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  • Neonazistas invadem reunião de mulheres sobre racismo

    Neonazistas invadem reunião de mulheres sobre racismo

    Publicado em 12 de junho 2020

    Uma reunião virtual que discutia estratégias de combate ao racismo com mais de 70 convidados, a maioria mulheres, foi interrompida por imagens de cabeças sendo cortadas, um homem se masturbando, pedidos de morte a mulheres e a figura de uma suástica na quarta-feira (10/06), em Florianópolis.

    Os relatos de duas das organizadoras, ouvidas pela BBC News Brasil, seguem um padrão semelhante ao de pelo menos seis outros ataques registrados em debates virtuais feitos por meio de aplicativos nos últimos dois meses. O encontro havia sido organizado pelo Icom (Instituto Comunitário Grande Florianópolis) com o tema “Que tipo de práticas antirracistas podem ser adotadas pela sociedade civil organizada?”.

    A maioria dos convidados havia se inscrito previamente por meio de um formulário disponibilizado pelo instituto. “Mas, uma hora antes, divulgamos o link direto para o evento em nossas redes sociais para aqueles que quisessem participar de última hora”, explica Mariana de Assis, uma das organizadoras. “Eles entraram depois de uma hora de webnário, quando tínhamos mais de 70 pessoas participando. Toda a nossa equipe é formada por mulheres, 95% das presentes também eram mulheres. De repente, entra uma música dizendo que mulher tem que morrer, depois outra janela mostrando pornografia, outro comentando, fazendo ataques. Foram dois minutos de ataques até que a equipe conseguiu tirá-los”, explicou Assis.

    O instituto, uma organização sem fins lucrativos criada há 15 anos na capital catarinense, registrou um boletim de ocorrência após o episódio, ao qual a BBC News Brasil teve acesso. À reportagem, a diretora da polícia civil na Grande Florianópolis, delegada Eliane Chaves, disse que vai instaurar um inquérito para apurar as denúncias. O vídeo da reunião foi gravado e será uma das fontes para a investigação.

    Ataques semelhantes

    Homem se masturba durante reunião de zoomFOTO: REPRODUÇÃO
    Homem se masturbou durante ataque a reunião virtual na plataforma Zoom, na última quarta-feira

    O episódio em Florianópolis segue padrão semelhante ao de outros ataques registrados nas últimas semanas em diferentes estados. No início de abril, uma vídeochamada organizada pela SBI Imuno e pela Agência Bori pelo aplicativo Zoom discutia a pandemia do novo coronavírus com 60 participantes quando foi interrompida por imagens de Hitler.

    Em maio, um debate sobre divulgação científica organizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência foi interrompido por ofensas racistas e saudações nazistas. Na última semana, pelo menos quatro ataques semelhantes foram registrados. Na segunda-feira, um debate universitário sobre negritude com professores da Universidade Federal da Bahia também foi interrompido por imagens de conotação racista. Segundo uma das organizadoras, a reunião foi suspensa após inúmeras tentativas de retirar os estranhos do ambiente, que festejaram a decisão aos gritos de “mito, mito” – em referência ao presidente Jair Bolsonaro.

    Já na terça-feira, um ataque durante o webinário Atlântico Negro, organizado por professores da Unicamp, também foi “invadida de forma massiva por vozes e imagens que impediram o direito de fala da professora da Unicamp, dra. Lucilene Reginaldo, bem como de todos que acompanhavam a atividade, numa clara agressão à missão que a sociedade entregou à universidade de produzir conhecimento e difundi-lo de forma livre e democrática”, segundo nota emitida pela universidade.

    “Esse gesto violento e autoritário procura também, por meio da intimidação, calar os avanços que a sociedade realizou nas últimas décadas no reconhecimento da injustiça representada pela escravidão. Procura, na mesma lógica racista que sustentou a escravidão, ocultar a competência intelectual dos negros, impedir sua manifestação pública e seu direito elementar de ter protagonismo na construção do conhecimento a respeito de sua própria história”, prossegue a nota.

    No mesmo dia, um evento organizado pelo centro acadêmico da faculdade de direito da UFRJ foi “alvo de uma invasão promovida por um grupo neonazista durante o evento do Conhecendo o CACO na plataforma Zoom”. “Diante de imagens nazistas, vídeos de pornografia e fotos de pessoas mutiladas exibidas em nossa reunião com calouros e calouras, vimos necessidade em levar a ocorrência às autoridades competentes”, diz o centro, em nota.

    Porta fechada

    VideoconferênciaGETTY IMAGES
    Especialista defende que acesso a reuniões por videoconferência seja restrito, para evitar ataques como os que foram registrados nas últimas semanas

    Para Renato Opice Blum, especialista em crimes digitais e um dos advogados da plataforma Zoom no Brasil, os ataques poderiam ser tipificados como uma série de crimes, incluindo ameaça, calúnia, injúria e difamação, além de injúria qualificada e racismo. “A figura da suástica é inclusive citada na descrição do crime de racismo”, diz.

    Professor de proteção de dados e direito digital do Insper, Blum afirma que a plataforma Zoom “não tem responsabilidade” sobre este tipo de ataque. “Não são problemas que decorrem da ferramenta, mas da situação comportamental”, diz. “As plataformas, não só o Zoom, são muito seguras. Inseguro é o ser humano.”

    “Recomenda-se que, quando uma reunião for realizada, não se divulgue o link nas redes sociais e que a reunião fique restrita. O administrador tem que autorizar ingressar na videoconferência”, afirmou a delegada-chefe da polícia da Grande Florianópolis.

    O advogado sugere que o acesso às reuniões seja restrito. “Normalmente, essas invasões acontecem porque as pessoas divulgam o canal de acesso, o link. É como deixar as portas de casa abertas”, diz. Mas ele completa: “Mas não é porque você deixou a porta de casa aberta que você é responsável por um eventual ataque à sua casa.”A recomendação, segundo o advogado, é registrar a queixa em qualquer delegacia. “Não precisa ser uma delegacia especializada em crimes digitais.”

    Mariana Assis, uma das organizadoras do evento em Florianópolis, conta que precisou abandonar a reunião. “Eu estou traumatizada. Fiquei com muito medo e caí no choro. Ainda faltavam 40 minutos e eu, enquanto mulher preta, não tive mais condições de continuar, não, não tive força para me posicionar nas minhas mídias sociais e não sei como vou conseguir lidar com isso daqui para frente. Nem sozinha eu estou conseguindo ficar em casa”, diz.

    A professora Lia Vainer Schucman, do Departamento de Psicologia da UFSC, foi quem continuou a condução do debate. “Na hora, eu fiquei super assustada, não sabia que havia essa prática de invasões e demorei para entender. Uma coordenadora disse que havíamos sido invadidos e, na hora, um dos homens desenhou uma suástica”, contou Schucman, que é judia, à reportagem. “Os mediadores conseguiram tirá-los. Eu já fui muito atacada e hoje lido bem. Parei, respirei e propus uma análise sobre o que tinha acontecido. Falei sobre como esse tipo de ataque é comum quando as vozes negras questionam a hegemonia branca”, disse.

    “Apesar de tudo isso, nós temos uma rede forte e isso me dá esperanças. Muita gente veio se solidarizar. Para além disso, espero do fundo do meu coração que a justiça seja feita e que os responsáveis sejam presos”, diz Assis.

  • Estúpido homem branco

    Estúpido homem branco

    Por: Roberto Ponciano*

     

     

    Wilhelm Reich é, sem sombra de dúvida, um dos comunistas mais malditos na história. Com sua teoria do orgasmo, conseguiu ser odiado pelos nazistas, pela sociedade de psicanálise, pelo Partido Comunista Alemão e pelo Comintern, e quando se julgava tranquilo, já no período final da vida, cantou loas à “democracia estadunidense”, com certeza seu maior engano, e foi preso e assassinado com algum tipo de veneno numa injeção. Ele pintou com maestria o nazismo, a “praga psíquica” que assolava a Alemanha, em seu livro ‘Psicologia de massas do fascismo’, e mostrava que o nazismo não era um fenômeno puramente econômico, mas tinha suas raízes na miséria moral, no recalque, na violência, no ressentimento. O nazista é, por definição, o homem ressentido.

    O homem branco estúpido, com seu terror homossexual (medo psiquiátrico das próprias pulsões sexuais), seu ressentimento pela própria estupidez e deslocamento na sociedade, seu naufrágio num mundo de empregos precários, em que ele cada vez e menos faz parte de uma classe média brasileira que nunca foi uma classe média clássica, e cada vez e mais faz parte de um lumpesinato de serviços precários; mas que quer salvar-se desta deriva ao criar uma imagem narcisista no espelho de ser o descendente do colonizador branco.

    Estes milhões de lumpesinato pobre ou remediado, sem nenhuma perspectiva de futuro e nenhum projeto ideológico social, esta massa difusa e caótica, foi o público que o nazismo bolsonarista achou para crescer como cogumelo na chuva.

    Junta-se a isto igrejas da terceira onda neopentecostal, da teologia da prosperidade, que cada vez são menos igrejas e cada vez mais são partidos políticos ultrafascistas (de submissão das mulheres, homofóbicos, de pregação do medo ao comunismo imaginário). Estas entidades se organizam como verdadeiras células, bairro a bairro, rua a rua, e o que elas menos fazem é pregar a transcendência. Além da magia simpática mais primitiva, prometendo curas impossíveis, através de indulgências, o que elas fazem é criar uma ideologia na qual Deus é Mamon, é o capital, e numa estranha jogada de consórcio de Deus, onde pessoas compram a ajuda divina visando a ter sucesso pessoal e financeiro.

    Esta mistura bizarra é o combustível e o exército que anima o bolsonarismo, o nazismo brasileiro. E não nos iludamos, vai sobreviver a Bolsonaro. E vai sobreviver por um fato. Eles são ideológicos. O fascismo saiu do armário e assumiu todas as suas posições: a misoginia (pregada inclusive por “mulheres antifeministas” – o que corrobora o fato que além de Marx é necessário ler Freud e Reich para entender o nazismo), a homofobia, o ódio à esquerda, a mitologia louca de um nacionalismo sem projeto, que não vai além de vestir verde e amarelo e clamar contra o comunismo, ao mesmo tempo que se entrega todo patrimônio nacional. O fantasma do comunista andante imaginário os anima e os une, da mesma forma que na Alemanha Hitler criou o mito do comunismo andante.

    Por sua vez a esquerda não tem combatido o nazismo por três razões:

    Não nomeia o bolsonarismo como nazismo ou fascismo e é tímida em combater, por exemplo, pastores que transformam suas igrejas em partidos fascistas, porque, como esquerda eleitoral e com projeto alicerçado sempre no coeficiente eleitoral, tem medo de “magoar” eleitores que seguem pastores de política assumidamente fascistas, como Malafaia e Feliciano;

    De outro lado, como uma esquerda com um projeto puramente eleitoral, a resposta à radicalização da direita é tentar disputar votos sem “se mostrar ideológica”, mesmo frente a setores da direita cada vez mais radicalizados e definidos, porque organizados ideologicamente. Portanto, a esquerda não trava combate ideológico com estes setores;

    Como o projeto passou a ser puramente eleitoral, as máquinas partidárias da esquerda não se organizam mais territorialmente e não formam militantes. Pelo contrário, formam e conformam máquinas eleitorais que são preparadas para disputar eleições de 2 em 2 anos.

    Assim, a direita fica cada vez mais ideológica e organizada enquanto a esquerda brasileira é cada vez mais pulverizada, “horizontal”, desorganizada e doente do chamado cretinismo parlamentar. Vive quase que inteiramente para eleição, sendo sua base no movimento social apenas uma base de apoio para os movimentos eleitorais. Isso explica a falta de reação ao golpe contra Dilma e as dificuldades para organizar grandes ações de rua contra Temer e agora contra Bolsonaro.

    É óbvio que este artigo não tem como objetivo dizer que não devemos dar importância às eleições, não é um artigo de um esquerdista lunático que vive repetindo nas redes sociais “vamos para as ruas”, mas faz algumas constatações óbvias:

    A. A direita nazifascista organizou-se e veio para ficar. É ideológica, ainda que sua ideologia seja caótica e confusa, mas suas máquinas de fake news e suas organizações financiadas por empresários (Mises, MBL, etc), tem formado militantes orgânicos que retroalimentam suas fileiras, fora as organizações paramilitares milicianas ligadas ao bolsonarismo e as células de algumas igrejas que hoje são organizações políticas fascistas.

    B. A resposta da esquerda foi fazer “autocrítica” eleitoral e das alianças. Mas não basta para enfrentar esta onda. É necessário repensarmos a organização territorial e a formação de militância, inclusive de vanguarda política, com formação política pesada financiada pelos partidos, assim como a profissionalização da nossa rede da web (que está na pré-história da web), com pesado investimento nestas duas vertentes, para podermos voltar a disputar corações e mentes, de igual para igual com a direita.

