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  • Lula desmonta mentiras de delatores e aponta falta de provas em denúncia sobre terreno

    Lula desmonta mentiras de delatores e aponta falta de provas em denúncia sobre terreno

    Do Instituto Lula

    Em depoimento concedido nesta quarta-feira (13) ao juiz Sérgio Moro, na 12ª Vara Federal de Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu a todas as acusações que lhe foram feitas por réus que assinaram acordos de delação com a Justiça para obter vantagens penais, como o ex-deputado Antônio Palocci e o ex-senador Delcídio Amaral.

    Já sobre o fundamento principal da acusação que o Ministério Público Federal lhe imputa neste processo, não houve sequer uma pergunta por parte de Moro ou dos procuradores. Segundo a denúncia, a empreiteira Odebrecht iria doar ao Instituto Lula um terreno, supostamente em troca de ter sido beneficiada pelo ex-presidente para fechar oito contratos com a Petrobras.

    Tal doação jamais ocorreu, conforme admitem os próprios acusadores. Nem Moro nem os procuradores procuraram provar ou mesmo esclarecer de qual forma Lula teria agido para influenciar a estatal a assinar os tais contratos.

    Assim, coube a Lula apenas refutar as acusações sem provas que lhe são foram feitas pelos delatores, e apontar a aparente parcialidade na condução do processo por parte da 12ª Vara Federal de Curitiba.

    Sobre as alegações feitas por Antônio Palocci, que se encontra preso há mais de um ano e negocia agora um acordo de delação que possa lhe tirar da cadeia, Lula disse:

    “A única coisa que tem verdade ali é que ele está fazendo a delação porque ele quer os benefícios que podem vir dela. Eu vi o Palocci mentir aqui essa semana. Fiquei com pena. Ele está preso há mais de um ano, tem o direito de querer ser livre, tem o direito de querer ficar com um pouco do dinheiro que ele ganhou fazendo palestra, ele tem família. Mas o que ele não pode, se não quer assumir a responsabilidade pelos fatos ilícitos que fez, é jogar (a responsabilidade) em cima dos outros”.

    A acusação de que a Odebrecht tinha o intuito de doar um terreno para o Instituto Lula foi sustentada por Palocci, em consonância à acusação feita pelos procuradores da Operação Lava Jato, que agora negociam com o ex-ministro seu acordo de delação premiada.

    O juiz Sérgio Moro se ateve longamente às afirmações de Palocci, enquanto preferiu ignorar provas e testemunhos que apontam as fragilidades da acusação.

    Em 12 de junho deste ano, por exemplo, Emílio Odebrecht, presidente do Conselho Administrativo do grupo que leva seu nome, afirmou ao próprio juiz Sérgio Moro, com todas as letras, que nunca teve intenção de doar terreno nenhum ao Instituto Lula.

    Na ocasião, o empresário afirmou também não ter conhecimento sobre qualquer relação entre a compra do terreno referido na ação penal e a concretização de oito contratos específicos que a Odebrecht firmou com a Petrobras. Moro, porém, preferiu ignorar este depoimento, e focar sua atenção em Palocci.

    Assim, Lula observou nesta quarta-feira que teme que o juiz de primeira instância do Paraná possa estar sendo parcial na condução dos processos contra ele. O ex-presidente deu como exemplo o fato de que Moro chega a levar mais em consideração o que é publicado em veículos de imprensa do que dados oficiais dos processos. “Na condenação sobre o caso do apartamento tríplex, o senhor cita o jornal O Globo 15 vezes e cita apenas cinco vezes falas das testemunhas (foram mais de 70 pessoas ouvidas nos autos). O senhor precisa começar a ler também outros jornais”, recomendou Lula. “Certo”, respondeu Moro.

    Imóvel alugado em São Bernardo

    Outra parte da acusação no presente processo afirma que um apartamento que Lula e sua família alugam desde o início da década de 2000 seria, na realidade, uma propriedade oculta do ex-presidente, dada a ele de presente pela empreiteira Odebrecht, novamente em troca de supostos benefícios em oito contratos firmados com a Petrobras.

    Milhares de pessoas lotaram praça em Curitiba nesta quarta para demonstrar apoio a Lula (Foto: Gibran Mendes/Jornalistas Livres)

    O atual proprietário do imóvel, Glauco da Costa Marques, já afirmou em juízo e apresentou documentos que mostram ser ele o dono do bem. Sérgio Moro, então, quis saber se Lula pagava o aluguel regularmente. Lula esclareceu que todos os pagamentos constam em sua declaração de imposto de renda e também nas declarações do proprietário. O ex-presidente afirmou ainda que tais pagamentos ficavam a cargo da ex-primeira-dama Marisa Letícia, já que o imóvel fica no mesmo andar da residência da família, e servia como base para os seguranças do então presidente. Responsável que era pelas questões de economia doméstica do casal, dona Marisa ficava a cargo desses pagamentos.

    Sérgio Moro, porém, tentou nesta quarta-feira inverter o ônus da prova – obrigação de quem acusa -, insistindo para que Lula apresentasse recibos de pagamentos desses aluguéis, “como um conselho para esclarecer as acusações”. Neste momento, o advogado Cristiano Zanin teve que intervir, recordando ao juiz de primeira instância os fundamentos do Direito. “Agradeço seus conselhos, doutor, mas seguiremos o mando constitucional e deixamos para quem acusa a obrigação de provar sua acusação. São os procuradores que precisam apresentar provas sobre o que afirmam”, disse o defensor.

  • TRF4 julga José Dirceu hoje (13/09)

    TRF4 julga José Dirceu hoje (13/09)

    O julgamento da apelação de José Dirceu, ao Tribunal Regional Federal 4a região será hoje (13/09). É importante lembrar que a Ação Penal 470, que ficou conhecida como o Mensalão, foi o início de todas as ilegalidades cometidas pelo Legislativo e pelo Judiciário no golpe de Estado em curso no Brasil.

    Como as investigações e quebras de todos os sigilos possíveis de José Dirceu não revelaram nenhuma ação ilegal, o ministro Joaquim Barbosa lançou mão do “Domínio do Fato” para condená-lo. “Como ele era o chefe tinha que saber o que estava sendo feito.” Não provaram, mas retiraram José Dirceu da vida pública e retiraram sua liberdade.

    As palavras da ministra Rosa Weber, assumindo a ausência de provas contra ele, foram “Não tenho prova cabal contra Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”.

    O texto que segue avalia o preço que pagamos por nosso silêncio.

     

     

    O preço do silêncio*

     

    Hoje percebemos o quão caro nos custou o silêncio e o abandono do companheiro Zé Dirceu e de todos os outros às “instituições” que – naquele momento e como agora – diziam estar em pleno funcionamento. Não percebíamos, então, a serviço de quem funcionavam.

    Quando nos deparamos com o espetáculo grotesco que foi o julgamento da AP 470, televisionado e comentado 24 horas por dia, com interpretações teratológicas da “Teoria do Domínio do Fato”, do absurdo de uma ministra da Suprema Corte condenar sem provas mas embasada “na literatura jurídica” um homem à perda da sua liberdade, privando-o do convívio com sua família, impondo o silêncio de suas ideias e de sua participação política no país. Chocadas, nos perguntamos onde estava o Direito, a Justiça e que tipo de instituição era aquela que expressamente condenava inocentes.

    Esperamos ouvir os gritos e protestos daqueles que se dizem operadores do Direito, das ditas instituições e organismos que falam em nome da defesa da lei e da Constituição. Nada escutamos, apenas o silêncio da omissão e da covardia. Poucos foram aqueles que se ergueram diante da tirania do Judiciário que cometeu um falso processo, deturpando conceitos jurídicos, negando provas de inocência e o direito de defesa .

    Iniciava-se na AP 470 – e no silêncio diante do arbítrio do Judiciário – o processo de mais um golpe de Estado no Brasil. Desta vez, porém, sem tanques de guerra contra a população, mas com os velhos aliados de togas da oligarquia predatória do país.

