A mídia golpista festeja. FHC pede tolerância diante do capitão. Fernando Haddad e Guilherme Boulos aceitam o papel de vallets numa live pela “democracia”. Tudo isso porque Jair Bolsonaro baixou o tom ao sentir a água subindo acima do pescoço. Como se o problema do militar expulso do Exército fossem seus rompantes verbais.
Nada disso. Bolsonaro virou refém de seus crimes e de sua famiglia. A prisão de Fabricio Queiroz desferiu um golpe quase mortal nos planos do mito. Queiroz sabe de tudo e um pouco mais. Se abrir a boca, Bolsonaro “já era” de direito, como já é de fato.
À beira do precipício, Bolsonaro distribui afagos ao Judiciário e ao Legislativo. São tão sinceros quanto a negativa de assumir os croquis mostrando seus planos de explodir quartéis e uma adutora no Rio de Janeiro. Sua preocupação maior é barrar as investigações e o julgamento dele e sua famiglia no roubo de dinheiro público. Flavio Bolsonaro é um criminoso exposto à luz do sol. Basta examinar seus recursos quanto ao inquérito das rachadinhas. Seus advogados nunca discutem o mérito; apenas filigranas judiciais.
Para isso contam com a complacência pérfida da “Justiça”. O desembargador carioca que decidiu o voto a favor da postergação do inquérito das rachadinhas é velho amigo da nova advogada do filho que é igual ao pai. No Superior Tribunal de Justiça, o presidente em exercício está acostumado a “matar no peito” as denúncias contra o presidente genocida. 85% de suas decisões têm sido favoráveis ao clã de milicianos.
A operação em curso, porém, envolve mais coisa. Depois de fulminar a aposentadoria e os direitos trabalhistas, na surdina das “sessões virtuais”, o Senado há pouco aprovou a proposta de privatizar a água. Pra variar, o bolsoguedismo está pouco se lixando para os interesses do povo, desde que encha os bolsos do capital financeiro. Tentou passar a boiada da previdência privada. Não conseguiu (ainda). Mas água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Furou. Em poucas palavras: se o monstrengo for sancionado, só terá direito a água e saneamento quem puder satisfazer a ganância dos tubarões. Como sempre, o bolsoguedismo vai na contramão do que ocorre no mundo civilizado. É o que nos informa o noticiário. “Nos últimos 15 anos, houve pelo menos 180 casos de reestatizações em 35 países, como Alemanha, Argentina, Hungria, Bolívia, Moçambique e França. Em contraposição, neste mesmo período, muitos poucos casos de privatizações de água ocorreram. Este fenômeno de reestatizações vem se mostrando como uma tendência mundial. O número de reestatizações nas cidades duplicou nos últimos cinco anos, o que demonstra a aceleração desta tendência.”
A essa altura, nem precisa se estender sobre o MEC. A cada dia, o terceiro ministro nomeado é pilhado em mentiras. O militar da reserva ( mais um) dizia que fez doutorado. Foi desmentido na lata pelo reitor da universidade argentina onde se gabava de ter conquistado o diploma. Sua tese de mestrado também subiu ao telhado pela denúncia de plágio escancarado. Pior: foi sob sua gestão no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) que aconteceu uma licitação de R$ 3 bilhões (já cancelada) para comprar computadores para as escolas públicas. Em algumas delas, por exemplo, cada aluno receberia cerca de…100 computadores por cabeça.
O novo ministro correu para editar o currículo. Emenda pior que o soneto. No currículo lattes, agora admite nas entrelinhas que não tem o diploma de doutor. Mas não fala nada sobre o fato de que foi reprovado em três bancas diferentes. Tampouco explica como um não-doutor pode ser pós-doutorado numa universidade alemã. Sobre a licitação bilionária, tudo é silêncio. Abafa o caso.
Não, não há saída enquanto Bolsonaro e sua gangue de milicianos permanecerem no poder. O Brasil continuará contabilizando milhares de mortos a cada dia, desempregados sem proteção e gente vivendo do nada e ainda menos. Só FHC mesmo para dizer que é preciso tolerar o militar genocida por mais dois anos.
A pandemia limita a resposta do povo. Entre se aglomerar em manifestações e resguardar a vida, a maioria defende seu direito de viver. Mais do que justo. Mas a hora de ajustar as contas está cada vez mais perto. Com ou sem pandemia.
