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  • Jornalistas, veículos e entidades assinam manifesto contra censura e fake news

    Jornalistas, veículos e entidades assinam manifesto contra censura e fake news

    Um dos temas que têm mobilizado setores importantes da sociedade brasileira é como enfrentar a pandemia de mentiras e desinformação que tomou conta do debate público, principalmente em razão da escala e velocidade que as novas formas de circulação da informação conferiram a este fenômeno. O problema colocado é bastante delicado: como enfrentar as “fake news” sem gerar censura e sem violar a liberdade de expressão? Além disso, caberá a quem, a qual instituição definir o que é verdade ou não? A partir de quais critérios? Está claro que é preciso envolver a sociedade nessa discussão, para evitar que soluções aparentemente fáceis e rápidas produzam um estrago ainda maior.

    É este o alerta que as entidades, veículos de comunicação e jornalistas querem transmitir ao publicar o manifesto “Democracia se constrói com informação de qualidade, sem censura e sem fake news”. O documento trata do perigo que representa a tentativa do Senado em aprovar, na próxima semana, o projeto de lei de autoria do Senador Alessandro Vieira (PL 2630/2020) para combater Fake News. O Projeto de Lei, elaborado conjuntamentamente pelos deputados Felipe Rigoni e Tabata Amaral, que apresentaram na Câmara dos Deputados projeto do mesmo teor, propõe uma série de medidas que, se não forem devidamente debatidas e estudadas, podem dar ainda mais poder para as plataformas de Internet (Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e outras) arbitrarem sobre o que deve ou não circular nas redes, legitimando práticas de remoção de conteúdo.

    Confira, a seguir, a íntegra do manifesto e a lista de signatários. Para assinar, envie e-mail com nome, ocupação veículo e/ou entidade para o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé (britarare@gmail.com)

    ***

    DEMOCRACIA SE CONSTRÓI COM INFORMAÇÃO DE QUALIDADE,

    SEM CENSURA E SEM ‘FAKE NEWS’

     

    A disseminação em massa de “fake news”  é um fenômeno global que tem consequências devastadoras para a vida e para a democracia. O problema é real e exige respostas efetivas que preservem o direito fundamental à liberdade de expressão, que permitam o livre debate de ideias e de perspectivas sobre os acontecimentos.

    A sociedade precisa enfrentar essa pandemia de mentiras e desinformação, que são produzidas de forma coordenada por setores ideológicos, políticos e econômicos, que investem muito dinheiro e inteligência para distorcer propositadamente a realidade, com o objetivo de alcançar seus objetivos e defender seus interesses.

    A crise sanitária, que neste momento atinge o mundo, revelou de forma dramática o perigo que as “fake news” representam: líderes políticos ignorando a ciência para dizer que o Covid-19 é apenas uma “gripezinha”, estímulo ao uso de medicamentos sem comprovada eficácia científica, a disseminação de conteúdos afirmando que a doença não existe, ou foi fabricada para derrubar o presidente, etc.

    Em meio a essa crise, surge uma pressão para que o Congresso Nacional dê resposta legislativa para o combate às “fake news”.

    É fundamental que deputados e senadores tomem a iniciativa de realizar um amplo debate público sobre o melhor caminho a ser adotado para enfrentar a pandemia da mentira e desinformação.

    Nós, jornalistas e comunicadores sociais – que trabalhamos para oferecer informação de qualidade para a sociedade, que lutamos para dar expressão e visibilidade a fatos e opiniões que não têm espaço na mídia hegemônica, que temos contribuído para conferir mais pluralidade e diversidade ao debate público no Brasil – afirmamos que não se pode, sob o pretexto de combater as “fake news”, criar mecanismos privados de avaliação da veracidade de conteúdos jornalísticos.

    Alertamos para o perigo que representará para a democracia e para a liberdade de expressão conferir às plataformas privadas da internet a responsabilidade de definir que conteúdos são ou não verídicos, iniciativa que inclusive viola o Marco Civil da Internet. Tampouco podemos acreditar que agências privadas de checagem de notícias podem cumprir esse papel com isenção e neutralidade, ou que seja possível nomear grupos de jornalistas com o poder de classificar conteúdos jornalísticos produzidos por outros jornalistas.

    Não se combate “Fake News” criando um Ministério da Verdade. Sabemos como isso acaba: com a tentativa de legitimação da censura.

    O problema contemporâneo envolvendo a disseminação de mentiras e desinformação pode ser combatido de outra forma: criando instrumentos legais e usando os já existentes para desmontar os gabinetes de ódio e as fábricas de produção industrial de “fake news”. Isso pode ser feito cruzando as fontes de distribuição de desinformação — nas redes sociais, nos sítios web — com os esquemas criminosos de financiamento dessas estruturas.

    É preciso responsabilizar civil e criminalmente empresas que financiam essas estruturas para fabricar e disseminar de forma artificial esses conteúdos que podem trazer danos à vida e à democracia. Agentes públicos que financiem e produzam esse tipo de conteúdo também devem ser responsabilizados por isso.

    Também é fundamental exigir que as plataformas prestem informações transparentes sobre todos os mecanismos de mediação de conteúdos que elas já utilizam para definir o fluxo da circulação dos conteúdos.

    Só é possível enfrentar essa questões a partir de um amplo debate, o que pressupõe a construção de mecanismos que incluam os mais variados setores sociais na discussão de propostas concretas. Neste momento de isolamento social, em que a Câmara e o Senado debatem remotamente, sem a realização de audiências públicas e outras formas de participação social, não é viável garantir amplo debate sobre o tema.

    Neste sentido, alertamos para o perigo que pode representar para a democracia e para a liberdade de expressão a aprovação de qualquer projeto de lei sobre esse tema, de forma sumária e sem que estas formas de participação e diálogo amplo sejam produzidos.

    São Paulo, 25 de maio de 2020.

    Assinam este manifesto:

     

    Entidades

    Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
    Associação Brasileira de Imprensa
    Abraço – Associação Brasileira de Rádios Comunitárias
    Federação Nacional dos Jornalistas
    Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
    Núcleo Piratininga de Comunicação
    Agência de Notícias das Favelas

     

    Veículos

    Jornalistas Livres
    Revista Fórum
    Brasil 247
    Le Monde Diplomatique Brasil
    Viomundo
    O Cafezinho
    Outras Palavras
    Diálogos do Sul

     

    Jornalistas/Individuais

    Altamiro Borges – presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé
    André Fernandes – Fundador da Agência de Notícias das Favelas
    Antônio Martins – Editor do Outras Palavras
    Aquiles Lins – jornalista, editor do Brasil 247 e doutorando em Ciência Política
    Denise Assis – jornalista e colunista do 247
    Florestan Fernandes Jr – jornalista
    Heloisa Toledo – diretora de teatro
    Inácio Carvalho – Editor do Portal Vermelho
    Kiko Nogueira – Editor Diário do Centro do Mundo
    Laura Capriglione – Fundadora dos Jornalistas Livres
    Leonardo Attuch – Editor do Brasil 247
    Marcelo Auler – jornalista
    Miguel do Rosário – Editor do Cafezinho
    Miguel Paiva – jornalistas pela Democracia
    Paulo Salvador – da Rede Brasil Atual
    Renata Mielli – jornalista, coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
    Renato Aroeira – cartunista e músico
    Rodrigo Vianna – jornalista
    Silvio Caccia Bava – Editor do Le Monde Diplomatique Brasil
    Teresa Cruvinel – jornalista
    Vanessa Martina Silva – Editora da revista Diálogos do Sul
    Ademir Wiederkehr – jornalista e Secretário de Comunicação da CUT/RS
    Érica Aragão – jornalista e radialista
    Maricélia Pinheiro de Almeida – jornalista do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre

     

     

  • Oposição de esquerda joga parada guerra de informação e disputa pelo domínio da comunicação

    Oposição de esquerda joga parada guerra de informação e disputa pelo domínio da comunicação

    Por Yuri Silva*

    As ‘fake news’, elemento definidor das eleições presidenciais de 2018, exploradas principalmente pelo então candidato Jair Bolsonaro (à época no PSL) e pelos seus asseclas, continuam sendo parte marcante do dia-a-dia da sociedade brasileira, quase dois anos depois do resultado eleitoral.

    Desta vez, as crises política, sanitária e social, provocadas pela pandemia do Coronavírus e pela gestão pública controversa sobre o assunto, são os temas prioritários dos conteúdos que circulam nas redes sociais digitais.

    Numa intensa disputa de narrativas envolvendo questões como a eficácia da utilização (ou não) da Hidroxicloroquina, a demissão sequencial de ministros da Saúde, a crise envolvendo a demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, as formas de tratamento contra o COVID-19 e até mesmo a necessidade do isolamento social, bolsonaristas novamente aparecem em vantagem no placar dos debates contra as forças de oposição, aqui incluídas muito mais as forças de esquerda (desintegradas e vacilantes nesse quesito) e muito menos os setores da direita e da ultradireita que mostram-se anti-Bolsonaro.

    Defendendo a abertura dos comércios e serviços não-essenciais e fúteis como se essenciais fossem, o uso de remédios sem comprovação científica e absurdos outros semelhantes no campo das pautas ideológicas, informações compartilhadas pelas milícias digitais relacionadas a Bolsonaro — e comandadas no topo da cadeia pelo filho do presidente Carlos Bolsonaro, vereador e chefe do Gabinete de Ódio — têm surtido efeito práticos que, ainda que se queira, não podem ser negados.

    O nível de isolamento social no país tem sido reduzido dia após dia, conforme dados oficiais; as mortes devido à contaminação pelo vírus também têm chegado a patamares cada vez maiores; e o número de casos cresce vertiginosamente, aproximando o Brasil do posto de epicentro da doença.

    São esses apenas alguns dos claros elementos que apontam o triunfo das ‘fake news’ – nome estrangeiro utilizado nos últimos tempos para denominar as mentiras propagadas por grupos neofascistas que ganharam espaço (aparentemente permanente) na disputa sociopolítica e ideológica nacional.

    Enquanto isso, na era da pós-verdade, as “bolhas” da esquerda seguem transmitindo e alimentando outro sentimento sobre o placar desse jogo, completamente ilusório. Fechados em nossas redes repletas de posicionamentos próximos, iludimo-nos sobre quem está em vantagem. Divulgamos memes de humor contra o presidente e sua trupe da ópera-bufa do Palácio do Planalto; compartilhamos artigos bem escritos e que parecem pensados para serem consumidos (e elogiados) por outros intelectuais, pseudo-intelectuais, militantes e mais gente já convertida às nossas teses; arrotamos argumentos com linguagem pouco acessível, com citações acadêmicas, sociológicas ou filosóficas; e nos regojizamos com leituras que têm a função exclusiva de reafirmar aquilo no que já cremos.

    Na prática, contudo, pouco refletimos sobre como atingir de fato a massa da população, que ainda segue correndo riscos sanitários, por dureza financeira ou por ter sido alcançada e convencida pelas mentiras propagandeadas pelo outro lado. Pouco ou nada nos movemos para alcançar a “ralé brasileira” que continua nas filas da Caixa Econômica Federal em situação de exposição, sub-humanidade ou subcidadania e, ainda assim, acredita piamente que está sendo beneficiada por causa do esforço do Governo Federal dirigido pelo ser ignóbil eleito nas últimas idas às urnas. Nada ou pouco fazemos para dialogar e mudar o pensamento daqueles que seguem acreditando na necessidade de realizar-se o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) mesmo em condições de desigualdade do tamanho de um abismo, ou para trazer para o nosso lado aqueles que defendem a volta ao trabalho por medo dos crescentes desemprego e desalento que afligem o Brasil há pelo menos quatro anos.

    Fato é que produzimos conteúdo para nós mesmos e somos tímidos “café-com-leite”, como dizíamos na infância, na batalha da comunicação. Evitamos engrossar a audiência dos canais da grande imprensa, pois discordamos da linha editorial destes, mas sequer somos capazes, enquanto partidos políticos e movimentos sociais, de construir alternativas de massa pra substitui-los.

    Jogamos para a pequena audiência que consideramos, nas nossas cabeças preconceituosas, qualificada. E é nesse ponto que somos derrotados pelas ‘fakes news’, pela pós-verdade, pelas mentiras ou seja lá o nome que queiram adotar para esse fenômeno. Pois elas são feitas para a massa e consumidas por ela, pelo povão que tem pouco hábito de leitura e aprendeu a se comunicar prioritariamente pelo zap (e não por textões, como esse que você lê, publicados em GGN’s, Brasil247’s e outras plataformas afins).

    Ao aderir a essa prática, dando volume a ela por meio de seus grupos de WhatsApp que funcionam como pirâmides de transmissão de inverdades, o bolsonarismo coloca em prática, mas de forma muito mais eficaz (embora criminosa) o que sempre desejamos fazer na esquerda: desintermediar a informação, a comunicação, o poder de pautar a sociedade.

    O que seria isso? Explico: desintermediar a informação trata-se do ato ou da capacidade de comunicar-se, produzir conteúdo, sem que este conteúdo/informação precise de órgãos tradicionais de imprensa/comunicação para que seja chancelado ou tidos como verdade. Inverte-se, aqui, a lógica tradicional pela qual tal fato só é verdade se há um veículo ou um profissional de comunicação por trás daquela informação. O bolsonarismo fez isso com brilhantismo: o zap é o canal de transmissão de comunicação e conteúdo e ele mesmo, por si só, dá teor de verdade ao que é compartilhado, sem necessidade de quasiquer chancelas.

    É verdade que até tentamos (acredito que de forma mais tímida e pela metade) colocar em prática um processo semelhante de desintermediação (que mais era uma tentativa de mudança dos intermediadores da comunicação). Criamos e “vitaminamos” veículos progressistas que até hoje produzem qualificados materiais jornalísticos e opinativos para a reflexão sobre política, economia e também sobre comunicação e a necessidade de democratizá-la. Mas, repito, falamos quase sempre para nós mesmos, fincados em certa arrogância e em “intelectualismos” embranquecidos, eurocêntricos e pequeno-burgueses.

    Veículos de informação negros e periféricos, a exemplo deste Mídia 4P (mais jovem) e de outros (mais antigos), também tentaram esse caminho, mas igualmente pela metade e esbarrando nas bolhas constituídas involuntariamente e dentro da qual ecoam seus escritos e registros audiovisuais — que reafirmo serem de qualidade, mas que, não digo isso com prazer, atingem apenas os cerca de 35% que já compõem nosso campo ideológico.

    Por mais incrível que possa parecer, são justamente os veículos de mídia considerados tradicionais e ideologicamente alinhados ao neoliberalismo e à direita tradicional brasileira que, neste contexto de crise sanitária e sociopolítica, conseguem melhor combater as ‘fake news presidenciais’ e colocar-se como alternativa na batalha da informação. Movidos obviamente pelo poder econômico, pelo alcance de massa e pelo prestígio que já detêm e pelo desejo de encrustar no poder uma alternativa “civilizada” de direita, derrubando assim Jair Bolsonaro do Planalto, grupos empresariais como Rede Globo, Folha de S. Paulo e outros tratam de “re-intermediar” a comunicação.

    Ou seja, em meio à enxurrada de mentiras, brigam pela retomada de parte do poder que possuíam e que perderam ao longo da última década: o poder de dizer o que é verdade e o que é mentira. Combatem o discurso anti-ciência, desmentindo o presidente, seus filhos e seus aliados constantemente; constroem plataformas de checagem de informações junto a parceiros do jornalismo nacional e internacional; e, ainda que vivam dificuldades financeiras antes mesmo da COVID-19, conseguem avançar na disputa de ideias na sociedade.

    Em resumo, aqueles que sempre falsearam as informações ao bem querer dos seus interesses agora emergem como opositores da mentira. Contradições?! Temos.

    Redes sociais como Instagram e Twitter, que ostentam milhões de usuários e até então foram tubos de transmissão de informações falsas sem mover-se do lugar, também seguem a mesma estrategia dos meios tradicionais: apostam em ser novos intermediadores da informação ao passarem a dizer, por meio de novas tecnologias recém-lançadas, se um conteúdo publicado pelos usuários é mentira ou verdade.

    Não fica atrás o WhatsApp, canal principal das ‘fake news’, que, embora tenha fechado os olhos para as disseminações de inverdades que influenciaram em eleições presidenciais nos Estados Unidos e no Brasil, agora limitam envio de mensagens em massa para combater essa prática.

    Essa trata-se de uma guerra muito maior e mais importante para a disputa política e ideológica do que parece. É a guerra para definir quem deterá o poder da comunicação, no mundo, quando esse “caos da desinformação” passar ou mesmo que ele siga como parte constituinte dos processos sociais. Nós da esquerda, até agora, continuamos perdendo esse jogo. E parece, para mim, que usamos a estratégia de jogar parados.


    *Yuri Silva é jornalista formado pela UNIJORGE, especialista em mídias sociais digitais, consultor de comunicação e política, editor-chefe do portal Mídia 4P eassessor de comunicação. Já atuou como repórter freelancer de veículos como o jornal O Estado de São Paulo (Estadão), The Intercept Brasil e Revista Piauí. É ex-repórter do jornal A TARDE e ex-correspondente do Estadão na Bahia. Também é ativista antirracista, ocupando as funções de coordenador nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN) e de conselheiro de Direitos Humanos do Estado da Bahia.

  • Fanáticos fascistas apoiadores de Bolsonaro agridem imprensa em manifestação pró golpe militar

    Fanáticos fascistas apoiadores de Bolsonaro agridem imprensa em manifestação pró golpe militar

    Na manhã deste domingo (3) – dia mundial da liberdade de imprensa, ocorreu mais um ato de fanáticos fascistas apoiadores de Jair Bolsonaro, o mesmo tipo de gente que agrediu, na última sexta-feira, profissionais de saúde que prestavam homenagem aos colegas mortos.

    Os fanáticos fascistas que apoiam Bolsonaro, mais uma vez pediram o fechamento do congresso e do STF. Bolsonaro desceu a rampa do Palácio do Planalto, se aproximou sem máscara dos manifestantes, e disse que “as forças armadas estão com o povo”.

    Repórteres, cinegrafistas e fotógrafos da Globo, do Estadão foram agredidos e insultados pelos manifestantes. Um fotógrafo chegou a ser derrubado de uma escadinha, depois foi chutado nas costas. A polícia militar nada fez, enquanto a imprensa era agredida, segundo reportagem da Folha de São Paulo.

    O ato apoiado por Bolsonaro ocorreu um dia depois de o ex ministro Sérgio Moro prestar depoimento de oito horas na sede da Polícia Federal em Curitiba. O depoimento de Moro foi sobre as denúncias que ele fez contra Bolsonaro, quando pediu demissão do cargo de ministro. Moro acusou o ocupante da cadeira de presidente de tentar interferir politicamente na PF, e disse, em entrevista para a revista Veja, ter apresentado provas como  áudios, e-mails e prints de conversas no WhatsApp.

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/2695599904005423/

     

  • Editorial: Conhecereis os fatos e a verdade aparecerá

    Editorial: Conhecereis os fatos e a verdade aparecerá

    O jornalismo, assim como a ciência, não se pretende detentor da “verdade”. Nossa matéria-prima são os fatos. E os fatos bem apresentados a leitores, ouvintes e telespectadores são fundamentais para cidadãos tomarem decisões políticas. Jornalistas sérios, como a colega Patrícia Campos Mello, apuram, documentam e relatam fatos importantes para a compreensão da realidade cotidiana. Foi exatamente isso que ela fez na premiada série de reportagens que demonstrou, com dados, fatos e documentos, a contratação de empresas de “marketing” para o ilegal e milionário disparo em massa de mensagens de WhatsApp destinadas a favorecer a candidatura de Jair Bolsonaro e outros políticos de extrema direita  nas eleições de 2018. Como atestaram entidades do porte da Organização dos Estados Americanos, o Brasil foi o primeiro caso documentado em que as fake news (MENTIRAS, em bom português) distribuídas massivamente por celulares tiveram papel decisivo nas eleições majoritárias de uma grande democracia. Mais tarde, reportagem do jornal britânico The Guardian trouxe uma pesquisa provando que 42% de mais de 11 mil mensagens virais utilizadas durante a campanha eleitoral no Brasil traziam conteúdo falso (MENTIRAS) que favoreciam o então candidato de extrema direita à presidência.

    Os fatos, portanto, são que campanhas de extrema direita por todo país, incluindo a presidencial, se utilizaram de recursos ilegais e fake news para eleger seus candidatos. Os fatos são que os órgãos de fiscalização das eleições, como o Tribunal Superior Eleitoral, viram isso acontecer e não tomaram, à época, as atitudes que deveriam tomar. Os fatos são que o homem que ocupa a presidência e seus asseclas se elegeram e governam por meio de mentiras e ilegalidades. O fato é que por meio dessas mentiras, o governo caminha rapidamente para um fascismo aberto e ataca diariamente todas as instituições democráticas brasileiras, especialmente as que trabalham com fatos, como o jornalismo. E os fatos são que, apesar de gostarem de usar um versículo bíblico associando verdade e liberdade, o que se tem são mentiras e agressões diárias contra pessoas que trabalham com fatos, como cientistas e jornalistas.

    Ontem, o Brasil viu estarrecido a escalada de um novo patamar nas mentiras, baixarias, calúnias e difamações, apoiadas e divulgadas pelo governo, contra uma jornalista e, portanto, contra toda a imprensa séria nacional. Patrícia Campos Mello foi alvo, em pleno Senado da República, não somente de mentiras sobre sua atuação profissional impecável no caso, mas também de calúnias de conteúdo sexual, o que demonstra, mais uma vez com fatos, que esse governo não apenas é fascista e mentiroso, como também machista e misógino. A Patrícia, toda a nossa solidariedade e apoio, tanto pessoal como profissional.

    É passada a hora de a imprensa brasileira dar um basta nas mentiras e agressões desse governo que tomou posse há mais de um ano num evento grotesco em que os jornalistas foram confinados longe dos políticos e ameaçados de serem baleados se tentassem se aproximar. Não é possível que os colegas da mídia hegemônica sigam aceitando as “coletivas” da porta do Palácio do Planalto em que o homem que ocupa a presidência os xinga, manda calarem a boca, destrata os veículos para os quais trabalham e foge cada vez que é feita uma pergunta diferente da que ele quer responder. É urgente que jornais, rádios, TVs e portais noticiosos PAREM de tratar esse governo como “normal” e usem as palavras corretas para designar os fatos. Mentiras são mentiras. Fascismo é fascismo. Extrema direita é extrema direita. Retirada de direitos é retirada de direitos. Autoritarismo é autoritarismo. Corrupção é corrupção. Milícia é milícia. E bandidos são bandidos.

    A sociedade e os democratas brasileiros devem exigir das autoridades que ainda não foram totalmente cooptadas por esse governo fascista que façam funcionar as instituições democráticas. Os mentirosos e caluniadores precisam ser processados. Os crimes, inclusive de morte como da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, precisam ser investigados e punidos. Os políticos que se beneficiaram de esquemas de corrupção, financiamento ilegal de campanhas e difusão em massa de mentiras precisam ser cassados, ainda que se faça necessário anular as eleições de 2018.

    Não é a mentira manipulada com o uso versículos bíblicos para enganar a população de boa fé que vai nos libertar. Nossa libertação como nação virá da VERDADE proveniente dos FATOS. E para isso, uma imprensa forte e independente é fundamental.

  • Para defesa de Lula, nova matéria do Intercept confirma conluio midiático

    Para defesa de Lula, nova matéria do Intercept confirma conluio midiático

    É estarrecedor constatar que o juiz da causa, após auxiliar os procuradores da Lava Jato a construir uma acusação artificial contra Lula, os tenha orientado a desconstruir a atuação da defesa técnica do ex-Presidente e a própria defesa pessoal por ele realizada durante seu interrogatório (10/05/2017). As novas mensagens reveladas ontem (14/06/2019) pelo “The Intercept”, para além de afastar qualquer dúvida de que o ex-juiz Sérgio Moro jamais teve um olhar imparcial em relação a Lula, mostram o patrocínio estatal de uma perseguição pessoal e profissional, respectivamente, ao ex-Presidente e aos advogados por ele constituídos.

    É inimaginável dentro de um Estado de Direito que o Estado-juiz e o Estado-acusador se unam em um bloco monolítico para atacar o acusado e seus advogados com o objetivo de impor condenações a pessoa que sabem não ter praticado qualquer crime.

    É repugnante, ainda, constatar que a campanha midiática ocorrida em maio de 2017 objetivando atacar a memória de D. Marisa Letícia Lula da Silva tenha sido tramada pela Lava Jato, como também revelam as mensagens do “The Intercept”.

    Tais fatos, públicos e notórios, reforçam o que sempre defendemos nos processos e no comunicado encaminhado em julho de 2016 ao Comitê de Direitos Humanos da ONU: Lula é vítima de “lawfare” e o ataque aos seus advogados é uma das táticas utilizadas para essa prática nefasta.

    Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Zanin Martins (15/06/2019)

  • Futuro incerto para a democracia, o Jornalismo e os jornalistas

    Futuro incerto para a democracia, o Jornalismo e os jornalistas

     

    Nota oficial FENAJ

     

    A Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ, representante máxima da categoria no Brasil, expressa sua preocupação com o futuro da nação brasileira, após a eleição da chapa formada pelo capitão reformado Jair Bolsonaro e pelo general Mourão, também reformado, para governar o país a partir de 1º de janeiro de 2019.

    A FENAJ repudia a violência contra jornalistas e, em especial, as declarações do assessor de Bolsonaro, Eduardo Guimarães, que apenas esperou a divulgação, no início da noite de ontem (28/10), das pesquisas de boca de urna indicando a vitória de seu assessorado para enviar mensagem ofensiva a diversos jornalistas de diferentes veículos de mídia. Também ontem, jornalistas foram agredidos enquanto faziam a cobertura das comemorações da vitória de Bolsonaro em mais de um Estado brasileiro.

    Os muitos casos de agressões contra jornalistas ocorridos durante a campanha eleitoral e a indiferença de Bolsonaro diante dos ataques reforçam o que a trajetória política dele já demonstrara: o político de ultra-direita é avesso a críticas e não admite ser questionado publicamente, mesmo quando as questões dizem respeito à sua atuação como homem público.

    Ainda que Bolsonaro tenha assumido o compromisso de respeitar a Constituição brasileira, é de conhecimento público suas ideias autoritárias, como a defesa da ditadura militar, e até mesmo criminosas, como a apologia à tortura. Resta saber como vai se comportar a partir de agora, e se vai se submeter às regras democráticas, entre elas a do respeito às liberdades de expressão e de imprensa.

    A FENAJ e os Sindicatos de Jornalistas não aceitam qualquer tipo de violência contra a categoria e categoricamente afirmam que não há justificativa admissível para as agressões que vêm ocorrendo e que cresceram no ambiente virtual no decorrer da campanha.

    Igualmente, FENAJ e Sindicatos não aceitam a retirada de direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e estarão nas trincheiras da resistência, para evitar mais prejuízos. Como deputado, Bolsonaro votou sempre contra os interesses da classe trabalhadora. Estaremos firmes e alertas para impedir que os retrocessos iniciados por Temer se aprofundem ainda mais.

    Diante das incertezas do futuro, a FENAJ e seus Sindicatos filiados reafirmam seu compromisso com a democracia, com o Estado Democrático de Direito, com as liberdades individuais e coletivas e com os direitos humanos, trabalhistas e sociais. E lembram que o Jornalismo e os jornalistas têm papel fundamental para a democracia e a constituição da cidadania e que governantes democráticos submetem-se à crítica e, principalmente, à vontade da maioria que, no Brasil e no mundo, é constituída pela classe trabalhadora.

    Em defesa da democracia!

    Em defesa das liberdades de expressão e de imprensa!

    Em defesa do Jornalismo e dos jornalistas!

    Em defesa dos direitos da classe trabalhadora!

    Brasília, 29 de outubro de 2018.

    Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ.