Por Wagner de Alcântara Aragão, do Macuco Bloge fotos de Laiza Marinho, para os Jornalistas Livres
Há incontáveis semanas que o sol e céu azul não davam as caras em Curitiba. Pois se fizeram presentes neste domingo, 13 de dezembro. O cenário para que uma multidão fosse às ruas e aderissem ao movimento pró-impeachment da presidenta Dilma Rousseff se desenhava, para a oposição de direita, como ideal.
Não foi.
Embora a verborragia e o volume do carro de som continuassem elevados, e as palavras de ordem contra o PT, o comunismo e o bolivarianismo se repetissem à exaustão, o público presente e a duração do ato foram bem menores do que nas manifestações anteriores. Parece que os curitibanos não estão dispostos a respaldar um impeachment com aroma, cores e sabor de golpe.
Não que a insatisfação com o governo Dilma tenha diminuído. Mas nos atos anteriores — em março, abril e agosto — não havia um pedido de impeachment acatado, tramitando. Não era só o antipetismo o combustível das manifestações. Havia um descontentamento contra as medidas de arrocho tomadas pela equipe econômica de Dilma.
Com o impeachment posto à mesa, ir às ruas passou a significar não apenas ir para protestar “contra tudo o que está aí”. Vestir o verde-amarelo e cerrar fileiras com os organizadores desses movimentos antipetistas passou a ter outro significado: referendar um pedido de afastamento claramente sem base legal, capitaneado por um turma que não consegue ganhar eleição e viu no impedimento da presidenta uma chance de voltar ao poder, pelo tapetão.
A maioria da população, inclusive a maioria dos insatisfeitos com o atual governo, parece ter percebido isso.
Na capital paranaense, a concentração do ato começou por volta das 13 horas, na Praça Santos Andrade, no Centro. Depois, os manifestantes seguiram em caminhada até a Boca Maldita, tradicional ponto de atos políticos. Por volta das 15h30, a manifestação se dispersou.
O pato inflável gigante, símbolo escolhido pela Federação das Indústria de São Paulo em campanha contra a carga tributária, foi o que ainda restou por mais tempo na Boca Maldita.
Os organizadores falaram em 15 mil participantes. A Polícia Militar, em 10 mil. Difícil corroborar esses números.
Em razão das festas de final de ano, o comércio do Centro de Curitiba abre aos domingos. Neste, as lojas atraíram mais gente que a manifestação pró-impeachment. Os que não foram às compras no comércio de rua, lotaram os shoppings.
Já aqueles que preferiram deixar a gastança para depois, resolveram aproveitar o raro domingo de sol nas praças, parques e outros espaços públicos de lazer e cultura. O Museu Oscar Niemeyer e bosque dos arredores, por exemplo, estiveram lotados durante a tarde.
Esta semana o debate a respeito da inconstitucionalidade do Impeachment ganhou destaque nos principais meios de comunicação (inclusive aqui no Jornalistas Livres — veja matéria sobre inconstitucionalidade do impeachment).
Uma parcela importante da sociedade tem apresentado dúvidas das mais diversas a respeito do conceito e processo chamado “impeachment”, bem como dúvidas mais gerais sobre o nosso sistema político.
Apresentamos a seguir alguns dos principais conceitos que estão presentes nas discussões – às vezes bem colocados, às vezes distorcidos – com o objetivo de ajudar a tornar o debate mais qualificado, bem como a colaborar para que argumentos pouco fundamentados, baseados em boatos ou simplesmente irracionais possam ser enfrentados, não especificamente pelo bem de algum governo ou grupo político, mas em defesa da democracia.
O que é um “impeachment”?
Segundo o dicionário Houaiss, (2001) — o impeachment é um instrumento político-criminal instaurado por denúncia no Congresso para apurar a responsabilidade de um Presidente.
Nota-se que em sua definição não se separa os termos “político” e “criminal”, pois são necessários os dois elementos na fundamentação de um pedido de impeachment conforme indica o Art. 85 da Constituição Federal:
“São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:
I — a existência da União;
II — o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;
III — o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV — a segurança interna do País;
V — a probidade na administração;
VI — a lei orçamentária;
VII — o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento.”
A criminalista Profa. Dra. Rosa Cardoso da Cunha em coletiva de imprensa que reuniu dezenas de juristas, professores e advogados das mais importantes instituições brasileiras do Direito, mencionou — a respeito dos crimes, inclusive os de responsabilidade, que podem ser utilizados em um processo de impeachment:
“…se é crime, tem as garantias do direito criminal, ou seja, o fato só pode ser enquadrado, só pode ser atribuído a alguém, se for típico, antijurídico e culpável, se houver justa causa do ponto de vista criminal, e justa causa — do ponto de vista criminal — é materialidade criminosa e autoria criminosa.”
