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  • O Brasil do Japão

    O Brasil do Japão

    A comunidade de brasileiros no Japão é a segunda maior população de brasileiros fora do Brasil (por volta de 180 mil em 2015, mas que já foi de 310 mil em 2008 segundo estimativas do Itamaraty). Grande parte é constituída por “decasséguis”, termo que literalmente significa “trabalhando longe de casa” e é utilizado para se referir aos brasileiros descendentes de japoneses que vão ao Japão trabalhar temporariamente, o que pode variar de 1 ano até décadas. Mas, o que caracteriza não é o tempo de estadia e sim o sentimento de que um dia se vai voltar ao Brasil, mesmo que não se saiba quando, por isso é muito comum que durante o tempo de vivência no Japão não ocorra uma ligação orgânica com a cultura japonesa, sendo muito comum entre os decasséguis não dominar o idioma ou a escrita japonesa, restringindo grande parte de seus hábitos a vivências dentro da própria comunidade de brasileiros.

    Nessas comunidades, os resultados das eleições de 2014 não refletiram o que ocorreu na terra natal, o candidato Aécio Neves-PSDB, teve 58,36% dos votos válidos no primeiro turno, contra 9,69% dos votos para a candidata Dilma-PT que esteve em terceiro lugar, atrás de Marina Silva-PSB com 25,10%. No segundo turno as diferenças foram ainda mais brutais com números apontando mais de 90 % dos votos válidos para o candidato do PSDB. Esses números demonstram que a rejeição ao PT chegou a níveis altíssimos em uma população que, sobretudo, não se encontrava sobre influência direta desse governo.

    A IPC, filiada da Rede Globo no Japão, tem o maior portal de internet e a IPCTV é o principal canal de televisão voltado para brasileiros, com programação que inclui os principais programas da Rede Globo, como o Jornal Nacional. A IPC anunciou em seu portal a chegada de Temer ao país, no último dia 17 de outubro, com a manchete “Temer chega nesta 3ª feira ao Japão e tentará contornar mal-estar deixado por Dilma”.

    A maioria dos decasséguis trabalha como operários em fábricas com turnos que podem se estender até 12 horas, 6 dias por semana, sobrando 1 dia da semana para viver, dia esse que muitas vezes acaba sendo utilizado para realizar coisas da casa e descansar.

    A rotina de vida dura dificulta o ócio necessário para refletir, juntar os pontos das ideias soltas e problematizar a sociedade ao mesmo tempo em que, em razão do elevado poder de compra que acompanha tantas horas de trabalho, cria-se o cenário perfeito para se iludir com as “anestesias” do capitalismo, o que deixa ainda mais difícil questionar aqueles únicos canais de informação em brasileiro, os recebendo com a guarda baixa, ainda mais que a principal função é aliviar as saudades do Brasil.

    Fonte:

    IPC. Temer chega nesta 3ª feira no Japão e tentará contornar mal estar deixado por Dilma. [online] Disponível na Internet via http://www.ipc.digital/temer-chega-nesta-3a-feira-no-japao-e-tentara-contornar-mal-estar-deixado-por-dilma/. Arquivo acessado em 19 de outubro de 2016.

    Ministério das Relações Exteriores Itamaraty. Estimativas populacionais das comunidades de brasileiros [online] Disponível na Internet via http://www.brasileirosnomundo.itamaraty.gov.br/a-comunidade/estimativas-populacionais-das-comunidades. Arquivo acessado em 19 de outubro de 2016.

    Portal Alternativa. Aécio ganha disparado em Nagoia após apuração das urnas [online]. Disponível na Internet via http://www.alternativa.co.jp/Noticia/View/36444/Aecio-ganha-disparado-em-Nagoia-apos-apuracao-das-urnas. Arquivo acessado em 19 de outubro de 2016.

     

  • Movimentos protestam contra a Reforma da Previdência

    Movimentos protestam contra a Reforma da Previdência

    As centrais sindicais CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil e CUT Brasil e movimentos ligados à Frente Brasil Popular realizam nesta terça-feira (31) uma mobilização nacional contra os ataques à Previdência Social planejados por Michel Temer e seu governo interino.

    A ação acontecerá em diversos estados, simultânea ao lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência do Senado.