*Ricardo Melo, jornalista, foi editor-executivo do Diário de S. Paulo, chefe de redação do Jornal da Tarde (quando ganhou o Prêmio Esso de criação gráfica) e editor da revista Brasil Investe do jornal Valor Econômico, além de repórter especial da Revista Exame e colunista do jornal Folha de S. Paulo. Na televisão, trabalhou como chefe de redação do SBT e como diretor-executivo do Jornal da Band (Rede Bandeirantes) e editor-chefe do Jornal da Globo (Rede Globo). Presidiu a EBC por indicação da presidenta Dilma Rousseff.
Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na Universidade Federal da Bahia
Foto de Ricardo Stuckert
Depois de alguns meses discreto, caladão, o ex-presidente Lula voltou a ser destaque na crônica política. Primeiro, por uma canelada retórica. Depois, por um lance político genial.
A canelada retórica nem pede muito papel e tinta. No dia 20 de maio, em entrevista à revista Carta Capital, Lula disse que se há algum aspecto positivo na pandemia é a reabilitação do Estado como instância de planejamento de efetivação de políticas públicas. A fala de Lula foi pouco cuidadosa, se prestando facilmente às manipulações que desonestamente tentaram fazer parecer que o ex-presidente festejava os efeitos da pandemia. A mídia hegemônica explorou o factoide para reforçar a narrativa de que Bolsonaro e Lula são opostos simétricos entre si. A avalanche de ódio foi assustadora e confirma aquilo que já tinha ficado claro nas eleições de 2016 e 2018: o anti-petismo é a potência política mais poderosa no Brasil dos nossos tempos.
No dia 30 de maio, veio a público um “Manifesto em Defesa da Democracia” que repudia os constantes e progressivos ataques do governo de Jair Bolsonaro aos outros poderes da República. O texto foi assinado por um amplo leque de lideranças, indo da “direita democrática” à esquerda socialista, passando, inclusive, por ex-aliados de Bolsonaro. Lula se recusou a assinar.
A recusa de Lula agitou o debate político nacional. Como sempre acontece, o ex-presidente foi defendido por sua base orgânica e atacado por todo o resto, acusado de hegemonista por uns, de irresponsável e traidor por outros. Alguns chegaram a dizer que o trauma da prisão arbitrária, das mortes da companheira de vida, do irmão e do neto impedem Lula de cerrar fileiras com aqueles que colaboraram para a perseguição jurídica e midiática que resultou em sua prisão. Houve até quem achasse que a idade estava comprometendo sua lucidez. Poucos entenderam por que Lula não quis assinar o manifesto.
Um homem comum jamais se juntaria a seus algozes de véspera, aos algozes de sua companheira, de seu neto, de seus filhos. Lula não é homem comum. Lula é uma instituição. Não, definitivamente, não foi o trauma, não foi o ressentimento que impediram Lula de assinar o manifesto. Também não foi a senilidade. Lula está no melhor de sua forma política.
Lula não assinou porque entendeu perfeitamente o que está acontecendo e o papel que desempenhará a partir de agora.
Lula sabe que o anti-petismo levou o PT a uma posição paradoxal: piso alto e teto baixo. O PT conta com pelo menos 25% de apoio popular leal. Parte pra qualquer eleição desse ponto, o que não é pouca coisa. Mas a coalização lava-jatista pôs em marcha a mais violenta máquina de destruição de reputações que já vimos funcionando aqui no Brasil e fez o teto do petismo despencar.
No segundo turno das eleições presidenciais de 2018, Fernando Haddad teve 45% dos votos. Muita gente, muita gente mesmo, votou no PT com o nariz tampado, fazendo ânsia de vômito. Metade do capital eleitoral de Haddad em 2018 se deve ao veto a Bolsonaro. Essas pessoas só votam no PT de novo se estiverem diante de outro apocalipse. Farão tudo para não passar por isso outra vez.
A militância petista esbraveja, xinga, quando alguém diz verdade tão óbvia. Lula conhece perfeitamente essa verdade tão óbvia. Lula é perito na arte da política. A militância, seja ela qual for, quase sempre se comporta como torcida de arquibancada.
Lula sabe perfeitamente que o PT não conseguirá liderar um projeto nacional no médio prazo. Sabe que a reabilitação virá com o tempo, muito tempo, e que ele mesmo não verá sua reputação ser reparada.
O Lula que subiu o rampa do Palácio do Planalto em janeiro de 2003 era bem diferente do Lula que apareceu como liderança sindical lá no ABC Paulista, no final da década de 1970. Não era mais o sindicalista maltrapilho, de barba desgrenhada, grevista, que desagradava ricos e pobres. Pois sim, leitor e leitora, pobre não gosta de greve, não gosta de instabilidade. O povão não votava no jovem Lula.
