Por Maria Carolina Trevisan, especial para os Jornalistas Livres
Na manhã desta sexta-feira (4/3), o juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato, em atitude contrária aos princípios do devido processo legal, obrigou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a prestar depoimento sob “condução coercitiva”. Agiu como um justiceiro, à revelia do que propõe um Estado Democrático de Direito. A atitude foi desnecessária e leviana. Lula declarou que falaria se tivesse sido convocado, como o fez outras vezes. Para conduzi-lo coercitivamente, o ex-presidente teria de haver recusado duas vezes o convite para depor, mas não houve nem a primeira intimação.
Paulo Sérgio Pinheiro é presidente da comissão independente internacional da ONU de investigação sobre a República Árabe da Síria, em Genebra. Professor Titular de Ciência Política e pesquisador associado ao Núcleo de Estudos da Violência, da Universidade de São Paulo, nunca foi petista. | Foto: Jean-Marc Ferre/ UN
O depoimento de Lula nada trouxe de novo às investigações. Porém, a atitude do juiz fez borbulhar ainda mais a raiva – cada vez menos contida – de defensores da direita, o que provocou reações também violentas de militantes petistas. Na roda gigante que move as discussões políticas no Brasil hoje, estamos na iminência de uma guerra. O que se viu ontem no Aeroporto de Congonhas e diante da casa de Lula nas horas que antecederam a fala do ex-presidente, é um aviso de que o próximo capítulo, previsto para o dia 13 deste mês, pode ter ainda mais violência.
Nesse perigoso jogo, Moro sucumbiu ao espetáculo. Vaidoso, submeteu-se e foi ator central na escalada de “revelações” capitaneadas pelo “Jornal Nacional” em parceria com a revista IstoÉ. Na balança da ética jornalística, sabe-se que para publicar vazamentos é também necessário apurar as acusações descritas. Não bastam supostas delações. As declarações de uma única fonte não servem como atestados de verdade absoluta.
A atitude arbitrária do juiz, com reforço da mídia, acabou por expor a própria população a um limbo em que não se reconhece nem a Justiça e nem a verdade (que seria o propósito da fase de investigações apelidada de “aletheia”, ou “busca da verdade”, na versão heidggeriana da palavra). E daí para aprofundar as vertentes fascistas da nossa elite, não falta nada. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), que também é advogado, acompanhou o testemunho do ex-presidente e classificou a condução coercitiva como “um baú de ilegalidades”.
Junte-se a isso o fato de que levar Lula para depor no Aeroporto de Congonhas remete inevitavelmente à atitude de militares golpistas que conduziram familiares de Getúlio Vargas a depor, em 1954, no Aeroporto do Galeão, dias antes de seu suicídio.
“Temos hoje a República de Congonhas, da Polícia Federal e do Ministério Público. Com exibicionismo atrabiliário, Moro se equivocou sesquipedalmente, justamente por fazer um bis da coreografia da República do Galeão”, afirma Paulo Sergio Pinheiro, cientista político, membro da Comissão Nacional da Verdade e ex-secretário de Estado de Direitos Humanos no governo FHC. “Não há nenhuma defesa que caiba para essa decisão desnecessária e autoritária do juiz Moro. Com a desculpa de evitar confrontos, estimulou tumultos e brigas”, completa Pinheiro.
Tumulto em Congonhas | Foto: Mídia Ninja
Não cabe aos Jornalistas Livres defender Lula, como supuseram alguns leitores no decorrer do dia de ontem. Nosso papel é defender a democracia e mostrar também a versão que poucas vezes tem atenção dos jornalões e das TVs: compreender os fatos desde o ponto de vista do povo, dos trabalhadores, daqueles que historicamente são os mais oprimidos no país. Também faz parte da nossa responsabilidade como jornalistas traduzir o caminhar de uma operação do tamanho da Lava Jato. Porque o perigo para a democracia pode não aparentar monstruoso. Vem travestido de sensato, fundamentado no combate à corrupção, como um “heroi” que salva a pátria amada.
No golpe moderno, a onda que reforça o fascismo que vive na sociedade brasileira à espreita de uma brecha parece vestir terno e camisa – pretos – e dispor da gigantesca máquina midiática. Está onde não se enxerga: no “jornalismo” e na “Justiça”. “Todos esperam ver um monstro ou uma criatura do inferno, mas na verdade veem um banal burocrata da morte cujas personalidade e atividade são testemunhos de uma extraordinária normalidade e até de um elevado senso de dever moral”, escreveu Leonidas Donskis no livro “A Cegueira Moral”, de sua autoria e do sociólogo Zygmunt Bauman.
É hora da resistência e defesa da democracia se levantarem fortemente. “Nesta sexta vimos um grande passo para um golpe final contra a democracia no Brasil. Portanto, a resistência democrática precisa agir rápido, se manifestar no Brasil inteiro, formar uma corrente em defesa do Estado Democrático de Direito e fazer respeitar a eleição”, alertou o deputado Jamil Murad (PCdoB), que acompanhou a ação no aeroporto de Congonhas desde o início. “Aqui não é 1964, não. Precisamos impedir o golpe.” Ou, como orientou o ex-presidente Lula, eleito com mais de 58 milhões de votos (no segundo turno de 2006), “é preciso recomeçar”.
O Instituto Lula amanheceu cercado por homens em trajes camuflados. Fantasiaram-se, com trajes militares de guerra, policiais designados para exercer coação física sobre um ex-presidente pacífico e democraticamente eleito duas vezes. Onde já se viu isso? Quem assistiu aos golpes militares da década de 70 na América Latina, compreende o significado tétrico dessa indumentária. Ela foi escolhida para conferir certo simbolismo ao ato e intimidar qualquer resistência. Ou seja, para infundir terror psicológico e paralisar possíveis oponentes, em especial a militância do PT. E também para expressar a fantasia da parte fascista da classe média, com seus vivas à PM e seus pedidos histéricos de golpe militar.
O uniforme camuflado é certamente um ultraje à democracia, mas em verdade um traje a rigor para o tão almejado grand finale, expressão adotada ontem em uma análise da Folha/UOL. Este grand finale seria o tiro de misericórdia na incipiente democracia social que o Brasil viveu na última década. Por isso, vale a pena ver como alguns “erros” da justiça e da polícia aplainaram o terreno para essa apoteose.
Foram três “erros” muito instrutivos sobre como se dá a investigação em torno de Lula e como se vem preparando isso que foi desencadeado agora, sua condução coercitiva para depor na PF. O primeiro desses ‘erros’, em 10 de fevereiro, foi a divulgação de um despacho sigiloso do juiz Sérgio Moro. Eis o resumo da ópera em matéria do UOL de 10 de fevereiro:
O despacho do juiz Sérgio Moro que autorizou a Polícia Federal (PF) a instaurar um inquérito para apurar se empresas investigadas na Operação Lava Jato pagaram por obras de melhorias em um sítio frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi publicado ontem (9) “inadvertidamente” no site do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, por um equívoco do Poder Judiciário.
Pois bem. Pagamos o judiciário mais caro do mundo, para que em questões extremamente delicadas, que podem implicar sérias consequências para o país na avaliação internacional, se façam ações “inadvertidas” e se cometam “equívocos” –sempre em prejuízo de uma mesma parte?
O segundo erro foi grotesco, no nível mais policialesco que se possa conceber, e aconteceu em 1º de março. Foi a determinação do promotor Cássio Conserino, do MP de São Paulo, de que Lula e sua esposa deveriam depor e que
“em caso de não comparecimento importará na tomada de medidas legais cabíveis, inclusive condução coercitiva pela Polícia Civil e Militar nos termos das normas acima referidas”.
Logo em seguida, como se não fosse mais que um cisco nos olhos da Opinião Pública, como se esse carnaval não rebaixasse uma instituição essencial nos regimes democráticos, o Ministério Público, o promotor Cássio Conserino informou ao Jornal Nacional que cometera um erro. Um mero e banal erro. Que Lula e Marisa não seriam obrigados a depor. É evidente que, diante de um “erro” desse e da sua gravidade, em muitas partes do mundo, esse procurador seria afastado. Mas nada aconteceu, prova de que ele nada a favor de uma corrente de cumplicidade estabelecida no Judiciário brasileiro.
O uso de uma instituição judicial para fins que são alheios a ela, para autopromoção, para perseguição, para uma guerrilha que mancha a imagem do inimigo e serve à sua desmoralização, não pode ser conduta acertada.
Mas o que fez o Ministério Público Federal agora, quando, sem motivo algum que o justificasse, ordenou que Lula fosse conduzido à força para depor três dias depois, isto é, hoje? Esse gesto não guarda ares de uma vingança contra a afirmação de Lula, três dias atrás, quando disse que não deporia no MP de São Paulo? A proximidade temporal entre os dois eventos não deixa sérias dúvidas no ar?
O terceiro “erro” foi em relação ao Instituto Lula, que tem sido o porta-voz, o único, a rebater dia após dia, hora após hora, a enxurrada de calúnias que se derrama sobre o ex-presidente. A partir da “análise” de uma planilha feita por Marcelo Odebrecht chegava-se a curiosas “hipóteses investigativas”:
Entre os “usos” estão a anotação “Prédio (IL)” e o número 12.422.000, provável referência a R$ 12,4 milhões, segundo a PF. Os policiais apontaram que “não foram encontradas menções a tal sigla” no aparelho celular periciado de Marcelo Odebrecht, mas “pode ser uma alusão ao Instituto Lula”.
Pois bem. A dedução sherlockiana foi de que a Odebrecht poderia ter doado R$ 12,4 milhões para a construção do prédio em que funciona o Instituto Lula. Está na Operação Acarajé, de 23 de fevereiro. Ocorre, como veio a ser esclarecido, que se trata neste caso também de um erro. Que o Instituto Lula não ocupa um prédio, mas um casarão. E que este não foi construído agora, mas há muito tempo.
Cada um desses erros serviu a um belo carnaval na mídia, desorientou a opinião pública, e distribuiu interrogações levianas em torno da figura de Lula. O único traço real em tudo isso é a cumplicidade convergente das instituições da Justiça, da Polícia Federal e da mídia para produzirem os fatos. E, desses fatos que devem ser produzidos doa a quem doer, o mais importante, o que se consagrará como o grand finale, é a prisão de Lula.
A Operação Aletheia quer ser o grand finale da Lava Jato. Mas o surpreendente ainda é ver que a delação de Delcídio do Amaral, vazada ontem pela revista IstoÉ, é apresentada como o pivot da Operação, ao menos é o que nos conta o jornalista Leandro Mazzini em sua coluna ao tratar da “Operação Lula” (Janot faz reunião de emergência com núcleo da Lava Jato). Será que, por não ter encontrado nada consistente em 24 meses de investigações, o desespero levou a conceder crédito às revelações de um indivíduo que há poucas semanas era execrado pelo país inteiro? Estaremos diante de uma nova forma de vida híbrida, nascida da Lava Jato e dos laboratórios das delações premiadas, o “vilão imaculado”?
Ele foi chamado de delinquente, mentiroso, bandido, desclassificado, corrupto, chantagista etc., logo após a sua prisão em 25 de novembro. Hoje Delcídio se vê reabilitado, as homes voltam a estampar suas melhores fotos, com seus melhores ternos, como se um banho de Lava Jato pudesse deixar sua alma brilhante e engomada num piscar de olhos. Da mesma forma, como ontem o UOL jogou na home uma foto do vice-presidente Michel Temer, já em pose presidencial. Ora, mesmo num país habituado à cretinice, sabe-se que não se pode jogar baldes de excremento na cabeça de um Delcídio num dia e fazer dele testemunha limpa e confiável, no outro. Isso seria confessar que o desespero é quem dá as cartas agora.
Imagine-se que absurdo não seria se, algum dia, uma versão da história brasileira desse período começasse assim: “Quando ficou claro o ridículo das acusações sobre o barquinho que custou R$ R$ 4.126.00, adquirido em 24 prestações, sobre o tríplex de 200 m2, que nunca foi comprado, sobre o sítio de propriedade de terceiros, começou uma luta com regras inteiramente alheias à sensatez judicial. A questão não era mais ‘Lula é culpado ou não?’ mas sim outra bem diversa: ‘Lula pensa que pode ser mais esperto que a gente? Um torneiro mecânico? Ele vai ver só’. Parecia que algumas instituições do país, entre as quais a mídia, entendiam participar de uma briga de gangues. Nenhum golpe era tido por proibido ou impróprio ao decoro. Cometer erros, atos inadvertidos, inadvertências, equívocos, era só a ponta desse iceberg. Havia ainda os ‘vazamentos’.”
Pois é. Os vazamentos, que vieram crescendo em intensidade nos últimos dias, e ontem, com a delação escorrida nas páginas da revista IstoÉ, ultrapassaram todas as medidas. Este vazamento, pelo teor de sua fonte, as confissões da figura mais desonrada da República, o senador Delcídio do Amaral, era para ser objeto de gargalhadas. No entanto, como dizem duas notas do jornalista Leandro Mazzini em sua coluna no UOL, levou o Procurador Geral, Rodrigo Janot, a uma reunião noturna.
Janot tem em mãos há mais de uma semana o conteúdo bombástico da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS). O vazamento à imprensa ontem pode acelerar nova fase da operação.
Não é engraçado? O vazamento sai da justiça para a mídia, ou seja, de algum cano furado na PF ou no MPF para a torneira da revista IstoÉ. A mídia agradece e publica e, assim, “o vazamento à imprensa” acelera a nova fase da operação pelo MPF. Os dados sigilosos são ofertados graciosamente para serem violados. A violação do que deve ser preservado, ao invés de impugnar o conteúdo, faz acelerar o seu uso. Nunca ouvi falar de um inquérito administrativo (deve existir, mas nunca vi na imprensa suas conclusões e os nomes dos punidos) aberto para investigar vazamentos. Como é assunto que pode render muito dinheiro para quem sai na frente nas bancas, não é impossível que um vazamento seja bem remunerado. Razão a mais para ser investigado. Mas não. O vazamento se tornou estimulo para “acelerar” a tomada de decisões da justiça. Não é grotesco?
Nesse redemoinho de audácia crescente, nada é respeitado, nem os elementos culturais e étnicos, nem os riscos econômicos. Batizou-se a 23ª fase da operação como Acarajé. E acarajé, como informou uma matéria da Folha, passou a significar “dinheiro de propina”. Não importando se é um símbolo da cultura brasileira, reconhecido pela UNESCO, se é bem intangível ou patrimônio imaterial. Acarajé agora é crime. Nada é intangível. Também não importa o tamanho dos prejuízos econômicos que revelações fictícias, vazamentos oportunos e seletivos, venham a produzir.
Ao humilhar um ex-presidente humilha-se na verdade toda a instituição que tem em sua cúpula a presidência, isto é, um dos poderes inteiro, o Executivo. Se num país, um poder pretende se impor sobre todos os demais, o resultado é uma deformação. Desde que as deformidades passam a dar as cartas, todas as regras se decompõem. Um poder só é equilibrado dentro do equilíbrio de poderes. E isso calibra a visão internacional a respeito do país. Ou alguém pensa que enganar a China e os EUA é a mesma coisa que mistificar os setores menos esclarecidas da opinião brasileira? Os parceiros internacionais do Brasil hoje enxergam diante deles uma república desprezível.
Esse foi o ensaio geral para a prisão de Lula, que talvez seja o objeto da 25ª fase da Lava Jato. A alma desse golpe é menos consistente do que um sopro de apagar velinha de aniversário de criança. A situação não é mais nem menos do que as tantas situações de pré-golpe, ainda que com vestimenta mais camuflada, que o país viveu desde os anos 30.