    Em São Paulo, o ato teve início às 10h, no viaduto do Chá, em frente à sede do INSS paulista e reuniu centenas de trabalhadores e trabalhadoras.

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  • Estudantes dão uma aula à Alexandre de Moraes

    Estudantes dão uma aula à Alexandre de Moraes

    Nesta segunda-feira, 30 de maio, o Comitê São Francisco Contra o Golpe, com o apoio do DCE da FATEC e da União Estadual do Estudantes de São Paulo, escrachou o (não) Ministro da Justiça Alexandre de Moraes. Para os estudantes ele é “atualmente um dos maiores inimigos do povo brasileiro”. Moraes daria uma aula magna na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, mas se retirou da sala quando os alunos começaram à intervenção e deram uma verdadeira aula de cidadania e direitos humanos.

    Confira a nota escrita pelo Comitê explicando a ação:

    “Alexandre de Moraes é conhecido e temido pela população negra e periférica e por diversos movimentos sociais por sua atuação em chacinas e repressões. Pra quem ainda não o conhece, colocamos abaixo os motivos de nosso ato:

    Alexandre é braço direito de governos do PSDB há muitos anos, tendo cumprido papel importante na articulação do golpe que afastou a presidenta eleita, Dilma Roussef. Também não poupou esforços na defesa de corruptos e golpistas como Temer e Cunha, do qual inclusive já foi advogado.

    Apesar de ser filiado de um dos partidos mais interessados no golpe, o PSDB, Alexandre usa de sua função como Professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da USP para legitimar seu discurso em defesa do impeachment ilegítimo(1). Faz isso sem nem merecer o título de docente, já que não da aula há tempos, apesar de seguir recebendo seu salário.

    Alexandre de Moraes atuou por anos como Secretário de Segurança Pública do estado de São Paulo, nesse período foi comandante da Polícia Militar de São Paulo, uma das mais violentas do mundo, responsável por 1 em cada 4 assassinatos na capital paulista, sendo que 72% de suas vítimas são negras(2) essa polícia, em 2014, matou mais de 800 pessoas(3).

    Sob seu comando a PM também foi responsável por momentos de extrema violência e repressão contra a luta de professores(as), estudantes, pelo passe livre e diversas outras, inclusive realizando atos de reintegração de posse sem mandado judicial. Recentemente afirmou em declaração que considerava os protestos contra o golpe e pela democracia como atos de guerrilha”(4)

    O Ministro interino também já atuou a frente da FEBEM Paulista e da Secretaria Municipal de Transportes de São Paulo, sempre envolvido em escândalos de má gestão, omissão de dados e desrespeito aos direitos trabalhistas e humanos.

    Uma das maiores polêmicas em sua carreira é sua atuação junto ao PCC, já tendo advogado inúmeras vezes para empresas ligadas à organização. Defendemos o direito de defesa de qualquer pessoa, mas é inaceitável um Ministro da Justiça que defende grupos que atuam na periferia sob um lógica de violência e opressão. Queremos
    representantes do povo, não da violência policial nem da violência do PCC.

    Escrachamos Alexandre de Moraes representando aqueles que não aceitam a política de violência do atual Ministro contra o povo e contra os movimentos sociais. Seguimos na luta: não ao golpe, fora Temer!”

  • Assentamento Glória enfrenta ameaça de despejo

    Assentamento Glória enfrenta ameaça de despejo

    Uma das maiores ocupações urbanas do Brasil, na periferia de Uberlândia, teve 5º pedido de reintegração de posse emitido pela justiça mas não foi realizada. Governo golpista pode desalojar 2.300 famílias a qualquer momento.

     

    Desde o final de 2011, 50 famílias, várias despejadas de outra ocupação, começaram a montar alguns barracos em uma grande área na periferia de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, pertencente à União e destinada a um novo campus da Universidade Federal de Uberlândia. No ano seguinte, 120 famílias ligadas ao Movimento dos Sem Teto do Brasil (MSTB) se juntaram às iniciais e fundaram a Ocupação do Glória, também chamada então de Paulo Freire. Hoje são cerca de 15 mil moradores na área que tem ruas demarcadas, lotes numerados, casas de alvenaria, igrejas, pequeno comércio e recebe o nome oficial de bairro Élisson Pietro.

