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  • DOSSIÊ FASCISMO: Casal linchado em comício de Lula denuncia agressores

    Depois de espancar um casal de trabalhadores que saía do comício de Lula, no sábado, 24, em Florianópolis, gangue fascista de Bolsonaro se vangloria de sua “coragem” nas redes sociais. Comentários sádicos dos líderes da violência fornecem as provas que a assessoria jurídica do PT estadual precisava para identificá-los e processá-los por crime de lesão corporal dolosa, danos morais e formação de quadrilha. Amparada pelo marido, Rogerio Messias, 39 anos, cozinheiro, negro, Juliana Impaléa, 40 anos, professora de Direitos humanos da rede pública estadual, passou mal com o calor e retirou-ser do ato mais cedo. Foram atacados por 15 agressores que os cegaram com spray de pimenta nos olhos para facilitar o linchamento. Rogério está afastado do trabalho e corre o risco de ter os movimentos limitados pelas pancadas que recebeu na coluna, e Juliana desencadeou síndrome de pânico. Todos os envolvidos nas agressões são eleitores de Bolsonaro associados aos movimentos Vem Pra Rua e MBL, que se organizaram pela internet para invadir o comício de Lula. Na quarta-feira, os telefonemas solidários da senadora Gleisi Hoffmann e de Lula reanimaram no casal o propósito de fazer da covardia um caso exemplar de combate à impunidade do fascismo no Brasil.

     

    Casal espancado passou a semana entre o hospital, Delegacia de Polícia e assessoria jurídica

    “Ah, tudo que receberam ontem foi com muito amor, tá?”, comentou Ruth Dutra na sua página do Facebook. “Com o maior carinho e respeito”, responde Diego Annes. Não foi preciso muito trabalho para chegar aos autores do espancamento do casal Juliana Impaléa e Rogério Messias, encurralados e linchados por cerca de 15 seguidores de Bolsonaro na tarde do dia 24 de março, em torno de 14h30min, durante o discurso de Lula no Largo da Catedral, em Florianópolis. Depois de agredirem os dois com chutes, pontapés, socos e pauladas, usando a própria bandeira do Brasil, da qual tanto essas milícias neofascistas se orgulham, os criminosos foram para as redes sociais se gabar da crueldade. Eles aplicaram algo parecido com gás de pimenta nos olhos das vítimas para que não pudessem se defender e, enquanto uns os prendiam pelas costas, outros os espancavam. “Tudo com muito amor”, repetiram durante os diálogos nas redes sociais, com se fossem fanáticos de uma seita satânica. “Nessas horas a gente solta pombinhas brancas com velas”, reforçou a loira Ruth Dutra, que aparece em seu perfil apontando uma arma e ostentando o lema “Sou do exército Bolsonaro”.

    Defesa da liberação do porte de arma; divulgação de calúnias contra a vereadora do PSOL assassinada, Marielle Franco; pedidos de intervenção militar e incitação ao ódio contra o PT, Lula e seus defensores estão entre as postagens de Ruth Dutra, que se autodenomina “da turma das perfumadas”, o que para Juliana pode ser uma indicação do uso de gás de pimenta em suas vítimas.
    O mesmo post publicado nas páginas de Ruth Dutra e Déby Kuster, assume a autoria do espancamento do casal

    No mesmo dia, depois de sair do Hospital Celso Ramos, onde foi atendido na emergência,  o casal agredido divulgou nas redes sociais o espancamento. Logo em seguida, amigos e usuários contrários às agressões fascistas durante a passagem pela Caravana da Esperança no Sul do Brasil começaram a investigar a rede e a enviar diálogos que ajudaram a chegar aos autores do crime.

    Num dos posts printados, Ruth Dutra, uma moradora do bairro Campeche, assume claramente participação no espancamento. Como prova de sua valentia, ao lado do relato, ela publica uma imagem posando com a amiga na área isolada pelo cordão policial e a foto do pixuleco com o sarrafo.

    Ao comentar o espancamento, os bolsonistas contam tanta vantagem sobre a covardia que  a assessoria jurídica do Diretório Estadual do PT já tem todas as informações e provas em mãos contra os líderes da violência fornecidas por eles mesmos. Com o exame de corpo de delito mostrando os danos físicos da agressão e os prints das páginas dos agressores devidamente autenticados em cartório, os advogados Rosângela de Souza e seu assessor Matheus Amaral Ribeiro orientaram as vítimas a registrarem um Boletim de Ocorrência na 6ª DP, Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso da Capital, no bairro Agronômica. Rogerio Boletim de Ocorrência

    No Boletim de Ocorrência são citados coletivamente por danos morais e lesão corporal dolosa grave com tortura praticada de forma coletiva Ruth Dutra, Isabel Cristina Beck, Diego Annes, Deby Kuster e Pedro Correa. Destes, Deby Kuster e Pedro Correa foram identificados de imediato pela polícia com nome, sobrenome, CPF e endereço e citados individualmente, mas todos devem ser processados em separado na vara cível e criminal.

    Nos comentários de Facebook, os fascistas se autodelatam e se parabenizam pela agressão, chamando-se de “guerreira que luta com tudo”, “aguerrida”, “linda guerreira”, “corajosos”, “bravos intervencionistas”, entre outros adjetivos. Como atestado de intolerância e ódio racial, também recomendam “vacina antirábica”, “sal grosso” e “banho de álcool” para os que passaram perto da “peteba”, como classificam suas vítimas, a quem chamam também de “petista apedeuta” e”velho pingunço”, “gente suja”, “ordinária”, “feia”, “gente horrenda”, “povo fedido”, “mal cuidado” e “mal educado”. As vuvuzelas, símbolo do patriotismo fascista, também serviram de instrumento para acertar o rosto dos encurralados, segundo os relatos.

    Um vídeo gravado desavisadamente por um site independente mostra Rogério Messias (de camiseta preta) desesperado, se debatendo enquanto é agarrado e empurrado por dois homens, um de cada lado, e surrado por vários outros que portam a camisa de Bolsonaro e adereços do candidato e tentam arrancar sua bandeira. Nos últimos segundos, fica nítida a imagem de Ruth Dutra quebrando nas costas de Juliana Impaléa a bandeira do pixuleco. Assista ao vídeo de Marcelo Luiz, do Portal Desacato, já com o corte nas cenas finais.

     

     

    GALERIA DOS CITADOS POR LESÃO CORPORAL DOLOSA

    Ainda sentindo muitas dores, sobretudo na cabeça, na coluna e nos braços, na terça-feira, 27, Juliana e Rogério fizeram exame de Corpo de Delito. Ela tem um calombo de cinco centímetros no braço esquerdo e um galo na cabeça, mas voltou ao trabalho na segunda-feira para não prejudicar os alunos. Neste final de semana, começou a apresentar sinais de síndrome de pânico e crise de ansiedade. “Na segunda vou ao psiquiatra porque não é fácil lidar com a violência de um linchamento”, disse ela. “Os sinais físicos vão passar, mas as marcas psicológicas não sei”.

