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  • Fidel retorna à Santiago ovacionado por uma multidão em seu último adeus ao povo cubano

    Fidel retorna à Santiago ovacionado por uma multidão em seu último adeus ao povo cubano

    Milhões de cubanos reuniram-se ao longo deste sábado (3) nas ruas de Santiago de Cuba para dar o ultimo adeus ao líder da revolução de 1959. A carreata com os restos mortais de Fidel Castro chegaram pela carretara central, a principal rodovia do País, por volta das 12h30. Ao todo foram 900 kms percorridos desde Havana até Santiago, cidade onde descansarão as cinzas ao lado do seu mentor, José Martí.
    A comitiva responsável pela segurança era formada por dois carros da policia, um furgão, duas motocicletas, um caminhão do exército e dois jipes, sendo que o último carregava o ataúde com as cinzas de Fidel. A primeira parada em Santiago foi o Parque Céspedes, local em que no dia 24 de novembro de 1958 Fidel chegou acompanhado de seu irmão Raúl, Ramiro Valdez, Armando Acosta e outros guerrilheiros em sua campanha pela liberação do País.


    Um pouco antes da comitiva chegar ao parque uma leve chuva caiu por aproximadamente cinco minutos. Não era difícil ouvir o povo falando que tratava-se do céu chorando a morte do seu comandante.
    “Fidel não estará sozinho, sempre terá alguém com ele. Pode anotar o que eu estou dizendo, as pessoas farão visitas ao seu túmulo a partir do momento em que o cemitério Santa Ifigênia abrir e então nunca ficará só”, afirmou Maria Tavaréz, de 52 anos, moradora de Santiago.
    Ela era apenas uma das milhares de pessoas que acompanhavam emocionadas o “último tributo ao comandante”. Assim como o músico Hélio Torres, de 64 anos, que veio prestar sua homenagem a Fidel. “Para mim sempre foi um exemplo com um objetivo infinito de ajudar os cubanos a evoluírem. Não é coincidência que depois de tanto tempo várias gerações pensem o mesmo”, disse embaixo de um sol de mais de 30 graus.
    Questionado sobre a quantidade de pessoas presentes no Parque Céspedes neste dia histórico, Torres disse que, neste caso, trata-se de uma visita de Fidel como outra qualquer. “Igual como sempre esteve quando entrava na Praça. Hoje não há mais nem menos pessoas que vieram para vê-lo quando estava vivo. Era sempre uma energia muito positiva”, comentou.

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    Mas Fidel não foi a única referência cubana a ser saudada neste sábado no Parque. O que convencionou-se a chamar de “Os cinco”, um grupo preso pelos Estados Unidos acusados de espionagem estavam no prédio onde funciona a prefeitura da cidade. Eles foram saudados, tiraram fotos e distribuíram autógrafos para a população. “Eles foram condenados a prisão perpétua, poderiam estar lá ainda”, avaliou Rider López, de 37 anos. Mas o que eles significam exatamente para Cuba? “São líderes, heróis e exemplos de Cuba. Foram presos injustamente pelo império e o povo lutou junto ao seu comandate até que os liberaram. Mas não foi só isso, foram vários países que lutaram pela sua liberdade, somando a nossa luta de Cuba, até que conseguimos. Por isso representam tanto. Cuba, no final, sempre vence”, disse com sorriso na boca e também no olhar.
    Após deixar o Parque Céspedes a comitiva seguiu até Moncada, onde os restos mortais foram transladados até a ida para a Praça da Revolução, onde um grande ato teve início a partir das 19 horas, mas desta vez acompanhada de delegações de diversos países. Na comitiva brasileira, destacaram-se as presenças de Lula e Dilma, sempre lembrados pelos cubanos pelas parcerias estabelecidas entre ambos os países durante as gestões dos ex-presidentes.

