Jornalistas Livres

Tag: “ideologia de gênero”

  • A ideologia de gênero como moeda política bolsonarista

    A ideologia de gênero como moeda política bolsonarista

     

     

    Amanda Danelli Costa – Professora Adjunta do Departamento de Turismo da UERJ e Géssica Guimarães – Professora Adjunta do Departamento de História da UERJ*

     

                Na noite de quarta-feira, 29, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, publicou em uma rede social uma crítica à Organização Mundial da Saúde (OMS). A postagem se referia a um documento publicado pela OMS em outubro de 2010, direcionado a autoridades educacionais e de saúde e formadores de políticas públicas para as áreas, a fim de contribuir para a construção de uma educação sexual na Europa. Como de hábito, Bolsonaro distorce as prerrogativas e enunciados, com o objetivo de convencer seu eleitorado de que não deve seguir as recomendações da OMS no combate ao coronavírus porque a mesma instituição indica a masturbação e relações homo-afetivas para crianças. Ele apagou a publicação pouco tempo depois. Mas o recado já estava dado, para um grupo e para outro.[1]

    É comum ouvirmos da oposição ao atual presidente que ele não apresentou um programa de governo durante o período de campanha. Ledo engano. Seu programa apresentava já nas primeiras páginas seus dois valores elementares, responsáveis por reunir a sua base eleitoral, especialmente aquela mais identificada com a sua candidatura: 1) A defesa dos “frutos materiais” em uma economia liberal, no caso, a propriedade privada; 2) A conservação dos “frutos afetivos”, a família. Outra grande parte do seu programa é dedicada à declaração de combate à corrupção, entendida ali como um legado do PT para o país. O apoio ao governo Bolsonaro se assenta neste tripé.

    Isso nos ajuda a compreender a indicação de Sérgio Moro, juiz federal à frente da Operação Lava Jato entre 2014 e 2018, ao Ministério da Justiça logo após o resultado das eleições, em 2018. Sua exoneração, no último 24 de abril, estremeceu a coesão do eleitorado bolsonarista, reunidos pela defesa da propriedade privada, da família tradicional e do pretenso combate à corrupção. Acusado por Moro, em coletiva de imprensa, de tentar intervir na Polícia Federal por motivação particular, a imagem do presidente – já enfraquecida pela má condução das questões relacionadas à pandemia de Covid-19 – ficou ainda mais abalada.

    Como resposta, Jair Bolsonaro fez, no mesmo dia, um pronunciamento em que buscava desmoralizar Sérgio Moro e resguardar exclusivamente para si o quinhão de combate à corrupção e de defesa da coisa pública. Este poderia ter sido o único e principal teor do pronunciamento oficial, mas Bolsonaro sabia que, para sua base eleitoral, era e ainda é muito forte a imagem do ex-magistrado, considerado o “paladino da justiça”, reconhecido como o principal ícone do anti-petismo. Justamente por isso, seu discurso propositalmente improvisado necessariamente aborda aqueles dois valores fundamentais, expressos no seu programa de governo: a defesa da propriedade privada e da família tradicional. Esse movimento retórico era fundamental na tentativa de manter sua base eleitoral coesa e mobilizada.

    Além de sugerir certa leniência de Sérgio Moro com a corrupção, Bolsonaro retoma o caso da nomeação de Ilona Szabó como suplente para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, em 2018, para demonstrar como o então ministro da Justiça já não demonstrava partilhar dos mesmos princípios do presidente. Ilona Szabó fora citada em seu pronunciamento por duas razões: em primeiro lugar, para Bolsonaro, Sérgio Moro é considerado “desarmamentista”, assim como ela; em segundo lugar, é citada pela sua defesa do aborto e da “ideologia de gênero”. Ilona Szabó, naquele discurso, representa o antagonismo aos principais valores bolsonaristas: 1) A associação entre uma política armamentista e a defesa da propriedade privada; 2) A defesa da família tradicional traduzida pelos valores cristãos da vida e do distinto lugar social de homens e mulheres, especialmente das mulheres. À defesa da família e do papel social da mulher na família, associada ao espaço privado do lar, soma-se a noção de combate à doutrinação, que se verifica tanto no uso da expressão “ideologia de gênero”, como na fundamentação do Escola Sem Partido.

