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  • Não é negacionismo científico. É pior!

    Não é negacionismo científico. É pior!

    É muito comum associar o bolsonarismo ao negacionismo científico. O bolsonarismo seria eticamente repulsivo, entre outras coisas, porque nega os consensos científicos, porque rejeita os fundamentos da ciência cartesiana, porque desobedece a comunidade científica. Implícita está a ideia de que a ciência sempre é humanista, é sempre virtuosa. Como se não fosse possível ser, ao mesmo tempo, perverso e seguidor dos protocolos científicos.

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

    Essa relação imediata entre entre ciência e virtude é algo ingênua e facilmente desmentida pela própria história da ciência. A ideia de que o bolsonarismo é necessariamente negacionista também não se sustenta na crônica política, especialmente no que se refere ao enfrentamento à pandemia da covid-19.

    A forma como governo de Jair Bolsonaro está enfrentando a pandemia da covid-19 não tem nada, absolutamente nada, de negacionista, de anticientífica. Pelo contrário, é perfeitamente coerente com o pensamento científico. Está correta do ponto de vista técnico.

    Desde o primeiro dia de pandemia, as autoridades sanitárias nacionais e internacionais recomendaram: o isolamento social é o único jeito de combater a pandemia. Fecha tudo, esvazia as ruas, dá um tapa na curva pra preservar o sistema de saúde, enquanto os cientistas trabalham num medicamento ou numa vacina.

    Este é a solução científica eticamente adequada para combater a pandemia. Mas não é a única saída cientificamente possível. Como nem tudo são flores nesta vida, há também a solução científica eticamente repulsiva.

    O científico eticamente adequado é tão científico quanto o científico eticamente repulsivo. Por isso, a discussão jamais, sob hipótese alguma, pode ser apenas científica. Tem que ser também políticamente normativa, um tantinho filosófica.

    O governo de Bolsonaro escolheu a estratégia científica eticamente repulsiva. Foi coerente com sua própria essência. Não podemos negar.

    Não é incompetência. Não é negacionismo científico. É pior!

    Quando Bolsonaro boicotou as medidas de isolamento, fritou dois ministros da saúde, vetou a lei que decretava a obrigatoriedade do uso de máscaras e gastou apenas 1/3 do orçamento previsto para o combate à pandemia, estava escolhendo um método cientificamente autorizado para lidar com o problema.

    Deixa o vírus correr, infectar as pessoas, até o momento em que a populacao estiver naturalmente imunizada, custe o que custar, morra quem morrer.

    Num país de 210 milhões de habitantes, de proporções continentais, qual será o custo da estratégia? Quanto tempo leva?

    0,1% de mortos? Parece pouco, né? Em números absolutos são 210 mil pessoas. Se for 0,2%? Ainda assim será pouco? 420 mil pessoas! E vamos somando, de 0,1 em 0,1%. Até onde vai? Será que chega em mim, no meu pai, na minha mãe? A cada, 0,1%, a chance aumenta. Vale pra você também, leitor e leitora. É uma bomba relógio. Tic, tac, tic, tac.

    O governo brasileiro está disposto a pagar o preço, seja ele qual for. Estamos com quase 85 mil mortos. E contando. E o vírus circulando, e as pessoas morrendo. Em algum momento, virá a tal imunidade natural do rebanho. É o que a ciência diz.

    Os que sobreviverem ficarão imunes. Os que morreram, em sua maioria pessoas mais frágeis, não voltam mais. Óbvio! A ciência também diz isso. Sobram os mais fortes, aptos e saudáveis. Na história da ciência, a estratégia bolsonarista tem nome: eugenia, darwinismo social. Na história politica tem nome também: genocídio!

    Nomear as coisas com os nomes que elas têm é, antes de tudo, ato político desestabilizador, como percebemos na reação histérica dos generais à entrevista de Gilmar Mendes.

    Dizer que o bolsonarismo é obscurantista, negacionista, ignorante, significa ser indulgente. Não se trata de nada disso. É pior. É muito pior.

    Quando Osmar Terra participou do programa da Globo News, no começo de maio, e disse que as pessoas não deveriam ficar trancadas em casa, que tinham que ir mesmo pra rua se infectar, ele estava cientificamente correto, certinho.

    A máxima “obedeçam a ciência”, tão ventilada no início da pandemia, pode ser muito perigosa. Não é tudo que a ciência manda que a gente tem que obedecer não. Carece de ter cautela, de selecionar repertórios, caso a caso, com lupa ampliada em cada situação.

    Há no meio disso tudo apenas duas certezas, que podem ser provadas, cientificamente: 1°) Bolsonaro e seus cumplices são genocidas. 2°) A ciência não detém o monopólio da virtude.

