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  • Do Lamento ao Movimento

    Do Lamento ao Movimento

    Artigo de Alfredina Nery e Cecília Figueira

     

    “(…) Uma flor nasceu na rua! (…) Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio” (Drummond em Antologia Poética. 12ª edição. RJ: J. Olympio, 1978, p.14 a 16 )

     

    O impedimento da presidente eleita democraticamente, Dilma Rousseff, fez parte de um golpe em 2016, que vinha se desenhando, há mais tempo. O golpe resultou em perdas de conquistas trabalhistas fundamentais, em extinção de verbas para as políticas públicas, em desmandos autoritários que contou com a aliança entre executivo, legislativo, judiciário e mídia tradicional, enfim um verdadeiro desmonte do país.

    Para o enfrentamento de tal situação, a despeito de alguns acreditarem que o “povo estava inerte”, pessoas, grupos, coletivos do campo progressista, muitos com histórias de militâncias variadas, criaram os mais diferentes espaços de luta e de resistência, pelo Brasil afora.

    O “Flores pela Democracia” foi constituído neste contexto a partir de uma preocupação do grupo com a necessidade de  uma mudança de ação política e de linguagem com a população. Para quê, o que e como falar com as pessoas que transitam pela cidade grande sobre o que está acontecendo no nosso país?

    Nossa ação busca contatos com a população, em locais públicos de grande afluência de pessoas, como entradas e saídas de metrôs, praças e em atos e manifestações de movimentos sociais, partidos progressistas que denunciam e resistem contra o golpe.

    A intencionalidade do ato se traduz num olho no olho, numa escuta interessada sobre o que as pessoas têm a dizer e nós também, tendo as flores com gravetos e papel crepom, vermelhas e brancas, preferencialmente, como panfletos de abordagem e da ideia de “se fazer junto”, no tempo curto dos passantes.

    Alguns acabam por entrar no coletivo por se identificarem com a proposta, percebendo a diferença entre “fazer flor como artesanato” e “fazer flor como ato político” num contexto de luta pela democracia brasileira em que a resistência, tanto faz crítica como anuncia possibilidades necessárias da participação popular, para constituir um país democrático, de direitos para todos.

    Assim, nos atos do “Flores pela Democracia”, panfletos em linguagem simples e explicativos da conjuntura que estamos vivendo e flores são distribuídas e confeccionadas, tanto pelas integrantes do coletivo, quanto pelos participantes que aceitam o convite e disponibilizam-se a aprender, a conversar sobre o papel da política na vida e na atualidade brasileira, especialmente.  Um tema que está sempre presente nestas conversas e na panfletagem que diz respeito às diferenças entre o Brasil de antes e depois do golpe e como cada um de nós está vivendo. Um grande mote das conversas é a questão da prisão do ex-presidente Lula e da luta pela sua liberdade, por ser injusta e arbitrária, uma vez que seus governos foram os que mais trabalharam pela diminuição das desigualdades sociais, econômicas e educacionais no país, além de sua liderança política nacional e internacionalmente.  LULA LIVRE!!!!!

    Outra questão que tem sido abordada é a importância de não abrirmos mão de nossas conquistas e de nossa esperança! Especialmente nestes tempos que antecedem as eleições, a importância do voto consciente para cargos do executivo e do legislativo. Não votar em candidatos que defendem as reformas do Temer, ver de que lado estão, o que defendem. Defendem a democracia, os direitos e conquistas dos trabalhadores, um país digno e justo para todos e soberano?

    Realizamos ações com coletivos Resistência na Cultura, Quarteirão da Saúde, Linhas de Sampa e outros. Em cada ato político novas adesões e simpatias. Novos ramos de “Flores pela Democracia e por Lula Livre” surgiram no Rio de Janeiro e em Brasília. Segundo uma nova participante “nossa ação política está sendo bem sucedida, pois é uma forma delicada e respeitosa de lutar pela democracia em contraposição à simples distribuição de panfletos e falas que, muitas vezes, podem ser invasivas e de mão única. A flor representa um gesto empático, um ponto positivo para o sucesso da nossa empreitada”.

