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Tag: Frente ampla

  • Protesto na Brasilândia cobra plano emergencial contra mortes por Covid-19

    Protesto na Brasilândia cobra plano emergencial contra mortes por Covid-19

    O número de óbitos por Covid-19 na Brasilândia, na zona norte, chega a ser seis vezes maior na comparação com os bairros mais ricos da capital paulista. Dados da própria prefeitura de São Paulo apontam o abandono da região pelo poder público. A Brasilândia registra 305 mortes até 29 de junho. A vizinha Freguesia do Ó soma 193 mortes, chegando a quase 500 vidas perdidas na região.

    Para tentar impedir mais mortes e cobrar um plano emergencial, a Rede Brasilândia Solidária organizou mais um ato de protesto na manhã deste neste Sábado. Moradores do distrito sairam em caminhada do Hospital Penteado até o Hospital Municipal da Brasilândia, que mesmo diante desta pandemia não funciona com a totalidade de leitos para atender a população.

    Protesto na Brasilândia pede Plano emergencial de saúde

    Protesto na Brasilândia pede Plano emergencial de saúde

    Para a Rede Brasilândia Solidária, o Plano São Paulo do governo do estado comete um grave erro em classificar a capital paulista na fase amarela, com relaxamento da quarentena e abertura da economia, enquanto a periferia ainda não saiu do vermelho por falta de ações locais, com atenção direcionada pelo poder público para regiões mais carentes como a Brasilândia.

    Entre as reivindicações do protesto, estão:

    – Abertura Total do Hospital da Brasilândia (100% funcionando).
    – Testagem em massa com rastreamento dos casos de Covid-19.
    –  Isolamento garantido pelo Estado.

     

     

     

     

     

     

    Juçara Terezinha, integrante Rede Brasilândia Solidária, fala sobre as reivindicações:

     

    Medidas de segurança durante a manifestação:
    Integrantes da Rede Brasilândia Solidária distribuíram máscaras e álcool em gel durante o protesto, além de orientar o distanciamento entre as pessoas, seguindo todos os protocolos de segurança contra o contágio do coronavírus.

    Protesto na Brasilândia pede Plano emergencial de saúde

    Fotos: Paulo Pepe/Observatório Metrópoles

     

    Conheça mais sobre a Brasilândia Solidária:

    https://www.facebook.com/brasilandiasolidaria/

  • URGENTE: Por uma Frente Ampla para evitar que Bolsonaro nos leve para o abismo

    URGENTE: Por uma Frente Ampla para evitar que Bolsonaro nos leve para o abismo

    Por Humberto Mesquita*

     

     

    Não sei por onde começar! Pelo Corona Vírus ou pelo Demônio que está vomitando monstruosidades contra o povo brasileiro? Pela capacidade de destruir dessa maldita pandemia ou pela desenfreada ação de um grupo cujo líder foi eleito por milhões de desinformados —inocentes ou não.

    Mas os dois fatores se unem num mesmo objetivo que é a destruição. Comecemos então pelo vírus que foi menosprezado pelo outro “vírus”.

    O Brasil tinha tudo para se livrar da peste, porque ela não chegou de surpresa aqui. Ela começou na China, ainda em janeiro, se espalhou pela Europa em fevereiro e deu sinais claros de que chegaria aqui tão furiosa como lá.

    Mas, o Brasil como os Estados Unidos, ambos governados por idiotas, menosprezaram a sanha devastadora do novo vírus. “Era um simples resfriado” gritaram os dois. E se mostraram presentes em espaços públicos como a desafiar a pandemia. O resultado veio em março e hoje estamos assistindo a uma verdadeira hecatombe, a um massacre de milhares de brasileiros, seja dos castelos ou dos barracos.

    Desprezo pela Ciência e pela vida

    E o “asno” que governa o Brasil, investindo-se da condição de ditador, isolando-se até mesmo do seu “I love you Trump”, que reconheceu seu erro,  continua a minimizar o vírus, pregando receituário negado pela ciência, e  condenando  a solução médica do isolamento. Para coroar suas arbitrariedades demitiu o Ministro Mandeta, da Saúde, nomeou outro médico, Nelson Teich, que não suportou mais do que 29 dias no cargo e se demitiu.

    Junto com esses, o demônio já havia demitido o Sérgio Moro porque queria interferir nos rumos da Policia Federal, “para proteger a família e amigos”. Sérgio Moro também escolheu o momento para se desentender com ele, quando percebeu que seu “patrão” não lhe presentearia  mais com uma  vaga no STF, depois de  já ter recebido de presente, por serviços prestados durante as eleições presidenciais, o Ministério da Justiça.

    O “chefe”, aos gritos de que “quem manda aqui sou eu”, ou que “ministro que não seguir minha cartilha vai para a rua”, entrou definitivamente em cena para desafiar a tudo e a todos. Fez manifestações contra Congresso, contra STF, pregou um novo AI-5, xingou jornalistas, pouco se importando com as consequências de seus atos, porque acredita que tem a guarda dos militares que o rodeiam.

    Formou-se uma contraposição, constituída pela Rede Globo de Televisão, pelos novos desafetos do “rei Bolsonero” e pelo “herói Sergio Moro”.

