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Tag: #foracunha

  • Bloco do Pescoção desfila contra a censura, o retrocesso e a violência aos jornalistas

    Bloco do Pescoção desfila contra a censura, o retrocesso e a violência aos jornalistas

    Hino “Ano Fedasunha” faz alusão ao movimento fora Cunha, à morte de jornalistas e ao calote a funcionários de um dos maiores conglomerados da mídia

    A concentração para o desfile do Bloco do Pescoção começou tímida em frente à Casa do Jornalista, onde funciona o Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais, marcada para o meio dia. A rua foi enchendo, e quando o Trio Elétrico e a bateria começaram a tocar juntos, a festa ganhou cara de carnaval. Os foliões cantaram e dançaram pra valer. Também, com um trio elétrico mais bateria mais os clássicos da música popular brasileira não tinha como ficar triste e nem parado!

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    Sobre o hino do bloco do Pescoção: outro clássico. Com vocês, um trechinho do “Ano Fedasunha”.


    “ Ainda bem 2015 acabou
    Ano assim não deveria co-me-çar
    Pouco dinheiro, muita notícia ruim
    Até o abono o patrão mandou cortar!
    Lei do diploma, não quis votar
    É um “fedasunha” o tal de Cunha, eu não sei não”.

    A música foi composta pelo jornalista Zu Moreira e pelo cavaquinhista Warley Henrique. A letra critica  (nesse caso, com xingamento pode!) o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que em 2015, tentou de várias formas tirar direitos duramente conquistados pela sociedade brasileira; “muita notícia ruim” faz alusão ao fato de 2015 ter sido marcado por mortes de jornalistas: pelo menos 100 morreram; e fala também do calote do 13.o salário a jornalistas e funcionários de um dos maiores conglomerados da mídia, o Diários Associados.

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    Para quem não é jornalista, vale explicar o nome do bloco. O pescoção, no jargão jornalístico, faz referência a uma prática comum nas redações, principalmente nos jornais impressos: trabalhar até mais tarde para adiantar a edição do final de semana. E com certeza muitos jornalistas adiantaram o serviço pra curtir uma folia em algum lugar.
    E elas estavam em vários cantos de BH…

    O bloco saiu às ruas do entorno da Casa do Jornalista com muita animação. Quem passou pela Avenida Augusto de Lima, naquele momento, se juntou ao bloco para dançar, e os moradores dos prédios ficaram
    acenando.

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    Em frente ao Edifício Maletta, foi feita uma parada. O presidente do sindicato, Kerison Lopes, disse que ali era a segunda casa do jornalista. Nesse prédio, antigo, aconteceram e ainda acontecem, hoje com menos frequência, grandes encontros entre jornalistas, compositores, poetas, escritores, intelectuais e artistas diversos.
    O bloco do Pescoção voltou para a Casa do Jornalista e de lá as pessoas começaram a se dispersar. Fim de uma festa boa com uma sensação geral de que  no ano que vem

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    #Vaisermaior

  • Tremores no chão das ruas

    Tremores no chão das ruas

    O Brasil se levantou nas ruas pela democracia. Por todo o país, milhares disseram basta a Eduardo Cunha e seu terrorismo legislativo, dezenas de cidades unidas na defesa da legalidade constitucional, exigindo imediatas correções de rumo na política econômica para que o Planalto possa se reconciliar com o setor social que reelegeu Dilma e não abrirá mão do programa vitorioso nas urnas há apenas um ano.

    Avenida Paulista tomada pela onda vermelha nessa quarta-feira, 16. Foto: Mídia NINJA
    O ‘Fora Cunha’ e o combate a tentativa de golpe foram os motes centrais da mobilização no meio da semana. Foto: Mídia NINJA

    Ruas em polvorosa como não se via desde a onda vermelha que varreu o país para reeleger Dilma. Praças abarrotadas com o que há de melhor nos movimentos sociais, nas lideranças populares, na juventude e no novo ativismo das redes sociais. Apesar de toda a crise que caracterizou 2015 o ano ainda não acabou e o obscurantismo não sairá dele mais forte do que esta democracia que a duras penas estamos construindo.

    Diferente do que se viu nas ruas golpistas de domingo, a diversidade do Brasil se mostrou não apenas em todos os seus tons de pele, como também nos valores de convivência e solidariedade que devem reger os processos políticos e as manifestações públicas. Sem agressões, desrespeito ou discursos de ódio, vimos algo muito distinto das imagens de intolerância e violência que inundaram as redes sociais constrastando com a narrativa “ordeira e pacífica” dos veículos de comunicação controlados pelos Barões das Mídias tradicionalmente avessos à organização popular e às práticas de um jornalismo livre atento à ética e ao interesse público.