    Nossa ação desperta reações diversas: negação de conversa e de receber a flor, alguns expressam agressividade, muitos se sentem acolhidos e identificados em seu grito calado por tudo que estamos passando.

    Sempre buscamos um jeito de “cavar” espaços. O coletivo “Flores pela Democracia” é uma das formas de sairmos do “Lamento para o Movimento”. A conjuntura exige acionarmos nossa criatividade, reacender nosso compromisso político de transformação do país, acionar o nosso motor da militância política indignada com todos os retrocessos e injustiças que estamos vivendo.

  • Lula Livre: reafirmar o compromisso, multiplicar a resistência

    Lula Livre: reafirmar o compromisso, multiplicar a resistência

     

    Munida de uma mochilinha com material de trabalho e 15 Flores pela Democracia e por Lula Livre, saí com destino à Brasília, para participar do Ato político de apoio ao registro da candidatura de Lula. Levar estas flores fazia parte de uma estratégia de divulgação do motivo de minha viagem, desde o taxi que peguei rumo ao aeroporto. Em Congonhas vi pessoas que sorriam em sinal de identidade com a causa, distribuí algumas Flores para funcionários da faxina que solicitaram, reconheci no avião companheiros. Pairava no ar a cumplicidade que nos movia: a luta por Lula Livre e pelo direito dele se candidatar a Presidente da República, a indignação quanto ao julgamento de processo sem provas que o levou à prisão política e às irregularidades jurídicas que vigoram em todo o processo. Mais uma vez, a determinação de lutar e a esperança!

    Com o golpe de 2016 que destituiu Dilma Roussef, Presidente legitimamente eleita, a capital e o Governo Federal se transformaram em centro de articulação de poderes, em palco de impunidades, arbitrariedades e hostilidades com objetivos e metas muito claras:

    • destruição de direitos sociais e trabalhistas do povo brasileiro; – corte de investimentos em políticas sociais como educação, saúde, moradia popular, Bolsa Família e outros; – destruição da indústria nacional e da pesquisa científica; – dilapidação de nosso patrimônio e de nossas riquezas  para multinacionais estrangeiras, tudo de acordo com a cartilha do neoliberalismo, imposto pelo capital financeiro internacional.

    Brasília que nestes tempos virou terra arrasada, nestes últimos dias estava transformada. Desde 13 de agosto, movimentos sociais foram se chegando de todos os cantos do país.

    “Viemos de Marília, interior de São Paulo e passamos por Bauru e por São José do Rio Preto. Nós viemos por Lula Livre porque queremos oportunidade para todos. A viagem foi bem puxada, 15 horas, mas vale a pena. Nós não vamos descansar por Lula Livre e por Lula presidente” (Lurdinha, 63 anos).

    “Depois de 2 dias de viagem passando dores e todo tipo de dificuldades, eu sinto que vale a pena, a gente se sente muito feliz pelo Lula… Ele já fez muito por nós e a gente agora precisa fazer por ele”. “Sou advogada e professora de história e eu não precisaria estar aqui neste momento mas. como nós somos um grupo que lutamos contra a fome, contra a desigualdade social, o Lula nos representa como o homem que tirou o Brasil da miséria., que tirou milhões da fome. eu não posso ter comida na minha mesa e o meu vizinho  não ter, por isso eu quero Lula Livre” (Grupo Elas por Elas, do Maranhão).

    As proximidades do Estádio Mané Garrincha e do Nilson Nelson, do Eixo Monumental, da Esplanada dos Ministérios, da Câmara Federal e de todo o trajeto para o Tribunal Superior Eleitoral – TSE foram se modificando.

    Foto de Celso Maldos

    Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz de 83 anos, se somou a este movimento, Leonardo Boff, lideranças políticas comprometidas com a luta e construção de um país mais justo e digno, grupos organizados, MST, jornalistas independentes, movimentos de mulheres e de juventude, intelectuais, artistas, sindicalistas, pessoas individualmente.

