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  • Papel do jornalismo é discutir a sociedade e não “ficar de bem com público”

    Papel do jornalismo é discutir a sociedade e não “ficar de bem com público”

    Por: Vinicius Souza – Jornalista Livre, da MediaQuatro e professor da UFMT (com contribuição de Laura Capriglione)
     
    Um amigo de longa data, “de direita, conservador nos costumes e liberal na economia” postou no Facebook o texto do colunista JR Guzzo, da Veja (íntegra aqui), afirmando ser “jornalismo de verdade”. Com três décadas de trabalho em campo e há 10 anos pesquisando e ensinando Jornalismo na universidade, acho que esse tipo de inversão de valores e manipulação perversa precisa ser exposta e contestada. Assim, apesar de detestar com todas as forças da minha alma dar espaço pra esse tipo de gente, ética e profissionalmente não posso me furtar a comentar a obscenidade representada pelo colunista.
     
    Primeiro, chamar o que Guzzo faz de “jornalismo de verdade” é não ter a menor ideia do que é jornalismo, a começar pelo que ele diz ser o objetivo do jornalismo: vender jornais, aumentar a audiência. NÃO, NÃO É !!! O jornalismo pertence a uma área do pensamento, pesquisa e ação chamada de Comunicação Social. Sua função é comunicar o que de fato é importante para a vida saudável e democrática em sociedade. É orientar a população sobre discursos populistas (e muitas vezes mentirosos) que levarão ao desastre social. É investigar de denunciar as mentiras propagadas pelos poderosos. É registrar os fatos históricos da maneira mais honesta possível. Por isso, o jornalismo independente e responsável é um dos pilares da democracia!
     
    Guzzo confunde, propositalmente, Jornalismo com Propaganda. Jornalismo bom é o que tem tamanha obsessão pela verdade factual, que às vezes até afronta o leitor/ouvinte/espectador. A Publicidade, por outro lado, pode jogar pra plateia, pra ficar de bem com a massa. Já o conceito de Propaganda inclui a manipulação das massas. Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda da Alemanha nazista, o cara que alimentou e disseminou, e contaminou até a última essência a sociedade alemã com o vírus do antissemitismo, teria gostado muito do conceito de Guzzo sobre jornalismo. Porque, em vez de esclarecer o país sobre a falsidade do mito da superioridade da raça ariana, Guzzo teria defendido a tese, pra não se afastar de seus leitores. O nome disso é escrotidão!
    Diferente de Guzzo, Hitler pelo menos teve a decência de não chamar de jornalismo, e sim de PROPAGANDA, o que fazia seu ministro
     
    É fato que toda a imprensa minimamente decente no Brasil (e no mundo) denunciou a farsa que é Jair Bolsonaro e seus apoiadores e a parte mais decente da imprensa é exatamente a que mais sofre e vai sofrer ainda mais com esse governo de destruição nacional, que começou com a preparação do Golpe em 2014, sua efetivação em 2016 e agora tem sua consolidação, tristemente, pelas urnas. É fato que as novas tecnologias de comunicação estão dando um nó na velha imprensa e colocando em xeque a democracia, já que estão municiando a população com desinformação e fake news, ao invés dos instrumentos que a sociedade necessita para fazer suas escolhas de modo consciente. Pensando com a cabeça e não com o fígado. É fato que isso em grande parte está acontecendo exatamente pela ação da mídia hegemônica no Brasil nas últimas três décadas, criando sucessivamente “salvadores da pátria” que se mostrariam rapidamente as farsas que efetivamente são. Desde o “caçador de marajás” das Alagoas até Demóstenes Torres, Serra, Aécio e até mesmo o Eduardo Cunha. Os ídolos com pés de barro Sérgio Moro e Jair Bolsonaro seguirão exatamente o mesmo caminho, não tenham dúvidas.
     
    Fake News nos jornais como a ficha falsa de Dilma Rousseff no DOPs na capa da Folha em abril de 2009 (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0504200906.htm e http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/folha-publicou-ficha-falsa-de-dilma/) associada aos spams espalhados no ano seguinte pela equipe de propaganda da campanha à presidência de José Serra via e-mail a exemplo do texto sobre sua “esposa” empregada doméstica abandonada que a estaria processando (https://www.boatos.org/politica/balela-amante-de-dilma-entra-na-justica-e-cobra-pensao-de-presidente.html) são os pais legítimos do kit gay, da mamadeira de piroca e dos guerrilheiros comunistas disfarçados de médicos.
    Folha de São Paulo levou 20 dias para admitir que “não podia confirmar a procedência” da ficha falsa de Dilma – http://observatoriodaimprensa.com.br/imprensa-em-questao/folha-publicou-ficha-falsa-de-dilma/
     
