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  • Oposição de esquerda joga parada guerra de informação e disputa pelo domínio da comunicação

    Oposição de esquerda joga parada guerra de informação e disputa pelo domínio da comunicação

    Por Yuri Silva*

    As ‘fake news’, elemento definidor das eleições presidenciais de 2018, exploradas principalmente pelo então candidato Jair Bolsonaro (à época no PSL) e pelos seus asseclas, continuam sendo parte marcante do dia-a-dia da sociedade brasileira, quase dois anos depois do resultado eleitoral.

    Desta vez, as crises política, sanitária e social, provocadas pela pandemia do Coronavírus e pela gestão pública controversa sobre o assunto, são os temas prioritários dos conteúdos que circulam nas redes sociais digitais.

    Numa intensa disputa de narrativas envolvendo questões como a eficácia da utilização (ou não) da Hidroxicloroquina, a demissão sequencial de ministros da Saúde, a crise envolvendo a demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, as formas de tratamento contra o COVID-19 e até mesmo a necessidade do isolamento social, bolsonaristas novamente aparecem em vantagem no placar dos debates contra as forças de oposição, aqui incluídas muito mais as forças de esquerda (desintegradas e vacilantes nesse quesito) e muito menos os setores da direita e da ultradireita que mostram-se anti-Bolsonaro.

    Defendendo a abertura dos comércios e serviços não-essenciais e fúteis como se essenciais fossem, o uso de remédios sem comprovação científica e absurdos outros semelhantes no campo das pautas ideológicas, informações compartilhadas pelas milícias digitais relacionadas a Bolsonaro — e comandadas no topo da cadeia pelo filho do presidente Carlos Bolsonaro, vereador e chefe do Gabinete de Ódio — têm surtido efeito práticos que, ainda que se queira, não podem ser negados.

    O nível de isolamento social no país tem sido reduzido dia após dia, conforme dados oficiais; as mortes devido à contaminação pelo vírus também têm chegado a patamares cada vez maiores; e o número de casos cresce vertiginosamente, aproximando o Brasil do posto de epicentro da doença.

    São esses apenas alguns dos claros elementos que apontam o triunfo das ‘fake news’ – nome estrangeiro utilizado nos últimos tempos para denominar as mentiras propagadas por grupos neofascistas que ganharam espaço (aparentemente permanente) na disputa sociopolítica e ideológica nacional.

    Enquanto isso, na era da pós-verdade, as “bolhas” da esquerda seguem transmitindo e alimentando outro sentimento sobre o placar desse jogo, completamente ilusório. Fechados em nossas redes repletas de posicionamentos próximos, iludimo-nos sobre quem está em vantagem. Divulgamos memes de humor contra o presidente e sua trupe da ópera-bufa do Palácio do Planalto; compartilhamos artigos bem escritos e que parecem pensados para serem consumidos (e elogiados) por outros intelectuais, pseudo-intelectuais, militantes e mais gente já convertida às nossas teses; arrotamos argumentos com linguagem pouco acessível, com citações acadêmicas, sociológicas ou filosóficas; e nos regojizamos com leituras que têm a função exclusiva de reafirmar aquilo no que já cremos.

    Na prática, contudo, pouco refletimos sobre como atingir de fato a massa da população, que ainda segue correndo riscos sanitários, por dureza financeira ou por ter sido alcançada e convencida pelas mentiras propagandeadas pelo outro lado. Pouco ou nada nos movemos para alcançar a “ralé brasileira” que continua nas filas da Caixa Econômica Federal em situação de exposição, sub-humanidade ou subcidadania e, ainda assim, acredita piamente que está sendo beneficiada por causa do esforço do Governo Federal dirigido pelo ser ignóbil eleito nas últimas idas às urnas. Nada ou pouco fazemos para dialogar e mudar o pensamento daqueles que seguem acreditando na necessidade de realizar-se o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) mesmo em condições de desigualdade do tamanho de um abismo, ou para trazer para o nosso lado aqueles que defendem a volta ao trabalho por medo dos crescentes desemprego e desalento que afligem o Brasil há pelo menos quatro anos.

    Fato é que produzimos conteúdo para nós mesmos e somos tímidos “café-com-leite”, como dizíamos na infância, na batalha da comunicação. Evitamos engrossar a audiência dos canais da grande imprensa, pois discordamos da linha editorial destes, mas sequer somos capazes, enquanto partidos políticos e movimentos sociais, de construir alternativas de massa pra substitui-los.

    Jogamos para a pequena audiência que consideramos, nas nossas cabeças preconceituosas, qualificada. E é nesse ponto que somos derrotados pelas ‘fakes news’, pela pós-verdade, pelas mentiras ou seja lá o nome que queiram adotar para esse fenômeno. Pois elas são feitas para a massa e consumidas por ela, pelo povão que tem pouco hábito de leitura e aprendeu a se comunicar prioritariamente pelo zap (e não por textões, como esse que você lê, publicados em GGN’s, Brasil247’s e outras plataformas afins).

