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  • Aniversário de Lula motiva atividades no Brasil e no mundo

    Aniversário de Lula motiva atividades no Brasil e no mundo

    do site Lula livre

    As atividades do aniversário de 75 anos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) já começam no dia 24 e vão até o dia 27, dia que ele nasceu e que será o mote para a realização uma série de atividades dentro e fora do Brasil com o intuito de celebrar a vida e a contribuição histórica de Lula, mas também de desejar liberdade plena e a restituição de seus direitos, com o fim dos processos ilegais que o perseguem.

    No Brasil, ativistas estão organizando ações nas redes e nas ruas como oportunidade para desejar o que ele mais deseja: que o Brasil fique livre do coronavírus e de Bolsonaro, mas também que ele possa ter sua liberdade plena e seus direitos políticos.

    Já no exterior, a chamado para o Lula Day faz alusão ao já consagrado “Mandela Day” e foi organizado pela primeira vez em 2019, quando Lula ainda estava preso em Curitiba. Este ano, atividades organizadas pelos Comitês Lula Livre, núcleos do PT e coletivos variados em doze países animam o evento global, com muita arte, cultura, debate político e lutas a partir deste sábado, 24.

    Ação nas redes

    No mundo e no Brasil a agitação nas redes sociais já começou, com uma campanha de envios de vídeos de felicitações para Lula pelo aniversário com as tags #ParabensLula e #Lula75Anos. Estes conteúdos serão parte da mobilização nas redes no dia 27, que conta ainda com algumas atividades presenciais pelo país, sempre seguindo todas as recomendações sanitárias em função da pandemia.

    No final do dia 27, um programa especial “Aniversário de Lula” será realizado nas redes do Comitê, do Instituto Lula, do PT e outros parceiros sobre a vida do ex-presidente.

    O jornalista Fernando Morais e o fotógrafo Ricardo Stuckert também estão produzindo um vídeo com Lula falando sobre diferentes assuntos e situações que enfrentou durante toda a sua trajetória em comemoração ao aniversário .

    Confira a programação completa do aniversário e se não constar a sua cidade, programe uma atividade e envie as informações para gente.

    Dia 24, sábado

    A programação global do Lula Day (aniversário) se inicia na Catalunha, com atividades envolvendo a militância local em defesa de Lula Livre.

    No Brasil, já começam as primeiras manifestações: em Santa Catarina, tem ato “Anula STF” com faixas na Catedral e depois na ponte Hercílio Luz. Ainda vão soltar pipas com a tag #AnulaSTF.

    Em São Paulo, o Coletivo dos Comitês pela Democracia e por Lula Livre (CCD-LL) e o Coletivo CorAção Lula Livre irão fazer projeções com imagens em homenagem a Lula e por Lula Livre #AnulaSTF, na zona Oeste da cidade, por ocasião de seu aniversário.

    Dia 25, domingo

    Em São Paulo, coletivos seguem animando as noites com projeções em homenagem ao ex-presidente e exigindo a entrada em pauta do habeas Corpus que corre no Supremo sobre a as irregularidades de Moro nos processos contra Lula.

    Em Recife, o Pedal Lula Livre fará uma atividade com bolo e parabéns na Várzea/Vila Arraes.

    Em Ravenna, na Itália, Como parte da abertura das atividades do Lula Day, o Comitê Lula Day Ravenna realiza um encontro na Piazza Dell Popolo com políticos locais e discussão sobre o lawfare contra Lula e sobre os ataques contra a democracia no Brasil.

    Na China, o Núcleo do PT China realiza uma apresentação virtual sobre comunicação e cooperação intercultural no contexto Brasil-China, abordando o papel de Lula nas relações entre os dois países durante seus governos.

    Em Nova York, acontecem três atividades. No dia 25, o coletivo ALERTA-NYC fará uma entrevista com os jornalistas Brian Meir (Geógrafo, escritor, correspondente da Telesur, editor do Brasilwire, e apresentador no 247) e David Griscom (comentador político no The Michael Brooks Show e Jacobin). A Amsterdam Collective Casa de Cultura, em Harlem, apresentará na sequência a Segunda Exibição Anual Lula Day-Arte e Resistência. Com a curadoria de Alerta NYC e Casa de Cultura Harlem o show traça um paralelo entre a história do Brasil e Estados Unidos. E para encerrar a programação, a Tropa de Palhaços de 5ª, do Rio de Janeiro, vai celebrar o LULA DAY com a sua performance Parlamento Popular.

    Na Suíça, o Comitê Lula Livre Genebra realiza a Homenagem ao Legado e Resistência Internacional pela Plena Liberdade de Lula. A atividade virtual conta com Paulo Pimenta, deputado federal do PT, Fernando Lopes, metalúrgico (CUT), Gliceria Tupinambá, professora e ativista da aldeia Serra do Padeiro, Lusmarina Campos Garcia, teóloga eco-feminista e pastora luterana, Suzete De Paiva Kourliandsky, da associação Almaa Paris e Valter Sanches, secretario Geral de IndustriAll Global Union desde Genebra.

    Na Espanha, respeitando todas as orientações das autoridades locais sobre a prevenção da Covid-19, haverá um ato em apoio à recuperação dos direitos políticos de Lula com músicas de protestos da artista e ativista Vanessa Borhagian, dança regional, sorteio de livros e aquarela do artista plástico Guillermo Von Plocki.

    Dia 26, segunda-feira

    No Brasil, além das projeções com imagens iluminando os prédios continuarem nas noites paulistanas, acontece a Live do Conde, na TV 247, especial sobre o histórico e a resistência da Vigília Lula Livre, que esteve firme nos 580 dias em que Lula se manteve encarcerado na Polícia Federal de Curitiba.

    Na Bélgica, a artista plástica Inêz Oludé da Silva apresentará virtualmente o projeto/calendário perpétuo “1000 Pássaros para Lula” e “Poemas para a Paz”, uma homenagem às crianças “sem terrinha” (do MST) e “sem casinha” (do MTST).

    Em Israel, o Comitê Lula Livre realiza entrevista com Eitay Mack, ativista e advogado de direitos humanos, na passagem do Lula Day.

    Dia 27, terça-feira, Lula Day, aniversário do Lula

    🌐 Atividades pelo mundo:

    Nos EUA, o Coletivo BRADO-NY entrevista o escritor Fernando Morais, que escreve livro sobre a trajetória de Lula, e promove intervenção urbana com obras do fotógrafo Ricardo Stuckert.

    Na Espanha, o Comitê Lula Libre Madrid convoca a o bate-papo “Lawfare”, com Gerardo Pisarello, jurista e vice-prefeito de Barcelona entire 2015 – 2019, Rafael Valim, jurista, e Gabriela Brochner, cientista política.

    O Comite Lula Livre UK – FREE LULA do Reino Unido e o FIRMES da Espanha organizam um debate online com Enio Verri, líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta, deputado federal PT, e Nathalia Urban, jornalista da TV 247. A Organização conta com o apoio do Comite Lula Livre England_Oxford, Brazil Liberation Front – Manchester, Brazil Solidarity Initiative, PT Londres e PT China.

    Na Irlanda, o Núcleo PT Irlanda realiza a atividade “Lawfare – Vencer essa guerra para restabelecer a democracia!”, uma live com Wadih Damous, advogado de Lula, ex-presidente da OAB Rio de Janeiro.

    Na Itália, o Comitê Italiano Lula Livre organiza debate virtual sobre a importância do poder legislativo para a democracia, com o jornalista Breno Altman, Preta Ferreira, artista e ativista, e Marco Consolo, líder do partido italiano Rifondazione Comunista. De forma presencial, o Núcleo PT Bolonha promove apresentação do músico Rogério Tavares, que cantará músicas de Chico Buarque em homenagem a Lula.

