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Tag: HOMOFOBIA

  • Jean Wyllys: “precisamos de muita força para enfrentar o fascismo e a intolerância”

    Jean Wyllys: “precisamos de muita força para enfrentar o fascismo e a intolerância”

    Neste 17 de maio, dia de luta contra a homofobia, Jean Wyllys, deputado federal pelo PSOL, lembrou a importância da data. Em tempos de retrocesso, ele é o único gay assumido na Câmara dos Deputados, em Brasília, e, por isso, vem sofrendo uma série de ataques, desde a sua posse, orquestrados por parlamentares fundamentalistas que forma a mancada do Boi, da Bíblia e da Bala.

    No artigo que vocês lerão, na íntegra, o deputado destaca a luta história dos LGBTs no combate a discriminação e sinaliza para a sua pré-candidatura ao posto de deputado federal. Confira:

    Ao longo da história, em diferentes épocas e países, a homossexualidade e outras expressões da diversidade sexual humana, como a bissexualidade e a as identidades trans tem sido perseguida e estigmatizada por três discursos de autoridade muito poderosos: a religião, a ciência e a lei.

    Ainda hoje, mais de 70 países têm leis que criminalizam a homossexualidade; países onde uma pessoa gay ou lésbica pode ser presa apenas por existir, ou até condenada à pena de morte. E isso, que é visto como uma atrocidade nesta parte do mundo, algo próprio de nações atrasadas e sem democracia, já aconteceu também no Ocidente. Na mesma Grã-Bretanha que hoje tem casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o brilhante cientista Alan Turing, que ajudou a derrotar os nazistas e inventou a computação, foi condenado à castração química por ser gay em 1952, o que o levou ao suicídio dois anos depois. E muito antes dele, o escritor Oscar Wilde, hoje admirado no mundo inteiro, foi tratado, também, como escória. Mas esse maltrato não é um “privilégio” de nós, LGBTs. Também já houve leis no Ocidente (e ainda há em parte do Oriente) que negavam direitos civis básicos às mulheres, como houve outras que tratavam os negros ou os judeus como sub-humanos.

    Diferentes religiões consideram que a homossexualidade é pecado. Para algumas, inclusive, pecado mortal. Nos países governados por teocracias islâmicas, como o Irã e a Arábia Saudita, a lei da sharia condena os homossexuais à morte na forca ou por apedrejamento. Nas democracias ocidentais, a Igreja Católica e as igrejas evangélicas fundamentalistas (há, também, igrejas inclusivas que aceitam a diversidade sexual) fazem lobby contra nossos direitos civis, usam passagens descontextualizadas e mal interpretadas da Bíblia para nos condenar ao fogo eterno e espalham o discurso homofóbico mais odioso e violento, usando para isso seus cultos, programas de TV e até mandatos legislativos e prefeituras.

    Falta falar da ciência. Até 17 de maio de 1990, a Organização Mundial da Saúde considerava a homossexualidade como doença. Uma burrice anticientífica que provocou e justificou muita perseguição, maltrato e sofrimento infligido a milhões de pessoas em nome de um falso saber. Nessa data, a OMS reconheceu seu erro e disse o óbvio: homossexualidade não é doença, apenas uma orientação sexual, tão saudável e normal quanto as outras. É por isso que, desde então, cada 17 de maio, é celebrado o Dia Internacional contra a Homofobia.

    Não é por acaso que o PSOL escolheu essa data, quinta-feira, para anunciar publicamente minha pré-candidatura à reeleição como deputado federal pelo Rio de Janeiro (o lançamento será às 18h, no Clube dos Democráticos, na Lapa). Embora meu mandato esteja dedicado a uma ampla série de pautas relacionadas com a defesa da democracia, dos direitos humanos, das liberdades individuais e da justiça social qualquer pessoa que pesquisar meus projetos de lei verá que é mentira que eu trabalhe “apenas” para a comunidade LGBT , tenho muito orgulho de ser o primeiro ativista gay que chega ao Congresso Nacional, de ter ajudado a conquistar direitos, como o casamento civil igualitário, e de todo o trabalho que meu mandato faz todos os dias para lutar contra o preconceito.