    Ao aderir a essa prática, dando volume a ela por meio de seus grupos de WhatsApp que funcionam como pirâmides de transmissão de inverdades, o bolsonarismo coloca em prática, mas de forma muito mais eficaz (embora criminosa) o que sempre desejamos fazer na esquerda: desintermediar a informação, a comunicação, o poder de pautar a sociedade.

    O que seria isso? Explico: desintermediar a informação trata-se do ato ou da capacidade de comunicar-se, produzir conteúdo, sem que este conteúdo/informação precise de órgãos tradicionais de imprensa/comunicação para que seja chancelado ou tidos como verdade. Inverte-se, aqui, a lógica tradicional pela qual tal fato só é verdade se há um veículo ou um profissional de comunicação por trás daquela informação. O bolsonarismo fez isso com brilhantismo: o zap é o canal de transmissão de comunicação e conteúdo e ele mesmo, por si só, dá teor de verdade ao que é compartilhado, sem necessidade de quasiquer chancelas.

    É verdade que até tentamos (acredito que de forma mais tímida e pela metade) colocar em prática um processo semelhante de desintermediação (que mais era uma tentativa de mudança dos intermediadores da comunicação). Criamos e “vitaminamos” veículos progressistas que até hoje produzem qualificados materiais jornalísticos e opinativos para a reflexão sobre política, economia e também sobre comunicação e a necessidade de democratizá-la. Mas, repito, falamos quase sempre para nós mesmos, fincados em certa arrogância e em “intelectualismos” embranquecidos, eurocêntricos e pequeno-burgueses.

    Veículos de informação negros e periféricos, a exemplo deste Mídia 4P (mais jovem) e de outros (mais antigos), também tentaram esse caminho, mas igualmente pela metade e esbarrando nas bolhas constituídas involuntariamente e dentro da qual ecoam seus escritos e registros audiovisuais — que reafirmo serem de qualidade, mas que, não digo isso com prazer, atingem apenas os cerca de 35% que já compõem nosso campo ideológico.

    Por mais incrível que possa parecer, são justamente os veículos de mídia considerados tradicionais e ideologicamente alinhados ao neoliberalismo e à direita tradicional brasileira que, neste contexto de crise sanitária e sociopolítica, conseguem melhor combater as ‘fake news presidenciais’ e colocar-se como alternativa na batalha da informação. Movidos obviamente pelo poder econômico, pelo alcance de massa e pelo prestígio que já detêm e pelo desejo de encrustar no poder uma alternativa “civilizada” de direita, derrubando assim Jair Bolsonaro do Planalto, grupos empresariais como Rede Globo, Folha de S. Paulo e outros tratam de “re-intermediar” a comunicação.

    Ou seja, em meio à enxurrada de mentiras, brigam pela retomada de parte do poder que possuíam e que perderam ao longo da última década: o poder de dizer o que é verdade e o que é mentira. Combatem o discurso anti-ciência, desmentindo o presidente, seus filhos e seus aliados constantemente; constroem plataformas de checagem de informações junto a parceiros do jornalismo nacional e internacional; e, ainda que vivam dificuldades financeiras antes mesmo da COVID-19, conseguem avançar na disputa de ideias na sociedade.

    Em resumo, aqueles que sempre falsearam as informações ao bem querer dos seus interesses agora emergem como opositores da mentira. Contradições?! Temos.

    Redes sociais como Instagram e Twitter, que ostentam milhões de usuários e até então foram tubos de transmissão de informações falsas sem mover-se do lugar, também seguem a mesma estrategia dos meios tradicionais: apostam em ser novos intermediadores da informação ao passarem a dizer, por meio de novas tecnologias recém-lançadas, se um conteúdo publicado pelos usuários é mentira ou verdade.

    Não fica atrás o WhatsApp, canal principal das ‘fake news’, que, embora tenha fechado os olhos para as disseminações de inverdades que influenciaram em eleições presidenciais nos Estados Unidos e no Brasil, agora limitam envio de mensagens em massa para combater essa prática.

    Essa trata-se de uma guerra muito maior e mais importante para a disputa política e ideológica do que parece. É a guerra para definir quem deterá o poder da comunicação, no mundo, quando esse “caos da desinformação” passar ou mesmo que ele siga como parte constituinte dos processos sociais. Nós da esquerda, até agora, continuamos perdendo esse jogo. E parece, para mim, que usamos a estratégia de jogar parados.


    *Yuri Silva é jornalista formado pela UNIJORGE, especialista em mídias sociais digitais, consultor de comunicação e política, editor-chefe do portal Mídia 4P eassessor de comunicação. Já atuou como repórter freelancer de veículos como o jornal O Estado de São Paulo (Estadão), The Intercept Brasil e Revista Piauí. É ex-repórter do jornal A TARDE e ex-correspondente do Estadão na Bahia. Também é ativista antirracista, ocupando as funções de coordenador nacional do Coletivo de Entidades Negras (CEN) e de conselheiro de Direitos Humanos do Estado da Bahia.

  • O AGITADOR FASCISTA

    O AGITADOR FASCISTA

    ARTIGO

    Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

     

    Que as eleições presidenciais de 2018 não correram dentro da normalidade, todos sabemos. Afinal, não é normal que um deputado que durante quase 30 anos foi piada nacional, presença cativa em programas de auditório e folhetins de humor, se torne presidente do país que tem a décima maior economia do mundo.

    No começo do mandato, havia duas possibilidades:

    1°) Bolsonaro seria um presidente de direita normal, como outro qualquer, respeitador dos ritos e disposto a governar por dentro das instituições.

    2°) Bolsonaro continuaria se alimentando da energia disruptiva liberada em 2013, colando nas instituições estabelecidas a pecha da “velha política”.

    Bolsonaro decidiu preservar sua identidade política e a lealdade de sua base orgânica. Essa foi sua escolha e é em função dela que seu governo deve ser analisado.

    Vai funcionar? Essa base orgânica é grande o suficiente pra sustentar um governo que abriu guerra contra o Congresso Nacional, contra o STF e contra sua própria base parlamentar? As eleições municipais do ano que vem dirão algo a respeito disso. Qualquer coisa que falarmos agora não passará de especulação e torcida.

    Por enquanto, é possível dizer que Bolsonaro é, ao mesmo tempo, fraco e forte. Sua fraqueza é a fonte de sua força.

    Fraco como presidente e forte como agitador fascista. Na minha percepção, essa é a síntese da liderança política de Bolsonaro.

    A cada manifestação, Bolsonaro violenta os ritos fundamentais para o cargo que ocupa, mas ao mesmo tempo, e exatamente por isso, mobiliza sua base orgânica, formada por pessoas sem o menor compromisso com a institucionalidade vigente.

    No momento em que escrevo este texto, a esquerda está debochando dos dois últimos lances de marketing político operados por Bolsonaro: o vídeo do leão e as hienas, publicado na fanpage do presidente em 27 de outubro, e a gravação ao vivo de 29 de outubro, feita durante viagem oficial aos Emirados Árabes.

    O deboche é o resultado da combinação entre incompreensão e prepotência. Na política, poucos gestos são mais imprudentes do que a incompreensão e a prepotência.

    Incompreensão porque parte da esquerda ainda insiste em tratar Bolsonaro como louco, aloprado, sem entender a natureza da energia política que constitui o bolsonarismo.

    Bolsonaro é o Coringa, é a personificação de uma sociedade que se percebe como colapsada, que despreza qualquer tipo de mediação institucional.

    Aquilo que muitos de nós consideramos ser loucura e burrice, talvez seja performance política.

    Prepotência porque a esquerda ainda está convencida de que seus padrões de gosto e comportamento são universais. Para nós, a figura de Bolsonaro é detestável, grotesca.

    Quantos brasileiros realmente se incomodam com uma piada sobre o tamanho do pinto de japonês ou com um comentário sobre a beleza de primeira dama de país vizinho?

    O Brasil não é regido pelos mesmos valores que compartilhamos no nosso cotidiano, nas diversas faculdades de ciências humanas espalhadas pelo Brasil. É óbvio, é mais que óbvio. É tão óbvio que nem precisava ser dito.

    Ouço companheiros e companheiras animados com rodas de hip hop, com movimentos sociais de afirmação identitária, com saraus de poesia, blocos de maractu, vendo nessas práticas indícios de uma futura redenção. “Centelhas de uma nova onda revolucionária”, como costuma dizer Vladmir Safatle. Não nego que seja algo confortável de se ouvir.

    A esquerda torce a realidade pra fazer caber no desejo. Nisso, os velhos conservadores (Tocqueville, Burke, Möser), têm muito a nos ensinar: pensar no plano justo, coladinho na realidade.

    Enfim.

    Fato, fato mesmo é que, de acordo com a estratégia traçada, o plano de Bolsonaro vem sendo bem executado. Com o vídeo do leão e as hienas, foi reforçada a narrativa fundada em 2013: instituições corrompidas representando a “velha política” cercam o leão moralizador.

    STF, direita tradicional, esquerda, imprensa hegemônica contra o felino majestoso destemido.

