na revista Veja.

     

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