Gênero,ancestralidade e poder popular

Texto e fotos por Duda Xavier / Jornalistas Livres

 

Durante o final de semana do dia 14 a 16 de dezembro, Belo Horizonte recebeu o Festival de Arte e Cultura da Reforma Agrária, realizado pelo movimento dos/as trabalhadores/as rurais sem terra (MST). O evento agregou além de uma infinidade de atrações artístico-culturais, uma troca constante de histórias e saberes relacionados à terra.

 

E se da terra é possível tirar o sustento, moradia e alimento, para muitas mulheres que integram o movimento também provém da terra a cura. Para dona Rogéria, integrante do MST há mais de 15 anos, a cura através da medicina natural surgiu não como uma opção mas uma necessidade devido a escassez de recursos médicos nos lugares que habitou. As lições que hoje ela aplica nos xaropes, florais e sabonetes foram transmitidas gradativamente entre as mulheres da família e somadas ao conhecimento científico que adquiriu nos cursos de medicina natural dos quais participou.

 

Dona Rogéria

Assim como dona Rogéria que acredita que “as plantas, poucas delas são daninhas, para nós são plantas companheiras”, Rita de Cássia e Edna Borges empregam ativamente a relação de colaboração com as plantas desde o plantio agroecológico, até a comercialização e aplicação das medicinas extraídas em seus respectivos locais de vivência. Relação essa secularmente conhecida pelos povos originários da América e África.

Deste modo falar de medicina natural é falar sobre a força e resistência da ancestralidade que sobreviveu a genocídios e apagamentos identitários disfarçados de sincretismos religiosos. Além das fogueiras inquisitórias que incendiavam mulheres que através de seus conhecimentos praticavam a tão escassa cura.

O conhecimento da medicina que provém da natureza portanto, não pode estar dissociado às discussões de gênero, etnia e política. Gênero relacionando a atuação histórica das mulheres no plantio, colheita e preparo das plantas. Atuação que confere poder a aquelas que detêm os conhecimentos capazes de curar seus povos e a si próprias. Que na dinâmica política da escassez que alimenta a atual estrutura da desigualdade social, o acesso a saúde é um privilégio de classes, gêneros e etnias dominantes.

Para Josimara, enfermeira e acampada a cerca de oito meses no assentamento Edson Luís em Macaé, “quem tinha direito a saúde pública eram os ricos, os pobres procuravam os curandeiros”. Atuante na frente de saúde do MST, Josimara acredita ser possível e necessário a colaboração da medicina natural com a ocupacional, principalmente como ferramenta para garantir mais do que a sobrevivência, mas promover de forma popular a qualidade de vida.

 

Por fim dentre as diversas questões que o Movimento dos trabalhadores rurais sem terra engloba, é com força ancestral e feminina que concluí-se que a luta pela terra é também uma luta pelo direito à saúde.

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