    Atividades no Brasil:

    Em Alagoas, a militância Lula Livre se reúne em ato simbólico em frente ao antigo Produban, com bolo, faixas e um boneco do Lula em tamanho real para estimular fotos que vão para as redes sociais.

    No Distrito Federal, o Comitê DF Lula Livre realiza o Ato #AnulaSTF em frente ao Supremo, exigindo “vota logo HC”. Como em momentos anteriores, será no formato imagético, também com distribuição de máscaras com a tag #AnulaSTF.

    No Espírito Santo, vai ter Serenata na sacada do hotel na Praça Vermelha, com oficinas entre 12h e 15h, telão com fotos do Lula no ES historicamente e muita música. Tem também “Faixaço” relâmpagos com megafone em vários pontos nos municípios de Cachoeiro do Itapemirim, Serra, Vila Velha, Cariacica, Viana, além de Vitória.

    Em Goiânia, está previsto um ato com faixas por “Lula Livre” e “Anula STF” e megafone, em frente ao teatro Goiânia.

    Porto Alegre prepara um grande abraço à distância ao aniversariante, organizando atividades nos municípios e regiões com divulgação nas redes com as tags #LulaInocente #AnulaSTF. Às 12h, no Largo Glênio Peres, ocorre um breve ato com os partidos, centrais, MST e outros movimentos com direito a falas, bolo e “Parabéns a você” pro Lula.

    No Paraná, a militância dos comitês Lula Livre estão mobilizando vídeos para as ocupar massivamente as redes sociais com mensagens de celebração a Lula, mas desejando sua plena liberdade e a volta de seus direitos políticos e civis.

    No Rio Grande do Norte vai rolar um Happy hour, a partir das 16 horas, com um Drive Thru entregando 200 fatias de bolo.

    No Rio de Janeiro, vai ter comemoração em grande estilo, com bolo na praia do Flamengo

    Em Santa Catarina, vai haver celebração de 1 ano do Festival Lula Livre SC e muito engajamento nas redes com vídeos de personalidades e candidatos por Lula Livre.

    Em São Paulo a programação acontece na capital e no interior. Haverá uma live Sarau Lula Livre às 16hs, organizada pelo Comitê Jabaquara. As projeções do CCD-LL e Coletivo CorAção encerram o dia na capital paulista.

    Em Jundiaí, tem Ato na Barão, em frente do Santander, com direito a bolo e bexigas vermelhas. Além de assistirem vídeos do Lula, os militantes vão ouvir musica e cantar parabéns em plena rua.

    Em Piracicaba, o Comitê realiza panfletagem no Terminal Central de Integração, com participação de candidatos e celebrando a vida e a liberdade para Lula.

    Em Marília, haverá ato com plantio de árvore, homenageando Lula, seu aniversário, sua futura e próxima liberdade, com palavras de ordem como #AnulaSTF, #LulaLivre e #LulaInocente.

    Em Mogi Mirim, tem muito ativismo digital do dia 22 ao dia 27 e outros Comitês também já se somam no envio de vídeos, como Ilhabela, Comitê Rua João Moura, Comitê de Santos Célia e Carlos Riesco e o Conselho Municipal Lula Livre SP.

    Na Baixada Santista, militantes celebram com bolos em casa preservando as regras de distanciamento social, mas animados e em luta por Lula Livre e “Anula STF”, com agitação das fotos nas redes sociais.

    Em São José do Rio Preto, vai ter mobilizações nas redes com as tags #ParabensLula #GratidãoParaLula, bem como coleta de vídeos nos bairros da cidade com felicitações para Lula.

    Em Marília, cidade do interior de São Paulo, haverá plantio de árvore. “Vamos comemorar esta data plantando uma árvore que significa vida, renascimento, num parque com o simbólico nome de “Amor e Liberdade”, disse a liderança do Comitê.

    Homenagem ao Presidente Lula dos coletivos que lutaram pela sua liberdade

    https://youtu.be/2pbrhzsf8eg
  • Segundo turno em São Paulo pode estar nas mãos de Lula

    Segundo turno em São Paulo pode estar nas mãos de Lula

    Vi que Valter Pomar respondeu ao meu artiguinho sobre o envelhecimento do PT e, agora, responde ao apelo de Leonardo Boff para apoio ao Boulos (citando Lula). Decidi não polemizar com Pomar por dois motivos.

    Rudá Ricci, cientista político e presidente do Instituto Cultiva

    Primeiro, admiro Pomar. Eu o conheci muito jovem, nos seminários que o Vladimir organizava sobre a revolução russa e marxismo em uma sala, se não me engano, no Paraíso, na capital paulista. Ele já se revelava brilhante. Mas, há um segundo motivo para não desejar polemizar.

    Minha intenção não é fazer ping-pong. Muito menos com dirigente do PT. Minha intenção era, com o artiguinho, motivar um debate sobre os erros do PT, já que a direção raquítica do partido interdita qualquer autocrítica por puro medo. Infelizmente, o PT vive sua maior crise.

    Contudo, Valter Pomar parece ter decidido retrucar o apelo ou declaração de voto de Leonardo Boff. É louvável esta disposição de um líder como Pomar em polemizar com essas críticas que surgem a partir do desastre do desempenho eleitoral do PT em São Paulo.

    Aqui, vale a pena uma breve observação sobre uma passagem do texto de Pomar. Diz, a certa altura: “Boff : seria “um gesto político generoso e amigo dos pobres e sem-teto apoiar a chapa BOULOS/ERUNDINA”. Pois é: de boas intenções o inferno está cheio. Se eu fosse apoiador de Boulos, eu pediria exatamente o oposto: que a candidatura Tatto continuasse na disputa, tirando votos principalmente de Russomano”.

    Valter está muito pressionado. Daí apresentar um argumento tão frágil, o que não lhe é comum. Argumento frágil porque, primeiro, Russomanno está em queda e Boulos em ascensão. Em uma semana, tendem a estar em empate técnico ou muito próximo disso. Tendência, não prognóstico, que fique claro. Se ocorrer, a onda do voto útil deverá destruir de vez a candidatura do PT.
    Aliás, foi este o movimento na eleição que elegeu Haddad como prefeito de São Paulo. Erundina, candidata do PSOL naquele pleito, chegou a se aproximar de 10% e, com o voto útil pregado pelo PT, desabou. A questão da desistência do PT não tem relação com Tatto, mas com Lula.

    Se Lula apoiar nos próximos dias a candidatura de Boulos, a força de seu nome e deste simbolismo da unidade das esquerdas em São Paulo garantiria, possivelmente, a esquerda no segundo turno.
    Para deixar claro, na minha leitura, seria algo ainda maior. Uma entrada de Lula, neste momento, na terra que o projetou no cenário nacional, alteraria o estado de letargia em que o PT se encontra. Não será o apoio de Lula e a desistência de Tatto que fará o PT menor. O maior partido da esquerda brasileira não depende de uma capital. A sinalização de Lula pode alterar este cenário de letargia interna, provocando um forte debate sobre mudança de perspectiva e atuação política do PT. Tal oxigenação pode levar o PT a ser novamente de esquerda. Porque seria uma aproximação do PT ao PSOL.

    E é aí que tudo poderia ficar mais emocionante porque esta aproximação do PT à candidatura de Boulos também alteraria a composição interna do PSOL, fortalecendo a corrente de Ivan Valente, projetando Erundina. Estaria lançada a ponte para formarmos a “Geringonça” brasileira.

