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  • Rudá Ricci: Uma reunião em meio ao caos

    Rudá Ricci: Uma reunião em meio ao caos

    Por: Rudá Ricci

    Vamos decompor o cenário.
    Trata-se de uma reunião ministerial de um governo frágil, sem rigor, sem rumo, absolutamente ideologizado, num momento em que começava a perder musculatura, em meio à maior tempestade perfeita deste século. O que se poderia esperar? Racionalidade? Bons modos? Alguma sacada inteligente?

    O vídeo revela o que já se sabe deste desgoverno: falas muito abaixo da mediocridade que, como sabemos, significa ser mediano ou estar na média do pensamento mundano.

    Acuados, os discursos do chefe e seus chefiados são uma espécie de enredo do Monty Python sem qualquer humor. Nonsense com projeção de um mundo paralelo em que tentam demonstrar alguma força que, dado o teor da fala e as ênfases exageradas da forma, revelam mais que a canela. O que se poderia esperar? É gente frágil, marginal em suas áreas de atuação. Quem é Paulo Guedes no mundo da economia? Damares no mundo dos direitos sociais e até no mundo religioso? Quem é Bolsonaro no mundo militar ou no mundo político? Todos se forjaram nas margens do mundo real.

    Bolsonaro não desejava que este vídeo de filme B viesse à público. Vai saber o que o levou a temer. Afinal, o que aconteceu naquela reunião não foge das escatologias de Araújos, Guedes, Weintraubs e Bolsonaros. O fato é que ele perdeu mais esta queda de braço. Talvez, num relance de vergonha, os atores mambembes decidiram aceitar o truco. Alguns apostaram ainda mais no nonsense e na absoluta falta de respeito à investidura de seu cargo. Jogaram como jogadores de porrinha realizado no bar copo sujo da esquina. Suados, camisas abertas até o peito, uma leve baba no canto da boca, decidiram fazer mais uma bravata. Afinal, de bravata em bravata, não se chega a lugar algum e, assim, se anda em círculos eternamente até que a Divina Providência dê um basta.

    Já o exército de robôs decidiu fazer alguma coisa que prestasse politicamente. Já escrevi muitas vezes que na política contemporânea, a versão vale mais que o fato. A reunião-circo não renderá nota de rodapé nos livros de história.

    Mas, pensou alguém que se acha sagaz: “e se disseminarmos que o vídeo reelegerá Bolsonaro?”. Essa indagação não faria sentido em nenhum lugar normal. Mas, o Brasil, há tempos, deixou de ser normal. A deputada mais-ou-menos, já espinafrada pelo ex-ministro, decide postar no Twitter um agradecimento à Moro pela divulgação do vídeo. Interessante que o chefe mor não queria a divulgação. Mas, quando se trata de versão, isso não interessa. Um ou outro do grupo fanático que representa um traço em termos de total da população brasileira, foi na onda.

    Então, adivinhem quem cai nesta armadilha de gente que faz aquele tipo de reunião? Parte da militância de esquerda. Como patinhos amarelinhos que Gugu e FIESP tanto criam e cultuam, esta parcela da esquerda tupiniquim – que um dia foi intelectualizada – cai rolando na sala e tenta dar saltinho para ficar em pé logo em seguida. Já tinha caído na tal brincadeira infantil de Bolsonaro com a tal Tubaína (que, cá entre nós, acho uma delícia). Tentaram cavar alguma mensagem cifrada para… para… para o que, mesmo? Para se revelarem sem nenhum dom para o jogo político. No passado, se dizia que gafe política desta natureza era “passar recibo”, ou seja, dar um valor ao adversário que ele não merecia.

    Acredito que este infantilismo tem relação com a lógica da esquerda “parlamentarizada”, aquela que fala grosso e age com medo. Até entendo que tem sentido dar volume para o adversário para não ficar tão feio a derrota de 2018. Afinal, o que vão dizer para os netinhos? “Perdemos para um desqualificado que comandava uma reunião ministerial como se estivesse no Country Club num domingo modorrento depois de tomar um engradado de cerveja?”.

    O ideal teria sido a esquerda deixar esta briga entre STF e o fantástico estrategista Jair.

