por Leonardo Savaris do Coletivo Nação para Jornalistas Livres
Uma caminhada pela paz foi promovida esse sábado (12) pelos imigrantes senegaleses de Porto Alegre. No momento do ato, que começou por volta das 10h, o grupo ainda não sabia do ataque ao conterrâneo que, horas antes, teve parte do corpo incendiado em Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul.
A caminhada durou cerca de uma hora, envolveu manifestações culturais e religiosas e transcorreu de forma pacífica. Segundo Billy, muçulmano e um dos participantes, faz parte da sua tradição religiosa escolher datas para celebrar e agradecer a Deus.
Por Larissa Gould e Oscar Neto, especial para os Jornalistas Livres.
Com fotos de Adolfo Garroux, Giovanna Consentini e Mídia NINJA.
O Brasil possui mais de 8 mil refugiados e São Paulo é a cidade da América do Sul que lidera esse ranking. Nos últimos 5 anos o número de refugiados no país passou de aproximadamente 500, para mais de 8 mil, desses, 26% na Capital Paulista. As informações são do ACNUR, agência da ONU para a questão dos Refugiados.
Foto: Mídia Ninja
O grande número de refugiados tem mudado a cara da cidade. Chegam com suas cores, música e língua com a perspectiva de recomeçarem a vida. E se, para nós, a princípio são todos iguais; basta um mínimo de atenção para perceber o contrário. Chegam do Haiti, do Senegal, de Mali, Burkina Faso, Gana, Argélia, Benim, Ângola, Camarões, República Democrática do Congo… Cada um com uma história, muitas vezes parecidas.
Os Refugiados são pessoas que deixaram seus países por motivo de perseguição devido à raça, nacionalidade, pertencer a um determinado grupo social ou possuir determinada opinião política.
Embora sejam bem recebidos pelos brasileiros, ainda passam por maus bocados quando o assunto é a burocracia e adaptação. Para chamar a atenção para a questão e para o intercâmbio cultural com os brasileiros, nesse final de semana aconteceram dois importantes eventos: a Copa dos Refugiados e o Cultura de Refúgio, reafirmando a importância de ampliar o diálogo e pensar políticas públicas para estrangeiros nessa condição social.
Os Jornalistas Livres estiveram nos dois espaços, confira o que rolou.
Foto: Mídia NINJA
Cultura de Refúgio
Nesse domingo (2) a festa Domingo na Casa, organizada na Casa Fora do Eixo São Paulo, teve como temática a Cultura de Refúgio.
A Casa Coletiva FdE fica localizada no bairro do Cambuci, uma região central, mas afastada…quase um centro periférico. De lá saíram artistas como OSGEMEOS, mas assim como toda a capital, teve sua rotina alterada por esses ilustres estrangeiros. O grande número de cortiços da localidade faz com que os refugiados, que possuem muita dificuldade para alugar uma moradia regular devido à documentação, se concentrem na região, explica Edvam Filho, morador da casa coletiva.
Foto: Mídia NINJA
O evento começou com a exibição do documentário Soul King Nino Brown, sobre a importância da cultura de resistência do HipHop.
“Ninguém tem futuro sem ter passado. A gente pega o que tem de negativo e transforma em positivo”, lembrou Nino após apresentação. E resistência é a história de vida dos refugiados.
O filme foi seguido pelo debate Cultura de Refúgio, mediado pelo refugiado e advogado congolês Pitchou Luhata Luambo, coordenador GRISTS (Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem-Teto de São Paulo), com a participação da cineasta Eliane Caffé, do jornalista congolês e recém-formado em mecatrônica, Alphonse, e do comerciante angoles Fabricio, ambos refugiados.
Foto: Mídia NINJA
Pitchou explica o motivo da escolha do viés cultural do debate “Saímos do nosso país, mas não deixamos nossa cultura. Chegar em um país com outra cultura e costumes é uma grande dificuldade”.
Eliane realizou em 2014 a gravação de um longa-metragem com os refugiados, por um ano ela conviveu quase diariamente com eles. “O que eu sinto hoje é que a realidade do refugiado só vai ampliar esses bolsões de deslocamento. E o problema são os guetos que se formam. A única forma que eu vejo de furar esses guetos é por meio de projetos culturais.”
Foto: Mídia NINJA
A barreira cultural e da língua são as principais dificuldades que encontram para a adaptação. Alphonse conta sua história: “Sendo jornalista e estudante sempre estava na linha de frente brigando por nossos direitos, por causa disso sofri perseguição. Consegui fugir graças a Deus, fui primeiro para a Tanzânia e de lá vim para o Brasil. Estou no Brasil há três anos e ainda estou aprendendo a língua, foi uma dificuldade muito grande”. Ele acaba de concluir o tecnólogo em mecatrônica, atualmente dá aulas de inglês e francês.
Fabrício saiu de Angola após ter sofrido violência policial depois de uma manifestação. Escolheu o Brasil exatamente pela língua irmã ao seu país de origem. Está no Brasil há 3 meses, para ele a adaptação está sendo tranquila: “A facilidade da língua me ajudou muito”.
Pitchou, que está no Brasil há 5 anos, explica quais outras dificuldades enfrentam. “Estamos sofrendo por causa da desinformação das pessoas”. Ele explica que a maioria das instituições desconhece o “Protocolo”, documento que os refugiados possuem. Ele já foi impedido de resgatar seu FGTS por não reconhecerem o documento.
Após o debate, o espaço cedeu lugar para uma animada festa, que contou com a banda Afreeka, do Congo, e o grupo Enligne Music, do Haiti. Além da música, os participantes puderam degustar a culinária tradicional dos países e participar de uma feira de roupas típicas (lindas!).
Copa dos Refugiados
A primeira fase da 2ª Copa dos Refugiados ocorreu no sábado e no domingo e reuniu 18 seleções com cerca de 240 jogadores.
Os times de cada país se enfrentaram no campo do Ceret (Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador), localizado no bairro do Tatuapé, zona leste de São Paulo.
O evento é totalmente organizado por refugiados e solicitantes de refúgio que vivem na cidade. Um deles é Franky Tresor Bitanga (ou Bitanga Franky Tresor, já que na África o sobrenome vem na frente), que chegou no Brasil há 11 meses em busca de uma vida melhor e de mais oportunidades.
O jovem camaronês de 23 anos acha importante um evento desse tipo, sobretudo pela reunião entre os refugiados e também com os brasileiros.
“Esse tipo de coisa é boa para pessoas que vêm de fora e se sentem sozinhas. O brasileiro é um povo sempre alegre, então quando você pode trocar alguma ideia com eles é sempre uma ideia bacana”, ressalta.
Foto: Adolfo Garroux
Como o clima era de futebol, Franky não demorou a cravar: “Vamos ser campeões e a final vai ser contra a Costa do Marfim”.
Talvez ele esteja certo. No próximo sábado (8) ocorrem as semi-finais e finais da competição. Os primeiros jogos serão Nigéria x Costa do Marfim, às 9h, e Camarões x Guiné-Bissau, às 10h, e definirão os finalistas que jogarão às 13h (a disputa do terceiro lugar deve ocorrer às 12h).
A presença de brasileiros nas arquibancadas não foi tão acentuada, mas os “namoridos” Aparecido da Costa Silva e Luzia Daniel de Andrade fizeram questão de assistir a alguns jogos.
Foto: Giovanna Consentini
“Viemos assistir primeiro porque gostamos muito de futebol”, comenta Luzia. “Acho que nosso país tem que ajudar esse povo que está vindo para cá, dar assistência. É nossa obrigação. Somos todos irmãos e seres-humanos”, opina.
O espírito de fraternidade é justamente o objetivo de Jean Catumba, congolês organizador do evento. Ele explica que a Copa surgiu para criar um espaço de amizade, para estimular o contato com o povo brasileiro.
“Queremos falar para os que ainda não conhecem quem é refugiado. O Brasil é o país do futebol, escolhemos esse caminho para mostrar que temos uma fraternidade, que não somos perigosos, que temos valor e que pode construir um país junto com os brasileiros”, diz.
Jean espera que, em 2016, o evento possa ser melhor organizado, em parceria com a Prefeitura de São Paulo. “É para melhorar a divulgação, pois os brasileiros ainda não entenderam o nosso objetivo”, conclui.
Foto: Adolfo Garroux
A 2ª Copa dos Refugiados é promovida pelo Acnur (Alto Comissariado da ONU para Refugiados) e pela Caritas Arquidiocesana de São Paulo, com apoio da Prefeitura de São Paulo, do Colégio São Luís, da Cruz Vermelha, do Sesc (Serviço Social do Comércio), do Sindibast (Sindicato dos Empregados em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo), da UGT (União Geral dos Trabalhadores), do Colégio Espírito Santo, da corretora de seguros Da Veiga, das Irmãs Missionárias do Espirito Santo e da Paróquia Cristo Rei — Tatuapé.
Os 18 países competidores são Haiti, Guiné-Buissau, Afeganistão, República Democrática do Congo, Gana, Argélia, Cuba, Bangladesh, Síria, Mali, Senegal, Serra Leoa, Nigéria, Angola, Togo, Guiné-Conacri, Paquistão, Colômbia, Burkina Faso, Costa do Marfim, Camarões, Gâmbia, Etiópia e Iraque.
Foto: Adolfo Garroux
Preconceito: Uma cena triste ocorreu durante os jogos de domingo (2). Um homem corria pela pista que fica em volta do campo do Ceret enquanto a bola rolava. Um dos seguranças do local foi até ele e indicou um placa que proibia a utilização do espaço em dias de jogos. O segurança, por fim, perguntou se ele estava participando da competição, ao passo que a resposta foi a seguinte: “Graças a Deus, não”. Após discutir com representantes do evento, o homem finalmente deixou o espaço.
Refugiados e Movimento de Moradia organizam Fórum para debater as dificuldades que enfrentam no país e procurar soluções conjuntas
No último sábado, 30 de maio, o Grupo de Refugiados e Imigrantes Sem-Teto de São Paulo — GRISTS e o Movimento Sem-Teto do Centro — MSTC organizaram o 1º Fórum Morar no Refúgio. O espaço de debate reuniu imigrantes, refugiados, movimento de moradia, organizações e entidades especializadas, para levantar as dificuldades que os refugiados enfrentam e procurar soluções conjuntas.
Esse foi o primeiro Fórum chamado pelos próprios refugiados. O grupo se formou em 2014, durante a gravação de um longa-metragem da cineasta Eliane Caffé, nas instalações da ocupação Hotel Cambridge: “Percebemos o grande número de refugiados na ocupação, e a proximidade entre o brasileiro de baixa renda e o refugiado, ligados principalmente pelo problema da falta de moradia”, relata Eliane. Aquele grupo continuou a se encontrar e se fortaleceu, formando um coletivo de Imigrantes e Refugiados de diversas etnias.
Desses encontros e desse coletivo, surgiu a ideia de organizar o Fórum que teve como principal pauta o problema da obtenção de documentação, que impede que o refugiado fique em situação legal no país, e acarreta em outras dificuldades como a de alugar uma moradia, trabalhar e estudar, por exemplo.
O evento durou o dia todo, pela manhã, refugiados, movimento de moradia e entidades tiveram espaço para expor e problematizar o tema proposto. Pela tarde, os participantes foram divididos em grupos de trabalho para debater e procurar as possíveis soluções.
Pitchou Luhata Luambo
Pitchou Luhata Luambo, coordenador GRISTS, iniciou as falas da mesa “não estamos aqui para apontar os culpados, mas para achar soluções juntos. As casas que acolhem os refugiados ficaram pequenas, os três meses de acolhida não são o suficiente. A demora na emissão dos documentos faz com que, passado esse período, o refugiado não consiga alugar uma casa. Ficamos dependentes do movimento de moradia. Alguns não são bons e exploram o imigrante e o refugiado. Quando procuramos as autoridades, não temos respostas.”. Pitchou é advogado, no Brasil, trabalhava como operador de empilhadeira, sua documentação foi emitida com rapidez, em 10 meses, mas, passado um ano, quando foi renová-la, a demora e a burocracia do processo fez com que ele perdesse o emprego. Isso por que ficou sem carteira de motorista, indispensável para exercer o ofício.
Leonor Solano
Faltam pessoas e informação. Os refugiados reclamam que, além da demora, eles não sabem a quem recorrer e como proceder, a informação é escassa e de difícil acesso. Também relatam que a dificuldade nos últimos tempos aumentou, devido ao número de refugiados e imigrantes que chegam ao país. Leonor Solano é professora, trabalha em uma escola privada e se considera brasileira, mas reclama que não consegue fazer uso de benefícios como pró-uni e financiamentos na Caixa Econômica Federal. Aliás, o difícil acesso às universidade, para aqueles que querem retomar os estudos, e a dificuldade para a validação do diploma daqueles que já são formados, também foram levantados pelos imigrantes e refugiados.
Carmem Silva, liderança do MSTC e da FLM — Frente de Luta por Moradia, também participou da mesa. Dispensando o microfone “minha voz ecoa forte pelos meus direitos e pelos direitos dos meus irmãos”, Carmem lembrou que ela também já foi uma estrangeira no próprio país. Ela chegou em São Paulo no início da década de 90, vinda do nordeste em busca de melhores condições de vida. A cidade não foi receptiva e ela acabou em situação de rua, até que entrou para a FLM, “lá recuperei a minha dignidade”. Carmem pontua que, embora falasse a mesma língua, as barreiras principais que enfrentou, e que os imigrantes e refugiados enfrentam, são as culturais. “O movimento de moradia acolhe a todos, sem excluir ninguém. Tentamos ressocializar o indivíduo.”.
Carmem Silva
A líder relata que o movimento de moradia não só não recebe auxílio para ajudar esses imigrantes e refugiados, como acaba sendo ainda mais criminalizado pelos órgãos públicos: “Alegam nas reuniões de reintegração de posse que nossas ocupações estão cheias de estrangeiros. Não levam em conta que eles abrem as portas aos refugiados, sem lhes garantir estrutura nenhuma”.
A experiência do movimento com os imigrantes e refugiados começou tímida. No início eram poucos e principalmente latino-americanos. Nos últimos 3 anos o número cresceu, e as etnias e nacionalidades também. Haitianos, congoleses, nigerianos… chegam aos milhares em busca de acolhimento e oportunidades. No Fórum, havia representantes do Senegal, Mali, Burkina Faso, Gana, Argélia, Benim, Camarões e República Democrática do Congo.
De acordo com o CONARE, Comitê Nacional para os Refugiados, o Brasil possui atualmente 7.289 refugiados reconhecidos (outubro de 2014), de 81 nacionalidades distintas (25% deles são mulheres) — incluindo refugiados reassentados.
Alaôr Caffé Alves
O Professor Alaôr Caffé Alves, presente na mesa, defendeu que a emissão da documentação vai além das questões meramente legais: “está vinculado com a identidade e a reafirmação da identidade pessoal do imigrante/refugiado”. Para ele, outro atributo importante para a reafirmação do individuo e sua ressocialização é o trabalho. O professor também defende a importância da mobilização social: “é fundamental a organização. Pedir solidariedade é pouco. Só com a força social é possível pressionar o legislativo, para que ele adeque a legislação aos refugiados, imigrantes e sem-teto”.
Andrés Ramirez, do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, ACNUR, também esteve presente. Ele pontuou que a cidade de São Paulo é a que mais recebe refugiados na América Latina, para ele, é preciso trabalhar também com a formação da população local “É preciso fazer um trabalho de conscientização, pois se a opinião pública ficar contra os imigrantes e refugiados, não existirão políticas públicas que sejam suficientes”.
Larissa Leite, representante da Cáritas Brasileira, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), apresentou o aumento expressivo do número de imigrantes e refugiados no país, a as dificuldades que as organizações vêm enfrentando para dar atendimento aos refugiados, como a falta de advogados. “mas tivemos algumas melhorias, como, por exemplo, a emissão imediata do Protocolo (documento provisório que os refugiados recebem ao chegar ao país)”.
Também foram convidados para o evento membros do CONARE e da Polícia Federal, mas os responsáveis não puderam comparecer.
No período da tarde, os participantes do Fórum se dividiram em três grupos que debateram: legislação, comunicação e infraestrutura. As propostas foram apresentadas ao final do encontro e um documento elaborado em conjunto. O Manifesto Morar no Refúgio propõe, entre outras coisas, a criação de um Observatório Municipal de Políticas para Solicitantes de Refúgio. Outros encaminhamentos como um festival de Música dos Refugiados e um grupo de estudos sobre legislação também foram aprovados. O documento será entregue aos órgãos competentes e uma comissão acompanhará seus desdobramentos e cobrará as instâncias responsáveis.
Leia o manifesto:
Manifesto Morar no Refúgio
O Brasil vive hoje um grande desafio para a consolidação da sua democracia e Estado de Direito: o aumento do fluxo migratório ao país escancarou as lacunas existentes na estrutura estatal e legislativa para a garantia dos direitos da população solicitante de refúgio, refugiada emigrante em condição de igualdade com os nacionais. Os processos de regularização e de acesso à documentação são essenciais para que a garantia de tais direitos sejam efetivadas, e que os direitos a solicitar refúgio e migrar estejam de fato garantidos. É necessária a redução do tempo de tramitação da regularização, exigidos no processo decisório, a fim de reduzir a discricionariedade das autoridades estatais. Quanto maior o tempo para a obtenção de documentos, maior será a necessidade de acolhimento por parte do Estado. A documentação rápida permite ao solicitante de refúgio, refugiado e migrante o exercício de sua autonomia enquanto sujeito de direito. É sobre essa base que trazemos nossas demandas ao conhecimento das autoridades competentes.
Desafios institucionais e legislativos
Problema: As competências migratórias estão dispersas em diversos atores governamentais e administrativos que não dialogam entre si. Existe um viés de segurança trazido pela centralidade da atuação da Polícia Federal nos processos de refúgio e migração, o que prejudica o olhar dos direitos. Ainda, é necessário mais iniciativas em políticas públicas específicas para solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes nos âmbitos municipais e estaduais.
Proposta: Nova institucionalidade civil para lidar com os fenômenos das migrações no país, que respeite e explore os benefícios e responsabilidades do pacto federativo e afaste a Polícia Federal enquanto autoridade migratória.
Problema: A legislação migratória brasileira, da época da ditadura militar, restringe e burocratiza as possibilidades de regularização migratória, o que traz impacto direto no mecanismo de solicitação de refugio, que hoje é a via mais acessível e atrativa de regularização. Ainda, a legislação migratória é inconstitucional, ao diferenciar o acesso a direitos de acordo com a situação migratória. O Estatuto do Estrangeiro restringe o direito de associação e a liberdade de expressão da população migrante.
Propostas:
1. Criação de uma nova legislação migratória que incorpore a regularização e o acesso à documentação como um dever do Estado para a garantia de direitos, conferindo critérios claros e transparentes e flexibilidade aos procedimentos, reconhecendo a universalidade dos direitos humanos independente da situação migratória e de regularização;
2. Com relação ao PLS 288/2013, é necessário uma audiência pública para dialogar com o legislativo.
Problema: Dependência do protocolo de solicitação de refúgio por parte do solicitante para ter acesso a serviços devido à morosidade do processo decisório, que não possui critérios claros de processamento. Destes desafios, destacam‐se: dificuldades de renovação do protocolo, ausência de acesso à reunião familiar, restrição de acesso aos serviços públicos e moradia adequada. Tais problemas estão relacionados, ainda, com o desconhecimento geral de que o protocolo possui valor jurídico.
Propostas:
1. Campanha de sensibilização, nos âmbitos federal, Estadual e municipal, dos agentes públicos, privados e empregadores, com relação aos direitos dos solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes e com relação à validade jurídica do protocolo de solicitação de refúgio;
2. Maior agilidade do procedimento de solicitação de refúgio e respeito aos prazos, a fim de sanar as limitações trazidas pela condição de solicitante entre elas a reunião familiar;
3. Atenção às necessidades dos solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes que estão a mais tempo no país.
Desafios de serviço social
Problema: O setor público não possui profissionais capacitados (principalmente no tocante à língua) nem instrumentos para atendimento, compreensão das demandas dos solicitantes de refúgio, refugiados e imigrantes ou mecanismos que promovam uma integração efetiva.
Propostas:
1. Atendimento efetivo a solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes em diversos idiomas (incluindo, mas não apenas, Inglês, Espanhol, Francês, Árabe e Suaíli);
2. Capacitação (principalmente quanto a idiomas) dos agentes responsáveis pelo atendimento à população solicitante de refúgio, refugiada e migrante;
3. Recepção dos solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes por um interlocutor do poder público com proximidade linguística e cultural;
4. Recrutamento de solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes para atuar no Posto Humanizado da Secretaria de Assistência Social de Guarulhos (localizado no aeroporto internacional de Guarulhos);
5. Utilização de meios tecnológicos para tradução simultânea;
6. Ampliação de vagas em cursos de português para solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes;
7. Facilitação da validação de diplomas para solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes. É necessário que o Ministério da Educação (MEC) disponha de uma orientação única a todas as instituições de ensino, visando melhor eficácia de procedimentos. Também é necessária uma articulação entre os conselhos federais profissionais para que haja uma normativa específica quanto a estes procedimentos;
8. Ampliação do acesso a cursos de formação profissional, com criação de vagas especiais para solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes. É necessária a criação de uma normativa clara do MEC para que o protocolo de solicitação de refúgio seja aceito nas instituições de ensino.
9. Estabelecimento de políticas de estímulo à contratação de solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes, pelas instâncias relacionadas ao trabalho nos âmbitos federal, estadual e municipal.
Problema: O solicitante de refúgio, refugiado e migrante é muito pouco instruído quanto aos equipamentos existentes para seu acolhimento. A superlotação dos abrigos destinados à população solicitante de refúgio, refugiada e migrante e o escasso tempo de acolhimento, faz com que, muitas vezes, sejam direcionados para abrigos destinados à população em situação de rua.
Propostas:
1. Para efetivação da legislação existente, ficariam responsáveis por fazer a gestão de moradia provisória, com paridade entre brasileiros, solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes, os movimentos organizados de moradia já habilitados no Ministério das Cidades (nível federal), CDHU ‐ Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (nível estadual) e COHAB ‐ Companhia Metropolitana de Habitação (nível municipal);
2. Aumento de vagas em abrigos que atendem a população solicitante de refúgio, refugiada e migrante.
Problema: Desconhecimento de mecanismos de denúncia acerca de tratamento degradante ao solicitante de refúgio refugiado e migrante.
Proposta: Criação de um Observatório Municipal de Políticas para Solicitantes de Refúgio, Refugiados e Migrantes, com ampla composição e destaque para a participação da sociedade civil. Além de denúncia, o Observatório prestaria apoio ao agente de atendimento presencial e também daria orientações a respeito de processos e procedimentos relativos ao tema, e de trajetos e oportunidades. O Observatório integraria as instituições existentes que lidam com o tema e se vincularia ao Balcão de Atendimento da Secretaria Municipal de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo e demais ouvidorias especializadas ‐ a partir da definição de pontos focais sensibilizados para lidar com a temática.
Desafios de comunicação
Problema: Comunicação entre os representantes dos solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes para que possam difundir informações pertinentes;
Propostas:
1. Criação de meios integrados para comunicar instituições públicas e privadas (bancos, cartórios, hospitais, imobiliárias, dentre outros) sobre direitos e documentação de solicitantes de refúgio, refugiados e migrantes;
2. Criação de meios integrados para comunicar instituições que atuam com o tema, a fim de que se unam em esforço comum para resolução problemas, otimização das ações e efetivação de direitos;
3. Otimização das plataformas online existentes como canal de comunicação em rede para ações específicas relacionadas à temática, em diversos idiomas (incluindo, mas não apenas, Inglês, Espanhol, Francês, Árabe e Suaíli); Com intuito em continuar o diálogo, tendo por objetivo a implementação e efetivação das propostas apresentadas, manifestamos aqui nossas demandas.
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