    Tentaram destruir o homem, que foi abandonado por muitos de seus companheiros. Mas a lealdade deste homem é ao povo brasileiro, à luta pela igualdade social e pelo desenvolvimento do país. Por isso, Zé Dirceu não se enverga, luta pela causa dos mais humildes, possui a honra e a dignidade que só os heróis têm.

    Poucos são os seres humanos como Zé Dirceu, desprovidos de egoísmos e pequenos sentimentos mesquinhos. Sua força na luta e altivez da sua honra são muitas vezes confundidas com arrogância: é o preço que tão nobre caráter paga por dedicar sua vida a lutar por um Brasil mais justo.

    Já nós, o povo brasileiro, pagamos um alto preço por nosso silêncio, por nossa omissão!

    Nosso país é surrupiado, nossas riquezas e futuro estão sendo roubados! Enquanto isso, continuamos a assistir o espetáculo grotesco desse Judiciário, que condena líderes valorosos sem prova e dá prêmios a homens criminosos.

    O resultado do silêncio diante dos arbítrios do Judiciário na AP 470 e na Lava-jato foi a instituição de uma ditadura disfarçada, na qual estamos todos sujeitos à tirania de inúmeras togas e, consequentemente, a uma insegurança jurídica jamais vista.

    Exigir que o TRF4 meramente aplique a lei ao julgar o recurso de Zé Dirceu se converte em ato revolucionário, diante da ditadura das togas que enclausuram nossas lideranças em falsos enredos jurídicos, em masmorras do silêncio e encarceram seus corpos.

    Por um ato revolucionário!

    Exige-se a aplicação correta da lei e da Constituição deste país para que seja declarada a absolvição de Zé Dirceu!

    • Texto de: Giselle Mathias, advogada, Brasília, Denise da Veiga Alves, advogada, Brasília; Cleide Martins, , Brasília; Andréa Matos, química, Rio de Janeiro; Vera Lúcia Santana Araújo, advogada, Brasilia; Maria Lúcia de Moura Iwanow, professora, Brasília
  • “Que tipo de república de bananas é esta?”

    “Que tipo de república de bananas é esta?”

    A entrevista com Geoffrey Robertson me fez relembrar momentos de forte indignação quando vi estrangeiros criticarem meu país. Tinha 18 anos e fui visitar uma tia e um tio no exterior. Conheci um senhor, um português bem idoso, que me disse ter ouvido falar que no Brasil se comprava a Justiça e ele queria saber se era verdade. Nem me lembro do que respondi de tão indignado que fiquei com a crítica velada que ele fez ao meu país, recém-campeão do mundo de futebol em 1970.

    O segundo choque foi ver uma mostra fotográfica no campus da universidade com o tema, em letras garrafais, “Tortura no Brasil”. Estávamos no início de 1972 e o General Médici era o presidente. Pensei de imediato no que ganhariam esses estúpidos por inventar essas coisas sobre o meu país, por depreciar o Brasil. Revelei minha indignação ao meu tio. Ele me olhou de cima abaixo e disse que precisávamos conversar. Não foi preciso. Passei a ler as notícias do Brasil nos jornais não censurados pela ditadura militar.

    Nessa sexta, quando perguntei a Geoffrey o que os brasileiros deveriam saber sobre o processo contra Lula, me vi novamente diante de uma forte crítica ao Brasil. Não a tomei contra mim ou tampouco contra meu país. Mas contra certa tradição de injustiça que meu país tem e que não enxergava lá aos meus 18 anos. A indignação mudou de lugar.

    Geoffrey faz um trocadilho entre “Moro’s prosecution” e “Moro’s persecution” contra Lula. As duas palavras são bem semelhantes no inglês, a primeira é o processo e o segundo a perseguição, de Moro contra Lula. Ele criticou Moro, criticou o desembargador Thompson Flores, presidente do tribunal ao qual Lula apelou, criticou a Ajufe, Associação dos Juízes Federais do Brasil.

    Veja a íntegra da entrevista que Geoffrey Robertson concedeu a Milena Abreu e César Locatelli, com edição de Iolanda Depizzol, Jornalistas Livres.