    A credibilidade é realmente um valor jornalístico essencial e que foi de fato desprezado pela Grande Mídia em favor de um projeto político de DIREITA e na crença infundada que sua hegemonia (garantida pelo monopólio e oligopólio dos meios de comunicação) jamais seria desafiada (a esse respeito sugiro a leitura do artigo O Pêndulo de um Lado Só, em https://brasilmais40.wordpress.com/2013/09/02/o-mito-do-jornalismo-imparcial/). Foi. E a Grande Mídia está perdendo rapidamente sua hegemonia. Mas dizer que isso ocorre porque os veículos apostaram numa candidatura de esquerda desvinculada dos reais interesses do povo e contra a candidatura que o povo “queria” é uma viagem!! Pior, é uma hipocrisia sem tamanho feita da tribuna do talvez mais venal, corrupto, interesseiro e antipetista dos grandes veículos de comunicação, a Veja (digo talvez, porque em venal temos concorrentes do nível da Isto É e no campo do antipetismo temos o Estadão).
    Civita à “esquerda” e Marinho à “direita”, com o então Ministro das Comunicações do Governo Lula e ex-funcionário da Globo, Hélio Costa, ao “centro”, no primeiro seminário do Think Tank de direita Instituto Milennium, ouvindo o então colunista da Veja, Reinaldo Azevedo, dizer que os jornais deveriam partir pra luta política e não dar espaço para “o outro lado” . Foto: www.mediaquato.com
     