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    Ao contrário da homenagem em Havana, onde os chefes de estado foram o destaque, em Santiago lideranças locais ligadas ao governo cubano e aos movimentos sociais precederam o discurso de Raul Castro. Na cerimônia, também mais curta do que na capital, o chefe de governo do País recordou a história da revolução, destacou as qualidades do irmão falecido e listou conquistas que a ilha alcançou nos últimos anos. “Ele nos mostrou que sim era possível derrotar os racistas sul africanos, salvando a integridade territorial de Angola e conquistando a independência de Namibia. Nos mostrou que era possível transformar Cuba uma potência médica reduzindo a mortalidade infantil com as taxas mais baixas do terceiro mundo e depois do mundo rico”, exemplificou.
    Castro reforçou que o legado de Fidel é mostrar ao povo cubano que tudo é possível para os moradores da ilha. “Ele nos mostra que sim é possível fazer e que é possível continuar fazendo, superando os obstáculos para construir o socialismo em Cuba e defender a soberania da pátria”, enfatizou em suas últimas palavras antes de encerrar o último evento aberto ao público.
    No dia seguinte, às sete horas da manhã, em um evento reservado para família e poucos convidados no cemitério Santa Ifigênia, onde os cubanos reuniram-se para a última homenagem ao seu líder. Pessoas discursavam enquanto jornalistas reuniam-se para gravar e tomar depoimentos. Entre choro e alegria ao lembrarem os que chamam de ensinamentos de Fidel, o último adeus deixou menos dúvidas do que se esperava. “Nada vai mudar” era a resposta mais ouvida quando questionava-se o que acontecia com Cuba após a morte de Fidel Castro.

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  • Em Havana, despedida de Fidel é marcada por renovação de votos da revolução

    Em Havana, despedida de Fidel é marcada por renovação de votos da revolução

    Até onde a vista alcança. Esta é a medida mais exata para definir a quantidade de pessoas que participaram na noite desta terça-feira (29) da cerimônia de despedida dos restos mortais de Fidel Castro Ruz, o comandante de Cuba. Além das milhares de pessoas que tomaram a Praça da Revolução, dezenas de chefes de estados e representantes de países das mais diversas partes do mundo compareceram para prestar a última reverência ao líder cubano.

    O movimento na praça era ininterrupto desde que suas cinzas foram colocadas para visitação pública. Mas ao longo desta terça-feira o povo cubano começou a chegar para ocupar o espaço e garantir os melhores lugares possíveis para o último adeus na capital do País.

    Entre eles estava Violeta Gonzales, de 63 anos, que carregava consigo um cartaz com uma foto de Fidel. Mas o qual o motivo desta idolatria? “Todos nós somos Fidel, ele é nosso pai. Nos ensinou a lutar pela nossa independência, nos ensinou a sermos solidários e humanos. Sem ele estaríamos como antes de 1959, com a exploração do homem sobre o homem, a prostituição e não teríamos saúde e educação. Nós, os negros, não teríamos direitos pois devemos isso a Fidel”, disse a senhora com brilho nos olhos antes de embargar a voz.

    Mesmo emocionada, ela não parecia nenhum pouco triste. “Fidel não morreu. Ele está conosco com seu legado”, afirmou. Este parecia ser o sentimento generalizado na Praça da Revolução. Com momentos de emoção, mas sem uma tristeza exagerada.

    Foto: Leandro Taques
    Foto: Leandro Taques

    Os 90 anos do comandante e a certeza de que tudo está planejado para que o País siga o rumo do socialismo, ditando o exemplo de uma sociedade que busca a igualdade entre os seus e os outros povos. Foi o que disse um membro do comitê esportivo que preferiu não ser identificado. Segundo ele, não há mudanças previstas para Cuba com a morte de Fidel. Assim como não terá com a saída do seu irmão, Raul Castro, do comando do País em 2018, data estipulada por ele. “Está tudo planejado”, garantiu.