(Acabei de assistir ao vídeo do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que afirma sobre a condução coercitiva de Lula: “Temos os favores feitos pelas empreiteiras, OAS e Odebrecht, um sítio, que nós estamos investigando a propriedade, mas acreditamos até o momento ser do senhor Luiz Inácio, e também temos bem claro que houve pagamentos de benfeitorias no triplex em Guarujá.” Se a motivação foi essa, é pior do que se tivesse sido pautada pela delação de Delcídio, já que essas hipóteses estão envelhecidas e não foram provadas. Se foi isso, foi pura demonstração de força. Ou seja, violência pura. É verdade que o Procurador diz que “Este é o momento de sermos republicanos, não há ninguém isento de investigação no país”. Ora, investigação é uma coisa, condução coercitiva sob constrangimento físico humilhante é outra completamente diferente. Nesse caso, trata-se de praticar uma humilhação ignóbil, não só a Lula e ao PT, mas também aos eleitores de Lula e, o que é pior, à instituição da Justiça, que não pode ser usada para fins que deixem qualquer margem de suspeita de que não são os seus.
O nome Operação Aletheia parece ter sido um perigoso e comprometedor erro. A palavra grega significa desvelamento, revelação, é a noção central do pensamento do filósofo alemão Martin Heidegger. Ele a colocou em circulação e a tornou célebre. Como o mundo dá muitas voltas, uma das ironias da história é que a grande revelação (Aletheia) sobre a vida de Heidegger, foi justamente sobre sua íntima colaboração com o nazismo. Por isso, o gesto de colocar na testa de uma operação policial um nome tão suspeito, talvez diga mais do que era a intenção dos seus promotores. Talvez desvele mais do que esperavam. Ao menos se for verdade que, nas ações que estamos observando, se revela um desejo de destruição das instituições democráticas, engajando-as por uso abusivo numa caçada política sem precedentes.
Bajonas Teixeira de Brito Junior é doutor em Filosofia, professor universitário e escritor.
Na manhã desta sexta-feira (4), por volta das 6h, a Polícia Federal invadiu a casa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em ação da 24ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Aletheia.
O COT (Comando de Operações Táticas) – conhecido como “o BOPE da Polícia Federal” – realizou a “condução coercitiva” de Lula para prestar depoimento. Apesar de fontes confirmarem que o ex-presidente seria levado para as instalações da PF no aeroporto de Congonhas para depor, o local não foi divulgado oficialmente.
Crédito: Jornalistas Livres
8h – Em entrevista para os Jornalistas Livres, Paulinho Vieira, funcionário do Instituto Lula, fala sobre a operação de guerra montada pela PF:
“Estamos aguardando a polícia desde sexta passada, mas não pensaríamos que fosse dessa forma. Parece que eles estão procurando o Pablo Escobar. A gente nunca viu uma ação de busca e apreensão dessa forma”
Assista!
8:30h – CUT do Rio de Janeiro aciona reunião dos movimentos sociais às 15h no auditório do Sindicato dos Bancários (prédio da CUT Rio).
8h40 – Receita Federal entra na casa onde ficam guardados documentos do ex-presidente, local próximo ao Instituto Lula.
Crédito: Jornalistas Livres
8h50 – CUT de São Paulo reúne presidente e secretários. “Nesse momento estamos chamando todo mundo, esteja onde estiver, aqui na CUT para definir uma estratégia, o presidente está chegando, os secretários já chegaram. Assim que decidir vamos falar. O PT está chamado os sindicalistas e dirigentes para a sede, mas antes vamos fazer uma reunião rápida da nossa direção”.
9h– Jandira Feghali (PCdoB) se pronuncia no Facebook:
“Armaram na mesma semana todas as montagens possíveis para fazer o que estão fazendo hoje: a condução coercitiva do ex-Presidente Lula para fazer um depoimento, como se ele tivesse se recusado a depor, como se ele tivesse algum crime, como se tivessem alguma prova, como se a delação do Delcídio (do Amaral) fosse uma verdade, como se de fato o apartamento fosse dele, o sítio fosse dele. A tentativa é fazer aquela imagem dele ser conduzido para destruir a moral dele.
Estou de fato indignada com o que a polícia está fazendo porque não há legalidade, não há provas , não há indício concreto de que Lula tenha feito algum crime.
Não podemos aceitar isso passivamente como se fosse algo tranquilo, vamos fazer a defesa da legalidade e da democracia brasileira.
Presto solidariedade e solidariedade ao presidente lula e deixo a denúncia de que essa armação da mídia, da PF e do judiciário ultrapassou todos os limites possíveis de um estado democrático de direito. Estou expressando minha indignação e minha disposição de luta em um momento como esse.
Estou muito chocada com tudo o que está acontecendo”
9h – Polícia Federal corta a internet do Instituto Lula.
9h30 – Confirmação de Lula no posto da PF em Congonhas. O ex-presidente está sendo ouvido pelo Delegado Luciano Flores de Lima.
9h40 – PT convoca todos os militantes para reunião na Rua Silveira Martins, 132, Sé, SP – Sede do partido em São Paulo. A intenção é definir as ações das próximas aulas. Rui Falcão e diversos dirigentes, deputados participam. Militância ativa na porta.
9h40 – Deputado Luizinho é alvo de violência física no aeroporto de Congonhas
10h06 – O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães falou por telefone aos Jornalistas Livres a respeito do circo armado pela Polícia Federal para levar o ex-presidente Lula, em “condução coercitiva” – termo usado quando alguém é levado à força para um depoimento.