    Ser gay nesse Congresso majoritariamente machista e homofóbico não é fácil. Já fui levado várias vezes ao Conselho de Ética em tentativas de cassar meu mandato, mas nunca por um desvio ético, porque sou honesto. Sou perseguido pela minha sexualidade! Da última vez, eles me acusaram de “crime de perversão sexual”, um delito inexistente na legislação brasileira. Sou xingado no plenário e nas comissões, difamado na internet e muitas vezes deixado de lado até por companheiros de militância. Porém, meu mandato recebeu prêmios nacionais e internacionais e, em 2014, fui o sétimo deputado mais votado do estado, com quase 145 mil votos.

    Neste ano, mesmo no clima de ódio e violência que a gente vive, eu entendi que é necessário continuar essa luta. Tem muito para fazer ainda no Congresso (que espero seja melhor que o atual) e precisamos de muita força para defender nossa ferida democracia e enfrentar o fascismo e a intolerância. É por isso que aceitei, mais uma vez, o desafio dessa pré-candidatura.

    Jean Wyllys é jornalista e deputado federal (Psol-RJ), 

  • Vereadores de Sergipe reproduzem discurso LGBTfóbico

    Vereadores de Sergipe reproduzem discurso LGBTfóbico

    Por Mayara Peixoto para os Jornalistas Livres

    A Câmara de Vereadores do município de Estância, Sergipe, foi palco de cenas de intolerância e discriminação protagonizadas pelos vereadores Dionísio Neto (REDE) e Misael Dantas (PSC). A polêmica começou por causa do Projeto de Lei 74/2017, de autoria de Neto, que tem o objetivo de proibir a inclusão de atividades pedagógicas de discussão da sexualidade na grande curricular de ensino das escolas da rede municipal. A desculpa é novamente o perigo da tal “ideologia de gênero”, uma mentira criada por grupos religiosos, conservadores e de direita que lutam para manter fora das salas de aula discussões que poderiam diminuir no futuro o preconceito na sociedade contra mulheres, gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transgêneros e não binários.

    O acontecimento ganhou nova dimensão quando os vereadores de orientação conservadora aumentaram o tom de voz e de maneira agressiva propagaram o ódio à comunidade LGBTqueer. O caso, que gerou grande revolta no estado, vem ganhando repercussão também nas redes sociais. As respostas de repúdio dos sergipanos aos atos dos parlamentares fizeram com que redes sociais dos vereadores ficassem cheias de comentários contrários aos seus posicionamentos.

    O Conselho Regional de Psicologia, juntamente com outras organizações, publicou uma nota de repúdio às ações de ódio em plena Câmara de Vereadores e ao PL 74/2017, que desconsidera o princípio da dignidade humana e fere a Constituição Federal vigente no Brasil.

    Vídeos das agressões:

  • Lagoa da Conceição vira palco de violência homofóbica contra namorados artistas

    Lagoa da Conceição vira palco de violência homofóbica contra namorados artistas

    NO DIA INTERNACIONAL DA TOLERÂNCIA:

    “Não vamos nos calar. Eles contam com o nosso silenciamento para nos torturar, humilhar, matar”. Arthur Rigoski Gomes, 21 anos

    “Isso mostra que temos muita luta diária para que este seja um país mais tolerante, mais justo, onde se respeite e se aceite a diversidade das culturas do ser” Thomas Dadaam, 27 anos

     

     

     

    Com as marcas da violência homofóbica ainda estampadas no rosto, o estudante de Artes Cênicas da Udesc, Arthur Rigoski Gomes, 21 anos, estreou na noite de véspera do feriado da República, no teatro do SESC-Prainha, em Florianópolis, a peça Atroz, de Jean Genet. Para ele e o namorado Thomas Dadaam, 27 anos, estudante de Filosofia da UFSC, encenar a obra do “poeta do amor homossexual”, encorajadora de todos os que desviam do padrão dominante, ganhou um sentido muito maior do que um trabalho de conclusão de disciplina com apresentação única. No último domingo, o casal foi covardemente espancado por um grupo de cinco rapazes enquanto conversava com outras pessoas na Lagoa da Conceição. O processo judicial contra os agressores e a sublimação dos gays pela arte são a resposta política dos jovens à ofensiva fascista.

    O que seria um passeio de mãos dadas ao pôr-do-sol da paradisíaca Lagoa da Conceição para revigorar as energias e prepará-los para a semana de trabalho tornou-se um pesadelo. Ambos conversavam com uma turma de oito pessoas que encontraram a caminho do mercado, quando apareceu um segundo grupo de cinco rapazes que se aproximou deles e, segundo os agredidos, logo começou a dirigir-lhes ofensas e ameaças relativas a sua opção sexual. “Usaram a palavra viado como forma de xingamento e nós reagimos repetindo: ‘Isso é homofobia!’”, conta Arthur, que é produtor cultural, assim como o namorado. Foi aí que a violência física, com socos, murros e chutes se sobrepôs à violência verbal. Quando se recobrou do choque inicial das pancadas, com o rosto coberto pelo sangramento do nariz, Arthur se deu conta da situação: “Saio de casa para ter um momento feliz, tranquilo e de repente me vejo sozinho, todo machucado, sangrando e o companheiro caído no chão, desacordado”.

    Arthur tem vários hematomas e lesões na face, na boca, na testa, na perna, sente fortes dores nas mandíbulas, além dos golpes na cabeça e na nuca, mas Thomas sofreu lesões mais graves. No hospital, ele constatou através de radiografia e laudo médico, fratura no septo nasal, traumatismo craniano, com perda de memória recente. O pequeno ferimento que tinha no braço infeccionou e transformou-se numa grande lesão. Logo com o primeiro golpe na cabeça, o estudante desmaiou e teve que passar a noite em observação no Hospital Celso Ramos até o amanhecer de segunda. Na terça-feira, eles foram por conta própria ao IML fazer exame de corpo de delito e Thomas já tem marcada uma ressonância magnética para fazer um diagnóstico mais preciso da cabeça. Por causa do longo período que passou desacordado, ele não lembra o que ocorreu quando começaram as agressões físicas. “Fui descobrindo o que aconteceu pela dor na cabeça, no nariz, no maxilar, nas mandíbulas, no corpo, no braço”. Mas Arthur, que se manteve mais consciente, ainda ouviu, enquanto eram surrados, os rapazes fazerem ameaças do tipo: “Vai ficar pior pros viados” ou “Daqui pra frente vai virar norma bater em viado”. Pessoas que presenciaram o espancamento ajudaram a socorrer o casal, chamaram um táxi e confirmam também essas agressões verbais.

    O horror, contudo, não parou na covardia física. Ao chegarem a 5ª Delegacia de Polícia, acompanhados de amigos, os jovens foram tratados novamente com discriminação e despreparo, segundo eles: “Quando chegamos, o escrivão primeiramente se recusou a registrar o B.O., dizendo que estávamos muito alterados e exaltados. De fato, eu tinha acabado de recobrar a consciência, estava muito perdido e o Arthur sangrava muito. Mas os amigos ajudaram a argumentar e ele então concordou em fazer o B.O., mas determinou que entrássemos sozinhos na sala”. O policial então trancou a porta e começou, segundo eles, “a se alterar verbalmente, a gritar, dizendo para nós pararmos de nos vitimizar”. Conforme Thomas, o mau humor culminou com um soco na mesa. Algumas cenas foram, segundo relatam, presenciadas e até filmadas pelos amigos que os acompanhavam e entraram na sala ao ouvirem os gritos. Esse tratamento recebido na Delegacia, considerado desrespeitoso e discriminatório,  levou-os a prestar queixa na Corregedoria de Polícia. Com apoio de uma advogada popular que deve assumir o processo, eles abriram Boletim de Ocorrência no 5° DP contra agressão física e verbal, isso porque, como aprenderam, no Brasil o crime de homofobia não é tipificado na lei. Os agressores estão em processo de identificação. 

    Quando sofreram a covardia os dois estavam de mãos dadas. “Nós nos comportamos como um casal normal de namorados que de fato somos”, defende Arthur. “Temos uma vivência de casal. A gente nunca escondeu isso e nem pretende esconder, ainda mais agora, a gente vai continuar sendo um casal”, afirma Thomas, que é também formado no Curso de Cinema da Unisul. Emocionado, ele se mostra muito triste ao ver que o carinho entre os dois “gere ódio e produza agressão” para pessoas que não respeitam o modo de ser dos outros. “Nosso amor é um alvo para eles extravasarem toda a sua violência e agressividade”.