    Rogério, que é negro e foi o mais agredido, apresenta hematomas nos braços e pernas, lesões no joelho, nas costas e sinais de estiramento de nervos e tecido muscular na coluna. Em entrevista aos Jornalistas Livres, ele afirmou que está aguardando o resultado dos exames de tomografia realizados durante a semana para saber qual a extensão das lesões. O teor da queixa-crime, segundo os advogados, vai depender, portanto, do andamento do seu estado de saúde. Pode haver um dano mais grave ou permanente na coluna, que leve à limitação dos movimentos e mesmo a uma aposentadoria por invalidez, avaliam os juristas, com base no laudo médico.

    Com cinco dias de atestado, e tomando remédios fortes, Rogério teme que a necessidade de prorrogação da licença de saúde por maior tempo o faça perder os empregos. “Trabalho em dois restaurantes pequenos como cozinheiro que serão obrigados a me substituir”, explicou Rogério, lembrando que não pode atuar com facão e fogo estando sob efeito de medicamento. Ao contrário das suas vítimas, que xingam de vagabundos e acusam de “mamar nas tetas do Estado”, os agressores não apresentam formação nem ocupação nos seus perfis. Sua atividade profissional é um mistério a ser desvendado pela polícia.

    Os advogados estão reunindo provas testemunhais, vídeos, documentos, postagens na internet para formalizar ainda acusação de formação de quadrilha pela internet. Professora do conteúdo de Direitos Humanos, Juliana se diz ainda vítima de injúria e difamação. Para justificar a violência nas redes sociais, Ruth Dutra, que se apresenta pelos comentários como uma expoente da agressão, justifica o fato de ter  “quebrado o pixuleco nas costas da peteba” afirmando: “Ela estava agredindo um idoso, lhe quebrou o braço”.

    Não há, contudo, registro de agressão com fratura do braço pela polícia, nem queixa na DP, tampouco ocorrência no Posto de Saúde local ou fotos e vídeos publicados pelos próprios agressores que fundamentem essa denúncia. “Dessa forma, ela passa a ser vista como calúnia”, acrescenta. Ao contrário, o vídeo postado no dia 24 pelo Portal Desacato mostra que Juliana andava desnorteada de um lado para outro, tentando salvar o marido, que era segurado de costas por alguns e espancado de frente por outros, quando foi agredida pelas costas por Ruth Dutra. Até a publicação desta matéria, as imagens e comentários exibidos pelos próprios agressores ainda estavam em suas páginas do Facebook.

    Chamada de “petista apedeuta” (ignorante, sem instrução) pelos bolsonaristas, Juliana, natural de Florianópolis, é graduada em Língua e Literatura em Português pela UFSC, pós-graduada em Docência do Ensino Superior-Uniasselvi e está concluindo o mestrado em Educação pela Universidade Nacional de Rosário (UNR), instituição pública da Argentina. Trabalha como professora de Línguas e Literaturas Vernáculas para alunos de ensino fundamental e médio do Instituto Estadual de Educação da rede pública de Santa Catarina. Música, compositora e produtora cultural, ela também é professora de Alfabetização e Letramento no Curso de Magistério.

    Músico também, como Juliana, Rogério Messias, natural de Santos (SP), com dois filhos, mantém jornada dupla de trabalho diário como cozinheiro profissional nos restaurantes do sistema Sesi/Senai e da Faculdade Cesusc/Colégio Cruz e Sousa. Estudante de Biblioteconomia da UFSC, trancou a matrícula por causa do trabalho. Ambos são eleitores de Lula e participavam da Caravana  em Florianópolis, mas há muitos anos não militavam no partido.

    PM ASSISTIU DE LONGE AO LINCHAMENTO

    Casados há 10 anos, os dois chegaram ao Largo da Catedral por volta das 10h15min da manhã, “para garantir uma recepção calorosa ao Lula”, explica Juliana. Até o início do discurso do ex-presidente, foram em torno de quatro horas sob um sol de 33°. Sentindo-se emocionada com as primeiras palavras do candidato, Juliana, que tem sobrepeso, passou mal com um princípio de desmaio. Atendida no Posto de Saúde do próprio evento, verificou que a pressão estava baixa. Decidiram então seguir a orientação médica e voltar para casa. Contudo, para ter acesso rápido ao local onde haviam estacionado o carro, em frente à Alfândega, precisavam ultrapassar a barreira da rua Arcipreste Paiva, em frente ao antigo Palácio do Governo, onde um pelotão da Polícia Militar continha uma concentração de cerca de 200 manifestantes ameaçadores do Vem Pra Rua e MBL, a maioria com camiseta e adereços de Bolsonaro, provocando a plateia lulista com ofensas e palavras de baixo calão e prontos para entrar em choque. Para evitar conflitos, Juliana e Rogério preferiram seguir um atalho por dentro da Praça XV, e sair mais adiante na mesma rua, já fora da área de maior aglomerado e risco. Observe a cena no vídeo completo de Marcelo Luiz, do Desacato.

    “Este vídeo mostra a covardia. Reparem eu e minha mulher companheira de vida Juliana Impaléa, andávamos em direção a praça da Alfândega, onde deixamos o carro, de repente a correria, ai já paro e fico esperando o pior… Um medo incrível me assola por não poder defender minha mulher companheira de vida Juliana Impaléa…”, publicou Rogério em sua página.

    Ao avistarem os dois atravessando a rua com a bandeira lilás do coletivo feminino do PT sobreposta à imagem de Lula, um grupo de fascistas já começou os xingamentos contra o casal e seu candidato. Eles contam que de longe retrucaram as ofensas verbais, mas se mantiveram a caminho do estacionamento, sem corresponder às ameaças de agressão física. “De repente, vejo um grupo furioso de mais de dez vindo em nossa direção. Só deu tempo de empurrar Juliana para trás de mim e esperar o pior”, contou Rogério.

    O que mais indignou os dois foi a covardia do bando: “Para nos cegar e facilitar o espancamento, alguns homens e mulheres jogavam gás de pimenta nos nossos olhos. Enquanto a gente se contorcia de dor, recebia socos, chutes e pauladas em todo corpo”, conta Rogério, que apanhou mais. Ele chegou a ser segurado por um grupo para que outro o espancasse e espancasse sua esposa. Impressionou-o o fanatismo político dos agressores, vestidos de verde e amarelo e empunhando a bandeira do Vem pra Rua, MBL e Bolsonaro. “O que eles mais queriam era arrancar de nós a bandeira do PT e destruí-la de qualquer jeito”.