    Antes mesmo da caminhada para o Tribunal Superior Eleitoral – TSE, no Distrito Federal, ainda que de maneira um pouco velada, comecei a perceber um deixar de lado o descrédito e um respirar novo clima de esperança: trabalhadores do comércio, jornaleiros, vendedores ambulantes, funcionários públicos.

    “O que temos percebido é que tem melhorado a percepção da classe trabalhadora de que Lula é um preso político. Eu tenho um adesivo no carro, antes me agrediam e sinto hoje que as coisas estão melhorando…” (Iolanda Rocha, da periferia de Brasília).

    A identidade do vermelho, a quantidade de faixas, bonés e broches, a chegada das caravanas e marchas,

    Foto de Adriana Matta de Castro

    as mais diferentes iniciativas independentes (Resistência da Cultura, Quarteirão da Saúde, Flores Pela Democracia, Linhas de Bordado, Elas por Elas) e gestos, de forma organizada e pacífica começaram a tomar corpo e voz.

    Foto de Ângela Maria Andreolli

    Passos firmes e determinados, comunhão de ideais, compromisso de luta por justiça social, dignidade do povo, soberania do país e luta pela liberdade de Lula, não se intimidaram com o grande aparato policial montado para nos desarmar.

    Foto de Celso Maldos

    Éramos 50.000 junto ao TSE. Muita energia e emoção neste momento histórico: testemunhamos o registro da candidatura do Lula para concorrer à Presidência da República.

    As garras do poder e o arbítrio não darão sossego e tentarão massacrar nossos sonhos e nossa liberdade. Tentarão manter nosso povo e nosso país de joelhos.

    Nossos atos políticos, nossos gestos, nossa união, determinação e nossa garra e coragem irão fortalecer a resistência, respirar novos ares e liberar o grito calado do povo oprimido, atônito diante de tanto retrocesso.  Juntos nesta caminhada, seremos sujeitos da construção de nossa história. A batalha com grande parte do Judiciário de nosso país, sujeito e articulador do golpe e, com os poderes instituídos em nosso país, será incansável.

    Foto de Dora Sugimoto

    Sigamos o exemplo das mulheres do Elas por Elas – Maranhão:

    “Eu saio aqui cansada porque a gente fez um percurso muito extenso mas com essa multidão, esse povo reunido, a gente sai daqui renovada. Porque a gente vê esse povo todo junto,  a gente sente que são as pessoas mais necessitadas, pobres, do MST, dos movimentos sociais. Foi a primeira viagem de uma extensão muito grande que a gente sai do acampamento Lula Livre em São Luís. foi uma experiência ímpar . A gente veio com o grupo Elas por Elas, trabalhadores,também uma parte da juventude. É um exemplo que eu vou levar para o resto da minha vida. Um evento tão gigante e tão bem organizado, com um só objetivo que é Lula Presidente e o Brasil voltar a ser feliz”.

    “O Elas por Elas é um projeto para empoderar as mulheres na política. Como a companheira já falou, o Lula fez muito pela gente e a partir de amanhã seremos mais de milhões de Lula, lutando e fazendo campanha por Lula Livre e é isso aí, conto com vocês nesta campanha bonita também”. “Sou do Maranhão e vou levando muita esperança de ver o povo feliz novamente, com Lula Presidente”. “A gente veio aqui representar o povo de Presidente Médici, a gente acredita que lá o Lula tem 90% de voto nas urnas. O Lula mudou a vida das pessoas, não só da gente. O Lula mudou a vida de muita gente, o povo é apaixonado pelo Lula, eu acredito que muita gente foi afetada pelo Lula, para melhor. Sou vereadora e a gente que trabalha no dia a dia por isso está levando vários registros prá mostrar prá eles e a gente se sente feliz por isso. A gente está aqui representando o povo não só do Maranhão mas do povo brasileiro. O Lula mudou a vida de muita gente, não tem ninguém que não foi afetado por isso e a gente se sente feliz de estar levando isso”.

