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  • Educação não é uma prioridade política do governador da Bahia, Rui Costa (PT)

    Educação não é uma prioridade política do governador da Bahia, Rui Costa (PT)

    *Marcos Tavares, especial para o Jornalistas Livres 

    A greve dos professores e professoras das quatro universidades estaduais baianas (UEBA’s: Uesb, Uneb, Uefs e Uesc) completará dois meses dia 9 junho. Infelizmente, nesse período, o governo da Bahia não apresentou uma proposta concreta com relação às reivindicações da categoria docente, especialmente em relação aos quatros anos de perdas salariais decorrentes da inflação que no acumulado chega a 25,64%, correspondente aos anos de 2015 a 2018. O governo também não se pronunciou em relação ao investimento de 7% da Receita Líquida de Impostos nas universidades estaduais demandada pela comunidade acadêmica desde 2010. Com relação a esse último ponto, o governo se propôs apenas a repor R$ 36 milhões dos R$ 110 milhões cortados entre os anos de 2017 e 2018.

    O governo da Bahia alega que não pode fazer a reposição das perdas salariais resultante da inflação em função da Lei de Responsabilidade Fiscal. Contudo, quando se examinam os dados do próprio governo acerca da Lei Orçamentária Anual (LOA), a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e a execução orçamentária com base no relatório quadrimestral da Secretária da Fazenda da Bahia e no Portal da Transparência, verifica-se que o governo apresenta condições fiscais para fazer a reposição das perdas inflacionárias nos salários dos docentes e também para assegurar o investimento nas UEBA’s.

    A LRF estabelece quanto o governo estadual pode comprometer da Receita Corrente Líquida com despesa de pessoal, sendo o limite máximo para o poder executivo igual a 48,6% e o limite prudencial de 46,17%. No caso da Bahia, a despesa com pessoal do poder executivo é de 44,85%, conforme apresentado na tabela abaixo retirada do Portal Transparência Bahia. Desse modo, a despesa se encontra 1,32 pontos percentuais abaixo do limite prudencial de 46,17%, montante esse que pode ser estimado em mais de 400 milhões de reais. Assim, a partir dessa diferença é possível afirmar que há margem para o governo negociar com as/os docentes das universidades estaduais da Bahia a defasagem salarial dos últimos quatro anos. A questão não é fundamentalmente financeira, mas, sim, política. Vale destacar que LRF no seu inciso I do art. 22 não veda reposição de perdas salariais decorrentes da inflação, conforme texto da Constituição Federal de 1988 no seu artigo 37.

    Já com relação ao investimento nas UEBA’s, a decisão de investir mais ou menos é de ordem política. A Constituição Federal de 1988 define apenas o limite mínimo de 25% da RLI para o investimento em educação nos estados. No caso da Bahia, o investimento em educação não vem acompanhando o crescimento da RLI. Assim, tanto no caso salarial como em relação ao investimento nas UEBA’s, nesse momento, a decisão por parte do governo de não negociar a pauta do Fórum das Associações Docentes (FAD’s) é de caráter político e não financeiro. Trata-se de escolha política e revela a visão que o chefe do executivo estadual tem sobre educação, as universidades e a valorização dos professores e professoras.

    Segundo dados apresentados pelo Fórum de Reitores, o governo do estado nos últimos dois anos deixou de repassar para as UEBA’s cerca de 110 milhões de reais. O que fez com que caísse o percentual da receita líquida de impostos destinado às universidades estaduais, saindo de 5,14%, em 2015, para 4,45%, em 2018.

    Mesmo quando se trabalha com os dados divulgados pelo governo acerca do orçamento das universidades, constata-se que o valor nominal, sem considerar a inflação, cresceu 5,34%, entre os anos de 2015 e 2018, mas se considerarmos os dados dos reitores esse crescimento nominal é de 4,42%. Já a receita líquida de impostos saiu de 23 bilhões e 715 milhões de reais para mais de 28 bilhões e 559 milhões, apresentando assim crescimento nominal, no mesmo período, de 20,42%. (Confira, no final deste artigo, o vídeo sobre o orçamento das universidades estaduais da Bahia produzido pelo Fórum das Associações Docentes – FAD’s.)