     

     

  • Moro que se cuide: juíza de São Paulo desconfia de quem usa “vestes escuras”

    Moro que se cuide: juíza de São Paulo desconfia de quem usa “vestes escuras”

     

    A juíza Cecilia Pinheiro da Fonseca, da 3ª Vara Criminal, resolveu levar em frente a denúncia apresentada pelo promotor Fernando Albuquerque Soares de Souza, do Ministério Público de São Paulo, contra 18 dos 21 manifestantes presos no dia 4 de setembro de 2016, antes de uma manifestação “Fora Temer”, em São Paulo. Os 21 jovens foram abordados e presos pela polícia no Centro Cultural São Paulo (CCSP) em companhia de um homem que, se soube depois, tratava-se de capitão do Exército infiltrado em movimentos sociais. Leia a decisão na íntegra.

     

    Ao serem presos, os manifestantes estavam acompanhados por um capitão do Exército que se havia infiltrado no grupo, e que dizia se chamar Balta Nunes
    Balta Nunes, no Tinder

     

    William Pina Botelho, então capitão, posteriormente promovido a major, havia se infiltrado entre os manifestantes usando o codinome de Balta Nunes, entre outras mentiras. Fingindo-se simpatizante da esquerda, ele abordava jovens ativistas por intermédio do aplicativo de encontros Tinder. Também frequentava reuniões de organizações e movimentos, para cumprir seu propósito de espionagem. A infiltração, em flagrante ilegalidade, posto que não autorizada formalmente por qualquer autoridade, foi ignorada pelo despacho da juíza.

    Ao serem presos, os jovens, vestidos com roupas escuras, portavam vinagre, máscaras antigases e até um skate.
    Escreve a juíza sobre esses apetrechos:

     

    “Certamente, como alegado pela defesa, portar máscara para se defender de gás de pimenta, capuzes e frascos contendo vinagre não pode caracterizar crime. Entretanto, quando tal conduta está supostamente ligada à associação visando a prática de danos qualificados, consistentes na destruição, na inutilização e na deterioração do patrimônio público e privado, e lesões corporais em policiais militares, não há como caracterizar, prima facie, a posse de tais objetos como meros atos preparatórios. Pelos indícios constantes dos autos, o acusado Victor, em tese, se utilizaria do capuz e das vestes escuras para evitar ser identificado quando da prática de eventual crime.”

     

    A defesa dos jovens corretamente alegou que o uso de máscara antigases e a posse de frascos de vinagre como forma de redução dos danos causados pelo gás de pimenta tornou-se voga entre frequentadores de atos e protestos políticos, já que a Polícia Militar usou e abusou dessas armas contra o direito de manifestação e expressão. Se procurasse se informar melhor, a juíza saberia que, nas manifestações contra o golpe, até mesmo professoras e profissionais liberais já idosos (nada a ver com baderneiros ou vândalos), orgulhosamente ostentavam seus vidrinhos de vinagre e/ou máscaras de gás, como forma de defesa contra os abusos da PM.

    Mas o despacho da juíza vai além.

    Não lhe bastou criminalizar de novo o vinagre (o ridículo já havia sido apontado em 2013, quando um jornalista foi detido por portar o perigosíssimo tempero de saladas, fato que acabou batizando os protestos contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô de Revolta do Vinagre). A juíza Cecilia Pinheiro da Fonseca também achou por bem colocar sob suspeita quem se atreva a usar vestes escuras. Segundo ela, esses trajes servem apenas “para evitar ser identificado quando da prática de eventual crime”.

    Sergio Moro, o homem dos ternos escuros e das camisas pretas, deve ser achado que era com ele. Será?