    Foto por Luiz Alberto Júnior
    Foto por Luiz Alberto Júnior

    Para evitar uma tragédia como o Pinheirinho, em São José dos Campos, São Paulo, a UFU e a Prefeitura de Uberlândia entraram num entendimento de doação de um outro terreno para a universidade em permuta com o da ocupação. Entretanto a Secretaria de Patrimônio da União teria recusado o acordo por conta do valor do terreno ofertado pela prefeitura, que seria menor do que o do campus Glória, e entrado na justiça pedindo a reintegração de posse.  Segundo o advogado dos assentados, Higino Marcos, o imbróglio jurídico deveria ter se encerrado em março desse ano, a partir de um acordo entre as partes. Mas a justiça emitiu em abril uma nova ordem de despejo, a 5ª em quatro anos, para execução em 10 dias. Esse prazo já se encerrou e com a tomada pelo poder do governo golpista de Michel Temer, os assentados estão novamente com a espada sobre as cabeças.

    Foto por Luiz Alberto Júnior
    Foto por Luiz Alberto Júnior

    O documentário Faces do Glória, produzido em 2015 por alunos do curso de jornalismo da UFU, mostra a realidade da comunidade e retrata a sua identidade através de depoimentos dos próprios moradores sobre as dificuldades enfrentadas, a marginalização do movimento de luta pela terra e as perspectivas para o futuro em busca da conquista do seu espaço e direitos básicos. Conheça a realidade de um movimento muito estigmatizado, estereotipado e invisível aos olhos da sociedade.

    Produção, edição e finalização do vídeo:  Ana Luiza Figueiredo, Emilio Andrade, Halyson Vieira, Isabela Silveira, Isadora Puríssimo, Iury Machado e Luiz Alberto Júnior

    Orientação acadêmica: Profas. Diva Silva e Christiane Pitanga

     

  • A aliança necessária para a resistência LGBT

    A aliança necessária para a resistência LGBT

    JL - A Aliança necessária

    por Leo Moreira Sá, especial para os Jornalistas Livres

    Negr@s, índi@s, gays, lésbicas, mulheres cisgêneras, mulheres travestis e transexuais, homens trans, pobres, trabalhadores…uni-vos!!! É chegada a hora da grande aliança dos excluídos do Cistema. A nova composição ministerial e a extinção de nove ministérios, incluindo o de Direitos Humanos – fundamental para a proteção das populações socialmente vulneráveis – não deixa dúvidas: a “ponte para o futuro” de Temer e sua corja será construída por e para homens brancos cisgêneros e heterossexuais. E da mesma forma que a mulher Dilma foi implacavelmente perseguida até que o seu direito legítimo de governar fosse usurpado, tod@s nós, que não participamos das benesses do patriarcado, seremos perseguid@s e cercead@s nos poucos direitos que conquistamos a duras penas.

    Espanto, temor, comoção e falta de expectativa frente à radicalização das forças conservadoras que tomaram de assalto, e nocautearam a jovem democracia brasileira. “Nossa comunidade (travestis, mulheres transexuais e homens trans) cresceu muito nos últimos anos. Há 10 anos a gente não tinha uma comunidade. Era algo impossível. Hoje temos muitas lutas importantes, e muito esforço coletivo, embora ele ainda esteja aquém do que precisamos pra conseguir o mais básico. Se na última década foi difícil colocar em pauta questões relacionadas a gêneros, sexualidade e direitos sociais, é fato que com essa direita que tomou o poder de assalto, as coisas vão ficar muito, muito mais difíceis”, alerta a programadora e ativista transexual Aline Freitas,36 anos.

    O conservadorismo neofascista brasileiro tem crescido proporcionalmente ao avanço político dos movimento sociais dos últimos anos e encontrou respaldo na atual composição parlamentar formada em sua maioria por políticos de direita neoliberais e fundamentalistas religiosos. Foram vários os ataques protagonizados por eles com o objetivo de barrar o avanço e anular as conquistas de direitos dos segmentos socialmente vulneráveis. Em 26 de março de 2015, uma frente parlamentar formada majoritariamente por evangélicos, católicos e políticos ligados à área da segurança pública, apresentou um Projeto de Decreto Legislativo (PDC) com o objetivo de anular a resolução do Conselho Nacional de Combate à discriminação de LGBT (ligado ao Ministério dos Direitos humanos que foi extinto pelo ficha-suja Michel Temer) que permite a adoção do nome social em todas as instituições educacionais públicas e privadas do Brasil. Em contrapartida, dias antes da oficialização do golpe pelo senado, Dilma assinou decreto de lei sancionando o uso do nome social em todas as instituições federais do país, reconhecendo nacionalmente a comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans.