    Não são apenas as universidades que penam com a política do governo, mas todo sistema público de educação da Bahia. Quando se olha os dados de investimento em educação como um todo, estes também revelam que a educação pública no estado perde participação no “bolo”, pois, em 2015, foi destinado à educação pública 27,96% da receita líquida de imposto, percentual este que cai em 2018 para 25,65%.

    Assim, ao examinarmos os números relacionados ao orçamento público e a sua execução, conclui-se que o governo da Bahia fez uma escolha política e, nessa escolha, a educação pública não é prioridade.

    *Marcos Tavares é professor do curso de Economia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb).

  • Governador da Bahia corta o salário dos docentes universitários em greve

    Governador da Bahia corta o salário dos docentes universitários em greve

    Por Karina Costa, especial para os Jornalistas Livres

    Os professores das quatro universidades estaduais baianas (Uesb, Uefs, Uneb e Uesc), em greve há 50 dias, tiveram seus salários cortados pela segunda vez pelo governador Rui Costa (PT), na última sexta-feira (31/05). Essa atitude causou indignação no movimento grevista.

    De acordo com o governador do estado, Rui Costa (PT), em entrevista ao site 247, o corte de pagamento nos salários dos professores foi para não parecer que são eles estão de “férias”. “É como se juntasse 20 pessoas, fizesse uma assembleia e dissesse: estamos em greve, e passava os 12 meses recebendo salário com uma publicação do Diário Oficial de que está em greve. Isso não é razoável”, argumentou o político.

    Para André Uzeda, coordenador do Fórum das AD’s (Associações de Docentes), o corte de salários é uma estratégia do governador Rui Costa (PT) para acabar com a greve dos professores. “Ele sabe que os professores têm dificuldade de permanecer em uma greve com dois ou três cortes de salário. Ele sabe que isso ameaça e divide a categoria.” Uzeda afirmou ainda que o governador petista tem atacado diretamente os professores universitários em uma tentativa de descaracterizar o movimento. “Ele (Rui Costa) já falou que os professores ganham muito bem e que só querem férias e privilégios. É um dos piores governos para se ter em um momento de greve.”

    Além do corte salarial, os professores também receberam em seus contracheques faltas pelos dias parados, o que pode provocar problemas funcionais aos servidores, como dificultar o direito à licença prêmio concedida a cada cinco anos. Por conta disso, muitos docentes ficaram indignados com a atitude do governador. Miro Conceição, professor de Agronomia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), localizada em Vitória da Conquista, 700 km de Salvador, é um deles. Ele destacou que Rui Costa contradiz a política de esquerda do Partido dos Trabalhadores. “O senhor quer estar do lado da esquerda, dos trabalhadores, do movimento onde esteve a vida inteira, ou do lado dos patrões que querem vender o Brasil? Quem está do lado do povo trabalhador não persegue professor, não corta salário e não abandona seu povo”, enfatizou.

    Por meio de seu perfil nas redes sociais, o professor de Direito da Uesb, Cláudio Carvalho, também manifestou a sua revolta com o corte de salário. Na publicação, ele mostra que, como professor doutor e de dedicação exclusiva, recebeu R$99, 92. Carvalho disse ainda que o governador Rui Costa “continua desrespeitando um direito constitucional nas relações de trabalho: a greve. Nada mais covarde do que tentar acabar com o movimento paredista com o corte do salário dos trabalhadores”.

    Luciana Correia, professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Caetité, também mostrou indignação com a atitude do governador de cortar pelo segundo mês consecutivo o salário dos professores. Para Correia, a greve é um movimento legal e legítimo e, por isso, é “muito indignante que um ex-sindicalista faça isso com a categoria docente”.