    Agora, surgiu um novo ator que é o empresário Paulo Marinho, um homem que foi muito próximo do Bozo e seus filhos, com denúncias contundentes contra ele, os filhos e membros da Policia Federal.

    Num momento como esse, ninguém pode se colocar como única oposição

    A Frente Ampla, no passado, foi formada por Carlos Lacerda, Jango Goulart e  Juscelino Kubitschek,  independente de ideologias.  “Diretas Já” teve em seu bojo Lula, Ulysses Guimarães, FHC, Tancredo Neves, Orestes Quércia, entre outros, com as mais variadas tendências políticas. Tanto na Frente como nas Diretas existia um inimigo comum.

    Hoje nós temos um inimigo comum, e não vejo razão para não se unirem outra vez, o Lula de ontem e o Lula de hoje, com FHC, o governador Dória, Flavio Dino, Boulos, Ciro Gomes, e todas as forças que se opõem a esse governo semi-ditatorial que aliciou os militares para tentar dar o golpe definitivo na democracia e implantar, possivelmente, a mais sangrenta ditadura.

    Está faltando reação: a sociedade civil precisa se engajar nessa luta.

    OAB, ABI, entidades ligadas à cultura, sindicatos, associações de classe, membros do Congresso Nacional e do Judiciário precisam sair dessa modorra e enfrentar o inimigo. Somos todos covardes, esperando um milagre que não acontecerá se as forças vivas dessa nação não se manifestarem. Hoje o que estamos vendo são notas vazias de repúdio, nada mais do que isso.

    Nem o povo pode ir às ruas por conta dessa maldita Covid-19, que mesmo menosprezada pelo “grande vírus” tem sido, neste caso, sua aliada. As multidões não podem protestar pelas ruas.

    Como a única maneira de se manifestar em protesto, atualmente, é o panelaço, o povo tem se debruçado sobre o parapeito das janelas. Tudo nos incomoda, tudo nos aflige e nossas armas limitam-se ao som estridente, mas passageiro, dos panelaços que também não bolem com a estrutura criada por esse verdadeiro anticristo.

    “Deus, salve o Brasil”, suplicamos.  Mas não adianta. Deus não é mais brasileiro. Só a Frente Ampla pode livrar o País do pior.

     

    *Humberto Mesquita é jornalista e escritor, repórter e apresentador de debates na TV.

     

  • Preso militar da reserva que ameaçou matar presidente do Uruguai

    Preso militar da reserva que ameaçou matar presidente do Uruguai

    DO SITE GEONOTÍCIAS

    Pelo Facebook, Carlos Techera, militar da reserva, ameaçou matar candidato da Frente Ampla, Mujica e Tabaré, caso Lacalle perdesse as eleições

    O militar da reserva Carlos Techera foi preso nesta manhã (27/11) por divulgar um vídeo nas redes sociais, onde ele aparece ameaçando o ex-presidente José ‘Pepe’ Mujica, que acaba de ser eleito senador; o atual presidente Tabaré Vázquez e o candidato da Frente Ampla (FA), Daniel Martínez.

    Em sua mensagem, transmitida ao vivo no Facebook antes do segundo turno das eleições de 24 de novembro, Techera disse:

     

    “Vou dizer uma coisa a este retardado de Martinez e a esse idiota de Mujica. Eles vão perder as eleições. Hoje eles vão Hoje Luis Lacalle Pou e o Partido Nacional (PN) serão governo, gostem ou não. ”

    Além disso, durante a proibição, ele afirmou:

    “Se eles cometerem o erro de tentar contra a segurança de Lacalle Pou ou contra as instituições do país ou a Constituição da República por perderem as eleições, não terão o mesmo destino de 73”

     

    Naquele ano, começou o golpe de estado que começou a ditadura militar.

    A mensagem intimidadora contra os líderes do centro uruguaio continuou: “Se você quer ter um problema contra os militares, você o terá e de graça. A única diferença é que não terá 73 anos, desta vez todo mundo fica, tupamaros ou Não. É simples assim, fácil.

    ” E ele reiterou: “Desta vez, eles não saem vivos, vamos ver se eu estava livre agora”.

    Você terá que testemunhar perante o promotor.

    Então, o banco da FA votou por unanimidade a registrar uma queixa criminal, e o senador Juan Castillo a apresentou na terça-feira junto ao Ministério Público, considerando que eram “ameaças de morte”. Após a prisão, foi anunciado que os ex-militares testemunharão perante as autoridades ao meio-dia, diz El Observador.

    Antes de sua apreensão, em uma entrevista à Universal Radio, ele se arrependeu: “Quem cometeu um erro fui eu e não tenho desculpa”, disse ele.

    No ano passado, Techera tentou ser candidato à presidência do PN e, em reportagens com a mídia local, ele se considerava “pior que Bolsonaro”, o presidente de direita do Brasil.

