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  • As ligações perigosas de Moreira Franco, o homem que pôs o Exército nas ruas no Rio

    As ligações perigosas de Moreira Franco, o homem que pôs o Exército nas ruas no Rio

    A intervenção militar no Rio de Janeiro foi articulada por um velho conhecido do crime organizado: Wellington Moreira Franco (PMDB-RJ), ministro da Secretaria-Geral da Presidência e amigo do peito de Michel Temer, que governou o Rio de 1987 a 1991. Nesta terça (20/02) na “Folha”, numa entrevista pra lá de camarada, daquelas que o jornalista levanta a bola para o entrevistado cortar, Moreira Franco fez-se de intrépido e destemido:

     

    Folha: A intervenção no Rio foi uma decisão arriscada para Temer, porque no primeiro problema, ele será culpabilizado. O governo fez esse cálculo?

    Moreira Franco: Aqui não tem amador. As pessoas têm 50, 45, 40 anos de vida pública. Claro que fez.

    Folha: E qual é o cálculo?

    Moreira Franco: O cálculo é que na vida, tem certas horas, que você tem que assumir riscos, tem que decidir. Nessas circunstâncias, não dá para ficar empinando pipa, tem que mergulhar com coragem e convicção.

     

    Hummmm. Corajoso!

     

    Conhecido desde os anos 1980 pela alcunha de “gato angorá”, pela então vasta e cultivada cabeleira branca, e por causa do gosto entranhado pelo colo de qualquer um, Moreira Franco foi o primeiro governador do Rio a andar para cima e para baixo acompanhado de um bandidão do Comando Vermelho. Sim, Moreira Franco não é homem de ficar empinando pipa!

    Decidiu-se pela intervenção militar no Rio de Janeiro em reunião na quinta-feira (15/2) no Palácio da Alvorada da qual participaram o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e ministros do governo federal, como Torquato Jardim (Justiça), Raul Jungmann (Defesa) e Sérgio Etchegoyen (Segurança Institucional), todos envolvidos na discussão sobre segurança pública, além de Moreira Franco, Dyogo Oliveira (Planejamento) e Henrique Meirelles (Fazenda).

     

    A aventura militar entusiasmou particularmente dois participantes do convescote: o próprio Temer, que vê na intervenção a possibilidade roubar alguns pontos da popularidade e do discurso de Jair Bolsonaro; e Moreira Franco.

     

    Peemedebista, Temer é o mestre na arte camaleônica de mudar de cor ao sabor das circunstâncias. Foi social quando interessava estar perto do PT, foi neoliberal no estilo mercurial quando veio o golpe… E agora, com a popularidade no chão, torna-se verde oliva para granjear a simpatia das galinhas verdes do fascismo bolsonariano. Tudo certo como dois e dois são cinco.

     

    Temer está na base do tudo ou nada. O Iraque dele são os morros do Rio. Em lugar de fundamentalistas islâmicos, os inimigos são os  pobres e pretos das favelas cariocas. Nada como uma operação nos moldes da doutrina militar do “Choque e Pavor” (Shock and awe), para anestesiar a opinião pública que começava a sair do torpor. O samba enredo da Paraíso do Tuiuti foi o sintoma. E os entusiastas mais apaixonados pela aventura já dizem que ele pode até se apresentar como o candidato.

     

    Parceiro de todas as falcatruas de Temer, Moreira Franco é o idealizador e avalista por excelência da patuscada que, já se sabe, não conseguirá acabar com o tráfico, nem com a guerra entre quadrilhas rivais. Para os ilusionistas da quadrilha de Brasília, porém, basta contar com a mídia tradicional para repetir até o cansaço a cena de soldados com trajes de camuflagem entrando em comunidades pobres do Rio, tanques e blindados fechando o trânsito de becos e vielas miseráveis.

     

    Ah, eles não podem esquecer de seguir as ordens do interventor federal para a área de segurança pública do Rio, o general do Exército Walter Braga Netto, que já disse que a situação do Estado não é tão ruim quanto parece e que a imagem da crise é afetada pelo noticiário. “Muita mídia”, afirmou. É a senha para a Globo, Band, Record e demais veículos: podem parar de cobrir esse tipo de assunto. E assim, com o Rio ocupado, sensação de segurança nas alturas, até pelo menos as eleições de outubro, Temer e seu general interventor conquistam capital político imenso.

    Nazareno Tavares, assassinado em 1997

    Moreira Franco é o homem central da operação envolvendo o crime porque tem vasta experiência nisso. Quando era governador, todos sabiam do relacionamento do governador com o professor de Educação Física Nazareno Barbosa Tavares, seu personal trainner, um cara boa praça, que organizou e comandou um dos sequestros mais espetaculares da história, o do empresário Roberto Medina, dono do Rock in Rio. O crime aconteceu em junho de 1990.