    Já Cláudio Félix, além de professor da Uesb, é membro do PT de Vitória da Conquista e considera que esse é o momento de sindicatos, trabalhadores e estudantes se unirem em prol de uma universidade de qualidade e para repudiar as atitudes do governo da Bahia. Sobre o corte de salários, Félix é enfático: “esse não é o papel de um governador que tem como sua base social um partido que nasceu da luta da classe trabalhadora. Não estamos em férias, estamos em luta e é muito difícil haver esse corte, sobretudo vindo de um governador do Partido dos Trabalhadores”.

    Embora as associações docentes de cada universidade definam as reivindicações por meio de consenso no Fórum das AD´s, cada instituição entrou na justiça de forma independente. A Adusb (Associação dos Docentes da Uesb) impetrou um mandado de segurança contra a suspensão do pagamento dos salários e o lançamento de faltas. Enquanto isso, a Adusb tem utilizado do fundo de greve para auxiliar os docentes filiados que estão com o salário cortado desde o mês passado. “Infelizmente, o governador, ao invés de sentar e negociar com o movimento docente, prefere cortar os salários. Esse empréstimo obviamente não é um salário todo, mas contribui de alguma forma para aliviar esse momento difícil”, disse Alexandre Galvão, membro da diretoria da Adusb.

    Na Bahia, atualmente, o quadro docente das UEBA’s é formado por 5.355 profissionais para atender a uma demanda de 46.127 estudantes. Desde o início da greve no dia 9 de abril, as aulas da graduação foram suspensas, mas 30% das atividades consideradas essenciais dentro das universidades, no âmbito do ensino, da pesquisa e dos projetos de extensão e da parte administrativa, continuaram funcionando.

    Governo sem resposta para os salários

    Durante os quase dois meses de greve, já aconteceram reuniões entre o Fórum das Associações Docentes, que reúne representantes das quatro universidades, e a Comissão de Educação, que tem à frente os deputados estaduais Fabíola Mansur e Rosemberg Pinto. A última reunião foi no dia 26 de maio, domingo, quando estava presente também o Secretário de Educação, Jerônimo Rodrigues. No entanto, até o momento, não houve avanço nas negociações em relação as três reivindicações principais do movimento grevista: mais recursos para as universidades, a reposição inflacionária das perdas salariais dos últimos quatro anos e o respeito ao Estatuto do Magistério Superior.

    O governo, por meio dos seus mediadores no legislativo, Pinto e Mansur, sinalizou, em carta no dia 17 de maio, apenas com a devolução de 36 dos 110 milhões contingenciados entre 2017 e 2018 do orçamento das universidades. Esse valor então não significa mais investimento para o ensino superior, é uma restituição dos cortes anteriores. Além disso, também se propôs a dar andamento aos processos de promoção dos professores que estavam parados. Mas ainda é uma promessa, não houve nada concreto e não menciona as promoções e mudanças de modalidade de trabalho, de 40 h para dedicação exclusiva, as quais vários professores aguardam para conseguir. Sobre a questão salarial, nada foi apresentado. Nesse ponto, o governo Rui Costa se recusa a conversar. O Estatuto do Magistério Superior não foi mencionado. Quanto aos salários cortados dos professores, ficou assegurado que serão pagos a partir da apresentação do cronograma de reposição das aulas. E os interlocutores disseram ainda que só haverá uma mesa de negociação com a saída imediata dos professores da greve.

    “É um governo difícil de negociar porque ele não negocia, não deixa ninguém negociar e quando negocia não admite que é negociação, quer chamar aquela reunião de reunião informal, não assina documentos. Então a gente acha que é uma postura anti-sindical mesmo e de ataque a uma categoria que está em greve”, desabafou o coordenador do Fórum das AD’s.