O impeachment é uma forma de tirar do poder presidentes, governadores ou prefeitos que no momento podem não estar agradando?
Reprodução-AGU
Não. Assim como em um jogo de futebol não se pode parar o jogo antes do apito final do juiz porque o time está tomando uma goleada, nos países de regime presidencialista — como é o caso do Brasil — também não se pode tirar do poder um Presidente, governador ou prefeito que não esteja agradando naquele momento à opinião pública somente por vontade política. Tal como um time só pode ser punido sendo todo ele expulso do campo antes do fim da partida se houver “justa causa” ou seja, se uma autoria criminosa for realizada pelo responsável pelo time, da mesma forma um governante só pode ser removido do cargo se houver justa causa, ou seja, se houver comprovação de que o governante tinha intenção de cometer um crime, uma afronta à Constituição, se levada em conta a interpretação da Profa. Rosa Cardoso da Cunha.
Países como os Estados Unidos e nossos vizinhos como Argentina, Paraguai e Uruguai são países que utilizam o sistema de governo presidencialista com funcionamento independente do poder executivo em relação ao poder legislativo, isso é, os deputados e senadores não interferem na escolha do Presidente que é eleito por voto direto ou através de delegados que não são ao mesmo tempo parlamentares.
Mas existe outro sistema de governo bastante utilizado mundo a fora:
O Sistema Parlamentarista (não é o caso do Brasil)
No sistema parlamentarista as decisões que no caso brasileiro estão à cargo do Presidente da república, em grande parte (especialmente no que se refere às questões internas do país) são de responsabilidade do “Primeiro Ministro”. Nos países que utilizam este sistema, de modo geral, o Primeiro Ministro é eleito por parlamentares e não pelo voto direto da população. Neste caso, os eleitores comuns votam em parlamentares de suas preferências. Por sua vez, os parlamentares são incumbidos de eleger líderes dentro de seus partidos que irão disputar eleições dentro do próprio parlamento.
O partido com maior número de parlamentares eleitos pela população votante do país — se tiver a maioria das vagas (cadeiras) do parlamento — tem a prerrogativa de definir o nome do Primeiro Ministro, que em geral é o líder do partido naquele momento. Porém, quando o partido com mais vagas (cadeiras) não tem o número suficiente para nomear um Primeiro Ministro, este poderá tentar compor um governo de coalizão com outros partidos que participam do parlamento. Este processo de tentativa de formar um governo tem um prazo limite a ser obedecido que varia de acordo com a Constituição de cada país. Caso não se chegue a um governo de coalizão, então novas eleições poderão ser convocadas para que o eleitorado defina novos parlamentares.
O Presidencialismo (é o caso do Brasil)
Conforme mencionado anteriormente, países como o Brasil, a Argentina e mesmo os EUA, são países presidencialistas. Neste caso, ainda que o modo do eleitor escolher o Presidente possa variar, uma coisa há em comum entre eles: o Presidente não depende de votos de parlamentares para chegar ou para se manter no poder, mas sim, dos votos diretos dos eleitores ou de seus delegados (que não são parlamentares).
No caso do presidencialismo o Presidente tem um mandato previamente estabelecido para colocar em prática seu projeto político. Este prazo costuma variar entre quatro e cinco anos (no caso do Brasil, 4 anos) podendo ou não admitir que o Presidente concorra à reeleição.
Nos países de sistema de governo presidencialista as eleições são divididas entre cargos majoritários e cargos proporcionais. Os cargos majoritáriossão aqueles em que o vencedor da eleição por maioria simples ou absoluta assume o cargo exclusivamente, sem ter que compartilhar suas atribuições com o segundo, terceiro e demais colocados na votação. Este é o caso de cargos do poder executivo como o da presidência da república, dos governos de estado e de prefeituras. Nestes casos, somente um vencedor assume o cargo a que concorreu.