Lula aprendeu, se reinventou. Deixou de ser militante para se tornar estadista. Escreveu uma carta de conciliação destinada ao povo brasileiro. Prometeu respeitar contratos e propriedade. Não foi uma carta só para os ricos. Não apenas os ricos gostam da propriedade e estabilidade. Os pobres gostam também. Propriedade pouca é ainda mais valiosa.
O pobre revolucionário é um delírio que só existe na cabeça de uma esquerda bacharelesca que torce a realidade para fazer caber no próprio desejo. Pobre é conservador, e tá certíssimo. Já vive no fio da navalha. Se o mundo chacoalha demais as coisas podem piorar. Pobre sabe que as coisas sempre podem piorar. Lula acenou, então, para pobres e ricos. Montou uma grande coalizão onde pobres e ricos ganharam, cada um dentro de seus horizontes de expectativas. Lula colocou Meirelles na presidência do Banco Central para afagar o mercado financeiro. Fez aliança com o PMDB para conseguir governar em paz. Não incomodou os ricos, mas fez o possível para melhorar a vida dos mais pobres, como bem definiu Marcelo Odebrecht. Poucos definiram tão bem o Lula estadista.
Lula fez aliança com a Globo, nunca mexeu nos direitos de transmissão. Teve até filme em sua homenagem, com Glória Pires interpretando Dona Eurídice.
Lula se tornou estadista quando conseguiu furar a bolha do petismo raiz, se tornou amado por brasileiros que não são filiados a partido político, que não militam em movimento social. Gente que só quer viver da melhor forma possível.
A destruição do sistema político não permite mais que Lula performe o conciliador. Há uma parcela considerável da população que não quer ouvir falar no nome de Lula, que não quer vê-lo nem banhado de ouro com salpicos de nutella.
Ao ouvir isso, ao ler isso, o militante petista xinga, esbraveja. Lula sabe perfeitamente que é verdade. O militante é torcedor. Lula é perito na arte da política.
Qual o papel que a história reservou para o último Lula? O do ancião que morrerá no ostracismo? Não, de forma alguma. Lula é uma instituição.
Sobrou para Lula a radicalização à esquerda e a fidelização de sua base social orgânica. Sobrou para Lula ser dono de 25% do Brasil, 1/4 do latifúndio. Não dá pra vencer eleição, mas não é pouca coisa não. É o bastante para continuar elegendo a maior bancada do Congresso nacional. É o bastante pra eleger uma boa meia dúzia de governadores de Estado. Dezenas de prefeitos. Centenas de vereadores. É mais que o suficiente para continuar sendo protagonista relevante no xadrez da política nacional.
Lula leu perfeitamente o cenário. Entendeu que não dá mais para ser conciliador, que não dá para ser estadista. Voltou, então, às origens, menos por convicção ideológica e mais por estratégia de sobrevivência. Por isso, não assinou o manifesto.
Por que tentar conciliar com quem não quer conciliar? Melhor mesmo é arregimentar a tropa.
Assim, em um governo de centro-esquerda comandado por outra liderança, o PT será aliado indispensável, vai governar junto. Em um governo de direita, liderará a oposição. De todo modo, o PT vence a vitória possível. Lula é inteligente o suficiente para saber que na política só se ganha vitória possíveis. Lula é perito na arte da política. A política é a arte do possível.
Lula sabe o que faz. A gente é que demora um pouco para entender.
Os repórteres Kátia Passos e Sato do Brasil, dos Jornalistas Livres, entrevistaram com exclusividade o ex-ministro de educação, que já foi prefeito de São Paulo e rival do segundo turno presidencial em 2018, contra Bolsonaro (em partido), Fernando Haddad, na última quinta feira, sobre a situação do Brasil nesta pandemia do coronavírus (COVID-19).