    Já disse que quando Antônio Costa, líder do PS português, anunciou, em 2014, a aliança com o Bloco de Esquerda, eu estava em Portugal. E li os editoriais da grande imprensa, ironizando esta guinada à esquerda. Resultado: a aliança governa Portugal com muito sucesso.

    Portanto, a eleição de São Paulo teria este condão de abrir janelas para a esquerda nacional. Alteraria o cenário de composição da centro-esquerda com o liberalismo e social-liberalismo. Algo que ocorreu com o PS português quando se aproximou do Bloco de Esquerda.

    Ao PT, talvez, o momento doloroso tenha sido providencial. Era preciso uma chacoalhada para filiados e dirigentes perceberem as consequências de erros em série. Para retornarem ao ninho da esquerda.

    Continuo admirando Valter Pomar. Sincero, honesto, comprometido e… fiel. Talvez, só falte a ele ser menos fiel ao PT atual e ser mais fiel à esquerda brasileira. Sendo mais fiel ao projeto da esquerda, ajudará imensamente seu partido.

    Pomar pode ser uma liderança importante no “aggiornamento” tão necessário deste partido que ainda é o maior do sistema partidário brasileiro, mas que sangra nestas eleições não porque seja alvo de ataques externos. Sangra porque suas direções não sabem o que fazer.

    Artigos relacionados de Rudá Ricci em 18 e 13/10:

    PT ENVELHECEU

    Por Rudá Ricci

    O PT vive um paradoxo: tem, hoje, as piores direções de sua história, mas se mantém como principal partido do sistema político nacional. Para mim, um paradoxo que nasce do que denomino de neopetismo ou a geração que emerge à direção do PT (e de novos filiados) no pós-2002, ou seja, com o advento do lulismo. Gente que não vivenciou o período de adversidades e ataques da construção de um partido que se definiu socialista.

    Em relação aos dirigentes neopetistas, seu perfil passou a ser pragmático, marcado pela lógica rebaixada do marketing (que não se propõe a disputar, mas meramente absorver o ideário popular, mesmo que contrário à linha partidária) e “parlamentarizada”. Por “parlamentarizada” me refiro à uma direção composta por quase exclusivamente deputados, em especial, federais. A prática parlamentar, como sabemos, é afeita a arroubos retóricos e práticas dóceis. Esta é a marca das direções petistas atuais.

    Uma ilustração deste novo perfil de dirigente petista é a dos “gestores públicos”, com nítido perfil gerencialista, pouco afeto ao debate ideológico, como Fernando Haddad e Fernando Pimentel. Também envolve dirigentes protocolares, sem capacidade para qualificar o debate nacional ou aprofundar reflexões junto à militância, caso de Gleisi Hoffmann. A diferença com o perfil de dirigentes históricos como José Dirceu ou Genoíno, ou governantes petistas como Erundina é desconcertante.

    O fato é que filiados e direções pós-2002 criaram uma lógica de retroalimentação: baixa exigência estratégica, foco no campo institucional, prioridade na consolidação da hegemonia no sistema partidário, criação de clima político de acomodação e baixo conflito, reforço das cúpulas.

    O PT passou a declinar da identidade socialista. Da tradição de partido de massas, passou por uma transição para a noção de partido de quadros que, na medida em que se tornava um partido palatável, acabou se inclinando para ser um “partido de notáveis”.O personalismo e certo mandonismo forçaram o declínio dos mecanismos de participação das instâncias de base no processo de tomada de decisão partidária.

    O encaixe pareceu perfeito porque liberou as direções para acordos de cúpula. As famosas análises de conjuntura que eram realizadas em diretórios municipais com participação frequente de dirigentes nacionais do PT, sumiram do mapa. Nem sombra da época em que os diretórios zonais e os núcleos profissionais tinham peso. Lembro do núcleo de historiadores petistas que lançou uma importante coletânea de discursos de Lula.

    Toda esta trajetória de mudança de perfil, ideário e organização acelerou na segunda metade dos anos 1990. As campanhas nacionais de 1994 e 1998 mudaram completamente a ordem das coisas no interior do PT: cúpula e marketing desconstruíram as decisões coletivas.Ao se acomodar ao pensamento médio brasileiro – sem qualquer intenção de questioná-lo ou mesmo assumir um papel pedagógico da ação política – o PT ganhou em musculatura eleitoral, mas perdeu em termos de vigor criativo e empolgação.A base passou a ser menos exigente e mais idólatra. De sujeito da construção do PT, passou a ser objeto das manipulações marqueteiras.

    Criou-se um encaixe entre cúpulas centralizadoras e de baixa capacidade de direção política e base pouco politizada e de alta passividade militante. Tudo favoreceu a entrada de propostas programáticas de tipo social-liberal (preocupação com políticas sociais e mercado).

    O PT se tornou, de fato, o fiel do sistema partidário brasileiro. Explico: com alta desigualdade, o maior partido político brasileiro (escolhido como de sua preferência por 25% dos eleitores) se tornou um canal das demandas sociais organizadas.

    O passado do PT e suas relações atávicas com pastorais sociais, intelectuais de esquerda, movimentos sociais nacionais, movimento sindical e ONGs progressistas criou o perfil institucional que dialoga com desvalidos.Uma das características desta mudança profunda no perfil das direções petistas é a acelerada transição para o que a literatura especializada denomina de “partido cartel”. Trata-se de partido que independe do eleitor ou da base social, vivendo dos recursos públicos. Em outras palavras, o partido cartel profissionaliza seus quadros a partir de cargos comissionados; alimenta seus prefeitos com emendas parlamentares ou conquista de convênios com o Estado; faz campanha com fundos eleitorais… enfim, a relação com a base social é efêmera.

    Como já afirmei, a base petista (ou neopetista) que se forjou nos anos de gestão lulista se acomodou e até mesmo alimentou esta transformação do PT num partido tradicional. Com baixa formação política e acostumada com vitórias e o poder, passou a refutar todas críticas. Ao ouvirem a trajetória de mudança organizativa e de mecanismos internos de tomada de decisão no PT, os neopetistas acusam de saudosismo. O que levaria, assim, à extinção de todo estudo histórico. Outro argumento raso é que se não tivessem mudado, não venceriam eleições.O problema é que as derrotas eleitorais, para os neopetistas, não são fruto de erro de direção e escolhas partidárias, mas resultado de uma campanha de destruição da imagem do partido. A lógica circular vem empacando o PT: nada muda, nada deve mudar, se alguém tem que mudar é o mundo.Durkheim já havia nos ensinado como a solidariedade mecânica (de natureza grupal) é autorreferente. Fechada em relações afetivas e defensivas, qualquer crítica ao grupo ou membro do grupo cria um fechamento ainda maior dos seus membros. A bolha, enfim, é seu habitat.

    Mas, mesmo assim, o PT se mantém como partido-líder ou partido-âncora do sistema partidário. Vejamos: Datafolha de 2017 indicava o PT como o de preferência de 21% dos eleitores. No ano passado, pesquisa do Atlas Política indicava se manter nesta posição (com 15%). Tendo 21% ou 15% da preferência dos eleitores brasileiros, o fato é que o segundo partido da preferência aparece com 5%. Mais: o PT é o único partido que, desde 1989, chegou no segundo turno (quando ocorreu) de todas eleições para Presidente da República.

    Ainda mais: com Haddad – um candidato sem força eleitoral até mesmo na cidade em que foi prefeito – o PT venceu na maioria dos municípios brasileiros em 2018. Demonstrou, portanto, capilaridade e interiorização. Uma potência eleitoral consolidada.Assim, PT é o partido mais consolidado e enraizado do sistema partidário brasileiro. Sistema, é verdade, que vem demonstrando fortes rachaduras, com cada vez menor impacto junto ao eleitorado. Então, o que estaria acontecendo? Minha hipótese é: PT se acomodou.