    A precarização do trabalho cria um exército de lumpesinato desesperado facilmente capturável pelo discurso atávico e de medo do Bolsonaro, ou de salvação mágica de igrejas que hoje são suas aliadas. E nós não estamos oferecendo nenhuma alternativa a isto. Ou voltamos a fazer a disputa ideológica cotidiana, rua a rua, bairro a bairro, ou não construiremos jamais os sujeitos coletivos capazes de derrotar o nazismo, a hegemonia da direita (fascista ou não) e nos dar a possibilidade de conseguir uma hegemonia junto ao povo para voltar ao poder.

     

    *Roberto Ponciano é professor, filósofo, escritor e comunista.

  • Deputada eleita do PSL faz campanha pela perseguição política de professores em sala

    Deputada eleita do PSL faz campanha pela perseguição política de professores em sala

    Especulação de que deputada eleita seria nomeada Secretária da Educação pelo comandante Moisés já provoca levante na comunidade escolar
    REPORTAGEM  ATUALIZADA EM: 2/11, às 22h30min

    Nem tomou posse ainda, a militante do MBL, Ana Caroline Campagnolo, eleita deputada estadual em Santa Catarina pelo partido de Bolsonaro, já tenta instalar o terror político e a discórdia nas escolas públicas estaduais, violando as leis e a Constituição.  No domingo, antes da eleição do seu candidato ser consumada, ela espalhou um aviso nas redes sociais exortando estudantes catarinenses a filmarem ou gravarem “professores doutrinadores” em sala de aula que estariam hoje, segundo ela, “inconformados e revoltados” com a eleição de Bolsonaro. Parlamentares, entidades, advogados populares e gestores da educação pública se mobilizam hoje para pedir a impugnação do seu mandato.

    Natural de Chapecó, no Oeste do estado, mas com domicílio eleitoral em Itajaí, a ativista do Projeto Escola Sem Partido incita os alunos a denunciarem os professores descontentes em suas páginas nas redes sociais, onde costuma posar em fotos ameaçadoras com armas de fogo. Filha de um Policial Militar da reserva e evangélica, depois de eleita, ela publicou um post onde afirma: “Acabou a paz da petezada!”. Noutro, ela posa com um cassetete policial com a inscrição “direitos humanos”, como forma de afronta aos professores dedicados ao ensino dos valores baseados na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

    Causando indignação nacional, a ofensiva viola vários preceitos legais de proteção às escolas, às crianças e adolescentes e à liberdade de cátedra e será motivo de uma ação coletiva de denúncia criminal no Ministério Público. No aviso que publicou e espalhou nas redes sociais, a militante do MBL derrotada na justiça num longo processo de perseguição contra sua orientadora de mestrado iniciado em 2013, escreve literalmente:

    “Muitos deles não conterão sua ira e farão da sala de aula um auditório cativo para suas queixas político partidárias em virtude da vitória de Bolsonaro. Filme ou grave todas as manifestações político-partidárias ou ideológica. Denuncie!” (Ana Caroline Campagnolo, deputada eleita por Santa Catarina)

    Hoje à tarde, o Sindicato dos Trabalhadores na Educação (Sinte) e vários outros sindicatos estaduais e municipais se reúnem com parlamentares, lideranças de movimentos de mulheres e movimentos sociais da Rede Nacional de Advogados Populares para apresentar uma queixa-crime contra a deputada. Um manifesto assinado por oito grandes sindicatos ligados à educação, incluindo a CUT (leia abaixo), foi publicado no final da tarde de hoje (29/10), na página do Sinte.  Entre vários flagrantes de desrespeito à legislação e aos direitos na área da educação, a ofensiva desrespeita a lei estadual 18.289 de 25 de janeiro de 2008, que proíbe expressamente o uso de celular em escolas públicas e particulares. O Estatuto da Criança e do Adolescente também não permite que alunos e professores sejam filmados em sala de aula sem a sua expressa autorização e a dos pais.

    Os movimentos alegam ainda que o Projeto Escola Sem Partido não integra a política pública de educação em Santa Catarina. Além disso, as postagens da candidata ainda não empossada incitam à violência e à discórdia. “Todos que se sentirem ameaçados por ela podem registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia e processá-la, pois sua ação fere a liberdade constitucional de cátedra e viola o direito à proteção de imagem”, afirma a advogada Daniela Felix.

    Aluno aproveita o incentivo à deduragem e delata a própria inquisidora: doutrinação ideológica de quem mesmo?

    Em postagens frequentes, ofensivas e ameaçadoras contra “a esquerdalha” e “petralhada”, as “feministas comunistas”, na qual aparece apontando armas de fogo, Carolina deixa claro que só se elegeu para infernizar a vida de educadores e de alunos que não compactuam com o seu projeto de sociedade falso moralista, excludente e violenta do pensamento único. Em termos concretos, ela acusa os outros do crime de “doutrinação ideológica” que ela mesma pratica e difunde, promovendo a intolerância política e doutrinando as mulheres a serem donas de casa e mães de família submissas, modelo que ela mesma, divorciada e dedicada à política, não segue.

    Como se incitar o ódio contra os movimentos sociais, os partidos de oposição, o pensamento crítico, os grandes legados intelectuais da humanidade, as minorias, a liberdade de ensino não fosse uma doutrina, uma velha doutrina, exterminadora de povos e destruidora da vida em sociedade, chamada NAZIFACSISMO. Uma demonstração bem concreta da hipocrisia do seu projeto e da sua conduta é que durante a campanha do candidato extremista, ela foi trabalhar com a camisa de Bolsonaro. Ironizando o convite à deduragem na escola pública, um ex-aluno seu identificado no twitter como Sebastian (poetjjong), seguiu os seus conselhos e entregou a própria mestra por doutrinação:

    “Professora, lembra do dia que vc usou uma camisa do bolsonaro nas aulas?? pq eu [lembro] sim! ainda por cima posando pra foto com aluno, tsc tsc…”

    The Wall, Pink Floyd em analogia ao Escola Sem Partido

    Ao final do primeiro turno, começou a correr a especulação de que a deputada seria nomeada secretária da Educação pelo comandante do Corpo de Bombeiros, Carlos Moisés da Silva, aposentado aos 40 anos, então candidato a governador pelo PSL, agora confirmado no segundo turno com mais de 71% dos votos. Pela reação da categoria de professores e também de alunos, caso esse boato se confirme, o que está desenhado para o novo governo é um quadro de guerra e de greve já de saída.

    O comportamento persecutório da historiadora do negacionismo, que nega a Ditadura Militar, a tortura, o machismo e até o assassinato em massa de mulheres que foram queimadas vivas no histórico episódio de incêndio a uma fábrica na Inglaterra que marca a luta pelos direitos trabalhistas na Inglaterra, ganha contornos ainda mais doentios com detalhes revelados sobre sua vida pessoal.

    Em Chapecó, a deputada vivia num apartamento adquirido pelo Minha Casa, Minha Vida, Programa de Habitação Popular promovido pelos governos do Partido dos Trabalhadores e foi casada com um militante do PT. Ela chegou a ingressar no Curso de Enfermagem da Universidade Fronteira Sul, criada no Governo Lula da Silva, mas desistiu. Pouco antes de se lançar como Bolsocandidata, ela se mudou para o município de Itajaí, no Norte do Estado, supostamente para aproveitar o Caixa 2 dos biliardários donos das lojas de departamentos do Sul do País, como Luciano Hang da Havan, ou Dalçoquio, que financiou a greve dos caminhoneiros. Através do esquema da Lava-Zap, eles financiaram políticos de extrema-direita como ela, sem nenhuma história de contribuição à sociedade, baseados apenas no discurso do falso combate à corrupção como cavalo de troia para implantar no Brasil um terrorismo de direita. Dizendo-se conservadora e cristã, Campagnolo disputou pela primeira vez um cargo eletivo e jamais ocupou qualquer função pública. Em outras palavras, a “nazipaquita” se elegeu surfando na onda extremista de Bolsonaro e computou 34 mil 825 votos. Sua campanha serviu de exemplo para bolsonaristas ameaçarem professores de perseguição em todo o país.

    PETIÇÃO PÚBLICA PEDE IMPUGNAÇÃO DO MANDATO

     

    Depois das denúncias, Caroline  deixou mais claro o caráter seletivo de sua perseguição. Também diz que estudantes podem usar “gravadores ou câmeras”

    Logo após eleita, o primeiro gesto da musa do fascismo, que fará 28 anos em novembro, foi gravar um vídeo onde ao responder perguntas de internautas afirma que as verbas públicas não resolvem o problema da educação e também acusando a categoria dos professores de serem “dinheiristas, que só pensam no próprio salário”. Todo militante de perfil fascista ama dar publicidade a suas ações de crueldade política, de modo que o horror causado na sociedade encubra a sua mediocridade intelectual e espiritual e o salve do destino à invisibilidade por falta de outros talentos ou méritos.

    As manifestações de repúdio e denúncias contra Campagnolo já começaram a aparecer no domingo (28/10) à noite e pelo movimento nas redes sociais devem originar uma avalanche de protestos. Além de emitir uma nota de repúdio, o Sindicato dos Trabalhadores na Educação de São José (município vizinho a Florianópolis) protocolou no início da tarde de segunda uma representação na Promotoria de Justiça da Capital, em que pede ‘medidas cabíveis’. Afirma a nota pública que a deputada eleita incita o descumprimento da lei do uso do celular e “promove a coação dos professores em sala de aula e o desrespeito aos educadores, comprometendo a didática pedagógica profissional”. A Secretaria de Estado da Educação também emitiu Nota Oficial a respeito e a Ordem dos Advogados do Brasil publicou em sua página uma contundente reprovação da conduta autoritária e anticonstitucional da deputada eleita.

    Em petição pública já com 121 mil assinaturas (atualizado às 19 horas de hoje (29), professores, estudantes e comunidade escolar pedem a impugnação do mandato de Ana Caroline, alegando que a liberdade de expressão dos professores em sala de aula foi explicitamente atacada pelo seu anúncio. O abaixo-assinado denuncia Campagnolo de incitar o ódio ao afirmar inverdades contra professores e provocar um ambiente escolar insalubre. “Nas atribuições em sala de aula, os professores, sobretudo os da área de Humanas, não fazem doutrinação ao ensinarem seus conteúdos, mas os apresentam e promovem debates com a total lisura, respeitando o livre pensamento”. O documento diz ainda:

    “Diante do ocorrido, pedimos que você professor, estudante, pais que prezam por uma Educação livre e democrática, compartilhem e nos ajudem a denunciar a tentativa de cerceamento que os professores já estão sofrendo por uma candidata que mesmo sem ter assumido está se valendo de autoritarismo para promover suas ideias de forma leviana e antidemocrática!”

    A petição lançada no site Avaaz pedindo a impugnação da deputada colheu mais de 413 mil assinaturas até a noite de sexta-feira, 2 de novembro.

     

    DE PERSEGUIDORA DA PRÓPRIA CLASSE À RÉ POR CALÚNIA E DIFAMAÇÃO

    “Candidata armamentista porém fofa”, assim ela se define no Facebook, posando com modelo de arma rosa, especialmente fabricada para mulheres feito ela

    Declarando-se “antifeminista” e “antipetista” radical, a jovem está envolvida em vários casos de perseguição à própria categoria. Graduada em História pela Universidade Comunitária Regional de Chapecó, ela também é professora de ensino médio em uma escola da rede pública estadual de Chapecó. No caso mais famoso, processou sua ex-orientadora de mestrado, a reconhecida historiadora Marlene de Fáveri, após infiltrar-se no Curso de Pós-Graduação em Teorias de Gênero da Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina como uma agente do Escola sem Partido. Marlene aprovou-a no curso pelo projeto de pesquisa intitulado Virgindade e famíliamudança de costumes e o papel da mulher percebido através da análise de discursos em inquéritos policiais da Comarca de Chapecó, que propunha um estudo sobre os casos de estupro na sua região durante a década de 80, simulando uma visão crítica sobre a violência da sociedade patriarcal.

    Assim que ingressou no curso, Caroline começou a armar ciladas contra sua orientadora, filmando-a em sala de aula e divulgando suas falas de forma fragmentada e descontextualizada no Youtube e redes sociais. Paralelamente, manifestava nas redes suas posturas dogmáticas e insultantes contra os movimentos feministas e sociais estudados na pós, valendo-se de pensadores homens de posição ideológica de ultra direita e machista, como Olavo Carvalho. Esses e outros comentários desabonadores do próprio curso que ele frequentava foram alertadas à orientadora pelas próprias colegas de classe.