Haddad ressaltou a importância das mídias alternativas e elogiou o trabalho dos Jornalistas Livres, como uma forma de colocar outras vozes no debate público “a população não vai formar juízo sobre as coisas, com liberdade, se ela não tiver submetida a pluralidade de vozes que o Brasil tem”. Sobre um cenário pós coronavírus respondeu que existe um “pacote de iniciativas parlamentares para o pós pandemia, mas também estamos lutando muito para o governo Bolsonaro cumprir com as obrigações mínimas do Estado Brasileiro, em relação à três segmentos específicos da sociedade Brasileira. O primeiro deles: a população que ganha até dois salários mínimos. Precisamos dar condição dessas pessoas protegerem sua saúde”, ele lembrou que o presidente ofereceu, inicialmente, duzentos reais de auxílio emergencial para as famílias de baixa renda, mas graças aos movimento da oposição foi possível alcançar entre seiscentos e mil e duzentos reais de auxílio. O segundo segmento, segundo Haddad, é o das “pessoas que empregam “o microempresário, o pequeno empresário, não vão ter recursos para para a folha de pagamento se não tiver uma linha de crédito muito barata e com prazo de resgate muito longo” e o terceiro segmento são os prefeitos governadores que “tiveram uma queda de arrecadação drástica” no contexto das dívidas dos entes com a união.
O ex-prefeito apontou que “se fosse pelo Bolsonaro este país estaria arrebentado. Porque ele não tomou uma medida coerente com a situação de crise que nós estamos vivendo. Ele só faz ‘twittar’, só sai para ato contra democracia na frente de quartel do exército, expondo as pessoas, tossindo na cara das pessoas. É um irresponsável, não tem a menor compostura para exercer o cargo que exerce. Estamos em uma situação muito delicada e quem está trabalhando forte é a oposição”.
Haddad ponderou que, sobre a posição da oposição, movimentos sociais, periféricos e de esquerda, este momento pode abrir “a subjetividade das pessoas para o novo. Isso depende muito da nossa postura”. Para ele existem duas posturas diante de cenários como o que é causado pela pandemia existem alternativas “você se recolhe e fica com medo, se agarra aos velhos dogmas em busca de segurança”, mas também pode “botar a imaginação para funcionar e repensar a formas de vida” e com isso apontou para o antigo projeto de Eduardo Suplicy, “a renda básica de emergência pode dar lugar à renda básica de cidadania. Isso pode valer, inclusive, para além das fronteiras nacionais. O Brasil tinha moral, até outro dia, para propor formas inovadoras. O Brasil tinha acabado com a fome dentro de sua fronteiras e era uma voz para acabar com a fome no mundo”.
Sobre as polêmicas entre o governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB), e Bolsonaro na forma de controlar a disseminação do coronavírus Haddad falou que “o governo do estado de São Paulo, até por contraste com o governo federal, demonstrou que está afim de falar sério com a população. Ele não deveria perder este capital político, com a população de São Paulo. Para não perder ele precisa ser muito sério nas medidas que vai tomar, precisa demonstrar que qualquer tipo de relaxamento e qualquer cronograma têm que estar embasado em dados técnicos”. Haddad apontou o do papel da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que tem sido reconhecida como uma liderança exemplar na luta contra o vírus.
Haddad lembrou sobre a situação do ex-presidente Lula e a relação da mídia “justiça é uma coisa que tem que estar distanciada, com venda nos olhos, sem saber quem vai julgar e com base no autos. É isso que a gente espera do poder judiciário. Tomara, queira Deus, pela Democracia, pela justiça e pela liberdade que o Supremo [Tribunal Federal] possa, com sobriedade e com base nos argumentos decidir sobre isso”. A possibilidade de cobrança de grades rendas foi colocada como alternativa com chances reais neste momento e Haddad afirmou “eu sempre fui favorável”. Ele concluiu falando sobre recomendações de livros para ler durante a pandemia.
Ontem foi celebrado um ato no Largo São Francisco, região central de São Paulo, em homenagem e apoio ao deputado Jean Willys (PSOL-RJ) que depois de sofrer seguidas ameaças decidiu abandonar o mandato e sair do país.
Jean lutou, durante dois mandatos, na Câmara dos Deputados pelos direitos LGBTs e de todas as minorias oprimidas. Sua vida pública foi marcada por campanhas de difamação e mentiras. Sua atuação incomodava fanáticos apoiadores de Jair Bolsonaro que, além de inventarem mentiras absurdas sobre ele, ameaçaram de morte sua mãe e seus irmãos. Um dos episódios marcantes da trajetória de Willys pelo congresso foi o cuspe em Jair Messias Bolsonaro durante a votação do Impeachment da presidenta Dilma, após o deputado Bolsonaro homenagear o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. Fernando Haddad, Manuela D’Ávila, Guilherme Boulos, Criolo, a deputada estadual ,Erica Malunguinho, o deputado estadual, Carlos Giannazi, Eduardo Suplicy, Ivan Valente, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, e centenas de militantes e políticos estavam lá juntos para lutar pela democracia e por Jean.