     

    Vamos à luta e ser multiplicadores por um novo momento em nosso país e por Lula Livre!

     

     

  • Efeito Terapêutico dos Movimentos Sociais

    Efeito Terapêutico dos Movimentos Sociais

    No dia 12 de junho promovido pela Livraria Tapera Taperá um debate com Tales Ab Sader, Maria Rita Kehl e Guilherme Boulos veio trazer questionamentos, luz e entusiasmo para um grupo de participantes psicoterapeutas e demais profissionais.

    A temática interessou e mobilizou um grupo de pessoas diverso extrapolando a capacidade do Tapera Taperá para o corredor central e os espaços laterais da Sobreloja da Galeria Metrópole. Esta presença maciça numa noite de frio e chuvosa reflete a inquietude com este momento de crise tão profunda que estamos vivendo desde o golpe de 2016.

    A perda de direitos, de entrega de nossas riquezas do país e a prisão política do Lula ultrapassou todos os limites.

    Segundo Tales, o Brasil é um espaço cindido desde sua origem. O Brasil fascistóide é herança da tradição colonial/escravocrata. A psicanálise trabalha com as estruturas simbólicas e a nossa modernidade não é a europeia da luta de classes. Historicamente a vida popular e a simbologia do desejo cotidiano do brasileiro, está fora dos direitos civis.

    O “homem cordial” precisa estar sempre fiel às classes dominantes, o que caracteriza o bovarismo e a vida ilusória do povo brasileiro seguindo os “homens de bem”, fazendo o jogo imaginário.  Segundo uma visão dialética, a atualização social, sob perspectiva histórica, traz a dimensão clínica da política: a solidariedade como valor e força do desejo no sentido mais radical.

    Para Boulos, diante dos tempos de intolerância, ódio, política do medo é fundamental para a esquerda debater a barbárie simbólica do medo.

    Nas ocupações temos muitos exemplos de pessoas que deixaram de tomar antidepressivo após a luta. A história de vida das pessoas que vão para as ocupações é de gente em situações extremas.

    As ocupações permitem o resgate de um sentimento comunitário “eu descobri que não estou mais sozinho”. As atividades de mutirão, limpeza, arrumação de espaços e cozinha comunitária, resgatam o brilho da vida e do incentivo que haviam perdido.

    As relações humanas que se estabelecem nas ocupações de solidariedade fortalecem o indivíduo e o povo deixa de ser visto “como parte da paisagem”, passa a ser sujeito da sua história e esta redescoberta da solidariedade dá a dimensão da sua própria potência. Muitas pessoas afirmam que em busca da moradia, encontraram o lugar da relação humana. As ocupações, no entanto, reproduzem o sofrimento e o medo, algumas vezes a violência generalizada da sociedade.

    Uma grande lição das ocupações para a esquerda brasileira é trazer a solidariedade para o centro do debate da política. Os problemas, retrato da sociedade de dominação acontecem e a ocupação dá oportunidade para que estes processos de dominação sejam discutidos, conversados, elaborados. Precisamos falar do sofrimento e da subjetividade, enfrentar este ambiente que produz a violência e o ódio. No Brasil, o capitalismo é primitivo, o ataque aos direitos dos trabalhadores vai impactar ainda mais os pobres, negros e periféricos. O capitalismo se distribui de formas diferentes pelas diferentes comunidades. Além da tendência local, tem a tendência global, em que o fascismo é transcendente à história. O capitalismo não consegue devolver os benefícios do trabalho e no Brasil hoje o tempo é grave para ficarmos em discussões. Não podemos correr o risco de permitir a barbárie e para isto temos que nos organizar para introduzir um mínimo de racionalidade para enfrentar o ódio.

    Maria Rita Kehl afirmou sua atuação militante, e falou sobre seu livro em lançamento “Bovarismo brasileiro” que contém alguns ensaios sobre o Brasil: a preguiça no samba, sobre a Globo que na década de 70 detonou a  festa de Iemanjá, sobre o Lula em que analisa também a TV brasileira, dentre outros.