     

    A atuação da Polícia Militar nesse caso foi no mínimo omissa, segundo os relatos das vítimas e das testemunhas. “Eles assistiram de longe a correria dos fascistas em nossa direção, ouviram os gritos e não fizeram nada”, afirmam os dois. Até então, a corporação estava sendo elogiada pelos próprios simpatizantes de Lula por conter uma ação violenta com as mesmas milícias de Bolsonaro, Vem Pra Rua e MBL, que insultavam os apoiadores de Lula e ameaçavam invadir a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, ali perto, onde Lula se reunira com dirigentes de educação pública federal antes do ato no Largo da Catedral.  Outros relatos de agressão em bando a militantes e passantes comuns foram registrados na área da mídia independente durante o dia e denunciados ao microfone durante o comício.

    Para Juliana, que desenvolve com os alunos de Ensino Fundamental e Médio o conteúdo da Constituição e da Declaração Universal dos Direitos Humanos, foi difícil ser alvo do fascismo que ela busca combater em sala de aula com lições sobre democracia e alteridade (respeito ao outro). “Como a gente vai passar para esses jovens uma confiança no futuro quando esse ódio está destruindo a possibilidade de diálogo democrático no país?”  Depois de passar as últimas semanas ajudando os alunos a refletirem sobre a chacina de Marielle e a assimilarem o trauma da violência política com desenhos, painéis e debates, ela própria se viu alvo dela.

    A filósofa Maria Borges, que trabalhou com Juliana na Secretaria de Cultura e Arte da UFSC, registrou: “Não há mais dúvidas: estamos frente a um movimento fascista, violento e perigoso, como jamais vimos no Brasil. Minha solidariedade a Juliana Impaléa e seu companheiro Rogério Messias, que foram violentamente agredidos na saída do comício do Lula. Podia ter sido qualquer um de nós. Eu estava no comício perto deles. Tive sorte de não ter encontrado os fascistas no meu caminho de volta para casa”. Para a antropóloga Sonia W Maluf, todos que atuam no campo da luta política e da militância social em defesa das minorias, da democracia e dos direitos humanos precisam compreender o modus operandi dos neofascistas: “O objetivo deles é intimidar, deixar as pessoas com medo. É uma tática fascista que volta à tona com tudo. Por isso é muito importante levar adiante a investigação e não deixar passar”.

    ÂNIMO DOBRADO COM TELEFONEMA DE LULA

    No domingo à noite, um dia após a agressão, o casal recebeu a visita do presidente do Diretório Estadual do PT, Carlos Eduardo da Silva (Cadu), que ofereceu todo apoio e assessoria jurídica do partido. Mas a grande surpresa e sentimento de compensação ocorreria na quarta-feira, 28, com o telefonema solidário da senadora Gleisi Hoffmann e do presidente Lula. Ambos falaram pessoalmente com Juliana e Rogério, oferecendo apoio jurídico e psicológico e incentivando-os a levar adiante a denúncia e o processo.

    “É sério: o Lula e a Gleisi Hoffmann acabaram de nos ligar… A esquerda é rígida! Com o corpo quebrado, mas a alma lavada. A esquerda é rigorosa”, escreveu Juliana no seu Facebook, ao compartilhar a notícia do telefonema. “Eu nem me surpreendi com a atitude deles, mas ouvir a voz do Lula e receber a solidariedade de ambos, reforçou a minha certeza de estar ao lado certo da história”. Rogério divulgou a notícia com emoção: “Com o corpo quebrado, mas de alma lavada. Acabei de receber o telefonema do nosso presidente Lula,  querendo saber do ocorrido comigo e minha mulher”. Conta que o longo telefonema de Lula e Gleisi despertaram “uma fera” dentro dele no sentido de fazê-lo voltar à luta política. Ele conta que quando menino, aos 11 anos, fez boca de urna para Lula em Santos.

    Mais tarde ajudou a criar o Grêmio Estudantil da escola e participou de protestos contra as privatizações das estatais no governo FHC, mas depois as pauladas da vida o fizeram se acomodar. “Agora, eu prometi ao Lula que vou voltar à militância pela democracia”, empolga-se o músico-cozinheiro. Ele me disse que nós vamos derrotar o fascismo na luta e me fez ver que a denúncia do nosso espancamento pode ser um caso exemplar para combater a impunidade do fascismo”.

     

    GANGUE ESPANCA E EXIBE PROVAS DO CRIME

    Postagens do casal em 24 de março:

    Juliana Impaléa: Eu e meu companheiro, ambos trabalhadores, saíamos da recepção ao Lula em Floripa que, diga-se de passagem, estava lotada e linda, quando um grupo do MBL nos encurralou e nos torturou com socos, pontapés e spray de pimenta – a linguagem deles. Estamos os dois machucados (meu marido mais do que eu, espancado por mais de dez bolsominions), mas cientes de que a luta contra a ignorância e a favor da democracia deve continuar, pela inclusão, pelos programas sociais, pela reparação histórica e pelos direitos humanos que, afinal, beneficiam a todos e todas, inclusive os raivosos que debocham da vida e da dignidade do próximo. Mais uma professora e um trabalhador torturados pela burrice, pela ignorância e comodidade das elites…

    #Lulalá #Torturaecovardia  #Alutacontinuaagoramaisdoquenunca

    Rogério Messias: Hoje vou usar as redes sociais para externar minha indignação e tristeza com o radicalismo que nos encontramos, acabei de ser espancado na saída do ato grandioso de recepção ao melhor presidente que este país já teve, quando passando por trás da Praça XV, em Florianópolis, fui espancado junto com minha mulher Juliana Impaléa, em meio aos chutes desferidos pelos coxinhas do movimento MBL, mais força se enchia meu coração, não calarão a voz do povo, meu corpo machucado vai curar, mas a alma pequena de quem defende falsos mitos, não curarão, na defesa do povo trabalhando como povo sofrido que somos, não aceitarei tal situação, trabalhando em dois empregos, das 7 da manhã as 22 h, não aceitarei ser espancado por coxinhas bem nascidos que acham que com sua fúria radical, cega e doentia vão conseguir calar a vontade popular, e mais Lula é o melhor presidente que este país já teve, e isso coxinha nenhum vai conseguir deturpar. Estou muito bem, corpo de trabalhador dolorido um pouco mais que o normal do dia a dia, mas a mente certa na transformação social pelo povo trabalhador como eu e minha mulher, Juliana Impaléa, também covardemente espancada quando íamos embora depois de passarmos pelo posto médico do ato, pelo excesso de sol e corpo cansado pelo trabalho.

    Lula você é e sempre será a esperança do povo sofrido deste país, o Brasil está contigo.

    Racistas intolerantes não passarão

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  • Escola sem pensamento

    Escola sem pensamento

    por Caio Chagas

    Quando o tambor dos estudantes secundaristas bateu na orelha de Geraldo Alckmin (Governador de São Paulo) e de Beto Richa (Governador do Paraná) durante as ocupações de escolas em resistência à PEC 241 no ano passado, aguçou-se o ovo da censura.