    Perseguir meninos e meninas reunidos no Centro Cultural São Paulo, sem que eles tenham cometido qualquer delito, nem mesmo cuspir no chão, pode parecer apenas uma piada ruim. Não é. Se condenados, os jovens podem ser apenados com até 9 anos de prisão. Interessante o contraste da lei. A denúncia contra os jovens foi assinada pelo promotor de justiça Fernando Albuquerque, um homem de dois metros de altura, nacionalmente conhecido desde 2011, “quando foi processado por esmurrar (não é brincadeira!) um advogado durante um tribunal do júri. O processo chegou ao fim dois anos depois, com Albuquerque aceitando uma transação penal proposta pela Procuradoria Geral de Justiça e oferecendo o pagamento de dois salários mínimos.” Veja o link aqui: http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,promotor-vira-alvo-de-investigacao-apos-agredir-advogado-em-julgamento,779225

    Hugo Albuquerque, advogado de manifestantes no caso, considera que o despacho da juíza “desafia a mais elementar compreensão do direito penal, uma vez que [os jovens] nada fizeram e nem pretendiam fazer do que ir a uma manifestação pacífica.”

     

  • Lula inicia caravana pelo nordeste

    Lula inicia caravana pelo nordeste

    Alvo de diversas campanhas que pediam que o país fosse separado, o Nordeste tem um papel fundamental na construção do Brasil. Entre os dias 17 de agosto e 07 de setembro, o ex-presidente Lula fará a segunda edição da Caravana pelo Nordeste. 25 anos depois o ônibus percorrerá mais de 30 cidades, saindo de Salvador-BA e terminando em São Luís-MA.

    Os Jornalistas Livres compreendem a importância de contar a história do povo que é deixado à margem não só pelo atual governo mas também pela mídia, que diversas vezes não os consideram pessoas dignas e importantes para o país. Queremos conhecer quem saiu da miséria nos governos Lula e Dilma e agora está voltando a ter fome. Queremos dar voz a quem é ignorado por todos os lados. Os Jornalistas Livres afirmam o caráter jornalístico e ético da cobertura, com ênfase em quem tem esperança de que o Brasil volte a ser governado tendo seu povo como prioridade.

    Nos ajude a mostrar o que não estará na grande mídia. Nos ajude a dar rosto para as lutas pelo fim da miséria, pelo fim da fome, pela saúde, pela educação, pelos direitos trabalhistas, pela água e, principalmente, pela vida. Contribua com qualquer valor para que essas histórias sejam contadas.

    PARTICIPE:

    Banco Caixa Econômica Federal

    AG: 3033

    Conta Poupança: 8971-0

    OP: 013

    Confira o trajeto completo da caravana:
    QUINTA-FEIRA, 17 DE AGOSTO Salvador – Bahia
    SEXTA-FEIRA, 18 DE AGOSTO Cruz das Almas e São Francisco do Conde – Bahia
    SÁBADO, 19 DE AGOSTO Feira de Santana – Bahia
    DOMINGO, 20 DE AGOSTO Estância – Sergipe
    SEGUNDA-FEIRA, 21 DE AGOSTO Lagarto, Itabaiana e Nossa Sra. da Glória – Sergipe
    TERÇA-FEIRA, 22 DE AGOSTO Aracaju – Sergipe
    Penedo – Alagoas
    QUARTA-FEIRA, 23 DE AGOSTO Arapiraca – Alagoas
    Maceió – Alagoas
    QUINTA-FEIRA, 24 DE AGOSTO Recife – Pernambuco
    SEXTA-FEIRA, 25 DE AGOSTO Recife – Pernambuco
    SÁBADO, 26 DE AGOSTO João Pessoa – Paraíba
    DOMINGO, 27 DE AGOSTO Campina Grande – Paraíba
    Currais Novos – Rio Grande do Norte
    SEGUNDA-FEIRA, 28 DE AGOSTO Mossoró – Rio Grande do Norte
    TERÇA-FEIRA, 29 DE AGOSTO Quixadá – Ceará
    QUARTA-FEIRA, 30 DE AGOSTO Juazeiro do Norte – Ceará
    QUINTA-FEIRA, 31 DE AGOSTO Granito – Pernambuco
    SEXTA-FEIRA, 1º DE SETEMBRO Marcolândia – Piauí
    Picos – Piauí
    SÁBADO, 2 DE SETEMBRO Teresina – Piauí
    DOMINGO, 3 DE SETEMBRO Timon – Maranhão
    SEGUNDA-FEIRA, 4 DE SETEMBRO São Luís – Maranhão
    TERÇA-FEIRA, 5 DE SETEMBRO São Luís – Maranhão

  • Sem surpresas, mas infame; esperado, mas escatológico; previsível, mas vergonhoso.