    Destaca que o próprio petismo teve que rever as suas origens para chegar ao governo e ter maioria no Congresso e fazer aliança com o PMDB “partido me dá uma boquinha”, para fazer algumas coisas, que ninguém tinha feito antes: tirou o país do Mapa da Fome. Tenho criticas ao Lula e ao PT que ficou refém deste partido, que não tem nenhuma ideologia.

    Apesar de 3 governos e meio de governo petista, destaca o profundo conservadorismo do Brasil, o último país do mundo a ser livre da escravidão.  Aqui, a libertação dos escravos diferente dos EUA e de outros países, não teve reparação: nos EUA os escravos libertos ganharam um pedaço de terra e um animal de tração. Os senhores de terra no Brasil deixaram os escravos sem casa, sem terra e sem emprego e até hoje tem gente da elite golpista e canalha que mantém a escravidão por dívida que é a forma mais perversa de escravidão.

    As próprias forças progressistas tem que se adaptar. O Brasil vive um profundo conservadorismo, um momento muito triste e talvez a única coisa que eu posso dizer de mais interessante é que a luta continua.

    Maria Rita destaca sua participação militante junto ao MST e hoje também na clinica da praça Roosevelt na “Luta que Cura”. Esta atuação desenvolve e ocupa os espaços públicos em que o aspecto mais importante é desenvolver a Escuta: “estamos aqui para aprender juntos, para debater, para aprender com o outro”. Nessa troca com esta população profundamente espoliada e aviltada em seus direitos, acho que eu aprendo muito mais com eles: onde tem coletivo de direitos, não há o apagamento do eu e as pessoas passam por um processo de afirmação da subjetividade, de empoderamento, passam a ser sujeitos e a lutar pela própria história.

    O MST não trata o movimento social como massa. Se estrutura a partir de pequenos núcleos, brigadas e interesses locais, que tem o sentimento de igualdade no seu coração. Onde há igualdade de direitos e dispositivos que promovem a coletividade, as pessoas agem com solidariedade.

    Isto me faz lembrar o final da ditadura, quando as coisas começaram a acontecer: voltamos a debater e voltamos a ocupar o espaço público.

    Toda essa gente que está aqui não está só para ouvir 3 pessoas mas pela necessidade de debater, de estar junto e de dizer a luta continua!

    Maria Rita lembrou ainda do discurso do Lula em São Bernardo antes de se apresentar para a prisão: “não sou o Lula, mas uma ideia”, somos milhões de Lulas e cabe a nós lutar por Lula Livre” nos mais diferentes espaços!

  • 13 de maio: dia das mães com resistência, garra, esperança e solidariedade

    13 de maio: dia das mães com resistência, garra, esperança e solidariedade

    Para além do uso e dos interesses comerciais, o dia das mães pode ser um momento de reflexão, de homenagem e de celebração do que é ser mãe e ser mulher.

    A história nos mostra exemplos de mulheres guerreiras que com suas lutas por sobrevivência, afirmação pela igualdade de gênero, exercício da liberdade de expressão, autoafirmação, lutas de resistência na defesa de direitos sociais. Com persistência e determinação em busca de seus sonhos e utopias, fizeram a diferença. Alguns exemplos de mulheres brasileiras me vêm à memória como Anita Garibaldi, Carolina de Jesus, Chica da Silva, Chiquinha Gonzaga, Cora Coralina, Elisabeth Teixeira, Olga Benário, Pagu, Nise da Silveira, Zuzu Angel, e hoje como muitas outras lideranças perseguidas e mortas, Marielle Franco.

    Estamos vivendo em todo o mundo uma grave crise econômica, com a hegemonia do capitalismo financeiro e suas políticas neoliberais. Vivemos também  uma crise civilizatória que vem questionar o modo de ser da vida humana, em que estão em crise os valores com o aprofundamento das desigualdades, da impessoalidade das relações sociais com as novas formas de comunicação. Por sua vez, algumas das novas descobertas científicas e conquistas tecnológicas podem interferir de maneira decisiva na qualidade da vida, apontando  para uma sociedade mais humana e solidária ou para a destruição e para o caos…

    No Brasil, com o golpe de 2016, as desigualdades sociais se aprofundaram, a intolerância de classe revelou sua face mais perversa de discriminação e ódio, a democracia está em jogo acompanhada de um descrédito generalizado da grande maioria da população nas instituições sejam elas ligadas ao aparato do Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário) ou aos partidos políticos e sindicatos.