    Mas, vejamos em perspectiva para avaliar a importância deste vídeo.

    Acabamos de ultrapassar 21 mil mortes pela Covid-19. Estamos com 12,5 milhões de desempregados. Queda de renda em 80% das famílias que residem em favelas. Queda de arrecadação entre 25% e 30% até aqui. Queda do PIB. 75% das indústrias do setor automobilístico paradas ou semiparalisadas.

    Esta é a foto do momento. Qual o filme? O filme que entrará em cartaz em novembro ou dezembro tem como personagens queda de 7% do PIB e 20 milhões de desempregados. Mais de 90 mil mortos por Covid19.
    Então, pensemos um pouco.
    Alguns psicólogos sugerem que quando estamos em meio à uma situação muito desagradável, para podermos medir de fato o tamanho deste problema, basta projetarmos alguns anos à frente. Se o problema reaparecer é porque é realmente grave. Caso contrário, é passageiro.

    Pensemos no final deste ano. Esta reunião-circo terá qual importância em meio à catástrofe econômica, social e sanitária? O morador de rua, o trabalhador autônomo, o morador de favela, o microempresário, o vendedor ambulante, estarão preocupados com a reunião-circo ou com a sua falência, a fome, a destruição de seus sonhos e expectativas, a degradação social batendo à porta de sua família?

    A reunião-circo está no mesmo patamar que a postagem do vídeo do Golden Shower no carnaval passado. Uma vergonha. Há, com efeito, elementos que podem gerar a prisão e cassação do cargo de vários presentes naquele teatro de bolso. Mas, é nisso que temos que insistir? Nessa pauta?
    Não. Temos muita coisa mais importante para fazer. Temos que reconstruir este país. Dar um mínimo de segurança para os mais vulneráveis.

    Temos que mostrar porque a extrema-direita sempre se apresenta como um rato que ruge. E como é a esquerda que sempre salva o mundo. Afinal, a extrema-direita não sabe nem organizar uma reunião ministerial que tenha começo, meio e fim, que tenha algum respeito e seriedade. Então, como alguém em sã consciência pode imaginar que sabem governar a 8ª economia mundial construída com seriedade e suor de mais de 200 milhões de habitantes?

  • Nota da torcida organizada Bahia Antifascista contra Bolsonaro

    Nota da torcida organizada Bahia Antifascista contra Bolsonaro

    No dia em que, infelizmente, o Brasil confirmou mais de 10 mil mortes e 155.939 casos de Coronavírus e a Bahia registrou 196 mortes e 5.174 casos confirmados, Bolsonaro passeia de Jet Ski em mais um episódio lamentável de desrespeito a vida.
    Nos chamou a atenção, o fato dele, inoportunamente, utilizar a camisa do Esporte Clube Bahia durante o passeio da morte.

    É comum ver o protofascista do Bolsonaro vestir diversas camisas de clubes populares. Ele já havia vestido a camisa do Esquadrão durante a sua última visita a Bahia.

    Não podemos deixar de registrar o nosso repúdio quando o oportunismo se faz presente com Bolsonaro vestindo o nosso manto sagrado em um ato de desrespeito a memória dos mais de 10 mil brasileiros e brasileiras que perderam as suas vidas, d@s profissionais da saúde que lutam contra a pandemia do Covid19 e dos milhões de homens e mulheres que sofrem com os descasos do governo federal com o povo.

    Bolsonaro representa tudo que o Esporte Clube Bahia e a sua torcida repudia com veemência. Ele reverencia a ditadura, enquanto o Bahia e a sua Torcida lutaram e lutam pela democracia. Ele reverencia o racismo, o machismo e a homofobia, enquanto o Bahia e a sua Torcida são exemplos internacionais de combate a todas as formas de opressão.

    Bolsonaro tem lado e não é o da defesa da vida do povo. Nós tricolores temos lado e estamos somando esforços para que o nosso povo sobreviva a essa Pandemia realizando atos de solidariedade de classe nesse momento tão difícil.

    Nosso povo é de resistência e luta e por tudo isso, a Torcida Bahia Antifascista registra o mais profundo repúdio ao fato dele vestir nossas cores.