    Com o intuito de sensibilizar o governo para avançar nas negociações, o movimento grevista realizará na terça-feira, dia 4 de junho, a partir das 14h, em Salvador, em frente a Secretaria de Educação da Bahia, uma plenária das quatro UEBA’s com a participação dos professores e estudantes das instituições. Na atividade será discutido a autonomia universitária, os corte de salários, o lançamento de faltas e o descumprimento dos direitos trabalhistas pelo governo estadual.

    Professores reunidos dia 31 de maio na roda de conversa “Em Defesa da Autonomia Universitária”, em Vitória da Conquista, Bahia. Foto: Adusb
  • No final da greve dos professores, o derrotado é Geraldo Alckmin

    No final da greve dos professores, o derrotado é Geraldo Alckmin

    Depois de anos de passividade, mestres lutaram contra o descaso tucano com a educação em SP

     “Derrotados, professores põem fim à greve”, proclamou em manchete a “Folha de S.Paulo” no dia 13 de junho, o dia seguinte à assembleia da Apeoesp que encerrou a mais longa paralisação da categoria em toda a história.

    A mesma “Folha de S.Paulo”, que praticamente ignorou a greve durante todo o seu transcurso, parece só ter percebido a importância do movimento quando do seu fim, para anunciar a derrota. Esquisito, não é?

    Ou a greve era importante antes, ou seu fim não seria importante a ponto de merecer a manchete do jornal. Isso, pelo menos, é o que diz a lógica…

    Mas, o fato novo não é a derrota dos professores, já derrotados no dia-a-dia do exercício profissional por uma rotina estafante, desesperada contra as péssimas condições de aula, em salas super-lotadas, sob o risco de violências de toda a sorte, recebendo baixos salários e uma coleção de aviltamentos possíveis.


    Derrotados os professores iam — antes da greve — todos os dias para o trabalho.

     


    A greve iniciada no dia 13 de março, entretanto, marcou o início de reação à bovina aceitação do matadouro diário a que era submetida a categoria profissional inteira, uma das maiores do Estado mais rico do país, com seus mais de 250 mil integrantes ou um quarto de milhão de pessoas.

    Havia anos que São Paulo não escutava a voz dos professores em defesa da escola pública, gratuita e de qualidade. Deixado a seu bel prazer, cuidando do ensino, o PSDB só conseguiu entregar à população paulista os mais infames resultados.

    O Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) divulgado no mês de março, quando a greve dos professores foi deflagrada, prova que a escola pública paulista está em escombros. Entre o 1º e 5º ano, o índice registrado foi abaixo do razoável, de 4,76 (a nota máxima é 10). É ruim? Fica muito pior. Para as classes mais avançadas, do 6º ao 9º ano, o índice é de 2,62 (em 10 possíveis, lembre-se). Já no ensino médio, o índice é de 1,93.


    Em poucas palavras: é vergonhosa, perpetuadora das diferenças sociais, emburrecedora, e humilhante a educação oferecida pelo Estado de São Paulo.


    E isso, é importante que se diga, não começou com a greve dos professores. Ao contrário: é fruto de décadas de descaso tucano com os destinos da educação popular –situação que a greve tentou reverter.

    Como é possível pensar em uma sociedade democrática, quando a maioria das crianças e jovens (as mais pobres, mais negras, mais periféricas) é — de cara — alijada da possibilidade de acesso à educação, porque frequenta escolas que mais se parecem com cadeias cheias de grades; e em que quase nada se aprende porque tudo em volta são ruínas?

    A greve dos professores encerrou-se depois de 92 dias de paralisação. São Paulo assistiu a assembleias com 60 mil pessoas, a passeatas de protesto por grandes avenidas, a um acampamento defronte a Secretaria da Educação, à ocupação da Assembléia Legislativa, a performances e intervenções de rua que demostravam a angústia existencial dos homens e mulheres encarregados da educação da parcela mais vulnerável da população.