    Desde o artigo DE OPINIÃO (uma atividade lateral do jornalismo e francamente perniciosa se não permitir o contraponto) comparando o ativismo dos sindicatos de professores sobre a política educacional com os posicionamentos da indústria do tabaco sobre as políticas de saúde pública (https://veja.abril.com.br/educacao/hora-de-peitar-os-sindicatos/, se você tiver estômago pra ler), nunca mais tive dúvidas sobre a capacidade de manipulação, desinformação e desonestidade intelectual de Guzzo para atingir os seus mais baixos interesses. Aparentemente, agora tenta se manter relevante lambendo as botas do fascismo e jogando pra plateia que acredita em “qualquer coisa”, até que o diabo é melhor do que o PT ou a esquerda no poder. Resta saber se os generais vão aceitá-lo como aliado/capacho ou vão ignorá-lo como também costumam fazer com os puxa-saco. 
    PS: As capas da Veja tiveram como fonte o Blog https://blogdopaz.com.br/as-capas-da-veja-que-entraram-para-a-historia/ . Gostaria de ter publicado, também, a escrotíssima coluna do mais que escroto e dissimulado Augusto Nunes na Veja em que ele republica da ficha falsa da Dilma, mas está fechado para assinantes da revista (sic). Pra quem ainda tiver estômago, tem também a “bombástica” matéria de capa sobre a fuga de Lula para a Itália… (https://www.youtube.com/watch?v=AxkteZf0f68). O que se divulgou como “furo” nada mais foi do que mais uma fake news.
    PS2: Para quem, como eu, não é assinante da Veja, segue abaixo a íntegra do infame texto de Guzzo:
    A mídia diante do público
    É fácil saber o que aconteceria com uma empresa de ônibus que vende nos seus guichês da rodoviária de São Paulo uma passagem para Belo Horizonte, por exemplo, e leva o passageiro para Piracicaba. Vive fazendo isso, aliás, pois a sua grande dificuldade é anunciar no letreiro a cidade para onde o ônibus realmente está indo. O que aconteceria é o seguinte: os passageiros, um dia, não iriam mais viajar com essa companhia para lugar nenhum. Chega, diriam eles — assim não dá mais. Da mesma forma, se uma pessoa costuma lhe dizer coisas que nunca acontecem, ou simplesmente vive contando mentiras, o mais provável é que você deixe de prestar atenção no que ela diz. Num processo na Justiça, igualmente, uma alegação falsa feita por uma das partes pode lhe causar sérios problemas: todo o resto da sua versão passa a correr o risco de ficar sob suspeita. Para sorte de muita gente, porém, nem tudo funciona assim. A memória dos seus clientes é mais tolerante, ou mais fugaz — e, portanto, mais disposta a esquecer que lhes disseram uma coisa que não aconteceu, ou disseram uma coisa e aconteceu outra, ou, ainda, que aconteceu justamente o contrário do que lhes foi dito que iria acontecer. Faz parte dessa gente de sorte, hoje em dia, a mídia brasileira.
    Mas será mesmo sorte — ou, ao contrário, é um problema cinco-estrelas que ninguém está vendo direito? Os leitores, ouvintes e telespectadores podem estar em relativo silêncio, mas há sinais de que a tolerância do público a pagar passagens para uma cidade e ser depositado em outra está deixando de ser uma proteção garantida para a imprensa. Ninguém reclama em praça pública — mas o consumidor de informação nunca reclama em praça pública. Um dia ele simplesmente vai embora, sem dizer até logo, e não volta mais. Quando os proprietários de órgãos de comunicação, e os jornalistas que trabalham neles, percebem o que aconteceu, já é tarde. A menos que tenham o suporte de uma fortaleza financeira em seu conjunto de negócios, podem encomendar o caixão — e os cemitérios brasileiros de jornais, revistas, rádios, televisões e, ultimamente, páginas eletrônicas que se imaginavam a última palavra em matéria de jornalismo moderno estão cada vez mais lotados. A diminuição do público interessado em acompanhar o que a mídia lhe diz não começou agora, é claro. Há dez ou quinze anos a migração passou a ganhar volume — e não parou mais, por motivos que já foram explicados em milhões de palavras, a maioria delas, aliás, lida por bem pouca gente. Mas, pelo menos no caso do Brasil, provavelmente não tinha havido até esta última campanha eleitoral uma oportunidade tão clara de medir o tamanho da distância, a cada dia maior, que separa hoje o que a imprensa imprime ou põe no ar daquilo que existe nos corações, mentes e sentimentos da audiência. É um abismo. A mídia diz uma coisa. O público acha o contrário. A mídia anuncia que vão acontecer os fatos A, B e C. Não acontece nenhum dos três. A mídia quer que as pessoas façam isso ou aquilo. As pessoas fazem exatamente o oposto.
    Para que ficar tentando esconder a realidade? O que acaba de acontecer na eleição, muito simplesmente, foi o maior fiasco que os meios de comunicação brasileiros já viveram em sua história recente. É melhor assinar logo o boletim de ocorrência, admitir que alguma coisa deu horrivelmente errado e pensar, talvez, se não seria o caso de averiguar quais falhas foram cometidas. Por que a mídia ignorou a lista de desejos, claríssima, que a maioria da população estava apresentando aos candidatos? Por que não tentou, em nenhum momento, entender por que um número cada vez maior de eleitores se inclinava a votar em Jair Bolsonaro? Durante meses seguidos, os comunicadores brasileiros tentaram provar no noticiário que coisas trágicas iriam acontecer para todos se Bolsonaro continuasse indo adiante — mas nunca pensaram na possibilidade de que milhões de brasileiros estivessem achando que essas coisas trágicas, justamente essas, eram as que consideravam as mais certas para o país. A mídia, na verdade, convenceu a si própria de que não estava numa cobertura jornalística, e sim numa luta do bem contra o mal. Em vez de reportar, passou a torcer e a trabalhar por um lado na campanha, convencida de ter consigo a “superioridade moral”. Resultado: disputou uma eleição contra Jair Bolsonaro e perdeu, por mais de 10 milhões de votos de diferença.