    Quando isso ocorreu, a orientadora assinou a desistência de sua orientação, alegando incompatibilidade metodológica (o que é previsto no regulamento) e Caroline foi encaminhada para outro professor, identificado com ideologia de direita. Ela mudou seu tema de pesquisa para Segurança Pública, mas foi reprovada na banca pela má-qualidade teórica e escrita do trabalho Traços de Violência e por ter perdido todos os prazos regimentares. Depois de reprovada na qualificação, iniciou, em 2016, a perseguição judicial contra Marlene de Fáveri, alegando discriminação religiosa. Em setembro, o processo foi arquivado em primeira instância, na comarca de Chapecó e julgado improcedente por falta de provas. A inquisidora recorreu da decisão.

    De perseguidora, a militante do Escola Sem Partido tornou-se ré quando no mês seguinte o processo foi revertido contra ela por crime de honra, calúnia, difamação e injúria na 3ª Vara Criminal de Florianópolis, em ação que corre em segredo de Justiça. Apoiada por mais de 30 entidades da América Latina, a historiadora Marlene de Fáveri questiona o uso de seu nome e imagem como exemplo de “doutrinação ideológica” em eventos do projeto Escola sem Partido e em publicações nas redes sociais, incluindo vídeos no Youtube e nas divulgações da ação cível indenizatória por perseguição ideológica contra a professora. Somados os crimes ultrapassam quatro anos e não havendo conciliação, podem levar à condenação com pena privativa de liberdade.  . Segundo os autos, os crimes contra a honra da professora foram cometidos em palestras, publicações em redes sociais

    Leia matéria sobre o caso: https://docs.google.com/document/d/1AY00ZREJc3NdpZmDmUZTPQuYe8Yf3N55WWeO0lmmLuU/edit

     

    OAB/SC repudia manifestação que pede a denúncia de profissionais da educação e impede a exposição do livre pensamento

    29/10/2018

    A Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional de Santa Catarina vem a público manifestar repúdio às manifestações que sugerem a denúncia da exposição de pensamentos político-sociais, e identificação de professores em Santa Catarina. Em que pese a polarização observada em todo o país no recente pleito eleitoral, a OAB/SC relembra a importância da preservação dos direitos constitucionais dos cidadãos e das garantias individuais e coletivas conquistadas a duras penas, em prol da construção e consolidação do regime democrático e republicano brasileiro.

    A OAB/SC tem acompanhado com muita preocupação a disseminação de estímulos à perseguição, violência e intolerâncias diante da livre manifestação, incentivo ao anonimato como meio de ofender o direito à discordância de pensamentos. A instituição entende ainda como um agravante, insuflar alunos a agirem como censores/delatores dos seus próprios professores, numa cultura lamentável.

    Por fim, a Ordem reitera a necessidade essencial do respeito à democracia, à Carta Constitucional e à legislação vigente, dentre elas a própria Lei Estadual n° 14.636/2008, que estabelece a proibição do uso de aparelhos celulares em sala de aula.

    Paulo Marcondes Brincas
    Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional de Santa Catarina

    José Sérgio da Silva Cristóvam
    Presidente da Comissão Especial para Estudo e Parecer na Defesa de Liberdade de Expressão e Autonomia Universitária da UFSC

     

    NOTA CONJUNTA DAS ENTIDADES REPRESENTATIVAS DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DE SANTA CATARINA EM REPÚDIO ÀS MANIFESTAÇÕES DA CANDIDATA ELEITA ANA CAROLINA CAMPAGNOLO

    29/10/2018

    Os sindicatos representantes dos trabalhadores em educação das redes pública e privada municipal, estadual e federal do Estado de Santa Catarina denunciam com perplexidade a publicação da candidata eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL), no último dia 28 de outubro, logo após a divulgação dos resultados do segundo turno das eleições 2018, na qual a mesma orienta estudantes a filmar os professores em sala de aula para denunciá-los por uma suposta “doutrinação”.

    Esse tipo de ameaça publicada em rede social é um ataque à liberdade de ensinar do professor (liberdade de cátedra), tipicamente aplicado em regimes de autoritarismo e censura. É mais grave ainda por partir justamente de alguém recém-eleita para um cargo público, e que deveria fiscalizar o cumprimento das leis.
    A sugestão de denúncia dos professores por estudantes caracteriza um assédio e uma perseguição em ambiente escolar, algo que remonta aos tempos da ditadura civil-militar brasileira.

    A educação formal brasileira tem seus critérios estabelecidos na Constituição Federal de 88 e na Lei 9.394/96 – a LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, cuja base é a gestão democrática e o pluralismo de ideias.
    Os próprios sistemas de ensino, as escolas e os/as educadores/as têm autonomia para propor, em conjunto com toda a comunidade escolar, o currículo e demais atividades pedagógicas. Atitudes de provocação interferem de forma ilegal e inconstitucional no processo democrático de organização escolar, extrapolando a competência de fiscalização do trabalho escolar e do acompanhamento das atividades profissionais feitas pelas equipes pedagógicas.

    O histórico da candidata eleita é repleto de perseguições, provocações e desrespeitos ao magistério, além de constantes manifestações públicas de incitação à violência. Já declarou que o problema da educação é que “os professores só pensam em dinheiro e seu salário”. Em sua página nas redes sociais, trata os professores como inimigos que precisam ser “desmascarados”.

    Campagnolo também teve uma ação julgada improcedente contra uma professora da UDESC. Neste caso, mais de 30 entidades da América Latina se manifestaram a favor da professora Marlene e contra a candidata eleita.

    A lei da mordaça (“Escola Sem Partido”) em que a deputada baseia seus ataques já foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e considerada censura e afronta à liberdade de expressão de estudantes e professores pela Organização das Nações Unidas (ONU).

    Na prática, Ana Caroline comete justamente aquilo de que acusa os docentes: o estímulo à violência e à barbárie. Há pouco tempo, repercutiram na internet imagens da candidata eleita segurando um cassetete com a expressão “direitos humanos” ou empunhando armas.

    Os sindicatos representantes dos trabalhadores em educação repudiam mais essa ofensa e veem tal provocação como uma atitude antipedagógica prejudicial não apenas à educação – a qual deve ser sempre democrática, plural e livre de perseguições –, mas a toda a sociedade.

    Ao contrário do que Campagnolo afirma, as melhorias na educação dependem sim de mais investimentos, especialmente no precarizado setor público – seja para materiais pedagógicos, infraestrutura, valorização salarial, inclusão, concurso público, redução do número de alunos por sala e outros.

    Por fim, a candidata eleita deveria lembrar aos seus seguidores que as agressões e o desrespeito aos professores em sala de aula só vêm aumentando, e que tal posicionamento agrava a violência em um ambiente que deveria ser de civilidade, respeito, aprendizado e formação.

    Não podemos permitir que a escola se transforme em palco desse autoritarismo populista que ataca e ameaça os estudantes, os trabalhadores e as trabalhadoras da educação. É preciso sempre lutar em defesa da educação democrática, plural, laica e de qualidade!

    ASSINAM:
    CUT-SC – Central Única dos Trabalhadores Santa Catarina
    SINTE-SC – Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina
    (FETRAM-SC) – Federação dos Trabalhadores Municipais de Santa Catarina
    SINTRASEM – Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis
    SINTRAM-SJ – Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de São José
    SITRAMPA – Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Palhoça
    SINPROESC – Sindicato dos Professores no Estado de Santa Catarina
    SINTRAFESC – Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público de SC

     

    NOTA DE REPÚDIO

    29/10/2018

    Nós do Sindicato dos trabalhadores em educação da regional São José denunciamos a prática da Deputada Ana Carolina Campagnolo eleita para assumir o cargo de deputada estadual em SC em 2019, que em sua última postagem na noite do dia 28/10/2018 induz os alunos a descumprirem a LEI Nº 14.363, DE 25 DE JANEIRO DE 2008, que Dispõe sobre a proibição do uso de telefone celular nas escolas estaduais do Estado de Santa Catarina.

    Tal postagem incita a coação dos professores em sala de aula, e promove o desrespeito aos educadores, comprometendo a didática pedagógica profissional.

    A mesma por ser uma futura legisladora que deve cumprir com suas obrigações constitucionais não pode promover o descumprimento das leis. Nesse sentindo solicitamos ao MP que tomem as providências cabíveis.

    Ingrid Assis
    Dirigente de Assuntos Políticos
    SINTE SJ

     

    COMUNICADO

    SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE SANTA CATARINA

     

    LEI Nº 14.363, DE 25 DE JANEIRO DE 2008

    Procedência: Dep. Antonio Aguiar
    Natureza: PL./0402.4/2007
    DO: 18.289 de 25/01/08
    Fonte: ALESC/Coord. Documentação
    Dispõe sobre a proibição do uso de telefone celular nas escolas estaduais do Estado de Santa Catarina.
    O GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA,
    Faço saber a todos os habitantes deste Estado que a Assembléia Legislativa decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
    Art. 1º Fica proibido o uso de telefone celular nas salas de aula das escolas públicas e privadas no Estado de Santa Catarina.
    Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
    Florianópolis, 25 de janeiro de 2008
    LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA
    Governador do Estado

    CORRESPONDÊNCIAS TERRORISTAS

    Ainda na segunda-feira, o ex-vereador pelo PCdoB de Florianópolis, João Ghizoni, denunciou nas redes sociais o recebimento de uma correspondência apócrifa com remetente de Balneário Camboriú, que fica a meia hora de Itajaí, onde mora a deputada eleita. Dentro do envelope destinado ao diretório do PCdoB, em Florianópolis, havia duas folhas grampeadas, uma com montagens de fotos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na prisão, acompanhadas de ofensas ao candidato Fernando Haddad. A outra folha traz fotos da deputada eleita posando com armas de fogo e a mensagem ameaçadora em letras garrafais no alto da página: “PETISTAS: NÃO SE METAM COM BOLSONARO”. Outra mensagem abaixo das fotos finaliza o recado que lembra táticas terroristas de direita de última categoria: “DEPOIS NÃO DIGAM QUE EU NÃO AVISEI”.

    ATUALIZAÇÕES:

    MPSC DENUNCIA DEPUTADA POR “SERVIÇO ILEGAL DE CONTROLE POLÍTICO-IDEOLÓGICO DE PROFESSORES”

    Enquanto instiga alunos a delatarem professores que não sejam neutros e imparciais, deputada se sente autorizada a propagar sua própria ideologia do ódio. Só que não!

    Numa ação coletiva pública exemplar, o promotor do Ministério Público, Davi do Espírito Santo, entrou na justiça na terça-feira (30) para que a deputada estadual eleita por Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo (PSL) pague indenização de R$ 70 mil por criar um  “serviço ilegal de controle político-ideológico da atividade docente”. Por essa iniciativa, o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) pede a condenação por danos morais coletivos no valor de R$ 1,00 para cada um dos 71 mil 515 seguidores da deputada em uma rede social, tomando como critério de cálculo o potencial de compartilhamento de cada um. O dinheiro deve ser destinado ao Fundo para Infância e Adolescência (FIA), segundo a própria denúncia.

    Ao solicitar o deferimento da liminar (decisão temporária), o promotor pede que ela se abstenha de manter qualquer tipo de controle ideológico das atividades dos professores e alunos de escolas públicas e privadas do estado. A defesa da deputada afirmou que vai aguardar citação formal para se manifestar sobre o caso.  O Ministério Público Federal (MPF) também investiga o caso e instaurou um inquérito sobre o assunto na segunda (29). No pedido de liminar, o MPSC pede à Justiça ainda que a deputada eleita seja obrigada a retirar das redes sociais o post que instiga a perseguição ideológica de professores e ainda que a operadora de celular bloqueie o canal divulgado pela parlamentar para envio dos vídeos resultantes desse processo de “deduragem política” nas escolas públicas.

    A peça jurídica de admirável coragem e brilhantismo para esses tempos de adesão do judiciário à política da truculência, o promotor de justiça David do Espírito Santo foi firme em defesa da democracia constitucional e da liberdade de pensamento. Conforme ele, a deputada “implantou um abominável regime de delações informais, anônimas, objetivando impor um regime de medo”. Ao citar a Constituição Federal, ele destaca: “O direito à crítica pode e deve ser exercido na escola, sem cerceamentos de opiniões políticas ou filosóficas”, afirma o promotor. Nessa linha, a ação civil pública tem como objetivo, segundo o PMSC, “garantir o direito dos estudantes de escolas públicas e particulares do estado e dos municípios à educação segundo os princípios constitucionais da liberdade de aprender e de ensinar e do pluralismo das ideias”.

    O uso de canais informais e privados para o recebimento de denúncias de supostas irregularidades ou desvios de conduta cometidas por funcionários públicos não tem é reconhecido pela legislação nacional, conforme argumentou o promotor. “É ilegal o uso de qualquer outro canal de comunicação de denúncias que não esteja amparado em uma ato administrativo válido”.