Já no caso de cargos proporcionais — isso irá variar conforme as regras de cada cargo a que se concorre, em cada país, estado ou cidade — os vencedores são classificados e de acordo com a quantidade de votos que receberam para si, para seus partidos, lideranças ou lista de candidatos. De acordo com esta classificação e número de votos recebidos, os candidatos assumem a quantidade de vagas correspondente à proporção de votos que cada grupo ou parlamentar atingiu. No nosso caso, cada partido ou coligação, após contabilizados os votos de seus candidatos passa a ter direito a determinada quantidade de votos na Câmara dos Deputados (eleições para o Senado são do tipo majoritária) que serão estabelecidas de acordo com oquociente eleitoral — que é um cálculo proporcional que estipula a quantidade de vagas a que cada partido terá direito na Câmara dos Deputados.
Diferenças e considerações importantes em relação a cada sistema de governo (presidencialismo e parlamentarismo)
Enquanto que em governos de sistema parlamentarista o Primeiro Ministro tem que se manter bastante atento aos interesses e propostas de sua base de sustentação (parlamentares que concordam em manter o Primeiro Ministro no cargo e que colaboram enviando propostas e votando projetos de interesse do governo) sob o risco de os parlamentares emitirem um pedido para que o Primeiro Ministro deixe o poder (como, por exemplo, no caso de uma Moção de Desconfiança ou Censura dada pelo parlamento). Por outro lado, o Primeiro Ministro pode “dissolver o Congresso“ e convocar novas eleições. A estabilidade neste sistema de governo se dá em grande parte, por um lado, pelo receio de o Primeiro Ministro não conseguir manter uma maioria de parlamentares em sua base, e por outro, pelo receio de que o Primeiro Ministro dissolva o Congresso fazendo com que os parlamentares tenham que enfrentar um novo processo eleitoral.
Diferentemente do que ocorre no sistema parlamentarista, tal como vimos no exemplo do jogo de futebol, o parlamento em governos presidencialistas não tem a prerrogativa de tirar do poder o presidente por mera insatisfação política. As únicas formas de se remover um presidente de seu cargo antes do término de seu mandato são: por motivo de seu falecimento, pela sua renúncia ou através da comprovação de que o mesmo tenha cometido algum crime que seja de sua responsabilidade que esteja previsto na Constituição Federal ou caso seja condenado por crime comum (assassinato, por exemplo). Além de ter cometido o crime, caso não esteja impossibilitado de executar suas funções, o presidente terá também que ser reprovado pelo Parlamento através de uma condenação em um processo de impeachment.
O atual cenário político brasileiro e a questão do “impeachment” no caso da Presidenta Dilma Rousseff
O presidente da Câmara dos deputados Eduardo Cunha acolheu um pedido de abertura de impeachment contra a Presidenta Dilma Rousseff. Ao longo dos últimos anos dezenas de pedidos de impeachment foram enviados à Câmara, como no caso de governos como: Collor (29 pedidos), Itamar (4 pedidos), FHC (17 pedidos) e Lula (34 pedidos), Dilma (14 pedidos no primeiro mandato). Entretanto, foram pouquíssimas as vezes que pedidos de impeachment foram acolhidos pela Presidência da Câmara dos Deputados, pois, em nome da estabilidade política e das garantias constitucionais, os pedidos só seriam aceitos caso apresentassem provas robustas sobre a ocorrência de crime pela pessoa do presidente da república ou por comprovada ação que dependesse diretamente dele. Os presidentes Collor e FHC tiveram pedidos de impeachment acolhidos pela mesa e votados pela Câmara, Collor renunciou antes da condenação; FHC teve seu processo arquivado pela Câmara dos Deputados).
Eduardo Cunha acolheu um pedido de Impeachment protocolado pelos juristas Miguel Reale Júnior (Político e ex ministro da justiça no governo FHC — 2002), Hélio Bicudo (Político e jurista que pertenceu ao PT e que deixou o partido por conta de desavenças com Lula), e pela Professora e Advogada Janaina Paschoal (Ex “cara pintada” e membro do movimento 11 de Agosto que participou de manifestações pela saída de Fernando Collor do poder).
O argumento deste grupo de juristas/advogados é o de que a Presidenta Dilma cometeu crime de responsabilidade ao adiar repasses de grandes quantias de dinheiro a bancos que são de propriedade do próprio governo federal tais como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Ao não atrasar estes repasses o governo gerou um déficit com estas instituições sendo que o maior dos valores foi o referente ao ano de 2013. Naquele ano o déficit da União com os bancos públicos foi de cerca de 3,379 bilhões de reais.
Entretanto, conforme observou a Profa. Dra. Rosa Cardoso da Cunha, outros governos haviam gerado déficit similar aos bancos públicos sem que fossem interpelados ou condenados por crime de responsabilidade.
Dados das contas do governo que podem ser acessados no portal do Ministério da Fazenda, indicam que, por exemplo, no ano 2000 (governo FHC), o déficit do governo com os bancos públicos chegou a 918 milhões de reais. À primeira vista parece que a diferença do déficit do governo FHC é bastante inferior ao déficit do governo Dilma. Mas, se corrigido o valor de 918 milhões para valores de 2013, chega-se à cifra de 2,539 bilhões de reais em déficit das contas de FHC com bancos públicos. Ainda assim, parece pouco em relação ao déficit de 3,379 bilhões do governo Dilma?
Se for calculada a diferença entre o valor do PIB brasileiro de 2000 e o valor do PIB em 2013 é possível observar que a diferença é de cerca de 30% em valores atualizados. O valor do PIB em 2000 foi de 1,202 trilhões de reais, atualizado em valores de 2013 o valor fica em 3,447 trilhões o que é próximo dois terços valor do PIB de 2013 que foi de 5,158 trilhões de reais). Praticamente a mesma diferença proporcional em relação ao valor do déficit (em valores atualizados) do governo FHC em comparação com o governo Dilma. Ou seja, neste caso o argumento de que o volume das “pedaladas fiscais” do atual governo estaria muito acima do que historicamente havia ocorrido no Brasil cai por terra.
Os dados apresentados acima indicam que as pedaladas de FHC em 2000 foram de aproximadamente 0,074% do valor do PIB daquele ano, enquanto que as pedaladas de Dilma foram de aproximadamente 0,066% em 2013.
Economistas especializados em finanças públicas e dados macroeconômicos poderiam apresentar estas informações com maior grau de detalhe e precisão, mas a simples comparação da relação Pedalada X PIB entre os dois governos já indica que o caso pode sim estar sendo tratado com dois pesos e duas medidas pelo Congresso, TCU e Mídia. O jornal Folha de S. Paulo, em matéria de abril deste ano indicou que o Governo FHC já havia realizado as chamadas “pedaladas fiscais”, a manchete dizia que as manobras fiscais (da CEF) tinham crescido no governo Dilma, mas não detalhava os pontos apresentados mais acima que poderiam indicar uma grande falha na manchete dada pelo jornal.
Ao se comparar presidencialismo versus parlamentarismo é possível observar que o parlamento brasileiro, tal como destaca o jurista Dr. Luiz Moreira Gomes Júnior, que na mesma coletiva da qual participou a Dra. Rosa Cardoso da Cunha, destacou que o que parece estar em curso é um “golpe parlamentar” que não cabe ao sistema de governo brasileiro que é um regime presidencialista.
A combinação de: a) uma reação desproporcional de membros do Congresso – como é o caso do Presidente da Câmara Eduardo Cunha e do Tribunal de Contas da União (TCU) às pedaladas fiscais do atual governo em comparação com as do governo FHC, e de; b) o descontentamento de parlamentares que estão sendo investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público que se aliaram ao presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), parece ser o principal fator para a atual instabilidade política que é constantemente alimentada pela chamada “grande mídia” (redes de TV abertas e jornais tradicionais). Todos estes parecem estar bastante interessados no agravamento da crise política e econômica que vai se instalando. Os motivos que cada um destes agentes têm para conduzir o país cada vez mais a um cenário inviável para o atual governo, permanece pouco esclarecido, mas a defesa das instituições e da democracia não parece estar na agenda deles.
As forças sociais que elegeram a presidente Dilma Rousseff reuniram-se na sexta-feira, 13 de março, pela primeira vez desde o início deste segundo mandato presidencial para exigir a reforma política, defender a democracia, os direitos dos trabalhadores (atacados pelo ajuste fiscal promovido pelo pacto de governabilidade), a Petrobras e o Pré-Sal.
Um ato de luta, que exigiu o respeito ao mandato das urnas.
Sexta-feira, 13 – um dia há se lembrar
No mesmo dia, há 51 anos, o presidente trabalhista João Goulart, também enfrentando uma oposição feroz, realizou o Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Diante de uma multidão de 150 mil pessoas, o próprio Goulart discursou em favor das chamadas Reformas de Base (reformas agrária e urbana), e do direito de voto para analfabetos e soldados. Como demonstração da centralidade da Petrobras desde então, Goulart assinou decreto de desapropriação de refinarias de petróleo que ainda estavam de posse da iniciativa privada.