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    Manifestação em São Paulo. Foto: Mídia NINJA

    Os saudosos da ditadura militar e da privataria tucana que insistem em construir esta crise política se unem não por causa dos erros do governo Dilma, mas por algo muito mais simples: eles odeiam os pobres e não se conformam com suas conquistas nesta década de avanços sociais e de uma inédita redução de desigualdades.

    Camera da Globo é expulso da manifestação, seguido de seu segurança particular. Foto: Mídia NINJA

    Os defensores do impeachment não tem pudores em esconder seu ódio e se alinhar sob a sombra espúria de Eduardo Cunha para desafiar as instituições do Estado, enquanto tentam impor seus próprios interesses por cima da soberania popular expressa nas urnas que reelegeram a primeira mulher presidenta com mais de 54 milhões de votos.

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    Da esquerda pra direita: Natal, Recife e Belo Horizonte, algumas das centenas de cidades que tiveram mobilizações contra o impedimento de Dilma nessa quarta-feira. Fotos: Autoria desconhecida

    Eles não divergem do ajuste fiscal, nem se opõem a Levy, Katia Abreu, Kassab e tudo aquilo que eles representam na coalisão de governo encabeçada pelo PT. Muito antes pelo contrário!

    O Plano Temer, a Agenda Brasil e todas as propostas até agora colocadas na mesa pelos representantes da elite escravocrata insinuam justamente a retirada de direitos e a interrupção das mais exitosas políticas sociais levadas a cabo pelos governos petistas. Suas propostas vão na direção de interroper o caminho de mudanças que colocaram o país não apenas na vanguarda mundial de redução das desigualdades, mas ainda fizeram do Brasil uma nova referência mundial no combate da corrupção endêmica e historicamente naturalizada em nossa sociedade. Convenhamos: aqueles que saem às ruas vestindo a camisa da CBF e pagam o mico de posar com o pato da FIESP não tem qualquer compromisso com o combate à corrupção, ao contrário disto, financiaram as campanhas milionárias da #QuadrilhaDoCunha e elegeram este Congresso de achacadores.

    Os defensores do impeachment se movem na mais absoluta seletividade de indignação com o objetivo explícito de reverter a derrota que sofreram nas urnas.

    Foto: Mídia NINJA

    Já não restam dúvidas de que o maior crime deste governo é representar justamente aquilo que eles mais odeiam: o povo pobre e trabalhador, aqueles que venceram a miséria e a fome. Lamentamos informar, mas este não será o país do ódio e a História será implacável com os golpistas de plantão!

    Ninguém pode interromper o caminho da primeira geração de brasileiros que cresceram livres da tragédia histórica da fome. Não permitiremos retrocessos nem mais nenhum passo atrás em nosso caminho de construção democrática e solidária. Crise é sempre uma oportunidade de superação e o Brasil precisa reencontrar o caminho das mudanças estruturais.

    Juntos continuaremos fazendo a diferença e avançando no rumo de novas vitórias públicas que ampliem direitos e aperfeiçoem a democracia. O fim da miséria é só o começo e o Brasil tem ainda muitas fomes a vencer. Nós não estamos sós! Eles tem o poder econômico, político e midiático, mas nós temos uns aos outros. Amanhã vai ser maior.

    #GolpeNuncaMais
    #MenosÓdioMaisDemocracia

  • Quem mandou ameaçar a democracia?

    Quem mandou ameaçar a democracia?

    por Ricardo Targino (Mídia NINJA) para os Jornalistas Livres


    O tiro do bandido saiu pela culatra. Nas redes sociais, o #ForaCunha ecoa muito mais forte que o #ForaDilma, colocando pra escanteio os maus perdedores que vem sabotando o país movidos pelo recalque de sua derrota eleitoral.

    Foto: Mídia NINJA

    Enquanto o ódioativismo da direita raivosa se restringe à internet, sem lastro real, pelos Brasis afora e sobre os territórios onde vive o povo que mais precisa, a mobilização contra o golpismo se levanta agora fortalecido por um empoderamento imparável de novos coletivos e atores sociais que emergem na cena política nacional.

