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Tag: PÁTRIA LIVRE

  • Sem-terra resistem e PMs batem em retirada

    Sem-terra resistem e PMs batem em retirada

    Na última terça-feira, 17, os acampamentos Zequinha e Pátria Livre, em São Joaquim de Bicas, na Grande Belo Horizonte, foram invadidos por viaturas da Polícia Militar que, sem nenhum mandado judicial, montaram um cerco intimidando as 5 mil pessoas que lá residem. A PM chegou até a armar uma tenda no acampamento. A invasão durou 42 horas, até as 6 horas desta quinta-feira, 19, quando a tropa de choque deixou o local duas horas após o horário estabelecido em acordo.

    Porém, os policiais não saíram sem deixar a marca da violência na área, uma fazenda improdutiva do empresário mineiro Eike Batista. Na noite de quarta-feira, a PM destruiu uma bandeira do MST e avançou para dentro dos lotes atropelando os moradores e apoiadores, além de destruir jardins e plantações. Logo após um ato político inter-religioso celebrado pelo bispo Dom Vicente, os policiais desrespeitaram a liderança religiosa da Diocese de Belo Horizonte, atuando de forma desmoralizante e agressiva, afirmando que continuariam a invasão se fosse necessário.

    Em uma ação de criminalização dos pobres e dos movimentos populares, a Polícia Militar reproduz na região metropolitana de Belo Horizonte a mesma violência aplicada às famílias Sem Terra de Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha, de Campo do Meio, no Sul de Minas, e do Vale do Rio Doce. A responsabilidade das vidas colocadas em risco nesses territórios é do governo de Romeu Zema (NOVO) e do general Mário Lúcio Alves de Araújo, secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, por serem coniventes com a violência da ação irregular irresponsável.

    “O que nós vivemos aqui é uma reintegração de posse forçada, na tentativa de nos desestabilizar com tiros e com ameaças, da mesma forma que aconteceu e acontece no acampamento Quilombo Campo Grande, no Sul de Minas, e no acampamento Terra Prometida, no Jequitinhonha. Nós estamos aqui para denunciar o crime da Vale em Brumadinho e a exploração do território pela mineração que não traz riquezas para os municípios, e a única saída para o conflito é a garantia da terra”, disse Mirinha Muniz, da direção estadual do MST.

    “A luta continua, seguimos ocupando as terras improdutivas de corruptos, terras da especulação imobiliária e da mineração predatória, combatendo o agronegócio e o capital que nos violenta, contra todas as formas de opressão. A justiça na terra se faz com reforma agrária e não com violência” acrescentou Mirinha.

  • Saber tradicional em risco: conheça a história de Dona Ana, atingida pelo crime de Brumadinho (MG)

    Saber tradicional em risco: conheça a história de Dona Ana, atingida pelo crime de Brumadinho (MG)

    Desde que o Acampamento em São Joaquim de Bicas foi ocupado, no dia 26 de julho de 2017, Ana Margarida, mais conhecida como Dona Ana, planta ervas medicinais e tem aproximadamente 50 espécies no quintal de casa. Ela entendeu que o seu papel no Movimento era cuidar do outro com amor, e fazer parte do setor de saúde do MST. “O meu objetivo aqui é cuidar das plantas medicinais, para ajudar o pessoal no tratamento, aliviar o bolso e a dor de cada um.”
     
    Foto por Agatha Azevedo | Jornalistas Livres

    Em seu quintal, uma infinidade de plantas – que servem para a prevenção e cura de doenças e ela compartilha com todos que precisam. “Eu não sou sem teto, sou sem terra, quero terra para plantar, eu amo as plantações e onde eu morava eu não tinha onde plantar!”. Assa-peixe, Saião, e Cordão de Frade são mais do que ornamentação para a senhora, que está na luta pela terra.

     
    Sobre o Rio Paraopeba, ela conta que conheceu várias pessoas que morreram na tragédia, e sente hoje a dor que todos os acampados na região sentem, por não poderem mais pescar, nadar, lavar roupa no rio, e principalmente, regar as suas hortas. Após 48h fora de suas casas por segurança, os moradores que vivem à beira do Paraopeba ainda convivem com o sentimento de insegurança diário, tanto pela água poluída, como pelo risco de que o rio transborde.  
    Dona Ana olha para a sua vida e reflete que, mesmo após tanta luta, a perda da bacia do Paraopeba, poluída pela lama dos rompimentos de barragem em Brumadinho (MG), outras perdas estão por vir por conta da ganância da Vale. “A gente pode até perder a plantação por causa da água, e acabou a questão de pescar um peixinho de vez em quando. O rio está morto, infelizmente.. só temos lama”. Com esperança, ela olha para o rio e relembra os momentos vividos ali. “Mas enquanto a gente vive, existe luta, a gente já está aqui a tanto tempo, tivemos um trabalho tão grande, e eu estou disposta a lutar!”
     
    Foto por Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto por Agatha Azevedo | Jornalistas Livres
    Foto por Agatha Azevedo | Jornalistas Livres