    Embora atuasse como professora de Ensino Médio em Chapecó, Ana Caroline, mudou-se para Itajaí nas vésperas do lançamento de sua candidatura, por motivos ainda não esclarecidos. Na noite de domingo, ela fez uma publicação em redes sociais oferecendo um contato telefônico para alunos enviarem vídeos de professores em sala de aula que estejam fazendo “manifestações político-partidárias ou ideológicas”.

    Decisão liminar proíbe deputada de impor “regime de medo e terror nas salas de aula”

    postado em 01/11/2018, 17:37

     

    A ordem liminar do Juiz da Vara da Infância e da Juventude da Capital foi expedida nesta quinta-feira/Foto: Catarinas

    A deputada eleita para a Assembleia de Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo (PSL), terá que retirar do ar imediatamente a publicação que incentiva o controle das atividades dos professores e alunos das escolas públicas e privadas do sistema de ensino do Estado e dos municípios, postada em seu perfil do Facebook. Ela também está proibida de manter o “canal de denúncias” por ela criado sem qualquer amparo legal. Caso a liminar seja descumprida a multa diária é de mil reais.

    Entenda o caso.  

    A ordem liminar do Juiz da Vara da Infância e da Juventude da Capital foi expedida nesta quinta-feira (1/11) e atende ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público de Santa Catarina. Conforme o MP, a deputada violou princípios constitucionais como o da liberdade de expressão da atividade intelectual, científica e de comunicação, “e que deve ser exercida independentemente de censura ou licença (art. 5.º, IX, CF/88”), assim como da “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber”, bem como do “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas”, previstos nos arts. 206, II e III da Constituição Federal.

    Ainda de acordo com a decisão, a atitude de Campagnolo infringe o direito dos estudantes, como crianças e adolescentes, à proteção contra toda forma de exploração (art. 227, caput, CF). “Sua conduta ao recomendar a realização de filmagens nas salas de aula representa, exploração política dos estudantes, pois está ligada à intenção de deles tirar proveito, político ideológico, com prejuízos indiscutíveis ao desenvolvimento regular das atividades escolares, quer pelo incentivo à desconfiança dos professores quer pela incitação dos alunos catarinenses ao descumprimento da Lei Estadual n. 14.363/2008, que proíbe o uso do telefone celular nas escolas (…)”.

    Como explica o juiz Giuliano Ziembowicz, na decisão liminar, a deputada eleita teria

    “implantado o que seria um regime de delações informais e anônimas, visando impor um regime de medo e terror nas salas de aula”. Além disso, estaria “desafiando e humilhando professores com suas postagens”.

    Efeito em todo país

    Segundo a decisão, as “mensagens produzem intranquilidade e animosidade nos ambientes escolares, com danos incomensuráveis à educação”. “As ações da requerida na rede social ‘Facebook’ têm gerado efeitos nos outros Estados da Federação, produzindo revolta generalizada dos educadores, que se veem intimidados com a referida atitude da requerida”.

    O juiz defendeu que à deputada eleita, assim como a todos as/os cidadãs/os brasileiras/os, é assegurado o direito de exercer a livre manifestação de pensamento através das redes sociais. “No entanto, a publicação como a que está em tela possui conteúdo que vai além do exercício da liberdade de pensamento e expressão de ideias e críticas… fere diretamente o direito dos alunos de usufruírem a liberdade de expressão da atividade intelectual, científica e de comunicação”.

    Em sua fundamentação, o Juiz faz menção ao posicionamento do ministro do STF Gilmar Mendes sobre a importância do debate nas universidades durante o julgamento, na quarta-feira (31), que suspendeu atos de fiscalização da Justiça Eleitoral em universidades públicas e privadas de diferentes estados.

    “Bem mencionou que as universidades são ambientes de profícuo desenvolvimento do pensamento crítico, inclusive político e de circulação de ideias, onde nascem lideranças políticas vindas dos movimentos estudantis, algo que já foi muito mais presente no Brasil e que merece ser reavivado.”

    Para o magistrado, essa realidade não deve ser diferente no ambiente da Educação Básica, pois, segundo ele, a discussão política deve fazer parte da realidade escolar, sempre com respeito às diversas opiniões, como deve ser. “Efetivando-se, assim, os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal e relativos ao tema, com importante incidência do pluralismo de ideias”, afirmou na decisão.

    Quanto ao “canal de denúncias”, o Juiz segue a sustentação do Promotor de Justiça Davi do Espírito Santo na Ação Civil Pública. Diz que os serviços de recebimento de denúncias acerca da atuação de servidor público só podem ser realizados no âmbito do Poder Público, nunca por particulares, sob pena de ferir a Constituição Federal e o princípio da impessoalidade.

    “O princípio da impessoalidade, próprio da Administração Pública e que vem de encontro a qualquer direcionamento ideológico, ao contrário do que aparentemente proporciona o ‘canal de denúncias’ criado e utilizado pela requerida, onde existe expressa referência às eventuais discordâncias ideológicas que são objeto das pretendidas denúncias”, sustenta a liminar.

    Sem base legal também é a implementação de serviço de controle político ideológico das atividades docentes, em prejuízo da liberdade de manifestação e de um universo de estudantes, composto fundamentalmente de crianças e adolescentes.

    A Ação Civil Pública com pedido de liminar foi ajuizada pelo MPSC na terça-feira (30) com o objetivo de garantir o direito dos estudantes de escolas públicas e particulares do Estado e dos municípios à educação segundo os princípios constitucionais da liberdade de aprender e de ensinar e do pluralismo de ideias.

  • NAZISMO ESCANCARA SUA AMEAÇA: Slogan de Bolsonaro é tradução literal do lema de Hitler

    NAZISMO ESCANCARA SUA AMEAÇA: Slogan de Bolsonaro é tradução literal do lema de Hitler

    O ódio foi perigosamente inoculado no coração de milhões de brasileiros na velocidade de uma epidemia viral devastadora. Até que ponto o resultado das pesquisas representa o prêmio das massas às atrocidades que horrorizaram o país nas últimas semanas ou são apenas trunfo da lógica dos algoritmos na bolha virtual do candidato Bolsonaro? Ódio e seu modo de propagação são agora inseparáveis. Assassinatos políticos, estupros, espancamentos, profanação da memória de Marielle Franco, marcação da suástica no corpo de pessoas e nas paredes de igrejas, escolas, prédios públicos: todos esses episódios se assentam na base da crueldade nazista. É o que a filósofa Hannah Arendt chamou de “banalização do mal”, justificada pelo ódio ao inimigo, pelo medo à falsa ameaça do comunismo e pela mentira. Bombada pelas Fake News, a campanha eleitoral de Bolsonaro potencializa a banalização com a viralização do mal na política.

    Dias após reunião de Haddad com a Confederação dos Bispos do Brasil, Igreja amanhece pichada com suástica

    Na manhã deste domingo (14/10) a Capela da Igreja Católica de São Pedro da Serra, em Friburgo (RJ), amanheceu pichada com símbolos da suástica, como provável resposta ao encontro mantido pelo candidato Fernando Haddad com a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. O fato coroou de horror a onda de violência na semana em que bolsonaristas assassinaram o mestre baiano Moa do Katendê, agrediram e marcaram uma estudante gaúcha de 19 anos com a suástica na barriga porque vestia uma camiseta do Ele Não, entre outros diversos  exemplos da intolerância cruel importada do nazismo dos EUA da era Trump.

    A identificação do candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL) com o neonazismo fica a cada dia mais escancarada e assumida, desde o seu slogan de campanha. “Brasil acima de tudo” é o plágio criminoso de “Deutschland Über Alles”, que significa “Alemanha acima de tudo”. Submetidos à lavagem cerebral da propaganda nazista, os alemães bradavam com ardor patriótico, a mão direita sobre o peito ou a o braço erguido, o lema dessa política de terror que levou o mundo à Segunda Guerra Mundial e exterminou mais de seis milhões de judeus e de 11 milhões de outros povos. O processo de aliciamento das massas, alojado no que Hannah Arendt chamou de “banalização do mal” (e da mentira) parece ganhar proporções ilimitadas. Alastra-se na velocidade dos algoritmos manipulados pelo cientista da “bomba atômica” virtual, Steve Bannon, o gênio do marketing que está bombando Bolsonaro, considerado o homem mais perigoso do mundo.

    Levando para o tradutor do Google

    A segunda parte do bordão, “Deus acima de tudo”, também era inscrita na fivela dos soldados do Exército Nazista. O refrão integrou inclusive o Hino Nacional da Alemanha até ser suprimido no final da guerra. Católico de batismo, Hitler se esforçava para demonstrar fervor religioso. Em muitas imagens do período de guerra ele aparece apertando a mão de um padre durante um discurso, ou marchando à frente de um pelotão de padres que o seguia fazendo o sinal nazista.  Indícios de prática e incentivo a essa ideologia proscrita da civilização vão, contudo, bem além do slogan da campanha eleitoral bolsonarista. O mais espantoso é que essa contravenção política siga em frente sem ser ao menos interpelada por uma justiça cúmplice, quando não protagonista, de uma espécie de banalização do mal na política.

    Às vésperas do segundo turno, as referências explícitas ao nazismo do candidato que obteve 46% dos votos válidos no primeiro turno já escandalizam o mundo e provocam reações de indignação de outros países. A justiça brasileira, porém, finge não perceber o que está acontecendo, embora a exaltação ao nazismo seja crime inafiançável no Brasil, assim como em qualquer país signatário das Nações Unidas e da Declaração Universal dos Direitos Humanos. O avanço inexplicável do candidato, aliás, se sustenta na doutrinação nazista intensificada há cerca de cinco anos com o ataque à política de direitos humanos, como se ela, e não a intolerância social, fosse responsável pela violência no país. A violação do mais importante legado da civilização ocidental encontra sua síntese perfeita na declaração de Bolsonaro de que “as minorias terão que se curvar às maiorias”. Essa máxima da filosofia do holocausto, proferida num comício realizado em Campina Grande, na Paraíba, levou ao delírio uma multidão aos gritos de “mito, mito, mito!”

    Sobretudo na Alemanha e Europa, que foram inteiramente destruídas pela demência de Hitler, a presença de um candidato com esse nível de ameaça à justiça, à paz social e aos direitos humanos causa neste momento pavor e perplexidade. Neste sábado (13/10), a Alemanha anunciou que caso o candidato seja eleito, vai romper unilateralmente as relações comerciais com o Brasil e a tendência é ser seguida por outros países democratas. Trata-se da potência com mais investimentos de multinacionais no Brasil, como a Volkswagen, Mercedes e Siemens. Segundo a presidente do Grupo Parlamentar Teuto-Brasileiro, Yasmin Fahimi, a possível eleição de Jair Bolsonaro pode impedir uma retomada da parceria estratégica fundamental para a já combalida economia brasileira. Declarou ela:

    “O Brasil está à beira de uma grande ruptura. Ficamos chocados com o fato de que, Jair Bolsonaro, uma pessoa que tornou socialmente aceitável um discurso de ódio tenha chegado à liderança. Do lado alemão, não vejo nenhuma base para uma parceria estratégica com um presidente como Bolsonaro”.

     

     

    Mesmo combatendo o nazismo com rigor, a Alemanha vive sob a ressurgência de grupos terroristas, como a Ku Klux Klan, os Skinheads, as milícias paralelas de extermínio, entre outros. Eles não cessam de reeditar a memória vexaminosa do holocausto que tornou o povo alemão cúmplice do Terceiro Reich no maior extermínio humano da história mundial. O problema é que o clamor e o aviso dessas forças internacionais não chegam à metade da população brasileira que teve suas consciências sequestradas pelo aliciamento político intensificado a partir de 2013. A esse nazismo mais rudimentar soma-se uma especie de nazismo às avessas, de ligações sionistas, como o orquestrado por Bolsonaro, que aparece em fotos rezando para a bandeira do Brasil, para a dos Estados Unidos e para a do Estado de Israel, ao qual declara seu apoio e devoção.

    Lado a lado nazismo/bolsonarismo

    Conivente com a onda de horror, a grande mídia brasileira, sobretudo os monopólios de televisão, finge não estar vendo a invasão fascista e já trata Bolsonaro como eleito. Seja por intimidação, adesão, omissão, conveniência ou interesses de negócios, a Record, chefiada pelo mercenário bispo Edir Macedo; Globo; Bandeirantes e SBT, todas sabotam os alertas que chegam do exterior ao povo brasileiro, tentando salvá-lo da bolha hipnótica desse neonazismo. E também dos artistas, intelectuais, ativistas poetas, músicos que enviam suas mensagens náufragas na tentativa de salvar o pais da tragédia anunciada.