    No ano passado também foi aprovado o Estatuto da família baseada na matriz binária cisgênera heterossexual, que excluí o direito à cidadania a todas as famílias homotransafetivas, como também a Lei de redução da maioridade penal que incentiva a criminalização e violência policial contra a juventude, em especial a juventude negra, a que mais sofre com o estigma de pertencer ao universo do crime. O ano de 2015 também foi marcado pela oposição dos fundamentalistas religiosos aos dispositivos propostos pelo Plano Nacional de Educação que previam o combate à misoginia e discriminação por identidade de gênero e orientação sexual nas instituições educacionais.

    Nunca fez tanto sentido as palavras da filósofa Judith Butler ditas quando a mesma esteve no Brasil em setembro de 2015, por ocasião do I Seminário Queer, realizado em São Paulo, pelo Sesc e pela revista Cult. Para ela, a resistência à opressão só é possível quando se pensa numa grande aliança entre as populações socialmente vulneráveis. É preciso pensar “a violência contra as mulheres junto com a violência contra pessoas trans, já que são violências baseadas no controle do gênero ou da sexualidade das pessoas”, afirmou. A filósofa lembrou também o alto índice de assassinatos da população negra, de travestis e de transexuais no Brasil, e sua total impunidade. A precariedade social e política está profundamente conectada com a exclusão econômica, porque quando se pensa em pessoas com falta de perspectivas financeiras e sem acesso à educação, pensamos imediatamente em negr@s, travestis, mulheres transexuais e homens trans.

    Mas não se trata mais aqui de uma disputa entre quem é mais ou menos vulnerável, ou mais ou menos oprimido – estamos todos no mesmo barco. O modelo de poder do sistema patriarcal é que hierarquiza e define quem tem o direito à cidadania. E não existe modelo mais atual e representativo disto que o ministério apresentado pela direita neofascista e golpista de Temer. Se você não é um homem cisgênero, branco e heterossexual, de preferência cristão, você não pertence ao establishment e será considerado sempre cidadão de segunda classe, assim como as mulheres cisgêneras, ou não terá nem mesmo o direito à vida como negr@s, gays, lésbicas, travestis, mulheres transexuais e homens trans.

    Essa é a hora de assumirmos nossa vulnerabilidade e fazer dela a nossa resistência, numa grande aliança de todas as populações excluídas do Cistema heteronormativo. Tomarmos as ruas, praças e avenidas e dizermos não ao governo golpista. Temer não terá paz!

  • COMO TEMER E CUNHA CONSTRUÍRAM O GOLPE CONTRA 54 MILHÕES DE VOTOS

    COMO TEMER E CUNHA CONSTRUÍRAM O GOLPE CONTRA 54 MILHÕES DE VOTOS

    Ao menos, desde setembro, o vice-presidente e o presidente da Câmara conspiram para assumir os principais cargos da República

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    Não restam muitas dúvidas sobre o caráter golpista de Temer e sua turma. A cada dia fica mais evidente sua ganância inescrupulosa para derrubar Dilma e assumir a presidência. Mas não devemos nos enganar pensando que se trata de uma atitude apenas oportunista, ou seja, que ele está aproveitando a oportunidade que o destino lhe trouxe. Longe disso. Temer e Cunha têm articulado a própria chapa presidencial, para assumirem os maiores cargos do país, há mais tempo do que nossa relapsa memória nos alerta. E trata-se de uma articulação entre os três poderes, a grande mídia – televisiva e escrita – e até a autoria do pedido de impeachment.

    Explico-me.

    Em 29 de outubro de 2015, o PMDB, liderado por Temer[1], lançou um programa próprio de metas governamentais chamado “Uma ponte para o futuro”[2].  Em uma leitura atenta percebe-se que é uma evidente ruptura com o governo Dilma e um anúncio de sua “candidatura indireta” ao cargo da presidência. Havia apenas um obstáculo: Dilma é a presidenta, legitimamente eleita.