    Texto: RT

    “Me equivoquei”, disse militar aposentado, depois do vídeo em que ameaça Martínes e Vásquez

    “Me equivoquei e estou reconhecendo. Que mais vão querer fazer comigo? Uma carniçaria?”, disse Carlos Techera na noite desta terça-feira

    https://www.elpais.com.uy/informacion/politica/me-equivoque-dijo-techera-video-amenaza-martinez-vazquez.html

    Carlos Techera. Foto: Captura.
    Carlos Techera, o militar da reserva que ameaçou de morte e insultou o atual presidente, o senador Pepe Mujica e o candidato a presidente da Frente Ampla, Daniel Martínez

    En la noche de este martes, Carlos Techera, un militar retirado que quiso competir en la interna nacionalista y que en un video amenazó tanto al presidente Tabaré Vázquez como al candidato frenteamplista Daniel Martínez, dijo: “El que me equivoqué fui yo y no tengo excusas”.

    En diálogo con Radio Universal señaló que en el tono del mensaje “estuvo mal” y agregó: “Lo que yo digo, está mal también, eso no se puede decir”.

    Consultado sobre qué significa la “quedan todos”, dijo: “Pueden ir presos, lo que sea, pero yo no dije matar. Cada uno interpreta lo que quiere”.

    “Me equivoqué y lo estoy reconociendo. ¿Qué más van a querer hacer conmigo? ¿Una carnicería?”, dijo Techera.

    “Yo lo que soy es muy reaccionario. Soy muy calentón. Me arrepiento de lo que dije, de la forma que lo dije, sí, en el contenido de la parte en todo lo que tiene que ver con los militares, sí me arrepiento”, señaló minutos después.

    La bancada del Frente Amplio votó por unanimidad presentar una denuncia penal en su contra. Este martes se presentaron ante la Fiscalía de Corte los senadores Juan Castillo, Mónica Xavier y Ruben Martínez Huelo para que se traslade la denuncia ante la dependencia correspondiente, informó Castillo a El País.

    Indicó además que todos los senadores del Frente Amplio coincidieron en que efectivamente se cometió un delito, en base al numeral 4 del artículo 171 del Código Penal que alude a “ofensa y violencia a la autoridad”.

    En la denuncia, a la que accedió El País, los senadores frenteamplistas dicen que los dichos de Techera constituyen “actos con real apariencia delictiva” y le piden al fiscal general de la Nación, Jorge Díaz, que disponga “las medidas pertinentes a los efectos de investigar la denuncia”. Agregan que se trataría de un delito contra la administración pública y sobre la violencia y la ofensa a la autoridad pública.

    Techera, quien el año pasado intentó ser precandidato a presidente del Partido Nacional y se presentaba en las entrevistas como “peor que Bolsonaro”, comienza diciendo en el video divulgado: “Se quejan en el Frente Amplio porque el general (Guido) Manini Ríos hizo un video, bueno yo voy a subir más la vara a ver si se quejan conmigo y aparte le voy a dar una advertencia y yo no estoy jugando. Si alguno cree que yo soy un loco o soy un bocón y estoy jugando hagan la prueba, no me cuesta nada levantar el teléfono y hacer una llamada”.

    Según lo que expresa Techera, el video fue realizado en la mañana del domingo, antes de conocerse el resultado del balotaje.

    “Les voy a decir algo a los líderes del Frente Amplio, y háganlo viral este video, si ustedes cometen el error, el mínimo error, de atentar o contra la seguridad de (Luis) Lacalle Pou, o contra las instituciones de la patria o contra la Constitución de la República por perder las elecciones, ustedes no van a tener la misma suerte del 73 (año del golpe de Estado). Y me voy a sacar los lentes para que me vean bien la cara, Vázquez, la quedan todos”, expresó.

    “Si ustedes quieren tener un problema contra los militares, lo van a tener y gratis. La única diferencia es que no va a ser el 73, esta vez la quedan todos, tupamaros o no, así de simple, así de fácil. Las Fuerzas Armadas están para cumplir con la Constitución de la República y el mandato que ella dispone, pero no para ser masacrados en una emboscada, a pedradas”, agregó.

    Techera reiteró: “Si ustedes en el Frente Amplio tienen un problema con las Fuerzas Armadas, se lo dice un militar desde ya, lo van a tener y gratis. Esta vez no salen vivos, a ver si fui claro ahora. Las elecciones van a seguir, Vázquez, como tienen que seguir, en democracia”, agregó.

    https://mundo.sputniknews.com/america-latina/201911251089436196-amenaza-de-muerte-a-mujica-viral-tras-las-elecciones-de-uruguay–video/

     

     

     

     

  • URUGUAI: Prova de fogo para democracia neste domingo

    URUGUAI: Prova de fogo para democracia neste domingo

    Daniel Martínez comemora passagem para um segundo turno temeroso. Fotos: Raquel Wandelli

    Em meio à convulsão social na Bolívia, Chile e Colômbia, os olhos da América do Sul se voltam neste domingo para o segundo turno das eleições do Uruguai. Nos últimos 15 anos, o país é considerado referência da fórmula justiça  social e desenvolvimento econômico com democracia. Mais do que colocar à prova esse modelo, a disputa acirradíssima entre esquerda e direita põe em xeque a vulnerabilidade da própria democracia perante o alastramento, por todo o continente, da narrativa neopentecostal, liberal e fascista (para tentar nomeá-la). O discurso autoritário e moralista, apoiado no combate às políticas públicas e na repressão militar avança nas camadas populares na velocidade dos algoritmos. Não encontra barreiras mesmo num país cujo povo tem os mais altos índices de escolaridade superior e é considerado dos mais politizados do mundo.