O ato ocorreu no salão nobre da Faculdade de Direito da USP, que fica no largo. Ao longo da noite várias falas foram realizadas pelos que estavam presentes, seja para relembrar momentos e vitórias de Jean como deputado ou para lamentar e ponderar sobre a decisão que ele foi obrigado a tomar.
Veja abaixo falas de alguns dos presentes.
Manuela D’Avila (ex-cadidata à vice-presidência do Brasil pelo PT)
“Trago um recado de Jean: ele disse que nunca, mesmo diante de tanto medo e de tanta adversidade que fizeram com que ele tomasse essa decisão, ele nunca teve tanta esperança pela onda de solidariedade que ele recebeu. Pediu que eu dissesse a vocês que mesmo doído, ele está bem.” “Eu acho que o exilio do Jean, diz muito sobre o que o Brasil vive, sobre o que viveu nos últimos anos e também sobre o que nós podemos viver nos próximos dias, nos próximos meses, no próximo período.”
“Nós precisamos dizer que a onda de fake News e as redes de ódio são responsáveis pelo exilio de Jean. “
“A mera existência de um homem gay político, gera ódio. A verdade. O homem gay, político, poderoso, subvertendo as estruturas de poder. Isso gera ódio. Por isso é fake News e ódio. E são muitos os anos que Jean sofre com isso. São muitos os anos. E não é por acaso. É porque ele é porta voz de um conjunto de ideias que causam medo. A mudança. A transformação. O tirar o poder das mãos dos mesmos que tem sempre o poder: os homens brancos heterossexuais.”
“Nós queremos uma democracia viva. Com o direito a debater todas as coisas e não queremos ser odiados. E nem sermos absolutamente destruídos porque defendemos o que quer que seja.”
“É preciso falar: o fascismo, o ódio, a desumanização. A ideia de que o outro é o inimigo, o inimigo único a ser combatido. Que façam com que venham aqui, que vão aos enterros, que vão aos hospitais, tentarem fazer escrachos com os que lutam pela democracia. O fascismo no Brasil se constrói a partir do ódio, das fake News financiadas por dinheiro sujo na internet. “
“Nós temos a obrigação de acolhermos as decisões das nossas companheiras e dos nossos companheiros sobre a melhor forma de resguardarem as suas vidas e a sua sanidade mental. “
Fernando Haddad (ex-cadidato à presidência do Brasil pelo PT)
“Primeiro dizer pra vocês todos que eu estou, desde sempre, mas a partir de hoje com mais vontade, eu estou disponível, eu estou disposto, eu estou animado, para reconstruir as condições para o Jean voltar para o Brasil amanhã, se ele quiser.”
Guilherme Boulos (ex-cadidato à presidência do Brasil pelo PSoL)
“Estao construindo esse ambiente, tão semeando o ódio, tão estimulando a violência, e a responsabilidade política das ameaças ao Jean, inclusive pela forma como reagiu, essa responsabilidade é do Bolsonaro e do seu governo e é ele que deve ser cobrado.”
“A decisão do Jean é um grito, um grito de basta, de que não dá mais. E é importante a gente ouvir esse grito e transformar esse grito em disposição de luta, em unidade, em mobilização, para que a gente possa começar a virar esse jogo. Virar esse jogo para construir um Brasil onde alguém como Jean Wyllys seja valorizado e seja respeitado. Para construir um Brasil onde todas as formas de amor sejam valorizadas e sejam respeitadas. Para construir um Brasil onde o lucro não esteja acima da vida.“
Monica Benício (ex-mulher de Marielle Franco e militante do PSoL)
“Eu tenho um desacordo quando as pessoas dizem que o Jean teve que abandonar o seu mandato. Eu acho que ele foi obrigado a abandonar o seu mandato por essas pessoas.”