    Arthur e Thomas procuraram os Jornalistas Livres depois de verem os comentários homofóbicos dos leitores do site do G1 (onde a notícia foi publicada primeiramente) que, segundo eles, representou um segundo espancamento. “Não gostaríamos de nos expor dessa forma para esse tipo de público”, explicam. Com a experiência, eles também consideram importante encorajar outras pessoas a falarem e denunciarem esse tipo de covardia que “tortura, humilha, mata”.

    “Saio de casa para ter um momento feliz e de repente me vejo todo machucado, sangrando e o meu namorado no chão, desacordado”

    Desde a agressão, vários amigos que já haviam passado por linchamentos semelhantes procuraram os dois para relatar seus casos. “Inclusive na Lagoa, outros amigos foram agredidos sem que isso tenha sido denunciado”, revela Thomas. Eles enfatizam que esses e outros crimes de homofobia, cada vez mais frequentes em Florianópolis, desmentem a lenda da cidade como paraíso homossexual. “Vemos que aqui é um lugar para homossexual com dinheiro. A comunidade LGBT marginal sofre, apanha, é morta, vira estatística”, lamenta Arthur. “Floripa não é de fato um espaço de vivência de mil maravilhas, como se diz por aí. A gente sente na pele essa opressão”, salienta ele, enquanto dá a última pincelada no rosto do ator que vai representar no palco o empoderamento desse universo feminino marginalizado e vai junto com o diretor e o resto do elenco gritar, com o aplauso entusiasmado da seleta plateia de amigos para a apresentação de Atroz: “Machistas, fascistas, homofóbicos, não passarão!”.

     

    “Não vamos nos calar. Eles contam com o nosso silenciamento para nos torturar, humilhar, matar”. Arthur Rigoski Gomes, 21 anos

    “Isso mostra que temos muita luta diária para que este seja um país mais tolerante, onde se respeitem e se aceitem a diversidade das culturas do ser” Thomas Daam, 27 anos

  • São Gonçalo (RJ) faz mais uma vítima de transfobia no Brasil

    São Gonçalo (RJ) faz mais uma vítima de transfobia no Brasil

    Por Leandro Barbosa e Agatha Azevedo, para os Jornalistas Livres 

    Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    A jovem de 22 anos havia chegado à casa de sua mãe há um mês para uma tentativa de reconciliação após um período afastada, vivendo com a sua companheira, também mulher trans, em Belo Horizonte. A promessa era de que, ao voltar a viver com a família, Bruna e Bianca pudessem construir um lar, compartilhando o mesmo terreno que a mãe dela.

    No dia 30 de março, ambas foram para o interior do Rio de Janeiro acreditando que a mãe da Bruna, D. Margarida, cumpriria a promessa de se esforçar para entender a identidade de gênero da filha e a relação lésbica entre ela e Bianca, e que elas poderiam morar numa casa nos fundos com harmonia.

    Na última quarta-feira (10), houve uma discussão entre mãe e filha devido ao desejo de Bruna de voltar para BH, motivada pelas melhores oportunidades na capital mineira, principalmente para pessoas trans.  No dia seguinte, Bruna se deparou com a equipe dos “Anjos da Vida” ao abrir o portão de sua casa nos fundos do quintal da mãe. Ela não teve tempo de se defender enquanto o serviço de remoção da empresa a levava a força para um tratamento não solicitado e desnecessário, enquanto sua mãe e os responsáveis pela “remoção” a chamavam no masculino e a tratavam como homem.

    Segundo Bianca, D. Margarida ainda disse que a primeira coisa que ela faria seria raspar a cabeça dela, porque agora ela “voltaria a ser homem”. Enquanto Bianca tentava defender a esposa, ouvia a equipe dos “Anjos da Vida” despejar machismo e transfobia:

    “Tinham dois homens maiores do que ela, segurando-a pelo braço com muita força e tentando colocar ela na ambulância. Eu comecei a segurar ela para eles não levarem, e eles torceram o meu braço, me enforcaram. Eles falaram que travesti para eles era macho, e que eles iam me enfiar a porrada, um deles me segurou pelo pescoço e disse que ia me botar pra dormir se eu continuasse fazendo aquilo e a mãe dela dizendo que ela se tornaria um homem renovado.”