    Acho clichê, ridículo, cafona. Você, leitor e leitora deste veículo de esquerda que me publica, provavelmente concordam comigo. Mas tem muita gente aplaudindo, muita gente mesmo. Basta sair da bolha e olhar. Recomendo que voltem rápido, para o bem de sua saúde mental.

    Em uma ‘live’ de 23 minutos, Bolsonaro desqualificou a imprensa hegemônica, o governador do Rio de Janeiro (potencial adversário em 2022), se apresentou como pai e marido ofendido pela perseguição que os derrotados nas urnas movem contra sua família.

    Bolsonaro não falou como presidente. Falou como o patriarca que sai em defesa do clã. É o tipo de coisa que cola mais que velcro em uma sociedade com baixa educação institucional e profundamente privatista nas relações sociais.

    A ‘live’ foi um sucesso. Fez exatamente o que queria fazer.

    Bolsonaro vinculou a Globo, que “diariamente corrompe moralmente a sociedade brasileira com suas minisséries e novelas”, ao PT, “que corrompeu a nação ao assaltar os cofres públicos”. Aí estão os dois conceitos de corrupção que constituem a semântica da crise institucional em curso no Brasil.

    Bolsonaro ameaçou rever o regime de concessão dos direitos de comunicação social. Até bem pouco tempo atrás, essa era uma agenda da esquerda, que jamais foi tocada pelos governos petistas.

    Bolsonaro ainda falou do Adélio e da “poderosa conspiração que tentou matá-lo”, e performatizou o mártir, o esfaqueado, na tentativa de esvaziar Marielle Franco, sem dúvida o principal símbolo da esquerda brasileira contemporânea.

    Bolsonaro bateu na mesa, xingou palavrão, exalou carisma. Terminou pedindo desculpas pelo excesso. Retórica! Ele sabe perfeitamente que o excesso é seu principal capital político.

    Se estou dizendo que Bolsonaro é carismático? Sim, estou dizendo exatamente isso. Em política, carisma é, fundamentalmente, a capacidade de afetar o outro pela produção de identidade. Bolsonaro representa perfeitamente o brasileiro médio.

    Fraco como presidente, mas forte como agitador fascista. Em situação de normalidade institucional, essa seria a fórmula do obituário político. Em tempos normais, Bolsonaro ainda seria deputado de baixo clero.

    Definitivamente, não vivemos em tempos normais.

     

  • Sob pressão, Globo tenta desqualificar jornalista que revelou conversas de Moro

    Sob pressão, Globo tenta desqualificar jornalista que revelou conversas de Moro

    Nota da Comunicação da Globo enviada aos sites de notícia que repercutiram a entrevista de Glenn Greenwald publicada pela Agência Pública.

    Glenn Greenwald procurou a Globo por e-mail no último dia 29 de maio para propor uma nova parceria de trabalho. Em 2013, a emissora já havia dividido com ele o trabalho sobre os documentos secretos da NSA referentes ao Brasil. Uma parceria que mereceu elogios dele pela forma como foi conduzido o trabalho.

    Greenwald ficou ainda mais agradecido por um gesto da Globo. Nas reportagens que a emissora divulgou, em algumas frações de segundo era possível ver nomes de funcionários da agência americana, que não trabalhavam em campo, mas em escritório. Mesmo assim, tal exposição poderia levá-lo a responder a um processo em seu país natal, os Estados Unidos. A Globo, então, assumiu sozinha a culpa, declarando que, durante a realização da reportagem, Greenwald se preocupava sobremaneira com a segurança de seus compatriotas. Tal atitude o livrou de qualquer risco.

    Ao e-mail do dia 29 de maio seguiram-se alguns telefonemas na tentativa de conciliar agendas (ele estava viajando) para um encontro, finalmente marcado. Ele ocorreu na redação do Fantástico no dia 5 de junho. Na conversa, insistindo em não revelar o tema, ele disse que tinha uma grande “bomba a explodir” e repetiu que queria voltar a dividir o trabalho com a Globo, pelo seu profissionalismo. Mas, antes, gostaria de saber se a emissora tinha algo contra ele, sem especificar claramente os motivos da pergunta, apenas dizendo que falara mal da Globo em algumas ocasiões. Provavelmente se referia a um artigo que seu marido, o deputado David Miranda, do PSOL, tinha publicado no Guardian com mentiras em relação à cobertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O artigo foi rebatido por João Roberto Marinho, presidente do Conselho Editorial do Grupo Globo, fato que deu origem a comentários desairosos do próprio Greenwald.

    Na conversa de 5 de junho, ele afirmou que “tudo estava no passado”. Prontamente, ouviu que jamais houve restrição (de fato, David Miranda já foi inclusive convidado para entrevista em programa da GloboNews). Greenwald ouviu também, com insistência, por três vezes, que a Globo só poderia aceitar a parceria se soubesse antes o conteúdo da tal “bomba” e sua origem, procedimento óbvio. Greenwald se despediu depois de ouvir essa ponderação.