São Paulo. Foto: Renato Stockler
Mas as semelhanças param aí. Nos atos públicos realizados neste ano em 24 cidades e no Distrito Federal, Dilma Rousseff não foi. Seus ministros tampouco. E contavam-se nos dedos os dirigentes do Partido dos Trabalhadores que deram as caras. Entre as honrosas e aclamadas exceções estavam o ex-senador Eduardo Suplicy e o ex-deputado estadual Adriano Diogo, para o qual o partido precisa voltar para o campo das lutas populares.
Rio de Janeiro. Foto: Mídia NINJA
Foi resultado da coragem dos dirigentes da Central Única dos Trabalhadores, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, da União Nacional dos Estudantes, dos movimentos de moradia, e de inúmeras outras organizações populares e de juventude, o grande reencontro da esquerda com sua vocação reivindicatória, expressa nos atos públicos realizados. Centenas de milhares de pessoas manifestando a disposição de lutar pelo aprofundamento da democracia e por mais direitos.
Desde o Palácio do Planalto, durante toda a semana, saíam recriminações aos atos do dia 13. Dizia-se que seria um fracasso, um tiro no pé, que acabaria dando munição aos defensores do impeachment, que demonstraria a fragilidade da base social do governo.
Mas foi bem diferente o que se viu..
Avenida Paulista. Foto: Mídia NINJA
O maior de todos os atos aconteceu em São Paulo, o Estado que deu esmagadora vitória ao candidato tucano Aécio Neves na última eleição presidencial, terra de bandeirantes e de preconceitos, mas também berço do Partido dos Trabalhadores, do movimento estudantil e das greves operárias dos anos 1970/80, que ajudaram a derrubar a ditadura e a reconquistar a democracia.
Na avenida Paulista, 100.000 pessoas (segundo a CUT) e 41.000 (segundo o DataFolha) vestiram-se de vermelho debaixo de céu preto e ameaçador. Não demorou e a tempestade desabou. Mas aí foi que a festa começou.
São Paulo. Foto: Renato Stockler
“Pode chover, pode molhar, ninguém segura a resistência popular”, gritavam os manifestantes. Ninguém arredou pé.
Foto: Mídia NINJA
Avenida Consolação. Foto: Jornalistas Livres
Para a militância, que passou o último mês encolhida –humilhada pelas denúncias de corrupção envolvendo dignitários petistas e gente de todos os partidos — , foi uma apoteose. O MST apareceu com seus homens e mulheres de rostos tostados de sol, os professores vieram depois de decretar greve em assembleia realizada no vão livre do Masp. Os metalúrgicos, os sambistas da Rosas de Ouro, os negros, os cotistas, os moradores de rua. Os jovens do Levante Popular da Juventude.
São Paulo, 13 de Março de 2015 — Foto: Maurício Lima
São Paulo, 13 de Março de 2015 — Foto: Maurício Lima
“A mídia golpista quase fez a gente acreditar que estava derrotada, mas a gente está firme e forte e não vai permitir que o Brasil seja tomado de assalto pelos ricos e poderosos”, disse a dona de casa Eurides Camargo de Souza, 65 anos, enrolada em uma bandeira do PT que ela mesma bordou em 1982, durante a primeira campanha eleitoral que teve Lula como candidato.
São Paulo. Foto: Hélio Mello
Rio de Janeiro — Foto: Dado Galdieri
Muitos militantes portavam cartazes em que se lia #globomente e #globogolpista –aliás, a hashtag #globogolpista foi a campeã de citações no twitter, comprovando que até mesmo na guerra virtual, a esquerda retomou a iniciativa. Pela primeira vez em meses, hashtags identificadas com os movimentos sociais tiveram a maioria das citações nas redes sociais. “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”
São Paulo. Foto: Mídia NINJA
Ficou até chato ver o repórter da Globo andando com capacete de guerra na avenida Paulista, entrando no Jornal Nacional. Para enfatizar o ridículo do equipamento de segurança, o próprio Jornal Nacional afirmava terem sido absolutamente pacíficos os atos realizados em todo o país.
Igualmente destoante foi a presença de 50 militantes do grupo de ultra-direita “Revoltados Online”, que se postou na avenida Paulista em clara atitude provocativa. Mas ninguém lhes deu ouvidos. E eles ficaram ali, com o farol baixo, gritando o seu “Fora Dilma” sem eco entre os transeuntes.
Na chegada à praça da República, as professoras Adriana e Sonia, encharcadas e exaustas, ainda tiveram forças saltar bem alto, na coreografia do “Quem não pula é tucano, quem não pula é tucano.” Na segunda-feira, as duas estarão em greve contra o governo Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e por reajuste salarial.
É a luta que segue.
Foto: Renato Stockler
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