    Eduardo Cunha “resolveu” o problema em apenas as trinta e quatro dias, 02/12/2015, quando deu início à derrubada de Dilma, acolhendo e deferindo um pedido de impeachment de autoria de Helio Bicudo, Reale Júnior e Janaina Paschoal[3]. Esta última, inicialmente tratada como acessório decorativo do trio, porém, se demonstrou peça-chave no processo.

    Se nos atentarmos em como se deu a construção do pedido de impeachment aceito por Cunha, veremos que o primeiro pedido foi protocolado em 01 de setembro de 2015[4] e em quarenta e cinco dias, 15/10/2015, protocolaram um segundo pedido de impeachment[5]. Em seu pronunciamento[6] sobre o acolhimento do segundo pedido e consequente abertura do processo, Cunha se enrolou na explicação, e, ao que tudo indica, o pedido do trio teve tratamento diferenciado e privilegiado, no que se refere ao tramites da Casa.[7]

    Se observasse os prazos defendidos por ele mesmo, Cunha deveria ter indeferido o primeiro pedido do trio no final de outubro[8]. No entanto, no final de outubro, como já dito, os holofotes deveriam estar no plano de governo de Temer, “Uma Ponte para o futuro”. Além do mais, a oposição e a grande mídia criaram uma enorme expectativa popular no pedido elaborado pelo trio, não poderiam, então, “queimar essa bala”. Indeferir um pedido deles seria uma derrota simbólica, mesmo que apresentassem um novo em seguida, como fizeram.

    A manobra, do “rei das manobras”, portanto, foi deixar o primeiro pedido guardado na sua gaveta por mais de noventa dias, aguardando pacientemente o novo pedido que ele, enfim, aceitaria. O qual, conhecendo Cunha como já conhecemos, deve ter recebido assessoria dos seus advogados. Do mesmo modo como aconteceu na elaboração do relatório da comissão de impeachment[9], votado há poucos dias.

    O plano “Uma ponte para o futuro” elaborado pelo Temer foi intensamente divulgado pela grande mídia. O jornal nacional, por exemplo, apresentou uma reportagem de cinco minutos sobre ele.[10]  Na narração, a reportagem afirmou que

    o documento é uma ruptura do PMDB com o atual modelo econômico do governo. Ele traz uma mensagem clara: o PMDB tem um caminho próprio e daqui pra frente vai segui-lo. Mesmo que entre em choque com as propostas do governo.”

    Esta mesma reportagem afirmou que o PMDB não apresentou o plano previamente à presidenta Dilma. Precisa mais para explicitar o caráter golpista desse plano? Como é possível, em um cenário democrático, o vice-presidente elaborar um plano de metas governamentais e não apresentar e dialogar com a presidenta antes de divulga-lo publicamente?

    Em 31 de outubro, o jornal O Globo publicou editorial elogiando o plano de Temer[11].  A revista Veja[12] estampou Temer em sua capa, na edição de 14 de novembro, com a manchete “O plano Temer – Como o vice-presidente e seu partido se preparam para assumir caso Dilma caia”.  É importante ressaltar que, nessa altura, sequer havia processo de impeachment aberto, Cunha deferiu o processo dezoito dias depois.

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    Capas de revistas com Michel Temer de julho de 2015 a abril de 2016

    Nesse meio tempo, não podemos ignorar que um processo de cassação do mandato de Cunha foi protocolado pelo PSOL – em 13 de outubro – e aceito pela comissão de ética da Câmara em 3 de novembro. Exatamente no interim do lançamento da chapa Temer-Cunha pelo PMDB, por meio do plano “Uma ponte para o futuro”. O presidente da Câmara, então, uniu o útil ao agradável quando abriu o processo de impeachment de Dilma. Retaliou o PT por ter votado favoravelmente ao seu processo de cassação, como havia anunciado que faria[13], e deu o pontapé inicial da sua escalada à vice-presidência.

     

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    Jornais registram ameaças de retaliação de Cunha.

     

    Uma quinzena antes desta abertura, o PMDB realizou o Congresso da Fundação Ulysses Guimarães, onde o plano “Uma ponte para o futuro”, de Temer, foi apresentado e discutido por membros do partido.

    A Rede Globo deu destaque em sua programação com reportagens que salientaram a recepção que Temer recebeu por meio de gritos de “impeachment já” e “Brasil para frente, Temer presidente!”[14].