    OK, todo mundo pode-se enganar –ainda mais com um personal simpático… Só que Moreira Franco, ao suceder Leonel Brizola, seu arqui-inimigo, no governo do Rio, assumiu dizendo que em seis meses acabaria com a violência no Rio. Primeira providência: colocar o Comando Vermelho dentro do Palácio do Governo. AHAHAH!

    Incrível como toda a imprensa resolveu esquecer disso agora, na cobertura da intervenção militar no Rio.

    Mas o caso fica pior ainda.

    Presos os sequestradores de Medina (Nazareno foi condenado a 10 anos, dois meses e 12 dias de detenção), depois do pagamento de um resgate de mais de 3 milhões de dólares (nunca se explicou direito aonde foi parar a quantia fabulosa, que saiu diretamente do Banco Central), revelou-se uma trama sinistra…

    Além do personal trainner de Moreira Franco, também estavam implicados no sequestro Miguelão (Miguel Jorge, segurança de Moreira Franco e de Rubem Medina, irmão do sequestrado), e Carlinhos Gordo. Todos silenciados….

    Azar do Nazareno. Foi só declarar que pretendia escrever um livro contando o que sabia sobre o envolvimento de políticos e empresários em negócios ilícitos, e ele foi assassinado –queima de arquivo, suspeita-se. Corria o ano de 1997.

    O crime aconteceu às 7h, num posto de gasolina na zona oeste do Rio. A vítima cumpria a pena no presídio Plácido de Sá Carvalho (Bangu, zona oeste) e trabalhava durante o dia dando aulas de natação em uma academia.
    Nazareno tinha acabado de abastecer o carro e esperava o frentista lavar o pára-brisas, quando dois homens em uma moto pararam ao seu lado. Dois tiros –um na nuca. Coisa de profissionais.

     

    Nazareno e o ditador Figueiredo, em foto no JB

    Nazareno gostava de palácios. Antes do sequestro, entre 1982 e 1985, era visto correndo na orla do Rio em companhia do último ditador militar do Brasil, João Baptista Figueiredo, de quem era instrutor de educação física. As praias do Recreio dos Bandeirantes e do Pepino (na zona Sul) eram as preferidas da dupla. Frequentava a casa carioca de Figueiredo, na Gávea Pequena, a mansão particular de um amigo, no Recreio, e a Granja do Torto, em Brasília.

    Da infância pobre em Benfica (na zona norte do Rio), Nazareno quis se esquecer: foi morar numa cobertura no Leblon! (pausa para rirmos dos bolsominions que acreditam que na Ditadura não havia corrupção: AHAHAHAH!).

    O personal bonitão aparecia em fotos de jornais, e começou amizades dentro do partido dos puxa-sacos do regime, o PDS. Na época, é claro, o gato angorá Moreira Franco era do PDS, depois de ter traído o MDB pelo qual se elegera deputado federal em 1974 e prefeito de Niterói em 1976. Filiou-se ao PDS em 1980 e só voltou ao PMDB em 1986, para disputar o governo do Rio de Janeiro contra Leonel Brizola, do PDT. Na ocasião, recebeu o apoio inestimável da Rede Globo para tentar fraudar a vontade popular, no que ficou conhecido como Escândalo Proconsult,  (mas isso é outra história!).

    A Ditadura já tendo acabado, o gato angorá tinha mesmo de mudar de colo, mesmo trajeto feito pelo irmão dele, Nélson Franco. Nazareno não se apertou e foi trabalhar como assessor de Nélson Franco, que foi secretário da Habitação e Ação Social de Moreira Franco, a poucos metros do gabinete do governador. Chegou a ser nomeado para o cargo de auxiliar técnico no Tribunal de Contas do Estado. Desplante total porque, repita-se, era líder do Comando Vermelho.

    Quando Nazareno foi detido, seu advogado, Wilson Siston, tentou convocar Moreira Franco, o irmão e um ladrão de carros chamado José Carlos de Carvalho, o “Carlinhos Gordo”, para depor.

    A juíza Denise Rolins Faria indeferiu o pedido, alegando que se tratava de “pura especulação”. Segundo o “Jornal do Brasil, Wilson sustentava que o depoimento de Carlinhos iria explicar “as ligações com Nazareno e mostrar que ambos frequentavam o Palácio Guanabara, tendo o ladrão de carros conseguido entrar na folha de pagamento do Estado”.