    Sem surpresas, mas infame; esperado, mas escatológico; previsível, mas vergonhoso.

    Saber antecipadamente dos acontecimentos não nos livra da estupefação. Não porque algo nos faria supor que uma decisão diferente da que foi divulgada ontem viria. Mas porque a esperança de que um instante de sanidade, senso moral e coragem cívica, de repente perturbassem um soldadinho de chumbo que se utiliza do direito como meio para alçar-se ao egrégio lugar do representante mor da extrema direita no país. Não aconteceu, mas torcer não é pecado.

    Muitos agora estão ambicionando o cargo do líder da extrema direita no país:

    Bolsonaro, Dória e Moro.

    Joaquim Barbosa ensaia alguns passos,

    Jobim foi descartado e Gilmar Mendes está atualmente sobre suspeita.

    A direita se mexe e se articula e já apresenta seus candidatos para a sucessão de Temer pós Maia.

    Por justaposição de significantes e condensação da retórica simplória dos grupos de direita no país chegamos à conversão de Lula em condenado à prisão, sem provas, proclamado pelo juiz que obedeceu às ordens que lhe foram conferidas desde o início, assim como Dilma foi deposta sem crime de responsabilidade num processo liderado pelo encarcerado Cunha que cumpriu o prometido.

    Eles são executores de um nível de esvaziamento e captura da linguagem no seio do discurso. Isso é o discurso repetitivo, vazio de pensamento, sequestrador de ideias e atos que vem se sobrepondo às narrativas do pensamento, da ética e da justiça.

    O fiel executor da tramoia, desde o início anunciada, Sergio Moro era um ilustre desconhecido antes de demonstrar sua capacidade e ousadia em cometer arbitrariedades que o alçasse aos lugares mais altos dos pódios globais e de outras mídias do mesmo naipe. Confirmados por atos pusilânimes de operadores do direito, das camadas médias conservadoras e das elites nacionais Moro tinha como uma de suas razões de existir entregar a cabeça de Lula em bandeja de prata.

    Não poderá entregar o serviço completo.

    Não está em sua alçada, mas fez sua parte, como Cunha fez a dele.

    Legal Moro, agora dá licença. Dirão seus chefes deixando em suas costas o custo de sua sentença que quis tirar do jogo político o líder mais bem avaliado da história. Não era necessário gastar tanto do erário público com audiências, salários e benefícios à servidores públicos, custos advocatícios com a defesa apenas para encenar o já previamente sentenciado.

    É bem simples e já sabido: um dia após a aprovação das reformas trabalhistas que atingem no peito de todo trabalhador e trabalhadora assalariados do país, o juiz previsível solta sua “surpreendente” e “inesperada” sentença: prisão de Lula e sua inelegibilidade pelo resto da vida.

    Sobre qual líder de qual partido incide a sentença?

    O do partido dos trabalhadores.

    Esses mesmos sobre os quais recai a reforma trabalhista e previdenciária, os que verão sucateados os sistemas de saúde e educação após a aprovação da PEC do fim do mundo, aos quais terão de recorrer após arrochos salariais extraídos das negociações entre patrões empregados.

    Criticável ou não, o Partido dos Trabalhadores foi o único partido a ser eleito com uma pauta de esquerda no país. Respeitando ou não as aspirações da esquerda, condenável ou não quanto ao seu modus operandi e sua maneira de fazer política quando no poder, é o partido que ainda faz peso importante nas lutas contra a avalanche reacionária que assola o país inteiro.

    Resistiu à avassaladora campanha que, diuturnamente, tentou arrastar todos do partido para a lama. Nesse sentido Lula e o PT deram um baile. Nem seus líderes esperavam que toda a campanha difamatória de todas as mídias oficiais que lotearam todas as concessões de rádio e TV, além das famílias proprietárias da imprensa escrita diária e semanal com campanhas difamatórias abertas para desmantelar o partido fosse malsucedida. E foi. O PT foi o único partido que cresceu desde 2014.

    Mas também não se esperava que a patrocinadora oficial do golpe – o conglomerado Globo – viesse a atacar o seu menino prodígio Michel Temer até o ponto de destruí-lo. Mas aconteceu. Também não se esperava que o capitão caverna da lava-jato Rodrigo Janot tirasse o time de campo na disputa pela PGR. Tirou.

    A direita derrapa, fracassa, bate cabeça.

    Sabe que vai ter massacrar muitos brasileiros para manter essa onda flagrante de bestialidade e violência. A prisão de Lula, para eles, seria a última bandeira a fincar no panteão dos vende pátria.

    Hoje a luta é contra os trabalhadores e retornar ao tempo da escravidão não é mera retórica. Logo mais, a Câmara estará decidindo quantas chibatadas o trabalhador deve levar no lombo no caso de atrasos, faltas e insubordinação hierárquica e se não avançarmos quanto à clareza do que isso significa, a reação pode não ser contundente.

    Todos vociferarão retoricamente o absurdo, mas o Congresso fechará as portas, apagará as luzes e votará a medida que será sancionada pelo presidente em exercício.

    Prender sem provas; depor presidentes baseado em alegação de crime que, dois dias depois do impeachment da presidenta se transforma em lei que autoriza o mesmo crime; expor a mulher gestante a condições insalubres; retirar a autonomia do trabalhador sobre suas férias, descanso remunerado e almoço, hoje, se tornaram leis, mas elas são fracas, a política pode depô-las fazendo o caminho contrário.

    Logo mais, se sancionará a lei que permite à criança trabalhar a partir dos 7 anos anos, para que as famílias possam ter uma renda extra, diante da perda dos direitos arrancados. Uma calamidade justificando a próxima e sendo engolida como justificativa para que se amplie o exército de escravos sem direitos e se barateie a mão de obra pouco qualificada disponível. Grande chance da medida passar na CCJ e ter maioria no senado e na câmara. Retornamos ao século XIX.

    Vejamos o que escreve Marx no século XIX sobre os pequenos trabalhadores na europa:

    ..] Muitos, milhares desses pequenos seres infelizes, de sete a treze ou quatorze anos foram despachados para o norte. O costume era o mestre (o ladrão de crianças) vesti-los, alimentá-los e alojá-los na casa de aprendizes junto a fábrica. Foram designados supervisores para lhes vigiar o trabalho. Era interesse destes feitores de escravos fazerem as crianças trabalhar o máximo possível, pois sua remuneração era proporcional à quantidade de trabalho que deles podiam extrair. (…) Os lucros dos fabricantes eram enormes, mais isso apenas aguçava-lhes a voracidade lupina. Começaram então a prática do trabalho noturno, revezando, sem solução de continuidade, a turma do dia pelo da noite o grupo diurno ia se estender nas camas ainda quentes que o grupo noturno ainda acabara de deixar, e vice e versa. Todo mundo diz em Lancashire, que as camas nunca esfriam. (1988, p. 875-876)

    Não estamos distantes disso num país que virou piada de mau gosto. Nada é impossível no Brasil de hoje. Que gritem OIT, ONU e Comissão Interamericana de Direitos Humanos, os membros do parlamento e do judiciário dão e darão de ombros.

    Ainda perdura um problema, mesmo nas manifestações expressivas, aquelas que mobilizam centenas de milhares de pessoas; elas ainda contam com uma parcela pequena dos milhões trabalhadores brasileiros que estão sendo massacrados e atingidos pelos ataques do capital financeiro sem controle.

    Isso significa que há ainda milhões a mobilizar.

    Entre eles aqueles que veem a torneira pingar,

    o assoalho encharcado mas não creem no afogamento.

    Uma ampla campanha e estratégia de conscientização deve ser feita em cada recôndito do país e a preparação para paralização total dos trabalhadores por tempo indeterminado, deve ser construída e considerada pelos movimentos organizados que, hoje, lideram a resistência no país.

    O projeto de espoliação do país tem, no mínimo, vinte anos então qualquer coisa antes disso será bem vinda e politicamente importante. É a alternativa para se deter essa avalanche. Já não bastam mais as manifestações é preciso parar a produção de lucro e dividendos, atingir os que monitoram e comandam o conjunto de atrocidades que vem sendo aprovadas no legislativo.

    Tudo está sendo decidido à sete chaves sem a permissão sequer de que os trabalhadores ocupem as galerias no congresso nacional destinadas para isso. Tudo decidido em jantares sofisticados, reuniões engravatadas, mansões muradas.

    A maioria dos parlamentares persistem em cumprir o combinado à mando das elites financeiras e mancomunados com elas, dão as costas para as centenas de milhares de manifestantes nas ruas todos os dias que, para eles, são vagabundos que acordam tarde. É preciso levar essa retórica da direita muito a sério porque eles a estão levando. Dizem isso enquanto atiram contra manifestantes, humilham trabalhadores, assassinam pobres, elogiam torturadores e se preparam para assumir o poder por longos períodos.

    Ninguém precisa de militares nas ruas,

    já há mais de 400.000 milicos nas polícias estaduais,

    que jamais tocam nos excessos cometidos pelos muito ricos,

    mas pisam sobre o corpo de qualquer pobre que se lhes atravesse o caminho.

    O poder judiciário, as altas cortes pusilânimes não conseguirão estancar nem a mais absurda das decisões do legislativo que legisla o país destruindo, dia após dia, cada tijolo da democracia brasileira.

    Cunha presidindo o impeachment e um juiz de primeira instância mandando e desmandando no modo de julgar e condenar no Brasil. O que é difícil de imaginar é fácil de acontecer no Brasil de hoje.

    Precisamos analisar com calma, clareza e profundidade o que está se passando e pensarmos juntos nas novas estratégias, abrir mão dos projetos de poder desse ou daquele espectro, para manter o Brasil acima da devastação. Não vamos nós aprofundar as baboseiras dicotômicas também muito comuns entre as esquerdas. Se há uma utopia sobre a união das esquerdas já é passada a hora de realizá-la. Lula não precisa ser o chefe, como disse Tasso Genro, mas pode ser um líder favorecendo a emergência de outros.

    A comprovação de crimes cometidos por Lula não existiu.

    Mataram sua esposa atrás dessas provas e elas não apareceram. O objetivo agora é matar Lula política e literalmente. Temos testemunhado o quanto eles jogam pesado e atiram pra matar.

    Nas barbas da justiça, o presidente em exercício atua para paralisar a lava-jato, agora que ela o ameaça enquanto se prepara um Maia para presidente. É muito possível que consiga. O grande trunfo da lava-jato já foi conquistado.

    A um palmo dos narizes dos excelentíssimos ministros do supremo um juiz de primeira instância faz o que quer em suas sentenças e decisões estapafúrdias.

    Temer, Cunha e Moro fizeram seu trabalho exemplarmente, para que servirão agora?

    É a hora da troca.

    Maia, Bolsonaro, Dória, Dallagnol aguardam na fila para exercer seu protagonismo.

    Vão lançar a chapa Cunha para presidente e Feliciano vice? Ou Bolsonaro presidente e Moro vice? Tudo é possível no país dos banguelas se não se estanca essa sangria.

    O governo Temer acena para os sindicatos que serão ridicularizados e destruídos se aceitarem sentar para negociar sua lenta extinção. Trabalhadores sem direitos e sindicatos inúteis, eis aí o país do futuro para trabalhadores que ainda lutam para consolidar a CLT.

    A bela resistência que se construiu nesses últimos anos de adversidade, que pintaram e cantaram nas ruas disseminando esperança, alegria e compartilhamento de ideais tem tudo para reinventar a própria resistência, novas estratégias e outras narrativas. Daqui para frente talvez seja o caso de infestar, além de manifestar. Infestação do dever e da urgência em resistir em cada recanto do país que ainda se encontra sonolento e, ativamente, em algum momento no futuro próximo, parar o país.

    Mais do que nunca lutar por todos e pelo país é, também, salvar a própria pele.