    Como um camaleão, de partido rebelde se tornou um partido da Ordem. O passado lhe confere um perfil aguerrido; os governos lulistas criaram a imagem de partido com preocupação social; mas, na sua definição estratégica, não é mais um partido da mudança social ou política.Acomodado, criou regras e controles internos que impedem a renovação de quadros e limitam drasticamente a disputa no seu interior. Daí ter se tornado mais um partido de “cabeça branca”.

    Assim, PT se tornou a expressão viva do sistema partidário brasileiro. Um partido potente porque acomodado ao ideário conservador e pragmático de uma base eleitoral desconfiada e pouco exigente (que deseja sobreviver e se inserir numa sociedade profundamente desigual).Um alto dirigente petista me disse recentemente que percebe que PT tem garantido entre 20% e 30% dos votos nacionais. Tem força eleitoral, mas não gera mais paixões. Não é mais o partido da mudança. Esta é a minha tese.

    Artigo de 13/10:

    SOBRE A CANDIDATURA CAPENGA DE JILMAR TATTO

    1) Eu conheço muito bem a cidade de São Paulo, como jornalista ou como militante de várias causas. E sei que o Partido dos Trabalhadores ainda é respeitado por muita gente.

    2) As pesquisas recentes confirmam que é o partido preferido dos paulistanos, com 23% dos eleitores.

    3) O resultado é ótimo, considerada a campanha de calúnias e difamações contra a legenda. Trata-se de um projeto articulado de desconstrução de imagem, iniciado há anos, com forte participação da mídia hegemônica.

    4) Os tais 23% de base seriam o suficiente para, com algum esforço, botar a estrela no segundo turno das eleições municipais, mesmo com a parcela de 36% de antipetistas declarados.

    5) Efetivamente, com a mensagem certa, a propaganda adequada e as melhores alianças, seria possível até mesmo vencer uma eleição na maior cidade do país.

    6) A escolha partidária, no entanto, foi extremamente equivocada, e fará o partido encolher perigosamente na cidade. Pior, a votação minúscula do majoritário certamente vai reduzir a representação do partido da estrela na Câmara Municipal.

    7) Há quem diga que é “democracia”, que é preciso respeitar a escolha interna do partido. Francamente, sistemas de escolha em partidos, movimentos e instituições nem sempre são efetivamente democráticos, ainda que tenham toda a pinta de serem.

    8) Na verdade, as votações internas são realizadas por nichos de militantes fortemente ligados a mandatos e gabinetes. Pouco representam as ideias da maioria dos petistas, muitos hoje distantes da estrutura partidária. Gente com história de décadas no partido nem mesmo vota nesses processos internos.

    9) Por quê? Porque faz muito tempo que a cartolagem do PT se contenta com esses simulacros de democracia interna. Muito mais gente deveria estar agregada a esses processos.

    10) É preciso conversa de muro com o Seu Gervásio da Cidade Tiradentes, antigo militante do movimento por moradia, que botava bandeirinha do partido na janela desde 1982, mas que nunca se filiou à agremiação.

    11) Ele é o cara que defende Lula no bar do Miltinho. O veterano Gervásio deveria ter participado da escolha do representante do partido. Sua voz, entretanto, não foi ouvida.

    12) Não me venham, por favor, com esse papo de “ah, era só se filiar”. Nem como essa de “ah, mas essa gente não se mobiliza”. Esse papo, no caso, é de direita. Agregar à participação partidária é tarefa da militância estruturada de vanguarda, hoje presa em gabinetes, dialogando somente com os currais eleitorais já constituídos.

    13) No debate, os outros candidatos se aproveitaram maldosamente do antipetismo. Atacaram o pobre Tatto com vigor. Ele, no entanto, aturdido, não teve competência para defender o valioso legado petista na cidade de São Paulo. Precisa de aulas de oratória e retórica.

    14) Tatto quis se apresentar como gestor, citando repetidamente seu trabalho como secretário de Transportes. Meu Deus!!!! Foi justamente por isso que o PT perdeu tantos eleitores. De novo, pergunte ao Chicão da Hidráulica se ele morre de amores pelo cara que inviabilizou o uso de sua Pampa 1989.

    15) Tatto – que até pode ser um bom sujeito – é um cara de “dentro” do partido, na hora em que precisávamos de um cara de “fora”, identificado com a rua. Havia, sim, essa opção nos quadros da legenda. Mais de uma, aliás.

    16) Há quem diga que “ele tem voto” na periferia. Tem, mas em termos… A família tem um reduto eleitoral localizado, e só. Não é o suficiente para disputar uma eleição majoritária.

    17) Lideranças importantes do partido foram reticentes em relação a Tatto. Ou se demoraram em demonstrar apoio ou foram efetivamente pouco enfáticas em suas declarações. O eleitor não é bobo e percebe. É improvável que revertam essa situação.

    18) O candidato pode ainda obter alguns pontos, pois parte do eleitorado ainda não o conhece. Pode até cativar alguns petistas nesta fase final de campanha. Mas é pouco provável que passe perto do segundo turno.

    19) O democratismo burocrático petista, razão do próprio declínio da legenda, cria um vazio no eleitorado progressista da cidade, posto que nem tantos se animam com as candidaturas de Guilherme Boulos e Orlando Silva. E todo mundo sabe que França é apenas um pragmático oportunista, que veleja ao sabor dos ventos.

    20) É bobagem dizer que os petistas estão votando massivamente no psolista Boulos. Talvez um terço deles esteja, de fato. Outros muitos estão desencantados com a política. Talvez aleguem febre e nem apareçam para votar.

  • Sem ressentimento, sem esquecimento

    Sem ressentimento, sem esquecimento

    Quatro de agosto de 2020. Sérgio Moro sofre sua principal derrota desde que se tornou um dos principais atores na cena política nacional.

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

    A segunda turma do STF determinou a exclusão da delação de Antonio Palocci do processo movido no âmbito da Operação Lava Jato contra o presidente Lula.

    Ricardo Lewandovski e Gilmar Mendes votaram favoráveis à exclusão. Edson Fachin (o ahá uhú do Dallagnol) votou contra a exclusão, o que significa votar a favor de Sérgio Moro. Fachin é o melhor advogado que Moro poderia ter.

    Não é exatamente a primeira derrota. Houve outras. Mas essa, sem dúvida alguma, foi a maior e sinaliza para a possibilidade de outra derrota, que seria devastadora. A suspeição de Moro no julgamento de Lula deve ser julgada pela plenária da corte ainda neste ano. A derrota na segunda turma não significa, necessariamente, que Moro será derrotado no colegiado ampliado. Mas indica a possibilidade. Definitivamente, o ex-juiz já viveu dias melhores.

    Lewandovski e Mendes falaram o óbvio! Moro politizou o julgamento de Lula com o objetivo claro de interferir nas eleições presidenciais.

    Grande novidade!

    Moro inseriu a delação de Palocci no processo por conta própria, sem ser provocado pela acusação, o que é mais do que atípico. É criminoso. É prova cabal de que o juiz era, na verdade, o chefe da acusação.

    Todos sabiam o que estava acontecendo. Todos calaram, consentiram, incluindo o próprio STF, que em abril de 2018 negou o pedido de habeas corpus, decisão que, na prática, mandou Lula pra cadeia. A mesma segunda turma negou outros dois pedidos de habeas corpus, em junho e agosto de 2019. Lewandowski sempre votou a favor da defesa de Lula, o que significava votar a favor do devido processo legal.