    Ele também reforçou a importância de Fidel para os negros, a exemplo de dona Violeta. “Antes dele, os negros engraxavam sapatos e vendiam jornais. Hoje, eu, por exemplo, conclui a graduação e tenho mestrado. Antes de Fidel isso era impossível”, sentenciou. Para ele, a expectativa é que a aproximação com os EUA traga mais recursos para o País por meio do turismo. Mas, a exemplo dos outros cubanos e líderes internacionais, condenou veementemente o embargo imposto pelos Estados Unidos.

    No meio deste cenário era possível perceber alguns estrangeiros acompanhando atentamente a movimentação. A maioria deles já com viagem programada acabou sendo pega de surpresa com a situação. É o caso da sueca Clara Rudelius, de 19 anos, que estava no País há dois meses e prestes a voltar para casa.

    Mas o que exatamente Clara sabe sobre Fidel? “Eu sei que algumas pessoas o odeiam e outras o amam. Eu sei o que todos sabem, mas não sou uma expert no assunto. Eu acho que as pessoas mais velhas sentem por ele, mas vejo muitas pessoas jovens que parecem não ligar muito, pois as vejo tirando fotos em poses que não combinam”, afirmou antes de lamentar o luto imposto pelo governo cubano que impediu suas últimas festas em Havana.

    Contudo, a opinião da sueca contrastava com uma serie de outros jovens que carregavam cartazes e falavam na manutenção dos ideais da revolução. Um taxista que prefere não ser identificado explica. “Hoje temos dois tipos de jovens: os que apoiam Fidel e querem a continuidade de todas as suas políticas e uma outra parcela que demanda a liberdade econômica, com facilidades de consumo e viagens, por exemplo”, explicou.

    Foto: Leandro Taques
    Foto: Leandro Taques

    Cada país, uma história – É provável que Clara tenha voltado para a Suécia com mais informações sobre o líder cubano. A cada novo chefe estado ou representante de nação convidado a prestar sua última homenagem ao comandante, ficava claro que Fidel era não só um exemplo para Cuba, mas um elo que ligava vários outros países.

    Da integração regional, passando por outros países como a África, a colaboração de Cuba e Fidel está registrada na memória de cada povo.”A derrota histórica das forças racistas consolidaram a vitória em Angola e também garantiram as bases para a independência da Namíbia e a própria liberação da África da Sul. Saudamos ao companheiro Fidel por esse sacrifício. Cuba não estava olhando para o outro, diamantes ou petróleo na África. Os cubanos só queriam ver a liberdade e o fim da África como playground das nações poderosas”, recordou o presidente da África do Sul, Jacob Zuma.

    O primeiro ministro grego, Aléxis Tsípras, ressaltou as políticas sociais de Cuba, a coragem do povo cubano e Fidel e disse que o comandante da ilha ensinou muito ao mundo, inclusive sobre o socialismo. “A Cuba de Fidel também nos ensinou que o caminho para o socialismo não está coberto de rosas, também está cheio de dificuldades e revezes”, comentou.

    Boa parte dos líderes presentes exaltaram que Fidel continuará vivo, a exemplo de Violeta, a partir de suas ideias e projetos que concretizou. “Fidel seguirá vivendo no rosto das crianças que vão à escola, dos doentes que têm suas vidas salvas. Sua luta continua no esforço de cada jovem idealista empenhado em mudar o mundo”, disse o presidente do Equador, Rafael Corrêa.

    “Fidel foi um verdadeiro construtor da paz com justiça social. Quero dizer que Fidel não está morto porque os povos não morrem, principalmente aqueles que lutam por sua independência. Fidel não está morto porque as ideias não morrem. Fidel não morreu porque as lutas não morrem, principalmente aquelas que estão destinadas a dignificar a humanidade. Fidel está acima de sua própria vida. Está instalado para sempre na história da humanidade. Fidel e Cuba mudaram o mundo”, garantiu o presidente da Bolívia, Evo Morales.