    Arnaldo Antunes gravou o compungente “Isto não é um poema”. Numa sintaxe de guerra, em que a poesia se torna impossível, o videotexto reúne todos os episódios que mancham de sangue vermelho a bandeira nacional e a diversidade do povo brasileiro. Durante o feriadão, uma onda de mensagens vindas de todas as partes do mundo inundou as redes sociais, com a hashtag #BOL卐ONARO, que ganhou o topo mundial do Twitter, acentuando o símbolo da suástica no nome do candidato extremista.

    Em sua passagem pelo Rio, Roger Waters enfrentou a reação bolsonarista ao projetar um Ele Não no palco. E em artigo publicado pela Folha de S. Paulo de domingo, Caetano Veloso afirmou que é dever de todo brasileiro fazer algo para evitar a eleição de Bolsonaro, em repúdio a um artigo de Olavo de Carvalho exortando o candidato a destruir totalmente seus opositores enquanto grupos, organizações e até indivíduos, imediatamente após sua posse. “É evidente que todo cidadão brasileiro que mereça esse nome deve agir contra a possibilidade de eleição de Bolsonaro”, afirmou o cantor baiano.

    Na negligência do dever patriótico das grandes redes de ajudar a afastar essas práticas criminosas da política, a mídia independente luta sem trégua e descanso contra o perigo, enfrentando sozinha o império robótico das Fake News na campanha do militar reformado. Suas páginas são invadidas dia e noite por um exército de autômatos, muitos deles com perfis também falsos, que não dialogam, não interagem, não argumentam. Apenas intimidam, xingam e repetem o bordão de sempre no qual todos que não concordam com o #B17 são tachados de “comunistas”, “maconheiros”, “vagabundos”, “corruptos”, “ladrões”, “petralhas” ou “encostados na Lei Rouanet”.

    Por último, a histeria e a maldade fascistas chegou ao cúmulo de acusar de promover prática de pedofilia quem apoia o candidato Fernando Haddad, advogado e professor universitário, mestre em Economia, doutor em Filosofia, ex-ministro da Educação, que se opõe ao armamento da população e ao ensino do uso de armas a crianças. Calúnias desse nível, baseadas em montagens grosseiras, continuam circulando nas redes sociais.  Baseada na disseminação da mentira, a tecnologia de Chicago que elegeu Trump traz para as eleições brasileiras uma prática das mais sujas, fora do jogo da democracia. Ela potencializa e profissionaliza o emprego de baixarias como as que vimos na campanha contra Dilma Rousseff nas eleições de 2014.

    Desde a vida militar ativa, as “ideias” do militar. punido nos anos 80 com a reserva pelo Comando Maior do Exército por tentar explodir bombas nos quartéis para protestar contra os baixos salários, sempre dividiram o seu público entre aduladores e pessoas horrorizadas com o seu comportamento. No início dos anos 90, já no governo Sarney, foi proibido de entrar nos quartéis do Rio de Janeiro em decisão exemplar única na história do Exército Brasileiro, que nunca mais repetiu essa medida com um parlamentar. Acusado de “canalha, covarde e contrabandista” por um oficial e denunciado por ameaças de morte contra uma jornalista, agressões à ex-mulher e a colegas de farda, o capitão Jair Bolsonaro foi banido durante um ano dos quartéis. A justificativa  alegava desrespeito à hierarquia das Forças Armadas, intriga, com presença invasiva nos corredores militares para promover campanha política e angariar votos para sua candidatura a deputado federal, conforme reportagem publicada no DCM e nos Jornalistas Livres por Vinícius Segalla, que teve acesso a um dossiê do Exército-Maior das Forças Armadas.

    Analisando-se a trajetória de rebeldia e de submissão do capitão ao poderio militar, não há qualquer contradição: fica claro que ele infernizou a vida do Exército sob a égide da Nova República, após a democratização, justamente opondo-se aos que se recolheram para as casernas e decidiram deixar a política para as instituições civis. Em contrapartida, sempre enalteceu os ícones das Forças Armadas que atuaram na ditadura e continuam chamando o golpe de Revolução de 64. Desde sempre Bolsonaro se identificou com a parte mais torpe e inescrupulosa da corporação. Daí vem o culto à imagem dos torturadores, em especial ao seu ídolo general Brilhante Ustra, “o terror da presidente Dilma Rousseff”, como declarou ao dizer sim ao impeachment e dedicá-lo à memória do criminoso que introduzia ratos vivos na vagina de suas vítimas durante as sessões de tortura.

    “Uma mentira repetida muitas vezes torna-se uma verdade”, na famosa máxima de Joseph Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, que inspira Steve Bannon, guru da campanha de Bolsonaro e Mourão nas redes sociais. Repetindo calúnias sobre judeus e comunistas, Goebbels inflava o sentimento de superioridade dos alemães em jornais e panfletos. Mas foi usando o rádio e o cinema (dois meios insurgentes que exerciam grande fascínio, como as redes sociais hoje), que o líder mais cruel da humanidade aliciou grandes massas como cúmplices do seu projeto de morte. Valendo-se sempre da mentira contra os seus inimigos, que chamava de fracos e de ratos, ergueu seu mundo insano mentindo também sobre as qualidades dos que considerava fortes e belos, embora ele mesmo estivesse longe de corresponder ao padrão de beleza que vangloriava. Esse sentimento parece estar bem representado nas palavras do general Mourão, o vice do B., ao encerrar uma entrevista a jornalistas no aeroporto de Brasília para atender o neto e o filho que o aguardavam. Apontando para o neto, bem mais claro que ele e o filho, afirmou, como se desculpando pela própria descendência negra: “Meu neto é um cara bonito, viu ali, é o branqueamento da raça. Valendo-se de propaganda racista e de mensagens subliminares que estimulam o ódio e a xenofobia, incutiu a crença da superioridade ariana no inconsciente alemão com a ajuda da invenção de uma linguagem cinematográfica. No cinema nazista, os militares aparecem sempre filmados de baixo para cima, para ressaltar a supremacia bélica, enquanto os judeus são mergulhados no efeito de inferioridade pela câmera alta.

    Adolf Hitler apresentava, porém, uma vantagem sobre Bolsonaro: hábil orador, tinha larga cultura clássica e conhecimento de economia e geopolítica que usou para legitimar seus planos de purificação da raça ariana, com o extermínio de militantes de esquerda, judeus, imigrantes árabes, negros, homossexuais. Muitos estudos foram realizados sobre as relações entre o seu desvario pelo poder e seu caráter ressentido e agressivo com mulheres. Temperamental, explosivo e inculto, Bolsonaro não demonstra cultura mínima para a posição que pretende ocupar ou capacidade de desenvolver uma conversa inteligente. É acusado de fugir dos debates por medo de suas próprias declarações. Afirma coisas como “um afrodescendente não serve nem para procriar”, “claro que as mulheres deveriam ganhar menos porque engravidam”, “preferia ter um filho morto a ter um filho gay”, “ou os trabalhadores precisam escolher entre ter direitos ou emprego” e “não te estupro porque você não merece”, figuram na sua longa coleção de bestialidades.  E, no entanto a vítima do oportuno atentado a faca que o feriu gravemente e o premiou com intermináveis atestados médicos é aclamada por uma multidão de seguidores de cujo fanatismo nem a história, nem a estupidez do próprio líder é capaz de arrancar.

    Mas se nazismo é crime, como pode um candidato que faz apologia à tortura, a símbolos e ideias nazifascistas estar solto e ainda ser candidato a presidente da República?

    O que falta acontecer para acordarem os que deveriam zelar para manter o país livre dessa degradação ética, moral, política e social? Como não reagem as instâncias jurídicas e as instituições democráticas brasileiras, o STF, a OAB, o Senado, a Câmara Federal, os partidos, o próprio PT, a própria Frente Unificada Haddad Manuela Presidente para impedir que a aberração política se instale no Palácio do Planalto do maior país da América Latina? A ascensão pelo voto de um presidente que prega a violência nazista num país com as dimensões e importância do Brasil seria uma tragédia de proporções não só continentais, para a América Latina, mas para toda a democracia ocidental, como apontou o jornalista Pepe Escobar, em artigo publicado no sábado pelos Jornalistas Livres. Equivaleria ao lançamento de uma bomba atômica no século XXI e chega a representar a ameaça de uma III Guerra Mundial, segundo palavras do Papa Francisco. Mas parece que muito tarde acordamos de um sono comatoso, com a ilusão de que esse passado de horrores estava encerrado no século XX.

    Enquanto isso, o nazifascismo ressurge assustador na promessa da sinistra dinastia Bolsonaro, com sua fábrica de ogros fazendo já centenas de vítimas em via pública, onde a ordem de extermínio já está dada. Enquanto o bolsonarismo está livre para inocular no seio do povo brasileiro o vírus da sua ideologia de morte, negros, gays, trans, mulheres, estudantes, nordestinos, indígenas são abatidos nas ruas feito animais antes mesmo do segundo turno. O símbolo da suástica sobe as paredes das universidades brasileiras, igrejas e muros de escolas. Também é marcado a ferro e fogo, como gado, na barriga da estudante de 19 anos, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

    Nazismo em Blumenau: comemoração com o símbolo da suástica na bandeira vermelha

    Acrescentada dos ingredientes do neoliberalismo, a droga nazista parte  do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde refaz a volta cruel da história, acordando a herança ancestral do hitlerismo. O Partido Nazista fez mais adeptos no Sul do que em qualquer outra região do Brasil, como mostra o documentário Anauê! o integralismo e o nazismo na região de Blumenau, do cineasta Zeca Pires. Santa Catarina chegou a ter 45 mil simpatizantes, quase um terço do total no Brasil. Ainda no ano passado, grupos extremistas foram presos e investigados por comemorar o aniversário do Führer, um advogado negro recebeu ameaça de morte e a cidade acordou pichada de símbolos e cartazes com símbolos da suástica e cruz de celta ou cruz de ferro.

    Se antes o vírus nazista ficava restrito à Região Sul, a campanha Bolsonaro inoculou-o no inconsciente de grupos espalhados por todo o Brasil, de modo que hoje o ódio racista não poupa classe, nem idade, nem cor. Negros são esfaqueados por negros, nordestinos humilhados por nordestinos, mulheres esmagam mulheres. Está no cerne do nazismo semear a discórdia entre os povos, as etnias, os gêneros para manter o poder do dominador. E um povo antes considerado no mundo inteiro como relativamente pacífico e amoroso aplaude essas atrocidades aos gritos de “Mito, mito, mito!”. Como disse a filósofa da UFSC. Maria de Lourdes Borges, PhD em Hegel e Kant, no dia seguinte ao primeiro turno das eleições, dormimos no Brasil e acordamos com a sensação de estarna Alemanha de 1945.

     

    FÓRMULA EXPLOSIVA DE BOLSONARO CONJUGA

    NAZIFASCISMO COM NEOLIBERALISMO

    Campanha política eleitoral do PT mostra vínculos de Bolsonaro com nazismo

    Homem de ideias medíocres e insanas, odioso e sedento de poder, Hitler foi, durante longo tempo, ignorado e subestimado em suas pretensões de dominar o mundo até ascender ao comando do Terceiro Reich com amplo apoio popular. De modo muito semelhante, Bolsonaro também foi negligenciado nos quase 30 anos de vida parlamentar em que esteve abrigado em várias siglas de representatividade insignificante. Nesse período, deixou como saldo dois únicos projetos aprovados de agrados à caserna, sempre em benefício dos privilégios militares, que lhe garantiram o apoio inegável dos aparatos de repressão. Ao contrário de Hitler, que usou seu lastro cultural e sua erudição clássica em favor de suas ambições, Bolsonaro representa o culto à ignorância para um povo condicionado a se informar e se formar pelas redes sociais do MBL, Vem pra Rua e da Candidatura “O Brasil acima de tudo”, onde imperam a vulgaridade e o Fake News. Declaradamente dispensa a leitura de livros, despreza a formação superior e combate as instituições universitárias, que ele diz propagadoras da “ideologia de gênero e do comunismo”, sobretudo as áreas humanas, em favor da formação tecnicista. O marketing do novo embala os piores invólucros dos velhos e perigosos militares de 64.

    Em meio a propostas parlamentares marcadas pelo ridículo e irrelevância, votou contra todos os direitos trabalhistas, inclusive das empregadas domésticas, feito do qual ele se orgulhou várias vezes publicamente, para tornar pública a aliança com o empresariado e com as elites brasileiras. Sua principal obra foi a disseminação do vírus de uma política baseada no ódio às minorias, no combate aos direitos trabalhistas, na desmoralização das políticas públicas na mentalidade mediana do povo brasileiro. Tudo isso, como na experiência nazista, encoberto por um falso moralismo de quem legitima os atos mais execrados pela moral cristã, como estupro, feminicídio, milícias de extermínio, às quais ele declarou apoio em entrevistas, adultério, tortura, prostituição, zoofilia, enfim, violência racial, ambiental, política e de gênero.