    Por que agora, justo agora, esse revés?

    Simples! O tempo da política é o tempo rápido, da constante mudança, principalmente em tempos de crise.

    A partir de 2014, o establishment jurídico brasileiro se associou aos grupos políticos anti-petistas. O objetivo era colocar um ponto final na hegemonia do Partido dos Trabalhadores, o que em cenário de normalidade democrática seria impossível.

    A aposta era que o PSDB, antagonista do PT desde meados da década de 1990, herdaria o butim. A situação saiu do controle e Bolsonaro foi eleito.

    O establishment jurídico dobrou a aposta: acreditou que seria possível negociar com Bolsonaro, controlar Bolsonaro. Errou novamente.

    A Lava Jato acumulou muito poder, a ponto de não querer mais ser puxadinho de ninguém. Nem do PSDB, nem do bolsonarismo, nem do próprio Ministério Público. Costuma-se dizer que o Ministério Público é o quarto poder, independente até mesmo do Poder Judiciário. A Lava Jato se tornou o quinto poder, independente do próprio Ministério Público.

    Nessa situação de desencanto, onde bolsonarismo e lava-jatismo se tornam ameaças ao próprio sistema, Lula volta a ter grande relevância. Primeiro, porque quando presidente sempre foi conciliador. Ninguém defendeu melhor o capitalismo brasileiro que Lula. Segundo, porque Lula é “o outro” tanto do bolsonarismo como do lava-jatismo.

    O sistema político que foi construído na redemocratização encontrou em Lula o seu melhor gestor. É uma virtude. Tenho saudade não apenas do tempo em que Lula era presidente. Tenho saudade do Lula como presidente. O Lula presidente foi muito melhor que o Lula metalúrgico. O Lula presidente é muito melhor que esse Lula líder esquerdizado pós-cárcere.

    Reabilitar os direitos políticos e a reputação de Lula seria a única forma possível de confrontar, ao mesmo tempo, o lava-jatismo e o bolsonarismo, os dois filhos rebeldes daqueles que apostaram na desestabilização da democracia como tática de retomada do poder.

    Que seja assim. Que se reposicionem. Que assumam, mesmo que silenciosamente, sua responsabilidade nessa nossa tragédia geracional. Sem ressentimento. Mas também sem esquecimento. Esquecer jamais. Nomes e sobrenomes serão sempre lembrados.

    Fotos de Lula Marques

  • A FORÇA E A FRAQUEZA DO BOLSONARISMO

    A FORÇA E A FRAQUEZA DO BOLSONARISMO

    “O tema da educação não é da esquerda”. Foi dessa maneira que o líder do Governo na Câmara dos Deputados, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), se dirigiu a seus seguidores nas redes sociais, comentando o resultado da votação sobre a renovação do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).

    Daniel Pinha é professor do Departamento de História da UERJ

    Embora o governo tenha agido nos bastidores para postergar a votação e sequer tenha apresentado proposta alternativa sobre a matéria, no discurso de Vitor Hugo a votação foi vitoriosa para Bolsonaro. A fala do deputado, postada em vídeo em suas redes sociais, evidencia a fraqueza e a força do bolsonarismo: a fraqueza em operar no interior das regras do jogo democrático para propor e aprovar uma agenda, um plano de ação; a força, em ideologizar absolutamente todas as esferas da vida política, mantendo acesa e permanente a chama eleitoral de embate direita versus esquerda, animando, desta forma, sua base nas ruas e redes sociais.

    Criado em 2007 pelo governo Lula, o Fundeb recolhe 20% dos impostos e os divide para estados da federação investirem na educação básica, em proporção ao número de alunos matriculados em cada escola. A divisão dos recursos obedece critérios quantitativos, repassando verbas para governadores de estados dos mais diversos matizes ideológicos.

    Em um primeiro momento, o governo Bolsonaro encaminhou uma proposta de suspensão do Fundeb para 2021 e alterações no uso dos recursos, como a proibição do uso para pagamento de aposentados e pensionistas. O objetivo era retirar recursos do fundo para fortalecer o Renda Brasil, novo projeto que o governo está preparando para substituir o Bolsa Família.

    Deputados do centrão fisiológico, apoiadores de Bolsonaro, tentaram obstruir e adiar a votação, para tentar emplacar suas propostas. Sem sucesso. A votação decorreu e a derrota da proposta do governo foi acachapante: 499 a 7. Se a medida “direita versus esquerda” valesse para este caso, atendendo ao modo como o Major Vitor Hugo narrou a situação, a esquerda poderia começar a preparar seu processo revolucionário a partir do Parlamento, com a incrível base de quase 500 deputados…

    A derrota do governo expressa não só a inabilidade no Legislativo, mas também do Executivo em apresentar reformas imprimindo ritmo a mudanças. O governo não apresentou proposta alternativa ao Fundeb. Não possuía. Sofreu uma derrota retumbante e mudou, pouco antes, a narrativa: recuou porque sabia que ia perder. A discussão não contou com a presença do ministro da Educação. Em um ano e meio, já são quatro ministros e nenhum conseguiu apresentar um projeto estrutural de educação para o país.

    A pergunta feita pela deputada Tábata Amaral ao então ministro Velez Rodrigues continua no ar: qual o programa, qual a agenda deste governo para a educação? A ausência, no caso do governo Bolsonaro, é até bem vinda, tendo em vista o que poderia ser este projeto, se ele existisse. De qualquer forma, é sintomático que este governo tenha mantido e renovado um projeto criado por Lula para a educação brasileira.

    A renovação do Fundeb é vitória do Lulismo. Educação e cultura são trincheiras fundamentais do projeto político bolsonarista no sentido de implementar sua guerra ideológica. Cortes de bolsas de pesquisa científica, nomeações impostas de reitores e diretores de institutos de pesquisa são exemplos de medidas tomadas por este governo no âmbito da educação. São mudanças sensíveis, com impactos diretos na atuação dos educadores e pesquisadores. Não se pode dizer que executem um programa; antes destroem do que edificam algo.

    A bandeira da educação é vista, sobretudo, como instrumento retórico de um embate ideológico que retoma instrumentos conceituais da Guerra Fria. Weintraub foi exemplo máximo disso: administrava com um celular na mão, soltando bravatas, espalhando mentiras, ódio, violência e racismo pela internet, inclusive em horário de expediente.

    O discurso bolsonarista impõe uma narrativa que reduz toda agenda do governo a uma fórmula esquerda versus direita. Um caso aparentemente despolitizado, como, por exemplo, a importação de respiradores, remédios ou vacinas para o tratamento da Covid, ganha outro significado quando se fala que eles foram importados da China. Nos termos das guerras virtuais, das disputas políticas nas redes sociais, onde paira, em grande parte, a lógica da “bolha” que confirma expectativas prévias – e não a abertura para a diferença – esta modalidade de discurso faz sentido e soa efetiva. No entanto, isso não parece ser suficiente para governar nos termos da democracia.

    Entendendo o ato de governar como construir um plano de ação, ter uma estratégia e conseguir implementar efetivamente este plano. Bolsonaro mostrou capacidade de vencer a eleição, de governar não – uma eleição marcada pelo afastamento forçado e injustificado do seu principal adversário, Lula. Hoje, ora reclama que a democracia é regime “ingovernável”, ora faz uma ameaça de golpe, ora negocia com o centrão a própria sobrevivência. Este discurso super ideologizado traz também uma força: mantém uma base convicta de sua visão de mundo, mantém uma coesão ideológica em torno de si. Isto faz diferença em um contexto de crise democrático-representativa, em que boa parte da população expressa profunda desconfiança da política e dos políticos.