    Bolsonaro não é digno de vestir o manto do clube do povo!

    Fora Bolsonaro e Mourão!

    Torcida Bahia Antifascista

  • Tamires Sampaio: Palácio do Planalto ou Escritório do Crime, STF abre inquérito contra Bolsonaro. E daí?

    Tamires Sampaio: Palácio do Planalto ou Escritório do Crime, STF abre inquérito contra Bolsonaro. E daí?

    Por Tamires Gomes Sampaio, especial para os Jornalistas Livres 

    O Brasil possuí a maior taxa de contágio pelo coronavírus do mundo, os casos confirmados e o número de mortes estão aumentando a cada dia e o presidente Bolsonaro deixou explicito seu total descaso com a crise que estamos vivendo no país. Bolsonaro se preocupa mais com os crimes com os quais sua família está envolvida do que com a vida de milhões de brasileiros que está em risco diante de suas ações no governo.

    Depois das declarações do ex-ministro Sérgio Moro na sexta-feira (24) sobre a tentativa de Bolsonaro em interferir nas investigações da Polícia Federal e em inquéritos que correm em sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF), fomos surpreendidos por uma revelação do site de jornalismo investigativo The Intercept que divulgou a existência de possível relação de seu  filho, Flávio Bolsonaro, com um esquema de construção civil ilegal liderado pela milícia do Rio de Janeiro. Além disso, no domingo, foi divulgado que Carlos Bolsonaro, também filho do presidente, estaria ligado a um esquema criminoso de disparos em massa de notícias falsas, fato que também está sendo investigado.

    No mesmo dia da revelação de Sérgio Moro, assistimos em nossas casas, com um misto de indignação e revolta, o pronunciamento dado em resposta por Bolsonaro. Primeiro, porque sua total incompetência para ocupar o cargo de presidente fica escancarada em seus discursos Segundo, porque o ouvimos não só reconhecer a interferência em investigações na PF, como também deixar escapar que o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, era um dos casos que estavam sendo investigados e que ele tentava interferir.

    Ao mesmo tempo, é importante que se entenda que Moro não pode se eximir de sua responsabilidade pelo tempo que ocupou o cargo de Ministro da justiça. Os crimes que hoje ele acusa Bolsonaro de ter cometido, podem ter se iniciado com sua conivência, o que igualmente merece investigação. Ele que ironicamente reconheceu em seu pronunciamento que durante as gestões do PT a PF possuía realmente autonomia para as investigações, afinal foi durante os governos Lula e Dilma que foram construídas políticas de combate à corrupção e de fortalecimento ao Ministério Público e a Polícia Federal.

    A interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, ao tentar nomear Alexandre Ramagem como diretor-geral da PF, um notório amigo de sua família, que provavelmente irá engavetar todas as investigações relacionada aos Bolsonaros, configura crime de responsabilidade e demonstra que Bolsonaro não medirá esforços para manipular qualquer investigação contra ele e sua família. Diante desse verdadeiro escândalo, o Procurador Geral da República (PGR), Augusto Aras, solicitou ao Supremo a abertura de um inquérito para apurar os fatos narrados por Sérgio Moro e solicita que ele seja ouvido pelo STF sobre as acusações que fez durante a coletiva.

    O Ministro Celso de Mello determinou a abertura do inquérito e, assim, Bolsonaro será investigado pelos crimes de falsidade ideológica, pois Moro declarou que não assinou a demissão do antigo diretor geral da PF; coação no curso do processo e obstrução de justiça, pelas tentativas de Bolsonaro ter acesso às investigações feitas pela PF e aos inquéritos do STF; advocacia administrativa, ao tentar fazer os interesses de sua família se sobrepor às investigações que estão em curso; prevaricação, por agir de acordo com os interesses pessoais e não como presidente; e, por fim, corrupção passiva privilegiada.