    A Globo ficou aguardando até que, na sexta-feira à tarde, Greenwald mandou um e-mail afirmando que não recebeu nenhuma resposta da Globo e que devia supor que a emissora não estava interessada em reportar este material. Como Greenwald, no e-mail, continuava a sonegar o teor e origem da “bomba”, não houve mais contatos. Não haveria como assumir qualquer compromisso de divulgação sem conhecimento do que se tratava.

    No domingo, seu site, o Intercept, publicou as mensagens atribuídas ao ministro Sergio Moro e procuradores da Lava-Jato, assunto que mereceu na mesma noite destaque em reportagem de mais de cinco minutos no Fantástico (e depois em todos os telejornais da Globo).

    Na segunda, uma funcionária do Intercept sugeriu que o programa Conversa com Bial entrevistasse um dos editores do site para um debate sobre jornalismo investigativo. Como o próprio site anunciou que as publicações de domingo eram apenas o começo, recebeu como resposta que era conveniente esperar o conjunto da obra, ou algo mais abrangente, antes de se pensar numa entrevista.

    Por tudo isso, causam indignação e revolta os ataques que ele desfere contra a Globo na entrevista publicada na Agência Pública. Se a avaliação dele em relação ao jornalismo da Globo e a cobertura da Lava-Jato nos últimos cinco anos é esta exposta na entrevista, por que insistiu tanto para repetir “uma parceria vitoriosa” e ser tema de um dos programas de maior prestígio da emissora? A Globo cobriu a Lava-Jato com correção e objetividade, relatando seus desdobramentos em outras instâncias, abrindo sempre espaço para a defesa dos acusados. O comportamento de Greenwald nos episódios aqui narrados permite ao público julgar o caráter dele.”

  • O PUNHAL DE BRUTUS

    O PUNHAL DE BRUTUS

    Artigo de Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História da Universidade Federal da Bahia, com ilustração de Simanca 

     

     

    A crise brasileira acaba de entrar numa nova fase: em apenas 20 dias, o bolsonarismo perdeu a narrativa da moralidade. O esquema de corrupção envolvendo lavagem de dinheiro por meio da apropriação de salário dos assessores fantasmas é nitroglicerina pura e tem potencial para comprometer diretamente o presidente da República.

    Já é possível visualizar no horizonte o colapso do bolsonarismo. Os aliados começam a fazer gestos de abandono. O governo vai ficando cada vez mais isolado. Em política, ninguém sobra sem apoio. Ninguém cai sem ter sido traído antes.

    O risco maior está na dupla Mouro e Morão, com apoio valioso da Globo e de setores do Ministério Público.

    Na verdade, a Globo nunca quis Bolsonaro. Não é novidade para ninguém que a Globo ajudou a desestabilizar os governos petistas para pavimentar a volta dos tucanos ao Palácio do Planalto. O objetivo era eleger Geraldo Alckmin e assim lavar nas urnas o golpe parlamentar que derrubou Dilma Rousseff. Aconteceu o que poucos previam. Bolsonaro foi eleito. A operação saiu do controle.

    Em um primeiro momento, perdido e confuso, o departamento de jornalismo da Rede Globo se dividiu entre a crítica cautelosa e a tentativa de aproximação com o novo governo. O famoso “morde e assopra”.

    Míriam Leitão representou esse impasse. Ora criticava o autoritarismo, o obscurantismo e a incompetência do governo. Ora lambia as botas do general Santos Cruz, Secretário de Governo, em entrevista chapa branca.

    Excitado com a vitória eleitoral, Bolsonaro não quis saber de conciliação e resolveu chutar o pau da barraca. Foi afobado o inexperiente capitão, que sem nenhuma cautela tentou refundar, do dia pra noite, a geopolítica do sistema de comunicação brasileiro.

    A vingança chegou rápido. Contando com o apoio do Ministério Público, a Globo declarou guerra ao governo.

    Globo e Ministério Público. Tá aí a coligação mais poderosa no ecossistema político brasileiro. Juntos, Globo e MP formam um predador faminto e perigoso. A aliança foi firmada lá em 2013, na campanha midiática de destruição da PEC 37. Vocês lembram?

    Neste momento, na altura em que escrevo este texto, os diretores da Globo têm nas mãos material suficiente para derrubar Bolsonaro. Devem ter o sigilo bancário de todos eles: dos filhos, de Michele, da Wal do açaí e do próprio presidente da República. Carece de ser mais que ingênuo para acreditar que só o Flavinho teve a ideia genial de enricar roubando o salário dos assessores fantasmas.