    O que nos parece importante enfatizar é que, embora os debates sobre os direitos das mulheres e das pessoas que não se enquadram nos estereótipos impostos pela heterossexualidade compulsória, têm sido marginalizados como “questões identitárias”, que competem e afetam apenas aos integrantes desses grupos, de maneira que muitas interpretações sobre o atual governo e suas formas de atuação minimizam o impacto das relações de gênero no cenário político brasileiro. Nossa hipótese é que, assim que Bolsonaro se vê ameaçado de perder o apoio daqueles que o associavam ao discurso moralizante da operação Lava-Jato, ele apela imediatamente ao outro pendão moral, de igual importância na sustentação do seu governo: o combate às políticas de gênero.   

    Em sua performance no pronunciamento do dia 24 de abril, Jair Bolsonaro encarna uma série de “personagens populares”, provavelmente em busca de identificação com certa camada de seu eleitorado: o pai orgulhoso do filho garanhão, o genro que ridiculariza a sogra, o governante autocrático que afirma a imposição de sua vontade, o homem dotado de auto-estima que fala o que pensa, entre outros. Entre os personagens listados, todos têm em comum o exercício de uma masculinidade que nos lembra às bases patriarcais de nossa sociedade. Bolsonaro apresenta aos seus eleitores uma imagem do macho, seguro de que tal ordem social na qual as mulheres são submissas e aqueles(as) que não se identificam com identidades binárias são perseguidas(os) não deve ser modificada.

    Não por acaso, dias depois, o atual presidente do Brasil nomeou para o cargo aberto pela saída de Moro o pastor presbiteriano André Mendonça. Bolsonaro cumpria a promessa em nomear em breve um ministro “terrivelmente evangélico”. Sem entrar no mérito religioso, o que nos mantêm atentas é a conexão entre o pronunciamento do dia 24, pontuado por inúmeras declarações misóginas, e o fortalecimento no governo do grupo conservador que tem se utilizado da invenção da ideologia de gênero como moeda política, largamente empregada na disputa por um eleitorado que tem justificado suas escolhas políticas majoritariamente a partir de sua identidade religiosa.  

    Em período de crescentes ataques e deslegitimação de seu governo, Bolsonaro age de maneira muito pensada no pronunciamento após a saída do juiz de Curitiba. Não só chamou Moro para briga – reforçando o padrão de homem “casca grossa” que sustenta – mas também convocou para a luta a base que o elegeu, aqueles que decidiram seu voto no capitão em outubro passado após a onda de manifestos que tomou o país motivada pela rashtag #elenão. Foram esses que decidiram as eleições em 2018, foi a eles que Bolsonaro recorreu no discurso de rearticulação de seu governo. 

    [1] Segue o link para a leitura do documento publicado pela a OMS em 2010. Infelizmente não há versão em português disponível. https://www.bzga-whocc.de/fileadmin/user_upload/Standards_for_sexuality_education_Spanish.pdf 

     

    (*) Autoras de “Mulheres e o avanço conservador no Brasil após o golpe de 2016”, em Do fake ao fato: (des)atualizando Bolsonaro. KLEM, Bruna Stutz; PEREIRA, Mateus; ARAUJO, Valdei. (org.). Editora Milfontes, 2020.

  • Feliz dia das Mulheres é o caralho!

    Feliz dia das Mulheres é o caralho!

    Hoje é dia de ouvir e ler dos machistas de plantão, Feliz dia das Mulheres, agradecendo a existência da mulher por lavar, passar, cozinhar, sustentá-los.

    Hoje é dia de ouvir machistas que chamam mulheres de loucas, desejando feliz dia das mulheres.

    Hoje é dia de ouvir dos homens que abandonam seus filhos, Feliz dia das mulheres.

    Feliz dia das mulheres é o caralho, morremos mais hoje do que ontem.