  • Fidel Castro, o líder da revolução cubana

    Fidel Castro, o líder da revolução cubana

    Por Julio Turra, da corrente O Trabalho, do PT

     

    Aos 90 anos de idade – afastado há 10 anos do exercício direto do poder em Cuba – Fidel já havia deixado seu nome marcado na História e, em particular, na memória dos povos oprimidos de todo o mundo, por haver desafiado o imperialismo mais poderoso com a revolução cubana de 1959, realizada a apenas 100 km dos EUA, e a resistência ao seu cerco, embargo econômico e agressões sucessivas por décadas.

    A revolução cubana rompeu, nos fatos, com a lógica da “coexistência pacífica” entre o imperialismo dos EUA e a burocracia dirigente na ex-URSS (União Soviética), liderada então por [Nikita] Khrushchov, de divisão do mundo em “zonas de influência” na chamada “guerra fria”. Afinal, Cuba, desde de sua independência da Espanha (1898), tornara-se uma virtual colônia dos EUA e jamais a burocracia soviética teve planos de romper o equilíbrio mundial (“não mexe no meu, que não mexo no teu”) numa ilha tão próxima de Miami.

    O jovem Fidel não era socialista. O papel que veio a jogar na revolução cubana combinou-se com o movimento próprio das massas no país. Como estudante, combatia a ditadura pró-EUA de Fulgêncio Batista com um ideário democrático, tendo sido preso após o “assalto ao quartel de Moncada” em 1953 e anistiado dois anos depois. Ao fundar, em 1955, o Movimento Revolucionário 26 de julho (M-26-7) – a organização política que dirigiu a revolução cubana – Fidel e seus companheiros de então afirmaram uma plataforma “democrática e humanista” ao mesmo tempo que organizaram a guerrilha que, entre 1956 ao início de 1959, derrubou Batista.

    O partido cubano que seguia as ordens de Moscou – PSP à época – que já havia apoiado e participado com ministros de governos de Batista, foi hostil e denunciou o M-26-7 como aventureiro. E só somou-se aos guerrilheiros às vésperas da entrada triunfal de Che Guevara e Camilo Cienfuegos em Havana.

    O processo que levou ao surgimento do PC Cubano

    Foi a própria dinâmica da revolução que provocou a adesão, anunciada apenas em 1961, de Fidel e seus companheiros ao socialismo. Para obter o apoio das massas camponesas e dos trabalhadores urbanos (Havana estava em greve geral quando o ditador Batista fugiu para Miami), os revolucionários aplicaram um programa democrático radical que se chocou com os interesses dos EUA na ilha. A reforma agrária implicava expropriar grandes empresas “gringas” que controlavam os latifúndios exportadores de cana de açúcar e tabaco. A reação de Washington às expropriações foi brutal: armou mercenários para a fracassada invasão da Baía dos Porcos e, depois, decretou o embargo econômico a Cuba, que perdura até hoje.

    Assim, num país dominado pelo imperialismo, a realização de tarefas democráticas e de libertação nacional, se combinaram com tarefas socialistas de expropriação do grande capital para introduzir uma economia centralmente planificada e baseada na propriedade coletiva dos meios de produção.

    Como o próprio Fidel disse no 1º congresso do Partido Comunista Cubano (1975): “O imperialismo não podia tolerar sequer uma revolução de libertação nacional em Cuba. (…) mas a nação cubana não tinha outra alternativa, o povo não podia e não queria mais retroceder. Nossa libertação nacional e social estavam indissoluvelmente ligadas. ”

    O Partido Comunista Cubano (PCC) resultou da fusão do M-26-7 de Fidel, do Diretório (estudantes) e do PSP. Diante do embargo dos EUA, a URSS apresentou-se como parceira econômica de Cuba e aumentou sua pressão para alinhar Havana com sua política externa. O que provocou não poucas tensões e crises.

     

    Fidel com Nikita Khrushchov: stalinismo joga com Cuba na “guerra fria”
    Fidel com Nikita Khrushchov: stalinismo joga com Cuba na “guerra fria”

    Na verdade, não foram os “homens de Moscou” que vieram a dirigir no início o PCC e o Estado cubano, mas sim os veteranos da guerrilha – Guevara, Raúl e o próprio Fidel – como ficou explícito no episódio da prisão de Aníbal Escalanteem 1962 (dirigente stalinista do PSP, que manobrava para cavar posições no aparelho do estado cubano).

    A direção cubana nunca foi um simples “apêndice de Moscou”, pois, como na Iugoslávia ou na China, ela havia feito uma verdadeira revolução que não estava nos planos da URSS. O que explica que, pelo menos até a morte do Che nas selvas da Bolívia em 1967, Havana tivesse uma política externa distinta dos partidos comunistas ligados a Moscou, de submissão do movimento operário e popular da América Latina à burguesia nacional e ao imperialismo.

    Já a burocracia da URSS encarava Cuba como uma “peça” de seu jogo de “guerra fria” com os EUA, como ficou claro na “crise dos mísseis” de 1962. Khrushchov instalou mísseis na ilha para “defender Cuba”, provocando a reação de [John F.] Kennedy, que exigiu sua retirada, ameaçando com uma guerra. Passando por cima de Fidel – que era contra ceder à ameaça dos EUA – a URSS retirou os mísseis.

    Mas a tentativa de extensão da revolução para outros países da América Latina pela via dos “focos guerrilheiros”, encabeçada pela OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade), fracassou, pois, as condições particulares em que se deu a revolução cubana não existiam em outros países. Foi o que levou Cuba, isolada no continente, a depender da URSS para sua sobrevivência.

    A partir daí ocorreu um alinhamento com a política de Moscou por parte da direção cubana, que levou Fidel a apoiar a invasão da Tchecoslováquia pelos tanques russos em 1968 e depois a condenar a luta dos trabalhadores poloneses em 1981 e até a apoiar o massacre da praça da Paz Celestial pela burocracia chinesa em 1989.

    Com a queda do Muro de Berlim e o desaparecimento da URSS (1989-91), Cuba viveu o pior momento econômico de sua história, com o povo passando privações imensas. Iniciou-se então, um processo de “reformas” que envolveram uma abertura a investimentos estrangeiros no setor de turismo e daí para outros setores econômicos em associação com o estado cubano. Um processo que continua com altos e baixos até hoje.

    Esse processo de abertura ao mercado capitalista provoca divisões e hesitações entre os próprios dirigentes cubanos, pois ele ameaça as conquistas da revolução cubana no campo da saúde e educação, por exemplo. Ele começou com Fidel e nos últimos 10 anos foi assumido por Raúl Castro.

    Fidel e Hugo Chavez
    Fidel e Hugo Chavez

    Cuba obteve um respiro com o surgimento de governos na América Latina que foram fruto da resistência das massas à política do imperialismo dos EUA, como a Venezuela de Chávez. Mas hoje esses governos estão em crise ou foram derrubados, como no Brasil, por não terem levado até o fim uma política de ruptura com o imperialismo, tal como a própria Cuba fez nos primeiros anos da sua revolução.

    Obama restabeleceu relações diplomáticas com Cuba, mas o embargo não foi rompido e agora, com Donald Trump presidente dos EUA, abre-se um período de incertezas.

    Sobre a normalização das relações com os EUA, Fidel, já retirado da cena principal, comentou no ano passado: “Não confio na política dos EUA nem troquei nenhuma palavra com eles, sem que isso signifique tampouco, uma rejeição à solução pacífica dos conflitos ou perigos de guerra”.