    Ah, só pra constar, Carlinhos Gordo não mais foi visto neste mundo.

    Em setembro de 1988, Nazareno já tinha sido detido por porte ilegal de arma e suspeita de roubo de um carro Chevrolet Monza, então um carro de bacana. Mas pagou fiança e foi liberado. No mesmo ano, ele se envolveu com o traficante Bolado. À polícia, Nazareno disse que o grupo dos sequestradores de Medina foi recrutado pelo chefão do Comando Vermelho conhecido como “Japonês” (Francisco Viriato de Oliveira), que estava trancafiado na penitenciária de segurança máxima Bangu I.

    Como o chefão do crime comandava o crime de dentro da cadeia? Tem de perguntar de novo pro Moreira Franco.

    O “Jornal do Brasil” de 17 de junho de 1990 explica que Nazareno, contratado pela campanha de Moreira Franco, foi o responsável pela arregimentação do voto dos familiares e amigos de presidiários, além dos comandados nos morros cariocas. “A líderes da organização criminosa Falange Vermelha [a organização que deu origem ao Comando Vermelho] no Complexo Penitenciário Frei Caneca (Centro), prometeu vida boa para os presidiários, caso Moreira Franco vencesse a eleição.”

     

    Como epílogo dessa história, segue a forma como Miguelão (Miguel Jorge) também foi assassinado: a tiros, na porta de sua casa, a poucos dias de se apresentar à Justiça para falar do sequestro de Roberto Medina. Miguelão, vamos lembrar, tinha sido segurança de Moreira Franco e do deputado federal Rubem Medina, irmão de Roberto Medina. O “Jornal do Brasil” assim registrou o enterro de Miguelão:

     

    “Cerca de 300 pessoas compareceram ao enterro no Cemitério do Pechincha, em Jacarepaguá, marcado por tensão e revolta. (…) Parentes e amigos –que não se identificaram—acusaram o governador Moreira Franco de ter sido o mandante do assassinato”.

     

    É este o idealizador da intervenção militar no Rio. Ele é parceiro da rede Globo. Você confia neste homem?

     

  • STF permite posse de Moreira Franco, o golpe continua

    STF permite posse de Moreira Franco, o golpe continua

    O Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello negou na terça-feira (14) a liminar que impedia a posse de Moreira Franco, como Ministro da Secretaria-Geral da presidência. Poucos dias depois de ser homologada a delação da Odebrecht, na qual inúmeros políticos são citados, Temer indicou Moreira para cargo que garante a seu ocupante foro privilegiado.

    O novo ministério foi criado por meio de uma MP (Medida Provisória) que deu status de ministério para a antiga Secretaria-Geral da Presidência. A mesma MP recriou o Ministério dos Direitos Humanos. Moreira Franco é citado na delação da empreiteira-chave da Lava-Jato ao menos 34 vezes, com o apelido de “Angorá”. A posse de Moreira Franco se tornou uma intensa batalha judicial entre o governo e ações populares que acusavam a nomeação de ser uma forma de blindar o amigo de Temer, uma vez que como ministro ganharia foro privilegiado.

    Semana passada, o juiz Eduardo Rocha Penteado, da Justiça Federal do Distrito Federal, assim entendeu a ação de nomeação:

    “É DOS AUTOS, TAMBÉM, QUE A SUA NOMEAÇÃO COMO MINISTRO DE ESTADO OCORREU APENAS TRÊS DIAS APÓS A HOMOLOGAÇÃO DAS DELAÇÕES, O QUE IMPLICARÁ A MUDANÇA DE FORO.”

    O juiz foi vencido pela AGU, mas logo depois vieram mais duas decisões liminares que entendiam da mesma forma. Uma quarta liminar tinha permitido a posse, mas sem foro. Sobrou para o Supremo hoje, por meio de Celso de Mello, dar a última palavra. O ministro não viu ligação entre a homologação e a nomeação, permitindo então a posse. Os quatro outros juízes de instâncias inferiores ao Supremo, seguiram o precedente do próprio STF no caso da nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil de Dilma.

    Na época o STF considerou a nomeação de Lula como obstrução de justiça, uma vez que o ex-presidente se tornando Ministro ganharia foro privilegiado. Para validar essa tese foi usado um áudio telefônico de uma conversa entre Dilma e Lula, vazado ilegalmente pelo juiz Moro. Não havia substância que comprovasse a intenção de obstrução, apenas um aviso de que a posse já estaria assinada.

    Agora o Supremo mostra que está ativo junto aos golpistas. Duas decisões muito diferentes para casos parecidos, pois Moreira Franco e Lula não tem nada que os assemelhe.

