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  • Pelo fim da violência contra as mulheres, mas se quiser pode

    Pelo fim da violência contra as mulheres, mas se quiser pode

    Por Daiane Noves

    _ Com licença senhor agressor, desculpa interromper essa surra que o senhor está aplicando nessa mulher que está caída no chão, é que eu sou do movimento feminista e preciso fazer umas perguntas antes de decidir ou não se eu vou defender esta mulher, tudo bem?
    _ Claro, mas eu posso continuar batendo nela enquanto respondo?
    _ Pode sim. Ainda não sabemos se ela mereceu ou não, vai que ela mereceu. Não queremos ser injustas.
    _ Tá.
    _ Essa mulher está sob efeito de substâncias psicoativas ilícitas?
    _ Sim. Na verdade, sóbrio, sóbrio, ninguém aqui tá.
    _ Entendo. Outra pergunta: ela é bolsonarista né?
    _ É sim. Mas nessa galera aqui todos somos né, gata. Mito, B17!
    _ Entendo. Soube também que ela estava com a arma da namorada anteriormente.
    _ Sim. Mas a namorada já havia guardado. Com ela armada eu não estaria batendo né, senão ela atiraria em mim. Mas vou usar o fato de ela ter estado armada antes para legitimar isso aqui como defesa, saca?
    _ Tem outras pessoas armadas aqui né?
    _ Sim.
    _ Mais uma pergunta: foi ela que começou?
    _ A de mão ou a de boca? Pq eu tava humilhando ela mó cota, ela tava toda com raivinha, mexi com a mina dela também. Aí ela veio pra cima de mim. Olha o tamanho da s4p4t4o. É óbvio que eu ia arrebentar ela.
    _ Mas sabendo disso, pq o senhor só não se defendeu ou segurou ela?
    _ Ah, ela quer ser homem né, tem que apanhar que nem homem, pô.
    _ Mas o senhor sabe que é uma mulher, com compleição física e força bem inferior que a sua. Vc sabia que ia sair ileso e ela arrebentada, não?
    _ Claro. Mas eu quero mostrar pra morena lá que eu sou alfa tá ligado?
    _ Mas se fosse um cara?
    _ Se fosse um cara nem tinha mexido com a mina dele, pô. Mas como é uma mina, que ainda é s4p4t4o, e ainda fez uso de drogas, e ainda revidou as minha provocações vindo pra cima de mim? Acha que vou só conter ela? Vou arrebentar mesmo.
    _ O senhor viu que ela já estava no chão?
    _ Vi, eu sou bem forte, né?
    _ Então pq o senhor continua batendo nela?
    _ Pq é facião bater em mulher, nocaute certeiro. Quero dizer, mulher não, s4p4t4o.
    _ Entendi. Mas a questão é que o senhor tá criando um problema ético para o feminismo, além desse monte de hematomas nela. Pq, veja bem: ela segue filosofia de direita e a gente já não gosta dela, ela não performa feminilidade e ainda fica agindo toda pá para performar masculinidade, já não nos parece como a vítima perfeita e cândida, fala mal do ativismo e tem um auto-ódio imenso, nenhum senso de classe. Dificil detectar misoginia e lesbofobia quando não é a vítima ideal, pô.
    _ Ah, moça, faz assim então, se ninguém me segurar, eu continuo chutando ela aqui caída e mato logo. Ninguém liga pra lesbocídio, essas estatísticas nem saem. Resolvo o meu problema e o de vcs. Pode ser?
    _ Pô, senhor agressor. Fechou. A gente muda o lema para ‘Pelo fim da violência contra as mulheres, mas se quiser pode.’
    _ Ah, genial. Qualquer coisa, cê manda um ‘ela que lute’ ou um ‘bem-feito’ ou ‘sem tempo pra mina reaça’, mas acho que não vai precisar não. Ela mereceu, ela tava pedindo.
    _ Verdade né. Desculpa atrapalhar o espancamento ae. Boa surra pro senhor.
    _ Valeu. Ow, cê é uma “morena muito bonita”.
    _ Que isso, não tá vendo meu namorado ali?
    _ Ow, que vacilo, perde perdão lá pra ele. Cê falou que é feminista e eu já pensei que vc tbm namorava s4p4t4o, eca. Aí a gente não respeita não. E se vir cobrar a gente arrebenta, não quer ser homem?
    _ Tá certo. Deixa só eu terminar a minha postagem aqui do “não sou obrigada a ter sororidade com reaça”, péra. Como é mesmo o novo lema que falei agora pouco?
    _ Sei lá, era tipo ‘nada justifica um cara jantar uma mina no soco’…
    _ Não, lembrei, era ‘Pelo fim da violência contra as mulheres, mas se quiser pode.’
    _ Isso.
    _ Desculpa incomodar a surra do senhor.
    _ Que isso, tamo junto. B17.


     

    Veja também: Não deve existir “eu avisei” pra vítima de lesbofobia

  • #MarielleVive: Ivanete Silva quer ocupar o governo do Rio

    #MarielleVive: Ivanete Silva quer ocupar o governo do Rio

    Grandes histórias de luta, muitas vezes, não chegam ao conhecimento da população. Quantos não conheciam Marielle? Quantos não conhecem a trajetória de grandes mulheres negras? Os Jornalistas Livres abrem espaço  para destacar o perfil de Ivanete Silva, professora e moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
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    Ivanete Silva é professora da rede pública, feminista e LGBT. Tem 50 anos e é candidata a co-governadora do Rio de Janeiro ao lado de Tarcísio Motta, candidato ao governo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Filha de retirantes nordestinos, Ivanete é moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

    Nascida em 1967, é primogênita de cinco irmãos. Seu pai, pedreiro, veio para o Rio ao saber da construção da Ponte Rio Niterói. Ivanete passou a infância entre as tarefas com sua mãe, que era lavadeira e passadeira. Muitas vezes era quem buscava e levava as roupas para as clientes de sua mãe.

    Ivanete vem de uma etnia “afroindígena”. A geração de sua avó é a que começa a sair da Aldeia para casar. Embora seus pais não tenham sido alfabetizados, eles preservaram o direito aos estudos, e cuidavam para que nenhum de seus cinco filhos deixasse de estudar. Eles passaram a receber muitos livros de seus vizinhos, e foi assim que Ivanete tomou gosto pela leitura.

    Dos dez anos até a juventude, frequentou a Igreja Católica. Fez catecismo, participou do grupo jovem, foi catequista, e participou da construção da Associação de Moradores de seu bairro.

    Na juventude, trabalhou em uma fábrica de vidro para relógio e na empresa de Calçados IRWIN, que fabricava produtos da marca Redley e da Magazine Mesbla. Um fato marcante foi deste momento: a sua primeira greve. Seu chefe lhe chamou e disse: “você só não será demitida hoje porque é a única que domina a programação da produção da borracha”.

    Enfim, passa no concurso do município e decide exercer a profissão de professora, onde percebeu toda a precariedade que a escola pública enfrenta. É tocada por um desejo de mudança daquela realidade, e de justiça para o povo pobre que frequentava a escola pública. “A Escola não é para todos! Mas precisa ser!”. Foi assim que, em paralelo ao exercício de magistério, iniciou sua formação acadêmica em Pedagogia na UERJ, seguida de uma Pós em Gestão Escolar.

    Na década de noventa, dá à luz a sua filha Gabriela e seu segundo filho, Gustavo. No início do ano 2000, seu marido é assassinado deixando-a viúva com Gabriela aos 4 anos e Gustavo ainda bebê. Ivanete, então, mergulha no trabalho. Nesta época, conhece o SEPE, e volta a aproximar-se da militância iniciada na adolescência no movimento social da Igreja Católica. Entra na chapa como diretora sindical. Em 2002, Ivanete se filia ao PT, para ajudar na campanha de uma amiga candidata a deputada estadual.

    No entanto, em pouco tempo sai do PT, e junto a outras/outros militantes ajuda a iniciar a organização do PSOL. A jornada segue em um crescente até que, em 2012, Ivanete se torna candidata a Prefeita da cidade. Foi presidenta do PSOL Caxias e participou do diretório estadual neste último mandato. Ivanete integrou, no último período, o Conselho Municipal de Direitos da Mulher, e é integrante do Movimento Negro Unificado (MNU).

     

    https://www.facebook.com/ivanetesilvapsol/videos/2029261537404676/