    Dentre as acusações que Moro fez, a tentativa de interferir em investigações da PF e inquéritos do STF chamaram atenção, afinal: o que estaria Bolsonaro tentando impedir de ser investigado? Em sua própria coletiva Bolsonaro nos respondeu essa pergunta ao falar sobre como a PF estava dando mais interesse ao assassinato de Marielle Franco ao invés da facada que recebeu durante a campanha em 2018. A declaração chamou atenção pois seu filho Flávio Bolsonaro foi apontado como um dos possíveis envolvidos no assassinato de Marielle por sua relação com componentes de um dos grupos da milícia do Rio de Janeiro, o Escritório do Crime.

    No sábado (25), o site The Intercept Brasil divulgou provas de que Flávio Bolsonaro estava envolvido em um esquema de construção ilegal de prédios no Rio de Janeiro. A matéria publicada apresenta documentos sigilosos e dados levantados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro a que o Intercept teve acesso.

    De acordo com a investigação que o MPRJ está fazendo, Flávio Bolsonaro financiou e lucrou com a construção de prédios erguidos pela milícia usando dinheiro público. O financiamento teria sido feito por meio de “rachadinhas”, nome popularmente dado à prática de desvio de parte da remuneração de funcionários públicos, no caso, funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio e que era organizada por seu ex-assessor Fabricio Queiroz. Esta investigação preocupa a família Bolsonaro e é um dos motivos do presidente para trocar o comando da Polícia Federal.

    Gráfico com as declarações absurdas de Bolsonaro desde o início da pandemia de COVID 19 no Brasil. (Autor desconhecido)

    Essa revelação do Intercept torna ainda mais próxima a relação da família Bolsonaro com o brutal assassinato de Marielle, porque após dois anos de investigações sabemos não só que o assassino era vizinho dos Bolsonaros como era membro do chamado “Escritório do Crime” (organização miliciana especializada em assassinatos por encomenda) e que seu assassinato provavelmente estaria ligado ao fato de que os milicianos acreditavam que ela poderia atrapalhar os negócios ligados à grilagem de terras na zona oeste do Rio de Janeiro, como revelado pelo Secretário de Segurança do RJ, Richard Nunes.

    O cerco contra a família Bolsonaro está apertando e a sua relação com a milícia do Rio de Janeiro fica a cada dia mais escancarada. Estamos hoje, graças às “fake news” propagadas durante às eleições de 2018 – coordenadas pelo Carlos Bolsonaro de acordo com investigação feita pela PF  – e a atuação do então juiz Moro ao prender Lula injustamente e impedi-lo de concorrer às eleições, sendo governados por uma família de milicianos.

    Com o Inquérito do PGR instaurado pelo STF, caso a tentativa de Bolsonaro de interferir nas investigações da Polícia Federal seja confirmada, ele não terá a menor condição de continuar ocupando o cargo de Presidente da República e deverá ser afastado de imediato, seja por meio de sua renúncia ou de abertura de processo de impeachment.

    O Brasil, assim como o restante do mundo, está passando por uma crise sanitária sem precedentes em sua história com o avanço do coronavírus, que já matou mais de 5.100 pessoas e que infectou 73 mil pessoas, de acordo com o número de casos confirmados. Portanto, mais do que nunca, precisamos de um governo que garanta que a população tenha acesso a políticas de inclusão social que permitam que elas fiquem em casa e façam o isolamento com a segurança de que poderão pagar suas contas e se alimentar. Além disso, que também garanta seus direitos trabalhistas sejam assegurados e não destruídos, como está acontecendo durante a gestão Bolsonaro. No Palácio do Planalto deve ser um espaço de formulação de políticas de combate às desigualdades e de proteção da vida dos milhões de brasileiros e não esta política de morte que estamos vendo sendo implementada neste verdadeiro escritório do crime.

     

    Dra. Tamires Gomes Sampaio é advogada, mestra em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e militante da Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN). Foi a primeira presidente negra do Centro Acadêmico de Direito do Mackenzie.