  • A sobrecarga do trabalho feminino em tempos de pandemia

    A sobrecarga do trabalho feminino em tempos de pandemia

     

    ARTIGO

    GÉSSICA GUIMARÃES, professora adjunta do Departamento de História da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

     

    Neste período de isolamento social imposto pela pandemia do Covid-19, temos sido confrontados com algumas realidades que não eram muito bem-vindas. Uma delas consiste na nossa relação com a manutenção da vida doméstica, que inclui a limpeza de nossa própria casa, o cuidado com as roupas, o abastecimento da geladeira e despensa, a preparação das refeições e o cuidado com as crianças, idosos e enfermos. Muitas famílias brasileiras ainda vivem sob o espectro dos três séculos de colonização e escravidão e relegam o trabalho doméstico às mulheres da casa ou detém o privilégio de terceirizar as atividades descritas acima em troca de remunerações intermitentes ou de salários que não se equivalem aos dos patrões e patroas.

    Uma constatação que não parece ser muito difícil para qualquer um que cumpre as regras do confinamento é a de que as mulheres sofrem uma sobrecarga de trabalho. Tanto aquelas que trabalham fora de casa e são remuneradas, como as que se dedicam integralmente ao trabalho doméstico estão em condições agudas de exploração: as primeiras por suportarem duplas jornadas e, na maioria das vezes, receberem os menores salários; e as “donas de casa” por terem o seu trabalho invisibilizado, desmerecido e não remunerado. Neste momento, uma camada mais ampla da sociedade está experimentando pela primeira vez como o trabalho doméstico é exaustivo, repetitivo e desgastante física e emocionalmente.

    De maneira ainda mais dura, temos a realidade cruel das mulheres que trabalham como empregadas domésticas, grupo formado em sua maioria por mulheres negras e pobres, desempenhando as tarefas que os homens e as mulheres de classes sociais mais abastadas se negam a fazer. Submetidas a regimes de trabalho sem estabilidade como as diaristas, com baixos salários e até mesmo em condições que lembram nosso passado escravocrata. A pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, entre os dias 14 e 15 de abril e publicada no dia 22 do mesmo mês, revelou que, por causa da pandemia, cerca de 39% das empregadas domésticas foram dispensadas de seus trabalhos sem nenhuma remuneração. Em tempos de quarentena por causa da disseminação do coronavírus, muitas dessas mulheres viram suas fontes de renda desaparecerem e agora dependem da iniciativa de um governo que já deu inúmeras provas de sua misoginia e distanciamento da classe trabalhadora.

    Ilustração de Marceloh

    Há algum tempo, intelectuais feministas têm apontado que há na dinâmica do sistema capitalista uma dupla estrutura de exploração do trabalho que permaneceu encoberta, até nos escritos de Marx e Engels. Além da produção de bens, capital e lucros, há também o trabalho realizado na reprodução da vida. Em um manifesto feminista publicado ano passado[1], Cinzia Arruza, Tithi Battacharya e Nancy Fraser enfatizam que a produção não seria possível sem um trabalho que é desempenhado cotidianamente e que foi apagado pelo sistema capitalista. Este trabalho consiste na reprodução da vida, isto é, desde a reprodução da espécie, passando pelos anos de educação, formação para o trabalho e a manutenção diária das condições básicas de vida como a alimentação e a higiene. Trabalho esse que mantém os trabalhadores e as trabalhadoras aptos a cumprir as suas funções, que é desempenhado majoritariamente pelas mulheres, sendo frequentemente desprovido de reconhecimento e remuneração. Ao mesmo tempo em que a sociedade encara esse trabalho como supérfluo e inferior, o sistema capitalista depende dele para sua existência.

    Em uma perspectiva mais otimista, essa grande crise sanitária que atravessamos nos deu amostras de que mudanças na direção da política econômica dos governos mundo afora precisa acontecer, discursos de encolhimento do Estado e privatização de serviços estratégicos, como saúde, foram colocados à prova com o “novo normal” da pandemia. Contudo, o futuro está aberto. E, nessa disputa, projetos de maior recrudescimento da precarização das relações de trabalho e o escancaramento da política de extermínio da população pobre ficam nítidos a cada pronunciamento ou entrevista de Jair Bolsonaro.

    O cenário que nos aguarda ao fim do confinamento deve nos revelar algumas mudanças sociais, a primeira delas, a grande pauperização da sociedade, associada a transformações nas relações do trabalho, impactadas por essa experiência compulsória de home office e possíveis estratégias de isolamento social nos próximos meses. Nossa expectativa é que na esteira dessas transformações as relações de gênero sejam repensadas, pelo menos no que diz respeito às funções que são compulsoriamente atribuídas às mulheres na tarefa ininterrupta de prover o cuidado e alimentação das famílias, bem como a valorização de todas as pessoas que exercem o cuidado como profissão. Nosso receio, entretanto, é que as mulheres sofram as principais consequências dessas transformações econômicas e sociais.