Ivan Valente (deputado federal pelo PSoL-SP)
“Bolsonaro na cadeia já, e não é só pelas transações tenebrosas, não é só pelos depósitos do Queiros, é porque a ligação direta com as milícias no Rio de Janeiro, lá no Escritório do Crime, em Rio das Pedras, e no globo de hoje esta muito claro, nos discursos de Bolsonaro em Brasília e do Flavio, na homenagem que ele faz, que nós podemos ter uma grande surpresa, Monica, fechando o circuito. Talvez a mão assassina que atirou em Marielle passe exatamente por ai, nesse que esta ai clandestino agora, neste que está foragido e que é homenageado. Miliciano homenageado. Nós não vamos permitir isso. Nós vamos dizer: Bolsonaro é ligado as milícias. Fora Bolsonaro”
Entrevista exclusiva a Nícolas Horácio/EstopimColetivo
“O povo brasileiro não é como Bolsonaro. Dos 55% de votos que ele teve, seguramente, o núcleo duro dele é de 15 a 20 milhões de votos. Esse é o eleitorado que abraça as teses de violência pra resolver o problema da segurança, de preconceito, de racismo, de desqualificação da mulher, de desprezo pela democracia, pela liberdade de expressão, a visão pró norte-americana e esse abraço de urso ao neoliberalismo de mercado, que é, na verdade, entregar o país ao capital financeiro, na nossa opinião, evidentemente. Acho que nós temos que fazer essa disputa também com o eleitorado dele. O eleitorado não vai ficar com ele” (José Dirceu)
Ele esteve no centro do poder no governo Lula e foi cogitado para a sucessão presidencial depois de chefiar a Casa Civil, um dos mais estratégicos ministérios do país. Condenado a mais de 30 anos de prisão, teve a trajetória política interrompida e, no estilo Graciliano Ramos, escreveu um livro de memórias no período do cárcere. Fundador do PT, ex-militante do PCB e da luta armada, José Dirceu responde os processos em liberdade como um dos mais polêmicos personagens da política brasileira na atualidade. Por fora do tabuleiro político, continua atuando como um importante intelectual para a militância do PT, através de sua força e influência.
Em Florianópolis desde o dia 15 de novembro, foi recepcionado pela amiga e ex-ministra Ideli Salvatti, conversou com lideranças de outros partidos da esquerda, como PSOL e PCdoB, com militantes da juventude do PT e dos partidos aliados. Na segunda-feira (19/11), realizou sessão de autógrafos do livro “Zé Dirceu – Memórias Volume 1”, no qual narra momentos importantes da história brasileira e deixa seu ponto de vista sobre a conquista do poder pelo Partido dos Trabalhadores, o legado dos seus dois governos e a análise do processo intervencionista que culminou com a violação da democracia.
Em entrevista ao Estopim Coletivo, de Florianópolis, Dirceu conta detalhes do livro que será lançado em pelo menos 25 capitais brasileiras e indica como o PT, agora na oposição, deve se comportar nos próximos anos.
A Entrevista
No lançamento do seu livro em Brasília, você disse que o PT está em uma defensiva e precisa de estratégia política. Qual deve ser essa estratégia? E qual a sua participação nela?
Zé Dirceu: Minha participação vai ser como filiado. Eu não pretendo, nem devo voltar para a direção do PT e muito menos participar diretamente do partido.
Eu quero andar pelo Brasil, lançar meu livro, fazer palestras e participar de seminários. Quero estar com os movimentos, com a CUT, o MST, os partidos aliados. Eu tenho diálogo com PCdoB, com PSB e quero estar com a juventude. Eu tenho priorizado esses três eixos.
Quando eu digo que estamos em uma defensiva, não é só o PT.
Essa coalizão que elegeu Bolsonaro não é só uma coalizão religiosa, com os setores militares e partidos. Ela tem uma cabeça que é o capital financeiro internacional e tem uma política que é pró Estados Unidos.
É uma coalizão que pretende fazer grandes mudanças no Brasil, basta olhar a pauta dele. Começa pela política externa, que ele vai virar totalmente, não só a nossa política externa, como a dos tucanos também. Por isso que pelo menos alguns tucanos estão contra.
Nós temos força, mas nós viemos sofrendo derrotas desde 2013.
Você se refere às grandes manifestações de 2013?
Zé Dirceu: Sim, porque eram manifestações contra o aumento das tarifas em São Paulo e foram capturadas, com papel muito forte da Rede Globo e dos setores que financiaram aquela mobilização, para um movimento contra o governo da Dilma, o PT e que com a Lava Jato fez uma escalada de criminalização do PT e do próprio Lula, levando ao impeachment da Dilma e a prisão do Lula, que culmina com a eleição do Bolsonaro.
Nesse sentido, nós temos que reconhecer a derrota, ao mesmo conhecer as nossas forças e a necessidade de repensar o que vamos fazer nos próximos anos.
Temos algumas tarefas óbvias: a liberdade do Lula; a oposição a pautas como Escola sem Partido que, na verdade, é escola com partido, o deles.
Por outro lado, o governo vai anunciar uma série de medidas, nós temos que apontar alternativas. Não podemos apenas ficar contra. Se ele vai fazer uma Reforma Tributária, temos que apresentar nossa visão e para a Reforma na Previdência, a mesma coisa.