     

     

     

    Fontes utilizadas no artigo:

    https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/04/27/celso-de-mello-stf-inquerito-bolsonaro-moro.htm

    https://www.jota.info/stf/do-supremo/pgr-requer-abertura-de-inquerito-ao-stf-para-apurar-fatos-narrados-por-sergio-moro-24042020

    https://oglobo.globo.com/brasil/celso-de-mello-sorteado-relator-do-pedido-de-inquerito-sobre-discurso-de-moro-1-24392794

    https://theintercept.com/2020/04/25/flavio-bolsonaro-rachadinha-financiou-milicia/

    https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2018/12/14/interna_nacional,1013283/milicia-matou-marielle-pela-ocupacao-de-terras-diz-secretario-de-se.shtml

    https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/04/pf-identifica-carlos-bolsonaro-como-articulador-em-esquema-criminoso-de-fake-news.shtml?aff_source=56d95533a8284936a374e3a6da3d7996

     

  • Brasilândia, zona norte da cidade de SP, pede socorro na pandemia

    Brasilândia, zona norte da cidade de SP, pede socorro na pandemia

    Por Marisilda Silva, para os Jornalistas Livres 

    Foto: Avelino Regicida

    Na sexta-feira, 18/4, um mês após o anúncio das primeiras mortes por Covid-19 em São Paulo, o bairro da Brasilândia, na zona norte da capital, passou a liderar o número de óbitos, com 54 mortes confirmadas ou suspeitas por coronavírus. E a grande mídia, nas suas manchetes, sentenciou, botando a culpa na população: as ruas do distrito estão lotadas e comércio está aberto. Mas, a situação é mais complexa e a Brasilândia está pedindo socorro.

    “A política de isolamento social no nosso bairro enfrenta todo tipo de obstáculo”, dizem as lideranças populares do bairro. Eles estão certos. Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, de 26/3, os médicos sanitaristas Ricardo Teixeira e Ivan França Jr., da USP, avisavam que a estratégia do distanciamento social para toda a população é de difícil implementação, porque “exige do Estado grande capacidade de controlar informações, coordenar ações para sustentar a vida das pessoas e exercer poder coercitivo”. E na Brasilândia, como em toda a periferia, o Estado é ausente.
    “Em muitas casas a água continua sendo racionada e ficamos com as torneiras secas por horas e até dias, o que não permite uma higiene que possa conter o avanço da doença”, contam os moradores. E falta de água na Brasilândia, sabemos, não é de hoje.

     

    População sem leitos

    A Brasilândia é o quarto distrito mais populoso da cidade de São Paulo, e lá residem 264.918 pessoas, quase 13 mil pessoas por quilômetro quadrado. Para se ter ideia, no Morumbi, onde se registra o maior número de casos de infecção por coronavírus, a relação é de 4 mil habitantes por quilômetro quadrado.
    Ainda para efeito de comparação, o Morumbi tem 14,54 leitos hospitalares por cem mil habitantes e a Brasilândia, 0,011.

    Os moradores do distrito da zona norte reivindicam a imediata abertura do Hospital da Brasilândia, cuja construção teve início em 2015, no governo municipal de Fernando Haddad, foi suspensa quando João Doria assumiu a prefeitura e retomada em 2017.

    É possível também aumentar leitos, reabrindo o Hospital Sorocabana, localizado na Lapa, próximo ao nosso bairro, dizem os moradores. “Fechado há muitos anos, o terreno é do governo estadual e a população pede há muito tempo que o local seja cedido para que a prefeitura assuma, reforme, equipe e reabra o hospital”.

     

    Foto: Rádio Cantareira

    Apoie o Manifesto pela Saúde na Brasilândia

    Num manifesto sincero que começa por agradecer aos trabalhadores do transporte, da limpeza, da alimentação e, em especial da saúde, o Movimento pela Saúde na Brasilândia e pedem apoio de todos os setores da sociedade e ação do poder público.

    “Precisamos de uma ação constante e forte de comunicação da prefeitura pelo bairro, usando todas as formas de comunicação, carros de som, panfletos, faixas, inclusive rádio e televisão orientando as pessoas da necessidade do isolamento social e higiene, para impedir a disseminação do vírus. Distribuição imediata de alimentos, seja em forma de cartão merenda para todos os alunos da rede pública e/ou cestas básicas, incluindo produtos de higiene e limpeza, além de botijões de gás para as famílias carentes, além da isenção do pagamento de água e luz e fim do racionamento de água na região. É preciso testes para detectar o vírus na nossa população e leitos para assistência à nossa saúde.”