    Um verdadeiro “junho das escolas” sacode o país a partir das ocupações de SP, as mulheres não sairam mais das ruas no enfrentamento do obscurantismo, em sua luta por mais direitos e pela soberania sobre seus próprios corpos. Nas redes sociais, a cada novo crime do racismo institucional que promove um genocídio da juventude negra no país, uma avalanche de indignação e inconformismo aponta no sentido da luta pela reforma urgente na segurança pública e pela desmilitarização das polícias.

    Mais do que nunca, os times estão se redefinindo aceleradamente no campo de jogo político. O cenário vai ficando mais claro colocando em xeque as conveniências que não tem mais lugar e apontando o esgotamento da conciliação que preponderou até aqui. O Brasil precisa urgentemente derrotar Cunha e tudo o que ele representa, modificar sua política econômica e retomar o caminho das mudanças estruturais redutoras de desigualdades.

    Para isto, a #Cultura terá papel fundamental e não por acaso na próxima semana começa o #Emergencias no Rio de Janeiro, reunindo o ativismo global, os movimentos sociais, artistas, midiativistas e produtores do imaginário coletivo emergente no século XXI.

    Nenhuma mudança material será efetiva se não constrói suas bases simbólicas sobre a vida imaterial. O fim da miséria é só o começo de uma longa jornada que terá ainda muitas batalhas para que um dia nós possamos ser nós mesmos e assumir em nossas mãos a aventura épica que é a grande vocação do Brasil. É aqui, do remix de todas as humanidades que somos que nascerá uma humanidade nova capaz de salvar o planeta e vencer a crise civilizarória que abala o mundo inteiro neste começo de século.

    Nada nem ninguém pode interromper o caminho da futura civilização que nascerá de nossa incomparável diversidade. É preciso mesmo que tremam todas as velhas estruturas! É preciso que caia tudo o que está podre, adubando o chão onde germinará novamente a esperança que nos levará além. Uma verdadeira mudança está só começando e todos estamos sentimos as dores do parto…

    O amor vencerá de novo!

  • O que os gritos de #ForaCunha em Manaus têm a dizer sobre política no Amazonas

    O que os gritos de #ForaCunha em Manaus têm a dizer sobre política no Amazonas

     Por Allan Gomes, para os Jornalistas Livres

    Desde que assumiu a presidência da Câmara, no início deste ano, Eduardo Cunha e sua tropa agem como um rolo compressor. Suas posições são impostas na câmara lastreadas por um maioria consolidada por meios, no mínimo, duvidosos visto que conseguem vitórias em votações de uma forma que não tem relação com os posicionamentos dos partidos. Talvez a postura de Cunha seja só a face explícita de uma forma de se fazer política, a forma que sufoca opiniões e minorias para fazer parecer que essas não existem. No xadrez político nacional a região Norte é assim encarada, com suas demandas encontrando apenas ouvidos moucos e suas populações tendo que gritar cada vez mais para se fazer ouvir.

    Metáforas de lutas desiguais em que pequenos derrotam grandes se somam aos montes ao longo da história. É esse tipo de narrativa que impulsiona os poucos que erguem suas vozes na capital amazonense contra o projeto político que o presidente da Câmara representa. Nesse mês, em dois momentos, Manaus foi palco de manifestações contra Eduardo Cunha: na quarta-feira, 11, e na sexta-feira, 13.

    Mulheres marcharam em direção à Assembleia Legislativa do Estado, em Manaus. Foto: Junior Moraes/Mídia NINJA

    Somando-se a movimentações — também de pequenos, por serem “minorias” — por todo o país, mulheres de vários movimentos marcharam na quarta ao longo da avenida Recife, indo da frente da delegacia da mulher até o prédio da Assembleia Legislativa do Estado. Em suas pautas e demandas, vozes femininas do movimento sem teto, da juventude socialista e do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher. Antes de iniciar a marcha, uma grande roda com as palavras de ordem: “Oh companheira me ajude, que eu não posso andar só. Sem você eu ando bem, mas com você ando melhor” e esse foi o tom até à ocupação do plenário da ALE-AM.

    O que teria deixado as mulheres por todo o Brasil tão indignadas com Eduardo Cunha? Dentre a agenda de retrocessos que o deputado tem encabeçado a frente da Câmara como a Redução da Maioridade Penal, a revogação do Estatuto do Desarmamento, e até uma cínica reforma política que só reforça os vícios do sistema, certamente o PL 5069/13 é o que dá ares mais medievais para a atuação do congresso mais conservador da história brasileira.

    Representantes do movimento feminista compareceram ao ato. Foto: Kevin Tomé/Mídia NINJA

    Não a toa, dentre as faixas empunhadas uma se indignava “Não acredito que tenho que lutar por isso em pleno 2015”. O PL, de autoria de Eduardo Cunha, dificulta o acesso de vítimas de estupro à atendimento, além de dificultar o acesso a métodos contraceptivos, dentre outros retrocessos. Ora, essa proposta já não seria mais do que suficiente para que multidões se reunissem para impedir o ataque a direitos conquistados? Não com o véu de silêncio que há sobre o que se passa na Câmara dos Deputados.

    Ato contra Cunha foi realizado no Centro de Manaus. Foto: Kevin Tomé/Mídia NINJA

    Historicamente a bancada federal do Amazonas foi incapaz de conectar o que se passa em Brasília com o dia a dia da população amazonense. Não é de se estranhar que muitos dos políticos de carreira considerem uma derrota um mandato na Câmara ou no Senado e busquem, logo que possível, retornar à disputa de cargos executivos locais. Essa desconexão acontece também em via dupla. Nenhum dos representantes amazonenses parece ouvir — ou se importar — com qualquer que sejam as demandas locais que possam repercutir em Brasília fora os interesses econômicos que sustentam a Zona Franca. Nesse contexto, não é de se espantar que nas principais votações de interesses de Eduardo Cunha a bancada do Amazonas vote em peso com o deputado.

    O que se viu neste mês não foi um fato isolado, afinal, além da mobilização de quarta-feira, na sexta, 13, diversos movimentos foram à Praça da Matriz para, novamente, marcar posição contra a pauta atual do Câmara, na figura do seu presidente. Se na primeira manifestação as vozes eram, em sua maioria, femininas, na segunda era a juventude que dava a tônica. O movimento de mulheres Olga Benário e o Levante Popular da Juventude se fizeram presentes, e fizeram barulho. Os trabalhadores populares da região, geralmente indiferentes às pautas política costumeiramente debatidas na praça, não se furtaram de também pedir o microfone do carro de som e apresentar suas demandas

     Ato contra Eduardo Cunha em Manaus. Imagens: Dirce Quintino/Jornalistas Livres

    Como todo momento de ebulição, os pedidos em Manaus pela saída de Eduardo Cunha transbordaram e atingiram o prefeito da cidade, Arthur Virgílio (PSDB-AM). Em dado momento uma vendedora ambulante tomou a palavra e aplaudiu o prefeito por “ter criado o maior banheiro público a céu aberto”. A ironia referia-se à obra de restauração da Praça da Matriz, prevista para ser entregue antes da Copa de 2014 e que até agora não foi concluída.

  • ‘Contratempo’: Em Minas, discurso contra Cunha se volta contra a Polícia Militar

    ‘Contratempo’: Em Minas, discurso contra Cunha se volta contra a Polícia Militar

    Em ato #Mulheres contra Cunha, polícia prende casal em BH; após ameaça com chegada da Tropa de Choque, manifestantes encerram movimento

    Por Aline Frazão, para os Jornalistas Livres

    Enquanto movimentos feministas e de direitos humanos lutam pela descriminalização do aborto (no Brasil as ricas abortam, as pobres morrem), o atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, quer tirar um direito duramente conquistado. Desde 1940, a lei prevê que as mulheres podem realizar aborto nos casos de estupro e se for comprovado que o bebê é acéfalo.

    Esse senhor quer incluir um ARTIGO no Decreto Lei do Código Penal. O texto do ARTIGO, o 127 A, diz que “anunciar processo, substância ou objeto destinado a provocar aborto, induzir ou instigar gestante a usar sustância ou objeto abortivo, instruir ou orientar gestante sobre como praticar aborto, ou prestar-lhe qualquer auxílio para que o pratique, ainda que sob o pretexto de redução de danos”, a pena é detenção, de quatro a oito anos. Se o agente for funcionário da saúde pública, ou exercer a função de médico, farmacêutico ou enfermeiro, a pena é prisão, de cinco a dez anos. Reparou na maldade? Preste atenção ao “ainda que sob o pretexto de redução de danos”.

    As mulheres não querem parir filhos de seus estupradores.

    Fotos: Olívia Porto Pimentel / Nicole Marinho

    Esse recado ficou explícito nas manifestações que ocorreram nesta semana. Para protestar contra esse retrocesso, ativistas criaram o movimento

    #MulheresContraCunha, que ocorreu no Rio de Janeiro e em São Paulo, e no último sábado em BH. Apesar de não ter recebido tanta força quanto nas duas maiores metrópoles do país, onde foram organizados atos com milhares de pessoas, as mineiras insistiram em também tomar as ruas e protestar por seus direitos. Começando um pouco tímido na Praça da Liberdade, na frente do Palácio do Governador do Estado, aglomerou-se cerca de 500 pessoas que partiram em marcha para o epicentro da cidade, a Praça Sete de Setembro.

    Elas caminharam pela avenida João Pinheiro. Alcançaram a Avenida Afonso Pena, e em frente à prefeitura entoaram um canto já conhecido na Capital mineira: “ei Lacerda, seu governo é uma merda! Dança lacerda, dança até o chão, chegaram as mulheres pra fazer revolução”.

    Foto: Caio Santos

    A manifestação ocupava todas as pistas. No entanto, o trânsito estava tranquilo e a ideia era andar até a Praça da Estação. Porém antes de chegar à Praça Sete, a PM pediu aos manifestantes para liberar uma faixa. Liberaram. Logo em seguida eles quiseram a liberação da segunda faixa. Nessa hora se formou uma confusão. Policiais correram atrás de um rapaz e o deteve. Sua namorada questionou a prisão, e acabou sendo detida também. De forma violenta. Cinco policiais a seguravam pelos braços e pernas.

    Vários manifestantes tentaram proteger o casal, outros já saíram correndo, assustados. O que era uma bela manifestação até então, se tornou cena de ditadura militar, ainda comum no Brasil. Um novo grito de ordem começou a ser bradado: “que coincidência, sem a polícia, não tem violência”.

    O casal foi levado. Os gritos contra Cunha e seu projeto bizarro, como “Legaliza! O corpo é nosso! é nossa escolha! é pela vida das mulheres”, tiveram de se voltar contra a PM: “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar”.

    Foto: Olívia Porto Pimentel

    Depois disso, os manifestantes continuaram na Afonso Pena, por pouco tempo, resolvendo o que fazer com a questão dos companheiros detidos. Enquanto isso, a PM cercava o grupo que sobrou e mandou um aviso: “a tropa de Choque estava a caminho”. Ficou decidido que seria criada uma comissão, composta por representantes dos movimentos e por advogados, para liberar os presos.

    Foto: Caio Santos

    A deputada federal pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil), Jô Moraes, acompanhava o ato e fez alguns telefonemas. Em conversa com um tenente da PM ela afirmou: “ a mulher foi presa por cinco policiais. Como é que precisa de cinco policias pra prender uma mulher? Eles saíram correndo atrás dela. Eu estou chocada. Eu espero que o senhor me assegure que não haja nenhum problema na delegacia. O batalhão não veio e realmente, era pouca gente pra tanto espetáculo”, concluiu, agradecendo.
    Os manifestantes tiveram de liberar toda a avenida, sob a ameaça de uma ação truculenta da polícia. O movimento se dispersou, enquanto alguns foram até a Central de Flagrantes mais próxima, com a comissão.

    Foto: Olívia Porto Pimentel

    O casal preso foi liberado durante a madrugada de sábado. Eles devem responder por processo. A comissão formada por integrantes dos movimentos que tomaram a frente do ato vai acompanhar o caso.

    A polícia reconheceu que foi necessário usar da força para dominar a jovem detida. A força de cinco homens contra uma mulher.

    Foto: Caio Santos
  • ‘A violência contra a mulher não é um mundo que a gente quer’

    ‘A violência contra a mulher não é um mundo que a gente quer’

    Por Tati Pansanato, especial para os Jornalistas Livres


    Milhares de mulheres se mobilizaram e se manifestaram na sexta e no sábado (30 e 31/10) contra o PL 5069/2013, projeto de lei que…

    • Quer restringir o direito da vítima de violência sexual de fazer a profilaxia da gravidez sem a apresentação de um boletim de ocorrência e de um exame de corpo de delito;

    • Quer criminalizar os profissionais de saúde que a façam;

    • Quer punir com cadeia a circulação de informações que orientem ou instruam a gestante sobre como praticar o aborto.

    Do alto de sua falta de compaixão, o projeto de lei quer exigir que o atendimento à mulher estuprada seja precedido pela denúncia em uma delegacia e pela feitura de um exame de corpo de delito.

    Imagine…

    Foto: Mídia NINJA

    O sêmen do criminoso ainda dentro do corpo da vítima e ela (em choque) sendo obrigada a reviver a agressão diante de um escrivão de polícia, em uma delegacia que em sua maioria está despreparada para acolher casos assim.

    Boçais.

    O PL é de autoria do (sempre ele!) deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que o apresentou em 2013, quando ainda não era presidente da Câmara. Voltou à cena agora que Cunha precisa tirar do foco as denúncias de corrupção contra ele, envolvendo milhões de dólares em contas no exterior. Para tanto, Cunha recebeu parecer favorável do relator deputado Evandro Gussi (PV-SP), que aproveitou a oportunidade para piorar o que já era ruim.

    Para quem nutre preconceitos contra os evangélicos, considerando que só entre os neopentecostais –como Eduardo Cunha– encontram-se os inimigos das causas das mulheres, aí vai uma informação importante. Evandro Gussi é um fanático fundamentalista católico, membro da Canção Nova e de uma sinistra organização anti-mulheres, chamada Pró-Vida, que tem como lema “Coração Imaculado de Maria! Livrai-nos da Maldição do Aborto!”

    Marcha Mulheres Contra Cunha em São Paulo. Foto: Mídia NINJA

    Bom, mas vamos à linda resistência feminista contra esses maníacos inquisidores modernos…

    Pelas redes sociais, marcou-se o ponto de encontro: praça dos Ciclistas, ali na esquina das avenidas Paulista e Consolação –impossível não sentir os ecos das jornadas de luta contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô de 2013.

    Foto: Lina Marinelli / Jornalistas Livres

    Mulheres pintadas, mulheres de sutiã, mulheres sem, mulheres cis, mulheres trans, mulheres negras, brancas e indígenas. Feministas históricas ao lado de meninas secundaristas. Mulheres valentes. Mulheres gordas. Mulheres magras. Peitudas e sem peito. Mulheres Frida, Simone (de Beauvoir, viu?), Nina e Olga. Mulheres livres, andando ao lado de homens libertários e também inimigos das fogueiras e dos instrumentos de tortura.

    Em todas as vozes, o grito:

    “Vai cair, vai cair… O Cunha vai cair!”

    Foto: Mídia NINJA

    Milhões de mulheres já decidiram fazer um aborto ou conhecem alguém que já o fez. Isso sempre ficou em segredo, no silêncio doído e solitário das escolhas difíceis, clandestinas e estigmatizadas. Algo mudou.

    Uma das redes de solidariedade mais impressionantes dos últimos dias é a que se formou em torno da hashtag #PrimeiroAssédio, com as mulheres rompendo as convenções opressoras ditadas pela vergonha e pela humilhação. “Deixa estar… Melhor esquecer… Bola pra frente… Como você vai provar?” –que vítima nunca escutou esse tipo de conselho? Mas eis que, de repente, tudo aquilo que se tentou enterrar no passado aflorou como em uma erupção.

    Foto: Mídia NINJA

    E nós começamos a falar! E dessa fala veio a solidariedade, a compaixão, a sensibilização, uma se identificando com as outras… Com todas.

    Juntas somos fortes.

    Surpresa! Nem Cunha e nem o católico Gussi esperavam por isso…

    Motivado, o formigueiro feminino e feminista se conectou e, em poucos dias, organizou um ato #MulheresContraCunha, tag que rapidamente ganhou milhares de adeptos nas redes sociais.

    Foto: Lina Marinelli / Jornalistas Livres
    Ato Mulheres Contra Cunha em Belo Horizonte. Foto: Caio Santos / Jornalistas Livres

    Priscila, 28 anos, técnica arqueológica que é contra esse projeto de lei, conta que esteve ali pelo direito ao corpo, pela legalização do aborto e pela descriminalização da pílula. Ela diz que tem uma amiga que, aos 12 anos de idade, foi estuprada “violentamente” pelo padrasto e engravidou. A menina teve que passar duas vezes por atendimento médico-cirúrgico pelo SUS (Sistema Único de Saúde) e até os dias de hoje sofre com o trauma. Uma história. Tantas histórias.

    O ato seguiu pela avenida Brigadeiro Luís Antonio até a Catedral da Sé, no centro da capital. Sob as estátuas de santos, debaixo da cruz, defronte às imensas portas fechadas da igreja, fechadas para nós, milhares de mulheres carregando faixas, cartazes, bateria, gritos, ovários e garra avisávamos:

    “Não vamos desistir até o Cunha cair!”

    “Tirem seus rosários dos meus ovários!”

    “Amanhã vai ser maior”

    Assim seja.

    Foto: Lina Marinelli / Jornalistas Livres