Trechos da entrevista:
“Acredito que o que está acontecendo no País é uma grande mobilização nacional e internacional para destruir o PT e para implantar no País um modelo de economia semelhante ao que já está ocorrendo na Argentina. Isso tem como objetivo as eleições de 2018 e atingir a Presidenta. São manobras ilegais, violentas, um verdadeiro golpe de estado em andamento.
É absolutamente indispensável que a militância vá imediatamente às ruas. Não é uma manobra apenas contra o presidente, mas também contra as conquistas feitas pelos trabalhadores enquanto Lula estava na presidência do Brasil”.
10h08– Rui Falcão se pronuncia ao vivo:
“Companheiros e companheiras, nós estamos fazendo a conclamação à militância para que nesse momento grave em que se monta uma operação política e um espetáculo midiático em torno do Lula e sua família, para que todos os diretórios entrem em vigília para que a gente possa aguardar o desdobramento do depoimento que está sendo feito nesse momento. Em seguida terá direcionamento nacional para todos os militantes. O momento é de reflexão, mobilizações e vigília. E é essa orientação que estamos dando a todos.”
10h28 – Ciro Gomes se pronuncia no Facebook: “Salvo todas as críticas ao PT, o que estão fazendo com Lula é uma verdadeira afronta a toda esquerda brasileira e coloca em risco a democracia. Momento de atenção total!”
10h35 – Confusão em frente à Polícia Federal em Congonhas. Militantes de direita afrontam o ex-presidente Lula e gritam “O PT acabou”; polícia tenta conter. Clima de guerra.
10h40 – Apoiadores do Presidente Lula se manifestam em frente ao Diretório Nacional do PT, na Sé, em São Paulo.
11h00 – PF realiza busca e apreensão no Instituto Lula, levando até celulares das noras.
“O ritmo acelerado dos acontecimentos, justamente no momento em que o requerimento do suscitante encontrava-se concluso à vossa excelência, é mesmo sugestivo de uma concertação. Por que a execução dessas diligências não poderia aguardar 10 dias?”, afirma a defesa na petição.
11h42 – Depoimento de Lula em Congonhas termina. Ex-presidente abraça deputados presentes, assina o depoimento e sairá em minutos.
12h – O vice-líder do PT na Câmara, ex-presidente da OAB-RJ, Wadih Damous (PT-RJ), afirmou que a tal “condução coercitiva” de Lula foi na verdade um sequestro: “O que aconteceu hoje, em São Paulo, essa condução coercitiva nós temos que corrigir: isso não foi condução coercitiva, foi um sequestro perpetrado pela Polícia Federal a mando do juiz da Lava Jato. Condução coercitiva acontece quando alguém intimado a depor perante o juiz não comparece. Lula jamais se negou a depor sequer foi intimado”.
Segundo o parlamentar, o que está em curso é um “golpe de Estado perpetrado pela Justiça”. E acrescentou: “Não nos iludamos: está em curso um golpe de Estado associado aos grandes meios de comunicação“.
12h20 – Clima de conflito no Aeroporto de Congonhas entre militantes da direita e da esquerda
13h – Lula deve fazer pronunciamento no Diretório Nacional do PT, em São Paulo.
14h40 – Lula se pronuncia em discurso firme e emocionante. Jornalistas Livres disponibiliza link ao vivo:
Leia discurso:
“Companheiro Rui Falcão, companheiros deputados, companheiros dirigentes do PT, companheiros advogados, companheiros da imprensa, eu queria começar estranhando que eu não estou vendo o logotipo da Globo aqui [entre os microfones].
Devem ter tirado depois de colocar dois minutos do pedalinho no “Jornal Nacional”…
De qualquer forma eu queria dizer pra vocês que hoje na minha vida é o dia da indignação, dia da falta do respeito democrático, dia do autoritarismo do pessoal do Judiciário, porque seria tão simples ter me convidado para prestar depoimento que eu iria.
Se vocês não sabem esse ano eu já fui prestar três depoimentos. Um inclusive eu estava de férias e fui à Brasília prestar depoimento de seis horas para me fazerem as mesmas perguntas que já haviam feito antes, as mesmas perguntas do Ministério Público, as mesmas perguntas que me fizeram hoje.
Eu não me recusei a ir à Brasília para prestar depoimento e jamais me recusaria a prestar aqui [em São Paulo].
A minha briga com o Ministério Público estadual era porque o procurador já fez um pré-julgamento e se ele já tinha pré-julgado não havia porque eu prestar um depoimento no Ministério Público estadual, entramos com uma liminar e conseguimos com o juiz que eu náo precisaria prestar depoimento.
Mas o Moro não precisaria ter mandado uma coerção da Polícia Federal na minha casa de manhã, na casa dos meus filhos, na casa de companheiros como Paulo, Clara, companheiros do Sindicato. Não precisava. Era só ter convidado.
Antes dele nós já éramos democratas, antes dele nós já fazíamos as coisas corretas nesse País. Porque enquanto muitos deles não faziam nada, a gente estava lutando para que esse País conquistasse a liberdade de expressão, o direito de uma imprensa livre, de candidatura, de direito de greve. Então era só ter comunicado que nós íamos lá.
Lamentavelmente, eles preferiram usar a prepotência, a arrogância, um show e espetáculo de pirotecnia. Porque enquanto os advogados não sabiam de nada, alguns meios de comunicação já sabiam.
