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Tag: marcha das mulheres indígenas

  • Se ferir a existência, serão resistência

    Se ferir a existência, serão resistência

    Disseram ao mundo que estão em permanente processo de luta em defesa do território. Prometem: se fere a nossa existência, seremos resistência.

     

    É fato, afirmo e confirmo.

     

    Em cada centímetro que andei atrás delas, na amplitude da capital do país, digo que vi até Glauber Rocha fumando, embriagado com elas, em vários momentos. Máquinas fotográficas ainda não captam tudo que o olho vê, mas é fato que tantos espíritos circulavam entre nós; até as risadinhas de Darcy Ribeiro e Milton Santos ouvi no meio dos cantos. Era difícil ver os homens entre milhares delas, mas protegiam atentos.

    É feminina a cidade branca, não há o que duvidar nas formas do arquiteto. 

    Foi um momento inédito a reunião de mulheres que vivem tão distantes. Vieram de todas as partes, movidas por uma vontade e coragem que só mulher sabe que existe. Guardiãs, encantadas, irmandade? É cedo para saber, mas é a história que não fecha portas nem janelas, rompe muros, desvela a cegueira dos homens.

     

    http://apib.info/2019/08/15/documento-final-marcha-das-mulheres-indigenas-territorio-nosso-corpo-nosso-espirito

     

    imagens por Helio Carlos Mello©

  • A marcha

    A marcha

    Se fere nossa existência, nós dizemos resistência, afirmam milhares de bocas. Existe fome de cura, e o que vejo são mulheres, muitas mulheres que cantam e tanto falam enquanto dançam, preenchem todas as carências que sinto como cidadão.

    Elas chegaram onde queriam, sorriem em brado.

    Me sinto totalmente dispensável, sentimento curioso e também agradável. Homens? Restou-nos a guarda.

     

    É bonito ver o sonho de Brasília, pensado por seus artistas e idealizadores, ocupado por mulheres indígenas. Dançam Canela, Krahô, Kamayurá, Tembé, entre tantas, ancestral paradigma no país do futuro.

     

    Diz a mulher indígena: digam ao povo que fico, ficaremos. Faz-se voz à nação nesse momento, tão rouco e perplexos estamos. Sempre esteve aqui tal mulher, não arreda pé, não desistirá.

    Apenas o que digo e vi, é que foi longa a caminhada até a casa do povo e há uma plenitude nessa trilha. 

     

    Cem mulheres receberam senhas para entrar na casa chamada Congresso. Milhares estão neste momento aguardando a saída e entendimento.

    Volto para casa pleno, volto mais forte, feminino, indígena, brasileiro. Território, corpo, nosso espírito.

    Pindorama, terra dos encantados.

     

    imagens por Helio Carlos Mello

  • A primeira marcha

    A primeira marcha

    É como mexer em formigueiro, atiçar casa de abelha. É como abrir represa e inundar o campo,  há um canto, uma música de muitas línguas. Tudo se aviva numa atenção e objetivo de defesa, é um ofício conjunto. 

    A larga avenida se inunda de cores, como se uma revoada de pássaros preto, azul, vermelho, branco e amarelo ocorresse na cabeças das pessoas, mulheres e seus cocares. 

    Um balé moderno protesta na via, se dirigem à Secretaria Especial de Saúde Indígena; lembra guerra a melodia em protesto contra o desmonte da Secretaria. Protestam contra a secretária indígena, a militar Silvia Waiãpi, tenente e atriz. Pedem sua imediata abdicação.

    Tão valente as mulheres, pararam o trânsito, surpreenderam a polícia, renegaram o governo anti-indígena que não gosta de árvore.

    Mulher é coisa de entranhas e nuvens, faz chuva e sol, faz sombra sobre a vida, embala em canto a mão que ergue e grita.

    Protege e salva, coisa de mulher.