    Cunha, apesar de vaiado, fez um duro discurso defendendo que o PMDB se distanciasse, visando uma posterior saída inevitável do governo[15]. Podemos concluir que o presidente da Câmara, com a imagem já desgastada com denúncias de corrupção, assumiu o “trabalho sujo” da chapa, com vistas a preservar a imagem de Temer. Estava óbvio o desembarque do PMDB do governo, mas um vice-presidente não poderia liderar tal processo sem ser chamado de golpista, principalmente, quando nem processo de impeachment havia ainda.

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    No centro da mesa, Moreira Franco, Michel Temer, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. Foto: Diretório Nacional

     

    Na segunda-feira, 30 de novembro, dois dias antes de Cunha abrir o processo de  impeachment, Temer declarou a revista Exame que caberia ao presidente da Câmara aceitar de impeachment.

    “Isso é uma decisão dele. Vamos esperar para ver”

    Afirmou Temer, ao ser questionado se ele acreditava que Cunha aceitaria um dos pedidos de impeachment que ainda estão sendo analisados na Câmara dos Deputados. O vice-presidente, que está no cargo de presidente em exercício até Dilma voltar de Paris, tem se mantido afastado da articulação política do governo. Temer disse, no entanto, que conversou com o presidente da Câmara, mas que Cunha não teria tratado de impeachment.[16]

    Evidentemente, Temer sinalizou para Cunha e para as forças aliadas o que deveria acontecer nos próximos dias.

    Pedido de impeachment aceito, cinco dias depois, Temer se vê sem explicação para sua carta à presidenta ter vazado à imprensa[17]. A repercussão não foi a esperada, pois a carta revelou um vice-presidente ressentido por questões pequenas, sem apresentar qualquer preocupação com as questões fundamentais do país. Bem distante do Temer que escreveu “Uma ponte para o futuro”. Mas se engana quem pensa que foi uma atitude mal calculada dele. Como vimos, ele está há meses em marcha para derrubar Dilma, mas não poderia, simplesmente, escancarar suas garras. Esse serviço cabe ao Cunha. Temer, portanto, optou fazer o sonso e vazar sua carta melindrosa. Com isso, revelou que estava rompendo com Dilma, mas manteve a “pele de cordeiro”, de vice decorativo e magoado.

    No mesmo dia em que a carta “vazou”, Temer se reuniu, a portas fechadas, com empresários da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) para apresentar seu plano de governo “Uma ponte para o futuro”[18]. Percebe-se, portanto, qual será a prioridade de um eventual governo dele. Os trabalhadores e os mais pobres, certamente, não serão.

    Com a decisão do STF acerca do rito do impeachment, em 18 de dezembro, Cunha teve seus planos iniciais frustrados e se viu obrigado a adiar o processo para o início do ano legislativo[19].

    Neste meio tempo, Temer, acompanhado de Moreira Franco e Eliseu Padilha, iniciou sua campanha nacional rumo à presidência, no que chamou de “Caravana da unidade”[20]. O vice-presidente percorreu as cinco regiões do país com intuito de apresentar e discutir seu plano de governo[21]. Enquanto isso, Cunha fazia o “trabalho sujo” na Câmara, viabilizando uma comissão favorável ao impeachment, assim como os votos necessários para aprovar o processo.

    No final de fevereiro, o PMDB lançou mão de programas televisivos gratuitos em cadeia nacional para anunciar o plano Temer e fazer duras críticas ao governo Dilma. Reparem que há uma boa dose de hipocrisia esquizofrênica no partido que discursa como se não compusesse o governo e como se Temer não fosse vice-presidente. A respeito disso, quando questionado, Temer dizia que quando estava discutindo o plano “Uma ponte para o futuro” era o Temer, presidente do PMDB, não era o Temer, vice-presidente da República[22]. Notem que não há limites éticos e racionais para esse sujeito, em sua ganância pelo poder.

    Não foi a primeira vez, em 2015, que o PMDB usou a cadeia nacional televisiva para desenvolver seu plano de tomada do governo. Em 29 de setembro, um mês antes do “Plano Temer” ser lançado, o partido exibiu um programa de dez minutos, no qual, em clima de luto, criticou o governo e se colocou como a salvação do país, por meio do “redentor”, Michel Temer.

    Por favor, assista para ter a dimensão da campanha golpista desse partido:

    Exatamente seis meses depois dessa propaganda, em 29 de março, o PMDB se retira do governo federal oficialmente, em uma decisão por aclamação realizada em menos de cinco minutos, com ameaças de expulsão a quem desobedecer, com exceção de Temer, obviamente, que está agarrado a cadeira de vice, apenas esperando para dar o bote na cadeira de Dilma.

    Atentem-se aos detalhes das datas. Em exatos seis meses o PMDB colocou seu plano golpista em seis etapas:

     

    29/09 Propaganda televisiva contra o governo

     

    29/10 Lançamento do plano “Uma ponte para o futuro”

     

    02/12 Abertura do Impeachment (29/11 foi um domingo, e Cunha em seu pronunciamento disse que queria ter anunciado na segunda, dia 30/11)
    29/01 Início da “Caravana da Unidade”

     

    24/02 Propaganda televisiva anunciando “Uma ponte para o futuro”

     

    29/03 PMDB se retira do governo Dilma

     

    Tal cronograma lhe parece obra do acaso? Não está evidente que há um plano metódico e inescrupuloso com o objetivo de tomar o poder de Dilma? Uma campanha golpista que quer colocar a chapa “Temer – Cunha” na presidência e vice-presidência?

    Agora, pensemos, se lançaram um vídeo partidário de dez minutos com quase todos os políticos da legenda em 29 de setembro, desde quando esse plano golpista não está sendo conspirado por Temer, Cunha e aliados? Se há , evidentemente, um cronograma de ações golpistas, desde quando ele tem sido traçado? Eu arriscaria dizer que desde que Dilma foi reeleita.

    Diante desses fatos, não devemos nos enganar com a esperança de que Cunha será afastado e preso. Cunha é peça fundamental nesse golpe e sua anistia está, desde o início, garantida, caso contrário, ele não estaria fazendo parte desse processo. Ele ocupará a vice-presidência e, tenho a enorme suspeita, de que vislumbra ocupar a própria presidência ainda este ano[23].

    Voltando ao Temer, ele se licenciou da presidência do PMDB em 7 de abril, colocando um fim na sua hipocrisia esquizofrênica de uma hora ser presidente do PMDB e em outra ser o vice-presidente da República; para dar início a uma pior.

    Quatro dias depois, 11 de abril, um áudio dele é vazado, no qual ele afirma que houve uma votação significativa a favor do impeachment e se coloca praticamente como o presidente, no lugar de Dilma. Detalhe, a votação em plenária ocorreria em seis dias. Mais uma vez ele teria sido descuidado? Mais um vazamento estabanado? Obviamente que não. Temer mandou o recado à Câmara e, ao mesmo tempo, a sociedade. E, de novo, se escondeu na “pele do cordeiro”, dizendo que foi um engano, que se tratava de um ensaio privado para uma eventual necessidade.

    Temer é um lobo. Uma fera sedenta por poder e tem dilacerado todos os princípios éticos e democráticos para ocupar a presidência do Brasil. Cunha é um zumbi inescrupuloso, que cultivou uma horda de deputados, que lhe obedecem cegamente. São perigosos, traiçoeiros, conspiradores e estão a meio passo de assumirem os cargos mais importantes do Brasil.

    Esta é a chapa presidencial que os autores do pedido de impeachment esperam que assuma o governo do país. Ou você já viu algum deles criticarem Temer ou Cunha com a mesma veemência que fazem contra os petistas? Pelo contrário, no dia que Cunha acolheu o pedido de impeachment deles, deram declarações,[24]no mínimo, contraditórias como:

     

    “Não foi coincidência. Foi uma chantagem explícita, mas Cunha escreveu certo por linhas tortas”, disse o ex-ministro da Justiça. (Reale Júnior)

     

    “Eu já não esperava mais que isso acontecesse e estava pensando sobre quais providências poderíamos tomar para não passar em branco. Mas o Cunha, enfim, despachou. Ele não fez mais do que a obrigação.” (Helio Bicudo)

    “Independentemente do que norteou a ação, temos que reconhecer que foi um ato muito importante para o país. Como muito provavelmente ele [Cunha] vai sair do cargo, eu vejo isso como um último ato de benevolência. Estou triste pelo país estar nessa situação, mas feliz por pelo menos encontrado um caminho constitucional para sair disso.” (Janaina Paschoal)

     

     

    Janaina Paschoal também defendeu Temer, recentemente, isentando o vice-presidente das pedaladas que ele assinou e afirmou que Temer é o vice, tem que assumir”[25].
    Temer e Cunha também são a chapa que o grande empresariado tem financiado econômica e simbolicamente, por meio das mobilizações pró-impeachment. Já parou para pensar que “algum pato” teve que pagar as despesas desses eventos?