    Aumento de 12% no número de registros de feminicídios. Uma mulher é morta a cada duas horas no país.

    Em três meses foram computados 119 feminicídios e 60 tentativas de matar mulheres, feliz dia é o caralho.

    Hoje é dia de ouvir de quem votou no Bolsonaro, Feliz dia das Mulheres, hipocrisia a gente vê por aqui todos os dias.

    Ele diz feliz dia, mas acha que mulher que transa quando quer é Puta,

    Ele diz feliz dia, mas grita com a mulher e a faz de empregada doméstica,

    Ele diz feliz dia, mas não respeita as escolhas dela,

    Ele diz feliz dia, mas na primeira oportunidade chama ela de louca,

    Ele diz feliz dia, mas usa o dinheiro para mantê-la cárcere de um relacionamento abusivo,

    Ele diz feliz dia, mas sai para beber todo final de semana sozinho, enquanto ela fica em casa cuidando dos filhos,

    Ele diz feliz dia, mas abandonou os filhos da ex-mulher,

    Ele diz feliz dia, mas te traiu uma vida inteira,

    Ele diz feliz dia, mas a agride verbalmente,

    Ele diz feliz dia, mas a agride fisicamente,

    Ele diz feliz dia, mas controla o tipo de roupa que usa,

    Ele diz feliz dia, mas te afasta dos teus amigos,

    Ele diz feliz dia, mas diz que você não precisa estudar ou trabalhar,

    Ele diz feliz dia, mas você sofre violência psicológica, violência física, violência moral, violência sexual, violência patrimonial,

    Ele diz feliz dia, mas diz: “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”,

    Ele diz feliz dia, mas diz: “um tapinha não dói”,

    Ele diz feliz dia, mas diz: “apanha porque merece”,

    Ele diz feliz dia, mas diz: “ela sabe porque está apanhando”,

    Ele diz feliz dia, mas faz piada com mulher,

    Ele diz feliz dia, mas acha que lavar a louça é “ajudá-la” nos afazeres domésticos.

    Aos hipócritas de plantão, feliz dia é o caralho, nós queremos é revolução!

    Não venha dizer Feliz dia das Mulheres, pegue a bandeira do feminismo e se junte a nós de verdade!

    Ato hoje, às 16h no Masp, contra a opressão e o patriarcado!

  • Expedição ao Planeta dos Macacos?

    Expedição ao Planeta dos Macacos?

    por Luís Andrés Sanabria Zaniboni,

     

    – Yll? Você já se perguntou…. bem, se alguém viverá no terceiro planeta?
    – No terceiro planeta não pode haver vida – pacientemente explicou o Sr. K – nossos cientistas descobriram que há muito oxigênio em sua atmosfera
    Ray Bradbury. Crônicas marcianas

    Quando falamos de esquerda e direita, testemunhamos uma história semelhante à do livro de ficção científica Planeta dos Macacos, de Pierre Boulle: um território áspero, onde muitos discursos e práticas sobreviveram a seus criadores, mas sua ressignificação e sua defesa acabaram jogando a favor dos lados antagônicos. Tendo a confusão como regra, esta sociedade de macacos construiu seu mundo com base na fadiga do pensamento crítico e na substituição deste por uma fé cega no “progresso” que as classes dominantes pregavam, assim invisibilizando as formas e as maneiras que permitiram a germinação e a reprodução de dominações e explorações em sua sociedade.

    Pensar as direitas em nossa região latino-americana e caribenha nos sugere compreender os tempos políticos para além das situações eleitorais, que são espaços confusos e distorcidos, onde se jogam dinâmicas de “marketing político” e falsas polarizações que colocam feminismos como Feminazis, ou que confrontam os trabalhadores entre si, evitando a abordagem crítica dos processos que estruturam nossas sociedades, que são os acordos das elites.

    No momento em que são escritas estas linhas, vivemos processos, na América Latina e no Caribe, de reconfiguração da correlação de forças em distintos níveis, que não conseguem encontrar sua interpretação na mera disputa eleitoral. O resultado é que a disputa eleitoral torna-se muito rasa, impossibilitando aprofundar as latências que permitiriam entender o surgimento das posições e dos sujeitos que configuram as opções de disputa em espaços culturais, políticos, econômicos e sociais.