    Entretanto a dinâmica social que não é monolítica, não se restringe às normas e às leis e, a vida, a capacidade e a criatividade humana vão muito além. Neste dia das mães coincidindo com o dia 13 de maio, para algumas mulheres foi um dia de celebração especial de afirmação de identidade, esperança e de luta.

    O dia começou logo cedo com uma reunião de mulheres da periferia que lutam por moradia e constroem suas casas em sistema de mutirão na região Noroeste de São Paulo: retomada do papel da mulher na sociedade, dos valores de solidariedade, da igualdade de direitos, lanche comunitário, homenagem das crianças às mães, resgate de valores humanos, depoimentos cheios de emoção de mulheres que se descobriram como pessoa a partir dessa luta de muitos anos pelo direito à moradia.

    Mais à tarde pude presenciar um ato que me comoveu: relembrando os 130 anos em que foi assinada a “Abolição da Escravatura” uma grande farsa (até os dias de hoje a população preta e pobre é discriminada e brutalmente exterminada), o grupo Ilú Obá de Mim, composto por  aproximadamente 80 mulheres, realizou a lavagem simbólica das escadarias da 13 de Maio e saiu em linda evolução de música e dança por toda a Rua.

    Foi uma manifestação muito forte de afirmação da identidade da mulher e da cultura afro-brasileira, com instrumentos, músicas e danças inspiradas em matrizes africanas.

    Desde as 16hs também um grupo de mulheres realizou na calçada da Rua 13 de maio, em frente ao café Sabelucha (hostilizado por estabelecimentos vizinhos, por ter afixado faixa pela liberdade de Lula) uma ação de confecção de “Flores pela Democracia”. Este ato foi acompanhado de bate-papo sobre a conjuntura de golpe do nosso país, por panfletagem desmistificando a farsa do julgamento e prisão do Lula, troca de informações sobre outros eventos, incorporação e articulação com outras pessoas e grupos, soma de esforços e descoberta de novos caminhos e novas formas de resistência.

     

    Enfim um dia das mães com garra, esperança e criatividade, na luta por construção de uma outra narrativa que amplie e alcance cada vez mais e mais corações e mentes: por Lula Livre, pelo direito de defesa, pela liberdade de manifestação, pela construção de utopias que apontem para uma sociedade de direitos para todos, com solidariedade e humanidade.

  • Luta por moradia, uma conquista e um direito

    Luta por moradia, uma conquista e um direito

    De: Cleonice Dias

    Para: Jornalistas Livres

    No ultimo domingo, 06/05/2018, a Associação dos Trabalhadores Sem Teto da Zona Noroeste (A.T.ST. Z.N) fundada em 1986, realizou uma atividade com a presença das lideranças Guaranis da Aldeia indígena Pico do Jaraguá, com objetivo de unir forças para o enfrentamento dos desmontes de direitos. Esta Associação é parte integrante da União dos Movimentos de Moradia de São Paulo (UMM-SP).

    Em tempos de golpe e desmonte de políticas públicas, cujo cenário parece não apresentar nenhuma alternativa, os movimentos de moradia, atores históricos na cena pública, vêm demonstrando sua capacidade de luta e de resistência.

    A atividade foi articulada pelos coordenadores do movimento Vera Silva (Verinha) e Donizete Fernandes e, pela assessoria técnica Ambiente Arquitetura, em um dos maiores projetos para a população de baixa renda do Brasil, na área de Habitação de Interesse Social (HIS) na modalidade “Autogestão com mutirão”.