Você vem articulando essas conversas nos estados?
Zé Dirceu: Não. Eu não articulo. Eu Tenho relações, porque desde 1965 eu sou militante político e eu participei dos principais eventos do país a partir de 1979.
Participei da clandestinidade, da luta armada, participei da geração de 1968, fui do PCB, depois, fui um dos fundadores do PT, então tenho muitas relações.
Procuro, sou procurado e converso, exponho a minha opinião e tentando ajudar nesse sentido, nessa linha.
Mas exerce influência, certo?
Zé Dirceu: É. Influência eu exerço, mas não significa que eu vá participar de direções do PT, disputar mandatos ou participar de governos. Eu nem posso, porque estou inelegível.
Aqui em Santa Catarina você fez algumas conversas com militantes de outros partidos. Sentiu possibilidade de unificação da esquerda aqui? Há caminhos pra isso?
Lançamento e palavra de resistência em Florianópolis
Zé Dirceu: Eu acredito que há sim, na base. Temos que começar pelas lutas concretas em cada cidade, em cada estado, pelas agendas que estão colocadas.
Acho que a Reforma da Previdência é uma questão fundamental, a Escola sem Partido é outra, a defesa da liberdade de manifestação, esses ataques ao MST, ao MTST, ao João Pedro Stédile e ao Guilherme Boulos, nós não podemos aceitar.
A agenda da anulação da condenação do Lula é importante e nós devemos construir uma agenda a partir dos sindicatos e da juventude, da luta das mulheres.
Nós devemos construir uma agenda de oposição, porque temos legitimidade e fomos para oposição por decisão do eleitorado. Nós temos 47 milhões de brasileiros e brasileiras para representar e, no caso do PT, um mínimo de 30 milhões, que foi a votação do Haddad no 1° turno em aliança com PCdoB e com o PROS.
Então, nós temos obrigação de exercer essa oposição, essa fiscalização, apresentando propostas e alternativas e temos que resolver nossos problemas, como a debilidade na área das redes.
Quais redes? As redes sociais?
Zé Dirceu: Isso. Elas são importantes desde 2008, na eleição de Obama, depois na eleição do Trump, que gerou uma crise internacional, e quando chega a eleição aqui nós não estamos preparados?! Alguma coisa tá errada.
Mesma coisa a nossa presença nos bairros, na luta do dia a dia do povo trabalhador no bairro. Temos que analisar e tomar medidas com relação a isso.
Você acha que faltou ser mais presente nas redes sociais para ganhar o público?
Zé Dirceu: Sem dúvida nenhuma. A rede social é um potencializador e quando você tá ausente também lá no bairro, o potencial aumenta, porque você não tem como contraditar e responder. Se você não responde nas redes, não responde nas casas, na igreja, na lotérica, no açougue, no cabeleireiro, no supermercado.
Depois que nós saímos na rua com o Vira Voto, nós crescemos muito. Porque é sempre importante o contato pessoal, o diálogo, o olho no olho, o debate, a reunião, a experiência de vida em comum. Eu aposto muito também na juventude nesse sentido. Acho que ela pode e dever ter um papel importante.
Você disse recentemente que o PT perdeu a eleição ideologicamente. O povo brasileiro é como o Bolsonaro?
Zé Dirceu: O povo, não é como Bolsonaro. Dos 55% de votos que ele teve, seguramente, o núcleo duro dele é 15 a 20 milhões de votos. Esse é o eleitorado que abraça as teses de violência pra resolver o problema da segurança, de preconceito, de racismo, de desqualificação da mulher, de desprezo pela democracia, pela liberdade de expressão, a visão pró norte-americana e esse abraço de urso ao neoliberalismo de mercado, que é, na verdade, entregar o país ao capital financeiro, na nossa opinião, evidentemente.
Acho que nós temos que fazer essa disputa também com o eleitorado dele. O eleitorado não vai ficar com ele. Essa questão dos médicos cubanos, que é uma coisa totalmente estúpida que ele fez, porque os médicos nunca se envolveram em política no Brasil, nunca participaram de nenhuma atividade que não fosse trabalho médico, ele não pensou nos 30 milhões de brasileiros, brasileiras, as famílias, as mães, os idosos, as crianças que são atendidos por esses médicos.
Essa história de que os médicos cubanos foram nomeados no lugar dos brasileiros, todo mundo sabe que não é verdade, porque os médicos não querem ir para essas cidades.