    A votação do Fundeb traz uma boa e uma má notícia. A boa é que Bolsonaro é ruim de governo e as regras do jogo democrático parecem atrapalhá-lo em suas próprias pernas, vivendo o drama do jogador que reclama o quanto a bola é redonda. Agindo dessa forma, por outro lado, ele mantém acesa a chama eleitoral naquilo que mais “fideliza” a sua base, isto é, a ideologia; assim, ele é forte candidato à reeleição, o que é uma péssima notícia para todos os brasileiros.

  • LULIZAÇÃO DE BOLSONARO?

    LULIZAÇÃO DE BOLSONARO?

    A comparação entre Lula e Bolsonaro não é nenhuma novidade no debate político nacional. É que Lula e Bolsonaro são as mais carismáticas lideranças políticas da história recente brasileira. Nos últimos 20 anos, somente Lula e Bolsonaro tiveram um “ismo” pra chamar de seu.

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

    Lula e Bolsonaro são muito diferentes.

    Lula nunca atentou contra as instituições da República. Lula foi condenado pela justiça em processo flagrantemente manipulado. Ficou preso mais de ano. Viu a família ser devassada. Mesmo assim, em nenhum momento, jogou sua militância contra o Poder Judiciário. Lula se submeteu a todos os ritos do direito penal, mesmo sabendo que estava sendo injustiçado.

    Já Bolsonaro, até bem pouco tempo atrás, dia sim e dia também vinha a público ameaçar a nação com golpe de Estado, atiçando sua malta raivosa contra nossa democracia.

    Lula só ganhou seu ismo depois de governar e conseguir construir aquilo que de mais próximo chegamos de um Estado de Bem Estar Social. Bolsonaro virou mito antes de subir a rampa do Planalto, alimentado tão somente pelo ódio coletivo à política institucional e pelos preconceitos que fazem do brasileiro médio um dos piores tipos sociais do mundo.

    Entre Lula e Bolsonaro, a comparação, se possível, se dá muito mais pelas diferenças do que pelas semelhanças.

    Mas de uns dias pra cá, parece que o próprio Bolsonaro vem se inspirando em Lula. Talvez ainda seja cedo para dizer que se trata de tendência, mas a novidade na crônica política é a aparente lulização de Bolsonaro.

    Junho de 2005, Roberto Jefferson (ó ele aí, minha gente!) denuncia o mensalão, esquema de compra de apoio parlamentar no varejo, que estaria sendo organizado a partir do gabinete do presidente da República. O governo quase acabou ali. Perdeu José Dirceu, cotado na época para ser o sucessor de Lula.

    Para sobreviver, Lula precisou se aproximar do PMDB, entregar três ou quatro ministérios gordos, de porteira fechada. Pouca gente lembra que a tão mal falada aliança entre o PT e o PMDB não foi projeto original. O PMDB disputou as eleições de 2002 com candidatura própria. A aliança foi produto das circunstâncias. Questão de sobrevivência mesmo.

    A esquerda raiz, mais ideológica, nem precisou da crise do mensalão e da aliança com o PMDB pra pular fora. Bastou a real politik, a realidade de ser governo, para os “companheiros” se desencantarem. Nasceu assim o PSOL, em junho de 2004.

    Poucas coisas são mais melancólicas, e caricatas, do que o militante de esquerda desencantado.

    Lula, sabido que só ele, fez dos limões uma limonada. Furou a bolha, ampliou sua base de apoio social. Depois do mensalão, Lula se tornou, de fato, líder popular. Catapultado pelo Bolsa Família e pela política de valorização do salário mínimo, Lula, finalmente, conquistou o subproletariado, que historicamente rejeitava o PT.

    Lula passaria a ser odiado pela esquerda ideológica e amado pelo povo. Foi bom negócio. A esquerda entende pouco de povo.

    Talvez esteja acontecendo algo semelhante com Bolsonaro neste exato momento. Por um capricho do destino, 15 anos depois, também em mês de junho, Bolsonaro viu a porca torcer o rabo. A prisão de Fabrício Queirós foi para Bolsonaro o que o mensalão foi para Lula. A diferença é que o mensalão era esquema de governabilidade, enquanto Queiros é o fio solto de esqueminhas de corrupção de baixo clero que enriqueceram o clã Bolsonaro.

    A solução encontrada por Bolsonaro está sendo semelhante à de Lula. Não duvido que Bolsonaro, que de burro tem nada não, esteja deliberadamente se inspirando em Lula.

    Aproximou-se do Centrão, se afastou dos aliados mais ideológicos e está investindo em políticas redistributivas, descobrindo como é gostoso, e importante, ser amado pelo povão. Depois das caneladas iniciais, o auxílio emergencial é um sucesso. Povão tá feliz da vida. A economia varejista nas regiões periféricas nunca viu tanto dinheiro circulando. Uma festa. Não consigo deixar de ficar um pouquinho feliz com isso.

    Meio que obrigado pela pandemia, contra a vontade, Bolsonaro está colocando os pobres no orçamento.

    Bolsonaro está tentando furar a bolha. A classe média bolsonarista raiz começa a fazer movimentos de desembarque.

    À direita e à esquerda, as bolhas são mimadas, agressivas quando contrariadas. Costumam investir todas as suas energias na destruição dos “traidores”.

    Com Lula, já sabemos o que aconteceu: terminou dois mandatos com alto índice de aprovação popular e ainda elegeu a sucessora.

    Bolsonaro conseguirá fazer o mesmo? Será capaz de se tornar presidente, deixando de se comportar como agitador fascista? Deixará de lado os devaneios revolucionários para se tornar um conservador no sentido estrito do termo?

    Para isso, terá que romper com o bolsonarismo, o que envolve abandonar Paulo Guedes, o mais bolsonarista dos ministros da esplanada. O bolsonarismo é organicamente neoliberal. Sua utopia é a sociedade pré-moderna, clânica, onde a casa é grande e o Estado é mínimo. A casa é grande exatamente porque o Estado é mínimo. E vice-versa.

    O neoliberalismo radical de Gudes só sobrevive no bolsonarismo.

    Tá aí a escolha que Bolsonaro terá que fazer. Pra sobreviver, precisará abandonar o bolsonarismo e ser um tantinho lulista, fazendo a tal comparação ter algum sentido.

    Se tomar o lugar de Lula como encarnação do Estado provedor de direitos sociais, Bolsonaro deixará de ser apenas o representante do ódio, do caos, para se tonar líder popular.

    Bolsonaro é carismático, comunica bem com o povão. Conseguindo se reinventar, fica imbatível. Insistindo no radicalismo ideológico, não termina o mandato.

    Enquanto isso, a esquerda, assistindo da arquibancada o jogo ser jogado, se vê diante de um dilema existencial: torcer para que Bolsonaro continue sendo o agitador fascista, o que na prática significa torcer contra a própria democracia e contra o bem-estar da população mais pobre. Ou torcer para que Bolsonaro se acomode às instituições da República e, finalmente, trabalhe para o bem do povo, o que significaria ostracismo político que duraria pelo menos uma década.

    A ver se Bolsonaro luliza de fato, acontecendo, nos sobrará pelo menos o triunfo estético. Lula é muito mais bonito que Bolsonaro. Quem guenta com aquelas covinhas que se formam nas bochechas quando o rosto todo sorrir?

  • O MELANCÓLICO FIM DA LAVA JATO

    O MELANCÓLICO FIM DA LAVA JATO

     

    ARTIGO

    Ângela Carrato, jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG

    Depois de embalar o sonho das “pessoas de bem”, que vestiram verde e amarelo e foram às ruas apoiar o pretenso combate à corrupção, o fim da Operação Lava Jato está próximo e não poderia ser dos mais melancólicos.
    Tudo indica que ela será substituída pela criação da Unidade Nacional Anticorrupção (Unac) por parte do Ministério Público Federal. A Unac, se realmente prosperar, terá sede em Brasília e concentrará ações atualmente dispersas entre as unidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. A proposta é do próprio procurador-geral da República, Augusto Aras que, diferentemente dos seus antecessores, foi escolhido pelo presidente Bolsonaro sem levar em conta a lista tríplice elaborada pela categoria.
    A decisão de Aras é uma das consequências práticas da guerra que passou a ser travada entre bolsonaristas e lava-jatistas, após a demissão de Sérgio Moro do Ministério da Justiça. Moro, que foi conivente com parte dos abusos cometidos pelo governo enquanto esteve no poder, saiu atirando e acusando Bolsonaro de “tentar interferir politicamente na Polícia Federal”.
    Um dos principais beneficiados pela Lava Jato, Bolsonaro, que dificilmente teria sido eleito se não fosse a criminalização e o ódio ao PT que ela disseminou, viu na atitude de Moro uma forma de atingir seu governo, mas, principalmente, de se cacifar para a disputa presidencial em 2022. É importante lembrar que o apoio de Moro junto à opinião pública, no momento em que deixou o governo, era significativamente superior ao do próprio Bolsonaro.
    Os partidos de oposição, por sua vez, há muito denunciam os desmandos da Lava Jato
    e como ela, em seis anos de existência, tem cometido todo tipo de ilegalidade. Além de grampear os telefones dos advogados que defendem o ex-presidente Lula nos processo do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia, os advogados Cristiano Zanin e Valeska Teixeira Martins lembram que o próprio Lula foi condenado sem provas e por “atos indeterminados”.

    Vale dizer: depois de anos revirando a vida e quebrando todos os sigilos bancários, fiscal e telefônico do ex-presidente Lula, de sua família e amigos, não foi encontrado nada que pudesse incriminá-lo.
    Às denúncias dos advogados de Lula vieram se somar, em meados do ano passado, a série de vazamentos publicados pelo site The Intercept BR. Eles mostraram conversas dos procuradores que atuam na Lava Jato, em Curitiba, trazendo à tona muito do seu modus operandi. A série, que ficou conhecida como #VazaJato, mostrou, por exemplo, que Moro não atuou apenas como juiz, mas como auxiliar da própria acusação.
    Caía por terra o discurso de “juiz imparcial” sob o qual Moro sempre tentou se acobertar. Os vazamentos deixaram visível também a perigosa proximidade entre os lava-jatistas e integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). Quem se lembra de um exultante procurador chefe em Curitiba, Deltan Dallagnol em conversa com Moro, assegurando “In Fux we trust”? Fux, no caso, é o ministro Luiz Fux.
    As denúncias da #VazaJato correram mundo e foram destaque nos principais jornais da Europa e dos Estados Unidos, contrastando com o silêncio que sobre elas reinou na mídia brasileira. Silêncio explicado pelo fato da mídia local ter se valido das cinematográficas operações da Lava Jato para disseminar o ódio ao PT, patrocinar o golpe contra a presidente Dilma Rousseff (impeachment sem crime de responsabilidade é o que?), prender e impedir Lula de disputar as eleições de 2018, abrindo espaço para a vitória de Bolsonaro e suas políticas antipopulares, antinacionais e de submissão aos interesses dos Estados Unidos.
    Na semana passada (1/7), nova reportagem do The Intercept BR, em parceria com a agência de jornalismo investigativo Pública, mostrou algo ainda mais grave e que veio confirmar denúncias que pairavam sobre a Lava Jato: a interferência de agentes do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e do próprio FBI, polícia e serviço de inteligência daquele país, em suas ações.
    Quem se lembra que um dos policiais que escoltou Lula, quando ele saiu da prisão para ir ao enterro do seu neto, usava adesivo que não era da Polícia Federal?

    As novas revelações do The Intercept BR/Pública mostram uma parceria “informal” entre Lava Jato e autoridades estadunidenses que, exatamente por ter se dado de maneira  informal, é ilegal. Se o compromisso da Lava Jato fosse realmente combater a corrupção e não atender aos interesses de setores dos Estados Unidos (deep State?), bastaria ter se pautado pelos canais legais. Desde 2001, com o decreto 3.810, Brasil e Estados Unidos firmaram acordo prevendo procedimento escrito e formal, intermediado por órgãos específicos de lado a lado.
    Em outras palavras, mais do que uma operação anticorrupção, como sempre tentou se mostrar, a Lava Jato começa a ter sua verdadeira face desenhada. Ela é parte do kit da “guerra híbrida” adotado pelos Estados Unidos para intervir na política e na vida de países. No caso brasileiro, as razões são muitas. Desde o início dos anos 2000, estudos apontavam que o Brasil tinha tudo para, em menos de duas décadas, se transformar em potência mundial.
    Esses estudos, claro, incomodaram a grande potência mundial e potência maior do hemisfério, mas acabaram sendo deixados de lado em função dos ataques terroristas às torres gêmeas, em 2001. Nesse meio tempo, assumiu o poder no Brasil e também na maioria dos países da América do Sul, governos populares que buscaram o desenvolvimento de suas economias e parcerias no cenário internacional.
    O Mercosul foi fortalecido, a Unasul foi criada e o Brasil esteve à frente do surgimento do BRICS e passou a integrá-lo, juntamente com Rússia, Índia, China e África do Sul.
    Como se isso não bastasse, o Brasil anunciou em 2007 a descoberta do pré-sal e em 2014, apesar da pesada campanha da mídia para derrotar o PT, Dilma Rousseff consegue se reeleger, com a agremiação dando início ao seu quarto mandato à frente da presidência da República.
    Para alguns, tudo isso não passa de “teoria da conspiração”, mas se os fatos forem observados, coincidentemente as ações da Lava Jato apontam para a desorganização e estabelecimento do caos na economia brasileira e para a criminalização de governos que possibilitaram inúmeros avanços ao país.