    Foto: Mídia NINJA

    Durante todo esse tempo de luta, o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, manteve-se gelado como morto. Nenhum aceno fez à negociação, repetindo incansavelmente os argumentos de que:

    — O pedido de aumento da categoria era infundado;

    — Que o governo havia dado 42,25% à categoria em 2014, muito acima dos demais setores;

    — Que, por isso, a reivindicação era absurda.

    Sim, é verdade, houve reajuste. Mas, de acordo com a APEOESP, sindicato dos professores, o índice foi de apenas 29,9%: “Em junho de 2011, a remuneração do Professor de Educação Básica I era de igual a R$ 1.205,14 para uma jornada de 30 horas semanais. Em dezembro de 2014, sua remuneração atingiu R$ 1.565,21. O cálculo é simples: a diferença entre a remuneração inicial e a final é de 29,9%.”

    O pior é que, além de o valor ser muito inferior ao alegado pelo governador tucano, o reajuste foi parcelado em 4 anos, sendo que neste período, a inflação acumulada, medida pelo Índice do Custo de Vida do DIEESE, foi de 27,7%.

    Ou seja, o ganho real da categoria foi de apenas 2,2%.

    O sindicato também denunciou que o restante do tal do ajuste anunciado pelo governo tratava-se, na verdade, da incorporação de bonificações: “O governo omite que no cômputo estão embutidas as incorporações da Gratificação Geral (GG) e da Gratificação por Atividade do Magistério (GAM), valores que os professores já recebiam”.

    Os supostamente “absurdos” 75,33% reivindicados pela categoria, nada mais eram do que a concretização da meta 17 do Plano Nacional de Educação, que os Estados e Municípios devem colocar em vigor até 2020. A meta estabelece a obrigatoriedade de “valorizar os(as) profissionais do magistério das redes públicas de educação básica, de forma a equiparar seu rendimento médio ao dos(as) demais profissionais com escolaridade equivalente”.

    De maneira clara, o plano diz que os professores deverão receber o equivalente às demais categorias graduadas.

    Isso é lei.

    O fim da greve dos professores marca uma derrota, é verdade, mas do governador Geraldo Alckmin. Depois de anos, Alckmin enfrentou pela primeira vez uma corajosa greve, dentro de uma categoria que conta com o amor e o reconhecimento de parcela substancial da população paulista.

    Enfrentou uma greve que chegou ao seu fim sem a conquista das reivindicações. Mas que despertou corações e consciências. Hoje, em todas as escolas de São Paulo, Alckmin e o omisso secretário de Estado da Educação, Herman Voorwald, devem estar com as orelhas quentes. Os professores estão falando para todos os pais, os alunos, os amigos, para toda a rede de ensino, sobre a política tucana criminosa de destruição da escola pública.

    O fim da greve não significa a derrota dos professores, mas o começo de outra etapa da luta.

    Para o governador Alckmin e para Herman Voorwald, defensores de um mundo de exclusão e pró-ensino pago, o mundo começou a ficar mais difícil.

    PS: E ainda tem gente que acha que só é excluído quem quer. Enquanto os ricos e bem-situados têm acesso a escolas incríveis, campeãs do vestibular e do Enem, aos pobres entregam-se salas de aula podres, professores mal-remunerados, superlotação e desalento. Cadê os direitos das crianças e adolescentes a um ensino mínimo? Alckmin assassina e estupra os direitos da Juventude a um futuro melhor. É justo isso?

    #JornalistasLivres #NãoTemArrego #SomosTodosProfessores

  • Professores de SP continuam greve e entram na sexta semana de paralisação

    Professores de SP continuam greve e entram na sexta semana de paralisação

     

    Foto: Davi Andres

    Cerca de 60% da categoria aderiu à mobilização durante ato que reuniu 50 mil pessoas

    Nessa sexta-feira (30) a APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) realizou sua sexta Assembleia Geral. Em greve desde o dia 13 de maio (48 dias), os professores decidiram pela continuidade da paralisação.