    O governo federal viu que não seria tão fácil entregar o que planejou no pós-golpe sem ter uma grande retaliação. No grande lobby feito na transição de Dilma Rousseff para Michel Temer ficou provado o projeto do empresariado de privatização e retirada de direitos dos trabalhadores, visando se aproximar de um modelo das ideias de Milton Friedman.

    A censura do pensamento, que o atual Ministro da Educação Mendonça Filho e os grupelhos como o MBL propõem com o “Escola sem partido” e com a medida provisória da reforma do ensino médio, coloca as próximas gerações com as cabeças voltadas para a idade média e para um controle de pensamento à la 1984, de George Orwell.

    Fortes pressões retiraram da Base Nacional Curricular termos como “identidade de gênero” e “orientação sexual”, tirando a obrigatoriedade de se discutir esses temas em sala de aula. O Supremo Tribunal Federal aprovou o ensino religioso com uma única religião e projetos como o Escola Sem Partido vem brotando em casas legislativas de diversos municípios.

    O movimento Escola Sem Partido foi criado ano de 2004 e é inspirado em uma ONG dos Estados Unidos chamada “No Indoctrination”. Seu criador, o advogado Miguel Nagib, alega que um professor de história havia comparado Che Guevara a São Francisco de Assis. Fez um relatório e passou a distribuir cópias no estacionamento da escola. Gerou muita confusão, mas nada de concreto. Hoje sua pauta acaba por engolir a maioria das discussões em redes sociais.

    O projeto ainda tem em seu decorrer trechos que separam a escolarização, que seria a formação técnica fornecida pela escola e voltada para o trabalho apenas, e a educação que são, segundo eles, os valores morais que devem ser apenas passados pelos pais. O projeto viola o Artigo 216 da Constituição Federal, onde está escrito que é papel da escola a formação cidadã e profissional para cada aluno ou aluna.

    O ideal conservador hegemônico do parlamento brasileiro criou uma caça às bruxas contra quaisquer discussões de âmbito progressista em espaços de aprendizagem como escolas, universidades e até mesmo museus.

    Exposições de arte vêm sendo boicotadas com o argumento de que estão promovendo a pedofilia e a zoofilia, professores vêm sendo fiscalizados por uma suposta doutrinação ideológica ou de gênero. Cada vez mais são impedidas discussões que questionem o moralismo cego da elite e os valores fundamentalistas da bancada da bíblia, do agronegócio e da bala.

    A escola não é um local apenas de formação técnica, ela é acima de tudo um local de construção de conhecimento, que parte de uma relação não hierarquizada entre alunos, professores e a comunidade escolar. Por que tanto ódio pelo diferente, pela diferença? Por que manter esse modelo patriarcal, de homens brancos, ricos, héteros com uma cadeia de relações hierárquicas que põe o adverso como menor, como submisso e subversivo?

    por Caio Chagas

    Paulo Freire, sociólogo e grande estudioso da área da educação, explica, em seu livro Pedagogia do Oprimido, que um modelo de educação no qual os alunos, ao terem um verdadeiro local plural de formação, deixam de ser agentes passivos de recepção de informação e se tornam agentes protagonistas de suas vidas, de seu pensamento e de sua sociedade. Paulo Freire é odiado por diversos setores da elite do país, que não aceitam um modelo inclusivo, construtivista e humanista de aprendizado. Essa mesma elite prefere, claro, um amiguinho chamado Alexandre Frota.

    O pensamento unitário sempre se mostrou perigoso e experiências totalitárias como o nazismo e o stalinismo, perseguiram e mataram milhões em busca de um modelo padronizado de pensamento. Uma sociedade sem debate, sem o conhecimento do oposto, empobrece, inviabiliza cada vez mais seu progresso.

    A destruição da humanidade do outro, do comunista, da feminista, de transexuais, de jovens negros da periferia impede cada vez mais novos pensamentos, novas formas de se viver no mundo. Excluir essas pessoas da sala de aula é matar toda a sua trajetória de luta por igualdade de direitos e pela própria vida.

    Já se percebeu que o conhecimento é a maior arma contra todo esse show de horrores do Congresso que é praticamente o mesmo, ano após ano. Para uma verdadeira transformação política, são necessárias a consciência e a participação das pessoas.

    O Brasil sendo o 5º país no ranking de feminicídio no mundo, pode se dar o luxo de não debater as questões de gênero na escola? O país onde um jovem negro morre a cada 23 minutos não pode debater questões como o racismo ou desigualdade social? O país que mais mata LGBTQIA no mundo deve simplesmente esconder de seus filhos pessoas que têm uma orientação diferente da sua?

    Nunca antes desde a redemocratização tivemos um parlamento tão retrógrado, apoiado num falso moralismo da moral e dos bons costumes, misturado com um ódio a qualquer coisa vermelha. Estamos à beira da ascensão de um modelo fascista e sem participação popular. A elite atrasada de nosso país clama por educação moral e cívica, enquanto professores se encontram na miséria lutando para sobreviver.

    A escola é o primeiro local de convivência com o diferente que muitas crianças tem. A desconstrução faz parte do processo de vivência em sociedade, é extremamente saudável que haja discussões e pontos de vista diferentes, afinal cada um de nós tem uma condição social distinta. O educador transpira os valores que o cercaram em sua vida como qualquer outro ser humano, se ele for calado, toda a sociedade se calara com ele.

  • MBL ignora decisão judicial que exige exclusão de postagens e ataca Caetano novamente

    MBL ignora decisão judicial que exige exclusão de postagens e ataca Caetano novamente

    Por Gustavo Aranda e Vinícius Segalla – dos Jornalistas Livres

    O MBL – Movimento Brasil Livre e o vereador Fernando Holiday fazem novos ataques ao cantor Caetano Veloso, mesmo após decisão judicial que determina a exclusão, em 48 horas, de publicações ofensivas na internet contra Caetano e sua esposa, Paula Lavigne. A postagem do grupo ultraliberal ocorreu ontem às 13:30, pouco depois da decisão do juiz Bruno Manfrenatti. A publicação do vereador aconteceu as 08:00 desta quarta-feira.

    publicado as 08:00 dessa quarta-feira (01/11)

    Na decisão o juiz também responsabilizou Alexandre Frota com multa diária de R$ 5.000, caso as mensagens não sejam apagadas. Já que não tem como cumprir a decisão, seu advogado diz que entrará com um recurso nesta quarta-feira (1/11) com pedido de urgência para que as páginas do MBL sejam imediatamente retiradas do ar, ainda que em caráter liminar (provisório) apenas para impedir que o ator pague multa por algo com que não guarda relação.

    Entenda a polêmica

    O grupo MBL, cujos principais coordenadores são Renan Santos, Kim Kataguiri e Fernando Holiday, vive uma briga na Justiça para manter o nome e a logomarca do movimento, contra Frota e o analista político Vinícius Aquino, que formalizaram na Justiça uma associação chamada MBL.

    O grupo de Renan jamais formalizou seu movimento (e sim uma associação privada chamada MRL, Movimento Renovação Liberal, cujos donos são da família Santos), o MBL jamais foi uma pessoa jurídica, nunca teve um CNPJ desde sua criação, em 2014.

    Assim, Frota e Aquino figuram como réus na ação judicial que está movendo Caetano Veloso porque são os detentores, desde agosto deste ano, da única pessoa jurídica chamada “MBL – Movimento Brasil Livre” no país, mas todas as publicações de que o cantor reclama foram feitas pelo MBL de Kim, Holiday e Renan, conforme revelou reportagem dos Jornalistas Livres publicada no último dia 20. A decisão judicial desta terça para a retirada das publicações do ar tem como réus, além de Frota e Aquino, Renan Santos e Kim Kataguiri.

    Veja, abaixo, algumas das postagens que a Justiça determina que saiam do ar nas próximas 48 horas.

    Acima, postagens que originaram o processo movido por Caetano Veloso e Paula Lavigne contra o MBL e seus representantes

    Procurado pela reportagem, o MBL não comentou o caso. Já Alexandre Frota e Vinícius Aquino enviaram a seguinte nota aos Jornalistas Livres:

    “No processo movido por Caetano Veloso se verifica a ‘confusão’ gerada pelo uso indevido do nome comercial Movimento Brasil Livre. Somos uma Associação regularmente constituída, com CNPJ regular. Quem postou as supostas ofensas foi uma sociedade civil (MRL), que usa indevidamente o nome Movimento Brasil Livre no Facebook e em outras redes sociais. A Associação e seus dirigentes Alexandre Frota e Vinicius Aquino estarão, nos próximos dias, tomando todas as medidas judiciais cabíveis.

    Associação Movimento Brasil Livre”

     

  • MBL ataca Caetano, e Justiça condena Frota

    MBL ataca Caetano, e Justiça condena Frota

    Por Gustavo Aranda e Vinícius Segalla – dos Jornalistas Livres

    A Justiça do Estado do Rio de Janeiro determinou nesta terça-feira que o ator Alexandre Frota apague publicações ofensivas na internet contra o cantor Caetano Veloso e sua esposa, Paula Lavigne. Ocorre, porém, que todas as publicações elencadas tanto na decisão judicial quanto no pedido inicial feito pelo cantor à Justiça se referem a mensagens, vídeos e imagens postadas pelo MBL (Movimento Brasil Livre) em suas páginas, sobre as quais o ator não tem a menor ingerência.

    Agora, Frota tem 48 horas para tirar as postagens do ar, sob pena de multa diária de R$ 5.000. Já que não tem como cumprir a decisão, seu advogado diz que entrará com um recurso na próxima quarta-feira (1/11) com pedido de urgência para que as páginas do MBL sejam imediatamente retiradas do ar, ainda que em caráter liminar (provisório) apenas para impedir que o ator pague multa por algo com que não guarda relação.

    Entenda a polêmica

    O grupo MBL, cujos principais coordenadores são Renan Santos, Kim Kataguiri e Fernando Holiday, vive uma briga na Justiça para manter o nome e a logomarca do movimento, contra Frota e o analista político Vinícius Aquino, que formalizaram na Justiça uma associação chamada MBL.

    O grupo de Renan jamais formalizou seu movimento (e sim uma associação privada chamada MRL, Movimento Renovação Liberal, cujos donos são da família Santos), o MBL jamais foi uma pessoa jurídica, nunca teve um CNPJ desde sua criação, em 2014.

    Assim, Frota e Aquino figuram como réus na ação judicial que está movendo Caetano Veloso porque são os detentores, desde agosto deste ano, da única pessoa jurídica chamada “MBL – Movimento Brasil Livre” no país, mas todas as publicações de que o cantor reclama foram feitas pelo MBL de Kim, Holiday e Renan, conforme revelou reportagem dos Jornalistas Livres publicada no último dia 20. A decisão judicial desta terça para a retirada das publicações do ar tem como réus, além de Frota e Aquino, Renan Santos e Kim Kataguiri.

    Veja, abaixo, algumas das postagens que a Justiça determina que saiam do ar nas próximas 48 horas.

    Acima, postagens que originaram o processo movido por Caetano Veloso e Paula Lavigne contra o MBL e seus representantes

    Procurado pela reportagem, o MBL não comentou o caso. Já Alexandre Frota e Vinícius Aquino enviaram a seguinte nota aos Jornalistas Livres:

    “No processo movido por Caetano Veloso se verifica a ‘confusão’ gerada pelo uso indevido do nome comercial Movimento Brasil Livre. Somos uma Associação regularmente constituída, com CNPJ regular. Quem postou as supostas ofensas foi uma sociedade civil (MRL), que usa indevidamente o nome Movimento Brasil Livre no Facebook e em outras redes sociais. A Associação e seus dirigentes Alexandre Frota e Vinicius Aquino estarão, nos próximos dias, tomando todas as medidas judiciais cabíveis.

    Associação Movimento Brasil Livre”

  • Caetano processa MBL e Frota por acusação de pedofilia

    Caetano processa MBL e Frota por acusação de pedofilia

    Por Gustavo Aranda e Vinícius Segalla

    O cantor e compositor Caetano Veloso e sua esposa, a empresária Paula Lavigne, estão processando por danos morais o MBL (Movimento Brasil Livre), seus coordenadores nacionais Kim Kataguiri e Renan Santos e o ator Alexandre Frota, detentor jurídico da associação MBL e que trava com os primeiros uma luta nos tribunais pela propriedade da marca.

    O motivo: postagens feitas nas páginas do MBL na internet que acusariam Caetano de ser pedófilo e feririam a honra do casal. O pedido é por uma indenização de R$ 100 mil de cada um dos réus (são seis ao todo) e pela imediata retirada das páginas do MBL de 24 publicações consideradas ofensivas aos autores da ação, sob pena de multa diária de R$ 5.000. Os Jornalistas Livres entraram em contato com a assessoria de Paula Lavigne e com o MBL, que não se manifestaram até a publicação desta reportagem. Já Alexandre Frota afirmou que não tem qualquer relação com as postagens, e que sua inclusão no processo é fruto de “confusão gerada pelo uso indevido do nome e da marca MBL” (leia mais abaixo).

    Protocolado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro no dia 9 deste mês, o processo ainda aguarda a manifestação inicial de defesa dos réus. Consta na ação judicial, no entanto, um pedido de tutela antecipada e de tramitação de urgência. Isso significa que o juiz, se entender necessário, poderá ordenar a retirada do conteúdo do ar antes mesmo de ouvir os acusados, em caráter provisório.

    Uma das postagens que originaram o processo movido por Caetano Veloso e Paula Lavigne contra o MBL e seus representantes

    “Perseguir, caluniar e achincalhar”

    Segundo consta no processo movido pelo casal – ao qual os Jornalistas Livres tiveram acesso – o MBL tem por prática habitual “perseguir, caluniar e achincalhar os Autores (Caetano e Lavigne)”.

    O casal afirma ainda: “Os Réus fazem parte dessa parcela de pessoas que usam do alcance das redes sociais para perseguir, denegrir, ofender, injuriar, caluniar aqueles que discordam de sua plataforma política, de suas ideias, de sua agenda. A opinião alheia, se contrária à dos Réus, torna-se alvo de ataques violentos, verbais e, até, físicos, senão pelos próprios Réus, pelos seus seguidores, insuflados pelo discurso de ódio.”

    O que levou o cantor e a empresária a moverem a ação judicial contra o MBL e os responsáveis pelo movimento foram especificamente 24 postagens feitas entre os dias 7 e 10 de outubro deste ano. Elas vieram após a polêmica envolvendo uma exposição ocorrida em Porto Alegre em setembro deste ano, chamada “Queermuseu”. Organizada pelo banco Santander, ela foi encerrada pela instituição após o MBL e outros grupos protestarem contra seu conteúdo, tachado de incentivador da pedofilia e da zoofilia. Caetano Veloso, Paula Lavigne, artistas, intelectuais e grupos da sociedade civil saíram em defesa da exposição artística.

    A partir daí, de acordo com o casal, teve início um “linchamento moral perpetrado pelos Réus que atinge, também, a sua família (do casal), especialmente seus filhos, e é uma ameaça não só aos Autores, mas a qualquer pessoa contra quem os Réus direcionem sua metralhadora injuriante.” Veja, abaixo, algumas das postagens a que se referem Caetano e Lavigne, entre elas as que insinuariam que o cantor teria praticado pedofilia ao iniciar um relacionamento com sua esposa quando esta tinha 15 anos de idade.

    Alexandre Frota e o MBL

    Alexandre Frota e o analista político Vinícius Carvalho Aquino figuram como réus na ação judicial porque são os detentores, desde agosto deste ano, da única pessoa jurídica chamada “MBL – Movimento Brasil Livre” no país. Os dois travam contra os chamados coordenadores nacionais do movimento uma disputa pelo uso do nome e das logomarcas do MBL. De acordo com Frota e Aquino, o “verdadeiro MBL” foi criado no início de 2014 por um grupo de ativistas autodenominados de direita e que lutavam contra a corrupção.

    O nome e a logomarca do MBL teriam sido, segundo eles, posteriormente “usurpados de seus verdadeiros donos” pelos atuais coordenadores nacionais do movimento, Renan Santos e Kim Kataguiri, que negam veementemente esta versão dos fatos, afirmando serem os únicos legítimos detentores e criadores do Movimento Brasil Livre.

    O INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) analisa dois pedidos de inscrição oficial da marca, um feito por Frota e Aquino e outro por Stephanie Santos, irmã de Renan Santos e presidente de uma associação chamada MRL (Movimento Renovação Liberal, que também figura como réu no processo), esta sim detentora de um CNPJ e para onde são revertidos todos os recursos recolhidos pelo movimento de Kim e Renan, como doações, taxas cobradas junto a seus “membros” e dinheiro oriundo da venda de canecas, bonecos pixulecos, bonés e camisetas do grupo.

    Assim, embora detenha a associação MBL formalizada na Justiça, fato é que Alexandre Frota não possui qualquer relação com as páginas na internet do MBL, nem com o que nelas é publicado. Em nota enviada aos Jornalistas Livres, o ator afirmou: “A ação movida por Caetano e Paula contra a Associação (MBL) em decorrência de postagens feitas nas redes sociais por um grupo que usa indevidamente o nome comercial e a marca da Associação demonstra a confusão causada e a necessidade de ingressar com as medidas judiciais cabíveis. Essas medidas já serão tomadas na próxima semana”.

    Embora explique não ter qualquer responsabilidade em relação às postagens do grupo de Kim e Renan, Frota opinou sobre a polêmica acerca da exposição artística que gerou o processo. “Não tenho relação com os fatos, mas sou uma voz no meio de milhões de brasileiros que se indignaram com aquela exposição, que Caetano e Paula Lavigne chamam de arte.”

  • Projeto “Escola Sem Partido” em Uberlândia racha PDT e gera protestos

    Projeto “Escola Sem Partido” em Uberlândia racha PDT e gera protestos

    Movimento “Escola sem Partido” (EsP) consegue entrar com mais uma proposta de lei municipal. Dessa vez o alvo é Uberlândia, maior cidade do interior de Minas Gerais, onde um grupo de vereadores apresentou projeto de lei intitulado “Programa Escola Sem Partido”. A proposta criou um racha na representação municipal do Partido Democrático Trabalhista (PDT). A polêmica se instaurou devido ao posicionamento do vereador Márcio Nobre, que assina o projeto de lei ao lado do colega do Partido Progressista (o mesmo do prefeito Odelmo Leão), Wilson Pinheiro. Segundo eles, a proposta teria o apoio de mais 11 vereadores. A reação de outros vereadores, do PDT e da sociedade civil, especialmente os professores, foi imediata.

    Mesa diretora da Câmara Municipal de Uberlândia. Da esquerda para direita Michele Bretas (PSL), o presidente da Câmara Ronaldo Alves (PSC), Wilson Pinheiro (PP) e Paulo César (SD). Além de Pinheiro que é proponente, Bretas e Alves são apoiadores da “Escola Sem Partido”. Foto: Diego Leão

    O vereador pedetista, de acordo com Bruno Pickles, do Núcleo de Base do PDT na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), estaria descumprindo orientações partidárias acerca da posição sobre o projeto. “Em reunião da executiva municipal, representando a juventude e o setor de movimentos sociais, fizemos um pedido para que o vereador retirasse o projeto. Contudo, ele tem se negado. Assim, vamos ingressar com um pedido de expulsão do parlamentar junto à comissão de ética do partido caso ele mantenha essa posição”, afirma. Os Jornalistas Livres enviaram uma série de perguntas a Nobre (veja no final dessa reportagem), mas ele se recusou a responder. Além de dele, o PDT de Uberlândia conta com a vereadora Flávia Carvalho, que também faz parte da Comissão de Educação da Câmara, e se dispôs a acolher as orientações do partido acerca da discussão e votação do projeto. O diretório mineiro do partido, aliás, emitiu nota em que afirma que “condena o projeto da ‘Escola sem Partido’ e está analisando internamente o assunto para promover as providências cabíveis”.

    Da economia para o falso-moralismo

    O projeto de lei uberlandense, não é uma novidade e basicamente é uma cópia de um projeto base disponível no site de uma campanha nacional criada em 2004 pelo advogado Miguel Nagib. No site da campanha constam versões, ainda, para projetos de lei estaduais e também um projeto federal. Seus autores afirmam que a proposição seria apenas a fixação de cartazes nas escolas com um conjunto de seis deveres dos professores para que “não ocorra doutrinação dos alunos” (veja o cartaz em: http://especializado.jor.br/escola-sem-partido-gera-polemica-entre-profissionais-da-educacao). No site do movimento, porém, há modelos de notificação extrajudicial para a criminalização de professores, prints de postagens em redes sociais nas quais profissionais se posicionam politicamente (exercendo seu direito de livre expressão do pensamento), uma representação contra a exigência do Exame Nacional do Ensino Médio de que as redações não atentem contra os Direitos Humanos e artigos contra o educador Paulo Freire, referência internacional de pedagogia. É um verdadeiro festival de fascismo, censura, manipulação, desinformação e incitação ao ódio.

    O EsP recebe apoio de grupos da direita brasileira, que têm praticado lobby em diversas câmaras municipais para que ocorra a tramitação do projeto. Entre esses grupos, também está o Movimento Brasil Livre (MBL), que defende pautas ultraliberais e de retirada de direitos. Recentemente, conforme reportagem de Piauí, publicada em 03 de outubro, o grupo chegou a ser convidado por um deputado da base aliada do governo federal para que auxiliasse em tarefas de comunicação que defendessem Reforma da Previdência (Veja mais em: http://piaui.folha.uol.com.br/o-grupo-da-mao-invisivel/ ).

    Na verdade, ao efetuarem o deslocamento da agenda econômica para pautas moralizantes, como a perseguição efetuada pelo MBL à exposição do QueerMuseu em Porto Alegre e do Museu de Arte Moderna em São Paulo (Veja mais em: https://jornalistaslivres.org/2017/09/mam-unido-contra-o-fascismo-e-censura/ , https://jornalistaslivres.org/2017/09/mam-unido-contra-o-fascismo-e-censura/ e https://jornalistaslivres.org/2017/09/mam-unido-contra-o-fascismo-e-censura/ ) ou o EsP , esses grupos escondem proposições tirando os holofotes da imprensa e das redes sociais sobre o grande intuito que têm trabalhado, que é de impor uma agenda do chamado “livre-mercado” no país. Com isso, a direita tenta manipular e angariar a simpatia de setores da população propensos ao conservadorismo, dentre eles setores ligados aos proselitismo religioso, a despeito dos prejuízos sociais, econômicos e de direitos que suas verdadeiras pautas representam para a maioria da sociedade.

    Vereador Wilson Pinheiro (PP) discute com colegas o projeto de lei “Programa Escola Sem Partido” e tenda conseguir mais apoios. Foto: Diego Leão

    Professores contra do EsP

    Apesar do empenho de parlamentares e movimentos da direita brasileira, a proposta do EsP, tem encontrado resistência, especialmente de uma significativa parcela de professores e estudantes. “O nome ‘escola sem partido’ parece bom, afinal, escola não deve ter mesmo filiação a partidos políticos, não é mesmo? Mas por trás desse projeto, que agora é proposto por dois vereadores em Uberlândia, há nada mais nada menos do que um atentado à educação e à profissão do professor, já tão desrespeitada, desvalorizada, menosprezada.”, afirma Lucielle Arantes, professora da Escola de Educação Básica da Universidade Federal de Uberlândia. Para a professora, a proposta, que tenta se apoiar numa suposta doutrinação imposta por professores aos alunos, não se sustenta. “Não há ensino neutro. Não há neutralidade nas ciências, nem na arte, nem na filosofia. A imposição dessa pretensa neutralidade é sim a mais pura manifestação de uma ideologia conservadora, visando cercear o pensamento, a análise crítica, a expressão humana”.

    Há ainda a preocupação de professores da rede municipal de ensino que a medida institucionalize mecanismos de perseguição a professores que realizam determinadas discussões em sala de aula. “Acredito que o projeto ‘Escola Sem Partido’, proposto pelos vereadores, é uma forma de perseguição contra as pessoas que pensam e que conscientizam os estudantes para os problemas que enfrentam no cotidiano”, afirma Cid Carlos Marcos, professor de História em escolas públicas de Uberlândia. “Na verdade, a chamada ‘Escola Sem Partido’ é uma escola com censura”, complementa Ronan Hungria, professor efetivo da rede municipal. “É um projeto muito contraditório, pois os vereadores vieram discutir a liberdade, retirando a liberdade dos educadores. Além disso, o projeto tem um grave problema por ser inconstitucional”, destaca Flávio Muniz, professor em cursinhos preparatórios da cidade (ver vídeo em https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/616286168495264/) .

    No mês passado, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) sediou o III Seminário Internacional Desafios do Trabalho e da Educação no Século XXI, com a presença de diversos pesquisadores e professores do Brasil e do Exterior. Por iniciativa do curso de jornalismo da instituição, oito palestrantes foram entrevistados e muitos deles também falaram sobre o EsP. O resultado pode ser visto nas reportagens “Escola Sem Partido gera polêmica entre profissionais da educação” (http://especializado.jor.br/?p=2377 ), “A doutrinação ideológica nas escolas brasileiras” (http://especializado.jor.br/?p=2356) e “Onde entra a liberdade de expressão?” (http://especializado.jor.br/?p=2318).

    Projeto é inconstitucional

    Em fevereiro de 2017, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), se manifestou favorável a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no 5.537, solicitada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino contra lei semelhante que foi promulgada no estado de Alagoas. “É tão vaga e genérica que pode se prestar à finalidade inversa: a imposição ideológica e a perseguição dos que dela divergem. Portanto, a lei impugnada limita direitos e valores protegidos constitucionalmente sem necessariamente promover outros direitos de igual hierarquia”, argumentou Barroso. (Veja mais: http://justificando.cartacapital.com.br/2017/03/22/barroso-decide-pela-suspensao-de-lei-alagoana-baseada-no-escola-sem-partido/ ). Ao conceder a liminar, o ministro Luís Roberto Barroso destacou ainda que, do ponto de vista formal, compete exclusivamente à União legislar sobre diretrizes e bases da educação, não podendo o Estado “sequer pretender complementar” normas federais.

    O vereador uberlandense Adriano Zago (PMDB) listou outros princípios constitucionais contrários ao EsP: “o projeto é totalmente inconstitucional. Fere a livre manifestação de pensamento (Art. 5º, IV, CF); a liberdade de ensinar e aprender (Art. 206, II, CF); e a gestão democrática do ensino público (Art. 206, VI, CF); isso para citar apenas alguns dispositivos”, cita o também advogado, estudante de História na UFU e presbítero da Igreja Presbiteriana Central da cidade.

    Em agosto, o Ministério Público Federal foi mais um órgão a apontar, à Câmara Municipal de Belo Horizonte, a inconstitucionalidade da proposta do EsP e alertou para os vícios de origem e de conteúdo do projeto. O ofício do MPF destaca trechos da liminar do STF, entre eles a decisão de que a proposta “é antagônica à de proteção ao pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e à promoção da tolerância, tal como previstas na Lei de Diretrizes e Bases”. (Veja mais: http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/noticias-mg/mpf-aponta-inconstitucionalidade-do-projeto-escola-sem-partido-da-camara-municipal-de-belo-horizonte/).

    Vereadores proponentes compõem bancada da bíblia e do boi

     Os vereadores que apresentaram o projeto do EsP têm mais um ponto em comum além da ideia de que há proselitismo ideológico nas escolas: ambos são evangélicos e costumam orientar suas posições no plenário a partir de convicções religiosas. Apesar de fazer parte do PDT, não é primeira vez que Márcio Nobre descumpre orientações partidárias. Em maio, o vereador se opôs ao projeto de lei que propunha instituir o uso do nome social para pessoas travestis e transexuais (Veja mais em: https://www.facebook.com/jornalistaslivres/posts/528018413988707). Mesmo com o voto contrário do vereador, o projeto foi aprovado (Para acessar a lei completa: https://goo.gl/RvVzKb). Nobre é membro da Igreja Assembleia de Deus em Uberlândia.

    Já Wilson Pinheiro, que durante os anos 1980 e 1990, se afirmava comunista e militava em movimentos e sindicatos de esquerda, se tornou evangélico durante os anos 2000. No mesmo período, começou a compor com grupos da direita uberlandense e durante os quatro mandatos em que foi eleito tem sido uma das principais lideranças de sustentação do grupo político ligado ao prefeito Odelmo Leão, que se compõe basicamente de ruralistas. Mesmo tendo votado favoravelmente ao uso do nome social, Pinheiro costuma ser liderança nas discussões de pautas ultraconservadoras e anti-esquerda na Câmara de Uberlândia. Além deles, pelo menos outros dois vereadores são pastores e costumam orientar seus votos a partir de convicções religiosas: Pastor Átila Carvalho (PP), da Igreja Evangelho Quadrangular; e o Pastor Isaac Cruz (PRB), que é da Igreja Universal do Reino de Deus.

    Outras contradições se verificam entre os vereadores de Uberlândia. Wender Marques (PSB), que compõe grupo político ligado ao deputado estadual Tenente Lúcio (PSB), que apesar de afirmar em sua biografia no site da Câmara ser “Socialista, militante, está presente nas bases na luta por uma sociedade mais justa, na emancipação das pessoas mais carentes e na erradicação de qualquer forma de preconceito, seja racial, geracional, de gênero, entre outras”, votou contra o uso do nome social. Embora hoje no PDT, Márcio Nobre é oriundo do mesmo grupo político na cidade. Sendo que o próprio Tenente Lúcio chegou a compor os quadros do partido.

    Por fim, Silésio Miranda, do PT, embora faça acirrada oposição ao governo municipal, também costuma orientar seu voto, em pautas de questões morais e de cultura, de acordo com sua religiosidade. Na votação sobre o nome social, por exemplo, o vereador votou contra o projeto.

    Para além da questão de se manifestarem de acordo com convicções religiosas, o que preocupa setores que se organizam na luta contra opressões (como mulheres, LGBTs, negros e negras, dentre outros) é que os parlamentares ligados a bancadas evangélicas costumam se posicionar contra pautas fundamentais de direitos e, não raro, avessas à própria concepção de Estado laico. “Aqui, como em tantos outros cantos deste país, temos que nos empenhar a desconstruir mentalidades fundamentalistas religiosas, principalmente pentecostais, que ficam cegas para a dimensão humana e mesmo crítica da vida. Atualmente essas forças estão muito atuantes dentro de partidos à direita e à esquerda, como se viu na bancada evangélica da Câmara Municipal, que votou contra o projeto”, afirmou a ativista lésbica Tânia Martins em ocasião da votação do Projeto de Lei do uso do nome social.

    Procuramos a Prefeitura Municipal de Uberlândia solicitando o posicionamento do mandato do prefeito Odelmo Leão (PP) sobre a proposta da “Escola Sem Partido” que tramita na Câmara Municipal. Contudo, até o fechamento desta matéria não houve pronunciamento do órgão.


    Veja abaixo as perguntas enviadas pelos Jornalistas Livres ao vereador Márcio Nobre no dia 9 de outubro e ainda sem resposta:

    Boa tarde vereador Márcio Nobre, aqui é o Gabriel Lima, jornalista do Jornalistas Livres.

    Estou encaminhando estas perguntas para o senhor de modo a oferecer o amplo espaço necessário para defender sua posição quanto ao projeto “Programa Escola Sem Partido”. O senhor tem um prazo de 12 horas para respondê-las, para termos tempo publicar as respostas na matéria sobre o tema, que estamos produzindo para publicação ainda essa semana.

    PERGUNTAS:

    1) O senhor foi eleito para a câmara de vereadores de Uberlândia em uma coligação com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Hoje eleito por um partido de centro-esquerda (PDT), evangélico, tem se posicionado favorável a pautas conservadoras que não dialogam nem um pouco na coligação que o levou na câmara. Podemos dizer que esse cenário pode se enquadrar em um estelionato eleitoral?

    2) O senhor protocolou um projeto vitrine da pauta conservadora no Brasil que é o “Escola Sem Partido”, que busca denunciar professores que se posicionem politicamente, negando a história do seu partido, que tem pessoas como Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, quadros eternos da legenda. O senhor não se sente envergonhado com essa situação?

    3) O que te faz pensar que continuará no PDT? Analistas dizem que isso seria uma manobra para o partido lhe expulsar e o senhor angariar votos dos evangélicos para deputado federal? Isso é verdade? O senhor pensa em desistir de ser vereador e ir tentar ser deputado surfando na onda reacionária no Brasil?

    4) O senhor disse que chamará o MBL para defender seu projeto. O MBL faz claros ataques ao PDT e Ciro Gomes. Não acha ser contraditório? O MBL subiria em tribuna com um vereador que venceu as eleições em coligação com um partido comunista?

    5) Ciro Gomes já se posicionou fortemente contra o projeto “Escola Sem Partido”. Com isso, o senhor “rasga” seu projeto político na segunda maior cidade de Minas Gerais. O senhor não é a favor de Ciro Gomes como candidato do PDT para Presidente da República?

    6) Existe possibilidade do senhor voltar atrás?

    Muito obrigado pela atenção,

    Gabriel Lima