    É essa prova de fogo que está de novo em jogo no páreo deste domingo: a força da democracia para derrotar seus próprios antídotos. Trata-se do mesmo embate que domina outros países, como Bolívia e Brasil, mas no Uruguai essa divisa se coloca num cenário bem mais nebuloso, cujos perigos não se mostram na superfície.  A disputa entre a Frente Ampla, representada pelo centro-esquerda Daniel Martínez, e o Partido Nacional, liderado pelo centro-direita Luís Lacalle Pou, aparentemente fugiria a essa ameaça. Isso porque a democracia uruguaia, tão jovem quanto a brasileira, mas muito mais consolidada, oporia uma resistência inabalável às investidas planetárias de um projeto neofascista.

    Vitória mais segura das esquerdas nas eleições do Uruguai foi a derrota do plebiscito da Reforma Constitucional

    A escuta das ruas do Uruguai mostra, contudo, que nenhuma suposição dessa ordem é mais segura no jogo de forças da política geoplanetária, que se vale de meios fora do jogo democrático para impor seus representantes na América Latina. Fala-se de fraudes, golpes disfarçados, alienação em massa, enfim, tudo que o Brasil experimentou no último pleito. Com a eleição de Bolsonaro, bombada pela eliminação de Lula da disputa e pela disseminação de fake news apoiada no uso da tecnologia social de Steve Bannon, o Brasil já provou que a democracia é mesmo uma flor frágil. Precisa de vigilância firme para não abrir flanco a sua própria destruição.

    No discurso reproduzido por taxistas e setores mais afetos ao sistema da pós-verdade no Brasil, no Chile, na Argentina, a narrativa é idêntica: o combate ao avanço do comunismo pelo conclamado Foro de São Paulo; à ideologia de gênero como responsável pela degradação moral da sociedade; à corrupção, como se fosse uma prática identificada com a esquerda, e não com a direita; e o caos urbano, pretensamente deflagrado pela proteção aos direitos humanos e o relaxamento da segurança pública.

    Mal entramos num táxi na véspera do pleito, o motorista tentou nos convencer dessas teses, impondo-nos na viagem do centro de Montevidéu até o Velódromo um vídeo no estilo Olavo Carvalho. A tecnologia social de Steve Bannon difunde pelas listas de whatsapp e pelos vídeos do YouTube afirmações caluniosas que não precisam de provas para virar verdade. Nem Pepe Mujica, que cultua uma vida franciscana, nem o presidente Tabaré Vásquez, um oncologista renomado, que enfrenta o câncer avançado no pulmão com uma dignidade comovente, são poupados das fake news e das acusações de corrupção.

    Martínez, da Frente e Lacalle Pou, do Partido Nacional, que surfou na onda dos ataques à esquerda na América do Sul

    O candidato de direita, que corre com uma margem de 5 a 7 pontos na dianteira, carrega consigo não apenas a possibilidade de alternância normal de poder para um governo mais liberal e conservador, que promete manter as políticas públicas na área de educação e saúde e também as liberdades conquistadas, como descriminalização do aborto e do uso da maconha. Ele pode ser um Cavalo de Troia para a fórmula bombástica dos desmoralizados neoliberais Macri e Piñeda, e também dos neofascistas Iván Duque e Bolsonaro. Filho de um militar marcado pela colaboração à ditadura uruguaia e por um dos governos mais corruptos do país, Lacalle se ergueu num processo de disseminação de fake news e de campanha dogmática contra as esquerdas na América do Sul.

    A chapa de Lacalle, que saiu do primeiro turno com quase 11% a menos que a de Martínez, arrastou para o segundo uma aliança com candidatos vencidos, como o liberal Ernesto Talvi, do Partido Colorado, e Guido Manini, do Cabildo Abierto, uma espécie de Bolsonaro uruguaio, que cavalga essa legenda “oportunamente” criada para a eleição. Mesmo tendo sido formalmente rejeitado pelo candidato do Partido Nacional, transferiu seus votos para Lacalle tão logo saíram as preliminares do primeiro turno. Mostra de que a rejeição tem um caráter apenas estratégico: não afugentar o eleitorado que se assusta com os arroubos fascistas do ex-militar. Neoliberal na economia, inimigo declarado das políticas de distribuição de renda, defensor da tortura e da repressão policial, Manini ameaça as liberdades conquistadas após a ditadura, encorajando seus 11% de eleitorado a defenderem teses antidemocráticas que retornarão com mais força num possível governo de Lacalle. Por outro lado, afasta a adesão de certos eleitores do Colorado, que obteve 12% no primeiro turno, desagradando setores da sigla mais comprometidos com a história do partido contra a ditadura. E é aí que mora a esperança da FA no segundo turno, segundo o presidente da frente, Javier Miranda.

    A eleição no Uruguai sempre foi marcada pela polarização entre brancos e colorados, num eleitorado caracterizado pela clara definição política. Só em sua primeira e triunfal vitória, em 2004, com Tabaré Vásquez, a Frente Ampla, formada por 40 agremiações partidárias de esquerda e centro-esquerda, definiu a disputa no primeiro turno. Em 2010, o popularíssimo Pepe Mujica enfrentou essa bipolaridade na segunda volta, assim como o próprio Tabaré na sua reeleição em 2015.  Disputa acirrada não é novidade para o cenário uruguaio, portanto. A novidade é a ascensão da direita após o processo de redemocratização e de derrota dos governos liberais que sucederam a ditadura militar, impondo ao país a mais grave crise econômica da sua história. Justamente para enfrentar a ascensão da direita, a Frente Ampla optou pelo perfil mais conservador de Daniel Martínez e com isso desagradou setores mais à esquerda, como o Partido Comunista, que nem por isso deixaram de se integrar à campanha.