    Não é função dos órgãos de comunicação disputar eleições, é claro, muito menos perder. É o pior dos mundos. Já que decidiram fazer a coisa errada, engajando o seu trabalho a favor de um lado e contra o outro, deveriam, pelo menos, evitar o papelão de acabar surrados pelo candidato que declararam “inimigo” e por seus quase 58 milhões de eleitores. Isso, para usar português claro, significa que você está falando, mas ninguém está ouvindo o que você diz — ou ouvindo tão pouco que não faz diferença nenhuma. É a tal “credibilidade” — a sua capacidade de ser acreditado entre os semelhantes, ou levado a sério por eles. No caso da eleição de Jair Bolsonaro, a credibilidade foi para o espaço. Como passar seis meses seguidos ou mais fazendo uma operação contínua contra o candidato menos equipado materialmente para disputar a campanha eleitoral e constatar, no dia da apuração, que todo esse esforço não resultou em nada? A conclusão é que o público está pouco ligando para o que a mídia lhe diz. A partir daí, ela se torna irrelevante na vida real. Fica como arquibancada em jogo de futebol: xinga o juiz de ladrão e o técnico de burro, mas não altera em nada o resultado do placar.
    Os fatos estão aí, confirmando a futilidade de projetos para ganhar eleições livres, hoje em dia, sem combinar o resultado com as pessoas de carne e osso que vão votar. Inven­tou-se como estratégia, desde o começo, que o ex-presidente Lula era candidato à Presidência da República em 2018 — não apenas isso, a mídia garantia que ele era o favorito disparado para ganhar. Foi uma falsificação integral. Lula não podia ser candidato, porque estava e está na cadeia, condenado a mais de doze anos como ladrão em duas instâncias da Justiça brasileira. Mas os “institutos de pesquisa” asseguravam que Lula tinha “40% dos votos”, que havia “avançado mais X pontos”, que ganhava de todos os outros candidatos — e a imprensa, em peso, reproduzia essa fábula em suas manchetes. Só quando o próprio Lula, em pessoa, anunciou que não era candidato, as pesquisas retiraram o seu nome da lista. No meio-tempo, man­teve-se viva por vários dias a ficção de que “a ONU” iria obrigar o Brasil a aceitar a candidatura — chegaram a convocar o STF para julgar essa aberração. Sai Lula, entra Fernando Haddad. Sete dias antes da eleição, uma das “pesquisas”” deu Haddad com “22%”, numa “ascensão” que só poderia levá-lo, matematicamente, à vitória. Para não deixar dúvidas, todos os meios de comunicação repetiram até o dia da eleição que Bolsonaro perderia de “todos os outros candidatos” no segundo turno, em “todas as pesquisas”. Deu-­se o exato contrário.
    Nos dias finais da campanha apareceu uma reportagem tentando mostrar que haviam sido feitas doações para que Bolsonaro pagasse uma campanha de notícias falsas contra os adversários — em cima disso, pediu-se a “anulação do primeiro turno”, inclusive com atrizes da Globo exigindo, num vídeo eleitoral especialmente irado, “uma atitude” do Supremo. Falsa, mesmo, só a reportagem — reproduzida maciçamente através da imprensa até morrer de inanição, por ausência de fatos, de pé e de cabeça. A brutal tentativa de homicídio que Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora foi geralmente tratada como uma notícia menor, fruto natural do “ódio” trazido à campanha em grande parte por ele próprio. Até hoje, a maioria dos jornalistas se refere ao episódio como “a facada”; é jornalisticamente incorreto escrever que um criminoso quis assassinar Bolsonaro. Desde o início da campanha, os mais potentes cérebros da análise política do Brasil deram como fato científico que a candidatura de Bolsonaro iria “desaparecer” assim que começasse o horário eleitoral obrigatório na TV, no qual ele contava com poucos segundos. No mundo dos fatos, Bolsonaro ganhou a eleição — e o candidato que tinha o maior tempo de TV não conseguiu nem 5% dos votos.
    Mais do que tudo, talvez, a mídia não chegou nem perto de entender uma realidade evidente: a maioria do público brasileiro, nos dias de hoje, pensa basicamente o contrário do que pensam os jornalistas e os donos dos veículos de comunicação. Tem valores opostos aos dos comunicadores. Aprova o que a mídia condena. Condena o que a mídia aprova. É a favor da polícia, que a imprensa considera inimiga dos pobres, e contra os bandidos, que os jornalistas consideram vítimas da injustiça social. Os heróis da imprensa, como a vereadora Marielle, não são os heróis da população. E nem o que a imprensa divulga maciçamente como sendo problemas essenciais para o Brasil é percebido da mesma maneira pela massa — homofobia, racismo, fascismo, machismo, “agrotóxicos”, terras indígenas, torturas cometidas quarenta anos atrás são vistos mais com indiferença do que com indignação. Em questões como a conveniência de eliminar as diferenças entre os gêneros masculino e feminino, deixando em segundo plano as leis da biologia, mídia e maioria estão simplesmente em posições opostas.
    Naturalmente, há um preço a pagar por tudo isso. Ele aparece na dificuldade cada vez maior, por parte da mídia, de fazer avanços na única questão que realmente interessa: a batalha pelo público. Ninguém tem ouvido histórias de veículos que triplicaram seus leitores ou sua audiência nos últimos anos; é perfeitamente óbvio, assim, que o método que vem sendo utilizado pela mídia para fazer o seu trabalho está dando errado. Como poderia estar dando certo se os resultados são um desastre? O aviso das eleições está aí. A televisão, em seu conjunto, deixou de existir como um fator de importância numa eleição brasileira — é como se tivesse sido jogada uma bomba de hidrogênio em cima dela.
    Até quatro anos atrás era no programa eleitoral obrigatório que tudo se decidia numa campanha; hoje ele não vale nada. Os “institutos de pesquisa” também podem publicar os números que bem entenderem na mídia. Não são capazes de mudar coisa alguma. Não quando dizem que Dilma Rousseff seria “a senadora mais votada do Brasil” — e ela acaba em quarto lugar. Os meios de comunicação, enfim, fizeram uma guerra sem descanso contra Bolsonaro — e sua influência foi absolutamente nula no resultado da eleição.
    A internet, o Facebook, o Twitter e o restante do arsenal nuclear que a tecnologia eletrônica despeja a cada momento sobre o universo das comunicações mudaram a política no Brasil em 2018. Há muitos anos vêm transformando a imprensa num animal cada vez mais diferente de tudo o que possa ter sido — e não há sinais de que essa história venha a tomar um novo rumo. Em momentos como este, é uma tragédia que a imprensa brasileira venha demonstrando, no conjunto daquilo que publica em seus veículos, uma inteligência inferior à inteligência média dos seus leitores, ouvintes e espectadores. Desse jeito, torna-se cada vez mais inútil para eles. Da mesma maneira, é complicado manter-se em estado de hostilidade eterna perante o público. É como dizer a todos: “Não queremos mais você por aqui. Vá ler outra coisa. Pista”. Ninguém vai chegar a lugar nenhum por aí.
  • Futuro incerto para a democracia, o Jornalismo e os jornalistas