Então, é lamentável. É lamentável que uma parcela do poder judiciário brasileiro esteja trabalhando em associação com a imprensa que trabalha em associação com a imprensa.
Antigamente, você tinha a denúncia de um crime, você ia investigar se existia aquele crime para prender o criminoso.
Hoje a primeira coisa que você faz é determinar quem é o criminoso, depois disso você coloca a cara dele na imprensa e depois vai criar os crimes que ele cometeu.
Eu queria falar ao povo brasileiro e a vocês: primeiro para pedir desculpas à Marisa e meus filhos pelo transtorno que eles passaram.
Enquanto nenhum deles que foram na minha casa trabalhavam, com 11 anos a Marisa já era empregada doméstica. E eu acho que ela merecia respeito.
Segundo, não há explicação de terem ido atrás dos meus filhos, a não ser o fato de serem meus filhos. Nenhuma.
Terceiro, eu quero que venha a Clara, porque foram na casa dela antes, pedir desculpas. Porque hoje nesse país ser amigo do Lula parece que virou uma coisa perigosa. É preciso criminalizar o PT, criminalizar o Lula porque esses caras podem querer continuar no governo.
Eu só consigo entender uma explicação, ou seja, porque não há outra coisa para incomodá-los a não ser a gente ter trabalhado todos esses anos para que as pessoas do andar de baixo subisse um degrau na perspectiva de chegar no andar de cima.
O ‘velho’ Frias [Octavio Frias de Oliveira], dono da Folha de S. Paulo, quando era vivo falava assim pra mim: ‘Ô, Lula, você precisa parar de querer subir degrau. Os do andar de cima não vão deixar vocês chegarem ao andar de cima. Não vão. A elite brasileira é muito conservadora. Ela tem complexo de vira-lata. Ela não vai permitir que vocês cresçam. E nós crescemos. Chegamos à presidência.
E nós provamos que os pobres, que eram a razão da desculpa deles para não fazerem nada nesse País… sempre que a gente perguntava diziam ‘não dá pra fazer’, ‘tem muita pobreza’… nós provamos que os pobres não eram os problemas e viraram a solução desse País.
Na hora que nós fizemos os pobres terem acesso à universidade, ao mínimo elementar pra comer, ao emprego, ao benefício como Bolsa Família, Luz para Todos, Pronatec… isso incomodou muita gente!
Pois bem, eu deixei a presidência e achei que tinha cumprido com a minha tarefa. Achei que ao eleger a Dilma eu tinha consagrado a minha vida, porque eu tinha duas teses: presidente bom é aquele que se reelege e “bi” bom é aquele que faz sucessor.
Então eu já me considerava “bi” bom e até “tri” bom quando reelegemos a Dilma. E eles estão desde o dia 26 de outubro de 2014 não permitindo que a Dilma governe esse País.
Eu ouvi um delegado da polícia federal dizer um dia desses, quando indicaram um novo Ministro da Justiça, que eu nem sei quem é, o delegado disse: “Tentar mudar ministro agora é tentar mexer com não sei com quem, porque nós precisamos de autonomia, funcionário e autonomia administrativa.
E eu vou aproveitar esses microfones aqui para dizer, se tem alguém nesse País que precisa de autonomia se chama Presidenta da República, porque ninguém quer que essa mulher governe o País.
Estão cerceando a liberdade dessa mulher de governar esse País.
Minha indignação é pelo fato de 6h terem chegado à minha casa os delegados, muito gentis, não sei se são sempre assim, mas foram muito gentis, pedindo desculpas porque estavam cumprindo a decisão judicial.
E a decisão era do juiz Moro, que poderia ter mandado um comunicado: “Ô, Seu Luiz Inácio, não quer prestar depoimento em Curitiba?”.
Eu gosto de Curitiba, eu poderia ir para Curitiba, avisava o PT pagava uma passagem para eu ir para Curitiba.
Poderia me convidar até em Brasília, eu iria.
Mas eu me senti prisioneiro hoje de manhã. Sinceramente eu já passei por muitas coisas na minha vida, não sou homem de guardar ressentimento e mágoa, mas eu acho que o nosso País não pode continuar assim. Nosso País não pode continuar amedrontado.
Estimule alguém de ganhar um prêmio da rede Globo, um prêmio da revista Veja, um prêmio não sei de quem, e a partir do prêmio tem que ficar prestando conta. Antes dos advogados saberem que o seu cliente vai ser chamado, a imprensa recebe.
Olha, vou dizer uma coisa. Eu sou um homem que acredito em instituições de estado fortes, eu acho que elas são a garantia do estado democrático contra a arrogância e prepotência dos governantes. E vocês sabem que eu briguei para ter um Ministério Público forte.
Vocês sabem que eu cheguei na Presidenta e a primeira coisa que eu fiz foi instituir uma coisa que eu trazia do movimento sindical. Eu vou indicar sempre o primeiro da lista indicado pela corporação. Tem que ser o primeiro reitor, o primeiro procurador. Era tudo o primeiro. Eu adotei isso no Brasil e não me arrependo.
Mas é importante que os procuradores saibam que uma instituição forte tem que ter pessoas muito responsáveis e o cidadão que fez alguma denúncia contra mim ele na verdade, algumas pessoas são cúmplices… uma obedece a orientação da revista “Época”. Quando nós desmentimos a revista “Época” um procurador resolveu fazer o papel da revista e pedir a investigação das minhas palestras.
Eu deixei a presidência como o melhor governante do País. O Brasil era motivo de orgulho. E por isso eu virei um conferencista importante.
Ninguém queria que eu discutisse o sexo dos anjos, ninguém queria que eu discutisse o cosmo. O que as pessoas queriam? Que o Lula falasse das coisas que foram feitas no Brasil. Que milagre que vocês fizeram para aprovar as cotas colocando negros nas universidades? Que milagre que vocês fizeram para aprovar o ProUni? Que milagre que vocês fizeram para aprovar o FIES? Que milagre vocês fizeram para levar energia a 15 milhões de pobres nesse País? Ou seja, que milagre vocês fizeram para aumentar o salário mínimo todos esses anos?
Era isso que as pessoas queriam saber e por isso eu me tornei no conferencista mais caro do mundo junto com Bill Clinton. Aliás, ele foi meu paradigma, ele foi. É importante dizer porque eu falo com orgulho.
Várias empresas que agenciam vários presidentes, Tony Blair, Sarkosy, todo mundo queria me empresariar. E o pessoal do Instituto disse que eu era um produto nacional, “não tem multinacional aqui”, nós é que vamos empresariar vocês. E quanto vai cobrar? Quem é que vai cobrar? É o Clinton? Paga igual o Clinton. Paga quem quiser e contrata quem quiser. E tem mais, pra contratar tem que pagar transporte, tem que pagar assessoria.
Tem que pagar porque não somos pouca coisa, não tenho complexo de gravata. Eu sei o que eu fiz nesse País, eu sei o orgulho e auto-estima desse povo. Engraçado que as pessoas estranham que eu cobro 200 mil dólares, não se preocuparam do Clinton ter vindo aqui e cobrar 1 milhão no mês passado só da CNI.
Os vira-lato batem palma, “nossa, como ele fala bonito! Nem entendo o que ele fala, mas é tão bonito. Falou tão bonito que eu nem entendi”.
Olha, eu lamento. Vocês não imaginam as perguntas sobre as palestras, as perguntas sobre medida provisória. Um delegado de polícia que quer saber o que aconteceu com a medida provisória não tem que perguntar pro Presidente, tem que ir no Congresso Nacional e perguntar para todos os deputados e senadores que votaram favorável, perguntar para todos os delatores das comissões e não para o Lula e a Dilma.
Porque o PT é o último que sabe. Porque a medida provisória vem passando por Ministérios, passando para o Presidente assinar, vai para o Congresso e volta para o Presidente vetar ou sancionar.
E você tem que responder essas coisas, responder pelo acervo do Lula. Poderiam querer do acervo antes de querer me comprometer com todas essas tranqueiras todas. Você sabe o que é alguém sair da presidência com 11 containers sem saber onde por? Você sabem o que é sair com cadeira, papel, tudo o que vocês podem imaginar.
Porque se somar todos os presidentes da história desse País, desde Floriano Peixoto, eu fui o que mais ganhou presentes. Porque viajei mais, trabalhei mais, porque viajei o mundo. Eu tenho até trono da África. O que eu faço com isso? É uma coisa do presidente, mas do domínio público. Eu tenho que tomar conta, mas ninguém me paga. Essas coisas o Ministério Público está preocupado. Eu acho que vocês [Instituto] poderiam oferecer meu acervo. Eles têm um prédio que pode guardar as coisas que eu tenho.
Aquilo não me faz importância, a quantidade de relógio que eu tenho. Eu tenho um relógio aqui de 500, 600 reais, mas não quero um relógio para valorizar meu pulso, eu quero um relógio para valorizar a hora. Quero saber se ele funciona ou não.
Eu, sinceramente, fiquei indignado com esse processo de suspensão. Eu quero dizer, Rui Falcão, para você como presidente do meu partido, que se a Polícia Federal, o Ministério Público ou quem quer que seja encontrar um real de desvio da minha conduta eu não mereço ser desse partido. Agora, eles precisam aprender que eu aprendi a andar de cabeça erguida nesse País não por favor, eu aprendi levantando 3h da manhã para fazer assembleia em porta de fábrica, fazendo comício em ponto de ônibus, vendo companheiro tomar borrachada todo santo dia.
E quero dizer que não vou abaixar a cabeça. O que eles fizeram com o ato de hoje foi que a partir da semana que vem eu quero dizer a CUT, ao PT, ao sem-terra, ao PCdoB, me convidem que eu estarei disposto a andar essa País fazendo a minha pregação.
Ver o País sendo vítima do espetáculo midiático em que coloca como corrupção um barco de 4 mil reais da Dona Marisa. Eu, se pudesse, dava um iate para ela, não um barco de 4 mil. Se preocupando com pedalinho de 2 mil reais que ela comprou para os netos, porque eu estou usando a chácara de um amigo.
Eu uso a dos amigos porque os inimigos não oferecem.
Bem que a Globo poderia me oferecer o triplex de Paraty, poderia me oferecer. Quem tem casa em Nova York, Paris, nunca me ofereceu.
Se oferecesse eu ia. Já se incomodaram em 1994 porque eu morava no apartamento do meu compadre Roberto Teixeira.
Quantas vezes o “Estadão” foi em Monte Alegre saber em 1982 se eu era dono do sítio do Roberto. Foram no cartório de Monte Alegre, no cartório de Amparo, no cartório de Serra Negra.
Isso é puro preconceito.
Todo mundo pode, menos essa merda desse metalúrgico que um dia resolveu desafiá-los e virar presidente da república.
Eles partem do pressuposto que pobre nasceu para comer resto, e eu aprendi que não, eu quero é comer comida boa.
Vocês não imaginam hoje a preocupação com vinho, vinho que eu nunca comprei uma garrafa porque eu ganhei, e vinho que eu não sei diferenciar um miolo gaúcho de um Romanée Conti, não sei diferenciar porque não faz parte do meu gosto. Meus gostos são outros.
Estavam preocupados “e o seu vinho?”, “quem levou o seu vinho?”, eles mesmo que ficaram indignados com meus filhos, quando vão na casa da elite brasileira dizem “nossa, que adega maravilhosa”.
Eu gosto tanto de vinho, estou tão habituado a vinho, que um dia um companheiro meu chamado Marco Aurélio Garcia, me deu uma coisa chamada… como é que chama? Isso, decanter. Eu achava maravilhoso falar “decanter”, então o Marco Aurélio me deu um. Eu cheguei no palácio à noite e colocaram flores, de tanto que eu gosto de vinho.
Então, meus queridos companheiros, eu não estou indignado com os jornalistas.
Eu estou indignado com o comportamento de determinados meios de comunicação, indignado com o julgamento precipitado. Hoje, quem condena as pessoas são as manchetes, hoje amedrontam o poder judiciário, o Ministério Público, a Polícia Federal e os políticos.
Eu tenho dito aos meus companheiros do PT que só tem um jeito da gente levantar a cabeça, é a gente não ter medo. É fazer eles serem tratados iguais a nós.
Às vezes eu vejo 18 minutos sobre a chácara do companheiro Fernando Bittar, filho do Jacó Bittar, meu companheiro há 35 anos, companheiro da fundação do Sindicato em 1975. Eu conheço o Fernando quando ele tinha 7 anos de idade. Companheiro que passou muitos finais de semana comigo jogando mexe-mexe [jogo de baralho], esse companheiro comprou uma chácara nas perspectivas que eu usasse.
Eu não posso usar porque é crime eu estar usando a chácara.
Um apartamento que não é meu eles dizem que é meu, eu quero ver quem vai me dar esse apartamento quando esse processo terminar. Eu quero saber se é a Globo que vai me dar, se é o Ministério Público, porque não é meu porque eu não comprei e não paguei.
Eu espero que quando tudo acabar, alguém me dê a chácara e o apartamento, aí quando eu pagar e tiver uma escritura no meu nome eu vou dizer que é meu e terei orgulho de ter.
Então, companheiros, é essa indignação que eu queria falar pra vocês.
Estou indignado pelo que fizeram com a minha família, os companheiros do Instituto, do PT.
“Ah, estamos preocupados porque o Lula foi contratado para fazer palestrar pelas empresas”.
Essas empresas, antes da Petrobras, trabalham em muitas atividades, não estão apenas comprometidas com a Lava Jato. Essas empresas chegaram a ter 180 mil, 90 mil trabalhadores, e agora qualquer centavo é do pré-sal.
Vocês já deram conta que o salário de muitos agentes da justiça vem dos impostos que essas empresas da Petrobras pagaram?
Embora eu esteja intimamente magoado eu acho que eu merecia um pouco mais de respeito nessa País. Embora eu esteja indignado e magoado eu quero que eles saibam que eu escapei de morrer de fome antes dos 5 anos de idade.
Naquela terra que eu nasci, uma criança escapar de morrer é um milagre. Aconteceu comigo. E aconteceu um segundo milagre comigo, que foi meu diploma de torneiro mecânico. Aconteceu o terceiro milagre, adquiri consciência política e criei um partido, ajudei a criar uma central de trabalhadores. Aconteceu o quarto milagre comigo, eu e meus companheiros me levaram à presidência da república. Aconteceu o quinto milagre comigo, eu fui melhor de todos eles, melhor que os cientistas políticos, fazendeiros, advogados, médicos, todos!
Eu provei que o povo humilde pode andar de cabeça erguida, comer carne de primeira.
(…)
Essas coisas que aconteceram no Brasil talvez incomodem muita gente. Eu, embora magoado, acho que o que aconteceu hoje era o que precisava para o PT levantar a cabeça. Há muito tempo que o PT está de cabeça baixa, há muito tempo que alguém faz o PT sangrar.
Então, vamos fazer assim, a partir da semana que vem, quem quiser um discursinho do Lula é só acertar passagem de avião que eu estou disposto a andar essa País.
Não sei se serei candidato em 2018, às vezes a natureza é implacável com a gente que ultrapassa 70, mas como a ciência avançou e essas coisas que eu faço aumentam o meu tesão de participar das coisas desse País. Eu pensei que tudo estava acabado, mas é preciso recomeçar.
Portanto, é preciso recomeçar.
Embora o que tenha acontecido hoje tenha me magoado e me sentido ofendido, me senti ultrajado como se fosse prisioneiro, apesar do tratamento cortes do delegado da Polícia Federal, eu quero dizer:
Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. E a jararaca está viva, como sempre esteve!”.
15h15 – Lula se despede e volta para casa. Advogado Cristiano Zanin segue no Diretório Nacional do PT para mais informações.