    Candidato da Frente Ampla e família: opção por perfil mais conservador para enfrentar direita

    As últimas pesquisas eleitorais apontam vantagem de 47% para a chapa Lacalle e Beatriz Agrimón, contra 42% da dupla Martínez e Graciela Villar, variando de um ou dois pontos a mais ou a menos. Com esse índice, que praticamente corresponde à margem de erro em qualquer cenário eleitoral, nenhum meio de comunicação, nenhum analista político, nem instituto de pesquisa (as chamadas “encuestadoras”) pode dar a disputa por vencida para um dos lados. Muitos veículos que fizeram a projeção de derrota para a Frente Ampla já no primeiro turno podem morder a língua. Considerar a imprevisibilidade desses processos é uma questão de respeito ao percentual de indecisos e à verdade das urnas, que não pode ser subjugada à influência das “encuestas”.

    A única verdade que pode ser antecipada, não importa o resultado de amanhã, é que em nenhum lugar do mundo as liberdades, as conquistas sociais e os direitos trabalhistas estão assegurados. Nenhum projeto de governo está imune às ofensivas do fascismo neoliberal que se colocam fora do jogo democrático. Ganhando ou perdendo, a democracia terá levado um grande susto ou uma grande puxada de tapete.

  • URUGUAI: Vitória da esquerda para um segundo turno temeroso

    URUGUAI: Vitória da esquerda para um segundo turno temeroso

    Martínez enfrentará Lacalle no segundo turno. Vantagem no primeiro turno não supera soma dos candidatos de direita no segundo
    Martínez enfrentará Lacalle: vantagem no primeiro turno não supera projeção dos votos de direita no segundo. Fotos: Raquel Wandelli

    Foi bonita a festa da Frente Ampla na avenida 18 de julho, ontem à noite, em Montevidéu. Não foi a vitória desejada já no primeiro turno para anular o poder de uma aliança conservadora e temerosa na “segunda volta”, marcada para 24 de novembro. Mas foi uma vitória e assim deve ser respeitada. As vibrantes multidões de eleitores da esquerda nas ruas de Montevidéu logo após as preliminares não autorizam nenhum partido, analista ou meio de comunicação a tirar do povo uruguaio o valor dessa conquista. Os uruguaios frentistas  comemoraram o favoritismo de Daniel Martínez e Graciela Villar junto com o triunfo de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner no primeiro turno das eleições presidenciais da Argentina como degraus diferentes de uma mesma felicidade cívica.

     

    Aparentemente alheios ao temor que palpitava no peito de cada líder da frente, os eleitores ovacionaram a dupla Martínez e Villar, agitando as bandeiras dos 40 partidos que formam a maior e mais duradoura coalizão de esquerda hoje na América e no mundo. Os eleitos receberam a paixão uruguaia de sempre, paixão de quem não esquece a luta dos antepassados. Mas a vantagem de menos de 11 pontos de Daniel Martínez sobre o segundo colocado, Luís Lacalle Pou, do Partido Nacional, habilitando ambos para o segundo turno, não dá razão para tranquilidade ou confiança para a esquerda na “segunda volta”. Especialmente após  chegarem as notícias sobre as agremiações conservadoras que já começaram a se armar ontem mesmo nos subterrâneos da direita uruguaia. O apoio imediato do ultra conservador Guido Manini, e também de Ernesto Talvi, do Partido Colorado, aumentou a incerteza dos frentistas no segundo turno.

    “Temos que trabalhar muito e dialogar muito”, disse Martínez aos Jornalistas Livres, quando se dirigia para o pavilhão da imprensa, nas imediações da avenida 18 de julho, no centro de Montevidéu, para fazer seu primeiro pronunciamento. Ao identificar nossa nacionalidade, o candidato parou, nos abraçou e desejou: “Feliz aniversário ao querido presidente Lula!”. A liberdade de Lula foi muitas vezes cantada nas manifestações da vitória. O refrão “O povo unido jamais será vencido!” ecoou a consciência da unidade latino-americana pela defesa de suas riquezas e soberania dos povos.

    Por volta das 19h30, quando as primeiras parciais confirmaram a liderança de Martínez sobre Lacalle no primeiro turno, milhares e milhares de uruguaios já comemoravam na avenida com a mesma empolgação da esquerda desde a primeira vitória da Frente, em 2005. À medida que a distância entre ambos era superada pela soma dos candidatos à direita, a vitória foi ganhando um sabor ambíguo. A cúpula se retirou mais cedo do palco da festa, que sequer foi pisado por Pepe Mujica e sua esposa, a atual vice-presidenta Lucía Topolanski, eleitos a senadores com uma votação histórica.

