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  • Hippie Arembepe

    Hippie Arembepe

     

    Não diga que a canção está perdida, cantava Raul Seixas.  Nesses dias difíceis em que vivemos, em que vontades escusas de restrição das liberdades querem impor-se e instigam violências contra a pluralidade do viver social, redescubro lugar histórico da contracultura, o modo de ser, arma primitiva dos homens, numa praia baiana da cidade de Camaçari.

    Ney Matogrosso em Arembepe – 1974 / foto compartilhada de Cristiano Costa

     

     

    Lugar que envolve, Arembepe, tem aldeia de não índios, hippie, palavra que não desiste, ideologia que curva-se à natureza e persiste além dos comandos rudes em curso. Vestígios de um modo de viver,  é doce alternativa aos militares em moda:  cabelos compridos, dreads, peles douradas, um jeito colorido de vestir e andar.

     

    Ser hippie é hoje algo tão revolucionário como nos anos 70, sinto, de repente, na Estrada do Coco e  Linha Verde, vias que ligam grandes condomínios e empreendimentos entre  paraísos da costa da Bahia. Sinais de vida na vida alternativa, contracultura do século passado, jovens cinquentões que tornaram-se bastiões, artistas, pensadores.  Não mais como há 50 anos, onde nu se ficava conforme a vontade, é fato, mas nu está aquele que hippie é. Hoje um ponto turístico de fácil acesso, placas coloridas com palavras ideais  presas nas  árvores, a indicar condutas,  banners com imagens de personalidades e astros que na areia da aldeia pisaram, estão à mostra entre tradicional arte do movimento. Também pode-se comer preciosa moqueca  na cabana do Roque, sem camisa fumar a história entre as dunas, mesmo que um emissário do pólo petroquímico de Camaçari demarque a linha do horizonte, na imensa praia.

     

    No livro Anos 70 Bahia: Vertigem e contracultura no paraíso tropicalista, de Luiz Afonso e Sérgio Siqueira, pode-se ler que os anos 70 marcaram a explosão do movimento hippie na Bahia: Salvador, Arembepe, Trancoso e Berlinque (território de My Friend) consagraram-se como “terras prometidas” da peregrinação mochileira e da vida alternativa. Comunidades brotaram em toda parte e os outsiders, os marginais ao sistema viviam o coletivo, as casas com as portas escancaradas para quem chegasse. Na Boca do Rio, Pituaçu e aldeia hippie muita gente veio para morar, as tribos da contracultura misturadas a nativos e pescadores.

    Vida limpa, que nas águas e areias baiana, resiste.

     

    Jack Nicholson, Roman Polanski e Dennis Hopper passeavam nas dunas de Arembepe. Todo mundo queria vir para a Bahia, desde ícones sagrados da música, cinema, literatura e artes plásticas a mochileiros cosmopolitas, ligados na natureza exuberante, na contracultura tropicalista e na utopia da “terra prometida”. Estiveram aqui astros do calibre de Janis Joplin, Mick Jagger, Keith Richards, Richard Gere, Michael Douglas, Ney Matogrosso, Vinicius de Moraes, Tim Maia, Novos Baianos, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Jorge Amado, Dorival Caymmi, Pablo Neruda, João Gilberto, José Simão, Rita Lee e muitos outros. Mergulhe fundo nos relatos de 200 autores que viveram os anos vertiginosos da contracultura na Bahia, com avistamentos de discos voadores, viagens astrais, carnaval, festas, experimentalismo, vanguardismo. Um livro escrito a 200 mãos, traçando um painel coletivo dos anos loucos da cultura baiana, brasileira e planetária.

    Vila de Arembepe, praia de Camaçari, BA.

     

    Vivemos dias tristes, feliz é o coração da aldeia, baluarte.

    O último carnaval da terra e seu refúgio. Enfim, como cantara  Janis Joplin,

    Oh! But it don’t make no difference, babe, hey,

    And I know that I could always try.

    There’s a fire inside everyone of us,

    You’d better need it now,

    I got to hold it, yeah,

    I better use it till the day I die.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    imagens por helio carlos mello©

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  • Não à Retirada dos Indígenas da Feira Hippie

    Não à Retirada dos Indígenas da Feira Hippie

    Representantes indígenas da tribo Pataxó estiveram reunidos com o vereador Gilson Reis (PCdoB), na tarde da segunda feira, dia sete de março, na Câmara Municipal de Belo Horizonte/MG. Acompanhados da advogada Gabriela Rocha e da jornalista Celeste Ainda Gontijo, membros do Comitê Mineiro de Apoio à Causa Indígena (CMACI), os integrantes indígenas levaram como reivindicação para o encontro a recente e burocrata portaria SMSU 099, de 28 de novembro de 2015, do Setor de Gerência Regional de Licenciamento e Fiscalização, da Prefeitura de Belo Horizonte, regional centro-sul.

    Ela foi criada para restringir os espaços públicos a serem utilizados por comerciantes “nômades e hippies”, como local de venda de produtos manufaturados, restringindo também aos indígenas, que passam a ser considerados como esses em igualdade de deveres e poucos direitos. A exigência do RANI (Registro de Nascimento de Índio) emitido pela FUNAI, está em desuso e não mais faz-se necessário seu uso pelos indígenas.

    Atualmente, existem outras formas deles serem reconhecidos de forma oficial, como a declaração emitida pelo cacique da aldeia de origem, que reconhece aquele como integrante da mesma. Esta declaração é o suficiente para serem tidos como um membro da comunidade, bastando que junte aos documentos que já possuem.

    photo_2016-03-10_10-59-41Já é tradição encontrar indígenas de diversas aldeias fazendo comércio em pontos turísticos como na Praça Sete e na tradicional Feira Hippie. Inaugurada ainda nos anos 60, por artesãos que eram conhecidos como “hippies”, a feira acontece na avenida Afonso Pena, em frente ao Parque Municipal Renné Giannetti. Agora, os indígenas estão encontrando dificuldades para exporem os seus trabalhos artesanais e sua cultura, originária do Brasil, principalmente nesse local. Agentes da prefeitura alegam que os mesmos não contribuem com impostos ou licitações e estão proibindo os mesmos de permanecerem ali. Muitas dessas famílias necessitam do comércio para o custeio e seu próprio sustento que consomem produtos e serviços que a própria cidade exige e oferece.

    Lucas D'AmbrósioComo forma de combater mais um ato cerceador e burocrata da atual gestão municipal, o vereador Gilson Reis se dispôs a criar um projeto de lei para ampliar (e devolver) aos indígenas o direito de exporem seus artesanatos e, principalmente, sua cultura em qualquer local público da cidade. Um dos líderes do grupo, o Pataxó Jorge Chawá relata um pouco da situação em que os indígenas estão sofrendo na cidade. Ele lembra que há oito anos realiza o comércio na região central de Belo Horizonte e, de forma paralela, apresenta um pouco da sua cultura (tão deturpada pelos livros de história) em escolas da região metropolitana de BH.

    Esse foi mais um dia de buscar os direitos e o reconhecimento da cultura indígena como a expressão e tradição dos povos originários do Brasil. O país, muito deve a eles, em aspectos culturais, costumeiros, tradicionais e de hábitos que preenchem o dia a dia rotineiro do brasileiro. Resta agora aguardar a criação deste projeto de lei que irá ampliar e devolver os direitos que estão sendo retirados deles: direitos culturais e sociais que são garantidos constitucionalmente.