    Como se a família presidencial já não tivesse problemas demais, apareceram indícios que apontam para o envolvimento dos Bolsonaro com milicianos suspeitos de terem assassinado a vereadora carioca Marielle Franco. Perto disso, a “rachadinha” com os assessores fantasmas vira travessura de criança.

    O que a Globo fará com todo esse material?

    Por enquanto, tá liberando gota a gota, num cerco implacável e constante. Não dá pra saber se o objetivo é derrubar ou tutelar o governo. Se o governo cair, os próximos candidatos ao cargo de moralizador geral da República são Moro e Mourão.

    A situação de Sérgio Moro também não é das mais fáceis. Se não romper com o governo, ele corre o risco de sair chamuscado, de perder o capital político que acumulou nos anos em que foi o antagonista de Lula. Se romper, pode perder espaço e condições para disputar, de dentro, o pós-bolsonarismo. O grande desafio de Moro é acertar esse cálculo.

    Moro tem o controle do COAF e da PF. Se quiser, ele implode com o governo num piscar de olhos.

    A situação de Mourão é mais confortável. Militar orgânico, sem vínculos com a política profissional na biografia, Mourão tem mais potencial que Mouro para encenar o enganado e capitalizar o sentimento coletivo de desilusão que virá no pós-bolsonarismo. Enquanto Bolsonaro estava em Davos, Mourão distribuía sorrisos e simpatias no Rio de Janeiro.

    Desde a campanha está claro que Mourão tem uma agenda própria para o Brasil que não é a mesma de Bolsonaro. A vaidade da caserna não permite que o General seja subordinado do Capitão.

    Ainda tem a bancada do PSL, que começa a ganhar vida própria. Durante a visita não oficial à China, os parlamentares mandaram vários recados a Bolsonaro: exigiram apoio oficial à comitiva, pediram um posicionamento na polêmica com Olavo de Carvalho e deixaram claro que a liderança de Flávio Bolsonaro não é natural. Como o presidente ficou calado, os aliados ameaçaram não apoiar a reforma da Previdência.

    A base aliada ameaçou o governo assim, publicamente. Definitivamente, esse não é um governo normal.

    Dias depois, Joice Hasselmann apareceu bem à vontade em entrevista com João Dória. Os dois atacaram a estabilidade do funcionalismo púbico e firmaram uma “aliança em defesa do Brasil”. Dória corre por fora na disputa pela hegemonização da direita brasileira. Ele tem dois trunfos na manga: o governo de São Paulo e o talento para trair antigos aliados, como bem sabe Geraldo Alckmin.

    Em assunto de traição, know how é fundamental.

    Cedo ou tarde, Bolsonaro será esfaqueado novamente. Dessa vez, o agressor será mais competente que Adélio. Basta saber quem carregará o punhal de Brutus.

     

  • TVs ferem Lei Eleitoral ao esconder candidatura Lula

    TVs ferem Lei Eleitoral ao esconder candidatura Lula

    Não é novidade pra ninguém que o Brasil vive um processo de Golpe de Estado e, portanto, um Estado de Exceção. Assim, leis, normas e regulamentos que valem para uma pessoa ou empresa não necessariamente são aplicadas a outra. É o que vem acontecendo, por exemplo, na cobertura que as grandes redes de rádio e TV estão dando às diversas candidaturas presidenciais. Enquanto candidatos com porcentagens ínfimas de intenção de voto têm espaço garantido para propagar suas propostas, “ideias” e até mesmo mentiras em rede nacional, a chapa PT-PCdoB, que lidera todas as pesquisas com mais que o dobro da segunda colocação, é colocada sistematicamente fora da telinha.

    O caso mais escandaloso é o da Rede Globo, que em comunicado no Jornal Nacional em 22 de agosto simplesmente anunciou que não daria qualquer cobertura jornalística à candidatura de Lula e Haddad. Veículos impressos ou digitais independentes, como os Jornalistas Livres, têm total liberdade editorial para definir linhas de cobertura, interesses comerciais e mesmo apoios políticos, ainda que a maioria finja ser imparcial. No caso das emissoras de rádio e TV, no entanto, como espectro eletromagnético é limitado, cabe ao poder público decidir quem pode e quem não pode ter um canal, definindo, portanto, regras especiais para seu funcionamento. Como funcionam de facto e historicamente como um oligopólio, contudo, o capítulo de Comunicação da Constituição de 1988, que por exemplo proíbe políticos de possuírem concessões, nunca foi regulamentado. Com isso, na prática, ainda vale a Lei Geral das Telecomunicações, promulgada durante o processo que levou ao golpe de estado de 1964.