    Outro efeito prático da Lava Jato foi, sob o argumento de “combate à corrupção”, levar empresas brasileira como a construtora Odebrecht praticamente à falência, obrigada a demitir mais de 230 mil funcionários. Já a Petrobras, além da campanha de desmoralização a que foi submetida, teve que pagar multas milionárias para acionistas
    nos Estados Unidos.
    Em 2014, os serviços de inteligência dos Estados Unidos já tinham sido pegos com a boca na botija, espionando a então presidente Dilma e os contratos para exploração do pré-sal que estavam sendo preparados pela Petrobras. O então presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, nunca negou as espionagens e, até onde se sabe, não pediu desculpas pela ação dos serviços de inteligência. Essa história, em detalhes, está registrada no documentário do diretor estadunidense Oliver Stone, intitulado Snowden. O documentário está disponível na Netflix.
    Vale observar ainda que operações semelhantes à Lava Jato (ou mesmo seus desdobramentos) tiveram lugar na América do Sul, redundando em desorganização da economia desses países, criminalização de governantes populares, eleição de governos neoliberais ou mesmo em golpes de Estado, sempre sob o argumento do “combate à
    corrupção”.
    Voltando a Moro e Dallagnol, nesses seis anos de Operação Lava Jato, eles passaram de figuras inexpressivas a estrelas do noticiário da mídia brasileira (TV Globo à frente). Só que agora estão às voltas para explicar o inexplicável.
    Como se aliaram a integrantes do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e a agentes do FBI contra empresas brasileiras? Como incriminaram e condenaram, sem provas, o ex-presidente Lula? Como agiram de maneira nitidamente partidária, uma vez que as condenações recaíram quase que exclusivamente sobre o PT e aliados, deixando de fora notórios corruptos do PSDB?
    Apesar dessas questões já serem levantadas pelos advogados de Lula antes mesmo dele passar 580 dias na prisão, só agora ganharam ressonância.
    Por mais de seis anos – março de 2014 é considerado o seu começo – a Operação Lava Jato mandou e desmandou no Brasil. Além do “combate à  corrupção” ter sido transformado pela direita e pela mídia corporativa em problema número 1 do país, em nenhum dos Poderes houve quem se dispusesse a enfrentá-la.
    A presidente Dilma Rousseff, com sua postura republicana, jamais interferiu ou tentou interferir nessas ações. No Congresso Nacional, a maioria dos integrantes, mais preocupada com as eleições que aconteceriam em poucos meses, não deu atenção ao
    assunto e, pelo lado do Judiciário, tudo parecia certo.
    Só que não.
    As operações que tiveram início com a prisão, pela Polícia Federal, de um dono de posto de gasolina em Brasília (daí o nome Lava Jato) onde havia uma casa de câmbio utilizada para evadir divisas do país, rapidamente levou o Ministério Público Federal em Curitiba a criar uma equipe de procuradores para atuar no caso, sob o argumento de que já investigava um dos doleiros (Albert Youssef) envolvidos em transações com o dono do posto de gasolina.
    Numa história que ainda precisa ser devidamente esclarecida, uma investigação que deveria ter ficado em Brasília foi parar na capital do Paraná. Mais ainda: a descoberta de que Yousseff havia dado de presente uma Land Rover para um ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, jogou a empresa no olho do furacão.
    Num passe de mágica, os procuradores em Curitiba, chefiados por Dallagnol, começaram a buscar, de todas as formas, um elo entre a corrupção de diretores da Petrobras e o ex-presidente Lula. Nenhum outro presidente lhes pareceu suspeito. Moro, aliás, foi contra investigar Fernando Henrique Cardoso, para não “melindrar apoio importante”.
    Um mês e pouco depois, a operação já contava 30 pessoas presas e 46 indiciadas pelos crimes de formação de organização criminosa, crimes contra o sistema financeiro nacional, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Nas 71 operações acontecidas desde então, mais de 100 pessoas foram presas e quase o mesmo número condenadas.
    Os processos contra os acusados, o tempo em que ficavam presos sem julgamento, as
    condições em que eram mantidos encarcerados, nada disso parecia importar para a Justiça brasileira e muito menos para a mídia. Enquanto isso, vazamentos, cujo timing
    político era nitidamente calculado, foram fundamentais para impedir, em março de 2016, que Lula se tornasse chefe da Casa Civil de Dilma, e, em 2018, contribuíram para torpedear a candidatura do petista Fernando Haddad à presidência da República.
    Ninguém, obviamente, é contra o combate à corrupção. Mas o que chama atenção é que a Lava Jato não combateu a corrupção. O que ela combateu foi o PT, a democracia, as principais empresas brasileiras e a soberania do país. Uma das primeiras medidas econômicas aprovadas pelo Congresso Nacional, depois do golpe contra Dilma e da posse do ilegítimo Michel Temer, foi um projeto do senador tucano José Serra (SP), alterando a legislação sobre o pré-sal brasileiro, a fim de beneficiar as empresas multinacionais.
    Para complicar ainda mais essa história, que em muitos aspectos se assemelha a um triller de cinema, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki, morre, em janeiro de 2017, num acidente de avião. Teori era o relator da Lava Jato na Suprema Corte e estava às vésperas de retirar o sigilo de cerca de 900 depoimentos e homologar as 77 delações da Odebrecht. Ele vinha publicamente fazendo censuras à atuação do juiz Moro e da própria Lava Lato.
    Sua família nunca acreditou no resultado da perícia sobre o acidente.
    Depois da morte de Teori, opera-se uma curiosa coincidência. Todas as pessoas chave na Lava Jato, sejam seus integrantes, sejam aqueles, em instâncias superiores, que vão julgar os atos de seus integrantes, passam a ser de Curitiba ou vinculados a Curitiba: Moro, o desembargador do TRF-4, João Pedro Gebran Neto, o ministro do STJ, Félix Fischer, e o ministro que ocupa a relatoria da Lava Jato no STF após a morte de Teori, Edson Fachin.
    Fazendo um corte para os dias atuais, o destino da Lava Jato, mesmo com todas as suas ilegalidades, poderia ter sido outro se não fosse a ambição de Moro. Ao querer incluir em seu currículo além do cargo de ministro da Justiça (negociado com Bolsonaro ainda na campanha eleitoral) uma vaga no STF ou mesmo a presidência da República, entrou em rota de colisão com Bolsonaro.

    O problema para Bolsonaro é que Moro acabou se transformando em “queridinho” de parte da direita brasileira (Globo à frente) e, segundo o sociólogo português, Boaventura de Souza Santos, em candidato dos Estados Unidos à presidência do Brasil, a pessoa ideal para manter o país atrelado aos interesses do Tio Sam. Bolsonaro e Moro estão, assim, disputando num mesmo campo.
    É importante lembrar também que figuras como o ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacha Duran, que, há mais de três anos, vem tentando fazer delação premiada contra Moro, parece que finalmente conseguirá. Entre outras coisas, Duran tem dito dispor de provas da existência de vendas de sentenças por parte da “República de Curitiba” e de propina ligando essas sentenças, as delações premiadas e advogados amigos de Moro.
    Os integrantes da Lava Jato, obviamente, não estão dispostos a aceitar seu fim
    passivamente. Na última quinta-feira (2/7), numa tentativa de mostrar serviço, a Lava Jato, que andava meio sumida, reapareceu fazendo uma operação de busca e apreensão na casa do tucano José Serra. Há pelo menos dez anos que as denúncias contra Serra são conhecidas e não deixa de ser esquisito só agora a turma de Curitiba, através do braço de São Paulo, ter resolvido agir.
    A explicação mais plausível parece ser a de que a Lava Jato, a fim de tirar o foco das denúncias de que vem sendo alvo, usou essa operação como manobra diversionista. Diante da ameaça de extinção, nada melhor do que uma ação em cima de um notório
    corrupto que sempre esteve acima da lei, para tentar se mostrar imparcial.
    Outra prova de que a turma da Lava Jato está se sentindo acuada foi o adiamento do
    julgamento de Dallagnol no Conselho do Ministério Público, pelo Power Point contra Lula. Marcado para amanhã (7/7), última sessão antes das férias do meio de ano, o adiamento surpreendeu alguns conselheiros e foi interpretado como medo de derrota,
    especialmente diante das recentes revelações da #Vazajato.
    Se as previsões do ministro do STF, Gilmar Mendes, estiverem corretas, em setembro os dois processos impetrados pela defesa de Lula arguindo a suspeição de Moro para julgá-lo serão analisados. Some-se a isso que a Comissão de Direitos Humanos da ONU já tem em seu poder a documentação envolvendo o julgamento e as condenações, sem provas, de Lula.
    Pelo “conjunto da obra” e por razões diferentes, o fim da Lava Jato está próximo e aqueles que se orgulharam de ter vestido verde e amarelo e ido às ruas apoiar seus “heróis” vão começar a ter vergonha.
    Fizeram papel de bobos.