    A 4ª Internacional e a Revolução Cubana

    A 4ª Internacional desde sempre, e independentemente das divergências que tem com o regime de partido único: a ausência de liberdade sindical e do modelo burocrático existente na ilha e, independentemente de divergências em relação à política externa da direção cubana, colocou-se, e sempre se colocará, na defesa intransigente das conquistas da revolução cubana contra as ameaças do imperialismo. Em 1998, na cidade do México, várias de suas seções no continente, no marco das ações do Acordo Internacional dos Trabalhadores e do Povos, contribuíram para realizar uma Conferência Continental em Defesa das Conquistas da Revolução Cubana.

    Fidel Castro certamente passará para as gerações futuras como um líder que ousou desafiar o imperialismo mais poderoso, confiando na capacidade das massas de fazer a revolução. Um exemplo de luta, apesar das contradições que marcaram a sua trajetória política.

    As conquistas da revolução cubana estão hoje ameaçadas por todo o desenvolvimento da situação mundial. Mas, ao mesmo tempo, elas serão defendidas pelas massas de Cuba e de outros países como pontos de apoio para a necessária contraofensiva à política de guerra e destruição do imperialismo.

    A 4ª Internacional se faz e se fará presente neste combate decisivo para o futuro da humanidade.

  • Quem aprendeu a amar o Comandante Fidel Castro sente no peito a perda de um pai

    Quem aprendeu a amar o Comandante Fidel Castro sente no peito a perda de um pai

    Por Rafael Castilho*, para os Jornalistas Livres

    Fidel não era apenas um político, um chefe militar, um presidente. Fidel foi um exemplo de homem. Um revolucionário. Fidel foi também um líder existencial. Um camarada. Alguém que nos faz refletir a cada dia o que queremos como indivíduos. Que podemos ser muito mais do que uma vidinha jogada no universo. Que podemos ser homens e mulheres protagonistas do nosso tempo e com condições de transformar o mundo, mover a história, fazer muito mais do que aceitar as injustiças como algo naturalizado e comum.

    É difícil para muitos entender o amor do povo por Fidel. Ainda mais nos dias atuais. Vivemos uma era de culto ao individualismo. De idolatria à satisfação pessoal e íntima. Ao consumo. Como entender o amor por Fidel se a cada dia a humanidade é levada a odiar o público e a amar o privado? Como entender o amor por Fidel nesses dias em que a atividade política é criminalizada? Em que o mundo idolatra empresários, homens de mercado e até fazem deles seus líderes governamentais?

    Eu aprendi a amar o Fidel.

    Desde jovem. Lia as histórias da Revolução Cubana e me pareciam fantásticas. Sei que não era um adolescente comum. Não me encantaram os super heróis. Eu gostava do Fidel e do Che. Não sonhava em conhecer a Disney. Sonhei durante anos conhecer Cuba, visitar Havana, como depois tive a sorte de fazer em algumas oportunidades.

    Honestamente, eu não culpo quem não entende esse amor pelo Fidel. Não culpo, tampouco, quem odeia o Fidel. São décadas e mais décadas de lixo midiático. De ódio sendo disseminado contra figura de Fidel.

    Fidel escapou de mais de 600 atentados contra sua vida. A humanidade não pode escapar da violência do imperialismo. Violência militar, política e midiática, deformando visões de mundo e corrompendo a história.

    Fidel também foi odiado porque a coragem de uns revela a covardia de outros e esta coragem parece ser insuportável e subversiva. Quem fez a escolha pela obediência detesta os rebeldes. Quem resolveu aceitar as humilhações cotidianas e se submeteu a tudo esperando a promessa de um bem-estar que só se realiza na hora dos calmantes precisa de alguma maneira se convencer que sua vida valeu à pena.

    Alguns precisam odiar Fidel para comprovar a si mesmos que sua escolha não foi tão ruim e que sua vida não foi desnecessariamente ordinária. Que sua crença no progresso pessoal não foi em vão. Que aceitar os assédios, as injustiças, os choros cheios de soluço dentro do banheiro também valeram à pena.