    À diferença do nazismo alemão e do fascismo italiano, esse projeto é untado por um falso patriotismo que se desintegra ao ser contraposto à fúria bolsonarista pela privatização e entrega para as grandes corporações internacionais das riquezas nacionais: petróleo, energia, biotecnologia, meio ambiente, territórios indígenas, minério, Amazônia. Sem as benesses do nacionalismo europeu, o projeto privatizador de todas as estatais brasileiras, mesmo em áreas estratégicas para a soberania nacional, tende, ao contrário, a criar um Estado fraco, ausente e entregue aos ditames dos impérios estrangeiros.

    LIBERDADE É UM REVÓLVER NA MÃO E O ÓDIO NA CABEÇA

    Mesmo a proposta de garantir a segurança dos cidadãos se mostra uma farsa em favor do comércio da indústria armamentista mundial, há muito tempo empenhado em, através da influência na política, fazer do país um grande mercado consumidor de armas. E como o país pode aumentar o consumo de armas? Obviamente não com políticas de segurança, mas com ideologias que disseminem o ódio e a violência, capazes de justificar a compra de grandes lotes de armas pelo Estado. Todos os indícios desse plano perverso estão dados: desde o primeiro turno, grandes meios de comunicação (El País, Exame, Folha de S. Paulo, Estadão, Valor Econômico, Veja, Uol etc) anunciam o crescimento espantoso da Taurus, indústria gaúcha multinacionalizada, cujas ações nas Bolsas de Valores dispararam na frente de todas as outras com o efeito Bolsonaro durante a campanha eleitoral. O próprio candidato deixa essa mensagem bem explícita ao gravar um vídeo dentro da Taurus em que declara seu amor pelas armas como militar, acaricia o último modelo de um fuzil e promete promover a compra de um reluzente revólver para cada cidadão brasileiro. “Não que eu seja garoto-propaganda da Taurus, mas…”, inicia ele, na gravação de um vídeo tosco do ponto de vista técnico, mas eficiente do ponto de vista semiótico.

    Por isso as incontáveis cenas em que Bolsonaro aparece fazendo o gesto da metralhadora ou ensinando crianças a atirar, como diz ter feito com seus filhos desde os cinco anos, não devem ser vistas como bizarrice de um político mentecapto pela esquerda ou brincadeira sem maiores consequências pelos seus seguidores. Outra semelhança com o hitlerismo, esses gestos são ordens subliminares de armamento clandestino das milícias neonazistas plenamente obedecidas por homens e mulheres que já saíram às ruas para votar ou para matar. Elas são propagandas muito conscientes do candidato e de seus filhos (irmãos metralha?) para a indústria armamentista que patrocina sua campanha.  Cada pose fotográfica com uma arma imaginária que Bolsonaro dispara, seja sorridente ou bradando “vamos metralhar a petralhada do Acre” ou “vamos metralhar a favela da Rocinha como solução final” é um apelo de compra que será reproduzido aos milhões pelos seus seguidores.

    A promessa do “pai” fascista de garantir a cada cidadão brasileiro obediente a posse de uma arma esconde outra evidência: a de que a segurança pública será privatizada nas mãos de cada indivíduo. Com o revólver ele recebe a tarefa de cuidar de sua própria defesa, na base do olho por olho, dente por dente. “Não é apenas a sua segurança, é a sua liberdade. Povo armado é povo livre”, diz o líder no mesmo comercial.

    Campanha eleitoral do PT vai finalmente mostrar relações entre Bolsonaro e nazismo?

    Além do culto às armas, o modus operandi comum ao totalitarismo italiano mais evidente é o uso da bandeira do combate à corrupção como porta de entrada para a violência política. Em todas as experiências contemporâneas, o fascismo se fortalece colando a corrupção na mentalidade das massas como prática da esquerda, ainda que a direita se mostre infinitas vezes mais recorrente nessa prática. No caso brasileiro, o número de parlamentares de direita indiciados ou citados pela Lava-Jato ultrapassa de longe a esquerda, mesmo no caso do PT, que esteve 13 anos no poder, e perde em comparação proporcional ao PSL, um partido muitas vezes menor. Quanto mais à esquerda, menor o índice de corrupção. Mas ainda que a impunidade de inúmeros políticos de direita no Brasil, como Michel Temer, João Rodrigues, Roberto Jefferson (que acaba de anunciar apoio a Bolsonaro), Beto Richa, Aécio Neves ou Zezé Perrela, escancare a hipocrisia dessa bandeira levantada pelos próprios corruptos, a extrema direita se alimenta da ignorância para estalar o seu chicote calunioso no lombo alheio.

    Tratado de forma despolitizada e descontextualizada pelos meios de comunicação, o facho da corrupção tem um efeito de obliteração do raciocínio. Ele é capaz de cegar um povo sem formação política, para o qual nada tem um sentido mais simples e concreto do que culpar um político jogar pedras num político ladrão, não interessa se ele é alvo de lawfare, um processo assimilado sem crítica pela maior parte do povo brasileiro, cujas referências de verdade são a justiça, a mídia, a religião e a polícia. Grande parte da população só consegue se inserir na discussão política pelo viés da corrupção. Apresentada como causa estruturante das injustiças sociais e não com efeito da estrutura econômica,  essa bandeira esconde o fato de que a corrupção é a base da desigualdade social promovida pelo capitalismo. Num sistema em que o Estado só existe para manter a exploração das classes trabalhadoras, pois o poder de fato é exercido pelo mercado financeiro, o parlamento se coloca entre o Estado e a sociedade para ser corrompido pelo poder econômico. Desde o seu planejamento financeiro, as grandes empresas destinam em seus orçamentos gordas porcentagens para o pagamento de propinas em troca da aprovação de leis que reforçam os privilégios das elites, alargam os lucros dos bancos, sabotam os direitos trabalhistas, envenenam a alimentação com produtos cancerígenos do agronegócio, dizimam aldeias indígenas, entregam o petróleo, a Amazônia, a água, a energia elétrica…

    Na contramão dessa política de privilégios, as esquerdas têm um papel decisivo para impedir que o jogo de forças perverso seja completamente vitorioso e leve a classe trabalhadora à completa ruína. Por isso elas precisam ser combatidos ferozmente pelo nazifascismo em nome da ameaça do comunismo e do socialismo, hoje ironicamente os defensores mais intransigentes do respeito à democracia, enquanto o neoliberalismo não se cansa de violá-la. A esquerda precisa ser eliminada porque tem um papel importantíssimo no equilíbrio de forças, reconhecido pelas grandes potências da social democracia que convivem em relativa harmonia com os partidos comunistas. Só ela, com sua radicalidade de princípios em favor dos direitos sociais, é capaz de frear a sede de lucro e de destruição de projetos emergentes que conjugam a fórmula explosiva neoliberalismo mais nazifascismo.

    BANALIZAÇÃO DO MAL: candidatos apresentam prova da profanação da memória de Marielle

    “Chega de comunismo, acabou PCdoB”, brada em comício em Petrópolis, o candidato do PSC ao governo do estado do Rio, o ex-juiz Wilson Witzel. Ao seu lado, a dupla de candidatos a deputado estadual Rodrigo Amorim, e o candidato a deputado federal Daniel Silveira, ambos do PSL-RJ, mostram com o punho erguido e sorriso de vingança a placa em homenagem a Marielle Franco partida ao meio. Como os próprios anunciam orgulhosos, eles a arrancaram de um poste na esquina da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, onde ela cumpria seu primeiro mandato pelo PSOL quando foi assassinada. Dão assim prova material ao crime do qual se vangloriaram dias antes em vídeos, fotos e ao vivos nas redes sociais. Exibir o símbolo da profanação do túmulo de uma líder abatida a tiros e sem justiçamento é uma forma de legitimar o seu assassinato, matando-a e violando-a novamente. É como se pudessem impedir a propagação da sua imagem negra, capaz de alimentar multidões insurgentes contra o racismo e a exclusão social e de gerar sementes de Marielles, como as 12 parlamentares negras eleitas no país. Aí recuamos do mago racista do marketing de Donald Trump para os rituais de magia negra da Ku Klux Klan e para o fogo da Idade Média.

    O fanatismo viral à la Steve Bannon não dá chances de salvar o coliseu de si próprio: os violadores de túmulo não só foram ovacionados por uma multidão ensandecida, como acabaram eleitos: Amorim como o deputado estadual mais votado do Rio, com 140 mil votos e Silveira, com 31.789 votos, a federal. Até que ponto esse resultado representa o prêmio das massas a um carrasco nazista ou mero trunfo da lógica dos algoritmos da cambridge analytica na bolha virtual do candidato Bolsonaro é uma incógnita. A repercussão pública dessa maldade está assentada na base da crueldade nazista, que a filósofa Hannah Arendt chamou de “banalização do mal” movida pelo ódio ao inimigo, pelo medo e pela mentira. Mas aqui a banalização do mal bombada pela fábrica de Fake News é potencalizada pela viralização do mal na política.

    Quando a esquerda é aniquilada pela calúnia ou repressão a toda forma de ativismo, essa fórmula resulta em líderes truculentos, como Rodrigo Duterte, nas Filipinas; Salviani, na Itália; Fujimori, que ainda ameaça o Peru, ou Donald Trump, nos Estados Unidos, entre um conjunto de ditadores insurgentes cuja face mais vulgar promete ser Bolsonaro. Um líder “intransponível para a realidade europeia”, para se referir às recentes declarações da principal líder da extrema direita francesa, Marie Le Pen, segundo quem “Bolsonaro diz coisas impalatáveis para o padrão europeu”, trocando em miúdos.  Com sua violência grotesca e indisfarçada, que os seguidores chamam de “autenticidade”, ele expõe ao mundo a essência mais cruel e verdadeira da nova sereia nazifacista que ameaça a sobrevivência do Brasil multicolorido e da própria democracia ocidental.

     

    BOLSONARISTAS ESPALHAM TERROR E CAOS PELO PAÍS

    Capoeirista assassinado ainda tentou argumentar calmamente, mas foi brutalmente esfaqueado

    Inflamados pelo discurso de ódio do deputado, seus filhos e outros seguidores, militantes extremistas espalham atacam, matam, estupram, espancam mulheres, negros, gays, trans, estudantes e opositores à candidatura nazista pelo Brasil afora.

    A lista do terrorismo é uma amostra do cenário de guerra que espera o país caso Bolsonaro seja eleito. Veja alguns casos publicamente denunciados e notificados.

    🚨 CAPOEIRISTA é morto com 12 facadas por militante de Bolsonaro: https://bit.ly/2y4nMTm
    O mestre capoeirista Moa do Katendê foi morto com 12 facadas nas costas, em Salvador (BA), depois de falar que tinha votado em Fernando Haddad.

    🚨 MULHER é torturada por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2PtgqzE
    As torturas aconteceram dentro de um carro, e as ofensas, além de homofóbicas, também eram racistas.

    🚨 MULHER é atacada com barra de ferro por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2RGFQv2
    Vocalista foi agredida em passarela de Nova Iguaçu, após responder a ambulantes que a ameaçaram.

    🚨 CACHORRO é morto em carreata por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2QuTxfe
    O cachorro, de nome Marley, que latiu para uma carreata em apoio a Bolsonaro, que passava pelas ruas de Muniz Ferreira (BA), morreu depois de tomar três tiros disparados por um integrante da carreata que tinha se irritado com os latidos.

    🚨 MULHER foi agredida e marcada com suástica por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2A2UdDh
    Ela foi agredida por usar a camiseta #elenão.

    🚨 JOVEM é agredida por apoiadores de Bolsonaro: https://bit.ly/2Oq81Aj
    A mulher foi sofreu violência física e verbal enquanto voltava para casa.

    🚨 PROFESSOR é ameaçado de morte por militante de Bolsonaro: https://glo.bo/2INUOvi
    O pai de um aluno se sentiu atacado politicamente com a explicação do professor sobre os usos da Lei Rouanet.

    🚨 HOMEM é morto em Curitiba por militante de Bolsonaro: https://bit.ly/2y2Thxd
    O assassino, que tinha conhecido o rapaz em um aplicativo de paquera, teria gritado “viva Bolsonaro” depois do crime.

    🚨 JORNALISTA é agredida e ameaçada de estupro por militantes de Bolsonaro: https://glo.bo/2ykZUu4
    Uma jornalista, em Recife (PE), foi agredida por dois homens ao sair do local de votação. Um deles vestia uma camiseta do Bolsonaro.

    🚨 MULHER é brutalmente agredida por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2ydbdFj
    As imagens são assustadoras.

    🚨 SERVIDORA PÚBLICA foi espancada em Pernambuco após criticar Bolsonaro: http://bit.ly/2ye1SNI
    Ela foi agredida por uma mulher que estava numa mesa de apoiadores do capitão reformado.