     

    imagens por Helio Carlos Mello

     

  • Porque choram as mulheres indígenas

    Porque choram as mulheres indígenas

    A capital está úmida. Não chove há um bom tempo, mas está úmida. Creio ser o pranto das mulheres indígenas que a todos limpam.

    Tão diferentes em seus jeitos, tão iguais no ver do mundo, mulheres que cantam em grupo, falam da mãe terra, de seu útero, do sangue das árvores.

     

    Choram porque, na manhã de entendimento capital, o pranto se tece há séculos, entre caçadas dos brancos aos familiares que povoavam cada canto desse chão. É fato, milhões foram extirpados, a nação não pode mais negar, por mais que envergonhe a todos.

    É distinto ver as mulheres indígenas falarem, diferente dos homens, se emocionam profundamente,  invertem as cores dos fatos, dão uma graça trágica naquele inferno que fomos. 

    Olham-me com perdão, tão envergonhado fico ao saber que a conquista do território carreou tantas tragédias. É vermelha a cor da bandeira, vejo bem, e as indígenas a querem verde, simples assim, mãe.

     

    Respeito, palavra de difícil entendimento.

    Em Brasília, várias representantes de seus povos constroem a própria história que o país sufoca, imagens de suas heroínas nos mostram. As assassinadas, decepadas, as professoras, as deputadas, vereadoras ou candidatas, mulheres que deram e dão a vida para serem indígenas.

    A paz é o melhor lugar, e cantamos com elas em luta. Resistência não chora.

     

    imagens por Helio Carlos Mello.

  • Não suba no foguete

    Não suba no foguete

     

    A figura que acena não é a sombra que espreita. O guarda belo dá espaço a um batalhão de homens de preto, jovens simples vestindo ternos fora de medida. Segurança particular, devotos? Não sei, a tudo vigiam em dia de marcha para Jesus.

    Brasília, espaço público por natureza. 

    Logo cedo leio o recado: não sente no foguete.

    Pairam tantas vontades e dúvidas no eixo da capital. Caminhões imensos rodam nas vias falando de Deus.

    Outras marchas vão se formando, barreiras, trincheiras.

    Sigo com os meus, plumas na mente, tinta na pele.

     

    Imagens por Helio Carlos Mello

  • Mulher e indígena

    Mulher e indígena

    As mulheres indígenas invadirão nossa praia, a capital dos ternos e gravatas. 

     

    Há uma revolução nas aldeias, novos fatores de poder e jeito de caminhar.

     

     

    É clássica a imagem da mulher Kayapó, Tuíra, com seu facão lambendo a face do diretor de empresa, pontuando sua visão do mundo,  exigindo respeito ao índio. 

    Sônia Guajajara ousou ser candidata à vice-presidência da república, Joênia Wapichana tornou-se a primeira deputada federal, voz permanente no parlamento nesses dias difíceis.

     

    A visibilidade da mulher indígena sempre foi estereotipada e reduzida ao imaginário da sexualidade do colonizador. Hoje elas vão unidas, fortes, cantando sempre seus hinos de guerra à frente de todo movimento. Com graça e severidade protestam, com velhos guerreiros vão pra cima do invasor, contestam. 

    Com o tema Território: nosso corpo, nosso espírito, de 9 a 13 de agosto, em Brasília, pretendem reunir milhares de mulheres de várias etnias distintas, de muitas aldeias do país.

     

    A coordenação da Marcha realiza a arrecadação de recursos através da doação voluntária de simpatizantes e organizações parceiras.  O objetivo é dar visibilidade às ações das mulheres indígenas discutindo questões inerentes às diversas realidades, a garantia dos direitos humanos e o cuidado com a terra, o território indígena, com o corpo e o espírito da humanidade.

    Saiba mais e colabore em:

    https://www.vakinha.com.br/vaquinha/apoie-o-1-encontro-de-mulheres-indigenas

     

    imagens por Helio Carlos Mello©