    Futuro incerto para a democracia, o Jornalismo e os jornalistas

     

    Nota oficial FENAJ

     

    A Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ, representante máxima da categoria no Brasil, expressa sua preocupação com o futuro da nação brasileira, após a eleição da chapa formada pelo capitão reformado Jair Bolsonaro e pelo general Mourão, também reformado, para governar o país a partir de 1º de janeiro de 2019.

    A FENAJ repudia a violência contra jornalistas e, em especial, as declarações do assessor de Bolsonaro, Eduardo Guimarães, que apenas esperou a divulgação, no início da noite de ontem (28/10), das pesquisas de boca de urna indicando a vitória de seu assessorado para enviar mensagem ofensiva a diversos jornalistas de diferentes veículos de mídia. Também ontem, jornalistas foram agredidos enquanto faziam a cobertura das comemorações da vitória de Bolsonaro em mais de um Estado brasileiro.

    Os muitos casos de agressões contra jornalistas ocorridos durante a campanha eleitoral e a indiferença de Bolsonaro diante dos ataques reforçam o que a trajetória política dele já demonstrara: o político de ultra-direita é avesso a críticas e não admite ser questionado publicamente, mesmo quando as questões dizem respeito à sua atuação como homem público.

    Ainda que Bolsonaro tenha assumido o compromisso de respeitar a Constituição brasileira, é de conhecimento público suas ideias autoritárias, como a defesa da ditadura militar, e até mesmo criminosas, como a apologia à tortura. Resta saber como vai se comportar a partir de agora, e se vai se submeter às regras democráticas, entre elas a do respeito às liberdades de expressão e de imprensa.

    A FENAJ e os Sindicatos de Jornalistas não aceitam qualquer tipo de violência contra a categoria e categoricamente afirmam que não há justificativa admissível para as agressões que vêm ocorrendo e que cresceram no ambiente virtual no decorrer da campanha.

    Igualmente, FENAJ e Sindicatos não aceitam a retirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e estarão nas trincheiras da resistência, para evitar mais prejuízos. Como deputado, Bolsonaro votou sempre contra os interesses da classe trabalhadora. Estaremos firmes e alertas para impedir que os retrocessos iniciados por Temer se aprofundem ainda mais.

    Diante das incertezas do futuro, a FENAJ e seus Sindicatos filiados reafirmam seu compromisso com a democracia, com o Estado Democrático de Direito, com as liberdades individuais e coletivas e com os direitos humanos, trabalhistas e sociais. E lembram que o Jornalismo e os jornalistas têm papel fundamental para a democracia e a constituição da cidadania e que governantes democráticos submetem-se à crítica e, principalmente, à vontade da maioria que, no Brasil e no mundo, é constituída pela classe trabalhadora.

    Em defesa da democracia!

    Em defesa das liberdades de expressão e de imprensa!

    Em defesa do Jornalismo e dos jornalistas!

    Em defesa dos direitos da classe trabalhadora!

    Brasília, 29 de outubro de 2018.

    Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ.

  • EDITORIAL: SOLIDARIEDADE A PATRÍCIA CAMPOS MELLO

    EDITORIAL: SOLIDARIEDADE A PATRÍCIA CAMPOS MELLO

    Folha de S.Paulo entrou com uma representação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nesta terça (23) solicitando à Polícia Federal que investigue ameaças contra a jornalista Patrícia Campos Mello, autora da reportagem “Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp“, publicada na quinta-feira (18).

    Patrícia recebeu centenas de mensagens nas redes sociais das quais participa e por e-mail. Entre sexta-feira (19), dia seguinte à publicação, e terça (23), um dos números de WhatsApp mantidos pela Folha recebeu mais de 220 mil mensagens de cerca de 50 mil contas do aplicativo.

    Trata-se de uma ação orquestrada pelas redes de apoiadores do candidato Jair Bolsonaro, com o claro propósito de intimidar e constranger a liberdade de informação e de expressão. E isso não é por acaso.

    Reiteradamente, Jair Bolsonaro tem se manifestado contrário à Democracia e ao direito de divergir. Como nostálgico da Ditadura e um idólatra de torturadores, ele está ao lado dos assassinos do jornalista Vladimir Herzog e contra a busca da verdade que consiste na própria razão de ser do Jornalismo.

    É esse ventríloquo do Fascismo que estimula as hordas de robôs a atacar os repórteres e os veículos que eles consideram “inimigos”, simplesmente porque ousam expor uma realidade diferente daquela em que eles crêem.

    Nos últimos anos, Jornalistas Livres têm manifestado seguidamente suas críticas à cobertura facciosa da grande mídia, Folha de S.Paulo incluída, que tudo fez para desacreditar e enxovalhar Lula e os movimentos sociais.

    Agora mesmo, a Folha segue considerando a candidatura de Jair Bolsonaro como uma postulação de “direita”, em vez de chamá-la de “extremista” e “radical”, já que abertamente militarista, defensora da Ditadura, da tortura e da violação dos direitos humanos, contrária aos direitos das minorias e adepta da ruptura da ordem Democrática, quando seus interesses são contrariados.

    É uma pena que um jornal impresso como a Folha, para o qual a Palavra em seu sentido preciso deveria ser sagrada, recuse-se a qualificar Jair Bolsonaro e seu projeto político com clareza. Recuse-se a apontar-lhe a covardia de fugir ao confronto de idéias e projetos com seu opositor, Fernando Haddad. Recuse-se a denunciar-lhe a truculência desabrida e o discurso rasteiro e insuflador da violência.

    Bolsonaro é Fascista. Ele quer a Censura. Ele admira torturadores. Ele acha correto propor a morte de seus opositores. E ele precisa ser contido pelas forças democráticas esclarecidas e iluminadas pelo debate franco e aberto. Antes que seja tarde demais.

    Nossa solidariedade à nossa colega Patrícia Campos Mello. Contra a censura e contra o Fascismo.

    #EleNão #HaddadSim

     

  • A manipulação midiática e seus efeitos na política

    A manipulação midiática e seus efeitos na política

    A premiada jornalista Eliane Brum postou hoje em sua página no Facebook uma foto da manifestação #EleNão de ontem (29/09) no Largo da Batata em São Paulo criticando a imprensa nacional por não repercutir adequadamente, em capas, manchetes, editoriais e tempo de TV e rádio, o fato jornalístico mais importante do dia.