    Os “donos da voz”na Abril, Folha e Globo, na primeira fila para ouvirem palestra de William Waak em encontro do Instituto Millenium em 2009. foto: www.mediaquatro.com

    A legislação eleitoral, por outro lado, vem sendo modificada a cada pleito. Atualmente, com algumas mudanças, está vigente a Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997. Mas, para a Globo, isso parece que “não vem ao caso” (MORO, Sérgio. 2014/15/16/17/18 em relação às acusações contra tucanos).

    A candidatura de Lula à Presidência, queiram ou não, foi registrada em 15 de agosto último e segue vigente.

    Enquanto a chapa (e não apenas o nome dele) não for impugnada (o que não é impossível que aconteça, afinal, como já dissemos antes, estamos em um Estado de Exceção), a Lei Eleitoral EXIGE que concessionárias de rádio e TV deem um tratamento isonômico às candidaturas, não privilegiando (e, por óbvio, depreciando) qualquer candidatura. Aliás, se já não estivéssemos em um Estado de Exceção, o representante da chapa PT/PCdoB deveria ter garantido seu espaço com os mesmos 30 minutos na bancada do Jornal Nacional a que tiveram direito outras quatro candidaturas essa semana. Sexta dia 31 de agosto seria um ótimo dia…

    Veja abaixo o que diz a Legislação Eleitoral sobre isso:

    Artigo 36-A:
    I – a participação de filiados a partidos políticos ou de pré-candidatos em entrevistas, programas, encontros ou debates no rádio, na televisão e na Internet, inclusive com a exposição de plataformas e projetos políticos, observado pelas emissoras de rádio e de televisão o dever de conferir tratamento isonômico;

    Artigo 45: Encerrado o prazo para a realização das convenções no ano das eleições, é vedado às emissoras de rádio e televisão, em sua programação normal e em seu noticiário:
    IV – dar tratamento privilegiado a candidato, partido ou coligação;

    Veja também uma excelente montagem sobre a atuação política da Rede Globo desde 1964, passando pela criminosa edição do debate entre Lula e Collor em 1989 até chegar em William Bonner na maior cara de pau dizendo que “obviamente” não haveria cobertura da nova candidatura de Lula:

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/192125934891966/

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/192125934891966/?hc_ref=ART58PQtk-UPJO9iE1c2i916A82vE3iW325eJzDvGMQiXOER_iSesFXisT7-bSoSSd4&xts[0]=68.ARBaWHHeFJUzCmHg0TJ9ZobciyyCovWZCvFXrRbhcyPxH7R8DFBujLD0AvqdKb0LyLA-2_hUzKCsRrnVQ8bJ1vPwWVTGOuqEEtcmb9XnZoBMSpHQ4S9yUCmDdm4c7oyZO6ps0Bs&tn=FC-R&fb_dtsg_ag=Adyc40gx5IjHTnFD1vXIaXCKpCAmM93_dEZmBHXBgnrbhA%3AAdyU3yhCppQz6WRkaBevX0s2EHULVKkumS_IDMzsdOoh7A

  • Lula defende a imprensa livre e independente contra as mentiras da grande mídia (plim-plim)

    Lula defende a imprensa livre e independente contra as mentiras da grande mídia (plim-plim)

    A história ensina que numa guerra, a primeira vítima é a verdade. Encontro-me há mais de 100 dias na condição de preso político, sem qualquer crime cometido, pois nem na sentença o juiz consegue apontar qual ato eu fiz de errado. Isso porque setores da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário, com apoio maciço da grande mídia, decidiram tratar-me como um inimigo a ser vencido a qualquer custo.

     

    A guerra que travam não é contra a minha pessoa, mas contra a inclusão social que aconteceu nos meus mandatos, contra a soberania nacional exercida pelos meus governos. E a principal arma dos meus adversários sempre foi e continuará sendo a mentira, repetida mil vezes por suas poderosas antenas de transmissão.

     

    Tenho sobrevivido a isso que encaro como uma provação, graças à boa memória, à solidariedade e ao carinho do povo brasileiro em geral.

     

    Dentre as muitas manifestações de solidariedade, quero agradecer o espírito de luta dos homens e mulheres que fazem do jornalismo independente na internet uma trincheira de debate e verdade.

     

    Desde que deixei a Presidência, com 87% de aprovação popular, a maior da história deste país, tenho sido vítima de uma campanha de difamação também sem paralelo na nossa história.

     

    Trata-se, sabemos todos, da tentativa de apagar da memória do povo brasileiro a ideia de que é possível governar para todos, cuidando com especial carinho de quem mais precisa, e fazer o Brasil crescer, combatendo sem tréguas as desigualdades sociais e regionais históricas.

     

    Foram dezenas de horas de Jornal Nacional e incontáveis manchetes dedicadas a espalhar mentiras – ou, para usar a linguagem da moda, fake news – contra mim, contra minha família e contra a ideia de que o Brasil poderia ser um país grande, soberano e justo.