     

     

    [1] ARRUZA, Cinzia; BATTACHARYA, Tithi; FRASE, Nancy. Feminismo para os 99%: um manifesto. São Paulo: Boitempo, 2019.

  • UFMT lança podcast Vida em Quarentena

    UFMT lança podcast Vida em Quarentena

    O podcast Vida em Quarentena, programa gratuito sobre as histórias de período de isolamento devido à situação da pandemia da Covid-19, estreou nesse domingo, 29 de março, nas plataformas Spotify, Deezer, Mixcloud, Anchor, Breaker RadioPublic. Todo o trabalho de produção, gravação e edição é feito em casa por estudantes que integram os projetos de extensão nos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, Rádio e TV e Cinema e Audiovisual do Departamento de Comunicação da UFMT, e coordenado pelo professor Luãn Chagas, do curso de jornalismo. Além do programa semanal mais longo, estão sendo produzidos outros conteúdos como o Minuto Quarentena. Todos são e distribuídos nas redes sociais e também enviados às emissoras de rádio comunitárias.

    A “Quarentena lá fora” é o tema do primeiro episódio do Vida em Quarentena, uma produção do Comunicast, o Projeto de Extensão em Podcast da UFMT. Para saber como o mundo tem vivido o isolamento, os alunos foram atrás de histórias de estudantes e moradores de nove países diferentes: Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Canadá, Colômbia e Argentina. “Solidariedade, empatia, cuidados e precaução são algumas palavras que movem o movimento difícil que estamos passando. Mas como é a vida em quarentena de quem está fora do país, longe de casa? Coloque o fone de ouvido e mergulhe nas histórias do Vida em Quarentena, um podcast feito dentro de casa por muitas vozes!”, traz o material de divulgação do programa.

    Os episódios de Vida em Quarentena e os mini-programas Minuto Quarentena também têm o apoio da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraco) em Mato Grosso, que veicula o material em emissoras como a CPA FM, de Cuiabá. Ao longo das próximas semanas diversos temas que envolvem a quarentena serão abordados, como a situação dos moradores em situação de rua frente à Covid-19, as redes de voluntariado, os cuidados na alimentação e no manuseio dos alimentos, fé, refugiados e entretenimento.

    “Nosso objetivo é trazer informação e contar as histórias que envolvem esse período, até porque é hora de refletir sobre o que estamos vivendo, sobre a quarentena em diferentes aspectos, dos que tem casa aos que não tem, dos que estão longe de suas famílias às políticas públicas”, destaca o professor Chagas.

    Os áudios para WhatsApp, os Minutos Quarentena e os podcasts terão produção, roteiro e edição exclusiva para cada formato.

     

    Veja abaixo as opções de acesso ao Vida em Quarentena na internet.

    Spotify: https://open.spotify.com/show/6yxyK5YK5fZIlsx4kjepwY?si=Kht5DydxR6mCRWm7L7dt-Q

    Deezer: https://www.deezer.com/br/show/993622?utm_source=deezer&utm_content=show-993622&utm_term=2206201488_1585425023&utm_medium=web

    Mixcloud – https://www.mixcloud.com/comunicastufmt/

    Anchor: https://anchor.fm/vidaemquarentena

    Breaker: https://www.breaker.audio/vida-em-quarentena

    RadioPublic: https://radiopublic.com/vida-em-quarentena-Wo0B9x

  • Jornalista brasileira em isolamento na Itália alerta Brasil sobre coronavírus

    Jornalista brasileira em isolamento na Itália alerta Brasil sobre coronavírus

    por Raquel Moysés* para os Jornalistas Livres

    *Doutora em jornalismo, professora e servidora pública federal aposentada pela UFSC/IELA

    Jornalista brasileira vive em isolamento do coronavírus com o marido e o filho em Matera, no Sul da Itália. “Vivendo a quarentena de uma nação inteira”

    Aqui estamos praticamente em quarentena, trancados em casa.
    Só saímos para comprar o indispensável. Esta semana fui ao supermercado… a recomendação é de ir só uma pessoa por vez e de cada família.
    Que sensação estranha…
    No supermercado precisa fazer fila e pegar um número, que é para os clientes irem entrando aos poucos, respeitando a distância de segurança uns dos outros.
    Os que conseguiram ainda comprar, usam máscaras de proteção, outros cobrem o nariz e a boca com uma echarpe ou algo assim.
    Há quem faça máscaras “fai da te” (faça você mesmo).
    Alguns usam luvas de silicone.
    A sensação é de irrealidade…
    Como num filme de ficção, meus amigos !