Dois terços [dos recursos] vão para o governo, mas os filhos deles estudam em escolas públicas até o ensino universitário. Eles têm hospitais públicos fantásticos. Em Cuba tem atendimento, o país não tem violência. O país tem segurança e um bem estar básico.
As dificuldades e a escassez ocorrem em parte por causa do bloqueio e por uma série de questões que os cubanos estão procurando resolver agora.
Poucos sabem que os cubanos estão fazendo uma Constituinte, agora, que se discute em todos os bairros, fábricas, escritórios, lojas, no campo. Milhões e milhões de cubanos estão discutindo a Constituição do país. Poucos sabem disso.
O que o Brasil vai descobrir no seu livro? O que há de novo nele, por exemplo, em relação ao seu processo?
Zé Dirceu: Eu procuro contar a história do Brasil, contando a minha história e da minha geração, que lutou contra a ditadura e foi pra clandestinidade, participou de ações armadas de resistência.
Depois as vitórias do MDB, o que foram os governos militares, particularmente, o governo Geisel e, depois, o que foi o surgimento da luta contra a carestia, das pastorais, das comunidades eclesiásticas de base, do sindicalismo autêntico, do PT, da CUT.
O livro passa pelas Diretas, o Collor e o impeachment dele e conta a trajetória das eleições até o Lula ser presidente. Eu procuro sempre mostrar como o Brasil era no cinema, no teatro, na música, como eram os meios de comunicação.
Existe algum fato na sua biografia que ninguém sabia ainda?
Zé Dirceu: Tem fatos que eu relato pela primeira vez, como o dia em que eu pedi demissão e eu conto como foi a reunião. Chorei naquele momento e explico o que significava aquilo para mim. Foi uma reunião com Lula feita para concretizar minha demissão.
O depoimento do Carlos Cachoeira, que mostra toda a operação Valdomiro Diniz, CPI dos correios, mensalão, hotel Naoum, foram tudo escutas telefônicas dirigidas contra o PT negociadas com a direção da Veja, o Policarpo Jr. com o Cachoeira, com os Arapongas, com escutas ilegais para montar fatos políticos negativos pra fazer matérias contra os adversários deles.
Veja passou impune. A CPI não teve condições de convocar o Roberto Civita. O Policarpo Jr. nunca respondeu perante a justiça sobre isso.
Contando o que vivi, busco contar a história do Brasil, tentando tirar lições disso. Conto, por exemplo, como foi possível lutar e derrotar uma ditadura e de onde surgiu a luta.
Nós vamos enfrentar esse problema agora. Como lutar? De que forma lutar? Com quem lutar? Eu procuro, na verdade, transmitir para as novas gerações a minha experiência, com erros, acertos e a experiência do PT, da esquerda, inclusive recontando a experiência do Brasil com relação à esquerda, o papel do PCB.
Os tenentes, qual foi o papel dos tenentes? O que foram as Forças Armadas da República até a Constituição de 1988? Elas sempre foram uma força determinante na disputa política brasileira.
A revolução de 1930 foi uma revolução militar e civil. Toda a luta dos tenentes, a Coluna Prestes também é, 1935 é, 1932 é, 1937 é, 1946 é.
Em 1950 e 1955 eles tentam dar o golpe. Em 1961, eles tentam dar o golpe e a resistência popular armada impede e, em 1964 eles dão, governam o país até 1985 e voltam agora a exercer um papel moderador no país.
A professora Leda Paulani é formada em Economia pela FEA-USP e em Comunicação Social pela ECA-USP. É professora titular do Departamento de Economia e da pós-graduação em Economia da Universidade de São Paulo.
Nessa entrevista, a professoda Leda responde às seguintes questões:
1 Professora Leda, os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma são responsáveis pela queda do PIB e pela queda do emprego nos últimos 3 anos? O PT quebrou o Brasil?
2 O presidente eleito Jair Bolsonaro e seu ministro da fazenda querem cortar gastos do governo. Isso fará aumentar o emprego e fará voltar o crescimento?
3 O plano econômico de Fernando Haddad dava ênfase a criar empregos e aumentar a renda disponível nas mãos dos trabalhadores. A economia do país não teria mais dinheiro circulando, mais consumo e, portanto, mais chance de crescer? Por que os empresários apoiaram os cortes de gastos e de direitos que levam à recessão?
4 Como a senhora vê nossa economia e, especialmente, o emprego e a renda dos trabalhadores nos próximos anos?