     

    Com base numa dessas mentiras, contada pelo jornal O Globo e transformada num processo sem pé nem cabeça, um juiz fez com que eu fosse condenado à prisão, por “ato indeterminado”, usando como pretexto a suposta posse de um imóvel “atribuído” a mim, do qual nunca fui dono.

     

    Contra essa aliança espúria entre alguns procuradores e juízes e a mídia corporativa, a blogosfera progressista ousou insurgir-se. Sem poder contar com uma ínfima parcela dos recursos e dos meios à disposição dos grandes veículos alinhados ao golpe, esses homens e mulheres fazem Jornalismo. Questionam, debatem e apresentam diariamente ao povo brasileiro um poderoso contraponto à indústria da mentira.

     

    Lutaram e continuam a lutar o bom combate, tendo muitas vezes apenas o apoio do próprio povo brasileiro, por meio de campanhas de financiamento coletivo (R$ 10 reais de uma pessoa, R$ 50 reais de outra).

     

    Foram eles, por exemplo, que enfrentaram o silêncio da mídia e desvendaram as ligações da Globo com os paraísos fiscais, empresas de lavagem de dinheiro e a máfia da Fifa. Que demonstraram a cumplicidade de Sérgio Moro com a indústria das delações. Que denunciaram a entrega das riquezas do país aos interesses estrangeiros. Tudo com números e argumentos que sempre são censurados pela imprensa dos poderosos.

     

    Por isso mesmo a imprensa independente é perseguida por setores do judiciário, por meio de sentenças arbitrárias, como vem ocorrendo com tantos blogueiros, que não têm meios materiais de defesa. Enfrentam toda sorte de perseguições: tentativa de censura prévia, conduções coercitivas e condenações milionárias, entre outras formas de violência institucional.

     

    E agora, numa investida mais sofisticada – mas não menos violenta – agências de “checagem” controladas pelos grandes grupos de imprensa “carimbam” as notícias independentes como “Fake News”, e dessa forma bloqueiam sua presença nas redes sociais. O nome disso é censura.

     

    Alguns desses homens e mulheres que pagam um alto preço por sua luta são jornalistas veteranos, com passagens brilhantes pela grande imprensa de outrora, outros sem qualquer vínculo anterior com o jornalismo, mas todos movidos por aquela que deveria ser a razão de existir da profissão: a busca pela verdade, a informação baseada em fatos e não em invencionices. Lutaram e lutam contra o pensamento único que a elite econômica tenta impor ao povo brasileiro.

     

    Quantas derrotas nossos valentes Davis já não impuseram aos poderosos Golias? Quantas notícias ignoradas ou bloqueadas nos jornalões saíram pelos blogues, muitos deles com mais audiência que os sites dos jornalões?

     

    Mesmo confinado na cela de uma prisão política, longe de meus filhos e amigos, impedido de abraçar e conversar com o povo brasileiro, tenho hoje aprovação maior e rejeição menor que meus adversários, que fracassaram no maior dos testes: melhorar a vida dos brasileiros.

     

    Eles, que tantos crimes cometeram – grampos clandestinos no escritório de meus advogados, divulgação ilegal de conversas entre mim e a presidenta Dilma, todo o sofrimento imposto à minha família, entre muitos outros –, até hoje não conseguiram contra mim uma única prova de qualquer crime que seja.  A cada dia mais e mais pessoas percebem que o golpe não foi contra Lula, contra Dilma ou contra o PT. Foi contra o povo brasileiro.

     

    Mais do que acreditar na minha inocência – porque leram o processo, porque checaram as provas, porque fizeram Jornalismo – os blogueiros e blogueiras progressistas estão contribuindo para trazer de volta o debate público e resgatar o jornalismo da vala comum à qual foi atirado por aqueles que o pretendem não como ferramenta capaz de lançar luz onde haja escuridão, mas apenas e tão somente como arma política dos poderosos.

     

    A democracia brasileira agradece, eu agradeço a vocês, homens e mulheres que fazem da luta pela verdade o seu ideal de vida.

     

    Hoje a (in)justiça brasileira não só me prende como impede sem nenhuma razão que vocês possam vir aqui me entrevistar, fazer as perguntas que quiserem. Não basta me prender, querem me calar, querem nos censurar.

     

    Mas assim como são muitos os que lutam pela democracia nas comunicações e pelo jornalismo independente, e não caberiam aqui onde estou, essa cela também não pode aprisionar nem a verdade nem a liberdade. Elas são muito mais fortes do que as mentiras mil vezes repetidas pelo plim-plim, que quer mandar no Brasil e no povo brasileiro sem jamais ter tido um único voto. A verdade prevalecerá. A liberdade triunfará.

     

    Forte abraço,

    Lula