    A minha ida para o Brasil, que seria agora em março está adiada, não sei até quando…
    Desde a última terça-feira o Stefano está em casa para vivermos juntos esta espécie de “quarentena” de uma nação inteira…
    Ele veio sem problemas de Bari até Matera, porque tem residência aqui é isso entra nas regras restritivas estabelecidas para a mobilidade em tempos de coronavírus na Itália.

    O “presidente del Consiglio,” quer dizer o primeiro ministro da Itália, Giuseppe Conte, na última quarta-feira, 11 de março, comunicou ao povo italiano que a maior parte daquilo que ainda estava aberto no país teria que fechar.
    Portanto, desde 12 de março, não abrem mais restaurantes, bares, cafés, pubs, centros comerciais, lojas, salões de beleza, centros de estética etc etc etc , e tudo aquilo que não é considerado de primeira necessidade.

    As novas regras são medidas de “guerra” contra o coronavírus.

    Agora estamos todos na zona vermelha. Mais de 60 milhões de italianos…

     

    Papa Francisco, no centro de Roma, evocando fim da epidemia

    A Itália inteira virou “zona rossa”, embora oficialmente a chamem de  “Zona protegida”, para funcionar melhor psicologicamente e não criar mais alarmismo do que já incitam as redes sociais e certa mídia.  Não tinha mesmo outro jeito.

    Esperar mais tempo para limitar os deslocamentos e reduzir os contatos físicos no país todo seria muito arriscado, pois esse vírus é muito contagioso, se expande com uma rapidez enorme. E os italianos não são tão disciplinados como os chineses, demoraram para entender que a coisa é muito séria, que não se trata de uma simples influenza.

    Os demais países europeus já perderam muito tempo, e apenas agora alguns começam a entender que servem atitudes drásticas, como fez a Itália, que de algum modo serviu de muro de contenção para o vírus responsável por esta grave pandemia, declarada como tal pela OMS, a Organização Mundial da Saúde.

    Se o governo italiano tivesse deixado tudo solto, sem adotar as medidas que foi tornando dia-a-dia mais rígidas, a situação de contágio na Europa hoje talvez fosse ainda mais grave.

    A própria primeira ministra alemã Angela Merkel afirmou em uma entrevista coletiva na semana passada que a Alemanha corre o risco de chegar a ter 60 a 70% da população contagiada pelo coronavírus.

    Mas mesmo na Alemanha medidas mais severas para interromper a circulação do vírus ainda não foram tomadas de modo unívoco.
    O sistema federativo parece dificultar bastante uma tomada de posição em nível nacional.

    A comunicação nos países da zona euro e principalmente nos Estados Unidos sobre o contágio na Itália foi bastante distorcida. Os italianos foram vistos no mundo, nos primeiros dias da epidemia que os atingia , como “gli untori”, aqueles que espalhavam o coronavírus pelo mundo, sendo quase tão tripudiados quanto foram os chineses. Só agora, após o reconhecimento por parte da própria OMS, do enorme esforço que a Itália está fazendo para conter o Covid-19, alguns países europeus começam a se dar conta da dificuldade que têm pela frente e até se espelham no modelo italiano de contenção do vírus..

    Até agora na Itália mais de dois mil profissionais da saúde foram infectados

    Os responsáveis pela saúde pública de todo o mundo deveriam se mirar no “caso italiano”, adotando preventivamente medidas para reduzir o contágio iminente.  Isso não aconteceu nem na Europa, que hoje é o foco principal da pandemia no mundo. A primeira medida que teriam que adotar, lamentavelmente, é o isolamento social. Quer dizer, impedir o nosso direito de mobilidade.

    Diante de um vírus altamente contagioso, para o qual nenhum ser humano tem imunidade, só resta reduzir os contatos ao mínimo, ficar em casa o maior tempo possível e sair apenas para para comprar produtos de primeira necessidade (como alimentos, remédios, produtos de limpeza e higiene pessoal).

    Com sintomas de coronavírus ou após ter tido contato próximo e desprotegido com uma pessoa contagiada, o primeiro cuidado a tomar é não ir ao posto de saúde nem na emergência dos hospitais, pois é alta a probabilidade de contagiar outras pessoas, além de médicos e enfermeiros, que estão na linha de frente cuidando dos pacientes.

    Até agora na Itália mais de dois mil profissionais da saúde foram infectados. Desses, cerca de 250 são médicos que estão em quarentena ou internados, inclusive alguns entubados. Dois deles morreram.

    (Veja vídeo que flagra um momento de solidariedade com música, entre vizinhos na Itália)

     

     

     

    Os primeiro passos da Itália para conter a disseminação do Coronavírus

     

    A Itália foi o primeiro país europeu a interromper os voos para a China no auge na emergência naquele país, e está pagando um altíssimo preço econômico, cultural e em todos os âmbitos da vida social pelas medidas restritivas que precisou tomar.
    Aqui o sistema sanitário público realiza uma grande quantidade de “tamponi” (testes para confirmar se as pessoas foram contagiadas).
    Além disso, são divulgados, todos os dias, durante entrevista coletiva, boletins oficiais da defesa civil, com todos os números do contágio, pessoas em quarentena, doentes nos hospitais, os curados e, infelizmente, os mortos, que pelos números de 16 de março, somam 2158. Boa parte desse triste número de vidas perdidas se refere a pacientes que morreram com coronavírus e não exclusivamente por coronavírus.

    Eram predominantemente pessoas velhinhas, que já estavam bastante fragilizadas e doentes, mas há idosos com boa saúde que foram atingidos, e também pessoas de diversas outras faixas etárias.

    Embora a chance de cura seja alta, o grande problema do coronavírus é que um percentual de 10% a 13% de pacientes necessita de terapia intensiva.
    É como se de repente um tsunami invadisse as UTIs, ao contrário dos casos de influenza, que ocupam os hospitais como uma onda gigantesca, distribuída ao longo dos meses de inverno.
    Muitos países não estão fazendo a coisa certa, segundo os especialistas italianos. Não tomam medidas urgentes de prevenção nem divulgam os dados reais do contágio.
    Inclusive os Estados Unidos, onde a pessoa tem que pagar em média 3 mil dólares para fazer o exame para saber se foi contagiada.
    Lá não existe saúde pública.
    Os estadunidenses que podem pagar enfrentam a selva dos planos de saúde privados, que frequentemente dão cobertura ínfima.
    Além disso ali muitos contratos de trabalho não preveem sequer licença de saúde remunerada. Então a pessoa vai trabalhar mesmo contagiada ou doente.
    E certamente os números do contágio por coronavírus são muito mais elevados do que os divulgados pelo “Tremp”, em ano eleitoral. Não é à toa que ele colocou o vice-presidente como responsável pela questão do coronavírus. Assim, se a coisa der errado, em última instância ele vai colocar a culpa no vice.
    No discurso que fez na semana passada, declarando emergência nacional, ele finalmente teve que assumir a existência da emergência coronavírus, que antes negava, mas o que chega de lá não é nada tranquilizante.
    A situação era grave há várias semanas, tanto que os governadores da Califórnia e o do estado de Nova York já haviam declarado estado de emergência.

    A única coisa que funciona, como demonstra a China, é impedir o contágio com medidas de restrição dos contatos humanos, já que não há vacina nem medicamento certo para curar a pneumonia nos casos mais graves provocados pelo Covid-19.
    Aqui na Itália estão experimentado usar antivirais que serviram para tratar doentes durante as epidemias de AIDS e Ebola. Também estão usando, ao que parece já com algum sucesso para alguns pacientes em estado grave internados em Nápoles, um fármaco utilizado para tratar artrite-reumatóide (Tocilizumab).

    O serviço público de saúde está à beira do colapso no norte da Itália, pois é elevado o número de doentes com pneumonia intersticial grave que necessitam de UTI.

    E não há só doentes de Covid-19, obviamente. As demais doenças não “entraram em férias”. Aqui no sul o agravamento da epidemia pode ser ainda mais grave, se não se conseguir deter a progressão do contágio, pois o serviço de saúde entraria ainda mais rapidamente em colapso.

     

    O problema da saúde pública da Itália se revela com o Coronavírus

    Enfermeira italiana alerta para a única precaução possível: “Fique em casa!”

    Devido aos menores investimentos feitos na saúde pública na Itália meridional, o sistema aqui é muito mais frágil do que o do norte, que está resistindo a duras penas a essa prova.
    Esta é a consequência, principalmente nos últimos dez anos, da absurda política de austeridade ditada pelo capitalismo neoliberal, com cortes drásticos principalmente em saúde e educação.
    É em momentos graves como esse que se percebe, com imensa preocupação, quanto essa política é danosa e desumana.
    A discussão sobre isso, agora, tardiamente, está na ordem do dia na Itália.
    Neste momento muitas pessoas do povo, especialistas de todos os campos e diversos jornalistas coniventes despertam para a necessidade de salvar e fortalecer o virtuoso serviço público de saúde italiano, que ainda é um modelo admirável de sistema universal de atendimento, como o SUS brasileiro, tão vilipendiado pela fórmula do neoliberalismo.
    Aqui na Itália cada pessoa tem um médico de referência, chamado médico de base ou médico de família, o primeiro a quem consultar quando se sente mal.
    No caso da emergência coronavírus, todos são orientados a não ir ao consultório, mas telefonar ao próprio médico de base, no caso de ter tido contato próximo e desprotegido com algum contagiado ou já apresentar sintomas.
    O grande risco do coronavírus é que é possível ser contagiado por uma pessoa assintomática, que pode transmitir o vírus por diversos dias sem saber que é positiva.
    Mas quando a pessoa já apresenta algum sintoma, o médico de família a orienta, por telefone, sobre os cuidados a tomar, prescreve a quarentena e avisa a ASL (Azienda Sanitaria Locale), que passa a também monitorar a pessoa isolada em casa.
    É a ASL que encaminha o paciente para fazer, em ambiente protegido, o exame que identifica se ele é positivo ou não ao vírus.
    Essa é a forma de buscar evitar que o contagiado passe o vírus a médicos, enfermeiros e outros pacientes.
    A ordem é não ir de jeito nenhum para o consultório do médico de família nem às emergências dos hospitais, pois foi o que fez o paciente número 1, indo à emergência do Ospedale di Codogno, na Lombardia, iniciando assim, involuntariamente, a cadeia de transmissão que hoje totaliza quase 28 mil pessoas contagiadas pelo coronavírus na Itália, somando as que sararam, as que se encontram em quarentena em casa, estão internadas ou, lamentavelmente, morreram.

    Médicos infectologistas, virologistas e pesquisadores avaliam que o vírus já circulava na Itália bem antes da descoberta do primeiro foco de contágio e da eclosão da emergência em 21 de fevereiro.

    Assim, o coronavírus ficou circulando livremente e contagiou pessoas que eram assintomáticas ou apresentavam sintomas semelhantes aos da influenza.
    Alguns médicos de família hoje relatam que, já no início do inverno, estranharam alguns casos graves de pneumonia, mas não puderam naquele momento imaginar a epidemia que estava por vir, causada por um vírus até então desconhecido.
    O fato de a epidemia ter iniciado exatamente na emergência de um hospital (de Codogno) foi outro fator responsável pela gravidade da rede de contágio na Itália.

    Só a luz da razão e da solidariedade pode conter a pandemia. Matera, Itália

    Aqui em Matera (festejada capital europeia da cultura em 2019) o clima de grande efervescência artístico/cultural deu lugar ao silêncio e ao temor de que todos os investimentos feitos para atrair visitantes se tornem inúteis. Patrimônio da humanidade declarado pela Unesco, a capital cultural da Europa de 2019 descortinou a um número significativo de turistas e viajantes de tantos países o cenário de um mundo remoto e deslumbrante, com sua esplêndida cidade histórica feita de pedra, I Sassi.
    Agora aqui, como na Itália inteira tudo é incerteza, mas Matera e a Basilicata (terceira região menos populosa da Itália) ainda suspiram aliviadas por serem “lanterninhas” na transmissão do contágio. Nas duas províncias da região (Matera e Potenza), os casos ainda são limitados, mas todos os habitantes tremem só de pensar em uma emergência, pois há poucos leitos de UTI disponíveis nos hospitais.
    E não são só os velhinhos os mais contagiados nessa emergência italiana. Eles representam mais de 40% dos casos totais, mas 35% dos pacientes em terapia intensiva têm entre 50 anos e pouco mais de 60. Pessoas que em geral não têm o físico debilitado.

    Há também adolescentes e adultos jovens nas UTIs. Felizmente poucas crianças contagiadas, mas há inclusive bebês.

    Já se desmentiu a hipótese tranquilizadora que circulou inicialmente de que crianças e jovens seriam praticamente imunes ao coronavírus.
    Não é assim, declaram as autoridades sanitárias do país, alertando para a exigência de que crianças, adolescentes e adultos jovens fiquem também rigorosamente em casa.
    Lamentavelmente até agora a mortalidade é maior entre idosos, principalmente aqueles com outras doenças que já os fragilizam.
    É por isso que hoje é uma prioridade a proteção dos avós, que na Itália, em grande número, são “baby-sitters” dos netinhos.
    A recomendação nessa fase de emergência é que não fiquem com os avós. As crianças podem ser transmissoras ideais do coronavírus, pois , dada a sua energia e sede de brincar, tocam continuamente tudo.
    O governo inclusive estabeleceu uma ajuda financeira para pais e mães (que atuam nas atividades definidas como essenciais e precisam sair para trabalhar) contratarem quem os ajude a cuidar dos filhos.
    As escolas e creches estão fechadas e os avós precisam ser protegidos até de abraços e beijos.
    A guerra contra o coronavírus impõe também sacrifícios afetivos.
    Nós, como a maioria dos italianos, já estamos há vários dias isolados dentro de casa.
    Saímos só o estritamente necessário, para comprar alimentos ou coisas de primeira necessidade.
    Impossível não ficar preocupados com estes números de contágio que ainda não param de subir.

    Ninguém está livre de adoecer, pois o vírus não conhece fronteiras e nenhum de nós em todo esse vasto mundo tem imunidade contra ele.
    Além disso, não e possível prever quando estará disponível uma vacina ou
    medicamentos eficazes contra o Covid-19.

    A única esperança é de que as medidas de restrição da nossa liberdade de ir e vir possam ter o efeito esperado.
    Agora, com as novas medidas, as pessoas só devem sair de casa por motivos sérios, como o trabalho (naqueles setores públicos e privados que não podem parar), para dar assistência familiar a doentes, fazer compras de produtos indispensáveis como alimentos, produtos de limpeza, higiene e remédios.
    Por força dos dois decretos anteriores já estavam fechados todos os teatros, cinemas, museus, academias de ginástica, feiras de alimentos, etc, inclusive os famosos “mercati rionali” (feiras dos bairros), onde se vende de tudo um pouco.
    As missas estão suspensas há vários dias. As igrejas permanecem abertas, mas quem entra nelas para rezar precisa respeitar a distância de segurança de no mínimo um metro de um ser humano ao outro.
    Até os funerais devem acontecer em privado, com número mínimo de presenças, sempre respeitando a distância, sem abraços e beijos.
    Quando uma pessoa adoece e morre por causa do Covid-19, os familiares não podem ter nenhum contato com os próprios caros, nem no hospital nem depois, por ser uma doença infecciosa. E esse é um dos aspectos mais tristes, pois não podem sequer confortar ou se despedir dos que amam.
    Em algumas cidades, como Bergamo, que hoje é o epicentro da epidemia no norte, está sendo traumático para as famílias a fila de espera para sepultamento ou cremação. Em Bergamo, na semana passada, morreram cerca de 50 pessoas por dia, com o coronavírus que agravou outras doenças de que já padeciam, ou por causa exclusiva do coronavírus

    Viver tudo isso na mais absoluta solidão era imaginável até outro dia, principalmente em um país como a Itália, que vive com grande intensidade os rituais da vida e da morte.

    Todas as escolas, conservatórios e universidades estão fechados até 4 de abril.
    Por enquanto, pois é bastante provável que tenham que prorrogar o fechamento.
    Até mesmo na China as escolas ainda não reabriram.
    Sinal de que o risco de reincidência do contágio é um receio dos cientistas, médicos e do governo chinês.
    Com essas novas medidas rigorosas o governo italiano, assessorado por cientistas e respeitados nomes da saúde pública italiana e da OMS, espera reduzir nos próximos 15 dias a curva de crescimento do contágio.
    Certamente não se chegou ainda ao pico dessa curva, todos advertem.
    Nos próximos dias é previsto um aumento substancial do número de contagiados, pois as medidas restritivas ainda vão demorar um pouco para gerar os resultados esperados.
    Ninguém tem certeza do tempo que vai ser necessário, mas a hipótese é de que, ao se atingir o clímax, o contágio começaria lentamente a cair, como acontece agora na China, e aconteceu no passado com outras epidemias e pandemias.

    Esse vírus é muito pouco conhecido pelos cientistas. Não se sabe ainda com relativa precisão o seu “modus operandi.”
    E o pior é que é mutante, como todo vírus. A sensação absurda hoje é de vivermos todos como personagens de um filme de ficção científica…

    Impressionante pensar que não podemos sair de casa livremente, e que encontrar outro ser humano representa sempre um risco.
    Na situação mais grave vivida desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o grande inimigo está na respiração do outro.
    É visível como as pessoas que se encontram nas filas dos supermercados, munidas de máscaras (se conseguiram comprar ou confeccionar uma), se olham de soslaio, até com um pouco de vergonha do medo que sentem umas das outras. A ordem que se lê nos olhares é: mantenha distância. Todos querem se livrar das gotinhas de saliva que podem ser “habitadas” pelo temível vírus SARS COV-2, que causa a doença batizada pela comunidade científica com um nome imponente: Covid 19.

    Só nos resta esperar que esse pesadelo passe.
    Espero com todo o coração que o vírus não se expanda, como já anunciando, no nosso Brasil, na Nuestra América, e em outros países do mundo onde ainda não chegou.

    Temo muito pelo que pode acontecer no Brasil, se o coronavírus se tornar uma grande emergência nessa era de brutalidade do desgoverno, que fez cortes enormes no nosso SUS e desmantelou o excelente programa Mais Médicos.

    Agora, médicos cubanos (e venezuelanos), que forem descartados sem nenhum respeito apesar do excelente trabalho que faziam nos grotões do Brasil, socorrendo os últimos, já se aprestam a vir em socorro da Itália nessa dolorosa emergência.
    Me angustio só de pensar no já tão espoliado e sofrido continente africano. Ali o coronavírus provocaria uma tragédia inimaginável.
    Estou rezando a toda hora…
    Segura, coração!

     

    Dados da Itália hoje:

     

    Os números são divulgados todos os dias durante entrevista coletiva do comissário para a emergência do Serviço Nacional da Proteção Civil.

    DADOS DE 18 horas de 16 de Março

    27980 casos no total
    23.073 casos com teste positivos,

    destes 2151  (mortos), 2749  (curados)

    Dos 23.073 com teste positivo
    10197 estão em isolamento domiciliar

    11025 estão internados com sintomas
    1851 em terapia intensiva (UTI)

    http://www.salute.gov.it/portale/nuovocoronavirus/dettaglioContenutiNuovoCoronavirus.jsp?lingua=italiano&id=5351&area=nuovoCoronavirus&menu=vuoto

    Contei um pouco do que vi, ouvi e aprendi estes dias, a duras penas…
    Uma espécie de carta reportagem… coisa de jornalista.
    Muita gente estava mandando mensagens e me perguntado o que está acontecendo. Todo mundo assustado.
    Talvez o que escrevi possa ser útil e ajudar em alguma coisa.

    Fontes italianas sobre o coronavírus:

    https://www.google.it/amp/s/www.ilfattoquotidiano.it/2020/03/15/coronavirus-papa-francesco-va-in-due-chiese-simboliche-del-centro-di-roma-per-invocare-la-fine-della-pandemia-il-significato-simbolico-e-i-precedenti/5737669/amp/

    https://m.ilgiornale.it/news/☝cronache/coronavirus-linfermiera-crollata-fine-turno-state-casa-1838809.html

    https://m.huffingtonpost.it/entry/lappello-dellinfermiera-in-prima-linea-a-☝milano-state-a-casa-fatelo-per-noi-e-per-voi_it_5e66238ac5b68d61645748c4

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  • Bolsonaro criminoso contraria Ministério da Saúde e vai, sem máscara, a manifestação anti-Congresso

    Bolsonaro criminoso contraria Ministério da Saúde e vai, sem máscara, a manifestação anti-Congresso

    Apesar de as mortes decorrentes do coronavírus se multiplicarem pelo planeta, especial destaque para a Itália (com mais de 1.441 mortes), o irresponsável presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, fez questão de contrariar as normas de conduta em relação à doença estabelecidas pelo próprio ministério da Saúde, para incentivar as manifestações dos fascistas que o apoiam, marcadas para hoje.

    Bolsonaro deveria permanecer em isolamento até refazer os testes para o coronavírus, já que ao menos seis pessoas que estiveram próximas a ele durante viagem aos EUA, na semana passada, estão infectadas com o novo vírus.

    O presidente já se submeteu a um primeiro teste para o coronavírus, que deu negativo, mas segue sendo um potencial transmissor da doença até que um novo teste para o vírus seja feito nele, a chamada contraprova.

    Depois de ter feito pronunciamento em rede nacional de televisão para desestimular os atos deste domingo (15) em função da propagação do novo coronavírus no país, Jair Bolsonaro deixou o Palácio da Alvorada de carro na tarde deste domingo e seguiu para a Esplanada dos Ministérios.

     

    Irresponsabilidade demais

    Mas a irresponsabilidade de Bolsonaro não pára por aí. Ao comparecer ao lado de manifestantes no ato pró-governo deste domingo e continuar circulando por Brasília, ele incentiva a formação de aglomerações de apoiadores, criando terreno fértil para a proliferação do coronavírus. Bolsonaro também compartilhou vídeos e fotos sobre as manifestações no Twitter. Em uma delas, sem autoria, era possível ler faixas “Fora Maia”, contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, “Fora STF” e “SOS Forças Armadas”.

     

    No Boletim Epidemiológico produzido pelo Ministério da Saúde e divulgado ontem (14/março), lê-se que, entre as medidas mais importantes necessárias à contenção da pandemia de coronavírus, está o “adiamento ou cancelamento de eventos com aglomeração de público – governamentais, esportivos, artísticos, culturais, políticos, científicos, comerciais e religiosos e outros com concentração próxima de pessoas”.

    Por causa disso, jogos de futebol, combates do UFC, shows e outros eventos com aglomeração de pessoas estão sendo cancelados ou, quando realizados, o são sem a presença de público. Bolsonaro é um risco à saúde pública, com seu comportamento irresponsável, leviano e criminoso. E o pior: quem pagará, caso a pandemia se espalhe e comece a matar pessoas por aqui, não serão apenas os apoiadores do presidente fascista que se expuseram à doença ignorando todas as advertências médicas, mas todo o povo brasileiro, porque essa gente que vai aos atos de Bolsonaro passará a doença para inocentes com quem se relacionarem.

     

    É preciso parar Bolsonaro!