    Democracias em alta-tensão

    Assim, podemos identificar uma primeira contribuição desta exploração: compreender que as direitas são propostas de sociedade e que os seus temas transcendem espaços eleitorais, de modo que as conformações das direitas também estendem seus territórios a espaços não-partidários e não-eleitorais (empresas, fundações etc.). Por esta razão, é necessário aprofundar a compreensão e análise das direitas em longos períodos de constituição, para mostrar suas relações e suas disputas com os contextos do sistema capitalista.

    Testemunhamos uma transição que questiona as formas e os modos de democracia representativa, onde a confusão de significados e sequestro dos sentidos são espaços em tensão que disputam diversos sujeitos individuais e coletivos. Em nossa sociedade, palavras como paz, trabalho ou família, encontram, nas discussões das mais diversas naturezas, uma variedade de significados e de sentidos contraditórios, que vão desde uma posição progressista até converter-se em um argumento conservador.

    Esta situação levou a uma constante polarização no interior das nossas sociedades, enriquecida por uma simplicidade que proporciona uma visão dicotômica em benefício das latências dominantes enraizadas, desse modo a hegemonia encontra os caminhos para consolidar o seu projeto em torno das elites da democracia de baixa intensidade.

    Assistimos uma era política dominada pelo processo eleitoral, que reduz a maioria das estratégias e posições para meros discursos e práticas eleitorais. Esta tendência corroeu seriamente nossas ligações entre sujeitos, até chegar a simplificar nossas relações político-culturais para meras ações e encontros instrumentalizados, comícios ou conversas, sem processos pedagógicos ou problematização de nossas realidades.

    Seguindo este cenário, podemos ver a preeminência de marketing político em nossas ações, ou seja, o domínio da forma como mensagem, despolitizando-se seu conteúdo e respondendo a um conteúdo meramente estético, através de estereótipos dominantes para buscar uma falsa simpatia e empatia de setores da sociedade.

    Mas, enquanto essas duas tendências se acomodam em alguns espaços, muitos setores não tradicionais de política, como igrejas neopentecostais, entre outros grupos de fundamentalismo religioso, também conseguiram posicionar-se com um maior fortalecimento do conservadorismo. Podemos caracterizá-los com dois elementos desde onde é composta sua posição, uma pseudo-lei natural e uma moral inerente ao ser humano, este é o processo que podemos encontrar através da articulação que surgiu como movimento contra a “ideologia de gênero”.

    Direita: Quais territórios e articulações lhe dão forma?

    Uma vez neste ponto, é importante problematizar uma questão, ante o domínio da democracia representativa e sua carga eleitoral, as direitas são apresentadas como atores em disputa, mas diante do exposto, as direitas não são atores per se, mas concebem propostas de sociedades, é assim que podemos caracterizar algumas continuidades (capitalismo, patriarcalismo e colonialismo) que se manifestam nesses projetos:

    • a primazia do individualismo que encontra três espaços onde sua presença e prática são evidentes; a raiz do consumismo que reduz o indivíduo a consumidor, o aumento do personalismo como forma de gestão política ou a marca como elemento distintivo em política, anulando assim as formas e os modos coletivos dialógicos.

    • totalização do mercado, e ligada a esta mudança causada pelo capitalismo, vemos todos os dias os direitos adquiridos assistirem a uma metamorfose que os converte em serviços disponíveis para clientes, despolitizando sua gestão. É assim que o esvaziamento da política na democracia representativa e o cancelamento da incidência da maioria na gestão encontram seu lugar na centralidade da tecnocracia, despolitização da administração nas mãos dos peritos.

    • sintomaticamente descobrimos que a concentração e o controle dos meios de comunicação tem sido uma constante que tem proporcionado o posicionamento ideológico das elites e seu projeto dominante, combatendo as dissidências e construindo seus sentidos, mas também criminalizando e apropriando-se da narrativa, onde a judicialização da política é a amostra mais sutil na consolidação de sentidos e narrativas dominantes.

    Contudo, nos últimos 30 anos, temos visto como a cooptação e ressignificação de práticas pela direita conseguiram posicionar formas e modos que têm disputado nossas sociedades, gerando algumas adaptações:

    • o surgimento de um assistencialismo social focado na financeirização da política, uma forma de se transformar as articulações em meras transferências bancárias, permite a despolitização do diálogo como espaços de construção democrática, alienando contradições sociais da pobreza, por exemplo.
    • a preeminência de um discurso pós-ideológico que busca ignorar as relações socioculturais, econômicas e políticas como produtores de sentidos, e reduzir tudo a leis pseudo-naturais de matriz social darwiniana como referência, um exemplo disso é a propagação de posicionamentos relacionados à “Escola Sem Partido”.

    • o surgimento de um CEOcracia, a administração do público sob a dinâmica empresarial, como a forma que a “gestão” converte a política em gerenciamento de resultados e, uma vez mais, despolitiza os espaços.

    • O surgimento de tendências fundamentalistas religiosas neopentecostais causou uma emergência de atores com influência eleitoral dos postulados da teologia da prosperidade, que tem impactado a relação entre fé e política centrada na ideia do chamado divino de governar o reino por cristãos e a luta contra o mal que corrompe a sociedade (direitos sexuais e reprodutivos, diversidade sexual, por exemplo), a disputa tem gerado uma agenda religiosa sobre assuntos não-religiosos, alcançando uma posição moral conservadora.

    • judicialização da política: se argumentamos que cada vez mais o espaço político é apequenado, é identificável como a “justiça” assume um papel de mediador do que era política, mas assistimos como se tornou um instrumento de controle, por parte das elites dominantes, onde os andaimes existentes respondem mais à lógica da reprodução, e, portanto, o fenômeno da ideologia corrupção: é a capacidade narrativa de vincular processos de ações ilegais como sinais de tendência política.

    Esta descrição nos leva a pensar que pouco mudou e que estas sociedades que testemunham supostas mudanças de época, estão enfrentando o que nunca perdeu lugar na acumulação por espoliação: o capitalismo, o patriarcado e o colonialismo.

    As continuidades e adaptações que descrevemos, não só nos posicionam perante a necessidade de compreender os ciclos de acumulação, senão também de luta e resistência que têm permitido contestar a hegemonia de certos sentidos e práticas, colocando em evidência as rupturas do tecido social como o crescimento da xenofobia, do racismo, da violência contra as mulheres e à diversidade sexual, mas também os processos de concentração de riqueza em poucas mãos.

    É necessário disputar a partir de diferentes territórios corpos, uma vez que tentamos mostrar que as direitas não são apenas partidos políticos a derrotar: são projetos de dominação e exploração que ampliam suas formas e modos através de nossas sociedades, organizações, coletivos, que constroem sentidos e práticas em benefício da desapropriação dos bens comuns e da acumulação concentrada de capital.

    A abertura e integração das direitas em nossas sociedades e sua participação nos processos democráticos formais nos levam a questionar os elementos que são disputados na construção dos sentidos e práticas, que não passam necessariamente de forma protagônica pelas instituições e pelos processos formais, mas correspondem a latências que estão “por baixo” em constante disputa e reposicionamento.

    O planeta dos macacos é uma metáfora para uma sociedade que tecia sua existência através da história dominante: a segurança do mito, a totalização do inimigo como aquele outro ente estranho, alienígena e dominado que não pode nos contaminar, e o poder da disciplina. Isso nos chama a refletir sobre as propostas de sociedades que vivemos e sentimos, mas também aquelas que tentamos construir, especialmente quando elas trazem as histórias imaculadas, mas as práticas gestantes de continuidade.

     

    * Luís Andrés Sanabria Zaniboni é assistente do centro de Estudios y Publicaciones Alforja

    ** Tradução por César Locatelli. Revisão por Lucila Longo