    Moreira é um cacique do PMDB. Nome forte de Temer, foi ministro do governo Dilma por indicação do então vice-presidente. Ganhou o apelido “gato angorá” de Leonel Brizola, seu adversário no Rio de Janeiro, por ter muitos contatos e influência e ir de “colo em colo”, como o gato. Já foi deputado pelo Rio de Janeiro e Governador do Estado. Já Lula foi presidente duas vezes, teve o maior índice de aprovação, respeitado no mundo e líder político nato. A nomeação de Moreira vem após a delação e não tem justificativa concreta, senão a grande proximidade com Temer. Lula foi nomeado em um momento de crise do governo, por conta de sua habilidade política.

    O sistema de freios e contra-pesos que deveriam regular a República não está mais funcionando. O papel do judiciário seria de garantir as prerrogativas constitucionais de igualdade, julgando com imparcialidade, mas os juízes do Supremo estão junto com Temer e seus sicários.

    Essa é mais uma prova de que o STF está dentro do “GRANDE ACORDO NACIONAL” para “estancar a sangria” da Lava-Jato como pediu Jucá. O Supremo está junto com eles nos cortes de direitos, no genocídio de pobres e negros, no encarceramento, no genocídio indígena. E acabar com o povo brasileiro.

     

  • Nomeação de Moreira Franco é permitida

    Nomeação de Moreira Franco é permitida

    Após nomear Moreira Franco para Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, poucos dias depois de ser homologada a delação bomba da Odebrecht, onde o nome de Moreira aparece nada menos do que 34 vezes identificado como “Angorá”, um juiz de Brasília suspendeu a posse com base em ação semelhante a que houve com a nomeação de Lula para a Casa Civil de Dilma.

    Na época o STF considerou a nomeação de Lula obstrução de justiça, uma vez que o ex-presidente se tornando Ministro ganharia foro privilegiado. Para validar essa tese foi usado um áudio telefônico de uma conversa entre Dilma e Lula, vazado ilegalmente pelo juiz Moro. Não havia substância que comprovasse a intenção de obstrução, apenas um aviso de que a posse já estaria assinada antes da cerimônia. O STF acabou cedendo para a sede de sangue e impediu a nomeação de Lula.

    Com a nomeação de Moreira, em um contexto muito mais suspeito, uma vez que é diretamente citado na delação da principal empresa envolvida na LavaJato, parece ter substância o argumento de que seria um movimento de obstrução de justiça, e de que a nomeação seria para lhe garantir foro. Foi isso que o juiz Eduardo Rocha Penteado, da Justiça Federal do Distrito Federal, entendeu na decisão sobre a nomeação:

    “É dos autos, também, que a sua nomeação como Ministro de Estado ocorreu apenas três dias após a homologação das delações, o que implicará na mudança de foro.”

    Mas o golpe se deu por meio de articulações entre os golpistas e setores do judiciário. E logo Temer acionou o desembargador Hilton Queiroz, presidente do TRF-1, já aliado dos golpistas, que suspendeu a decisão de outro juiz federal de Brasília que barrava a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a reeleição da presidência da Câmara dos Deputados. Maia, homem forte de Temer na Câmara, ganhou. Esse mesmo desembargador acaba de suspender a liminar que barrava a nomeação de Moreira Franco, de acordo com nota no site da AGU, pois considera, concordando com os argumentos apresentados pela AGU contra a liminar, que esse impedimento é um “risco à ordem pública, segurança e ordem administrativa” e ultrapassa a “absolutamente sensível” separação dos Poderes. Preocupações essas que nem mesmo o STF, guardião máximo da constituição, levou em conta na ação contra Lula.

    O golpe é assim. A nomeação de um ex-presidente, como maior índice de aprovação, é barrada por ser considerada suspeita, não há materialidade que comprove qualquer ato ilícito, mas com o circo midiático a decisão do STF ganha legitimidade. Já a nomeação de um, muitas vezes delato, antigo PMDBista não deve ser entendido como fuga da justiça. Faz sentido, a justiça virou capataz dos golpistas. Ou será que o STF irá aparecer?

    xxxxxxxxxxxxxxxxx ATUALIZAÇÃO 15:49h xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

    A juíza Regina Coeli Formisano, 6ª Vara Federal do Rio, aceita uma nova ação popular e assim barra novamente a nomeação de Moreira Franco para Ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A juíza utiliza o caso em que o STF barrou o ex-presidente Lula, investigado na Lava-Jato, para assumir um Ministério na gestão de Dilma.

    A juíza vê que a nomeação pode ter desvio de função e servir para munir Moreira Franco de foro privilegiado.