    Muitas pessoas precisam odiar Fidel para se suportarem. Precisam olhar para Cuba, repleta de carências e precariedades, para se convencerem de que vivem repletos de bem-estar.

    Claro que Cuba precisa ser odiada. É evidente que todas as dificuldades em que vivem o povo cubano merecem destaques e manchetes escandalosas. As pessoas precisam do flagelo de Cuba para aceitar com algum conforto nossas misérias cotidianas, nossos milhares de desabrigados, nossas crianças de rua, nossos irmãos tendo que comer lixo, nossas cadeias lotadas, a criminalidade, as pessoas baleadas, nossos jovens envenenados pelo capitalismo, entorpecidos pelo consumismo, a polícia repressora, nossa democracia de fachada.

    Como se as carências de Cuba fossem resultado apenas de seus erros internos e não houvesse o papel do inimigo que, desde o primeiro dia da Revolução Cubana, fez de tudo para destruir o país e desconstruir essa experiência como alternativa para os povos.

    Sim, os cubanos gostariam de ter o seu tênis Nike. As meninas gostariam de usar Natura. Como convencer uma mulher do século XXI que ela não precisa de shampoo e condicionador? Os meninos gostariam de brincar com PlayStation, sim.

    Mas o povo cubano conseguiu algo que é muito difícil de possuir. Esse povo tem dignidade! Esse é um povo lindo, com um brilho no olhar que eu temo estarmos nós, povo brasileiro e irmão de alma dos cubanos, perdendo para sempre.

    Dignidade não se compra no supermercado. São crianças na escola, acolhidas, bem-educadas. Quem fica doente não é tratado como bicho. São casas simples, sem luxo nenhum, mas muito dignas. É cada pessoa tendo direito a ter seu lugar no mundo. Sabe o que é você conversar com um jovem que não está infeliz? Que não parece apavorado, envenenado e com medo? Essa é a imagem que eu guardo de Cuba.

    Fidel foi um dos maiores homens da história, e para sempre será lembrado!

    Vocês sabem qual foi a maior aventura de Fidel? Não foi pegar em armas para chegar ao poder. Não foi enfrentar os Estados Unidos durante meio século e sair vencedor. Sabe o que torna a Revolução Cubana diferente de todas as outras que o mundo já conheceu?

    A maior aventura de Fidel foi tentar construir o HOMEM NOVO. Produzir um novo tipo de indivíduo que fosse solidário, verdadeiro, camarada, desapegado das coisas, voluntário, altruísta, generoso, não invejoso, firme, forte, correto, doce, sem medo e com capacidade de manifestar seu amor pela humanidade. De lutar contra as injustiças e, caso necessário, oferecer sua vida pela liberdade de seu povo.

    A construção do homem novo. Essa foi a grande e linda aventura. Foi um projeto de Estado. Uma experiência sem igual na humanidade que ganhou um significado mais do que especial como acontecimento nesse país tropical tão lindo. Um lugar para a humanidade se amar. Um espaço de liberdade.

    Essa aventura valeu muito à pena!

    Ainda que a humanidade tenha se espatifado em alguma esquina da história. Ainda que tenhamos sido definitivamente envenenados. Ainda que estejamos reduzidos a consumidores. Ainda que a humanidade tenha rodado tanto tempo pra terminar como compradores de coisas. Ainda que sejamos irremediavelmente egoístas e individualistas.

    Mesmo assim a aventura de Fidel Castro foi linda e valeu muito à pena. A presença física de Fidel chega ao fim. Mas seu exemplo, seu pensamento e principalmente seus grandes atos acompanharão a humanidade para sempre. De alguma forma nosso Comandante en Jefe, estará sempre conosco.

    Viva, Fidel!

    Hasta siempre, Comandante!

     

    *Rafael Castilho é sociólogo com especialização em Política e Relações Internacionais e em Gestão Pública. Também é coordenador do Núcleo de Estudos do Corinthians.