    Bruna foi dopada pelo funcionário do serviço de remoção. A agarram a força, e com a truculência o seu vestido abriu e a mãe dela aproveitou para trocar a sua roupa, deixando-a nua no meio da rua, para colocar um short e uma camiseta preta. O responsável pela empresa, Paulo Rogério, disse que apenas cumpriram com a norma baseados na lei 10.216 de 2001. Ao conversar com os Jornalistas Livres, ele alegou que atendeu ao pedido da mãe, que esteve presente durante toda a ação.

    Para explicar o trabalho da empresa, ele usou a seguinte alusão: “Somos como um correio. Pegamos a pessoa e a levamos para o destino combinado”.

    Na conversa, o responsável pela “Anjos da Vida” deixa claro que não houve nada no pedido de remoção a respeito do uso de drogas, que era um caso de “questões psicológicas” e, já na clínica, Bruna passaria por atendimento psicológico e psiquiátrico.

    Embora Paulo tenha sido evasivo às perguntas feitas e não tenha revelado o local para onde havia enviado a Bruna, no Facebook contém uma publicação no dia da remoção da Bruna, com check-in em São Gonçalo (RJ), que indica o local para onde ela foi levada.

    Em uma conversa no whatsapp, a mãe de Bruna confirma a internação da filha, referindo-se a ela no masculino. A lei utilizada pela clínica (10.216 / 2001) para embasar a internação involuntária exige laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos, o que não foi apresentado. É considerado  internação compulsória aquela determinada pela justiça, e internação involuntária, aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiros.

    Segundo a Lei Federal 10.216 / 2001, para os casos de remoção, a internação precisa ser autorizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina – CRM do Estado onde se localize o estabelecimento, e são necessários os seguintes documentos:    

    • Laudo e prescrição médica de profissional com registro no CRM; (não há informações a respeito, inclusive todos os documentos da Bruna estão com a Bianca, ela foi levada sem documentos);   
    • Comunicado ao Ministério Público Estadual em 72 horas da internação involuntária (Até ontem (16) o MP do RJ não havia identificado nenhum comunicado).
    Bruna sonha em publicar um livro como uma forma de deixar sua marca no mundo | Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres

    Bruna, que sonha em ser poeta, publicava as suas reflexões sobre ser mulher trans e seus enfrentamentos diários, já que o Brasil é o país que mais mata travestis e pessoas trans no mundo e a intolerância cresce com a desinformação e a negligência do sistema, que subnotifica essas mortes, abusos e agressões. Ela também participou da ocupação realizada pelas mulheres do Movimento Olga Benário em BH, que deu origem à Casa de Referência da Mulher Tina Martins, durante o período em que esteve morando na cidade para poder fazer seu processo de transição de gênero longe da família. Bruna e Bianca estão juntas desde 23 de março de 2014, já três anos vivendo sob o mesmo teto.

    Movimento Olga Benário | Foto: Maxwell Vilela/ Jornalistas Livres
  • Leo Nardi, 16 anos, estudante, homem trans e uma história de resistência

    Leo Nardi, 16 anos, estudante, homem trans e uma história de resistência

    Leo Nardi, homem Trans de 16 anos, foi ameaçado de expulsão pela diretora do colégio Fernão Dias Paes onde estuda, depois que tirou a camiseta numa festa da turma do terceiro ano – era o conhecido “trote da troca”.

    Na opinião de Leo, a E.E. Fernão Dias Paes, em São Paulo, parece não estar preparada para receber estudantes trans.

    Dias antes, Leo e um grupo de alunos explicaram para a diretora e alunos da escola que tratava-se de um evento preconceituoso que fariam  piadas lgbtfóbicas. Mas a conversa de nada adiantou e a festa aconteceu.

    No dia da festa, Leo subiu no palco e fez um protesto tirando a camiseta e exibindo o corpo com a frase: “Minha disforia não é piada.” A diretora ligou para a mãe de Leo dizendo que ele seria expulso porque “tirou a roupa e invadiu uma festa do 3° ano”. Vale lembrar que se ele fosse um homem cisgênero isso seria considerado normal.