    Foto: Ian Maenfeld / Jornalistas Livres

    A assembleia aconteceu às 15h no vão do MASP e reuniu 50 mil docentes, de acordo com o sindicato, que seguiram em caminhada até a Secretaria de Educação do Estado, na Praça da República. O ato foi encerrado com uma chuva de sal simbólica ao prédio. Devido à indisposição para a negociação do governo do Estado, que não apresentou nenhuma contraproposta às reivindicações da categoria, o sindicato entrou com pedido de dissídio coletivo no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).

    O TJ agendou uma audiência de conciliação para 7 de maio, quinta-feira, às 15h, na qual a Secretaria de Estado da Educação deverá apresentar suas posições em juízo. Em nota, Maria Izabel Azevedo Noronha — Bebel, presidenta do sindicato, defendeu que “reafirmará as reivindicações da categoria”.

    Foto: Ian Maenfeld / Jornalistas Livres

    Reivindicações

    Os professores destacam que a greve não é somente por questões salariais, mas, principalmente, por melhores condições de trabalho e melhorias no sistema da educação pública estadual. Entre as principais reivindicações dos professores estão: aumento de 75,33% para equiparação salarial com as demais categorias com formação de nível superior; implantação da jornada do piso; nova forma de contratação dos professores temporários, com garantia de direitos; fim do fechamento de classes e reabertura das salas fechadas; desmembramento das salas superlotadas; aumento dos vales transporte e refeição; garantia de água nas escolas e transformação do bônus em reajuste salarial.

    Foto: Marcia Zoet / Jornalistas Livres

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  • “Sou professora. Estou em greve. E explico o porquê”

    “Sou professora. Estou em greve. E explico o porquê”

    Sou professora do Estado de SP desde 2009. E já mergulhei na divisão em “categorias”. Entrei como “categoria L”, ou seja, não-concursada, e pegava apenas aulas que “sobravam” dos efetivos.

    Essa categoria não existe mais, foi substituída pela “categoria O”, onde está a maioria dos contratados. A categoria “O” é o que há de mais precário na rede: só pode ter duas faltas por ano, não tem direito a usar a assistência médica do estado (Iamspe), não tem direito à aposentadoria profissional (SPPrev), após um ano de contrato deve cumprir “geladeira” por 40 dias, e após dois anos de contrato deve cumprir a “duzentena” (200 dias sem poder pegar aula, ou seja, quase um ano forçadamente desempregado). Nessa situação de “O”, estão “só” cerca de 50 mil professores da rede estadual. Como alguns colegas me disseram: para o governo, “somos uma sopa de letrinhas”.

    Está bom ou quer mais? Tem mais.

    A gente leva um susto quando entra na rede. Na licenciatura, muito professor (que está sem entrar na sala de aula de ensino fundamental e médio há uns 15 anos) nos diz que o problema da escola pública são as aulas “tradicionais”, sem imaginação, sem criatividade. Que o problema está na forma de ensinar, “conteudista” (com “decoreba”) e não “construtivista” e por aí vai.

    Não é que essas coisas não sejam problemas, porém o buraco é mais embaixo. Vou explicar melhor: é certo que é difícil falar de Revolução Francesa para jovens que estão mais interessados em outras coisas (em muitas outras coisas), e que não veem como saber algo que aconteceu em 1789 possa fazer alguma diferença em 2015, por exemplo. Mas mais difícil ainda é conseguir falar 5 minutos em uma sala lotada com 40 jovens ou mais, em um dia de verão, com um ventilador apenas funcionando e sem água nas torneiras.