    Graciela Villar e Daniel Martínez: vamos conversar com tudo mundo

    Com o resultado das urnas tornando mais árdua a conquista do quarto mandato das esquerdas uruguaias no segundo turno, a grande vitória nas eleições do Uruguai foi a derrota do plebiscito da Reforma Constitucional relativa ao projeto de combate à criminalidade “Vivir sem Medo”. Foi, ao menos, a única vitória consolidada. Projeto de autoria do senador Jorge Larrañaga, do Partido Nacional (Branco), o pacote é considerado pela maioria como a preparação do terreno para a militarização do governo. O projeto cria uma espécie de guarda nacional, com poderes para prender sem mandado judicial, fazer buscas  no período noturno, prendendo  pessoas suspeitas dentro de casa, entre outras medidas. Uma espécie de “pacote anticrime”, focado no policiamento que, na prática, daria aos militares amplos poderes de repressão.

    Nas ruas, a população assinalava a compreensão da importância da derrota desse projeto, reprovado por 54% da população.  Durante a comemoração do resultado da Frente, eleitores  gritavam: “Não à reforma, o medo não é a forma!” e “Militares nunca mais!”. A repulsa à criação dessa guarda nacional predomina entre as pessoas que vivenciaram a ditadura e a juventude politizada. É o exemplo de Lise Moreno, de 16 anos, que votou pela primeira vez e viveu os horrores do governo militar através da memória dos pais e se disse satisfeita principalmente com a derrota do plebiscito. “Não queremos militares outra vez no poder”.

    O projeto ganhou corpo com o apelo da direita ao tema da criminalidade, martelado pela mídia conservadora a ponto de criar o ambiente de uma crise de segurança. É como se o Uruguai, eleito recentemente como um dos países mais acolhedores do mundo, tivesse os índices de violência das metrópoles mais conturbadas, o que não parece corresponder à realidade e à opinião de turistas e moradores entrevistados. “Experimentamos um aumento do número de roubos, mas estamos longe de ser uma nação violenta”, assinala Suzana Rodrigues, 57 anos, psicóloga, opinião partilhada por Gustavo Area, recepcionista de um hotel no Centro de Montevidéu. “Para mim, que tenho a vivência do Rio de Janeiro, essa visão sobre a segurança do Uruguai soa muito exacerbada”, afirma a carioca Rosana Câmara, que se mudou para o Uruguai com o impeachment de Dilma Rousseff.

    O resultado do plebiscito indica que, na opinião da maioria, o combate à criminalidade era apenas um cavalo de Tróia para ir minando por dentro a sociedade democrática instaurada no Uruguai a duras penas após o processo de redemocratização, findo o período de uma década de autoritarismo e violência de Estado (1973-1984). “Para nós, fica claro que a questão da segurança era apenas um subterfúgio para os militares começarem a tomar o poder, instaurando o medo e a repressão em nome do combate ao crime”, afirma Luís Hector Oliveira, que foi preso, torturado pela Ditadura Militar e teve que deixar o país em 1973 para viver clandestinamente no Brasil até a anistia, em 1984.

    Professor de história em escola pública, Luís viajou de ônibus do Rio de Janeiro, onde vive desde então, até o Uruguai para votar e pretende trazer outros companheiros no segundo turno. “Essas eleições são muito importantes para garantir o projeto de aprofundamento da democracia das esquerdas e de desenvolvimento econômico com distribuição de renda e justiça social”.

    https://www.elpais.com.uy/informacion/politica/mira-todos-resultados-elecciones-octubre.html

    A derrota do plebiscito é, por ora, a única segura, mas se pode dizer que também é relativa. Ela  pode retornar através de outros caminhos, como os acordos que Luís Lacalle Pou já está acenando com a direita mais extremista, representada por Guido Manini Rios, do Cabildo Abierto, considerado o Bolsonaro uruguaio, defensor da tortura e de um governo militar, como lembra Heber Pacheo, 57 anos, empregado do comércio, que também veio do Brasil para votar. Embora tenha chegado ao quarto lugar, Manini continua sendo um azarão com peso decisivo na reconfiguração de forças para o segundo turno.

    Ontem mesmo, Lacalle afirmou que, na reconfiguração das forças para a disputa final, daria o posto de ministro da defesa para o ex-militar. “Uma posição estratégica no sentido de reinstaurar a repressão política sob o argumento de melhorar a segurança”, acrescenta Heber, que inclusive se diz assustado com a margem de reprovação do “pacote anticrime. “Eu esperava que muito mais da metade da população se manifestasse contra, depois de tudo que vivemos no Uruguai”.

    Para crescer ao menos 5%, a esquerda aposta nas dissidências internas de setores do partido Colorado que, embora defendam uma economia neoliberal, não compactuam com a participação de Manini pela ameaça que ele representa à democracia. Entre os nove candidatos, apenas os quatro primeiros colocados apresentam uma soma significativa de votos. Todos os demais somam juntos 7% das urnas e apenas um, a Unidade Popular, centrada no trabalhismo, se identifica como força de esquerda dissidente da FA, que pode recompor uma aliança para o segundo turno. Com a pequena margem de votos em branco, num país marcado historicamente pela polaridade partidária, as chances de virada estão mesmo nos ventos insurgentes da América Latina, Europa e Oriente. E nas atitudes grotescas de referências de direita como Bolsonaro, impalatáveis até mesmo para os brancos e colorados.

    MENOS DE UM MÊS PARA LUTAR PELA VIRADA

    Até o dia 24 de novembro, data da “segunda volta”, a coalizão de esquerda terá que se superar para chegar ao quarto mandato. Será preciso adotar uma estratégia de “conversação e diálogo” com todas as agremiações, na tentativa de romper o muro da direita, como afirmou o próprio Martínez, ao fazer seu primeiro pronunciamento oficial, às 21 horas, no Comando da Campanha da Frente, no Hotel Crystal Tower. Martínez alcançou 39,17% dos votos, contra 28,59% de Lacalle, do Partido Nacional, que somados aos 12,32% de Ernesto Talvi, do Colorado, e 10,88% do ultraconservador Guido Manini, do Cabildo Abierto, apontam para uma nova disputa das mais árduas e temerosas da história. Os votos, depositado em papel nas urnas, são apurados de forma muito rigorosa pela Corte Eleitoral, sem acesso aos políticos ou membro dos partidos, e comunicados oficialmente por etapas a cada parcial.

    Longe de ser confortável, o resultado confirma que o Uruguai, apesar dos enormes avanços econômicos e sociais promovidos pelos três governos da esquerda, não ficou imune à onda fascista e neoliberal na América Latina. Tanto no Brasil quanto no país vizinho, o discurso reproduzido por taxistas e setores afetos ao sistema da pós-verdade é o mesmo contra o conclamado Foro de São Paulo, a suposta corrupção da esquerda, o avanço do comunismo, a ideologia de gênero e o caos urbano, pretensamente deflagrado pela proteção aos direitos humanos. Um taxista  tentou nos convencer dessas teses impondo-nos na viagem até o Velódromo um vídeo no estilo Olavo Carvalho. A tecnologia social de Steve Bannon difunde pelas listas de whatsapp e pelos vídeos do YouTube afirmações caluniosas que não precisam de provas para virar verdade. Nem Pepe Mujica, que cultua uma vida franciscana, nem o presidente Tabaré Vásquez, que enfrenta o câncer avançado no pulmão com uma dignidade comovente, são poupados das fake news.

    Se as lideranças estavam apreensivas, o povo uruguaio mostrou confiança na capacidade histórica da Frente de se agigantar para enfrentar com dignidade a maior aglomeração de direita desde sua primeira vitória em 2004. Martínez e Graciela Villar, a líder feminista e popular, receberam no palco em frente à Intendência de Montevidéu, toda a coragem e amor cívico para fazer esse percurso.

    ESQUERDA PERDE MAIORIA PARLAMENTAR

    Tão importante quanto as eleições presidenciais, foram as eleições parlamentres realizadas no dia de ontem para 30 senadores e 99 deputados federais. Hoje, a frente de esquerda tem maioria parlamentar, mas dentro de uma relação de coalizão muito relativa, sempre exposta à renegociação. O quadro de distribuição de parlamentares por partido mostra que não haverá maioria parlamentar no próximo governo. Com três  senadores a menos, a  Frente Ampla, fez 13 parlamentares na Câmara Alta, enquanto o Partido Nacional fez 10, o Colorado 4 e o Cabildo Abierto 3, cargo conquistado  pela primeira vez por esse partido criado para a disputa. Na Câmara Baixa, a FA perdeu nove deputados. Embora também tenha obtido maioria simples, perde para a soma dos parlamentares de direita.

    Distribuição dos senadores por partidos. Fonte: https://www.elpais.com.uy/informacion/politica/mira-todos-resultados-elecciones-octubre.html

    Entre os mais célebres senadores eleitos estão o ex-presidente José Pepe Mujica, que volta ao Parlamento aos 84 anos pelo Movimento de Participação Popular (MPP), com mais de 281.542 dos 99,96% dos votos apurados.  Sua mulher, a Lucía Topolansky, vice-residente do governo de Tabajaré Vásques, também se elegeu. O MPP é uma das 40 sublegendas que integram a Frente Ampla, assim como o Progressitas, que fizeram 87.132 votos com a eleição de Mario Bergara para o senado, seguido pela corrente Artiguisa, que elegeu Álvaro García e Cristina Lustemberg, com 35.881 votos.

    Esses grandes líderes, herdeiros dos bravos Tupamaros, que enfrentaram a fúria da ditadura, vão mobilizar agora toda o seu  para carisma para  mostrar ao povo uruguaio a armadilha da união entre neoliberais e fascistas. Ao mesmo tempo, precisam mostrar a ameaça concreta que essa aliança representa para um país que reduziu a pobreza de 38% para 8%, elevou o salário mínimo para R$ 1.600,00, investiu na tecnologia, na educação, na erradicação do analfabetismo e no desenvolvimento econômico com distribuição de renda. “Aqui o desenvolvimento econômico e tecnológico não tem por objetivo a concentração de renda entre os mais ricos, mas o crescimento de todos com a diminuição das desigualdades sociais”,  como afirmou Javier Miranda, presidente da FA, em entrevista aos Jornalistas Livres.

    Para a tarefa, contam com os exemplos da América Latina, não só da tragédia do governo bolsonarista no Brasil, mas com a recente vitória peronista na Argentina, a confirmação de Evo Morales no primeiro turno da Bolívia e a reprovação da política neoliberal no Chile, que se mostrou tão violenta e assassina quanto as forças militares uruguaias.

    O povo uruguaio é considerado dos mais politizados do mundo e mais conscientes da importância da união da América Latina para a soberania dos povos, como aponta Javier Miranda, advogado, presidente nacional da Frente Ampla. Por isso, a vitória de ontem foi comemorada pelos eleitores da geração que mudou a história de um país acossado pelo imperialismo, pela ditadura e pelas oligarquias com gosto redobrado, ainda que o segundo tempo desse jogo possa reservar grandes dissabores, como acentua Daniel de Los Santos, técnico de enfermagem, 49 anos. Cada passo dado pela luta precisa ser comemorado para que a vitória sempre esteja no horizonte do lutador, para lembrar a lição do companheiro Guevara.

  • O PERIGO DE TER O BODE NA SALA

    O PERIGO DE TER O BODE NA SALA

     

    RODRIGO PEREZ OLIVEIRA, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia

     

    Convido o leitor e a leitora a um exercício de imaginação: feche os olhos e imagine um bode aí no meio da sala, berrando, fazendo xixi e coco. Um bode bem no meio da sala de vocês, naquele lugar sagrado entre a poltrona e a TV.

    Imaginaram??

    Agora, pense naquele problema estrutural que sempre te incomodou no seu apartamento, na sua casa.

    O piso de taco que solta toda hora e suja tudo. A infiltração que tá quase derrubando a parede do banheiro. A textura brega, verde, que o antigo morador fez e, sabe Deus por quê, achou que ficou bonito. O tamanho do boxe, que transforma seu banho num suplício. O sanitário meio encardido, amarelado, sempre com aparência de estar mijado.

    Tudo isso seria problema menor, quase nada, se um bode estivesse mesmo estacionado na sua sala.

    Essa é a metáfora perfeita para entendermos o que tá em jogo naquela que foi a principal polêmica desta última semana, especialmente dentro do campo das esquerdas.

    Começou a ser ventilada a hipótese de uma “frente ampla”, reunindo a oposição ao bolsonarismo, o que envolveria, naturalmente, o PT, o maior partido da oposição. Algumas lideranças, como Ciro Gomes, afirmaram que o PT deve, sim, participar da frente ampla, mas de forma silenciosa, em virtude do “anti-petismo”.

    O PT deveria também abrir mão da agenda “Lula livre”, impopular, segundo Ciro, e cerrar fileiras ao lado daqueles que participaram do impeachment de Dilma Rousseff, evento que os petistas qualificam como um “golpe parlamentar”.

    Se aliar a golpistas e abrir mão da defesa daquele que é internacionalmente reconhecido como um preso político. Por quê? Pra combater o bolsonarismo. Qualquer concessão é legítima se o objetivo for combater o bolsonarismo. O argumento faz sentido, não posso negar.

    De fato, Bolsonaro é uma ameaça ao Brasil, à soberania nacional. Cada vez mais os efeitos do bolsonarismo se tornam mais destrutivos e não reversíveis no curto e no médio prazos. É preciso fazer algo, é preciso resistir e pra isso é necessário reunir o maior número de pessoas possível, de diferentes tendências ideológicas, todas irmanadas pela oposição ao bolsonarismo. Isso é frente ampla.

    Para que a frente ampla seja viável, sua agenda deve ser reduzida ao mínimo: a oposição a Bolsonaro. Não dá pra debater a reforma da previdência, a reforma trabalhista, a PEC dos gastos, pois isso afastaria as frações do mercado que não gostam de Bolsonaro e que poderiam integrar a frente ampla.

    Não se discute lawfare e a prisão política de Lula, pois isso afastaria os setores anti-lulistas que também não gostam de Bolsonaro. Sem essa galera aí, a frente não seria tão ampla assim.

    Diante de Bolsonaro, parece ser problema menor, dizem os defensores da frente ampla. Poderíamos levar o argumento mais longe.

    A ditadura militar, com Geisel, criou o Sistema Nacional de Pós-Graduação, que hoje estrutura a produção científica brasileira. Os ditadores tiveram uma visão estratégica da universidade, fortaleceram a pesquisa científica. Diante de Bolsonaro, a ditadura militar até teve seus méritos.

    Temer não atacou os direitos humanos. Cortou verba das universidades (Dilma também), mas não fez perseguição ideológica. Não interferiu na nomeação de reitores. Não coagiu professores, não disse que primeira dama de outro país é mulher feia. Temer pode até ser golpista, mas perto de Bolsonaro, vamos combinar, é sujeito razoável. Tão fofo, tão educado com aquelas mesóclises.

    Como Bolsonaro é o paroxismo do absurdo, desenvolvemos a estranha capacidade de tolerar outros absurdos, que nem mais parecem ser tão absurdos assim.

    Enquanto isso, privatistas, rentistas, golpistas, destruidores de direitos sociais posam como defensores da democracia, da civilização e reivindicam seu lugar na “frente ampla”.

    Realmente, não sei se o PT deve apoiar esse projeto de frente ampla nos termos em que foram propostos por Ciro Gomes. Não tenho opinião formada sobre assunto.

    Só sei que, em política, a pior coisa é o ter o bode na sala.