    Leo conseguiu ha poucos meses, depois de muita luta, incluir seu nome social na lista de chamada, mas disse que todos os dias acontece um novo episódio de transfobia, porque alguns professores não respeitam o nome social das pessoas trans. ‘O professor de matemática Diego disse que nós éramos meninas que queríamos ser ‘machões’ que isso não estava certo porque não temos idade para sabermos o que queremos da vida.”

    Os problemas familiares começaram quando a mãe descobriu que Leo se atraia por mulheres. Com 13 anos ele passou por um quadro de depressão  profunda…”eu ficava trancado no quarto o dia todo “.

    Desde criança Leo nunca se sentiu como uma mulher, mas não sabia nomear o que sentia. Depois das ocupações das escolas, durante a tentativa do governo de implantar o projeto de reorganização escolar, Leo começou a pesquisar sobre sua condição, a partir daí, descobriu e assumiu sua transexualidade. O mais triste é que sem apoio familiar Leo pretende largar os estudos: “Eu não sei se vou continuar na escola acho que eu pretendo sair porque vou ter que me manter sozinho agora vai ser difícil manter essa relação escola x trabalho”.

    Em 2015, o homem trans Samuel Silva foi expulso da faculdade Cásper Libero acusado de agressão a um coordenador de classe que o tratou no feminino. Também no ano passado fundamentalistas religiosos aliados a políticos conservadores conseguiram retirar dispositivos do Plano Municipal de Educação, que eles nomeiam como “ideologia de gênero”, que tinham como objetivo combater a Lgbtfobia nas escolas.

    O estudante Leo Nardi e o repórter Léo Moreira Sá, ambos homens trans, na E.E Fernão Dias Paes.
    O estudante Leo Nardi e o repórter Léo Moreira Sá, ambos homens trans, na E.E Fernão Dias Paes.

    Isso tende a piorar o quadro de precariedades que afetam a comunidade de travestis, mulheres transexuais e homens trans negando a essa população o direito à educação e a cidadania plena. Muitas pessoas trans não suportam a pressão da transfobia institucionalizada nos ambientes educacionais e acabam saindo da escola. O resultado é evidente: uma imensa maioria só consegue espaço profissional no mercado informal sobrevivendo de subempregos ou da prostituição.
    “Essa escola e muitas outras não são ambientes para pessoas que estão dispostas a uma democracia com liberdade. É um meio excludente.” concluiu Leo Nardi.

    Texto: Leo Moreira Sá/Jornalistas Livres

    Vídeo: Katia Passos/Jornalistas Livres

     

  • NÃO VAI TER GOLPE E NÃO VAI TER CENSURA

    NÃO VAI TER GOLPE E NÃO VAI TER CENSURA

    por Jornalistas Livres

    “O Brasil tá muito viadinho demais. Mas gosto muito das ideias do Bolsonaro. O Brasil tá precisando botar mais o pau na mesa, acabar com esses indultos de Natal, Ano Novo, Dia das Mães. Ta na hora da gente mudar muita coisa”, Alexandre Frota, domingo, 13/12, mini-festação pelo impeachment na Paulista.

    Frota concedeu esta entrevista aos Jornalistas Livres e declarou frases semelhantes diversas vezes, inclusive do alto dos microfones dos carros alegóricos presentes, na avenida Paulista, sempre aplaudido.

    Este depoimento foi publicado ontem. O FB tirou o post do ar. Censurou – por meio de denúncias de grupos organizados com interesses em mascarar a história – testemunho do que se tratava o ato que pedia o impeachment e também a volta da ditadura militar, que defendia Eduardo Cunha, que saudava o assassino Pinochet. Jornalistas livres apenas abriram seus microfones. A população tem o direito de ser informada sobre quem são as pessoas que pedem o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

    Vamos resistir. Acreditamos que é nosso papel como jornalistas mostrar para a população quem são os defensores dessa nova moralidade. Essas “pessoas de bem”.

    Aqui, mais uma vez, o depoimento de Alexandre Frota:

    ‪#‎NaoVaiTerGolpe‬