    Foto: Felipe Paiva / R.U.A Foto Coletivo

    É complicado explicar como funcionam os “três poderes” no Brasil enquanto grande parte dos estudantes insiste que “político é tudo ladrão” e que por isso não interessa nem saber como funciona o sistema, “pois só o que eles fazem é roubar”. Mas mais complicado ainda é lidar com bombas que explodem nos banheiros, brigas por motivos fúteis (escapei algumas vezes, e por pouco, de cadeiradas e de um soco na cara), fogo quase diário nas lixeiras, xingamentos variados (muitas vezes vindos dos pais dos alunos e não dos alunos), reclamações da coordenação e da direção de que você “não consegue controlar a sala”, como se esse fosse o único objetivo da nossa formação e trabalho.

    O buraco é mais embaixo quando você tem que lidar com alunos especiais em sala sem qualquer formação ou material próprio para isso (e junto com outros 40 jovens pedindo atenção); quando não tem como imprimir textos para leitura, imagens, ou mesmo provas, porque não tem toner nem folha de papel, e aí você imprime com seu salário; quando você tem que disputar a tapa com outros professores a única sala de vídeo que há na escola; quando você quer trabalhar em conjunto com outras disciplinas, mas não há tempo para conversar com os outros professores; quando o mato da escola está altíssimo e não tem verba para cortar; quando não tem papel higiênico; quando ninguém limpou as salas porque as moças da limpeza são terceirizadas, a empresa declarou falência e elas não recebem salário há dois meses; quando a cozinha foi terceirizada e enquanto não chegam as novas trabalhadoras precarizadas os alunos tem que comer bolachas com manteiga; quando mais da metade de seus colegas toma estimulante ou fluoxetina para aguentar o tranco de dar aulas em duas ou três escolas diferentes, das 7h da matina às 23h; quando seu salário, mesmo trabalhando em duas escolas diferentes, cerca de 40 horas por semana (40 horas por semana são as cumpridas na escola, não as de preparação e planejamento de aulas, correção de trabalhos — essas, me arrisco a dizer, ultrapassam esse tempo em umas 15 horas a mais), com cerca de 700 alunos, não chega a R$ 2.600.

    Foto: Talitha Arruda

    Está bom ou quer mais? Tem mais.

    Este ano, a situação que já era essa que contei acima, piorou. O governadorGeraldo Alckmin, dando continuidade ao cuidadoso processo de destruição da escola pública iniciado nos governos anteriores, fechou cerca de 3.000 salas de aula (qualquer sala com menos de 30 alunos inscritos no começo do ano foi fechada e seus alunos redistribuídos em outras), extinguiu cargos de coordenação, remanejou funcionários que tinham mais de 20 anos de escola (na minha escola, a “Tia Cris“, funcionária de gerações e gerações na escola, foi remanejada para outra, e a choradeira que assisti, entre alunos e professores, foi de cortar o coração), cortou verbas (de pintura, jardinagem, folhas de sulfite, papel higiênico, sabonete, toner, consertos em geral, infra-estrutura das salas, etc), forçou a duzentena na “categoria O” e decretou “reajuste zero” para os professores, sem cobrir sequer a inflação do período.

    Quer mais ou está bom?

    Ah, não tem como esquecer o famigerado “bônus” cópia bizarra de uma política norte-americana de premiação de professores conforme resultados de alunos, resultado esse medido em uma prova apenas (ora, mas não éramos construtivistas?). Um bônus que pune escolas com problemas sérios (culpa dos professores?), e premia apenas parte da rede, como se apenas alguns colegas tivessem trabalhado e outros não. Dito isso, que solução temos nós, profissionais da educação, a não ser entrar em greve?