    E assim passamos a compreender melhor porque boa parte da parcela que teoricamente seria a “mais bem informada” da população decide votar numa candidatura que representa o atraso, a misogenia, o racismo, a LBTfobia… uma candidatura que segue enaltecendo assassinos e torturadores. Na verdade, essa parcela da população NÃO está bem informada. Ela tem se alimentado de uma mídia oligopolizada e partidarizada que finge uma isenção inexistente. Estão saturados do veneno que consomem em doses mais ou menos homeopáticas diariamente há décadas. Primeiro, acreditam no que leem, em fábulas hiperbólicas como o “maior escândalo de corrupção da história do mundo”. Em seguida, percebem que algumas “informações” são distorcidas, e passam a desacreditar dos grandes meios de comunicação e a apontá-los como tendenciosos de posições políticas às vezes totalmente contrárias às provadas historicamente.

    Revista britânica que defende o capitalismo e o liberalismo econômico há 175 anos tem sido chamada de comunista pelos bolsominions

    Nessa fase, o jornalismo e os jornalistas perdem a posição histórica de mediador confiável entre os fatos e os leitores. A terceira fase é a que vivemos atualmente: somente as “notícias” e “informações” que combinam com minha visão de mundo, com meus preconceitos, com a minha própria ideologia são válidas. Não importa de onde venham, quem produza e se têm ou não a mínima conexão com a realidade objetiva. Podem vir do grupo de WhatsApp da família, da Veja ou do MBL. Da The Economist, Le Monde, Estadão, Globo ou Folha. Quando se chega nesse nível, é inútil mostrar atos, falas e mesmo vídeos de agressões do “coiso” a mulheres, negros, LGBTs e à própria democracia, por exemplo. Tudo passa a ser uma “invenção da mídia comunista”. Do mesmo modo, é impossível convencer com fatos, dados, números, que o Brasil cresceu, se desenvolveu, distribuiu renda e riqueza, diminuiu o desemprego e se tornou importante ator global por 12 anos seguidos em meio à maior crise no coração do capitalismo desde a quebra bolsa de Nova Iorque em 1929, a quebra do Lehman Brothers em 2008 (Mas não acredite em mim, veja o que a BBC publicou em 2016, já em meio ao processo de golpe de estado: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/05/160505_legado_pt_ru ou o Nexo https://www.nexojornal.com.br/especial/2016/09/02/10-%C3%ADndices-econ%C3%B4micos-e-sociais-nos-13-anos-de-governo-PT-no-Brasil ). Se você tenta, é acusado de “cego-doutrinado-idiota-seguidor-de-um-bandido-que-deve-mamar-nas-tetas-do-estado-mas-essa-boquinha-vai-acabar”.

    Muito desse cenário é, de fato, responsabilidade dos governos petistas que NUNCA tiveram a coragem de enfrentar os oligopólios midiáticos na crença vã de que com o crescimento econômico também dos mais ricos a elite perceberia que poderia lucrar mais, mesmo com a diminuição da miséria. Os governos petistas ignoraram que a luta de classes não é apenas econômica, é também ética e cultural. A classe média remediada só pode se sentir elite (o que não é) se houver uma distância cada vez maior das classes abaixo dela. Não adianta poder ir pra Paris em classe econômica pagando em 10 vezes no cartão. É preciso que o porteiro, a empregada, a filha do pedreiro NÃO POSSAM usar o mesmo avião, o mesmo saguão do aeroporto, a mesma sala de aula na universidade (esse “fantástico” texto da Danuza Leão, em 2012, não me deixa mentir https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/80046-ser-especial.shtml).

     

    Obviamente, se você disser isso a um já adepto do coiso, provavelmente vai receber como resposta um meme com a frase “é bom jair se acostumado”, ou algo do tipo. Não há argumentação. Não se discute os fatos. Não se mostra comprovações. Mas há, sim, um antídoto para isso. É possível vencer a manipulação midiática saindo das bolhas das redes sociais e indo pras ruas conversar com quem sente, na ponta, os efeitos das políticas públicas. Oxalá os jornalistas voltem a fazer isso. E os veículos entendam a armadilha que montaram para si próprios com a oligopolização. “A resistência à manipulação é construída a partir da informação anterior, vinda da vivência, da memória ou do conhecimento do contexto. Sem a instalação dessas imunidades na consciência do receptor da comunicação, sua contaminação pela versão manipuladora é instantânea” (Ciro Marcondes Filho – Ser jornalista – Paulus 2009)

  • Abril demite e não paga

    Abril demite e não paga

    Devolvam a grana dos jornalistas, Giancarlo, Vitor e Roberta Civita, donos da Abril!!

    Cada um dos filhinhos do papai Roberto Civita tem mais de US$ 1 bilhão acumulados (!!!) enquanto os trabalhadores demitidos estão na rua da amargura! É justo isso?

    Solidariedade aos trabalhadores demitidos!

     

     

    Leia aqui a Posição oficial dos jornalistas dispensados pela Editora Abril

    Na manhã de 6 de agosto, os funcionários da Editora Abril foram surpreendidos pelo fechamento de revistas do grupo e pela dispensa em massa de jornalistas, gráficos e administrativos. Nos dias seguintes, os números estavam em torno de 800 profissionais. Ao todo, 11 títulos foram encerrados. Na vida particular dos empregados da Abril, as medidas têm sido devastadoras. A empresa desligou de forma injusta, sem negociação com as entidades de representação trabalhista e sem prestar esclarecimentos oficiais. Em 15 de agosto, nove dias após o início das demissões, a Abril entrou com pedido de recuperação judicial (acatado pela Justiça) incluindo nesse processo todas as verbas rescisórias dos dispensados e também a multa de 40% sobre o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. Ou seja, um dia antes do prazo final para indenizar integralmente os ex-funcionários, a empresa realizou a manobra, fazendo crer que as duas ações (demissão em massa e pedido de recuperação judicial) foram arquitetadas em conjunto, tendo como um dos seus objetivos não pagar os empregados.

    Além disso, suspendeu a prestação de contas (antiga homologação), não liberou a chave para o saque do FGTS e as guias do seguro-desemprego, deixando os demitidos sem nenhuma cobertura financeira. Quando tentam contatar o RH, recebem informações contraditórias – portanto, os demitidos permanecem no escuro.

    A Editora Abril há muito vem descumprindo outros compromissos com as mulheres e os homens que se doaram e participaram bravamente de um esforço cotidiano para que a empresa se recuperasse da crise pela qual enveredou. Um exemplo: os profissionais desligados em 2017 e no começo deste ano viram suas indenizações sendo pagas em parcelas, algo considerado ilegal. Com a recuperação judicial, eles tiveram as parcelas finais congeladas. Assim, pessoas que não mantêm vínculo com a empresa há pelo menos sete meses se encontram listadas como credoras e impedidas de receber o que resta. Foram também atingidos fotógrafos, colaboradores de texto, revisão e arte, que, igualmente, não verão o seu dinheiro.

    Deixemos clara nossa profunda indignação com o fato de a família proprietária da Editora Abril – que durante décadas acumulou com a empresa, e com o nosso trabalho, uma fortuna na casa dos bilhões de reais – tentar agora preservar seu patrimônio e não querer usar uma pequena parte dele para cumprir a obrigação legal de nos pagar o que é devido.

    Por fim, é preciso considerar o prejuízo cultural da medida. Com o encerramento dos títulos Cosmopolitan, Elle, Boa Forma, Viagem e Turismo, Mundo Estranho, Guia do Estudante, Casa Claudia, Arquitetura&Construção, Minha Casa, Veja Rio e Bebe.com, milhares de leitoras e leitores ficaram abandonados. Para a democracia brasileira e para a cultura nacional, a drástica medida representa um enorme empobrecimento. Morrem títulos que, ao longo de décadas, promoveram a educação, a saúde, a ciência e o entretenimento; colaboraram para a tomada de consciência sobre problemas da sociedade; formaram cidadãos e contribuíram para a autonomia e o desenvolvimento pessoal de todos os que liam e compartilhavam a caudalosa quantidade de conteúdos produzidos pelas revistas impressas, suas versões digitais ou redes sociais. Nada foi colocado no lugar desses veículos, abrindo enorme lacuna na história da comunicação no nosso país.

    Parte da crise, sabe-se, é global e impactou a imprensa do mundo inteiro. Outra parte deve-se ao fato de a Abril ter perdido o contato com a pluralidade de opiniões e se afastado da diversidade que caracteriza a população brasileira. Uma gestão sem interesse no editorial sucateou as redações, não soube investir em produtos digitais e comprometeu a qualidade de suas publicações sob o pretexto de “cortar custos”. Além disso, deu ouvidos apenas a executivos e consultorias, sem levar em consideração os profissionais da reportagem e o público.

    Neste momento difícil para toda a nação, com o desemprego se alargando, nós, jornalistas demitidos, estamos organizados e contando com o apoio do Sindicado dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo. Também estamos unidos às demais categorias – gráficos e funcionários administrativos. É uma demonstração de tenacidade na defesa da integralidade dos nossos direitos e um sinal de prontidão para enfrentar as necessárias lutas que virão. Não pedimos nada além do que o nosso trabalho, por lei, garantiu.

    São Paulo, 20 de agosto de 2018

    Assina: Comitê dos Jornalistas Demitidos da Abril

  • A Rede Globo de Televisão e o sequestro da nossa emoção

    A Rede Globo de Televisão e o sequestro da nossa emoção

    Domingo, 08 de julho de 2018.
    Uma notícia sacode o Brasil.

    O ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba desde o dia 07 de abril por decisão do juiz de 1³ instância Sérgio Moro, teve seu pedido de habeas corpus, peça jurídica assinada pelos advogados Wadih Damous e Paulo Pimenta, também deputados, acatado e deferido, e sua soltura imediata determinada pelo desembargador Rogério Fraveto, que havia assumido naquela data o posto de plantonista do Tribunal Regional Federal da Quarta Região – TRF-4 com sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

    Iniciou-se a partir daí uma operação de guerra protagonizada pelo Departamento de Jornalismo da Rede Globo de Televisão, que está presente em 97,2% das casas brasileiras, uma tentativa de sequestrar o emocional de seus telespectadores, imprimindo à narrativa das notícias relativas ao caso uma dinâmica falsa, cujo objetivo era fazer com que o telespectador aceitasse como legal uma ação ilegal.

    Dado o parecer do desembargador Fraveto em favor do ex-presidente Lula, o juiz de primeira instância Sérgio Mouro, então em férias, licenciado das atribuições que o cargo lhe incumbe, se recusou a acatar a decisão do magistrado de uma instância superior à sua e, não satisfeito, alegou a “incompetência” do desembargador para determinar a soltura do réu, num gesto raramente visto no espectro jurídico brasileiro, o descumprimento de uma ordem judicial de efeito imediato por um juiz de instância inferior.

    Diante da posição de Moro, a Rede Globo de Televisão e a Globo News, seu braço jornalístico na TV por assinatura, trataram de dar suporte factual à versão do juiz, trazendo diversos analistas jurídicos de aluguel, que não apenas endossavam, como também reforçavam a ideia que a ação de Sérgio Moro era legítima e legal.

    O canal Globo News, por exemplo, chegou a fazer uma chamada, que ficou no ar por bastante tempo, onde noticiava que o “PLANTONISTA do TRF-4 mantinha a soltura de Lula, APESAR DA DECISÃO DE MORO”.

    Imagem captada da internet

    “Plantonista”, não desembargador.
    Plantonista.
    Apesar da decisão de Moro.”
    Apesar da decisão de Moro.

    Notem que na chamada existe primeiro a tentativa de desqualificar a função de plantonista do tribunal, exercida pelo desembargador Rogério Fraveto, e depois passar para o telespectador a ideia de que uma decisão de Sérgio Moro é a última palavra da Justiça, inquestionável.

    Como se o juiz Sérgio Moro, um juiz de primeira instância, fosse um semideus, uma espécie de encarnação viva da própria Justiça brasileira.

    Ao tentar manipular dessa maneira a opinião pública, a Rede Globo de Televisão mostra mais uma vez a necessidade urgente que o país tem de pensar numa solução para redemocratizar seus Meios de Comunicação.

    Não é possível aceitar que a Rede Globo continue atuando como partido político, através de uma concessão pública, que em tese pertence ao povo brasileiro, agindo de uma maneira a enganá-lo, desinformando-o, manipulando-o e sequestrando suas emoções de acordo com seus interesses comerciais.

    Não é mais aceitável que a Rede Globo de Televisão continue a liderar e orquestrar uma campanha de criminalização contra o ex-presidente Lula, ao mesmo tempo que eleva a figura de um juiz de primeira instância ao status de herói nacional, numa narrativa que inocula o ódio contra o ex-presidente e macula o processo eleitoral que – esperamos, será realizado em outubro, processo que tem o ex-presidente como líder absoluto nas pesquisas de opinião em todos os cenários.

    Ao criminalizar o presidente Lula, a emissora interfere no processo eleitoral que se desenha no horizonte, e coloca água no moinho dos candidatos que têm como plataforma eleitoral o ódio, o antipetismo, a demagogia barata travestida de democracia, brindando-os com o bônus de uma campanha eleitoral indireta antecipada, o que contraria a legislação eleitoral em vigor no país.

    Ao tentar sequestrar o emocional das pessoas através da desinformação, a Rede Globo de Televisão demonstra que há uma enorme desproporção entre sua função de informar e sua vocação de confundir o telespectador.

    A grande quantidade de pessoas que, após assistirem aos noticiosos da Rede Globo saíram endossando nas redes sociais as ilegalidades cometidas pelo juiz Sérgio Moro, mostram o sucesso da estratégia da emissora, que joga com o inconsciente de seus telespectadores a fim de obter deles apoio às suas próprias convicções políticas e comerciais.

    A Rede Globo de Televisão faz com que seu telespectador acredite em um suposto altruísmo encampado pelo juiz Moro, vendido pela emissora como um super herói apartidário (mas que aparece em diversas fotos confraternizando com políticos do PSDB) numa cruzada quixotesca “contra a corrupção”.

    Tal prática cria um clima de ódio na população, demoniza a política como prática republicana e afasta o eleitor em geral, e o cidadão em particular, da discussão de temas que comprometem e são fundamentais no seu dia a dia.

    Sendo assim cada vez mais telespectadores da emissora revelam-se descontentes com a política de um modo geral, bombardeados que são, diariamente, por um jornalismo de guerra empenhado em mostrar que a política não funciona, e que a única saída para os problemas do país é através do autoritarismo antidemocrático na figura da judicialização da política.

    O dia 08 de julho de 2018 ficará para sempre marcado como mais um dia em que o Jornalismo da Rede Globo de Televisão prestou enorme desserviço à população, mais uma vez enganando-a, confundindo-a e, sobretudo, tentando sequestrar sua emoção.