    Trata-se da construção de 1.104 Unidades habitacionais localizada no bairro Jaraguá, zona norte de São Paulo, muito próximo da aldeia. O recurso para a realização da obra é oriundo do programa Minha Casa Minha Vida, na modalidade “Entidades” que possibilita a participação dos futuros moradores na gestão da obra. No entanto, o foco do movimento e dos profissionais que com ele atua, não é somente a construção de moradia e gestão de recursos, mas também de espaços nas cidades, para que possam ser geridos pela população, pelas comunidades, na busca da construção de cidades sustentáveis e melhor qualidade de vida.

    As famílias participantes da A.T.S.T.Z. N tiveram a oportunidade de conhecer um pouco da realidade da aldeia indígena contada por seus próprios protagonistas.

    Márcia, uma das principais lideranças da aldeia, salienta que além dos preconceitos que vivenciam no cotidiano, pela preservação e afirmação da cultura de seu povo na metrópole, enfrentam dificuldades de infraestrutura urbana como falta de saneamento básico, moradias precárias, falta de acesso a serviços básicos. Acresce-se a isso a necessidade de luta permanente por parte da comunidade indígena em defesa do direito à terra como o enfrentamento recente contra a decisão do Ministério da Justiça que revogou a demarcação de mais de 500 hectares de terra por meio da portaria 683 de 21 de agosto de 2017.

    A presença das lideranças indígenas neste evento, promovido por pessoas participantes de projeto conquistado pela luta dos movimentos de moradia, possibilitou a troca das experiências entre os atores que partilham das lutas por direitos como parte da formação política, tão necessária no contexto político que o país vem vivenciando. Esta atividade deu espaço para que os participantes falassem sobre suas diferentes culturas, valorizando suas histórias de vida, modo de viver e de formação, respeitando e aprendendo com as diferenças.

    O processo de construção das moradias foi realizado com os participantes do projeto e do movimento em articulação integrada com as equipes que atuam na assessoria técnica e através do trabalho social. A construção de moradias é compreendida por estes atores como um processo de construção coletiva e um dos principais canais para fomentar ações que potencializem o fortalecimento da atuação dos sujeitos políticos, na perspectiva de conquista de direitos e de emancipação social.

    Através das lutas e da conquista da moradia em processos de autogestão, os participantes do programa Minha Casa Minha Vida Entidades, juntamente com a equipe de profissionais da assessoria Ambiente Arquitetura, com as lideranças da UMM-SP e A.T.S.T.Z.N,  participam de atividades educativas e de formação que possibilitem às famílias romper com ideias de uma cultura dominante desvinculada de sua realidade cultural e socioeconômica. Durante o desenvolvimento de todo o trabalho as famílias envolvidas são respeitadas e valorizadas como atores que participam de forma efetiva do processo de construção de moradias ao mesmo tempo em que participam do processo de formação, de amadurecimento e de reflexão crítica  da realidade em que vivem em sua região e no país.

    Novos contratos do Programa Minha Casa Minha Vida Entidades, que prevê a participação dos inscritos para aquisição da casa própria com subsídios do governo federal através da Caixa Econômica Federal, em todas as etapas do projeto (escolha e aquisição do terreno, definição do projeto arquitetônico, construção através de mutirão, acompanhamento e controle da execução de recursos) foram suspensos e cortados.

    Ressalte-se que todas as atividades desenvolvidas, tem como objetivo fortalecer e ampliar a luta por direitos e criar novas formas criativas e aguerridas de enfrentamento e de resistência, face aos cortes de direitos sociais e de recursos para políticas públicas que vem sendo realizados pelo governo golpista, pelos governo do estado de São Paulo e do município e pela política neoliberal em curso por eles implantadas de não priorização de investimentos em políticas sociais para as camadas mais pobres da população brasileira.

    Moradia digna, com infraestrutura de saneamento e de transportes, com acesso a bens e serviços sociais de saúde, educação e cultura, acesso e direito ao emprego entre outros, são direitos do cidadão e o descaso dos gestores públicos em todas as esferas é grande.

    Vamos à Luta!