    Foto: Mídia NINJA

    Entrar em greve significa ter desconto de salário, ter faltas no prontuário, ter que repor as aulas em sábados, contraturnos ou recesso, ouvir de pais e alunos que “professor ganha bem, tem férias de 30 dias e reclama de barriga cheia”, ouvir de colegas de trabalho que “professor grevista gosta é de ficar dormindo em casa enquanto os outros trabalham”, visitar escolas com comando de greve e ter que explicar o que está fazendo para os policiais que a diretora chamou (não aconteceu comigo, mas com vários colegas), acompanhar as negociações na Assembleia Legislativa e na Secretaria de Educação, aguardando horas na chuva para ver o que o governo ofereceu e sair de lá chateado porque não querem nem conversar, ir a todas as Assembleias na sexta, com mais de 60 mil professores, e nenhuma TV ou jornal dar sequer uma linha (e quando dá, não escuta nenhum professor, apenas reproduz a pauta do governo).

    ‘Entrar em greve é ter que lidar com a desconfiança no principal sindicato’

    Entrar em greve é receber também apoio de muita gente, inclusive alunos, que quando resolvem entrar na briga também (faltando no dia das Assembleias, criando debates e discussão de ideias, acompanhando os passos dos professores) sofrem repressão nas escolas (alguns colegas marcam provas justamente nesse dia, algumas direções recusam os pedidos de debate dos alunos, alguns chegam a receber advertências e telefonemas para os pais), com direções e supervisões (que em maioria são cargos indicados) que nos acusam de “fazer a cabeça” dos estudantes ou de “atrapalhar” o aprendizado.

    Entrar em greve é ter que lidar com a desconfiança no principal sindicato (enquanto os outros sindicatos se reunem secretamente com o governo no meio da greve), pois a sua presidente terminou uma greve em 2013 contra a vontade de grande parte dos professores, aceitando migalhas do governo: o fim da quarentena, um concurso público e a inclusão do “categoria O” no Iamspe, dos quais o governo só cumpriu um (e mesmo assim, precariamente, pois grande parte dos professores que iriam ser chamados ainda não foram e estão trabalhando como contratados). É ter que estar com um olho no governo e outro no sindicato.

    E, mesmo assim, com tudo isso e apesar de tudo isso: estamos em greve. Estou em greve.

    Foto: Talitha Arruda

    Dessa vez, tudo parece diferente das outras: tem muita gente nas redes sociais nos ouvindo (embora na imprensa tradicional tudo continue como sempre foi), nos apoiando, tem muito aluno participando, tem muito colega que disse que nunca mais parava por causa do sindicato, parado.

    Tem muita gente exigindo uma postura firme do sindicato, da presidente, dos partidos. Tem gente cantando “o professor é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo” nas Assembleias. Tem gente discutindo a importância de uma escola pública de qualidade. Por isso, dessa vez estou acreditando firmemente que “não tem arrego”.

    Escrevo este texto na véspera da negociação com o governo (que se encerrou no início da tarde de quinta-feira 23 de abril e não resultou em nenhum avanço) e da nossa importante assembleia de sexta. As definições dessa semana não apenas podem decidir o futuro da categoria de professores, mas o futuro da escola pública. Aguardemos.


    Renata Hummel é professora de sociologia na rede estadual paulista. Graduada — bacharel e licenciada — em ciências sociais pela PUC-SP , com especialização em história, sociedade e cultura pela PUC-SP. Também foi colega dos editores de FAROFAFÁ e Samuel no curso de jornalismo da ECA-USP

  • Hoje a aula é na rua

    Hoje a aula é na rua

     

    Foto: Wesley Passos

    Depois de passar quase 24 horas ocupando um auditório da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), os professores da rede estadual decidiram deixar o local.

    Os professores ocuparam o auditório da Alesp nesta quarta-feira (15), para pressionar o governo a abrir negociação com a categoria. Em assembleia realizada no vão livre do Masp nesta sexta-feira (17), mais de 60 mil professores decidiram dar continuidade a greve.

    Confira a galeria de imagens realizada por Felipe Paiva e Wesley Passos:

    Foto: Felipe Paiva
    Fotos: Felipe Paiva
    Foto: Felipe Paiva
    Foto: Wesley Passos
    Foto: Wesley Passos

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