    🚨 MILITANTES de Bolsonaro postam fotos com armas nas urnas: https://bit.ly/2yqQBIY
    Um eleitor, usando o cano de uma pistola, digitou e confirmou o número de seu candidato (17) na urna eletrônica. Muito orgulhoso, postou o vídeo nas redes sociais.

    🚨 MÃE É AGREDIDA, COM A FILHA, por militantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2pGhlkQ
    Homens, vestidos com roupas de alusão a Bolsonaro, gritaram no rosto da mulher e de sua filha.

    🚨 JOVEM É AGREDIDO por militantes de Bolsonaro simplesmente por estar vestindo vermelho: https://bit.ly/2C1ZEDM
    O rapaz foi agredido por um grupo de homens por ser de esquerda.

    🚨 JOVEM é agredida por militante de Bolsonaro: https://bit.ly/2IHKViu
    Vidro de seu carro foi quebrado e manchas de sangue foram registradas durante carreata no Paraná.

    🚨 FUNCIONÁRIA é ameaçada com arma por militantes de Bolsonaro: https://glo.bo/2MAXod0
    A mulher relatou ter sido ameaçada com armas de fogo.

    🚨 CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO acorda com suásticas e símbolos nazistas em ato de vandalismo: https://bit.ly/2QNmkvD
    Os registros foram feitos por uma das vereadoras da cidade.

    🚨 PROFESSOR DA USP faz saudação nazista enquanto defendia Bolsonaro: https://bit.ly/2RMPtIv
    A saudação foi feita numa discussão pública no Facebook.

    🚨 HOMEM com boné vermelho é agredido no Paraná por militantes do Bolsonaro: https://bit.ly/2OjDHHG
    Segundo relatos, agressores eram parte de uma torcida organizada e proferiram gritos de apoio ao deputado Jair Bolsonaro.

    🚨 LIVROS sobre ditadura foram rasgados na biblioteca da Universidade de Brasília: https://glo.bo/2Qv14KT
    Até obras de referência sobre artistas do Renascimento estão sendo alvo de vandalismo.

    🚨 PESSOAS são ameaçadas por torcida organizada com gritos homofóbicos: https://bit.ly/2OPiq88
    As falas teriam sido “Ô bicharada, toma cuidado/ O Bolsonaro vai matar viado”.

    🚨 HOMEM é agredido por motorista de Uber militante de Bolsonaro: https://bit.ly/2ORmBQT
    A agressão começou quando ele respondeu à pergunta do motorista sobre seu posicionamento político.

    🚨 MULHER é agredida por integrante de manifestação pró-Bolsonaro: https://bit.ly/2PtgqzE
    As rasteiras vieram porque ela não aceitou os adesivos da campanha.

    🚨 EDIFÍCIO foi vandalizado por simpatizantes de Bolsonaro: https://bit.ly/2PtgqzE
    Os agressores se irritaram com a bandeira na janela de um apartamento.

    🚨 PROFESSORA sofre ofensas raciais de alunos: https://glo.bo/2CaQepI
    Os alunos também desenharam uma suástica.

    🚨 SUÁSTICAS e outras propagandas neonazistas são registradas em vários bairros de São Paulo: https://bit.ly/2CCOciX

  • O futuro da democracia ocidental está em jogo no Brasil

    O futuro da democracia ocidental está em jogo no Brasil

    Por Pepe Escobar*

    No Brasil está em jogo nada menos do que o futuro da política de todo o Ocidente – e do Sul global.

    Despojadas até a sua essência, as eleições presidenciais brasileiras representaram um choque direto entre a democracia e um neofascismo do início do século XXI, entre a civilização e a barbárie.

     

    Embate dramático entre Haddad e candidato fascista

    As repercussões geopolíticas e econômicas mundiais serão enormes. O dilema brasileiro ilumina todas as contradições que rodeiam a ofensiva populista de direita do Ocidente, justapondo-se ao inexorável colapso da esquerda. Os riscos não podem ser maiores.

    Jair Bolsonaro, apoiante ferrenho das ditaduras militares brasileiras do século passado, que tem sido apresentado simpaticamente como o “candidato de extrema-direita”, ganhou a primeira volta das eleições presidenciais no domingo com mais de 49 milhões de votos. Foram 46% do total, a pouca distância da maioria necessária para uma vitória imediata. Isto, só por si, já é um desenvolvimento incrível.

    O seu opositor, Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), só recebeu 31 milhões de votos, ou seja, 29% do total. Vai agora enfrentar Bolsonaro numa segunda volta em 28 de outubro. Uma tarefa digna de Sísifo aguarda Haddad: para igualar Bolsonaro, precisa de cada um dos votos dos que apoiaram os candidatos situados em terceiro e quarto lugares, mais uma substancial parte de quase 20% dos votos brancos e nulos.

    Entretanto, nada menos de 69% dos brasileiros, segundo as últimas sondagens, manifestam apoio à democracia. Ou seja, há 31% que não a apoiam.

     

    Um Trump tropical? Não.

    Revista britânica que defende o o liberalismo econômico considera Bolsonaro a ameaça para a América Latina

    A Distopia Central nem sequer o qualifica. Os brasileiros progressistas sentem-se aterrorizados com a ideia de enfrentar um deserto intelectual mutante, como no filme “Brazil” ou Mad Max, devastado por fanáticos evangélicos, capitalistas gananciosos do casino neoliberal e militares raivosos inclinados a recriar uma ditadura 2.0.

    Bolsonaro, um antigo paraquedista, tem sido retratado pelos media ocidentais dominantes como o Trump Tropical. Os factos são muito mais complexos.

    Bolsonaro, um membro medíocre do Congresso durante 27 anos, sem nada que se destaque no seu currículo, demoniza indiscriminadamente negros, a comunidade LGBT, a esquerda no seu todo, a “fraude” ambiental e, sobretudo, os pobres. Confessou abertamente ser a favor da tortura. Apresenta-se como um Messias – um avatar fatalista que aparece para “salvar” o Brasil de todos os “pecados” atrás referidos.

    A Deusa do Mercado, previsivelmente, abre-lhe os braços. Os “investidores” – essas entidades semidivinas – consideram-no bom para “o mercado”, com a sua ofensiva de última hora nas sondagens, refletidas numa recuperação do real brasileiro e do mercado de ações de São Paulo.

    Bolsonaro pode ser o “salvador” clássico de extrema-direita, segundo o molde nazi. Pode encarnar o populismo de direita até ao âmago. Mas não é, de modo algum, um “soberanista” – o lema de eleição no debate político em todo o Ocidente. O seu Brasil “soberano” será governado mais como uma ditadura retro-militar, totalmente subordinada aos caprichos de Washington.

    O vice-presidente proposto por Bolsonaro é um general reformado, escassamente letrado, um homem que se envergonha da sua origem mista e é abertamente a favor da eugenia. O general António Hamilton Mourão até já ressuscitou a ideia de um golpe militar.

    Por detrás desta equipa, encontramos enormes interesses económicos, ligados a recursos minerais, agroindústrias e a quase todos os “Cinturões Bíblicos” brasileiros. Acompanham-nos os esquadrões da morte contra os brasileiros nativos, os camponeses sem terra e as comunidades afro-americanas. É um paraíso para a indústria do armamento. Chamem-lhe a apoteose do cristão-sionismo tropical neopentecostalista.

    Louvado seja o Senhor 

    O Brasil tem 42 milhões de evangélicos – e mais de 200 representantes nos dois ramos do Parlamento. Não se metam com os seus jihadistas. Eles sabem como exercer uma influência maciça entre os mendigos do banquete neoliberal. A esquerda de Lula não sabia como os seduzir.

    Assim, mesmo imitando Mike Pence, Bolsonaro só é o Trump brasileiro até um certo ponto: as suas técnicas de comunicação – falar duro, de forma simplista — são uma linguagem que até um miúdo de sete anos percebe. Os italianos instruídos comparam-no a Matteo Salvini, o líder do partido Lega, hoje ministro do Interior. Mas também não é exatamente esse o caso.

    Bolsonaro é um sintoma de uma doença muito maior. Só atingiu este nível, um frente a frente na segunda volta contra Haddad, candidato de Lula, por causa duma Guerra Híbrida judicial/congressional/industrial/media, refinada e contínua, desencadeada contra o Brasil.

    Bastante mais complexa do que qualquer revolução colorida, a Guerra Híbrida no Brasil caracteriza-se por um golpe lawfare sob a cobertura da investigação anticorrupção da Lava Jato que levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e à prisão de Lula, com acusações de corrupção sem quaisquer provas.

    Em todas as sondagens Lula ganharia estas eleições. Os conspiradores conseguiram metê-lo na prisão e impedi-lo de se candidatar. O direito de Lula a candidatar-se foi defendido por toda a gente, desde o Papa Francisco ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU, assim como por Noam Chomsky. No entanto, numa deliciosa reviravolta histórica, o cenário dos conspiradores rebentou-lhes na cara quando o primeiro candidato a governar o país não é nenhum deles, mas um neofascista.

    “Um deles” seria idealmente um burocrata sem rosto, um apaniguado dos antigos sociais-democratas, o PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira –, neoliberais radicais viciados em colocar-se no centro-esquerda, quando são “aceitáveis” perante os neoliberais da direita. Chamem-lhes Tony Blairs brasileiros. As contradições específicas brasileiras, mais o avanço do populismo de direita no Ocidente, levaram à sua queda.

    Até a Wall Street e a City de Londres (que apoiaram a Guerra Híbrida no Brasil, depois de ela ter sido desencadeada pela NSA, que espionou a gigantesca petrolífera Petrobrás) começaram a mudar de opinião quanto ao apoio a Bolsonaro para presidente duma nação BRICS, que é líder do Sul Global, e que, até há poucos anos, estava em vias de ser a quinta maior economia do mundo.

    Tudo depende do mecanismo da “transferência de votos” de Lula para Haddad e na criação de uma Frente Democrática Progressiva séria e multipartidária na segunda volta para derrotar o crescente neofascismo. Têm menos de três semanas para o realizar.

    Steve Bannon. O efeito Bannon 

    Não é segredo nenhum que Steve Bannon é conselheiro da campanha de Bolsonaro no Brasil. Um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, encontrou-se com Bannon em Nova Iorque dois meses depois de o campo de Bolsonaro ter decidido aproveitar a supostamente inigualável visão de engenharia social de Bannon.

    O filho de Bolsonaro escreveu num tweet , nessa altura: “Estamos em contacto para reunir forças, especialmente contra o marxismo cultural”. Isto foi seguido por um exército de bots, que vomitaram uma avalanche de notícias falsas até ao dia das eleições.

    Um espectro assombra a Europa. Chama-se Steve Bannon. Este espectro mudou-se para os trópicos.

    Na Europa, Bannon está agora apostado em intervir como um anjo da perdição num quadro de Tintoretto, anunciando a criação duma coligação populista União Europeia-toda a direita.

    Bannon recebe publicamente os maiores elogios do ministro do Interior italiano, Salvini; do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban; do nacionalista holandês Geert Wilders; e do flagelo do establishment de Paris, Marine Le Pen.

    No mês passado, Bannon fundou O Movimento; à primeira vista apenas uma start-up política em Bruxelas, com uma pequena equipa. Mas falamos em ambição sem limites: o seu objetivo é nada menos do que virar as eleições parlamentares europeias em maio de 2019 de pernas para o ar.

    O Parlamento Europeu em Estrasburgo – um bastião de ineficácia burocrata – não é exatamente um nome familiar na União Europeia. O parlamento está impedido de propor legislação. As leis e os orçamentos só podem ser bloqueados através de uma maioria de votos.

    Bannon pretende captar pelo menos um terço dos assentos em Estrasburgo. Está apostado em aplicar métodos ao estilo americano, já testados, tais com sondagens intensivas, análise de dados e intensivas campanhas sociais nos media – tal como no caso de Bolsonaro. Mas, claro, não há garantias de que vá funcionar.

    Steve Bannon – o estrategista de Trump e de Bolsonaro – rei das notícias falsas

    A pedra basilar de O Movimento, segundo tudo leva a crer, foi colocada em duas importantes reuniões no início de setembro, organizadas por Bannon e pelo seu braço direito, Mischael Modrikamen, presidente do pequenino Partido Popular Belga (PP). A primeira reunião realizou-se em Roma com Salvini e a segunda em Belgrado com Orban.

    Modrikamen define o conceito como um “clube” que vai “angariar fundos de doadores, na América e na Europa, para assegurar que as ideias ‘populistas’ sejam ouvidas pelos cidadãos da Europa que se apercebem cada vez mais que a Europa já não é uma democracia”.