    Para assinar o manifesto, comunique-se pelo WhatsApp: (11) 98978-8342, (11) 994650914 e (11) 98765-9232 

  • UFSCar dispensa professores e estudantes, mas trabalhadores terceirizados seguem em atividade

    UFSCar dispensa professores e estudantes, mas trabalhadores terceirizados seguem em atividade

    Todos os dias um contingente de 106 pessoas, composto em sua maior parte por mulheres, sai cedo de suas casas para chegar às 7h na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Não são estudantes. Trata-se de funcionários e funcionárias da empresa terceirizada Works Construção e Serviços, que é responsável pela limpeza do campus. Essas mulheres e esses homens, terceirizados, percorrem longas distâncias para chegar ao trabalho e esse deslocamento é feito por transporte público, na imensa maioria dos casos. 

    Essa é uma descrição comum da vida da classe trabalhadora no Brasil: acordar cedo, atravessar a cidade, voltar para casa, fazer o trabalho doméstico e de cuidados (no caso das mulheres, principalmente), descansar e repetir a dose no dia seguinte. O que há de novo nessa rotina é que essas pessoas estão expostas à contaminação pelo Covid-19, como tem sido amplamente divulgado pela imprensa nacional e internacional, já que se trata de uma pandemia que tem matado gente, diariamente, no mundo todo. 

    Seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Ministério da Saúde e de outros organismos implicados no combate à crise sanitária, a UFSCar suspendeu as atividades da comunidade acadêmica desde o dia 16 de março de 2020. Entretanto, funcionários e funcionárias da empresa terceirizada responsável pela limpeza seguem prestando serviços na Universidade, mesmo que ela não esteja funcionando para o público.

    Parte desse conjunto de profissionais, cerca de 15, de acordo com uma funcionária que preferiu não ser identificada, entrou de férias por indicação da empresa. Entretanto, a maior parte dele segue limpando prédios para ninguém, colocando suas vidas e a de toda a comunidade em risco. O isolamento social não deveria ser tratado como um privilégio e sim como um direito de todos os trabalhadores e trabalhadoras. Não é o que tem acontecido. 

    Não há nenhum sentido lógico em conservar as faxineiras e os faxineiros cumprindo suas atividades normalmente. A única razão para que uma decisão dessa ordem seja mantida é que algumas vidas parecem valer mais que as outras em um país tão desigual quanto o Brasil. Não por menos, a primeira morte por coronavírus confirmada no Rio de Janeiro foi justamente de uma trabalhadora doméstica, que não foi dispensada de suas funções, apesar de sua patroa estar infectada. 

    Em 2003, o filósofo negro Achille Mbembe nomeou esse poder de escolher quem deve (e merece) viver e quem deve (e pode/merece) morrer. Necropolítica. O prefixo parece duro e é. A escolha imposta para quem está no trabalho precário – terceirizado, informal, autônomo, intermitente – é entre a cruz e a espada: se expor à possibilidade de contaminação, e consequentemente ao risco da morte por conta do vírus, ou abrir mão de seus trabalhos, sem condições dignas e seguridade, e enfrentar o perigo (ou a certeza) da fome e da miséria. 

    A responsabilidade da barbárie é macropolítica. O governo de Jair Bolsonaro (sem partido) precisa ser responsabilizado por não oferecer alternativa econômica para as que pessoas possam seguir a risca as recomendações de isolamento social e também por discursar irresponsavelmente sobre essa pandemia que, de acordo com as projeções, pode matar muitas milhares de pessoas no país. Um estudo preliminar da Oxford, por exemplo, fala em 478 mil mortes no Brasil caso o governo Bolsonaro siga imóvel. 

    A responsabilidade social de denunciar e não se calar diante da barbárie é de todos e todas. É preciso cumpri-la diariamente, em todos os casos de que se tenha notícia. As trabalhadoras e os trabalhadores de contrato terceirizado, cumprindo funções na UFSCar, devem ser imediatamente dispensadas/os de suas atividades.

    Veja também: “A periferia não pode surtar. E a gente sabe que está ao Deus dará”