    Temer e Cunha também são a chapa que o PMDB e a grande mídia querem nos enfiar goela abaixo, junto com um plano de governo que não merece o nome que tem, pois deveria chamar “uma ponte para o passado”.

    Um passado que nós, brasileiras, rejeitamos. Um passado de miséria e fome. Um passado sem direitos trabalhistas. Um passado sem políticas para educação e para saúde. Um passado em que a corrupção não era investigada. Um passado de impunidade. Um passado onde se governavam apenas para os ricos e ignoravam os pobres, os negros, as mulheres, os LGBTS e todos os subalternos.

    Repudiamos Temer. Repudiamos Cunha. Repudiamos o plano “Uma ponte para o futuro”.

    Não aceitamos que digam que os eleitores de Dilma também elegeram Temer, pois Dilma foi eleita com um plano de governo que em nada tem a ver com esse “Plano Temer”. O Brasil não elegeu o “Plano Temer”, portanto, não aceitará Temer como presidente.

     

    Não aceitamos golpe contra nossa inteligência, muito menos, contra nossa democracia

    [1] http://pmdb.org.br/digital/moreira-franco-fala-sobre-a-proposta-uma-ponte-para-o-futuro/

    [2] http://pmdb.org.br/wp-content/uploads/2015/10/RELEASE-TEMER_A4-28.10.15-Online.pdf

    [3] http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,eduardo-cunha-aceita-pedido-de-impeachment-contra-dilma-rousseff,10000003662

    [4] http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,fundador-do-pt-protocola-pedido-de-impeachment-de-dilma,1754394

    [5] http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/bicudo-e-reale-protocolam-novo-pedido-de-impeachment-e-evitam-falar-sobre-cunha

    [6] https://www.youtube.com/watch?v=5urUCeZ26JM

    [7] http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,cunha-pede-para-bicudo-refazer-pedido-de-impeachment-ate-a-proxima-semana,1762019

    [8] http://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2015-10/cunha-indefere-mais-cinco-pedidos-de-impeachment

    [9] http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/advogado-de-confian%C3%A7a-de-cunha-auxiliou-jovair-arantes-em-relat%C3%B3rio-1.1274671

    [10] http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/10/pmdb-divulga-documento-com-criticas-e-propostas-economicas.html

    [11] http://oglobo.globo.com/opiniao/bases-para-um-amplo-acordo-nacional-contra-crise-17930664

    [12] http://veja.abril.com.br/multimidia/video/o-plano-temer

    [13] http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/12/1714020-em-retaliacao-a-pt-cunha-ameaca-deflagrar-impeachment-de-dilma.shtml

    [14] http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/11/liderancas-defendem-que-pmdb-nao-se-atrele-programa-do-pt-e-tenha-voz-propria.html

    [15] http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,cunha-diz-que-nao-houve-vaias-contra-ele-em-evento-do-pmdb,10000002204

    [16] http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/cabe-a-cunha-decidir-sobre-impeachment-diz-temer

    [17] http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/12/leia-integra-da-carta-enviada-pelo-vice-michel-temer-dilma.html

    [18] http://www.valor.com.br/politica/4345794/em-evento-fechado-temer-expoe-empresarios-propostas-para-economia

    [19] http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2015/12/supremo-muda-rito-do-impeachment-entenda-o-que-acontece-agora.html

    [20] http://pmdb.org.br/wp-content/uploads/2016/02/Web-Movimento-251.pdf

    [21] http://pmdb.org.br/noticias/caravana-da-unidade-com-temer-moreira-e-padilha-continua-percorrendo-o-brasil/

    [22] http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/10/pmdb-divulga-documento-com-criticas-e-propostas-economicas.html

    [23] Pretendo discorrer sobre isso em uma próxima oportunidade.

     

    [24] http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/cunha-escreveu-certo-por-linha-tortas-diz-reale-junior-sobre-impeachment

    [25]