    Modrikamen insiste: “Somos todos soberanistas”. O Movimento vai martelar quatro temas que parecem formar consenso em partidos políticos diferentes, de toda a União Europeia: contra uma “imigração descontrolada”; contra o “islamismo”; a favor da “segurança” na União Europeia; e em apoio a “uma Europa de nações soberanas, orgulhosas da sua identidade”.

    O Movimento deverá ganhar velocidade depois das intercalares do próximo mês nos EUA. Em teoria, poderá congregar diversos partidos da mesma nação à sua sombra. Poderá ser uma ordem muito alta, ainda mais alta do que o facto de os principais atores políticos já terem programas divergentes.

    Wilders quer rebentar com a União Europeia. Salvini e Orban querem uma União Europeia fraca, mas não querem ver-se livres das suas instituições, Le Pen quer uma reforma da União Europeia seguida por um referendo “Frexit”.

    Os únicos temas que unem este saco de gatos de populismos de direita são o nacionalismo, um confuso impulso anti-establishment e — muito popular — o desencanto com a pesada máquina burocrática da União Europeia.

    Encontramos aqui terreno comum com Bolsonaro, que se apresenta como nacionalista e contra o sistema político brasileiro – apesar de estar no Parlamento há séculos.

    Manifestação organizada pelo grupo Mulheres Unidas Contra Bolsonaro em Campinas

    Não há uma explicação racional para o avanço de última hora de Bolsonaro nas duas secções do eleitorado brasileiro que o desprezam profundamente: as mulheres e a região nordeste, que sempre foi discriminada pelo sul e pelo sudeste, mais ricos.

    Tal como a Analítica de Cambridge nas eleições norte-americanas de 2016, a campanha de Bolsonaro visou eleitores indecisos nos estados do nordeste, assim como as mulheres, com uma barragem de notícias falsas, denegrindo Haddad e o Partido dos Trabalhadores. Funcionou como mágica.

    A ação italiana 

    Estive no norte de Itália para ver até que ponto Salvini é popular. Salvini define as eleições para o Parlamento Europeu em maio de 2019 como “a última hipótese para a Europa”. O ministro italiano dos Estrangeiros, Enzo Moavero, considera-as as primeiras “verdadeiras eleições para o futuro da Europa”. Bannon também acha que o futuro da Europa está em jogo na Itália.

    É espantoso apreender a energia conflituosa no ar em Milão, onde o partido Lega de Salvini é muito popular enquanto, simultaneamente, Milão é uma cidade globalizada, a abarrotar de bolsõess ultraprogressistas.

    Num debate político sobre um livro publicado pelo Instituto Bruno Leoni, acerca da saída do euro, Roberto Maroni, antigo governador da poderosa região da Lombardia, observou: “A Italexit está fora do programa formal do governo, do Lega e do centro-direita”. Maroni lá sabe, afinal de contas, ele foi um dos fundadores do Lega,

    Mas deu a entender que há no horizonte importantes mudanças. “Para formar um grupo no Parlamento Europeu, os números são importantes. Este é o momento para aparecer com um único símbolo dos partidos de muitas nações”.

    Não são só Bannon e Modrikamen de O Movimento. Salvini, Le Pen e Orban estão convencidos de que podem ganhar as eleições de 2019 – com a União Europeia transformada numa “União das Nações Europeias”. Isso incluirá não só algumas das grandes cidades onde se passa toda a ação, com o resto reduzido a um estatuto de observadores. O populismo de direita argumenta que a França, a Itália, a Espanha e a Grécia já não são nações – apenas meras províncias.

    O populismo de direita sente-se imensamente satisfeito por o seu principal inimigo ser o auto-intitulado Macron “Júpiter” – ridicularizado por alguns em França como “o pequeno Rei-Sol”. O presidente Emmanuel Macron deve andar aterrorizado por Salvini surgir como a “luz principal” dos nacionalistas europeus.

    É para isto que a Europa parece estar a caminhar: um destruidor desafio de Salvini contra Macron.

    A luta entre Salvini e Macron, na Europa, pode ser uma repetição da luta entre Bolsonaro e Haddad, no Brasil. Alguns espíritos agudos brasileiros estão convencidos de que Haddad é o Macron brasileiro.

    Na minha opinião, não é. Tem formação em filosofia e foi um competente prefeito de São Paulo, uma das mais complexas metrópoles do planeta. Macron é um banqueiro Rothschild de fusões e aquisições. Ao contrário de Macron, que foi engendrado pela instituição francesa como o perfeito lobo “progressivo” a ser largado entre as ovelhas, Haddad encarna o que resta da esquerda realmente progressista.

    Haddad no enfrentamento com o nazismo mais grave da história do Brasil

    Para mais – ao contrário de todo o espectro político brasileiro – Haddad não é corrupto. Terá que oferecer a exigida porção de carne aos suspeitos habituais, se ganhar a corrida. Mas não será uma marioneta nas mãos deles.

    Comparem o trumpismo de Bolsonaro, evidente na sua mensagem de última hora, antes do dia das eleições: “Tornem o Brasil Grande de Novo!”, com o trumpismo de Trump.

    Os instrumentos de Bolsonaro são o elogio persistente da Pátria Mãe, das forças armadas e da bandeira.

    Mas Bolsonaro não está interessado em defender a indústria, os empregos e a cultura do Brasil. Pelo contrário. Um exemplo gráfico é o que aconteceu num restaurante brasileiro, em Deerfield Beach, na Flórida, há um ano: Bolsonaro saudou a bandeira americana e entoou “USA! USA!”

    Isso é puro MAGA (Make America Great Again) – e sem a letra “B”.

    Jason Stanley, professor de Filosofia em Yale e autor de How Fascism Works , leva-nos mais longe . Stanley sublinha como “a ideia no fascismo é destruir a política económica… Os empresários alinham com os políticos que usam táticas fascistas porque tentam desviar a atenção das pessoas das forças reais que causam a genuína ansiedade que elas sentem”.

    Bolsonaro domina estas táticas de diversão. É excelente em denegrir o alegado marxismo cultural. Bolsonaro encaixa na descrição de Stanley, tal como é aplicado aos EUA:

    “O liberalismo e o marxismo cultural destruíram a nossa supremacia e destruíram esse maravilhoso passado em que governávamos e as nossas tradições culturais eram as que dominavam. Depois, militariza o sentimento de nostalgia. Toda a ansiedade e perda que as pessoas sentem na sua vida, digamos por causa da perda do serviço de saúde, da perda das suas reformas, da perda da sua estabilidade, é enraizada numa sensação de que o verdadeiro inimigo é o liberalismo, que levou à perda do seu passado mítico”.

    No caso brasileiro, o inimigo não é o liberalismo, mas o Partido dos Trabalhadores, ridicularizado por Bolsonaro como “um monte de comunistas”. Ao celebrar a sua espantosa vitória da primeira volta, disse que o Brasil estava à beira de um “abismo” comunista corrupto e podia escolher entre uma via de “prosperidade, liberdade, família” ou “a via da Venezuela”.

    A investigação Lava Jato consagrou o mito de que o Partido dos Trabalhadores e toda a esquerda é corrupta (mas a direita não). Bolsonaro ainda ampliou mais o mito: todas as minorias e classe social é um alvo – na sua cabeça são “comunistas” e “terroristas”.

    Faz-nos recordar Goebbels – no seu texto fundamental “A Radicalização do Socialismo”, em que ele sublinha a necessidade de retratar o centro-esquerda como marxistas e socialistas porque, como Stanley assinala, “a classe média vê no marxismo não tanto a subversão da vontade nacional, mas sobretudo o ladrão da sua propriedade”.

    Isto está no centro da estratégia de Bolsonaro de denegrir o Partido dos Trabalhadores – e a esquerda em geral. A estratégia é encharcada em notícias falsas – mais uma vez refletindo o que Stanley escreve sobre a história dos EUA: “Todo o conceito de império baseia-se em notícias falsas. Toda a colonização baseia-se em notícias falsas”.

    A direita contra o populismo? Como já escrevi num artigo anterior , a esquerda no Ocidente é como um encadeado encadeado por faróis, quando se trata de combater o populismo de direita.

    Espíritos atentos, de Slavoj Zizek a Chantal Mouffe estão a tentar conceptualizar uma alternativa – sem conseguir arranjar o neologismo definitivo. Populismo de esquerda? Popularismo? Idealmente, devia ser “socialismo democrático” – mas ninguém, num ambiente pós-ideologia, pós-verdade, se atreveria a usar a palavra temida.

    A ascensão do populismo de direita é uma consequência direta do aparecimento de uma profunda crise de representação política em todo o Ocidente; a política de identidade erigida como um novo mantra; e o esmagador poder das redes sociais, que permitem – na definição inigualável de Umberto Eco – a ascensão do “idiota da aldeia à condição de oráculo”.

    Como já vimos, o lema central do populismo de direita na Europa é contra a imigração – uma variante mal disfarçada do ódio contra o Outro. No Brasil, o tema principal, realçado por Bolsonaro, é a insegurança urbana. Pode ser o Rodrigo Duterte brasileiro – ou Harry Duterte: “Atreve-te, idiota”.

    Ele intitula-se o Legítimo Defensor contra uma elite corrupta (apesar de fazer parte dessa elite); e o seu ódio de todas as coisas politicamente corretas, do feminismo, da homossexualidade, do multiculturalismo – tudo isso são crimes imperdoáveis contra os “valores da família”. Um historiador brasileiro afirma que a única forma de nos opormos é “traduzir” para cada setor da sociedade brasileira como a posição de Bolsonaro os afeta: “o armamento alargado, a discriminação, os empregos, (e) os impostos”. E isso tem que ser feito em menos de três semanas.

    Penso que o melhor livro que explica o fracasso da esquerda por toda a parte para lidar com esta situação tóxica é o livro de Jean-Claude Michea, Le loup dans la Bergerie (O lobo no curral) publicado em França há uns dias.

    Michea mostra, concisamente, como as profundas contradições do liberalismo, desde o século XVIII – políticas, económicas e culturais – o levaram a VIRAR-SE CONTRA SI MESMO e a separar-se do espírito inicial de tolerância (Adam Smith, David Hume, Montesquieu). É por isso que estamos mergulhados profundamente no capitalismo pós-democrático.

    Chamadas eufemisticamente “a comunidade internacional” pelos “media” dominantes ocidentais, as elites, que têm sido confrontadas desde 2008 com “as dificuldades crescentes que o processo da acumulação globalizada do capital enfrenta”, parecem agora dispostas a fazer tudo para manter os seus privilégios.

    Michea tem razão quando diz que o mais perigoso inimigo da civilização – e até da vida na Terra – é a dinâmica cega da acumulação infindável do capital. Sabemos para onde este bravo Mundo Novo neoliberal nos está a levar.

    O único obstáculo é um movimento autónomo, popular “que não esteja submetido à hegemonia ideológica e cultural de movimentos ‘progressistas’ que, durante mais de 30 anos, defendem apenas os interesses culturais das novas classes médias em todo o mundo”, diz Michea.

    Por agora, um tal movimento mantém-se no reino da utopia. O que resta é tentar remediar uma distopia iminente – como o apoio a uma verdadeira Frente Democrática Progressista – para bloquear um Brasil Bolsonaro.

    Um dos pontos altos da minha estadia em Itália foi uma reunião com Rolf Petri, professor de História Contemporânea na Universidade Ca’ Foscari, em Veneza, e autor do livro absolutamente essencial A Short History of Western Ideology: A Critical Account .

    Passando da religião, da etnia e do colonialismo, para o projeto iluminista de “civilização”, Petri tece uma tapeçaria devastadora de como “a geografia imaginada de um ‘continente’ que nem sequer era um continente, oferecia uma plataforma para a afirmação da superioridade europeia e da missão civilizadora da Europa”.

    Durante um longo jantar numa pequena trattoria veneziana longe das hordas galopantes de selfies, Petrie observou como Salvini – um pequeno empresário da classe média – descobriu astuciosamente como canalizar uma profunda saudade inconsciente de uma harmoniosa Europa mítica que nunca voltará, tal como o pequeno-burguês Bolsonaro evoca um regresso mítico ao “milagre brasileiro” durante a ditadura militar de 1964-1985.

    Todos os seres conscientes sabem que os EUA mergulharam numa desigualdade extrema “supervisionada” por uma plutocracia implacável. Os trabalhadores norte-americanos continuarão a ser lixados, tal como os trabalhadores franceses com o “liberal” Macron. O mesmo acontecerá aos trabalhadores brasileiros com Bolsonaro. Como dizia Yeats, que besta imunda, nesta hora tão negra, se lança à liberdade de nascer?

    Fonte: Instituto de Estudos Latino-Americanos
    [*] Pepe Escobar é jornalista, brasileiro, correspondente do Asia Times. O seu último livro é 2030 .

    O original encontra-se em consortiumnews.com/… . Tradução de Margarida Ferreira.

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .